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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4
1 CONCEITO .............................................................................................. 5
2 CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE ................................................ 5
3 CRIMES DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ..................................... 9
4 CRIMES DE TRÂNSITO........................................................................ 13
5 CRIMES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER ............................................................................................. 17
6 CRIMES PREVISTOS NA LEI DE ENTORPECENTES ........................ 26
6.1 Infrações penais de menor potencial ofensivo prevista na Nova Lei de
Drogas ................................................................................................. 32
6.2 Crimes apenados de detenção ............................................................ 33
6.3 Crimes apenados com reclusão .......................................................... 34
6.4 Causas de aumento da pena ............................................................... 36
6.5 Inimputabilidade e Semi imputabilidade .............................................. 37
6.6 Delação premiada................................................................................ 38
7 ESTATUTO DO DESARMAMENTO ..................................................... 38
8 JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL .......................................................... 41
8.1 Conceito .............................................................................................. 41
8.2 Princípios ............................................................................................. 41
8.3 Competência ....................................................................................... 45
8.4 Medidas Despenalizadoras ................................................................. 46
8.5 Representação criminal nos crimes de lesões corporais leves e lesões
culposas .............................................................................................. 47
8.6 Impeditivos processuais ...................................................................... 48
8.7 Execução ............................................................................................. 49
8.8 Recursos ............................................................................................. 49
9 REFERÊNCIAS BIBIOGRAFICAS ....................................................... 52

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INTRODUÇÃO

Prezado aluno,

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é


semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro –
quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se
ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida
sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta
para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma
coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao
protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.

Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso


da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base
e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o
dia da semana e a hora que lhe convier para isso.

A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a


ser seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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1 CONCEITO

Lei especial é a que a Constituição confia à disciplina de matéria


determinada, e o direito penal especial é direcionado a uma classe de indivíduos
de acordo com sua qualidade especial, e atos ilícitos particularizados. Pode-se
falar em legislação penal especial como sendo as normas penais que não se
encontram no referido estatuto, mais é constituída pelos demais diplomas legais
aplicados por órgãos especiais constitucionalmente previstos.

2 CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE

A Lei 13.869/19 cuja vigência substituiu a predecessora lei 4.898/65, e


cuida dos crimes de abuso de autoridade tendo em vista que o ordenamento
jurídico observou a necessidade da adoção de tipos penais mais taxativos para
os delitos, visando que autoridades no exercício da sua função poderá ser
responsabilizada em três esferas: penal, cível e administrativa.

Na nova legislação da Lei de Abuso de Autoridade o artigo 1º


estabelece o seguinte:

Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos


por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções
ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido
atribuído.

§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de


autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica
de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda,
por mero capricho ou satisfação pessoal.

§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e


provas não configura abuso de autoridade. (BRASIL, 2019)

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Para caracterizar o abuso de autoridade é necessário que haja o dolo
específico conforme previsto na lei, as finalidades exigidas e específicas para
configurar esse crime, são:

- Prejudicar outrem
- Beneficiar a si mesmo
- Beneficiar terceiros
- Por mero capricho
- Por satisfação pessoal

O artigo 2º da lei nº 13.869/2019 se trata de crime próprio, praticado pelos


agentes públicos e dispõe o seguinte:

Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente


público, servidor ou não, da administração direta, indireta ou
fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas
não se limitando a:

I - Servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;


II - Membros do Poder Legislativo;
III - membros do Poder Executivo;
IV - Membros do Poder Judiciário;
V - Membros do Ministério Público;
VI - Membros dos tribunais ou conselhos de contas.

Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei,


todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou
qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste
artigo. (BRASIL, 2019)

Os agentes públicos que mantem vínculo com o Estado atuarão como


sujeito ativo do delito de abuso de autoridade, e os agentes políticos, conforme
o entendimento do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) são considerados agentes
públicos para efeito da lei.

O art. 3º da Lei n. 13.869/19 dispõe que os crimes previstos são de ação


penal pública incondicionada:

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Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública
incondicionada.

§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for


intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa,
repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos
do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo
tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como
parte principal.

§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis)


meses, contado da data em que se esgotar o prazo para oferecimento
da denúncia. (BRASIL, 2019)

Os efeitos da condenação são todos os resultados que direta ou


indiretamente, atingem a pessoa do condenado por sentença transitada em
julgado. É possível concluir que o efeito da condenação constante do art.4º,
inciso I da lei 13.869/19 – obrigação de reparar o dano causado pelo crime – é
um efeito extrapenal obrigatório em relação aos crimes de abuso de autoridade.

Já os art.5º ,6º e 7º da Lei n.13.869/2019, dispõe que:

Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de


liberdade previstas nesta Lei são:

I - Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;

II - Suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo


prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das
vantagens;

Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas


autônoma ou cumulativamente.

Art. 6º As penas previstas nesta Lei serão aplicadas


independentemente das sanções de natureza civil ou administrativa
cabíveis.

Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que


descreverem falta funcional serão informadas à autoridade competente
com vistas à apuração.

Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes


da criminal, não se podendo mais questionar sobre a existência ou a
autoria do fato quando essas questões tenham sido decididas no juízo
criminal.

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Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no
administrativo-disciplinar, a sentença penal que reconhecer ter sido o
ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
(BRASIL, 2019)

A sentença absolutória não exerce influência sobre o processo civil e


administrativo, salvo que haja inexistência categoricamente material do fato ou
que afaste autoria e participação. De tudo isso destaca-se a importância de se
analisar em conjunto o art. 386 do CPP cujos os incisos dispõem sobre os
fundamentos da sentença absolutória.

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte


dispositiva, desde que reconheça: I - Estar provada a inexistência do
fato; neste caso o juiz formou sua convicção no sentido na inocorrência
do fato, excluindo assim responsabilização em qualquer esfera. II - Não
haver prova da existência do fato; esta decisão é proferida quando, por
ocasião da sentença, persistir dúvida quanto a existência do fato
delituoso. Trata-se de decisão baseada na regra do in dubio pro reo.
Logo, não faz coisa julgada no âmbito cível e administrativo. III - não
constituir o fato infração penal; não constituir o fato infração penal não
significa ca que o fato não causou prejuízo a outrem, ou seja, passível
de responsabilização civil ou administrativa. IV – estar provado que o
réu não concorreu para a infração penal; (Redação dada pela Lei nº
11.690, de 2008) Nos mesmos moldes do inciso I essa decisão é
baseada em um juízo de certeza e, portanto, afasta responsabilização
em todas as esferas uma vez que o sujeito não concorreu para pratica
do ato. V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração
penal; (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) O juízo penal para
condenação deve ser baseado em um juízo de certeza, convicção de
que o indivíduo concorreu de alguma maneira para infração penal. Uma
vez não tendo convicção de tal autoria ou participação não resta ao juiz
decisão outra que absolver o réu, porém, como as regras de
responsabilização administrativas e civis por envolverem bens
disponíveis são mais maleáveis, tal sentença penal não interfere em
outras esferas. VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou
isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos
do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua
existência; (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) 19 VII – não
existir prova sufi ciente para a condenação. (BRASIL, 2019)

A nova lei vale destacar:

Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta


desconformidade com as hipóteses legais: (Promulgação partes
vetadas) Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
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Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que,
dentro de prazo razoável, deixar de: I - relaxar a prisão manifestamente
ilegal; II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou
de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível; III -
deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente
cabível. (BRASIL, 2019)

No art.13 da Lei de abuso de autoridade é nítido a preocupação com a


honra do preso/detento:

Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave


ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a:
I - Exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade
pública;

II - Submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não


autorizado em lei;

III - (VETADO). (Promulgação partes vetadas)

III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:


Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da
pena cominada à violência. (BRASIL, 2019)

O art. 14 em sua redação original previa a conduta de fotografar ou filmar


o detento sem sua autorização mediante constrangimento. Contudo tal
dispositivo foi vetado sob argumentação de causar insegurança jurídica por se
tratar de tipo penal aberto.

3 CRIMES DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

A interceptação telefônica quanto à natureza jurídica consiste no ato de


interferir nas comunicações telefônicas para ter acesso ao seu conteúdo, é uma
obtenção de prova, uma captação (sem interrupção) de conversa telefônica
alheia, sem que os interlocutores tenham ciência da ingerência de um terceiro
na comunicação. Sendo assim, a art. 5º, inciso XII da CF/88 é de clareza solar,
ele diz o seguinte: “A interceptação telefônica pode ser utilizada na investigação
criminal ou instrução processual penal, ou seja, a interceptação somente vale
como prova criminal. ” (BRASIL,1988)
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A Lei 13.869/2019 que foi sancionada em 05 de dezembro de 2019,
revogou expressamente a antiga Lei 4.898/1965, além de alterações relevantes
na Lei de Prisão Temporária, na Lei das Interceptações Telefônicas, no Código
Penal e no Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil.
Vale ressaltar que a interceptação telefônica é uma medida regrada pela
Lei nº 9.296/96, tendo legitimidade a autoridade policial e o Ministério Público
para representação e requerimento. O juiz também é legitimado na fase
inquisitorial bem como na fase processual com o surgimento da Lei 13.964/2019,
intitulada de Lei Anticrime, com o objetivo de combater o crime organizado, a
violência e principalmente a corrupção, e passou a prever a competência do
Juízo da Execução Penal:

Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será


executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida
de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda
Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e
suspensivas da prescrição. (BRASIL, 2019)

A Lei 13.964, de 24 de dezembro de 2019, modificou a redação do caput


e do parágrafo primeiro do artigo 75 do Código Penal, para modificar o limite de
30 para 40 anos:

Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade


não pode ser superior a 40 (quarenta) anos.

§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade


cuja soma seja superior a 40 (quarenta) anos, devem elas ser
unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. (BRASIL, 2019)

Cumpre destacar que a modificação só será aplicada para os crimes


cometidos após o início de vigência da Lei 13.964/2019, por se tratar de lei penal
posterior que prejudica o réu.
A interceptação por ser uma medida de extrema gravidade tem alguns
requisitos:

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- Autorização judicial - esse instrumento constitui uma restrição do direito à
intimidade, e cabe ao Juiz de Direito analisar a procedência do pedido e
determinar a medida, que também chamamos de cláusula de reserva de
jurisdição.

