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Um filme de:
Marcos Bernstein
Regina, vive solitária em seu apartamento em Copacabana, a não ser por sua
cachorrinha vira-lata, Betina, a quem ela trata melhor do que a maioria dos seres
humanos, e que respeita sua mania de deixar tudo arrumado. Dividindo sua rotina
entre a casa, onde toma cerveja vendo programas considerados masculinos, como
esportes em geral e noticiário, e o bairro, onde resolve todos os seus problemas,
Regina anda todos os dias no calçadão com Betina, não sem carregar seu providencial
e ordeiro saco plástico e cumprimentar os outros donos de cachorro. Apesar de sua
extroversão, no entanto, seu excesso de sinceridade e ironia a afasta das pessoas,
como fica claro no dia em que encontra no elevador de seu prédio algumas vizinhas,
ativas senhoras, indo para um show de música, todas maquiadas com suas bocas
borradas de batom, e ela faz um comentário irônico: "Ai, tem uma idade em que a
gente não acerta mais a boca". Não é de estranhar que no dia seguinte uma das velhas
vire a cara para ela.
Uma noite, sem nada para fazer em casa, Regina resolve checar a vizinhança
com seu binóculo, uma atividade facilitada pela grande concentração de edifícios
altos, populosos e próximos que formam Copacabana. A princípio, nada de
interessante acontece no prédio do outro lado da rua: são só jantares familiares,
corpos em repouso prostrados em frente à TV, adolescentes fumando com a cabeça
para fora da janela e desinfetando o quarto com Bom Ar. O mais “emocionante”
ocorre em uma das poucas janelas acesas, onde uma rajada de vento abre uma fresta
na cortina e ela vê um homem debruçado sobre uma mulher na cama. Mas eles não
estão fazendo sexo. Pelo que ela pode ver, ele aplica uma injeção na mulher e
Regina logo perde o interesse. Segue adiante. Só que também não há nada de bom
nas outras janelas e ela decide encerrar o expediente... Mas antes ela resolve olhar o
casal mais uma vez. E o que vê a surpreende: o homem, indeciso, cobre a mulher,
inclusive o rosto, com um lençol; segundos depois, desiste e deixa o rosto dela
visível...
depois, aparece na rua o carro da polícia espraiando aquela luz que ofusca e
hipnotiza, seguido de um carro de reportagem de um jornal de porta de cadeia. Ela
os observa subirem o prédio, tocarem a campainha e entrarem, o fotógrafo do jornal
espocando flashes impiedosamente. O homem tenta esconder o rosto com os
braços... Regina observa os policiais interrogando o homem, a chegada dos legistas,
etc. Até que dorme sentada.
Dia seguinte, ela acorda com o sol acertando em cheio seus olhos, Betina
lambendo sua mão e o corpo dolorido pela posição. Olha o prédio em frente. Na
entrada, tão conhecida em seus percursos pela rua, aglomeram-se alguns jornalistas,
inclusive de TV. Ela sai de casa e vai até o jornaleiro. Procura a notícia em todos os
jornais. Finalmente a encontra na "Voz do Povo" sob a manchete: "Denúncia
Anônima acusa falsamente de homicídio marido de suicida". Ela lê de novo.
Pergunta ao jornaleiro se ele sabe do que se trata. Ele aponta o prédio do viúvo, cujo
nome é Camargo, e fala da infeliz confusão. Diz que os repórteres estão ali, pois
querem saber se o tal de Camargo vai processar a polícia ou vai tomar uma atitude
mais drástica, já que é um advogado de prestígio.
Mais uma vez, Regina, ou Branca-de-Neve, liga para a polícia. Recebe uma
bronca do delegado por ter exposto a já desacreditada polícia carioca a mais um
vexame, além de ter posto o projeto de informantes aposentados em perigo. Ela
retruca que tem certeza do que viu e, portanto, do que aconteceu, e que a polícia não
pode aceitar a versão mais adequada sem uma investigação mais acurada. O
delegado não quer ouvi-la e desliga o telefone na sua cara. Arrasada por poder
perder a atividade que mais lhe dá prazer na vida e afrontada por ter sua capacidade
e meticulosidade questionada, Regina resolve provar ao delegado que estava certa.
Para isso, ela começa a perseguir Camargo em busca de provas que confirmem a sua
versão. Descobre onde é o enterro e, de longe, fica observando o suspeito,
procurando ver algum sinal de culpa no plácido semblante do homem. Passa
observar com seu binóculo o dia-a-dia de Camargo e o quê flagra é sua solidão.
Uma coisa puxa a outra e ei-la seguindo o sujeito em seus diversos afazeres pelo
4.
FIM