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1.

Noções basicas

O papel da empresa na sociedade é um tema intensamente discutido na atualidade e


que influencia diretamente na vida das pessoas e nas estratégias das organizações, no
início deste século XXI, nota-se a crescente valorização de uma nova postura
empresarial, voltada não só para a obtenção de lucros, mas para o relacionamento com a
sociedade em geral e para os impactos gerados sobre a mesma. O volume de recursos
investidos em práticas ligadas à responsabilidade social tem apresentado grandes
elevações e adquirido maior relevância no cenário mundial e antes a lucratividade era
buscada por essas empresas de qualquer maneira, considerando a sociedade e os
empregados apenas como unidades econômicas de produção, agora cresce a
preocupação com o meio ambiente e com o retorno para as diferentes partes que afetam
ou que são afetadas por suas atividades (os chamados stakeholders), evidenciando-se no
mundo dos negócios a preocupação com o desenvolvimento sustentável. Neste sentido
surge então a resposanbilidade social das empresas, de acordo com Nascimento e Froes
(1999), ´´a Responsabilidade Social Empresarial representa um conjunto de medidas
socioambientais desenvolvidas por uma organização. Medidas essas que visam
diminuir os impactos negativos que as empresas provocam no ecossistema, bem como
desenvolver ações que provocam uma imagem positiva para a organização, com intuito
de favorecer os seus negócios e as suas partes relacionadas´´.

Cada vez mais as empresas se preocupam com a responsabilidade social e articulam a


sua atuação para se comprometerem com os seus stakeholders nas dimensões
económica, social e ambiental, tendo como finalidade a integração destas dimensões nos
seus valores, tomada de decisões, cultura, estratégia e operações de uma forma
transparente e responsável estabelecendo, desta forma, melhores práticas dentro da
organização, para fomentar a criação de riqueza e melhorar a sociedade, Nascimento e
Froes (1999), referem que’’ a responsabilidade social das empresas está dividida em
duas dimensões: a interna, que foca no público interno da empresa, seus empregados e
dependentes e a externa, cujo foco é a comunidade mais próxima da empresa ou local
onde ela está inserida’’. A empresa que deixa de cumprir os seus deveres sociais com os
seus grupos de interesse, perde o seu capital de responsabilidade social, ou seja, a
imagem da empresa é prejudicada e sua reputação torna-se ameaçada.
Ainda segundo Melo e Froes (1999), ‘’ os riscos da falta ou perda da responsabilidade
social externa são mais prejudiciais à empresa do que os riscos da falta de
responsabilidade social interna, tais riscos são: acusações de injustiça social, perda de
clientes, reclamações dos fornecedores e revendedores, boicote de consumidores, queda
nas vendas, gastos extras com passivos ambientais, ações na justiça, risco de invasões e
até mesmo risco de falência’’. Souza e Costa ( 2008 ), afirmam que ‘’ é comum
encontrar o conceito de RSE associado à prática de filantropia. Diversas empresas
divulgam nos meios de comunicação a participação ou o apoio a projectos sociais, por
meio de doações. Entretanto, a responsabilidade social envolve uma questão muito mais
ampla’’ porem tal confusão deve ser desmistificada, assim , SANTA CRUZ, (2006),
afirma que ‘‘Na verdade Filantropia significa ajuda e tem carácter assistencialista, sendo
uma acção social externa à empresa que beneficia destinatários específicos (geralmente
um atenuante para uma grave conjuntura social). Já a responsabilidade social das
empresas trata directamente da forma de condução dos negócios, partindo de dentro da
empresa, e sendo incorporada aos seus valores e estratégia. É focada na cadeia de
negócios da empresa e engloba preocupações com um público maior (accionistas,
funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo
e meio ambiente), cuja demanda e necessidade a empresa deve buscar entender e
incorporar aos negócios’’.

2. Desafios e Barreiras a
Responsabilidade Social das Empresas

Grande parte das acções relacionadas à responsabilidade social realizadas pelas


empresas nasce da necessidade de as mesmas oferecerem um retorno como resposta às
acções dos trabalhadores, de grupos ambientalistas, de consumidores, de defensores de
direitos humanos, políticos e de mobilização. Tomei, Patricia (1984, pg. 190-191 ),
refere que ‘‘ a responsabilidade social seria uma reacção, e não uma atitude proactiva
das empresas frente aos problemas sociais’’. Porem a implementação de acções de
responsabilidade social das empresas não é uma tarefa simples pois existem as
chamadas dificuldades de operacionalização, Patrícia A. Tomei ( 1984, pg. 191), afirma
que ‘’ a falta de uma definição operacional leva os empresários a uma perplexidade
quanto às suas responsabilidades sociais. O problema de vagueness, ou grau de
ambiguidade, da noção de responsabilidade social se agrava na medida em que toda a
questão é muito filosófica, isto é, de carácter ideológico’’. Portanto é comum nestes
casos que se levantem inúmeras questões tais como: qual a responsabilidade relativa da
empresa com seus accionistas, empregados e executivos?; Qual o grau de importância
dos objectivos económicos e sociais da-empresa?. O grau de ambiguidade da noção de
responsabilidadede social é de tamanha amplitude que são quase infinitos os pontos
questionáveis dentro deste universo, contudo existem alguns aspectos de destaque a
saber:

 Lucro- um primeiro foco de conflito se coloca na questão de lucro. Conforme


apresentamos, a noção de responsabilidade social traz consigo um indício de que os
objectivos das empresas devem ser expressos em múltiplas dimensões, ampliando a
perspectiva tradicional e única de maximização de lucros. Portanto, para se
compatibilizar lucro com responsabilidade social é importante enfatizar que a definição
de responsabilidade social não se coloca, de nenhuma forma, como uma questão de
deixar de realizar lucros, Este ponto, quando mal definido, constitui o principal
argumento desfavorável à prática de responsabilidade social, transformando-se, assim,
no alvo-mor do ataque dos partidários da clássica doutrina económica de maximização
de lucros.