- Último meio de prova disponível - a interceptação telefônica será utilizada


quando todos os outros meios de prova falharem.

- Existência de indícios suficientes de autoria ou participação em infração penal


é preciso verificar os indícios suficientes para que o Juiz possa determinar a
interceptação telefônica, ou seja, essa medida não se verificará quando houver
mera suspeita, é necessário que haja evidências plausíveis para indicar
determinada pessoa como autor ou partícipes de um delito.

- Crime deve ser punido com reclusão – é necessário que haja o deferimento de
prova, ou seja, que o crime que está sendo apurado.

- Seja punido com reclusão - esse processo só é permitido em crimes mais


graves, como: homicídio, roubo, falsidade ideológica, tráfico de drogas, extorsão
mediante sequestro, entre outros.

Cabe às seguintes autoridades requererem a captura das conversas


telefônicas: o Delegado de Polícia durante o inquérito policial, e o representante
do Ministério Público a qualquer tempo, e Juiz analisará o pedido e o autorizará
ou não.
Quanto à gravação clandestina, ela ocorre quando um dos interlocutores
realiza a gravação sem o consentimento do outro. Essa medida é feita para
provar algum crime ou escuta por quem está realizando o ato, e, segundo os
Tribunais Superiores, é uma prova lícita. Vale alertar que realizar interceptação
telefônica sem autorização é crime previsto no art. 10º da Lei nº 9.296/96, com
punição de reclusão de dois a quatro anos:

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Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações
telefônicas, de informática ou telemática, promover escuta ambiental
ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com
objetivos não autorizados em lei: (Redação dada pela Lei nº 13.869
de 2019)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação


dada pela Lei nº 13.869 de 2019)

Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que


determina a execução de conduta prevista no caput deste artigo com
objetivo não autorizado em lei. (Incluído pela Lei nº 13.869 de 2019)

Art. 10-A. Realizar captação ambiental de sinais eletromagnéticos,


ópticos ou acústicos para investigação ou instrução criminal sem
autorização judicial, quando esta for exigida: (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído


pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Não há crime se a captação é realizada por um dos interlocutores.


(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º A pena será aplicada em dobro ao funcionário público que


descumprir determinação de sigilo das investigações que envolvam a
captação ambiental ou revelar o conteúdo das gravações enquanto
mantido o sigilo judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

De acordo com a Constituição Federal e a Lei de Interceptação Telefônica,


essa medida é utilizada em instruções penais, ou processuais penais, havendo
uma ressalva feita pelos Tribunais Superiores que permite a aplicação dessa
prova em procedimentos administrativos. O entendimento do STJ é que as
captações de conversas telefônicas são como ”provas emprestadas” nos
processos administrativos, ou seja, esse meio de prova não pode ser deferido
originalmente com base em litígio administrativo, e podendo ser usado a
interceptação para observar todos os pressupostos.
Em vista disso, nota-se que a interceptação telefônica é um meio de prova
importante no esclarecimento de algumas situações, e deve ser utilizado com
muito cuidado para que não sejam feridos direitos fundamentais do cidadão.

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4 CRIMES DE TRÂNSITO

Os atos que são considerados crimes de trânsito estão previstas no


Código de Trânsito Brasileiro (CTB) da Lei nº 9.503/97 sendo um documento
legal que define atribuições de diversas autoridades e órgãos ligados ao trânsito
do Brasil, estabelece normas de conduta, fornece diretrizes para a engenharia
de tráfego, infrações e penalidades para usuários desse complexo sistema.
No dia 13 de outubro de 2020 foi criada a Lei nº 14.071/20 E que traz
normas gerais de circulação e conduta, mas não se trata de um novo código, é
apenas uma lei com alteração à redação final do CTB (lei 9.503/97).
Trataremos de algumas das principais mudanças:
- Aumento na validade da CNH-todos os documentos emitidos a partir de hoje
passam a valer 10 anos para condutores de até 50 anos de idade, acima dessa
idade será a cada 5 anos. E para idosos acima de 70 anos de idade anos devem
emitir um novo documento a cada três anos:

“Art. 147, § 2º O exame de aptidão física e mental, a ser realizado no


local de residência ou domicílio do examinado, será preliminar e
renovável com a seguinte periodicidade:

I - A cada 10 (dez) anos, para condutores com idade inferior a 50


(cinquenta) anos;

II - A cada 5 (cinco) anos, para condutores com idade igual ou superior


a 50 (cinquenta) anos e inferior a 70 (setenta) anos;

III - a cada 3 (três) anos, para condutores com idade igual ou superior
a 70 (setenta) anos.

§ 4º Quando houver indícios de deficiência física ou mental, ou de


progressividade de doença que possa diminuir a capacidade para
conduzir o veículo, os prazos previstos nos incisos I, II e III do § 2º
deste artigo poderão ser diminuídos por proposta do perito examinador.

§ 6º Os exames de aptidão física e mental e a avaliação psicológica


deverão ser analisados objetivamente pelos examinados, limitados aos
aspectos técnicos dos procedimentos realizados, conforme
regulamentação do Contran, e subsidiarão a fiscalização prevista no §
7º deste artigo.

§ 7º Os órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados e do


Distrito Federal, com a colaboração dos conselhos profissionais de
medicina e psicologia, deverão fiscalizar as entidades e os
profissionais responsáveis pelos exames de aptidão física e mental e
pela avaliação psicológica no mínimo 1 (uma) vez por ano. ” (NR).
(BRASIL, 2020)

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- Nova pontuação - a partir de agora há uma gradação no aumento na pontuação
da carteira e dependendo da gravidade da infração o condutor pode perder o
documento com 20, 30 ou 40 pontos acumulados no prazo de 1 ano (12 meses).
Para quem é motorista profissional a regra é sempre de 40 pontos e os que se
enquadram nesse perfil são os taxistas, motoristas de aplicativos, moto taxistas
e caminhoneiros.

- Curso de reciclagem somente 30 pontos - os profissionais dessa área que


acumularem 30 pontos em 1 ano (12 meses) será necessário fazer o curso de
reciclagem para só assim zerar a pontuação:

“§ 5º No caso do condutor que exerce atividade remunerada ao veículo,


a penalidade de suspensão do direito de dirigir de que trata o caput
deste artigo será imposta quando o infrator atingir o limite de pontos
previsto na alínea c do inciso I do caput deste artigo,
independentemente da natureza das infrações cometidas, facultado a
ele participar de curso preventivo de reciclagem sempre que, no
período de 12 (doze) meses, atingir 30 (trinta) pontos, conforme
regulamentação do Contran. ” (BRASIL, 2020)

- Multas viram advertências – as infrações leves ou médias sem reincidência no


prazo de 1 ano (12 meses) se tornam apenas advertências, e os pedestres não
poderão mais ser multados.

- Porte da CNH não obrigatório – essa mudança possibilita que o condutor possa
conduzir sem a CNH, salvo se acontecer alguma abordagem e for possível
identificação ao sistema informatizado e comprove que o motorista está
habilitado (CNH digital). A CNH digital também passa a valer como um
documento de identidade em todo o território nacional.

- Exames toxicológicos – o condutor que for flagrado dirigindo em velocidade


acima de 50% do limite permitido, não terá apreensão imediata, nem a
suspensão da carteira, o motorista entrará em um processo administrativo para
perder a CNH.
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- Licenciamento só depois do recall - essa alteração se refere à obrigatoriedade
do recall. Os veículos que não comparecerem ao recall em prazo superior a 1
ano (12 meses) terá isso registrado no CRVL. Sendo assim, o motorista só
poderá ser licenciado novamente depois de comprovado o atendimento para
reparo.

- Faróis acesso - pelo novo texto é obrigatório o uso de farol baixo apenas em
rodovias de via simples. E passa a ser obrigatório por lei acender as luzes em
qualquer tipo de túnel, sob neblina ou cerração. Já as motos a obrigatoriedade é
manter as luzes acessas o tempo todo.

- Cadeirinhas - por obrigatoriedade foi mantida o uso da cadeirinha, e o código


prevê multa gravíssima para o não cumprimento, o que mudou é o limite de
altura: Crianças de 1,45 metro de até 10 anos devem usar o dispositivo de
retenção por lei. E motos, motonetas, ciclomotores só poderão transitar com
crianças acima de dez anos.

- Prazo estendido para defesa prévia - o prazo para indicar o condutor e para
apresentação de defesa prévia sobe de 15 para 30 dias.

- Multa ao parar em ciclovia – o condutor que será passível de multa caso utilizar
ciclovias ou ciclo faixas como embarque ou desembarque, ou até mesmo se
utilizar como estacionamento. De acordo com o texto, o motorista poderá receber
multa de R$ 195,23 (infração grave) e soma de 5 pontos na CNH. Vale ressaltar
que agora é considerado um ato passível de multa ultrapassar ciclistas, podendo
receber multa gravíssima de R$ 293,47 e soma de 7 pontos na carteira.

- Fim da prisão alternativa aos condutores condenados por homicídio culposo -


essa norma impede que ocorra uma substituição da prisão por apenas alternativa
aos condutores que sob efeito de substancias psicóticas, álcool, provocarem
lesão corporal ou morte. A ideia é proibir que o motorista que cometer algum
desses atos possa cumprir penas alternativas ao invés da prisão.

