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Análise dos resultados,

da rentabilidade e da
qualidade das decisões
de investimentos e
financiamentos
1

SUMÁRIO
Visão geral da análise de resultados.................................................................................... 2

Origens dos lucros ..................................................................................................... 3

Evolução dos lucros e margens ............................................................... 6

Rentabilidade..............................................................................................9

Direcionadores da rentabilidade ...............................................................11


2

Visão geral da análise de resultados

Trataremos, nessa unidade, da análise de resultados por meio,


essencialmente, da Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE). Esse é
o terceiro passo ou perspectiva para análise da performance e dos riscos das
empresas, conforme destacado no quadro a seguir..

Quadro 1 – As perspectivas ou passos para análise das demonstrações


financeiras

1) Características e evolução das decisões de investimento

 Análise dos ativos (Balanço Patrimonial - BP)

2) Características e evolução das decisões de financiamento

 Análise dos passivos (Balanço Patrimonial - BP)

3) Análise dos resultados, da rentabilidade e da qualidade das decisões de


investimento e financiamento
 Análise conjunta da Demonstração dos Resultados do Exercício
(DRE) e do Balanço Patrimonial (BP)

4) Análise de riscos de curto e longo prazo


 Análise conjunta da Demonstração dos Resultados do Exercício
(DRE), do Balanço Patrimonial (BP) e da Demonstração dos
Fluxos de Caixa (DFC)

A análise da Demonstração de Resultados do Exercício é baseada em algumas


etapas. Resumidamente, podemos listar as três principais. São elas:
1. análise das origens dos lucros;
2. análise da evolução dos lucros e margens;
3. análise da rentabilidade.

Para iniciar os estudos sobre este tema, você conhecerá as possíveis origens
de lucros líquidos. Mantenha-se concentrado!
3

Origens dos lucros

Tendo em vista a formação dos resultados, podemos identificar essencialmente


quatro tipos de origens de lucros líquidos:
• resultado operacional: itens inerentes à operação e recorrentes na
realidade da empresa, especialmente representados pelo Lucro Operacional;
• resultado não operacional: itens não relacionados à operação, ou não
recorrentes, especialmente representados pela linha Outras Receitas e
Despesas Operacionais, Líquidas (antigo Resultado Não Operacional, extinto
na adequação brasileira às normas internacionais de contabilidade – IFRS);
• resultado financeiro: representado pelas linhas de Receitas e Despesas
Financeiras;
• resultado fiscal: representado pelos tributos sobre lucro − Imposto de
Renda (IR) e Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL).

A soma desses quatro itens deve compor o total do lucro líquido de


determinado período.

Para exemplificar essas análises, vamos estruturar o exemplo da Revendedora


S/A. De forma análoga ao que é feito no Balanço Patrimonial para análise das
decisões de investimentos e financiamentos, o passo inicial é criarmos colunas
adicionais na Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE), a saber:
i. A.V.% Análise vertical - indica o quanto cada rubrica representa do
total de Receitas Líquidas do ano. Na tabela a seguir, a rubrica “Resultado
Bruto” representa, em 2015, 28,37% da Receita Líquida total;
ii. A.H.% Análise horizontal percentual - indica a variação percentual do
saldo da rubrica de um ano para o outro. No caso da rubrica “Receita Líquida
de Vendas e/ou Serviços”, houve um aumento de 7,62% de 2014 para 2015.
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Tabela 1 – DRE da Revendedora S/A com análises verticais e horizontais

A.V. % A.V. %
Conta 2015 2014 A.H. %
2015 2014
Receita Líquida de Vendas e/ou Serviços 10.733.385 9.973.453 7,62% 100,00% 100,00%
Custo de Bens e/ou Serviços Vendidos -7.688.807 -7.171.308 7,22% -71,63% -71,90%
Resultado Bruto 3.044.578 2.802.145 8,65% 28,37% 28,10%
Despesas/Receitas Operacionais -2.618.498 -2.525.401 3,69% -24,40% -25,32%
Com Vendas -1.839.518 -1.729.753 6,35% -17,14% -17,34%
Gerais e Administrativas -778.980 -795.648 -2,09% -7,26% -7,98%
Outras Receitas e Despesas Operacionais, Líquidas - - - - -
Resultado Operacional 426.080 276.744 53,96% 3,97% 2,77%
Resultado Financeiro -151.958 -157.347 -3,42% -1,42% -1,58%
Despesas Financeiras -385.547 -477.119 -19,19% -3,59% -4,78%
Receitas Financeiras 233.589 319.772 -26,95% 2,18% 3,21%
Resultado Antes de IR/CS 274.122 119.397 129,59% 2,55% 1,20%
IR/CS -63.244 -33.873 86,71% -0,59% -0,34%
Lucro/Prejuízo do Exercício 210.878 85.524 146,57% 1,96% 0,86%

Fonte: Do autor (2017).