 Dificuldades em estabelecer limites para caracterizar uma acção sob o rótulo de


responsabilidade social- esta problemática ramificasse em diversas direcções, das
quais se sobressaem uma a nível interno, relacionada com a determinação dos
objectivos privados da empresa, e outra a nível externo, referente à inserção ampla da
empresa na sociedade. Neste sentido, surgem duas discussões dentro do universo
empresarial, o confronto proprietários-acionistas e executivos-gerentes; e, a nível
macro, a definição da esfera de acção empresarial e da actuação do Estado.

 Custos de Envolvimento Social- este pressuposto se baseia na proposição de que


muitos objectivos sociais não se pagam por si só, gerando uma situação antieconómica
na medida em que alguém deve arcar com estas despesas.
 Enfraquecimento da ênfase das organizações na produtividade económica- de
acordo com este pressuposto o envolvimento da empresa com objectivos sociais pode
diluir a ênfase das organizações na produtividade económica, dividindo os interesses
das suas lideranças e enfraquecendo as empresas no mercado ,o que resulta num
enobrecimento tanto para a economia quanto para o seu papel social. Isto significa que a
sociedade teria que arcar com menor produtividade e portanto, o papel económico das
empresas na sociedade ficaria vago e ambíguo.

2.1. Desafios a Resposanbilidade Social


no Contexto Angolano

Contextualizando o que anteriormente foi dito podemos tomar como exemplo o caso das
empresas em Angola, de acordo com um estudo desenvolvido pelo PNUD (2013, pg.
70-72), ‘’são apontados como principais desafios á implementação de programa de
responsabilidade social os seguintes: a inexistência de parceiros para implementação de
projectos de responsabilidade social; a falta de linhas de orientação aliados a dificuldade
na monitorização do impacto das iniciativas levadas a cabo; a falta de conhecimento
especializado para implementar os programas de responsabilidade social; a falta de
concertação e alinhamento de esforços com o objectivo de endereçar os temas sociais de
uma forma mais efectiva’’. Entre outros desafios ou barreiras a implementação de
projectos de responsabilidade social em Angola pode-se ainda citar o caso de empresas
nas quais grande parte dos trabalhadores não tem asseguradas necessidades básicas,
porem solucionar alguns destes problemas aparentemente pode revelar-se prejudicial
para as empresas, no sentido de que, aumentos salariais sem aumentos de produtividade
diminuem os lucros empresariais e enfraquecem a posição dos empresários no sistema
económico, alem de terem efeitos negativos ao nível económico conduzindo a mais
inflação situação esta que acaba desencorajando a implementação de tais acções.

Outra situação diz respeito as pequenas empresas as quais são desencorajadas pelo
custo inicial do estabelecimento de programas de responsabilidade social, passando a
alocar os recursos que deveriam ser canalizados para estes programas em investimentos
que possam trazer retornos visíveis a curto prazo. Em geral, a maioria das pequenas
empresas opera numa base de capital limitada e com pequena estabilidade financeira, o
que obviamente faz pesar no orçamento (caso ele exista) qualquer custo adicional. Isto
seria, em última instância, mais um encargo que contribui para uma taxa de mortalidade
empresarial já bastante elevada.

2.2. Medidas de Reversão

Por formas a ultrapassar os os desafios e contrapor as as barreiras a implementação de


projectos de responsabilidade social anteriormente mencionados , são apresentadas
algumas soluções. De acordo com o relatorio do PNUD ( 2013, pg 73-76), conclui-se
que ‘’A primeira delas passa por reforçar o alinhamento estrategico, isto é, as
organizações devem garantir o mapeamento dos seus stakeholders chave e fazerem o
exercicio de identificação dos temas relevantes para garantir a correta alocação de
esforços, este alinhamento estrategico deve resultar de uma correcta reflexão interna e
externa relactivamente as expectativas dos diferentes stakeholders, para que as acções
de responsabilidade social possam ter continuidade e o impacto desejado.

Por outro lado, é necessario criar condições de capacitação para a responsabilidade


social empresarial, isto é, criar conselho consultivo para a resposanbilidade social
empresarial isto ao nivel de organizações sectoriais, que contasse com o envolvimento
activo do executivo e de outras entidades da sociedade civil como forma de dinamizar a
criação e desenvolvimento de uma cultura de responsabilidade social empresarial. Outra
medida esta relacionada com o estabelecimento de relações com parceiros estrategicos,
isto é, deve existir um intercambio entre os varios agentes da sociedade civil (governo,
sector privado empresarial, agentes de apoio ao desenvolvimento, instituições
academicas, organizações não governamentais).

cada um destes agentes deve assumir um papel determinado para que efectivamente a
responsabilidade social seja sustentavel, as entidades governamentais devem ter uma
capacidade real para definirem prioridades de esforço em cada uma das areas critícas e
desenvolvam a capacidade de coordenar a agenda dos investimentos sociais, por sua vez
as empresas deveram envolver-se em projectos de maior valor acrescentado e que
exijam maior compromisso sobretudo ao nivel da capacitação, ainda que isso lhes
confira maior esforço e provavelmente menos reconhecimento publico, das instituições
academicas é esperado que, além de prestar serviços de formação e sensibilização,
devem também as mesmas potenciar o seu envolvimento com as empresas e outras
entidades no ambito da responsabilidade social actuando como paceiros e tambem como
potenciais implementadores de projectos num contexto academico’’.

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