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Resenha do livro:
MEADOWS, A. J.; A comunicação científica. Brasília, DF: Briquet de Lemos Livros, 1999.
Por Luciana Lavezzo
Aluno Leonardo dos Santos

Capítulo 1 – Mudança e crescimento

Toda a informação produzida por um cientista é divulgada a cada tempo com o uso de
melhores tecnologias tais como retroprojetores e apresentações feitas em computadores,
também o público-alvo cada vez mais é composto por especialistas. Com isto as informações
passam a ser expostas com mais dinamismo. A evolução dos meios de comunicação e as
necessidades dos produtores e receptores das informações no meio científico são dois dos fatores
que explicam este desenvolvimento acelerado do crescimento da difusão da informação.
O distanciamento entre os pares afeta a maneira da comunicação e os meios utilizados, pois
cientistas próximos geograficamente (na mesma cidade, na mesma universidade) utilizam-se de
meios mais simples e informais de troca de informações, e os mais distantes (alocados em cidades
ou países diferentes) utilizam outros meios mais abrangentes para envio ou busca de informações.
Cientistas que trabalham diretamente entre si utilizam com frequência meios informais como e-
mails, enquanto os que pretendem descobrir teorias e inovações elaboradas em outras
localidades, em outros centros preferencialmente mais desenvolvidos, buscam informações em
congressos e publicações, por exemplo.
Revendo os primórdios de toda esta comunicação, Meadows constata que apesar de não
haver precisão sobre quando ocorreram as primeiras comunicações do gênero, há um consenso
sobre os gregos antigos serem considerados o povo que causou maior impacto nas atividades
remotas de comunicação e que se firmou tradicional na forma escrita.
O surgimento de revistas cientificas ocorreu em meados do século XVII, naquela época os artigos
apresentavam estrutura diferente do que é visto atualmente como por exemplo referências não
padronizadas e quanto ao conteúdo preocupava-se muito em evitar temas polêmicos como
política e religião.
Uma tendência mundial é a especialização do saber, cada campo acaba por ser estudado
minuciosamente, e as áreas do saber acabam por ser fragmentadas, com isso os diversos temas
são multiplicados e a produção do conhecimento aumenta cada vez mais em escala exponencial.
Pesquisadores profissionais produzem mais e direcionam seu produto aos pares enquanto os
amadores e outros dirigem sua produção para o público em geral.
O aumento quantitativo da produção sem dúvida revela o crescimento das pesquisas e seus
resultados, mas também se mistura à uma enorme quantidade de material supérfluo e
desnecessário, causando uma “poluição” na bibliografia das áreas e atrapalhando a seleção dos
melhores conteúdos.
Capítulo 2 – Tradições da pesquisa
Foram feitas numerosas tentativas ao longo dos anos para classificar o conhecimento em
categorias básicas e os parâmetros utilizados variam grandemente, por exemplo, Ranganathan na
Índia esboçou um esquema diferente da maioria dos esquemas ocidentais. No entanto existe um
ponto em comum em todas as classificações: raramente produzem divisões marcantes entre
diferentes disciplinas acadêmicas. Mesmo em esquemas elaborados especificamente para analisar
o conhecimento e os programas de ensino, ainda ocorre o desencontro com as áreas temáticas.
Mesmo numa determinada matéria, diferentes ramos podem apresentar diferentes enfoques. Nos
estudos bíblicos era usual distinguir entre “critica inferior” e “critica superior”. Melhor explicando,
a critica inferior define significado de palavras e a critica superior estabelece estrutura teórica
segundo a qual o texto bíblico seria interpretado. Esta divisão é muito comum nas humanidades.
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A natureza das pesquisas na área de estudos literários sofreu mudanças no decorrer do tempo,
antigamente era tarefa do especialista situar o texto no contexto, hoje muitos pesquisadores
consideram primordial a interação do leitor com o texto. Também antigamente a pesquisa era
mais especifica e empírica, hoje o genérico e teórico ganha espaço, especializações estritas não
são tão dominantes sobre os trabalhos abrangentes com amplas generalizações interdisciplinares,
como há tempos atrás.
Evolução do modelo conceitual: no século XX as ciências físicas e biológicas adotavam
enfoques de pesquisa diferentes. Atualmente as duas ciências aproximam-se cada vez mais. O
modelo conceitual que os biólogos têm de sua disciplina sofreu mudanças que o alinharam com o
modelo dos cientistas físicos. Atualmente existem até mesmo cursos que englobam as duas áreas
ao mesmo tempo, como por exemplo, o curso de Ciências Físicas e Biomoleculares.
As matérias costumam ser classificadas no meio acadêmico em rígidas (ciências naturais e
tecnologia), flexíveis (humanas) e as situadas no meio (ciências sociais), Esta classificação
paradigmática é positivista e facilmente encontrada em qualquer área do conhecimento.