Agora, para analisar a origem dos lucros, elaboraremos uma tabela resumo dos
resultados da empresa no período, conforme demonstrado a seguir.

Tabela 2 – Origem dos lucros líquidos da Revendedora S/A

2015 2014
Resultado Operacional 426.080 276.744
Resultado Não Operacional (Outras Receitas e Despesas
Operacionais, Líquidas) - -
Resultado Financeiro -151.958 -157.347
Resultado Fiscal (IR/CS) -63.244 -33.873
Lucro Líquido 210.878 85.524

Fonte: Do autor (2017).

Com base na análise da Tabela 2, observamos que a origem dos lucros da


empresa foi operacional nos dois períodos. Segue o raciocínio para 2015, que
é bastante simular ao do ano anterior:

 a operação gerou R$ 426.080,00;


 não houve resultados não operacionais (a linha de Outras Despesas
e Receitas Operacionais, Líquidas está zerada);
 o resultado financeiro consumiu R$ 151.958,00 de lucro;
 o resultado fiscal consumiu R$ 63.244,00 de lucro.
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Essa análise nos permite responder às seguintes questões:

a. Qual a origem dos lucros líquidos de cada ano?

A origem dos lucros é integralmente operacional em ambos os anos.

b. A origem dos lucros parece ser sustentável?

Sim, pois em finanças consideramos que um lucro tem origem sustentável


quando vem da sua operação, do seu negócio. Se vem do negócio, tende a se
repetir e ser consistente no tempo, diferentemente do que ocorreria se o lucro
tivesse origem não operacional (não recorrente), financeira ou fiscal.

Uma visão crítica sobre as origens do lucro diz respeito à


expectativa de que os lucros da empresa tenham origem
saudável e que sejam recorrentes. Em essência, o esperado
é que os lucros venham principalmente de fontes
operacionais e que sejam de natureza recorrente, de forma
que se possa esperar uma continuidade saudável dos
negócios e que esse patamar de lucros possa se repetir ou
aumentar futuramente.

Você sabia que o lucro líquido das Faculdades Anhanguera,


em 2011, foi de aproximadamente R$ 42 milhões? Porém, a
maior parte desse lucro teve origem na venda de imóveis, e
não nas atividades operacionais da companhia. Dessa
forma, podemos sugerir que o lucro líquido da empresa,
nesse ano, não teve uma origem sustentável ou recorrente.
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Evolução dos lucros e margens

Começaremos esse tópico com a explicação do conceito de margem, que será


utilizada na análise das evoluções dos resultados. A margem é entendida como
algum lucro em relação à receita da empresa. Suponhamos que uma empresa
tenha uma receita de R$200,00 e um lucro líquido de R$40,00. Então, dizemos
que ela tem uma margem líquida de 20% (=40/200). Podemos interpretar que a
cada R$ 100,00 vendidos pela empresa, estão “sobrando” R$ 20,00 de lucro
líquido. A mesma análise poderia ser feita em relação a outras métricas de
lucros, como lucro operacional, por exemplo. Nesse caso, a margem
operacional da empresa seria igual ao lucro operacional dividido pela receita
líquida. Uma margem operacional de 30% indicaria que a cada R$ 100,00
vendidos, estão sobrando R$ 30,00s de lucro operacional. Note que as
margens são “batizadas” pelo nome da métrica de lucro a qual elas se referem.
Dessa forma, para os lucros EBITDA, operacional e líquido, atribuímos,
respectivamente, os nomes de margem EBITDA, operacional e líquida.

O EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation


and Amortization), em tradução livre: Lucro antes dos Juros,
Impostos, Depreciações e Amortizações. trata-se de uma
métrica de Lucro Operacional – EBIT, ajustado. A
contabilização de Depreciações e Amortizações é feita na
DRE dentro das linhas de Custos e Despesas ao longo de
toda a vida útil dos ativos imobilizados e intangíveis. Porém,
são deduções da DRE que não representam saídas de caixa
no período, já que as saídas de caixa ocorreram nas datas
dos pagamentos das aquisições dos ativos imobilizados ou
intangíveis. Assim, com o intuito de obter um lucro
operacional mais próximo de uma versão caixa, soma-se de
volta ao EBIT os valores de depreciações e amortizações,
por eles não representarem saídas de caixa no período,
chegando no EBITDA. Confira:

= EBIT
+ Depreciações e Amortizações
= EBITDA
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Vale a ressalva que o EBITDA é uma medida de lucro,


portanto obtida pelo regime de competência, não podendo
ser considerada geração de caixa operacional efetiva e, sim,
apenas geração de caixa operacional potencial.

Agora vamos retornar ao exemplo da Revendedora S/A. Note que as colunas


de análises verticais automaticamente calculam as margens do negócio, uma
vez que cada linha de lucro está sendo dividida pela Receita Líquida. O olhar
atento às colunas de análises verticais e horizontais da DRE nos permite
responder às seguintes questões:

a. Houve crescimento das receitas? Em qual percentual?


Sim, a Receita Líquida cresceu 7,62%, conforme pode ser visto na coluna de
análise horizontal.

b. Há sinais de ganho de força competitiva?


A Receita Líquida cresceu 7,62% e os Custos cresceram um pouco menos,
7,22%, levando a um aumento do Lucro Bruto de 8,65%, ou seja, maior do que
o crescimento das Receitas. Em outras palavras, observamos uma elevação da
margem bruta (de 28,10% para 28,37%), o que pode ser considerado um leve
ganho de força competitiva.

Se a empresa ganha margem bruta, isso significa,


provavelmente, que ela está vendendo melhor ao seu
cliente, ou que está comprando melhor de seus
fornecedores. A margem bruta mede, em grande grau, o
poder de barganha da empresa em suas relações comerciais
e, portanto, sua força competitiva
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c. Há sinais de ganho de eficiência administrativa e comercial?

As despesas operacionais cresceram 3,69%, ou seja, menos do que a Receita


Líquida, indicando um ganho de eficiência operacional (esforços para
administrar e vender). Isso fez que o lucro operacional (EBIT) crescesse
53,96%. A Margem EBIT passou de 2,77% para 3,97%. Analisando as linhas
individualmente, observamos que o maior ganho foi em eficiência
administrativa, dado que as despesas administrativas decresceram 2,09% no
período e as despesas comerciais cresceram 6,35%.

d. Considerando que as Depreciações e Amortizações somaram R$


430.979,00 em 2015 e R$ 399.922,00 em 2014, qual foi o comportamento da
Margem EBITDA?

A tabela a seguir mostra que houve um aumento da Margem EBITDA, que


passou de 6,8% para 8,0%, como resultado dos ganhos de força competitiva e
eficiência administrativa e comercial da empresa.

Tabela 3 - EBITDA e Margem EBITDA da Revendedora S/A

= Lucro Operacional (EBIT) 426.080 276.744


+ Depreciações e Amortizações 430.979 399.922
= EBITDA 857.059 676.666
Margem EBITDA (EBITDA / Receita Líquida) 8,0% 6,8%

Fonte: Do autor (2017).

e. Como os itens financeiros impactaram o crescimento do lucro líquido?

Os resultados financeiros variaram favoravelmente para o crescimento do lucro


líquido, dado que houve uma diminuição de 3,42% nessa linha redutora de
lucros líquidos, mesmo com crescimentos de receitas e lucro operacional.

f. Como os itens fiscais impactaram o crescimento do lucro líquido?

Os resultados fiscais (IR/CS) variaram desfavoravelmente (em termos


nominais) para a geração do lucro líquido, passando de R$ -33.873,00 para R$
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-63.244,00. Vale a ressalva de que a alíquota efetiva de IR/CS diminuiu de


28,4% para 23,1%, conforme ilustrado na tabela a seguir.

