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1. Tema
O texto define o que é uma questão histórica.
2. Tese central
Para o autor, a história não se define pelo seu objeto, mas pela construção de uma
questão, e é através dela que se estabelece o objeto de conhecimento.
3. Lógica interna
O texto está subdividido em 4 partes: uma introdução (sem nome), mais outras
três, assim denominadas: O que é uma questão histórica?, O enraizamento social
das questões históricas e O enraizamento pessoal das questões históricas.
O autor abre o texto afirmando que a história é uma forma de conhecimento que
não se define pelo seu objeto, mas pela construção do mesmo. De fato, não há
uma ação humana que seja histórica em si mesma, e, além disto, toda ação humana
pode se tornar objeto de estudo da história. O objeto histórico é, então, construído,
mas construído por uma questão.
A segunda parte (“O que é uma questão histórica?”) está subdividida em dois
itens: “Questões e documentos” e “A legitimidade das questões”. No primeiro
item, Prost mostra que para cada questão há sempre um documento possível,
pressuposto, e não pode haver questão sem um documento que possa vir a elaborá-
lo. Há, portanto, um primado da questão sobre o documento, o que leva a (a)
impossibilidade da leitura definitiva de um documento; (b) renovação do
conhecimento significa uma ampliação metodológica. No segundo, Prost
argumenta que é a questão que faz avançar o conhecimento historiográfico, cujo
progresso não se mede pelo preenchimento de lacunas, mas pelo levantamento de
dúvidas acerca da identidade herdada.
A terceira parte (“O enraizamento social da questão histórica”) está também
dividida em duas: a pertinência social e a pertinência científica. Nesta, o autor
toca em uma questão relevante: a relevância social não necessariamente se liga a
um desejo da sociedade por informação, sobretudo, se esta informação for apenas
uma curiosidade ou futilidade. Neste ponto, Prost coloca uma provocação:
pertinência social e pertinência científica nem sempre coincidem. A pertinência
científica já é socialmente pertinente, pois algum grau de identidade está sendo
questionado; mas nem toda pertinência social questiona a imagem que uma
sociedade faz de si mesma.
4. Interlocução
✓ R. G. Collingwood – p. 75 – 76. sustenta o argumento do primado da
questão histórica.
✓ Reinhart Koselleck – p. 84-85. – sustenta o argumento da historicidade da
questão histórica.
✓ Henri-Irenne Marou – p. 91 – sutenta a ideia de que a história pode ser
uma forma de análise existencial.
5. Trechos significativos
Com a questão do historiador – e eis por que ela permite construir os fatos -, ele
tem uma ideia das fontes e dos documentos que lhe permitirão resolvê-la, ou seja,
também uma primeira ideia de procedimento a adotar para abordá-los (...)
Não há questão sem documento (...)
(...)
Tampouco existe documento sem ter sido questionado. Por sua questão, o
historiador estabelece os vestígios deixados pelo passado como fontes e como
documentos; antes de serem submetidos a questionamento, eles nem chegam a ser
preenchidos como vestígios possíveis, seja qual for o objeto. (p. 75-76) → ilustra
segunda parte
6. Comentários
Podemos ver como o texto de Antoine Prost pode servir de critério para a leitura
de artigos empíricos, isto é, de textos que abordam assuntos não explicitamente
teóricos. Entenda-se por isso o seguinte: textos que, apesar de terem uma
fundamentação teórica, não abordam diretamente questões que interessam à
Teoria da História, tais como: “o que são as crises históricas?”, “a história é uma
ciência?”, “qual a importância da narrativa na histórica, e como diferenciá-la da
narrativa ficcional”, “qual a função da pesquisa histórica na sociedade?” entre
outras que tratam do trabalho do/a historiador/a.
Um exemplo da aplicabilidade das reflexões de Prost para um texto empírico se
verifica, por exemplo, ao lermos a introdução de Robert Gelatelly para seu livro
“Apoiando Hitler: Coerção e Consentimento na Alemanha nazista”. A questão de
Gelatelly é saber se a população alemã (que não era considerada como integrante
da comunidade judaica pelos critérios racistas do regime nazista) havia consentido
ou sido coagida pela ditadura chefiada por Hitler. Para responder a tal pergunta,
Gelatelly pesquisou nos arquivos remanescentes da GESTAPO (Polícia Secreta
de Estado), para ver como ocorriam as prisões. No fim, após fazer um
levantamento em três cidades distintas entre si, ele percebeu que
aproximadamente 70% das prisões efetuadas pela GESTAPO resultavam de
denúncias voluntárias da população, e não de um trabalho de espionagem da
polícia. Portanto, ele conclui que havia sim um consentimento populacional.
Tudo isso é para mostrar como a pesquisa de Gelatelly é um bom exemplo de
como uma questão sempre precede a documentação, ainda que, sem ela, ela ficará
sem resposta, ou, muito pior, ficará presa ao senso comum e a uma autoimagem
que uma sociedade cria para si mesma.