Um campo único de estudo normalmente mistura estes dois componentes, por exemplo: no
campo das letras vemos a teoria literária que é muito flexível e vemos também a linguística que se
enquadra como uma teoria muito rígida. Um projeto de pesquisa também serve de exemplo ao
passo que as ideias tendem a ser flexíveis enquanto espera-se que os resultados sejam rígidos.
A informação cientifica possui natureza cumulativa principalmente nas ciências exatas, as
informações são compiladas e repassadas de forma a se atualizarem e trazerem embutido um
conhecimento histórico e progressivo do assunto em questão, isso significa que de maneira geral
os cientistas precisam analisar os trabalhos mais recentes para absorverem o conteúdo atualizado
e necessário no momento presente.
Nas ciências sociais o conhecimento é menos cumulativo e as informações menos
codificadas, e nas humanidades a literatura antiga pode até mesmo representar a matéria prima
de suas investigações.
O modo como os trabalhos são escritos e analisados difere significativamente nas grandes
áreas. Nas ciências exatas e tecnológicas, são analisados o feitio padronizado e a existência ou não
de erros, enquanto que nas ciências humanas os avanços criativos são as maiores exigências para
um trabalho ser bem classificado. Este é um dos motivos pelo qual as ciências exatas possuem
maior número de trabalhos publicados e revistas especializadas. A quantidade de pesquisadores
unida à área de ciências exatas e tecnológicas também é maior, o que provoca uma vantagem
notável sobre a área de humanidades no que se refere a recursos e projetos em andamento.

Capítulo 3 – Quem pesquisa e com quais resultados?


Os motivos que levam uma pessoa a dedicar-se à pesquisa podem ser desde uma realização
pessoal por investigar temas fascinantes para o indivíduo até o desejo de seguir carreira na área,
tornando-se um pesquisador de renome e de sucesso.
Um estudo sobre os doutorandos norte-americanos mostrou os motivos pelos quais estes se
dedicam à pós-graduação e à pesquisa. As razões relatadas em ordem decrescente foram:
continuar o desenvolvimento intelectual; dar uma contribuição importante para o conhecimento
na área; devido ao interesse intrínseco da área; preparar-se para uma carreira acadêmica;
aumentar seu poder aquisitivo; servir melhor à humanidade. Mesmo supondo-se um exagero na
pureza dos motivos relatados, a curiosidade intelectual se destaca como um motivo dominante.
Outro grande fator de motivação é a disponibilidade e variedade de empregos oferecidos para
cada área. Quem ingressa na área de tecnológica ou social, tem pela frente possibilidade de
emprego tanto na área industrial, pública ou acadêmica. O mesmo não acontece com a área de
humanidades, onde as maiores possibilidades acontecem ligadas à área acadêmica.
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A inteligência é um requisito exigido para qualquer pesquisador, além de segundo Meadows haver
uma pré-disposição do individuo para uma área ou outra.
A medição da produtividade entre os cientistas é um desafio conflitante e ainda sem
consenso sobre um método que garanta uma comparação confiável entre quem é mais ou menos
produtivo. As ciências rígidas produzem mais artigos, enquanto as ciências humanas publicam
mais livros. Ao se tentar fazer uma comparação da produção de artigos entre as ciências exatas e
humanas, a primeira vence disparada, mas não é por isso que as ciências exatas podem ser
consideradas as mais produtivas quantitativamente, pois em cada área as necessidades e
possibilidades são diferentes. Se por um lado as exatas podem ser campeãs quantitativas, talvez as
humanas possam ser então campeãs qualitativas. Uma comparação neste aspecto entre as áreas
do conhecimento seria certamente desleal e sem nenhum resultado concreto ou de fato
convincente.
A idade do pesquisador e sua produção também varia em cada área de atuação. De modo
geral pesquisadores das ciências rígidas produzem mais entre 30 e 40 anos de idade enquanto a
maioria dos trabalhos relevantes das ciências sociais e humanas tendem a ser produzidos após os
50 anos do pesquisador.
Quanto ao gênero de quem pesquisa, os homens ainda perfazem a maioria de maneira geral,
sendo em algumas áreas ainda mais predominantes como é o caso das ciências consideradas
rígidas. Mesmo havendo uma mudança sensível neste quadro, ele está ainda muito longe de ser
equilibrado ou até mesmo invertido.
Capítulo 4 – Canais da comunicação científica
Além da tradicional e simplista comunicação oral face a face, outros meios mais
desenvolvidos de comunicação são utilizados como periódicos impressos e as redes de
computadores.