Tabela 4 - Alíquotas efetivas de IR/CS da Revendedora S/A


2015 2014
Lucro Antes da Tributação 274.122 119.397
IR/CS -63.244 -33.873
Alíquota efetiva (% de IR/CS sobre o Lucro Antes da Tributação) -23,07% -28,37%

Fonte: Do autor (2017).

g. Houve crescimento da margem líquida?

Sim, a margem líquida cresceu de 0,86% para 1,96%.

Rentabilidade

O terceiro e último componente da análise de resultados envolve analisar a


magnitude da rentabilidade da empresa, seu ROE – Return On Equity.

O objetivo das empresas não filantrópicas é auferir rentabilidade tal que


compense um custo mínimo de oportunidade do investidor – o que, no caso
brasileiro, poderia ser a Taxa Selic – e um acréscimo de remuneração pelo
risco incorrido no empreendimento. O conceito genérico de rentabilidade pode
ser entendido como sendo igual ao lucro dividido pelo investimento. Nesse
momento, cabe então discutir o indicador de rentabilidade ao acionista,
conhecido como ROE – Return On Equity.

Como o ROE é uma medida de rentabilidade, podemos


manter a lógica de lucro sobre investimento. Nesse caso,
usamos o lucro que cabe ao acionista, o lucro líquido,
dividido pelo investimento do mesmo acionista, seu
patrimônio líquido. O ROE representa a remuneração que os
acionistas da empresa recebem no período, em função de
seu investimento feito no negócio:

𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜
𝑅𝑂𝐸 =
𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜
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A primeira visão crítica a se desenvolver, nesse caso, é a de que, se a


empresa não auferir determinada rentabilidade que satisfaça seus acionistas,
isso representa um risco à continuidade da organização. É importante
compreender que se trata de um risco de médio a longo prazo, uma vez que
um acionista naturalmente não irá fechar as portas de seu negócio em virtude
de um único ano de resultados ruins.

Uma segunda visão crítica a se desenvolver sobre a rentabilidade é a de que


ela representa informações passadas, uma vez que é baseada em dados
contábeis. O futuro da empresa não está refletido em suas demonstrações
financeiras.

A interpretação da rentabilidade atual da empresa deve ser


analisada, gerencialmente, em conjunto com as perspectivas
futuras para o negócio. Partindo desse pressuposto,
podemos nos perguntar: será que a empresa conseguirá
manter ou aumentar esse patamar de retorno no futuro?
Como?

É interessante ter uma sensibilidade adicional sobre o


patamar de rentabilidade de alguns negócios reais. A tabela
a seguir foi elaborada com base nas demonstrações
financeiras padronizadas e indica o nível de retorno de
algumas dessas empresas de capital aberto no Brasil.

Tabela 5 - Rentabilidades (ROE) de algumas empresas brasileiras listadas em Bolsa

ROE
2015 2014
Itaú Unibanco 22,90% 21,70%
Localiza 20,70% 24,80%
Ambev 25,60% 28,30%
Pão de açúcar -2,10% 11,20%

Fonte: Do autor (2017).

Agora vamos retornar novamente ao exemplo da Revendedora S/A. Dividindo


o Lucro Líquido pelo Patrimônio Líquido de cada ano, obtemos o ROE,
conforme a tabela a seguir.
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Tabela 6 - ROE da Revendedora S/A

2015 2014
Lucro Líquido (LL) 210.878 85.524
Patrimônio Líquido (PL) 4.842.127 5.011.992
ROE - Return On Equity (LL / PL) 4,36% 1,71%

Com base nessa tabela podemos responder à seguinte pergunta:

a. A empresa conseguiu atingir os objetivos dos acionistas?

Vamos analisar por etapas:

 A empresa conseguiu converter aumento de lucro líquido em aumento


de rentabilidade, já que o ROE passou de 1,71% ao ano para 4,36% ao
ano.
 Apesar do crescimento, a rentabilidade ainda está bastante baixa,
historicamente inferior ao custo mínimo de oportunidade do investidor
brasileiro (Taxa Selic).

Assim, este não parece ser um patamar de rentabilidade que atinja os objetivos
dos investidores.