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- Multa mais leve para motociclistas sem viseira ou óculos – quem conduzir
motocicleta, motoneta ou ciclomotor com capacete sem viseira/óculos de
proteção ou com viseira/óculos em desacordo com o Contran estará cometendo
uma infração média. Sendo assim, o condutor será passível de multa de R$
130,16, além da retenção do veículo para regularização:

“Art. 244. Conduzir motocicleta, motoneta ou ciclomotor:

I - Sem usar capacete de segurança ou vestuário de acordo com as


normas e as especificações aprovadas pelo Contran;

IV - (revogado);

V - Transportando criança menor de 10 (dez) anos de idade ou que não


tenha, nas circunstâncias, condições de cuidar da própria segurança:

Infração - gravíssima;

Penalidade - multa e suspensão do direito de dirigir;


Medida administrativa - retenção do veículo até regularização e
recolhimento do documento de habilitação;

X - Com a utilização de capacete de segurança sem viseira ou óculos


de proteção ou com viseira ou óculos de proteção em desacordo com
a regulamentação do Contran;

XI - transportando passageiro com o capacete de segurança utilizado


na forma prevista no inciso X do caput deste artigo:

Infração - média;

Penalidade - multa;

Medida administrativa - retenção do veículo até regularização;

XII – (VETADO). (BRASIL, 2020)

Essa iniciativa do Governo Federal veio como uma aposta de campanha,


com intuito de torna-lo mais adequado a nossa realidade, eliminando os
excessos que causam grande desconforto a população.
A partir de agora o CTB passa a ter a seguinte norma:

“Art. 134. No caso de transferência de propriedade, expirado o prazo


previsto no § 1º do art. 123 deste Código (30 dias) sem que o novo
proprietário tenha tomado as providências necessárias à efetivação da
expedição do novo Certificado de Registro de Veículo, o antigo
proprietário deverá encaminhar ao órgão executivo de trânsito do
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Estado ou do Distrito Federal, no prazo de 60 (sessenta) dias, cópia
autenticada do comprovante de transferência de propriedade,
devidamente assinado e datado, sob pena de ter que se
responsabilizar solidariamente pelas penalidades impostas e suas
reincidências até a data da comunicação.

Parágrafo único. O comprovante de transferência de propriedade de


que trata o caput deste artigo poderá ser substituído por documento
eletrônico com assinatura eletrônica válida, na forma regulamentada
pelo Contran.” (NR) (BRASIL, 2020)

Verifica-se nesse caso que houve o aumento do prazo, antes era de 30


dias, e agora são 60 dias para a comunicar a venda, possibilitando que os
processos sejam eletrônicos.
No artigo 233 do CTB também houve modificação, esse trata da infração
propriamente dita. Houve a diminuição da pontuação e consequentemente do
valor da multa quando o cidadão não concluir o procedimento de transferência
dentro do prazo legal junto ao Detran. Sendo considerada infração média.

5 CRIMES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

Essas agressões têm graves consequências por serem complexas,


desumanas e não ocorrerem isoladamente, podendo ser considerado ato de
violação aos direitos humanos, vejamos os tipos de violência:
A violência física é qualquer conduta que que ofenda a integridade ou
saúde corporal: espancamento, atirar objetos, sacudir e apertar os braços,
estrangulamento ou sufocamento, lesões com objetos cortantes ou perfurantes,
ferimentos causados por queimaduras ou armas de fogo e tortura.
A violência psicológica é qualquer conduta que cause danos emocionais,
diminuição da autoestima, perturbação do desenvolvimento, ou atitudes que
tente controlar ações, crenças e comportamentos (decisões), exemplos:
humilhação, ameaças, manipulação, isolamento, vigilância constante,
perseguição, insultos, limitação no direito de ir e vir, etc.
A violência sexual pode ser qualquer conduta não desejada que
constranja, mediante uso de força, ameaça ou coação: estupro, obrigar a mulher
a fazer atos sexuais que causem desconforto ou repulsa, impedir o uso de
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métodos contraceptivos ou forçar a mulher ao aborto, forçar matrimônio,
prostituição, limitar ou anular o exercício dos direitos reprodutivos da mulher.
Na violência patrimonial o companheiro usa o dinheiro ou toma posse dos
bens materiais para controlar a mulher, visando satisfazer suas necessidades e
passa a: controlar o dinheiro, não paga a pensão alimentícia, destruição de
documentos, extorsão ou dano, estelionato, etc.
E a violência moral é qualquer calúnia, difamação ou injúria: acusar a
mulher de traição, críticas mentirosas, expor a vida íntima, etc.
A Lei nº 11.340, no dia 07 de agosto de 2006 conhecida como Lei Maria
da Penha, dispõe que todo caso de violência doméstica ou intrafamiliar é crime.
Esses crimes serão julgados por: Juizados Especializados de Violência
Doméstica contra a Mulher.

O artigo 5º, da Lei 11.340/06, define o que configura violência doméstica


e familiar:

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e


familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero
que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e
dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015) I
- no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar,
inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família,
compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou
se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade
ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na
qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações
pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.
(BRASIL, 2006)

Valéria Diez Scarance Fernandes (2015) leciona sobre a violência física:

Normalmente, a violência física manifesta-se por tapas, socos,


empurrões e agressões com instrumentos, contundentes ou cortantes,
que podem provocar marcas físicas e danos à saúde da vítima.
Conforme a gravidade do resultado e as circunstâncias do fato, pode
ser tipificada como vias de fato, lesão corporal, tortura ou feminicídio
(FERNANDES, 2015, p. 60)

18
Lei Maria da Penha:

É vista como uma das leis mais famosas do país, esse instrumento
legislativo ganhou destaque por refletir na vida de várias mulheres que sofrem
violência, seja ela física, psicológica, moral ou sexual.
A lei Maria da Penha está intimamente ligada a atuação de diversas áreas
profissionais, o que eleva ainda mais a sua importância, essa lei é um
instrumento legislativo que tem como objetivo principal criar mecanismos para
coibir, prevenir e proteger qualquer violência de gênero em âmbito doméstico e
familiar tentado contra a vida da mulher. Além de ter se tornado um dispositivo
legal para punir rigorosamente quem cometa esse tipo de violência.
Um dos pontos que se destacam são: concessão de medida protetiva de
urgência em até 48 horas; decretação de prisão preventiva do agressor;
tipificação da violência doméstica e familiar contra a mulher; renúncia da
denúncia somente peranteo juiz; e proibição de penas pecuniárias ao agressor
(pagamento de multas ou cestas básicas).
Muitos dos casos, a violência se relaciona com uma forte presença de
cultura machista, que acaba resultando na maioria das vezes em vítimas do sexo
feminino. Essa cultura machista imposta na sociedade, dá a mulher papéis pré-
estabelecidos, como por exemplo, cuidar dos filhos, do ambiente doméstico, e
muita das vezes mesmo que tenha um trabalho, e tenha autonomia financeira,
ainda assim terá que se dividir em várias, para conseguir assumir todas as
responsabilidades anteriormente impostas.
Temos também a violência de gênero, que é composta de resultados de
construção social, ou seja, é resultado de uma dominação do sexo masculino
sobre o sexo feminino, que acaba por resultar e se justificar as violências físicas,
sexuais, morais ou patrimoniais, deles contra elas.
Muitos autores que praticam violência doméstica, tendem a culpabilizar a
vítima e negar sua responsabilidade pelo episódio agressivo, usando várias
desculpas como por exemplo, interferência de terceiros na relação,
comportamento indevido da companheira, os cuidados com os filhos e os
afazeres domésticos. É o que se depreende de alguns relatos:

19
Ela me incomoda. Às vezes não dá pra aguentar; ela que quer tá certa;
ela humilha, magoa a gente. A minha mulher não se preocupa em fazer
a comida pra quando eu chego em casa e ainda por cima às vezes
quando vou comer se foi ela que comprou me provoca dizendo que eu
vou comer a comida dela. Ela quer mandar em casa!!! Quer dominar,
quer sempre que a gente faça... Seja a perfeição ... o que é a
perfeição.... não ir com os amigos depois do trabalho no armazém, não
fazer nada. 'a própria língua delas desestrutura o homem, daí o cara
não tem como, começa a rebaixar, daí vai indo, daí uma hora não tem
limite, daí ele já está no ponto'; Não cheguei a bater... não...
fisicamente... é que a minha mulher escutava muito os outros lá de
fora... Daí eu virava num bicho. (ROSA et al, 2008, p. 156,157 e 158)

Sendo assim, a reeducação do agressor é imprescindível para uma


eficácia do processo preventivo e protetivo, pois a partir daí que o autor da
violência doméstica adotará novas condutas ao se relacionar com a mulher, e
com isso evitará reincidência no crime contra a mesma vítima ou
relacionamentos futuros.

Conceito:

Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por razões da


condição de sexo feminino, desconsiderando a dignidade da vítima enquanto
mulher, ou seja, é como se as mulheres tivessem menos direitos do que os
homens. A Lei nº 13.104/2015 veio para mudar esse panorama, e previu que o
feminicídio deve ser punido como homicídio qualificado.
Luciana Maibash Gebrim e Paulo César Corrêa Borges (2014), doutrinam
sobre o conceito de feminicídio:

O femicídio/feminicídio representa uma violência extrema contra a


mulher pelo fato tão somente de ser mulher e ataca o principal bem
jurídico protegido pelo Direito Penal, a vida; porém, apresenta caráter
sistemático, decorrente de relações de poder, de discriminação e de
opressão baseadas no patriarcado, que transformam a mulher em um
ser inominado, sem vontade própria, incapaz de reverter a situação na
qual se encontra. (GEBRIM; BORGES, 2014)

20
Francisco Dirceu Barros (2015), também define o feminicídio:

O feminicídio pode ser definido como uma qualificadora do crime de


homicídio motivada pelo ódio contra as mulheres, caracterizado por
circunstâncias específicas em que o pertencimento da mulher ao sexo
feminino é central na prática do delito. Entre essas circunstâncias estão
incluídos: os assassinatos em contexto de violência doméstica/familiar,
e o menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Os crimes que
caracterizam a qualificadora do feminicídio reportam, no campo
simbólico, a destruição da identidade da vítima e de sua condição de
mulher. Também conhecido como “crime fétido”, vem a ser uma
expressão que vai além da compreensão daquilo designado por
misoginia, originando um ambiente de pavor na mulher, gerando o
acossamento e sua morte. Compreendem as agressões físicas e da
psique, tais como o espancamento, suplício, estupro, escravidão,
perseguição sexual, mutilação genital, intervenções ginecológicas
imotivadas, impedimento do aborto e da contracepção, esterilização
forçada, e outros atos dolosos que geram morte da mulher. (BARROS,
2015)

O feminicídio por ser um crime de ódio, é também um processo contínuo


de violência, a mulher é morta devido ao seu gênero, e violência se torna rotina
em seu lar. Nestes termos:

Trata-se de um crime de ódio. O conceito surgiu na década de 1970


com o fim de reconhecer e dar visibilidade à discriminação, opressão,
desigualdade e violência sistemática contra as mulheres, que, em sua
forma mais aguda, culmina na morte. Essa forma de assassinato não
constitui um evento isolado e nem repentino ou inesperado; ao
contrário, faz parte de um processo contínuo de violências, cujas raízes
misóginas caracterizam o uso de violência extrema. Inclui uma vasta
gama de abusos, desde verbais, físicos e sexuais, como o estupro, e
diversas formas de mutilação e de barbárie (MENICUCCI, 2015)

Vale ressaltar a distinção dos conceitos de “feminicídio” e “Femicídio”.


