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Sistema Único de Saúde

Aspectos Históricos do
SUS
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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 4

SISTEMAS DE SAÚDE INTERNACIONAIS - UMA 5


ANÁLISE COMPARATIVA

AS TIPOLOGIAS DE SISTEMAS DE SAÚDE 6

- MODELO SMITHIANO 8

- MODELO BISMARCKIANO 15

- MODELO BEVERIDGIANO 18

- MODELO SEMASHKO 21

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SAÚDE NO BRASIL 22

- REPÚBLICA VELHA (1889-1933) 23

- ERA VARGAS (1930-1945) E O PERÍODO DE 26


REDEMOCRATIZAÇÃO (1945-1964)

- DITADURA MILITAR (1964-1985) 28

- NOVA REPÚBLICA (1985-DIAS ATUAIS) 31

A BASE LEGAL DO SUS 37

- PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DO SUS - UM DOS 38


ASSUNTOS MAIS COBRADOS NAS PROVAS DE

- LEI 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990 57

- LEI 8.142, DE 28 DE DEZEMBRO DE 1990 76

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Bibliografia 85

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INTRODUÇÃO

Fala, meu povo! Tudo na paz?

Nos dois primeiros capítulos de Medicina Preventiva e Social iremos


discutir sobre o Sistema Único de Saúde - SUS. Entenderemos a
história, a legislação, a gestão, o financiamento, os programas e as
políticas por meio da construção de uma linha temporal que
conectará as bases da formação do SUS com a forma como hoje ele
está estruturado.

Vale ressaltar que é um sistema relativamente novo (em 2023


completamos 33 anos da regulamentação) e, desde então, vem
sofrendo modificações tanto por um processo natural de
implementação quanto por dificuldades relacionadas a
subfinanciamento e dificuldade de expansão e manutenção.

Neste capítulo, aprenderemos sobre as bases ideológicas, as


influências e o início do SUS e, no próximo, a evolução pós-
implementação e como ele está estruturado hoje.

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Prontos para começar?

SISTEMAS DE SAÚDE INTERNACIONAIS


- UMA ANÁLISE COMPARATIVA

Antes de entendermos a história da saúde no Brasil, é importante


conhecermos como os modelos de saúde no mundo influenciaram,
historicamente, a consolidação do nosso sistema.

O conhecimento dos principais modelos de sistema de saúde


mundiais tem sido alvo crescente de questões nas provas de São
Paulo, com um nível de dificuldade considerado difícil, não pela
complexidade do conteúdo, mas pelo desconhecimento dos
candidatos sobre o assunto. Vale a pena explorarmos dois tópicos
do assunto:

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1. As tipologias de Sistemas de Saúde: bismarckiano, beveridgiano e


smithiano (os três mais importantes) e Semashko (pouco abordado
em provas);

2. As predominâncias e características do Sistema de Saúde de


alguns países no mundo considerados protótipos em sistema de
saúde: EUA, Alemanha e Inglaterra.

AS TIPOLOGIAS DE SISTEMAS DE
SAÚDE

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Ao realizar a comparação de políticas de saúde entre países, é


comum fazer o uso de tipologias de Sistemas de Saúde, as quais
classificam e categorizam os Sistemas de Saúde em modelos
ideais-típicos, baseado nas características de cada um deles. Para
isso, ocorre uma análise de vários aspectos dos sistemas de saúde,
tais como: financiamento, remuneração de médicos e outros
profissionais, formas predominantes de posses de serviços de
saúde, organização e cuidado, papel do Estado, diretrizes culturais e
papel do paciente.