Direcionadores da rentabilidade

Abordaremos agora os principais drivers da rentabilidade. Para gerenciarmos o


ROE com a visão de longo prazo, torna-se fundamental refletirmos sobre a
seguinte questão: quais são as formas que as empresas têm de gerarem ROE?
Em outras palavras, quais são os drivers do ROE? Na prática, dizemos que o
ROE possui três alavancas ou drivers, sendo duas operacionais e uma
financeira. Confira na figura.
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Margem
Alavanca operacional
Líquida - MgL

Giros dos
Alavanca operacional
ativos (Giro)

Alavancagem
Alavanca financeira
financeira

Figura 1: Alavancas do ROE.


Fonte: Do autor (2017).

Vamos agora compreender o significado e a contribuição de cada uma dessas


alavancas, a começar pelas alavancas operacionais.

A primeira alavanca de ROE pode ser definida de forma simples como


“comprar barato e vender caro”. Tecnicamente, em finanças, chamamos essa
alavanca de margem. O objetivo é gerar lucros líquidos (aqueles que
pertencem aos acionistas), portanto nosso interesse é conhecer o valor da
margem de lucro líquido. Dessa forma, temos:

𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜
𝑀𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 =
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎

Agora, imagine que determinada empresa possui margens de lucros muito


baixas, como é recorrente em setores que comercializam commodities, por
exemplo. Então, para que a empresa consiga gerar ROE, ela terá de “vender
uma quantidade bastante grande do seu produto ou serviço”, afinal ela “ganha”
pouco a cada unidade vendida. A essa prática em finanças damos o nome de
giro dos ativos (ou simplesmente giro), que é a segunda alavanca do ROE.
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Há muitas formas de medir giro. Uma das mais recorrentes é dividirmos as


Receitas Líquidas pelo Ativo Total do Balanço Patrimonial, calculando o giro
dos ativos. Dessa forma, temos a visão de quantas vezes vendemos o total dos
ativos, uma ideia de vendas proporcionalizada pelo tamanho da empresa. Para
calcular o giro dos ativos, observe a equação a seguir.

𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎
𝐺𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑜𝑠 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 =
𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙

A terceira e última alavanca de ROE é a financeira, conhecida como


alavancagem financeira (ou simplesmente alavancagem), que pode ser
calculada pela divisão do Ativo Total pelo Patrimônio Líquido, conforme fórmula
a seguir.

𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙
𝐴𝑙𝑎𝑣𝑎𝑛𝑐𝑎𝑔𝑒𝑚 =
𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜

Para compreender o significado da alavancagem financeira, vamos conferir um


exemplo. Imagine que determinada empresa apresenta no Ano I o Ativo Total
de $4,00, Recursos de Terceiros (Passivos) de $2,00 e Patrimônio Líquido de
$2,00. A sua alavancagem financeira será de $2,00 ($4/$2). No Ano II, há uma
mudança na empresa. Seu Ativo Total passa a ser de $8,00, os Recursos de
Terceiros passam a ser $6,00 e o Patrimônio Líquido se mantém em $2,00. A
empresa começa a apresentar uma alavancagem financeira de $4,00 ($8/$2).
Sendo assim, a empresa aumenta sua alavancagem financeira de $2,00 para
$4,00. O que cresceu na estrutura de capital foram os Recursos de Terceiros,
que saíram de $2,00 para $6,00.

Esse exemplo nos ajuda a compreender o seguinte: sempre que se aumenta a


alavancagem financeira, eleva-se a participação de terceiros na estrutura de
financiamento. Em outras palavras, quanto maior a alavancagem financeira,
maior o uso de recursos de terceiros ou maior o endividamento da empresa.
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Ativo Passivo

Ativo Passivo 6
8
2 PL

4 2
PL
2

Figura 2: Exemplo de significado de alavancagem financeira.


Fonte: Do autor (2017).

Agora, observe na figura a seguir que a multiplicação das três alavancas nada
mais é do que o próprio ROE.

Figura 3: Demonstração matemática da decomposição do ROE em margem, giro e


alavancagem financeira.
Fonte: Do autor (2017).

Perceba que essa expressão demonstra matematicamente que qualquer


empresa tem três formas de gerar ROE: por meio de margem, por meio de
giro ou por meio de alavancagem financeira.
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É costume dizer que cada empresa ou cada segmento terá


mais ou menos força em cada uma dessas alavancas.
Confira, a seguir, alguns exemplos que auxiliam nessa
compreensão.