Este último é o homicídio perpetrado contra a mulher, e feminicídio consiste em
homicídio perpetrado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
É dizer, não é todo homicídio de mulher que configura um feminicídio, mas
apenas aqueles os quais se revele as denominadas “razões de sexo feminino”
(BELDEL, 2017, p.461-490).

21
Rogério Sanches Cunha (2016) leciona sobre a diferenciação entre
Feminicídio e Femicídio:

Matar mulher, na unidade doméstica e familiar (ou em qualquer


ambiente ou relação), sem menosprezo ou discriminação à condição
de mulher é FEMICÍDIO. Se a conduta do agente é movida pelo
menosprezo ou discriminação à condição de mulher, aí sim temos
FEMINICÍDIO. (SANCHES, 2016)

Bianchini (2015) disserta sobre o feminicídio:

[...]a violência doméstica e familiar que configura uma das razões da


condição de sexo feminino (art. 121, § II-A) e, portanto, feminicídio, não
se confunde com a violência ocorrida dentro da unidade doméstica ou
no âmbito familiar ou mesmo em uma relação íntima de afeto. Ou seja,
pode-se ter uma violência ocorrida no âmbito doméstico que envolva,
inclusive, uma relação familiar (violência do marido contra a mulher
dentro do lar do casal, por exemplo), mas que não configure uma
violência doméstica e familiar por razões da condição de sexo feminino
(Ex. marido que mata a mulher por questões vinculadas à dependência
de drogas). O componente necessário para que se possa falar de
feminicídio, portanto, como antes já se ressaltou, é a existência de uma
violência baseada no gênero (Ex.: marido que mata a mulher pelo fato
de ela pedir a separação). (BIANCHINI, 2015, p. 3)

Tipologia:

O feminicídio ocorrer de diversas maneiras, sendo necessário apresentar


sua tipologia. Nesses termos descrevem Borges e Gebrim (2015):

Feminicídio íntimo, que é aquele em que a vítima tinha ou havia tido


uma relação de casal com o homicida, não se limitando às relações
com vínculo matrimonial, mas estendendo-se aos conviventes, noivos,
namorados e parceiros, além daqueles praticados por um membro da
família, como o pai, padrasto, irmão ou primo. (BORGES; GEBRIM,
2015)

Já no feminicídio não íntimo, o agressor não possuí nenhum tipo de


relacionamento íntimo, familiar ou de convivência com a vítima. A vítima tem é
uma relação de confiança ou amizade.
22
Os autores Borges e Gebrim (2015) se posicionam acerca do feminicídio
não íntimo:

[...] feminicídio não íntimo, aquele em que a vítima não tinha qualquer
relação de casal ou familiar com o homicida. Incluem-se nessa
categoria a morte provocada por clientes – em se tratando de
trabalhadoras sexuais –, por amigos, vizinhos ou desconhecidos,
assim como a morte ocorrida no contexto do tráfico de pessoas,
sempre tendo o motivo sexual como fundamental para sua qualificação
como feminicídio. (BORGES; GEBRIM, 2015)

Cunha (2015) afirma que o autor do crime de feminicídio pode ser


qualquer pessoa, não importando se o autor é homem ou mulher.

A incidência da qualificadora reclama situação de violação praticada


contra a mulher, em contexto caracterizado por relação de poder e
submissão pratica por homem ou mulher sobre mulher em situação de
vulnerabilidade. (CUNHA, 2015, p. 01)

Aspectos jurídicos:

A Lei nº 13.104/2015 desde sua promulgação, tem despertado discussões


acerca de sua eficácia, abrangência, necessidade, natureza jurídica,
constitucionalidade, assim como possíveis equívocos legislativos.
Ao contrário, os doutrinadores Aline Bianchini e Luiz Flávio Gomes (2015),
entendem que a qualificadora do feminicídio não é de natureza objetiva, e
subjetiva:

A qualificadora do feminicídio é nitidamente subjetiva. Sabe-se que é


possível coexistência das circunstâncias privilegiadoras (§ 1º do art.
121), todas de natureza subjetiva, com qualificadoras de natureza
objetiva (§ 2º, III e IV). Quando se reconhece (no júri) o privilégio
(violenta emoção, por exemplo), crime, fica afastada,
automaticamente, a tese do feminicídio (posição de Rogério Sanches,
que compartilhamos). É impossível pensar num feminicídio, que é algo
abominável, reprovável, repugnante à dignidade da mulher, que tenha
sido praticado por motivo de relevante valor moral ou social ou logo
após injusta provocação da vítima. Uma mulher usa minissaia. Por
esse motivo fático o seu marido ou namorado lhe mata. E mata por
uma motivação aberrante de achar que a mulher é de sua posse, que
a mulher é objeto, que a mulher não pode contrariar as vontades do
homem. Nessa motivação há uma ofensa à condição de sexo feminino.
23
O sujeito mata em razão da condição do sexo feminino. Em razão
disso, ou seja, por causa disso. Seria uma qualificadora objetiva se
dissesse respeito ao modo ou meio de execução do crime. A violência
de gênero não é uma forma de execução do crime, sim, sua razão, seu
motivo. Por isso que é subjetiva (BIACHINI; GOMES, 2014)

Eduardo Luiz Santos Cabette (2015) também entende que a qualificadora


do feminicídio é subjetiva:

Perceba-se que a qualificadora do feminicídio não é objetiva como


pode parecer em uma análise perfunctória. Não basta que a vítima seja
mulher (fato objetivo), mas a isso deve aliar-se o dolo específico de que
a morte tenha por motivação a violência de gênero, o menosprezo ou
a discriminação à condição de mulher. Dessa forma, a qualificadora em
estudo é de natureza subjetiva e, portanto, incompatível com o
homicídio privilegiado (art. 121, § 1º, do CP), que prevê diminuição de
pena, todas elas de natureza também subjetiva. Ou seja, na figura do
feminicídio não é possível o reconhecimento do chamado “homicídio
privilegiado-qualificado”, mas tão somente do homicídio qualificado
(CABETE, 2015, p. 33)

Fernando Capez (2018), entende que a qualificadora do feminicídio é de


natureza subjetiva. Neste sentido dispõe:

Importante destacar que a qualificadora do feminicídio é de natureza


subjetiva, ou seja, está relacionada com a esfera interna do agente
(“razões de condição de sexo feminino”). Não pode ser considerada
como objetiva, pois não tem relação com o modo ou meio de execução
da morte da vítima. (CAPEZ, 2018, p. 129)

Já para Luciano Anderson de Souza e Paula Pécora de Barros (2016), a


natureza da qualificadora é mista, carregando traços objetivos e subjetivos,
respectivamente nos incisos I e II:

Isso porque se considera violência doméstica e familiar de acordo com


o conceito extraído da Lei Maria da Penha, em seu art. 5º.2 Em vista
disso, a qualificadora pode ser considerada de natureza objetiva,
constituindo “quadro fático-objetivo não atrelado, aprioristicamente,
aos motivos determinantes da execução do ilícito”. Seguindo tal
interpretação, no entanto, considera-se possível que a qualificadora
24
seja aplicada em casos em que não houver propriamente
discriminação por condição de ser mulher, demonstrando possível
equívoco de tal dado objetivo estar inserido em disposição que trata de
circunstâncias de natureza subjetiva, ou seja, pela motivação do crime
em razão da condição de sexo feminino. A norma presente no inciso II,
por outro lado, dependerá de interpretação do aplicador, que deverá
definir a extensão da expressão menosprezo ou discriminação à
condição de mulher. Esse inciso abarca cenário maior do que violência
doméstica ou familiar, e será aplicado em qualquer situação de fato
que não ocorra no âmbito doméstico, familiar ou de relação íntima entre
o agente e a vítima, devendo necessariamente nesse inciso haver
menosprezo ou discriminação contra a mulher. (SOUZA; BARROS,
2016)

Antônio Miguel José Feu Rosa (1995), define motivo torpe:

Aquele que se contrapõe ostensivamente às mínimas regras éticas e


morais da sociedade, que afronte os bons costumes, que imprime ao
crime, além do aspecto reprovável normal, o caráter de baixeza e
indignidade. (ROSA, 1995, p.74)

Rogério Greco (2015) leciona sobre motivo fútil ou torpe:

Motivo fútil é aquele motivo insignificante, gritantemente


desproporcional. Torpe é o motivo abjeto, vil que nos causa
repugnância, pois atenta contra os mais basilares princípios éticos e
morais. Exemplo do primeiro caso seria o caso do agente agredir o
garçom que, equivocadamente, debitara-lhe uma cerveja a mais em
sua conta; já com relação ao segundo, temos as hipóteses citadas por
25 Mirabete daquele que espanca uma meretriz que não quer ser
explorada ou a testemunha que prestou depoimento contra os
interesses do agente (GRECO,2015, p.647)

Ao prever a qualificadora do feminicídio na lei 13.104/15 não houve nada


de novo, o que mudou foi o nome da conduta. Antes do advento da referida Lei,
o homicídio de uma mulher por razões de gênero, era qualificado como homicídio
torpe ou fútil.
Neste mesmo sentido Daniel Wollz Marques e Isaac Sabbá Guimarães
(2015):

O feminicídio enquadra-se perfeitamente no conceito de Direito Penal


Simbólico, uma vez que se trata de criminalização de uma conduta
originada sem um estudo Político-Criminal, justificada apenas em
dados estatísticos de violência contra a mulher, visando, de maneira
clara, instituir tranquilidade na população e transparecer que o
legislador está cumprindo com seu dever. Há, outrossim, a ausência
de observação do princípio da legalidade, pois a lei trouxe um conceito
25
aberto, dando margem a uma vasta interpretação sobre o que seria
“menosprezo e discriminação à condição de mulher”, bem como uma
criminalização desnecessária, pois o agente matar uma mulher pelo
simples fato de ter menosprezo e/ou discriminação pela condição do
gênero dela, subsume-se ao inciso I,do § 2º do art. 121 (homicídio
qualificado por motivo torpe). (MARQUES; GUIMARÃES, 2015)

Luís Flávio Gomes e Aline Biachini (2015), sustentam que o feminicídio já


era qualificadora classificada como crime hediondo, devido ao motivo torpe ou
fútil:

A rigor, o feminicídio já poderia (e, em alguns casos, já era) classificado


como crime hediondo (homicídio por motivo torpe, fútil etc.). Afinal, não
há como negar torpeza na ação de matar uma mulher por
discriminação de gênero (matar uma mulher porque usa minissaia ou
porque não limpou corretamente a casa ou porque deixou queimar o
feijão ou porque quer se separar ou porque depois de separada
encontrou outro namorado etc. (BIACHINI; GOMES, 2015, p.15)

Considera-se que antes mesmo da criação da Lei 13.104/2015, o


homicídio contra a mulher por razões de gênero, já era qualificado pelo motivo
torpe ou fútil, sendo que a criação da referida lei, ocorreu sem um estudo político-
criminal, se baseando apenas em dados estáticos.

