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3.3.

Mecanismos de desestabilização de
emulsões1,2

• Os mecanismos de desestabilização de
emulsões são aqueles que dizem a respeito à
quebra da emulsão. Eles são classificados de
acordo com seu acontecimento cronológico e
consistem na:
✓ floculação;
✓ coalescência, e
✓ sedimentação.

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3.3.1. Floculação
• A floculação é a aglomeração das gotas em agregados
quando a emulsão é posta em repouso.
• É um processo reversível, mas é importante para a
desestabilização das emulsões, pois permite que as
gotas aproximem-se, predispondo-as à coalescência,
conforme a Figura 26.

Figura 26: Floculação das gotas de água


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3.3.2. Coalescência

• Nesta etapa ocorre efetivamente a ruptura do filme


interfacial e a fusão das gotas em outra de maior
tamanho e peso, conforme a Figura 27.
• A etapa da coalescência é a mais crítica para o
processo de separação de fases, pois requer que
os mecanismos de estabilização da emulsão
tenham sido vencidos, o que só ocorre na
presença de produtos desemulsificantes.
• O surgimento de gotas de maior tamanho favorece
a etapa subsequente, a sedimentação.
• .
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RUPTURA DO FLIME INTERFACIAL

FUSÃO DA GOTA GOTA DE MAIOR TAMANHO

Figura 27: Fenômeno da coalescência


Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422008000600046

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3.3.3. Sedimentação
• Consiste na última etapa de desestabilização da
emulsão, na qual ocorre a separação das fases por
ação de um campo, por exemplo, o gravitacional.
• A velocidade de sedimentação de uma gota é
descrita pela equação de Stokes:
( a − o )dg2
vg = g
18 o
vg= velocidade de sedimentação da gota, cm s−1;
g= massa específica do óleo, g cm−3;
a= massa específica da água, g cm−3;
o= viscosidade absoluta do óleo, g (cm s) −1;
dg= diâmetro da gota, cm;
g = aceleração da gravidade, cm s−2.
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Conclusões acerca da equação de Stokes

1) Quanto menor a diferença entre as massas específicas


das fases, menor é a velocidade de sedimentação da
gota de água. Então, os petróleos mais pesados (mais
densos) apresentam maior dificuldade em separar água
pelo mecanismo de segregação gravitacional;
2) Quanto maior a viscosidade dinâmica da fase externa,
menor é a velocidade de sedimentação das gotas de
água. Normalmente, os petróleos mais pesados exibem
maior viscosidade, apresentando maior dificuldade em
separar água. Como o aumento da temperatura é
acompanhado da diminuição da viscosidade do meio, os
petróleos pesados requerem o uso de maiores
temperaturas de processo para separar a água.

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3) Quanto menor o diâmetro da gota de água, menor é
sua velocidade de sedimentação. Portanto, se
possível, deve-se evitar que as emulsões de petróleo
sejam submetidas a intensas taxas de cisalhamento. A
escolha de métodos de elevação que imponham
menores taxas de cisalhamento é de suma importância
para a posterior separação da água do petróleo;
4) Caso a intensidade do campo gravitacional for
aumentada, a velocidade de segregação da gota de
água será maior.
5) Ressalte-se que o modelo ideal proposto por Stokes
não leva em conta os fenômenos e as interações físico-
químicas envolvidas, além do fenômeno de
coalescência que altera o tamanho das gotas.

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Ex.1: Os dados abaixo se referem às operações de
tratamento físico de petróleo que são realizadas nas
instalações terrestres de produção.
I. Decantação das gotículas de água.
II. Rompimento do filme constituído de agentes
emulsificantes.
III. Floculação das gotículas de água.
Assinale a opção que apresenta a sequencia das etapas
antecedentes à separação da água emulsionada ao
petróleo.
(a) I, II e III (b) II, III e I (c) II, I e III (d) III, I e II (e) III, II e I

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3.4. Métodos de desestabilização das emulsões de petróleo

• Diferentes métodos de desestabilização das


emulsões de petróleo do tipo A/O são
empregados para promover a quebra das
emulsões em campo. Os meios usuais de
quebra de emulsão são através do (a):
✓ adição de desemulsificantes;
✓ aquecimento;
✓ tratamento eletrostático e;
✓ aumento do teor de água.

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3.4.1. Adição de desemulsificantes
• O desemulsificante é um produto químico, de
alta massa molar, que são atraídos pela
interface A/O, que deslocam ou rompem a
película de emulsificante, promovendo a
coalescência das gotículas, que decantam
através do óleo.
• A seleção do tipo de desemulsificante e da
dosagem a ser usada no tratamento do óleo
deve ser feita mediante um teste de campo,
conhecido como “teste de garrafa”a.
a. O teste da garrafa (“bottle testing”), emulsão + demulsificante, são misturados em uma garrafa e
deixados em repouso por um dado período de tempo. Em seguida, mede-se as alturas de cada
uma das fases, disponível em http://www.usp.br/massa/2012/qfl2452/pdf/Emulsoes-rev.pdf.