• o setor de varejo de massa é tipicamente um setor com


maior força no giro e pouca força na margem, uma vez que
agrega pouco na cadeia de valor;
• o setor aeronáutico (a Embraer, por exemplo), por sua
vez, é um setor que apresenta elevadas margens e baixos
níveis de giro, dado que seu volume de vendas é bastante
baixo em comparação com o tamanho do seu ativo total −
esses negócios precisam “ganhar mais” a cada venda, por
agregarem maior valor na cadeia;
• um banco comercial é um típico exemplo de empresa
geradora de ROE via alavancagem financeira, dadas as suas
características operacionais.

Notamos, portanto, que quaisquer das três alavancas podem apresentar


valores baixos, a depender das características de cada setor. O que não pode
ser consistentemente baixo é o produto das três alavancas, que é o ROE.

Nesse momento, retornaremos nossas atenções à alavancagem financeira.


Observe, na Figura 3, que o ROE é produto da multiplicação de margem, giro e
alavancagem. Isso significa, na prática, que quanto maior esses três termos
forem, maior será o produto deles, o ROE. Para margem e giro, os termos
operacionais, esse raciocínio é bastante intuitivo: quanto maior a margem ou o
giro, maior será a rentabilidade da empresa. Porém, o termo alavancagem é
menos direto e intuitivo. Com base na análise da fórmula, verificamos que
quanto maior a alavancagem financeira ou o uso de recursos de terceiros
(quanto maior o seu endividamento), maior será a rentabilidade da companhia.
Porém, podemos perguntar: qual seria o motivo para esse efeito? A resposta é
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que, em condições normais de mercado, a dívida tende a ser mais barata do


que os recursos dos acionistas. E isso ocorre por duas razões: risco e benefício
fiscal da dívida.

1) Risco

Os credores tendem a correr menos risco do que os acionistas e, portanto,


podem exigir menos retorno para alocar seus recursos na empresa. Assim, sob
a ótica da companhia, os recursos dos credores tornam-se mais baratos do que
os dos acionistas (que, por correrem mais riscos, exigirão mais retorno para
alocarem seus recursos nas empresas). O quadro a seguir nos ajuda a
compreender por que os credores normalmente correm menos riscos do que os
acionistas.

Quadro 2 – Análise de aspectos de riscos: acionistas versus credores

Credor Capital próprio


Sim, na estrutura da DRE, o pagamento a
Não, na estrutura da DRE, o sócio
Prioridade no credores (Despesas Financeiras) vem antes
é o último stakeholder a receber
recebimento do pagamento aos acionistas (Lucro
(Lucro Líquido).
Líquido).
Prazo para Conhecido e estipulado nos instrumentos de Desconhecido, o acionista não tem
recebimento dívida. prazo definido para recebimento.
Valor a ser Conhecido e estipulado nos instrumentos de Desconhecido e dependente do
recebido dívida. desempenho da companhia.
Possibilidade de Sim, possibilidade de execução de
Não.
ações legais garantias, retomada dos bens, etc.

Fonte: Do autor (2017).

Você percebeu que o credor tem prioridade no recebimento e tem prazo e valor
de recebimento conhecidos? O credor ainda tem a possibilidade de tomada de
ações legais em caso de não recebimento.
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Lembre que stakeholders são todos os agentes – pessoas


ou grupos – que têm interesse de alguma natureza em
determinada empresa. São as partes interessadas do
negócio. Alguns exemplos de stakeholders são os acionistas,
os colaboradores, os fornecedores, o governo, a sociedade,
os concorrentes, etc

2) Benefício fiscal da dívida.

Nas empresas tributadas pelo regime de lucro real, há uma economia das
alíquotas de Imposto de Renda e Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (IR
/ CSLL) sobre as despesas financeiras reconhecidas. Assim, se a empresa
apresentar uma alíquota somada desses tributos de 34%, haverá uma
economia de 34% sobre as despesas financeiras pagas. Vejamos um exemplo:
se determinada empresa tributada pelo regime de lucro real tomar uma dívida
bancária com taxa de 10% ao ano, haverá uma economia de 34% sobre os
10%. O custo líquido dessa dívida será de 6,6% ao ano (10% - 34%).

Lucro Real

Em linhas gerais, no regime tributário de lucro real, o imposto de renda é


determinado a partir da apuração do lucro contábil, acrescido de ajustes
(positivos e negativos) requeridos pelas legislações vigentes.

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