Uma das primeiras classificações dessas tipologias foi realizada pela


Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OECD - Organisation for Economic Cooperation and
Development), que, considerando o tipo de financiamento e as
formas de prestação do cuidado, identificou três modelos básicos:

1. Sistemas de Saúde baseados no modelo de Adam Smith


(smithiano)

2. Sistemas de Saúde baseados no modelo de Otto Von Bismarck


(bismarckiano)

3. Sistemas de Saúde baseados no modelo de William Beveridge


(beveridgiano)

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MODELO SMITHIANO

Influenciado pelas ideias de Adam Smith, segundo as quais não


deve haver intervenção do Estado no mercado, a garantia da
saúde da população não é de responsabilidade do Estado,

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limitando-se a assegurar apenas aos grupos sociais mais


vulneráveis. O papel central desse sistema está nas mãos de
companhias de seguros privados, no qual o segurado, de forma
voluntária, paga o seguro (contratam diretamente de uma
seguradora - assim como um seguro-viagem ou seguro-
residencial), que lhe dá direitos ao reembolso de custos
relacionados à assistência em saúde.

Dentre as principais características do modelo, o cidadão pode


escolher tanto o seguro que irá contratar, quanto os prestadores de
serviços (médicos, hospitais, laboratórios). Olhando só por isso,
podemos esperar que a cobertura seja desigual, beneficiando
apenas uma parcela da população com maior rendimento. O
seguro em saúde também pode ser financiado pelo empregador,
como forma de incentivo ao empregado. A rede em saúde, por sua
vez, é predominantemente privada, com ou sem fins lucrativos.

Para compreender isso, na prática, com dados. Observem o gráfico


a seguir, retirados da pesquisa Mirror, Mirror 2021 de Schneider e
colaboradores.

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Nota: Gasto do sistema de saúde representada de acordo com o


percentual do Produto Interno Bruto (PIB). Os dados de gastos com
o sistema de saúde são da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE) da Organização Mundial da
Saúde (OMS). Legenda: NETH = Países Baixos. NOR = Noruega. AUS
= Austrália. UK = Reino Unido. GER = Alemanha. NZ = Nova Zelândia.
SWE = Suécia. FRA = França. SWIZ = Suiça. CAN = Canadá. US =
Estados Unidos.

No eixo Y estamos observando a qualidade do sistema de saúde


em termos de performance. Quanto mais acima, melhor a
performance. No eixo X, observamos o gasto com o sistema de
saúde. Quanto mais para a direita, maior o gasto. O gráfico nos
mostra claramente que, apesar do gasto elevado com o sistema de
saúde, os Estados Unidos (US) possuem um sistema com péssima
performance. Ao observar os outros dez países, estes possuem
gastos menores, mas performance bastante elevada!

Compreendemos o que é um sistema de saúde Smithiano, agora


vamos compreender, na prática, como ele funciona. Para isso,
vamos analisar como é o sistema de saúde do país protótipo, os
EUA.

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SISTEMA DE SAÚDE ESTADUNIDENSE

• É o país que mais gasta em saúde, com gastos equivalentes a


16,8% do PIB americano (dados são do estudo da OCDE, 2021).
• A maior parte da população tem seguros privados (66%). 8,3%
da população não tem nenhuma cobertura de saúde (dados
são do censo americano, de 2022).
• Programas assistencialistas governamentais (seguros públicos
de saúde), que custeiam serviços de saúde ofertados por
empresas privadas
◦ Medicare: idosos e idosos.
◦ Medicaid: pessoas com baixa renda, associado a: idoso,
gestantes, deficientes, jovens até 18 anos, adulto
cuidando de criança e, em certos estados, adultos sem
dependentes.
◦ Children's Health Insurance Program (CHIP): jovens até 18
anos sem outros seguros de saúde.
◦ Veterans Healthcare: veteranos de guerra e família.
◦ TRICARE: Militares da ativa e famílias.
• Grupos específicos contam o apoio de instituições não-
governamentais: câncer, saúde mental e doenças
cardiovasculares.
• Os gastos federais com saúde, apesar de não oferecer
cobertura universal, eram um grande problema, para isso,
surgiram planos para melhorar essa modelagem.