6 CRIMES PREVISTOS NA LEI DE ENTORPECENTES

A Lei nº 11.343/06, no dia 23 de agosto de 2006 revogou expressamente


duas leis anteriores que existiam em relação a tóxicos, a Lei nº 6.368/76 e a Lei
nº 10.409/02, e a nova lei é um mecanismo para inibir o tráfico de drogas.
Temos a diferenciação do traficante e usuário de drogas no art. 28, §2º da
referida lei (lei 11.343/06):

§ 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o


juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao
local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias
sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do
agente. (BRASIL, 2006)

26
A Organização Mundial da Saúde deixa claro que as drogas podem
modificar praticamente todas as funções do organismo do indivíduo quando
introduzida, estas substâncias causar modificações no comportamento e
consciência das pessoas.

Rosa Del Olmo afirma que:

A droga possui uma face oculta que a transforma em mito. Afirma a


autora que a grande divulgação de informações distorcidas levaram a
uma confusão entre conceitos morais, dados falsos e sensacionalistas,
o que contribui para que o conceito de droga se associasse a ideia de
desconhecido, proibido, temido e responsável por todos os males que
afligem a sociedade contemporânea. (OLMO, 1990. p. 22)

O crime previsto na Lei de tóxicos estabelece norma penal em branco,


que se refere aos crimes que necessitam de um complemento para sua definição
legal. O complemento da Lei de Drogas é feito pela Portaria Ministerial nº 344/98
da Secretaria da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, e é nesta portaria
que consta a lista das substâncias que complementam os crimes de tóxicos.
A Portaria nº 344/98, mesmo sendo ultrapassado, é periodicamente
atualizada por Resoluções da Diretoria Colegiada da ANVISA. Em virtude das
inovações de entorpecentes sintéticos, se não fossem essas Resoluções da
Diretoria Colegiada atualizando tal Portaria, com certeza teríamos a ineficácia na
lei de tóxicos por não acompanhar a fabricação, e tão pouco a fabricação e
elaboração desses entorpecentes. E essa nova Lei de Drogas faz uso do termo
“drogas” para designar substâncias entorpecentes, ou para determinar
dependência física ou psíquica.
O crime comum é classificado por tipos e conteúdo variado, pode ser de
perigo abstrato, comissivo e doloso. O indivíduo que tem a droga em depósito,
que transporta ou guarda, ou traz consigo, resulta em delito permanente. Já a
conduta de cultivar a droga, está tipificada no inciso II, do parágrafo 1º,
resultando de delito habitual.
A Lei de Drogas abrange aspectos para prevenção e repressão do uso
ilícito de entorpecentes e do tráfico, buscando medidas para combater o uso
indevido, o que fica claro no art. 1º da Lei nº 11.343/06, diz:
27
Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido,
atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao
tráfico ilícito de drogas e define crimes.
Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as
substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim
especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas
periodicamente pelo Poder Executivo da União. (BRASIL, 2006)

E com a nova Lei é possível concentrar um conjunto de órgãos que


cuidam da repressão e prevenção ao uso indevido e tráfico ilícito de
entorpecentes, no órgão de Sistema Nacional de Políticas Públicas Sobre
Drogas (SISNAD).

Em seu artigo 4º, tem como princípios:

Art. 4º São princípios do Sisnad:


I – o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana,
especialmente quanto à sua autonomia e à sua liberdade; II – o
respeito à diversidade e às especificidades populacionais existentes;
III – a promoção dos valores éticos, culturais e cidadania do povo
brasileiro, reconhecendo-os como fatores de proteção para o uso
indevido de drogas e outros comportamentos correlacionados; IV – a
promoção de consensos nacionais, de ampla participação social, para
o estabelecimento dos fundamentos e estratégias do SISNAD; V – a
promoção da responsabilidade compartilhada entre Estado e
Sociedade, reconhecendo a importância da participação social nas
atividades do Sisnad; VI – o reconhecimento da intersetorialidade dos
fatores correlacionados com o uso indevido de drogas, com a sua
produção não autorizada e o seu tráfico ilícito; VII – a integração das
estratégias nacionais e internacionais de prevenção do uso indevido,
atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de
repressão à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito; VIII –
a articulação com os órgãos do Ministério Público e dos Poderes
Legislativo e judiciário visando à cooperação mútua nas atividades do
SISNAD; IX - a adoção de abordagem multidisciplinar que reconheça
a interdependência e a natureza complementar das atividades de
prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e
dependentes de 18 drogas, repressão à sua produção não autorizada
e do tráfico ilícito de drogas. X – a observância do equilíbrio entre as
atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social
de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção
não autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando a garantir a estabilidade
e o bem-estar social; XI – a observância às orientações e normas
emanadas do Conselho Nacional Antidrogas – CONAD. (BRASIL,
2006)

28
O SISNAD tem como objetivo a inclusão social, em seu art. 5º da
supracitada lei está estabelecido seus objetivos:

Art. 5º O SISNAD tem os seguintes objetivos: I - contribuir para a


inclusão social do cidadão, visando a torná-lo menos vulnerável a
assumir comportamentos de risco para o uso indevido de drogas, seu
tráfico ilícito e outros comportamentos correlacionados; II - promover a
construção e a socialização do conhecimento sobre drogas no país; III
- promover a integração entre as políticas de prevenção do uso
indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de
drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao tráfico ilícito
e as políticas públicas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da
União, Distrito Federal, Estados e Municípios; IV - assegurar as
condições para a coordenação, a integração e a articulação das
atividades de que trata o art. 3º desta Lei. (BRASIL, 2006)

Os princípios e objetivos do SISNAD é a busca pela colaboração entre os


poderes públicos, os mecanismos de combate, de prevenção ao tráfico de
drogas, e o fim do seu uso indevido. Como podemos ver no art. 7º da lei de
Tóxicos:

Art. 7º A organização do Sisnad assegura a orientação central e a


execução descentralizada das atividades realizadas em seu âmbito,
nas esferas federal, distrital, estadual e municipal e se constitui matéria
definida no regulamento desta Lei. (BRASIL, 2006)
Art. 7º-A. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) (BRASIL, 06)

Já o art.3º dispõe o seguinte sobre o SISNAD:

Art. 3º O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar, organizar e


coordenar as atividades relacionadas com:
I - a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de
usuários e dependentes de drogas;
II - a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de
drogas.

§ 1º Entende-se por Sisnad o conjunto ordenado de princípios, regras,


critérios e recursos materiais e humanos que envolvem as políticas,
planos, programas, ações e projetos sobre drogas, incluindo-se nele,
por adesão, os Sistemas de Políticas Públicas sobre Drogas dos
Estados, Distrito Federal e Municípios. (Incluído pela Lei nº 13.840, de
2019)
29
§ 2º O Sisnad atuará em articulação com o Sistema Único de Saúde -
SUS, e com o Sistema Único de Assistência Social - SUAS. (Incluído
pela Lei nº 13.840, de 2019). (BRASIL, 2006)

É notório a precariedade de locais especializados combater e tratar esses


indivíduos (usuários de drogas). Encontra-se nesse sentido diversos recursos ao
judiciário, cuja solicitação é de internação compulsória, e várias delas é pela falta
de lugares especializados para tratamento de dependentes de drogas.
Portanto, a legislação aceita a criação de Organizações para combater o
tráfico e o uso de drogas. No Brasil temos projetos, várias as ONGS. E grande
parte desses projetos e ações de combate do uso e tráfico de drogas, são
oferecidas por instituições que não tem vínculo direto com o poder público, e a
maioria solicita o consentimento do paciente para iniciar o tratamento dele e
também o apoio à família na recuperação.

Dependência da Droga:

Na doutrina existe uma diferenciação em relação a dependência física e


psicológica, lembrando que a dependência é uma situação de habitualidade, de
costume, de habitualidade em relação a determinada droga, e essa dependência
pode ser:

I. Física – é um quadro de caráter psicológico e de caráter físico em


relação a abstinência da droga, que provoca uma síndrome chamada de
síndrome de abstinência, e a falta do entorpecente pode levar o indivíduo a óbito
(morte).

II. Psíquica – o indivíduo se acostuma com a droga e a falta dela pode


causar um mal-estar, causando dores de cabeça, um vazio ou sentimento de
ausência, não havendo necessariamente risco de óbito (morte).

30
Crimes previstos na Lei de Drogas:

Crime apenado apenas com medidas educativas, sem pena privativa ou


restritiva, mais tal conduta não deixou de ser crime.

Vejamos o art. 28º da Lei 11.343/06:

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou


trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às
seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;


II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso
educativo.

§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo


pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de
pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar
dependência física ou psíquica.

§ 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o


juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao
local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias
sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do
agente.

§ 3º As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão


aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.

