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em Harvard (Tolman, 1952). Pouco mais de dez anos depois (por volta de 1923), ele
voltou à Alemanha para estudar com os psicólogos da Gestalt.
bitamente executou as ações corretas num todo seqüencial” (Köhler, 1927, p. 150). O
termo gestaltiano para o processo envolvido nesse tipo de solução é insight.
Insight é o fundamento da psicologia da Gestalt. Em suma, significa a percepção das
relações entre os elementos de uma situação-problema. O que significa solucionar um pro-
blema pela percepção das relações entre todos os elementos importantes da situação.
Nas palavras de Köhler (1925), o pensamento por insight é um tipo de pensamento
relacional. Requer uma reorganização mental dos elementos do problema e o reconhe-
cimento da correção da nova organização.
Entretanto, alerta Köhler, só porque o termo insight ou pensamento relacional é
usado para descrever o que pode ser considerado uma realização extraordinária para
um chimpanzé, não devemos interpretá-lo erroneamente, como “alguma faculdade
especial e sobrenatural que produz resultados admiráveis ou, de alguma forma, inex-
plicáveis. Como usei e atribuí significado ao termo, nada deste tipo está nele” (1929,
p. 371). Como Köhler o utiliza, o termo aplica-se à compreensão de fatos comuns e
soluções gerais de problemas do cotidiano.
Dentre as convicções mais importantes de Köhler está a crença de que a tentati-
va e erro desempenha papel de menor importância no comportamento de solução de
problemas, mesmo entre macacos e galinhas, e especialmente entre os seres humanos.
“ Não tenho certeza de que após anos de tentativa e erro”, escreve Köhler, “uma criança
aprenderia a organizar [um campo sensorial]” (1929, p. 177). E organizar o que é per-
cebido, alerta ele, é muito mais importante do que as propriedades específicas daquilo
que é percebido. Por quê? Porque é somente por meio da compreensão de sua organiza-
ção – por meio da compreensão de sua estrutura – que as pessoas conhecem as coisas.
Tome, por exemplo, algo simples como uma melodia. Você sabe que uma melodia
é feita de notas individuais. Contudo, você não poderia entendê-la – não saberia nada
dela – se tivesse de ouvir as notas num arranjo feito aleatoriamente. Da mesma manei-
ra, o significado de uma figura geométrica deriva não de cada um de seus elementos
(número de lados, dimensão de suas partes, ângulos dos cantos), mas das relações de
uns com os outros.
Foto: D e U nde rwood e U nde rwood. Cortesia de Smith Coolege Ar ch ives, Smith Co llege.
O Campo Comportamental
Do ponto de vista daquele homem, seu comportamento ocorreu num ambiente muito
diferente – naquilo que Koffka chama de campo comportamental (ou campo psicológi-
co). O campo comportamental é a visão pessoal do ator daquilo que é real. No campo
comportamental desse homem, havia uma planície varrida pelo vento. No entanto,
como descobriu mais tarde, no mundo físico real o que havia era um lago congelado.
Ambos, o campo comportamental e o ambiente físico afetam o comportamento de
uma pessoa, afirma Koffka. E embora o ambiente físico interfira claramente no campo
comportamental, os dois não são a mesma coisa. Em outro exemplo, Koffka refere-
se ao comportamento de dois macacos colocados em jaulas separadas; cada um deles
consegue alcançar um cacho de bananas empilhando caixotes uns sobre os outros. Um
deles, o macaco inteligente, faz exatamente isso, sobe na pilha e pega as bananas. O
outro, menos inteligente, senta-se num caixote e fica olhando, triste, para o cacho de
bananas que não consegue alcançar. Ambos estão num mesmo campo físico. Entretan-
to, no campo comportamental do macaco inteligente, há caixotes que podem levá-lo
até o alto da jaula; no campo comportamental do outro, há apenas um caixote para
sentar e bananas que ele não consegue alcançar.
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Na literatura sobre solução de problemas, essa dificuldade é mais comumente denominada de predisposição
negativa. (NRT)
A Transição para o Cognitivismo Moderno: Hebb, Tolman e os Gestaltistas 215
da análise perceptual, como as notas musicais ou os ângulos e as linhas das figuras geo-
métricas; outras vezes, parece se referir à atividade neuronal e fisiológica no cérebro.
Com relação a isso, os teóricos da Gestalt discorrem sobre o que chamam de unidades
fenomenais, que parecem ser as unidades subjetivas da percepção, mas a natureza pre-
cisa dessas unidades fenomenais permanece indefinida.
Em relação a alguns dos outros critérios, entretanto, a teoria da Gestalt se encaixa
muito bem. Por exemplo, ela continua a ter aplicação prática no aconselhamento e
na terapia (Lobb, 2001). Noções similares às de campo comportamental e de self de-
sempenham importante papel nas teorias humanísticas de aconselhamento, como a
de Carl Rogers (ele usa as expressões fenomenológica e campo fenomenal, alternada-
mente). A terapia rogeriana se baseia na noção de que para entender o comportamento
de uma pessoa é primordial olhá-la do ponto de vista dela; a mudança de comporta-
mento acontece quando muda a visão da realidade da pessoa.
Mais importante ainda, a teoria da Gestalt provou ser muito provocativa e contri-
buiu de forma considerável para o desenvolvimento das teorias cognitivas posteriores
(ver Lehar, 2003; Uttal, 2002). Na verdade, destaca Epstein (1988), a psicologia da
Gestalt serviu de base para a teoria cognitiva moderna. Entre outras coisas, proveu a
psicologia com os primórdios de uma nova metáfora.
M etáforas em Psicologia
Uma metáfora é uma comparação. As metáforas têm presença marcante na literatura
e em especial na poesia, na qual se propõem a evocar imagens (algumas vezes impos-
síveis) mais impactantes, claras e motivadoras do que a realidade que representam.
Por exemplo, no poema de Pablo Neruda, Little America, a mulher que o poeta ama
não é apenas uma mulher. É um país, com “ramos de árvores e terras, frutos e água, a
primavera que eu amo... as águas do mar ou dos rios e o vermelho denso dos arbustos
nos quais os famintos e os sedentos se deitam à espera” (1972, p. 110).10 Em Letter on
the Road, de Neruda, o amor não é apenas um sentimento; é semente, e terra, e água e
fogo, de modo que “talvez chegue o dia em que um homem e uma mulher como nós
tocarão esse amor e ele ainda terá a força de queimar as mãos que o tocaram” (Neruda,
1972, p. 148).11
Na psicologia, como na poesia, as metáforas são abundantes. Entretanto, na psico-
logia seu propósito é menos motivar ou surpreender e mais informar e esclarecer. Na
psicologia da cognição, afirma Bruner, “é evidente que não houve nada senão metá-
foras” (1990a, p. 230). Talvez a mais comum das metáforas correntes para a cognição
humana seja o computador, da qual a psicologia extrai noções de seres humanos, como
unidades de processamento de informação. Os psicólogos criam modelos cognitivos
que se referem a processamento, armazenamento, recuperação, input, output etc.
10
O texto original é: “ramas y tierras, frutas y agua/la primavera que amo,/la luna del desierto, el pecho/de
la paloma salvaje,/la suavidad de las piedras gastadas/por las aguas del mar o de los rios/y la espesura roja/
del matorral en donde/la sed y el hambre acechan”.
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No original: “ Tal vez llegará um dia/en que un hombre/y una mujer, iguales/a nosotros,/tocarán este
amor y aún tendrá fuerza/para quemar las manos que lo toquen”.