2010 - “Obamacare” - Affordable Care Act - ACA - (Ato de cuidado


acessível)

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Aprovado pelo congresso americano em 2010, trouxe muitas


inovações na oferta de saúde nos EUA, tendo como objetivo
ampliar a cobertura da população por planos de saúde.

• Todo cidadão americano deveria ter um plano de saúde a


partir de 2014, sob pena de pagar multa. Possibilidade de
recebimento de créditos fiscais do imposto de renda em
algumas faixas de baixa renda, para filiação a plano de saúde.

• Estabeleceu uma cobertura mínima dos planos de saúde,


oferecidos através do mercado de intercâmbio de seguros
públicos de saúde (um espaço virtual de venda de planos de
saúde que seguem as regras do ACA), onde o indivíduo pode
obter prêmios subsidiados e reduções de custos. Tais
mercados atendem pessoas que não tem critério para
ingressar no Medicaid, não apresentam uma renda suficiente
para pagar por planos privados de saúde e que não fazem
parte de um plano empresarial.

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• Ampliou a cobertura da população pelo Medicaid.


• Empresas com mais de 50 funcionários são obrigadas a
fornecer planos de saúde que cubram o trabalhador e toda
sua família, enquanto as empresas com menos de 50
funcionários teriam redução de impostos, caso filiassem seus
trabalhadores a planos de saúde.
• Jovens até 26 anos podem permanecer no plano de saúde dos
pais.
• Seguradoras não podem mais recusar pacientes com doenças
pré-existentes.

Durante 10 anos de execução, o Obamacare foi alvo constante de


questionamentos políticos e jurídicos. Diante das polêmicas, surge
o:

2017 - “Trumpcare”
Tentativa de Donald Trump para restringir o Affordable Care Act.
Para as provas, basta saber que o governo Trump foi mais favorável
aos planos privados de saúde e menos inclusivo em suas políticas.

2020 - Governo Biden:


Desde o início do seu governo, vem revogando várias decisões de
Trump relacionados ao Affordable Care Act. Aqui o governo retorna
aos ideais propostos por Obama, com o objetivo de melhorar o
acesso à saúde dos norte americanos.

Por fim, precisamos entender como o modelo smithiano interfere


no sistema de saúde brasileiro.

REFLEXOS DO MODELO SMITHIANO NO BRASIL


Não confunda. Mesmo possuindo o maior sistema de saúde público
do mundo, o Brasil possui muita abertura para o setor privado!
Mesmo no próprio SUS (o SUS compra procedimentos do setor

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privado, por exemplo, mas explicaremos melhor neste capítulo,


quando falarmos da complementariedade do setor privado).

A principal influência do modelo smithiano no Brasil está na


estruturação da Saúde Suplementar, que foi consolidada a partir
da década de 60..

O setor privado no país foi induzido, viabilizado e subvencionado


através de políticas de expressiva renúncia fiscal, e, atualmente,
incentivada tanto para os trabalhadores - através da dedução de
despesas médicas no imposto renda (isso já foi assunto de questão
discursiva da Unicamp em 2016, sobre como o Estado contribui
para o custeio da Saúde Suplementar), quanto aos empregadores -
seja através de dedução das despesas médicas com planos para os
trabalhadores, seja por várias outras formas de isenção fiscal. Com
isso, o curso natural foi uma ampla expansão do setor em território
brasileiro.

Para vocês terem uma ideia, de acordo com SOUZA JUNIOR (2021),
o percentual de pessoas com posse de plano de saúde médico ou
odontológico em 2019, era de 28,5%. Dentre estas, a maior parte é
formada por planos coletivos, contratados pelas empresas e co-
financiados por patrões e empregados, como benefício atrelado ao
salário e emprego (informação essencial para uma questão da USP-
SP em 2021 e 2023).

Diante de todo esse cenário, os gastos privados em saúde


chegam a 56,7% dos gastos totais em saúde no Brasil (isso
mesmo, saúde privada é muito cara, meu povo).