§ 4º Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do


caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez)
meses.

§ 5º A prestação de serviços à comunidade será cumprida em


programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais,
hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins
lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do
consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas.

§ 6º Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se


refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse
o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:
I - admoestação verbal;
II - multa.

§ 7º O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do


infrator, gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente
ambulatorial, para tratamento especializado. (BRASIL, 2006)

31
6.1 Infrações penais de menor potencial ofensivo prevista na Nova Lei
de Drogas

O art. 33º determina que:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar,


adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar,
trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou
fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à


venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou
guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou
produto químico destinado à preparação de drogas;
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam
em matéria-prima para a preparação de drogas;
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade,
posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem
dele se
utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de
drogas.
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto
químico destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em
desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial
disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de
conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: (Vide


ADI nº 4.274)
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300
(trezentos) dias-multa.

§ 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa


de seu relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700
(setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das
penas previstas no art. 28.

§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas


poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão
em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de
bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem
integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012)
(BRASIL, 2006)

32
Já o art. 38 da Lei cuida do único crime culposo previsto na Lei de Drogas,
que consiste em:

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas


necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de
50 (cinquenta) a 200 (duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal
da categoria profissional a que pertença o agente. (BRASIL, 2006)

Prescrever, trata-se de crime próprio, ou seja, só poderá ser praticado por


médico ou dentista, por serem pessoas habilitadas para receitar. E o verbo
ministrar, a lei não diferencia quem pode praticar o crime, que deixa claro que
não demanda nenhuma qualificação especifica, sendo crime comum e possível
de ser praticado por qualquer indivíduo.

6.2 Crimes apenados de detenção

Criar uma ideia que não exista, significa induzir o indivíduo, ou seja, a
pessoa não estava pensando em consumir drogas e alguém fez nascer a ideia
de usar e a partir daí ela passa a consumir drogas, está explícito no art. Art. 33,
§ 2º, já mencionado. Lembrando que a pena de detenção é de 1 a 3 anos e multa
de 100 a 300 dias multa.
À vista disso, o crime é consumado com a mera conduta de induzir,
instigar ou auxiliar, sem a necessidade de consumir a droga.
No art. 39º da Lei de drogas, é uma rara hipótese que há três modalidades
de pena previstas no direito penal:

Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas,


expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão
do veículo, cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la,
pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e
pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa.
Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas
cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e
de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo
referido no caput deste artigo for de transporte coletivo de passageiros.
(BRASIL, 06)
33
Esse crime se caracteriza quando um indivíduo conduz um meio de
transporte de navegação nas águas ou navegação aérea após o uso de drogas.

6.3 Crimes apenados com reclusão

Em relação aos crimes graves da lei de tóxicos, a lei determina que a


droga apreendida será destruída imediatamente, e essa destruição só é
permitida mediante autorização judicial efetivada por autoridade policial.
Tais crimes considerados graves, têm a expressa previsão da proibição
de alguns, assim como mostra no artigo 44:

Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta
Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e
liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas
de direitos.
Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á
o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena,
vedada sua concessão ao reincidente específico. (BRASIL, 2006)

O crime plurissubjetivo exige a presença de duas ou mais pessoas com


a finalidade de praticar crimes dos artigos 33, 33, § 1º e 34 da Lei de Drogas,
é um uni subsistente, e por isso não admite tentativa, por que ao se
associarem o crime já está caracterizado.
Caso alguém praticar crime de tráfico ou o crime de petrechos para o
tráfico, irá responder por concurso material de crime, assim, terá o crime do
artigo 35:

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar,


reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33,
caput e § 1º, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700
(setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre
quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36
desta Lei. (BRASIL, 2006)

Vale destacar a inexistência de quadrilha para o tráfico, como mencionado


acima, se duas ou mais pessoas se associarem para traficar, incorrerão no

34
art.35, porém o STF em seu entendimento relacionado a este crime, deve valer
a pena prevista na Lei dos Crimes Hediondos, sendo assim, se uma quadrilha é
formada voltada para a prática de crimes hediondos ou assemelhados (que exige
4 ou mais pessoas) possuirá a pena de 3 a 6 anos, porque em tese, se 4 pessoas
reunidas podem oferecer perigo e essas 4 pessoas para praticarem latrocínio,
estupros, dentre outros crimes hediondos, terá a pena de 3 a 6 anos por questão
de equidade (lógica) quando dois ou mais indivíduos associam-se para traficar,
tal conduta teria lesividade menor do que aquela com 4 (ou mais pessoas),
assim, a pena de 3 a 6 anos e não a de 3 a 10 anos e multa.
O art.36º da Lei nº. 11.343/06 se refere à Financiar ou custear a prática
de qualquer dos crimes previstos nos art. 33, § 1º, e 34 desta Lei, deixando claro
que aquela pessoa que sustenta (financeiramente) o tráfico ilícito de
entorpecentes, ou seja, os crimes previstos no artigo 33, caput e § 1 e no artigo
34, esse custeio agora é apenado com reclusão de 8 a 20 anos e multa de.1500
a 4.000 dias multas.
Se o crime de tráfico é assemelhado ao hediondo, esse crime também
deverá ser, sendo que no caso do custeio, os indivíduos realizam o
financiamento e o tráfico. Sendo assim, haverá a absorção do financiamento, ou
custeio, em relação ao crime de tráfico, e ocorrerá essa consunção, o que se
assemelha ao crime hediondo. E esse custeio deve ser praticado de forma
habitual e não ocasional, ou caso contrário teremos a causa de aumento e pena
prevista no art. 40º, VII, da Lei nº 11.343/06, que dispõe “as penas previstas nos
arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: VII- o
agente financiar ou custear a prática do crime. ” (BRASIL, 2006)
O indivíduo (colaborador ou informante) que ajuda o grupo, a organização
ou associação especializada para o tráfico, a pena será de 2 a 6 anos e
pagamento de 300 a 700 dias-multa. A colaboração é apenas a título de
informante, não se enquadra ao indivíduo que colabora entregando a droga ao
traficante ou buscando a droga para o traficante, pois neste caso o indivíduo
responderá por tráfico ilícito de entorpecentes.

35
Assim dispõe o art. 37º da lei de Tóxicos:

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou


associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos
arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300
(trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa. (BRASIL, 2006)

6.4 Causas de aumento da pena

No art. 40º da Lei 11.343/06 existe a delimitação na Lei da incidência


dessas causas de aumento de pena, incidindo apenas dos artigos 33 a 37 da Lei
11.343/06, que dispõe:

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas
de um sexto a dois terços, se:
I - A natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido
e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do
delito;

II - O agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no


desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou
vigilância;

III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de


estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de
entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou
beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se
realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços
de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de
unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;

IV - O crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego


de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou
coletiva;

V - Caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes


e o Distrito Federal;

VI - Sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a


quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade
de entendimento e determinação;

VII - o agente financiar ou custear a prática do crime. (BRASIL, 2006)

36
6.5 Inimputabilidade e Semi imputabilidade

A Lei de Tóxicos, trata desses institutos nos artigos 45, 46 e 47, em que
diz que o sistema biopsicológico ainda é usado, e esse sistema é mantido e
utilizado para definição do inimputável, o que muda é a base biológica para
caracterizar inimputabilidade e semi imputabilidade:

Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou


sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era,
ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração
penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força


pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo,
as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz,
na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico
adequado.

Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se,
por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente
não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento.

Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base em avaliação que


ateste a necessidade de encaminhamento do agente para tratamento,
realizada por profissional de saúde com competência específica na
forma da lei, determinará que a tal se proceda, observado o disposto
no art. 26 desta Lei. (BRASIL, 2019)

Sendo assim, em decorrência de uma das razões anteriores citadas, a lei


diz, que, se o Juiz constatar que o indivíduo é inimputável, deverá ser absolvido,
entretanto, no art. 45º, parágrafo único, a lei determina que o inimputável
decorrente de droga não será submetido à medida de segurança, mais sim, a
tratamento médico.
E em relação ao semi imputável, caso no momento da ação ou omissão
o indivíduo tiver parcial capacidade de autodeterminar-se o caráter ilícito do fato,
a pena deverá ser reduzida e diminuída de 1 a 2/3.

37
6.6 Delação premiada

A lei de drogas permite o direito premial, em que prevê a colaboração do


indivíduo com as autoridades públicas, e, em contrapartida esse indivíduo
recebe um prêmio legal, como fica claro pelo art. 41º da lei 11.343/06:

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a


investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais
co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do
produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um
terço a dois terços. (BRASIL, 2006)

Sendo que, a análise de quanto se diminui, será feita através da maior ou


menor na eficácia da colaboração do agente.

7 ESTATUTO DO DESARMAMENTO

O Estatuto do Desarmamento entrou em vigor dia 23 de dezembro de


2003 e é uma política de controle de armas, com o objetivo de diminuir a
circulação de armas, estabelecendo penas rigorosas para os crimes de porte
ilegal e o contrabando.
Em edição ao extra do Diário Oficial da União (DOU) o Governo Federal
dispões de um pacote de alterações dos referidos Decretos, nº 9.845, 9.846,
9.847 e 10.030, de 2019 e que normalizam a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro
de 2003, conhecida como Estatuto do Desarmamento.
Observando a necessidade da Lei nº 10.826, de 2003, os decretos
sugerem uma série de medidas com a finalidade de desburocratizar
procedimentos, aumentando assim, a clareza das normas que regem a posse e
porte de armas de fogo e a atividade dos colecionadores, atiradores e caçadores
(CACs), para reduzir a discricionariedade de autoridades públicas na concessão
de posse e porte de armas, estendendo as garantias de contraditório e ampla

38
defesa dos administrados, e adequando o número de armas, recargas e
munições.
As alterações também visam a concretizar o direito que as pessoas
autorizadas pela lei têm à aquisição e ao porte de armas de fogo, e atividade de
colecionar nos limites permitidos pela lei.
Esses Decretos flexibilizam o uso e compra de armas de fogo em nosso
país, são atos do Presidente da República que devem regulamentar leis e por isso não
passam pela aprovação do Congresso.
O que muda com os novos decretos:

- No limite de armas houve o aumento de 4 (quatro) para 6 (seis) no número de


armas de fogo para o cidadão comum, que preencha devidamente todos os
requisitos do Certificado de Registro de Arma de Fogo. No caso dos agentes
penitenciários, os membros do Ministério Público e policiais, o limite subiu para 8 (oito).