A maior diferença entre essas duas comunicações está na sua durabilidade, algo escrito seja
impresso ou transmitido em linha perpetua-se e firma-se como válido bem mais do que uma
conversa informal. Uma compreensão de como os cientistas lêem, ou seja, de que maneira eles
observam visualmente e processam no cérebro um texto, auxilia na elaboração de um modelo
mais agradável e eficaz quanto à sua leitura e compreensão. Os textos possuem normalmente
redundância sendo que uma leitura rápida até mesmo desprezando-se alguns parágrafos serve
para uma compreensão pelo menos superficial do assunto. O mesmo não acontece com tabelas,
gráficos e imagens, onde o grau de redundância é mínimo ou inexistente. Diferenças de contraste
ou cor ocorrem em imagens chamando a atenção para o ponto fundamental a ser observado, por
isso uma imagem oferece uma informação muito mais rápida e objetiva do que um texto extenso
e repetitivo. Tabelas e gráficos possuem intuitivamente seus pontos de partida e conclusões.
Textos muito longos e com letras miúdas desinteressam o leitor muito mais facilmente. “[...]
Quanto mais necessário for extrair informação de modo rápido e eficiente, mais fundamental será
que essa informação seja apresentada conforme uma estrutura apropriada” (p. 119).
O entendimento de um texto não depende apenas do conhecimento prévio do leitor, mas
também da maneira como ele está sendo apresentado.
As editoras desempenham papel intermediário entre o autor e o leitor, uma de suas funções
é a de receber o material e prepará-lo de maneira mais adequada para apresentação final.
Também os bibliotecários intermediam esta comunicação codificando e armazenando de forma
acessível o material publicado.
As bibliotecas ocupam lugar de destaque na divulgação a ponto de influenciarem tanto as
editoras quanto os leitores. Ao passo que elas decidem grande parte do material a ser adquirido
por serem os mais importantes compradores de publicações tanto impressas quanto on-line,
interferem nas vendas das editoras e no material oferecido ao leitor. “[...] As bibliotecas possuem
duas funções básicas: atuar como um arquivo de publicações e torná-las disponíveis para os
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leitores” (p. 133). A função dos bibliotecários em adquirir material adequado aos pesquisadores (e
leitores em geral) é mais frutífera em paises desenvolvidos do que nos paises em
desenvolvimento.
As fontes formais de comunicação impressa podem ser complementadas por comunicações
orais e vice-versa, por exemplo em uma palestra, apresentações em retroprojetores de imagens e
textos curtos enfatizam uma informação e suprem uma carência da comunicação oral. A leitura de
um artigo trará maiores detalhes do que assistir uma palestra sobre ele. As diferenças básicas
entre estas duas formas de transmissão do conhecimento estão na rapidez e conteúdo, melhor
explicando, na comunicação oral há uma maior rapidez na apresentação das idéias, enquanto que
na leitura de um artigo ou livro há uma maior e mais rápida absorção de conteúdo.
Os congressos e conferencias servem não somente para a comunidade cientifica assistir as
apresentações dos pares, mas sim para manter contato com os pesquisadores já conhecidos e
identificar possíveis novos colaboradores. Não são somente as apresentações que despertam
interesse dos participantes, mas também as conversas durante os intervalos onde informações
podem ser trocadas e novas parcerias podem ser firmadas.
Um problema atual durante os congressos é a quantidade exagerada de apresentações, o
que diminui o tempo de cada comunicação dificultando a sua compreensão. Uma alternativa bem
vinda atualmente é a apresentação de pôsteres, onde o autor posiciona-se ao lado de seu trabalho
e os participantes podem dedicar tempo analisando e discutindo diretamente com o pesquisador
de sua área de interesse, mas ainda assim há uma desvantagem nessa modalidade de
apresentação que é a sua utilidade maior para alguns temas do que para outros. São nos
congressos que as redes humanas de relacionamento têm uma ótima oportunidade de serem
ampliadas.
A comunicação eletrônica cada vez mais ganha espaço com a vantagem de possuir um
manuseio muito flexível, mas ao mesmo tempo com a desvantagem de causar preocupações no o
que diz respeito ao direito autoral, já que a sua reprodução torna-se mais difícil de ser controlada
do que a fotocópia tradicional.
Capítulo 5 – Tornando públicas as pesquisas
A apresentação oral de um trabalho precede a sua publicação. A evolução de uma pesquisa
inicia com comunicações face a face, logo após com pequenos seminários e posteriormente com
apresentações em congressos de maior porte, na conclusão a sua publicação é imprescindível para
seu reconhecimento e divulgação no meio cientifico.
O término dos trabalhos para publicação de um doutorado, por exemplo, pode vir a
acontecer tempos após a defesa da tese, o trabalho de escrita demanda tempo ainda que os
resultados estejam prontos e satisfatórios, outro motivo é o engajamento do pesquisador em
outro projeto ou a transferência para outros cargos. Uma tese pode originar um artigo, mas uma
das diferenças obrigatórias entre eles é que a tese possui como único autor o proponente a obter
o título, já o artigo pode conter o nome de uma equipe e, principalmente, o nome do orientador.
