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Análise Funcional Baseada em Tentativas
Felipe Lemos

Alguns comportamentos-problema podem ser difíceis de se avaliar em


ambiente simulado, ou até mesmo podem ser impossíveis devido à sua
gravidade, como pode ocorrer em casos de comportamentos autolesivos e
heterolesivos (Emerson, 2001). No entanto, é essencial que para esses tipos
de comportamentos algumas medidas sejam tomadas.
As avaliações funcionais descritivas e indiretas, as quais avaliam
hipóteses de comportamento-problema, mas não determinam função (Britto et
al., 2020), não são recomendadas para comportamentos-problema severos
(Cooper et al., 2019). De forma geral, recomenda-se que se utilize análise
funcional experimental que é o padrão ouro quando se fala de comportamento-
problema (Hanley et al., 2003). No entanto, em pesquisa realizada por Oliver et
al. (2015) e Roscoe et al. (2015) percebeu-se que em média somente 10% dos
analistas do comportamento participantes realizavam sempre análise
funcionais.
Uma das tecnologias desenvolvidas para se avaliar comportamentos-
problema, sem oferecer várias tentativas de reforço, com tempo reduzido e
avaliação em ambiente natural foi a Análise Funcional Baseada em Tentativas
(Trial-Based Functional Analysis) (Ferrari, 2016). O procedimento foi
primeiramente descrito por Sigafoos e Saggers (1995) que realizaram o
procedimento em uma sala de aula. O procedimento consistia em uma série de
sondagens incorporadas às atividades em andamento da sala de aula, que
foram distribuídas por 5 dias. Cada tentativa consistia em um bloco de 1 minuto
durante o qual a operação estabelecedora (OE) e contingência para
comportamento-problema eram apresentadas (teste), seguido por um bloco de
1 minuto durante o qual o reforçador estava disponível continuamente
(controle). Os blocos eram encerrados se e quando ocorresse o
comportamento-problema. Por exemplo, as tarefas eram apresentadas durante
o primeiro minuto de um teste de demanda e eram encerradas se ocorresse um
comportamento-problema, ao passo que nenhuma tarefa era apresentada

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durante o segundo minuto. Os resultados mostraram que o comportamento
problema exibido por dois alunos foi mantido por reforço social-positivo.
Bloom et al. (2011) fizeram algumas modificações no procedimento
testando se seria eficaz para encontra a função do comportamento-problema
para 10 estudantes em escolas. O procedimento de análise funcional poderia
ocorrer entre quatro e seis dias. Eram conduzidas entre 8 e 16 tentativas eram
conduzidas por dia, sendo que eram necessárias 20 tentativas totais por
condição. As oportunidades para testagens ocorriam em situações naturais ao
longo do dia. Por exemplo, os testes de atenção e tangível foram conduzidos
durante os períodos de atividades livre (como recreio ou atividades lúdicas),
enquanto os testes de demanda foram realizados durante os períodos de
tarefas escolares. Todos os sujeitos foram expostos a testes de atenção e
demanda, mas apenas aqueles para os quais havia suspeita de uma função
tangível foram expostos a testes de tangível. Indivíduos cujo comportamento-
alvo consistia em agressão não foram expostos a tentativas de ignorar
(condição de teste) (porque a agressão requer a presença de outra pessoa, era
improvável que fosse mantida por reforço automático). A ordem das aplicações
foi alterada nesta pesquisa, eles preferiram utilizar um bloco de controle inicial,
um de teste posterior e ainda acrescentaram um último bloco de controle. Além
disso o tempo utilizado foi 2 minutos em cada um dos blocos. Assim como no
estudo Sigafoos e Saggers a primeira ocorrência de um comportamento-
problema encerrava o bloco (exceto durante a condição de ignorar), além de
um comportamento-problema não gerar delay para início do próximo bloco. E a
última modificação foi a testagem da condição de ignorar, que visa verificar
comportamentos mantidos por reforço automático.
Esse procedimento tem sido modificado ao longo do tempo, tanto com
relação ao local de testagem, sendo também utilizado em casa (Gerow et al.,
2020), quanto com relação à duração das testagens podendo variar de 1 a 4
minutos (Lambert et al., 2012; Schmidt et al., 2013) e também podem ter
somente dois blocos, sendo o primeiro de controle e o último de teste
(Kunnavatana et al., 2013).
Ruiz e Kubina (2017) realizaram revisão sistemática sobre o impacto
gerado pelas pesquisas em análise funcional baseada em tentativas em

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comportamentos-problema e no treinamento de profissionais. Eles informam
que esse tipo de análise funcional se mostra bastante eficaz quando não é
possível realizar uma análise funcional experimental, auxiliando na redução de
comportamentos-problema severos.
É possível concluir que a Análise Funcional Baseada em Tentativas se
tornou um recurso valioso ao analista do comportamento nos últimos anos,
permitindo que ele possa realizar avaliações mais fidedignas em ambientes
naturais, com menos tempo, e com menor probabilidade de reforçar
comportamentos-problema severos.

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Referências Bibliográficas

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