- Nas mudanças do porte de armas, o Governo agora passa aceitar expressamente o


porte simultâneo de 2 (duas) arma, que significa o poder de circulação com a arma,
sendo que antes a regra dizia que o porte deveria se valer apenas para a arma nele
especificada.

- Na aptidão psicológica para CACs (colecionadores, atiradores e caçadores), o


decreto anterior dizia que para terem armas deveriam comprovar a aptidão
psicológica através de laudo fornecido por psicólogo cadastrado na Polícia
Federal, sendo que agora, a nova regra determina que basta o laudo ser
assinado por psicólogo com registro no Conselho Regional de Psicologia.

- Munição e armas para CACs antes, caçadores, atiradores e colecionadores


conseguiam comprar por ano até mil munições, para cada arma de fogo do uso
restrito (com maior controle do Estado), e cinco mil e cinco mil munições para
cada arma de uso permitido. Com as alterações, agora, poderão comprar por
ano, insumos para recarga de até dois mil cartuchos nas armas de uso restrito,
e, para armas de uso permitido, insumos para recarga de até cinco Mil cartuchos,
e caçadores poderão extrapolar em duas vezes esse limite com a permissão do

39
comando do Exército. Agora, as CACs precisarão de autorização do Exército
para comprar armas acima do limite determinado em decreto anterior (cinco
unidades para cada modelo para os colecionadores; 15 unidades para
caçadores; e 30 para atiradores), e essas quantidades valem tanto para as
armas de uso permitido e restrito.

- Ficou determinado que não serão produtos controlados pelo comando do


Exército, itens como: miras como as holográficas, telescópicas e reflexivas,
armas de fogo obsoletas que tenha projeto anterior a 1900 e utilizem pólvora
negra, projéteis de munição para armas de porte ou portáteis, até o calibre
máximo de 12,7 mm — não vale para projéteis químicos, perfurantes, traçantes
e incendiários. E quando relacionado à produto controlado, o Exército será
responsável por autorizar, fiscalizar e regulamentar a fabricação, a
comercialização e o uso.

- Foi ampliado também a lista de categorias profissionais com o direito de adquirir


armas e munições, desde que sejam controladas pelo Exército. Foram
acrescentados os integrantes da Receita Federal, Ministério Público, Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), tribunais que formam o
Poder Judiciário e os integrantes de Receita Federal. Já estavam contemplados
também: legislativos da Câmara de do Senado, os policiais, membro do Gabinete
Institucional de Segurança da Presidência da República (GSI), e membros da
Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O novo decreto diz ainda, que os
profissionais dessas categorias, poderão adquirir por um ano insumos para
recarga de no máximo cinco mil cartuchos, como constar nos registros os
calibres da arma de fogo.

- No decreto anterior, em relação a prática de tiro desportivo por adolescente


entre 14 e 18 anos, já era permitido praticar tiro, com autorização da família tiro
nas instituições permitidas pelo comando do Exército. Agora, o adolescente,
poderá praticar o tiro com a arma emprestada de algum colega, também atirador

40
desportista, sendo que antes era permitido praticar somente com arma do clube
de tiro ou dos pais.

8 JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

8.1 Conceito

Nos Juizados Especiais Criminais (JECRIM) é um órgão da justiça que


existe no âmbito da União, dos Estados e do Distrito Federal, tendo competência
para processo e julgamento dos crimes de menor potencial ofensivo, conciliação,
mediante a oralidade e abreviação do rito pelo procedimento sumaríssimo. Os
juizados especiais sempre que possível, tentará um acordo entre as partes,
podendo haver uma indenização, mediante pagamento de determinada quantia
a ser pago pelo autor.
Os processos afetados aos Juizados Especiais devem ser orientados
pelos princípios da simplicidade, informalidade, oralidade, celeridade e economia
processual, com o propósito de promover a transação ou conciliação e dar
efetividade à rápida tramitação das causas, como forma de solução do conflito
litigioso.
A Lei nº 9.099 foi sancionada no dia 26 de setembro de 1995, em seu art.
62º dispõe que:

Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos


critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia
processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a
reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não
privativa de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.603, de 2018)
(BRASIL, 1995)

8.2 Princípios

a) Princípio da Oralidade
Este princípio deixa claro que os atos processuais do processo penal
devem ser realizados na presença dos participantes processuais, e oralmente, e

41
não impede que tais atos praticados oralmente sejam registrados ou
documentos, assim dispõe o art. 99º do CPP.
As vantagens desse princípio além da celeridade, é a descoberta da
verdade através da percepção do diálogo, da reação dos depoentes, isso ajuda
na realização da tarefa. E as desvantagens são a perenidade e a subjetividade
decorrentes da oralidade e a eventual falta de registo.
O princípio da oralidade teve relevância a partir da Lei no 9.099/95, onde
se encontram os seguintes conhecimentos: serão determinadas de forma
acessível todas as questões que possam influenciar na prossecução da
audiência (arts. 28 e 29); o pedido originário da parte poderá ser
planejado “oralmente” diante do Juizado (art. 14, § 3o); as impugnações de
declaração poderão ser orais (art. 49) e o começo da execução de sentença
poderá ser verbal (art. 52, IV); o mandato ao advogado poderá ser verbal (art.
9°, § 3°); a contestação poderá ser oral (art. 30); já no resultado das perícias de
objetos ou indivíduos por auxiliares do juízo poderá ser unificado em relatório
informal (art. 35, parágrafo único).

b) Princípio da Simplicidade

Esse princípio é para facilitar a aplicação da lei através de práticas que


não atrapalhem o trâmite do processo auxiliando para a celeridade, para a
redução de documentos reunidos bem como as novas formas, como a pena de
resolução do conflito social e a pena privativa de liberdade.
É importante mencionar que simplicidade é apenas a necessidade de
evitar algo desnecessário, podendo ser simples e relevante, como é o caso do
processo penal, que se refere a infrações penais de menor potencial ofensivo.

c) Princípio da Informalidade

Nos procedimentos realizados pelos juizados especiais desprovidos de


forma, abrange atos que possuem um certo desapego de formalidade. Nos
juizados tramitam processos de menor complexidade que é considerado

42
alternativa mais simplificada do processo comum, com intuito de oferecer uma
forma mais rápida a solução do litígio.
A informalidade não pode ser razão para nulidade dos atos, pois o objetivo
é a agilidade, uma forma de simplificação do litígio. A Lei nº 9.099/95, estabelece
sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências:

Art. 13. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem


as finalidades para as quais forem realizados, atendidos os critérios
indicados no art. 2º desta Lei.

§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido


prejuízo.

§ 2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser


solicitada por qualquer meio idôneo de comunicação.

§ 3º Apenas os atos considerados essenciais serão registrados


resumidamente, em notas manuscritas, datilografadas, taquigrafadas
ou estenotipadas. Os demais atos poderão ser gravados em fita
magnética ou equivalente, que será inutilizada após o trânsito em
julgado da decisão.

§ 4º As normas locais disporão sobre a conservação das peças do


processo e demais documentos que o instruem. (BRASIL, 1995)

De acordo com esse preceito, os atos processuais precisam ser aplicados


com o mínimo de formalidade possível. É fato que o ato se torna mais acessível,
simples e efetivo quando destituído de formas.
A informalidade não deve ser compreendida como uma justiça
de “segunda classe”, uma diminuição ou desprestígio da prestação jurisdicional,
mas como uma instrumentalidade mais eficaz na resolução dos conflitos sociais,
devendo ser considerada uma forma de prestar jurisdição caracterizando um
avanço legislativo de princípio extremadamente constitucional, que conta com o
acolhimento dos antigos anseios de todos os cidadãos mais principalmente da
população menos favorecida, representa um mecanismo eficiente na ampliação
do acesso à ordem jurídica justa.

d) Princípio da Economia Processual


Esse princípio objetiva a melhor conclusão no processo, retrocedendo na
redução das custas processuais. Também está voltado para a gratuidade
43
processual às pessoas que necessitam deste benefício para darem continuação
a algum litígio que estejam envolvidos. O princípio da economia processual tem
no processo dos Juizados Cíveis outro sentido, que se relaciona com a
gratuidade do acesso ao primeiro grau de jurisdição, em que o requisitante fica
dispensado do pagamento das despesas, e com a opção de assistência das
partes por advogado pelo barateamento de custos aos litigantes embasado na
economia de despesas, que, com a de atos e de tempo representa uma das
maiores conquistas e preocupações do Direito Processual Civil moderno.
Tal princípio desenha a modernização do direito processual civil, contando
com a rapidez dos processos nos Juizados Cíveis, onde o período processual
deve ser mais eficaz. O princípio da economia processual objetiva a aquisição
do máximo rendimento da lei com o mínimo de atos processuais. Já o princípio
da gratuidade, dispõe que, da propositura da ação até o julgamento pelo juiz
singular, em regra as partes estão isentas do pagamento de taxas, custos ou
despesas, porém, o juiz condenará o suplantado ao pagamento dos custos e
honorários advocatícios no caso de litigância de má-fé, conforme dispõe o arts.
54 e 55 da Lei 9.099/95:

Art. 54. O acesso ao Juizado Especial independerá, em primeiro grau


de jurisdição, do pagamento de custas, taxas ou despesas.
Parágrafo único. O preparo do recurso, na forma do § 1º do art. 42
desta Lei, compreenderá todas as despesas processuais, inclusive
aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdição, ressalvada a
hipótese de assistência judiciária gratuita.