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Mecanismo da adição de desemulsificantes (a)

• Inicialmente, o desemulsificante
chega à interface e desloca os
emulsificantes naturais, DESESTABILIZAÇÃO
desestabilizando a emulsão, Figura
(b)
28a.
• Em seguida, ocorre o rompimento do
filme e a posterior coalescência das
COALESCÊNCIA
gotas em gotas de maior tamanho e
peso, Figura 28b.
(c)
• Finalmente, ocorre a sedimentação
das gotas de água, separando as
fases água e petróleo, por segregação SEGREGAÇÃO GRAVITACIONAL
gravitacional, Figura 28c. Figura 28: Ação do desemulsificante

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• O ponto de injeção do desemulsificante também é(a)
um fator importante para seu desempenho. Usualmente
é injetado em linha, a montante do sistema de
tratamento, como já discutido, numa região de fluxo
turbulento, para sua perfeita mistura na emulsão.
• O ponto de injeção deve ser localizado o mais
afastado possível da planta de processamento
primário, para que a ação do produto seja mais efetiva.
• A prática de injetar o desemulsificante no interior do
poço está sendo usada nos novos projetos de óleos
pesados, pois melhora a ação de desestabilização das
emulsões ao impedir que os emulsificantes naturais
migrem para a interface das gotas de água geradas
durante o escoamento do petróleo.

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3.4.2. Aquecimento (a)
• No processamento primário de petróleo, a elevada
viscosidade das emulsões dificulta a separação da
água e provoca o aparecimento de espuma,
requerendo o uso de temperaturas elevadas para tratar
o petróleo e o consumo de produtos químicos,
especialmente o desemulsificante e o antiespumante.
• Por outro lado, caso as emulsões sejam submetidas à
intensa agitação e cisalhamento, serão formadas gotas
de tamanhos menores, tornando a emulsão mais
estável.
• Consequentemente, será necessário empregar maior
temperatura de processamento e/ou utilizar
equipamentos com maiores dimensões, além do maior
consumo de desemulsificante.
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(a)

• O aquecimento da emulsão é acompanhada


da diminuição da viscosidade do meio que é
fundamental, conforme a equação de Stokes
para aumentar a velocidade de sedimentação
das gotas.
• A Figura 29 observa-se o gráfico de viscosidade
em função da temperatura para óleos de
diferentes oAPI.

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(a)

Figura 29: Variação da viscosidade com a temperatura para alguns óleos de petróleo
Fonte: Paragon Engineering Services

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• Além da influência sobre a viscosiddade, o(a)
aquecimento também:
✓ aumenta a difusividadeb do desemulsificante no meio,
facilitando a chegada do desemulsificante na superfície
das gotas;
✓ aumenta a taxa de colisão entre as gotas, pelo
aumento do movimento brownianoc;
✓ facilita a drenagem do filme intersticiald;
✓ diminui a rigidez do filme interfacial, facilitando a
ruptura do filme e a coalescência das gotas;
b. Difusividade é a capacidade que as substâncias possuem de se misturar. Pode ser dividida em difusividade
molecular e difusividade convectiva. A primeira ocorre quando não há ação (mecânica) para prover a difusão.
Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Difusividade>.
c. Movimento browniano é o movimento aleatório de partículas macroscópicas em um fluido como consequência dos
choques de suas moléculas nas partículas. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_browniano>.
d. Interstício é o intervalo que separa as moléculas. Disponível em:< http://www.dicio.com.br/intersticio/>.

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3.4.3. Tratamento eletrostático (a)

• A aplicação de um campo elétrico de alta intensidade


sobre uma emulsão provoca a polarização das
gotículas de água, principalmente pela migração de
sais dissolvidos no interior das mesmas, fazendo com
que as gotículas de água passem de forma esférica
para a elíptica, conforme mostra a Figura 30.
-- +
+ - +
--
-
+ - +
+ - +
+

-
- +
+ -
+
Figura 30: Distorções de gotículas de água em alta tensão
e. Um campo elétrico é o campo de força provocado pela ação de cargas elétricas, (elétrons, prótons ou íons) ou por
sistemas delas.

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• Quando várias gotas se encontram vizinhas umas as
outras, estas alinham-se na direção do campo
elétrico ocorrendo a formação de dipolos induzidos
de sentidos contrários que se atraem, conforme a
Figura 31.
• Essa atração gerada faz com que se aumente a taxa
de colisão e de coalescência entre elas.

-- + - + - +
-- +
+ -
-

+
+
+
+
+
-
-
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+
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+
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- - +
+
Figura 31: Atração elétrica entre as gotas de água

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3.4.4. Aumento do teor de água

• À medida que aumenta o teor de água na


emulsão, aumenta a população de gotas de
água.

• Com o aumento da população de gotas na


emulsão, o sistema disperso torna-se mais
instável, pois aumenta a probabilidade de
colisão entre as gotas, condição essencial
para o processo de coalescência.

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