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MODELO BISMARCKIANO

Baseado em seguros sociais obrigatórios e co-financiados, o


modelo bismarckiano foi criado na Alemanha, em 1883. Foi um
modelo com bastante viés social, que foi implementado como uma
forma de Bismarck coibir o socialismo alemão, garantindo a “paz

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social” através da implementação de um conjunto de reformas para


melhorar o bem-estar dos trabalhadores.

A base desse modelo é o sistema de fundos obrigatórios de


doença, que são instituições sem fins lucrativos financiadas por
trabalhadores e empregados. A contribuição paga à caixa de
fundos varia em relação à renda do empregado (sendo metade
custeada pelo empregado e metade pelo empregador).

Há obrigação do registro aos trabalhadores (e seus dependentes)


que recebem até uma certa quantia (renda bruta mensal de 4.462
euros), enquanto aqueles que apresentam maior rendimento
mensal podem se inscrever em seguros privados de saúde, no
lugar dos obrigatórios.

Mas e as outras pessoas? As que não trabalham, por exemplo. A


ideia é que não fiquem desassistida. A assistência às pessoas
desempregadas, com algum tipo de deficiência e demais parcelas
da população incapazes de ter o seguro, é custeada pelo próprio
Estado.

Agora vamos compreender como o sistema Bismarckiano funciona


na prática.

SISTEMA DE SAÚDE ALEMÃO

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• Ter plano de saúde é obrigatório para a população que tem


renda.
• Custos divididos igualmente entre funcionário e empregador.
• Seguradoras públicas: são muito parecidas no que oferecem e
precisam respeitar a “cobertura obrigatória” estipulada pelo
governo.
• Cidadãos podem escolher o médico e hospital que quiserem
(generalistas ou especialistas).
• Planos de saúde privados: variam muito em serviços
oferecidos e preços.
• É um dos países que mais gasta com saúde!

E como esse sistema influenciou a saúde no Brasil?

REFLEXOS DO MODELO BISMARCKIANO NO BRASIL


A importância do modelo bismarckiano no sistema de saúde
brasileiro é histórica e perdeu relevância com a formação do SUS
(iremos entender melhor em seguida, quando falarmos
especificamente da estruturação temporal do sistema brasileiro, na
era pré-SUS). Contudo, há algumas ideologias advindas do modelo
bismarckiano que permanecem:

• Acesso direto dos usuários à especialistas nos planos de saúde


individuais e coletivos: é daí que surgiu a ideia que domina o
nosso imaginário de que o melhor cuidado ocorre através de
atenção especializada e utilização de tecnologias duras.

• Participação estatal no financiamento dos planos de saúde de


parcela da população: via gastos tributários, beneficiando as
pessoas que declaram imposto de renda (ou seja, mais ricas) e
servidores públicos.

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Contudo, de forma geral, os planos privados em saúde têm menor


similaridade com o modelo bismarckiano do que com o modelo
smithiano.

O principal remanescente do modelo bismarckiano no Brasil é a


Previdência Social - no qual trabalhadores e empregadores
contribuem em poupança compulsória, de forma que apenas estes
fariam jus à proteção. Ou seja, só recebe quem contribui. É um
modelo antigo e com severa fragilidade em relação à sua
sustentabilidade futura.

MODELO BEVERIDGIANO

O Relatório Beveridge, em 1942, foi a base para a formação do


sistema inglês - o National Health Service (NHS). Tal modelo,
baseado na seguridade social, propôs uma organização do
sistema de forma em que houvesse segurança social e garantia de
acesso à atenção médica à todos os cidadãos, reconhecendo a
saúde como um direito universal de cidadania e dever do Estado
(parece que estamos lendo trechos da Constituição Brasileira de
1988 e fragmentos da Lei Orgânica 8080/90, não é mesmo?).