Art. 55. A sentença de primeiro grau não condenará o vencido em


custas e honorários de advogado, ressalvados os casos de litigância
de má-fé. Em segundo grau, o recorrente, vencido, pagará as custas e
honorários de advogado, que serão fixados entre dez por cento e vinte
por cento do valor de condenação ou, não havendo condenação, do
valor corrigido da causa.
Parágrafo único. Na execução não serão contadas custas, salvo
quando:

I - reconhecida a litigância de má-fé;


II - improcedentes os embargos do devedor;
III - tratar-se de execução de sentença que tenha sido objeto de recurso
improvido do devedor. (BRASIL, 1995)

Nos casos de gratuidade dos benefícios judiciários, os requisitantes


precisam comprovar este ato, e nos casos de má-fé, o juiz pode imediatamente
condenar o mesmo ao pagamento pertencente ao ato.

44
e) Princípio da Celeridade Processual

A Emenda Constitucional de n. 45º, de 08, de dezembro de 2004,


inseriu ao inciso LXXVIII, no art. 5º na Constituição Federal de 1988, dispondo
que: “todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.
Sendo assim, a celeridade caracteriza um princípio que não orienta somente os
processos nos Juizados Especiais, mas todo o processo administrativo ou
judicial ao qual se obedece às partes.
Conforme o princípio da celeridade, todos possuem direito a uma tutela
judicial concreta e uma solução ágil do conflito, ou seja, o Judiciário atua
efetivamente e utiliza o direito ao caso concreto, satisfazendo as partes, sem

arruinar as suas expectativas pela passagem do tempo. Para a solidificação da

celeridade no Judiciário brasileiro, foi necessário o desenvolvimento de normas


e princípios processuais, principalmente nos Juizados Especiais Cíveis.

8.3 Competência

Verifica-se que com a adoção dos procedimentos processuais


desencadeados pela Lei9.099/95, abriu-se uma fenda no rígido sistema
processual-penal, sobrepondo-se, assim, a aplicação do princípio da
obrigatoriedade da ação penal, atenuando-o através da adesão do princípio da
discricionariedade regrada, em que o Ministério Público, titular da ação penal,
tornará, cumpridos os requisitos legais, dispor da ação penal.
Apesar da implantação das novas técnicas processuais, é importante
explicar que o tradicional processo penal não foi extinto de nosso sistema
jurídico. O que aconteceu foi que este passou a ser usado tão somente aos
crimes de média e alta potencialidade lesiva, autorizando assim, que os métodos
empregados pela nova lei abreviassem o longo caminho antes percorrido.
Havendo ligação entre crime cuja competência seja do juízo penal comum ou do

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tribunal do júri e crime de menor potencial ofensivo, será este, último competente
para julgamento e processamento de ambas as infrações.
Entretanto, não haverá impedimento do oferecimento pelo Órgão
Ministerial, das propostas despenalizadas no que diz respeito às infrações
penais de pequeno potencial ofensivo.
Em relação a competência designada aos Juizados Especiais Criminais,
dispõe o art. 60 da Lei nº 9.099/95 da seguinte maneira:

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou


togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e
a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo,
respeitadas as regras de conexão e continência. (Redação dada pela
Lei nº 11.313, de 2006)

Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou


o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e
continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da
composição dos danos civis. (Incluído pela Lei nº 11.313, de 2006)
(BRASIL, 1995)

8.4 Medidas Despenalizadoras

A Lei 9.099/95 trouxe ao ordenamento jurídico, uma série de medidas


despenalizadoras que impede que suspenda o prosseguimento da ação penal
ou a deflagração criminal. O Estado criou medidas legais que visam evitar o
cumprimento da pena privativa de liberdade, daí a designação de Medidas
despenalizadoras, são elas: renúncia da representação na ação penal pública
condicionada, composição civil dos danos: gera renuncia ao direito de queixa na
ação penal privada ou com a consequente extinção da punibilidade, e transação
penal que autoriza o cumprimento imediato de uma pena de multa ou restritiva
de direito, e por outro lado evita a instauração do processo, conforme dispõe os
artigos 75 e 76 da Lei 9.099/95:

Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada
imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de
representação verbal, que será reduzida a termo.

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Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência
preliminar não implica decadência do direito, que poderá ser exercido
no prazo previsto em lei.

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal


pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério
Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de
direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz


poderá reduzi-la até a metade.

§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena


privativa de liberdade, por sentença definitiva;
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos,
pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade
do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e
suficiente a adoção da medida.

§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será


submetida à apreciação do Juiz.

§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da


infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não
importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir
novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.

§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação


referida no art. 82 desta Lei.

§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não


constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins
previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos
interessados propor ação cabível no juízo cível. (BRASIL, 1995)

8.5 Representação criminal nos crimes de lesões corporais leves e


lesões culposas

A Representação Criminal forma-se numa condição objetiva de


possibilidade sem que a vítima ofereça a denúncia o delegado, e o promotor,

não poderá dar continuidade, exceto, se a vítima interpor representação criminal

nos crimes de lesão corporal culposa e de lesão corporal leve, dentro de um


prazo de 6 (seis) meses, a contar do momento que tomar conhecimento do
indivíduo que é o autor do crime.

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Se no período desses 6 (seis) meses, a vítima não ofertar representação
a contar da ciência do autor dos fatos, entrará em decadência, levando à
extinção da punibilidade e não haverá mais nada a se fazer para responsabilizar
o infrator, conforme artigo 69, parágrafo único da referida Lei:

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência


lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao
Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as
requisições dos exames periciais necessários.

Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for


imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de
ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá
fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como
medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de
convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de
13.5.2002) (BRASIL, 1995)

8.6 Impeditivos processuais

O impeditivo ocorre quando o autor tenha participado da audiência


preliminar e aceitado a transação penal, caso haja ausência dos requisitos que
impedem a transação penal, ou, pela ausência, e o autor não tenha aceito a
transação, assim o Ministério Público oferecerá de imediato, denuncia oral,
exceto, se houver necessidades de novas diligencias, conforme artigo 77,
parágrafo 3º da Lei 9.099/95:

Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver


aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não
ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério
Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver
necessidade de diligências imprescindíveis.

3º na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa


oral, cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e as circunstâncias
do caso determinam a adoção das providências previstas no parágrafo
único do art. 66 desta Lei. (BRASIL, 1995)

O autor da infração, já sairá ciente da data da nova audiência de


julgamento e a audiência de instrução, sairão igualmente cientes o advogado, o
Ministério Público, e o ofendido. Vale lembrar que no Juizado Especial Criminal
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não são realizadas citações por editais, se o acusado não for encontrado para
ser citado, o Juiz encaminhara as peças ao Juizado Comum, podendo a citação
ser realizado por edital.

8.7 Execução

A sentença transitada em julgado que tem aplicado pena de multa, o réu


terá 10 (dez) dias de prazo, para efetuar o pagamento na própria secretária do
Juizado.

O que dispõe o art. 50º do Código Penal:

Art. 50 - A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de


transitada em julgado a sentença. A requerimento do condenado e
conforme as circunstâncias, o juiz pode permitir que o pagamento se
realize em parcelas mensais. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

§ 1º - A cobrança da multa pode efetuar-se mediante desconto no


vencimento ou salário do condenado quando: (Incluído pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)

a) aplicada isoladamente; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)


b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos; (Incluído
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
c) concedida a suspensão condicional da pena. (Incluído pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - O desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao


sustento do condenado e de sua família. (Incluído pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984) Conversão da Multa e revogação (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984) (BRASIL, 1940)

8.8 Recursos

Temos vários recursos possíveis no âmbito dos Juizados Especiais


Federais. Vamos destacar alguns:

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Recurso de Medida Cautelar:

Em tese, as decisões interlocutórias em sede de Juizados Especiais


Federais, são decisões irrecorríveis, conforme o art. 5º da Lei 10.259/2001. Não
obstante, conjugando-se os arts. 4º e 5º, há de se verificar a possibilidade de
recorrer de decisões que versem sobre medida cautelar que engloba decisões
sobre qualquer tipo de tutela de urgência.

Embargos de declaração:

São uma espécie de recursos, já conhecida desde o Código de Processo


Civil, que também se incorporou ao microssistema dos Juizados Federais.
Sendo a funcionalidade a mesma da que é prevista no diploma legal geral.
O prazo para interposição, é o mesmo previsto no CPC (5 dias úteis), do mesmo
jeito para resposta, que acarretará a suspensão do prazo, para interposição de
outros recursos quando interposto contra sentença, e quando interposto contra
acórdão o caso será de interrupção do prazo.

Recurso inominado:

O recurso inominado, é cabível de sentenças proferidas nos Juizados que


extinguem o feito com ou sem resolução do mérito (art. 5º, Lei 10.259/2001), se
interposto no prazo de 10 (dez) dias.
Deve haver um preparo em até 48h, após a interposição, sob pena de
pagamento a 1% do valor da causa e sob pena de deserção (salvo quando se
tratar de beneficiário da AJG). Em geral, o recurso é recebido apenas em seu
efeito devolutivo, conseguindo ser concedido efeito suspensivo, quando for para
evitar dano irreparável à parte (art. 43, Lei 9.099/95). Não havendo previsão de
reexame necessário (art. 13, Lei 10.259/2001), e muito menos, a possibilidade
de interposição de recurso adesivo.

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Recurso extraordinário:

A previsão para esse recurso está estabelecido no artigo 102,


inciso III da Constituição Federal de 1988. O referido artigo dispõe que caberá
recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal, quando for a única ou última
instância, e a decisão recorrida contrariar dispositivo da Constituição, ou se for
declarada inconstitucionalidade de lei federal ou tratado.
O prazo para interposição será de 15 (quinze) dias úteis, do mesmo modo
para resposta, e deverá conter preparo, bem como porte de retorno e de remessa
(salvo em caso de beneficiário da Gratuidade da Justiça).

Mandado de segurança:

Não se enquadra como recurso em sentido estrito, o mandado de


segurança pode ser empregado em alguns casos específicos, dentro dos JEFs.
A competência é da turma recursal, processar e julgar o mandado de segurança,
contra ato de juizado especial, encontra-se na súmula nº 376, do STJ.
Nesse sentido, vale relembrar, que basicamente esse instrumento serve
para proteger direito líquido e certo, e não é amparado por habeas corpus ou
habeas data (sempre que ilegalmente ou com abuso de poder qualquer pessoa
jurídica ou física sofrer violação).

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controvertidas da Lei 13.104/2015". Revista Síntese Direito Penal e
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