As áreas de ciências exatas promovem mais comunicações orais no desenvolvimento de pesquisas
do que as áreas social e humanas, também as exatas finalizam um trabalho em menor tempo que
as outras áreas.
A escolha sobre qual periódico publicar o trabalho concluído consiste em dois principais
fatores: o prestigio do periódico e o público atingido por ele. O prestígio de um periódico depende
de fatores como a publicação das melhores pesquisas pelos melhores pesquisadores e tempo de
existência do mesmo, este tempo varia de área para área, para se ter uma idéia a idade para um
periódico estabelecer boa reputação em uma área com crescimento acelerado pode ser o
equivalente a uma década. “Prestígio e público andam juntos. Os leitores, como os autores, são
atraídos pelos periódicos mais importantes, de modo que, ao publicar nesses periódicos, os
autores têm mais probabilidade de atingir o público almejado” (p.167).
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Livros demandam mais tempo para serem publicados do que artigos e também espera-se que
sejam úteis por mais tempo para o leitor, o conteúdo de um livro costuma ser mais “duradouro”
do que um artigo. Os procedimentos para publicação também diferem de livro para artigo, no
primeiro são comuns contratos com a editora que aceita a idéia original antes mesmo da
conclusão da obra, o que abre espaço para interferências da editora no produto final, já com os
artigos os procedimentos são diferentes, normalmente não ocorre este tipo de contrato.
A aceitabilidade do material submetido é ponto em comum nas publicações tanto de livros quanto
de periódicos. Os editores são os primeiros responsáveis por decidirem se uma colaboração será
publicada e como será apresentada. Estes editores em geral procedem de instituições com
reputação consolidada.
As especializações tornaram mais difíceis à avaliação dos editores por dois motivos:
aumentaram as submissões ao passo que aumentaram as subdivisões das pesquisas, e
consequentemente reduziu-se a quantidade de avaliadores capazes de compreender
satisfatoriamente os novos assuntos apresentados.
Um escore médio de pontuação é oferecido pela maioria dos periódicos aos seus
avaliadores, os critérios mais pontuados são geralmente a originalidade, a correção e a
importância da pesquisa relatada. Alguns dos problemas encontrados frequentemente em
trabalhos submetidos a um periódico sobre administração são: inexistência de teoria,
descompasso entre teoria e investigação real, teoria mal definida, delineamento mal definido,
argumentação mal estruturada e artigo mal escrito. Vale salientar que chama a atenção a carência
de habilidade na escrita e na forma de comunicação em geral (que chegam a ser capazes de
reprovar um artigo submetido), sendo que estamos falando de pesquisadores empenhados
exclusivamente no meio acadêmico, pós-graduados, e considerados privilegiados intelectuais.
O caminho a percorrer até a publicação de um artigo pode trazer muito aborrecimento para o
autor, quando o avaliador pode não entender bem suas palavras e sugerir muitas alterações ou
responder com muitas criticas a avaliação de um artigo, isto comumente fere o ego do autor, e
refazer as correções sugeridas pode ser um trabalho muito sacrificante e frustrante, ainda assim
só não é mais traumático do que a recusa imediata do artigo.
A discriminação de gênero é uma preocupação durante o processo de avaliação, alguns editores
recebem artigos sem informações sobre os autores a fim de evitar discriminações de gênero e
também de ordem pessoal.
Capítulo 6 – Pesquisando sobre pesquisas (e conclusão)
A etapa posterior à elaboração e divulgação da ciência requer ainda estudos para uma atividade
mais dinâmica e segura. Dependendo do modo como uma obra foi indexada, o sucesso na sua
recuperação será positivo ou não no momento em que o leitor necessitar justamente do conteúdo
depositado nela.
As fontes de informação crescem constantemente e as tecnologias também. Neste sentido
pesquisadores com menos recursos e acesso aos periódicos em linha sofrem grande desvantagem.
Algo que permanece em comum entre todos os pesquisadores é a dificuldade em peneirar o
material útil e inútil diante a oferta crescente de produção bibliográfica, principalmente em linha.
O turbilhão de informação despejado diariamente na sociedade (cientifica ou não), chama a
atenção para o problema crescente que é o de selecionar o que é de fato importante e aceitável.
Além do tipo de informação enfatizada aqui neste estudo, há também toda uma gama de
transmissão para o público em geral via rádio, televisão, jornais de circulação local ou nacional,
que também absorvem este crescimento informacional e transferem para a sociedade não
cientifica, a seleção das fontes por estes veículos de comunicação realizada de forma
irresponsável, acaba por direcionar a opinião pública, bem como informar equivocadamente o
cidadão comum interessado em conhecer o mundo restrito das descobertas cientificas.

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