Você está na página 1de 2

Reflexão sobre a perspectiva etnocêntrica baseada no filme “A missão” de Roland

Joffé
O filme assistido em sala de aula nos remete a conquista dos territórios indígenas
pelos portugueses por meio da catequese e colonização. Em todo o filme percebemos o
caráter etnocêntrico e evolucionista que ocorreu na historia da colonização e na
dizimação dos povos indígenas.
A teoria evolucionista do homem, o qual passa pelos estágios de selvageria,
barbárie e civilização, utiliza-se do método comparativo, tomando a própria cultura
européia como base para se pensar a do outro. Uma teoria de caráter etnocêntrico, pois
coloca a civilização como o estagio máximo do desenvolvimento humano, que
identifica-se com a sociedade do observador e aquele que esta sendo observado será
sempre parte das “sociedades primitivas”.
Logo, percebemos que o lugar de referencia dos discursos que versam sobre a
colonização parte de uma visão extremamente etnocêntrica européia, de caráter
evolucionista, pois pensa no índio a partir de um ideário de homem europeu, de uma
recusa pelo estranho, questionando praticas indígenas, e colocando-os como seres
preguiçosos, miseráveis, desalmados e que não acreditavam em Deus, condenando-as a
ponto de caracterizá-los como seres selvagens, como foi retratado no filme.
A partir dessa concepção do outro, no caso o índio, é apreendido pelo discurso
da falta: sem religião, sem inteligência, logo nada se pode esperar desses Selvagens.
Essa visão justifica a ação das missões Jesuítas, na qual os padres vão até as aldeias
indígenas com o intuito de salvar a vida e a alma desses povos através da catequização,
do conhecimento e da pratica da Igreja Católica, que pudemos ver retratado no filme.
No decorrer da história a visão sobre o Selvagem se modifica, e isso deve-se
bastante às missões, que “inseriu” aos índios os valores e crenças presentes na
“civilização”. E de mau Selvagem, o índio passa a ser visto como um bom selvagem,
porém pelos parâmetros europeus, logo são colocados como felizes, bonitos, de pele
escura, entre outros. Mas em nenhum momento é levado em consideração conhecer, de
fato, sobre aqueles indivíduos (os índios). Todas as visões retratadas na historiografia
colonial é fruto de um imaginário, e não de uma analise, pois os Europeus não
contextualizavam o modo de vida do outro.
Refletindo um pouco mais em relação ao filme podemos perceber o quanto o
caráter etnocentrista europeu foi representado, quando falamos no personagem do
Capitão Mendonça, que antes era um mercenário, traficante de escravos indígenas, no
qual o filme mostra sua vida na civilidade européia, e que este mata seu irmão num
duelo de honra e vai preso, e no decorrer do filme, este ser que antes era o carrasco dos
índios passa a ser representado na figura de um herói: o homem que se arrepende, se
converte a padre jesuíta e é consagrado pelos próprios índios como de destaque e que
ajuda-os a tentar lutar contra os portugueses que querem dominar o território através do
confronto. Essa narração de cenas do filme é para pensarmos como o roteiro do filme é
de caráter etnocentrista, pois a figura de um herói é típico do modo de vida europeu,
além de enfatizar a idéia de que a Igreja Católica, através das missões contribuiu para
guardar a vida dos índios e de seu território.
Contudo, para quem estuda antropologia é interessante ver esse filme e pensar
sobre o evolucionismo, pois apesar de todas as historias e visões distorcidas, é nesse
período das navegações que o outro começa a ser objeto de reflexão.

Você também pode gostar