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Sua implementação foi “a virada de chave” mundial no sentido de


olhar a atenção em saúde com o fornecimento de uma atenção
integral, através da melhora da saúde mental e física, baseada em
ações de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças. Além da
atenção integral, houve aumento do grau de cobertura à saúde por
meio de um acesso universal e gratuito, com igualdade de acesso.
O financiamento ocorre com base na tributação geral e há
predominância da propriedade pública dos serviços de saúde.

Um dos principais diferenciais do modelo é a Atenção Primária à


Saúde (APS) como porta de entrada do sistema, responsável, entre
outras coisas, pela coordenação do cuidado, como visto na última
apostila. O Estado tem papel fundamental no controle, gestão e
financiamento do sistema.

Vamos ver agora, como esse tipo de sistema tem funcionado na


prática, na Inglaterra.

SISTEMA DE SAÚDE INGLÊS

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• National Health Service (NHS).


• Universal e igualitário.
• Atuação preventiva e curativa - semelhante ao nosso SUS.
• Recursos através da arrecadação de impostos (administração
separada entre Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de
Gales).

REFLEXOS DO MODELO BEVERIDGIANO NO BRASIL


O Sistema Único de Saúde tem grande influência do modelo
beveridgiano e demonstra ser uma forma inteligente de garantir
acesso (cerca de 60 a 75% da população brasileira é atendida via
SUS), mas com gastos públicos totais de apenas 43,3% dos total de
gastos em saúde no país (menor do que os gastos em saúde
privada).

A penetrância do modelo beveridgiano no Brasil também é vista na


predominância estatal do serviços de saúde, com os cuidados
oferecidos principalmente na APS. Apesar de ocorrer uma
crescente contratação de Organizações Sociais de Saúde
(entidades sem fins lucrativos e que também têm sido alvo de
questões das provas de São Paulo) para a gestão da Atenção
Primária, a maior parte das unidades básicas de saúde são de
administração municipal direta.

O cuidado especializado é referenciado, via APS, tendo, porém, uma


fila de espera para acesso a especialistas e alguns recursos

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diagnósticos. O SUS financia, via Fundo de Ações Estratégicas e


Compensações (Faec) - uma subdivisão do Fundo Nacional de
Saúde - procedimentos de média e alta complexidade, como:
hemodiálise, transplantes e medicamentos de alto custo
(eritropoietina humana recombinante, por exemplo).

Por fim, a parcela da assistência que menos apresenta


características beveridgeanas desenvolvidas é a atenção
ambulatorial especializada e o cuidado hospitalar (em que metade
das internações hospitalares ocorrem em instituições públicas de
administração direta, enquanto a outra metade, em instituições
privadas - filantrópicas conveniadas ou lucrativas).

MODELO SEMASHKO

Nikolai Aleksandrovich Semashko foi um médico russo que se


tornou ministro da saúde da União Soviética no início do século XX.

Esse sistema adotava a mesma lógica operacional do sistema


beveridgiano. Ou seja, era um sistema universal. A principal
diferença para o sistema inglês era na centralização do poder. Seu
financiamento era feito diretamente pelo Estado, de modo
centralizado e com alto grau de normatização.

Agora que já temos essa bagagem teórica, vamos entender,


historicamente, como o sistema de saúde do Brasil mudou, até
chegar no nosso Sistema Único de Saúde!

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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SAÚDE NO


BRASIL

Aos amantes de história radicados na medicina, agora é a hora! Não


há como falar sobre a estruturação da saúde no Brasil sem
discutirmos as influências internacionais da época, o momento
político e do exercício da cidadania. Para isso, vamos começar a
“costurar” a nossa linha do tempo de maneira mais complexa.

A primeira pergunta é: “Será que a saúde sempre foi tratada como


prioridade dentre as políticas públicas no Brasil?”

Não!

As políticas públicas têm relação direta com aquilo que o Estado


prioriza em relação aos problemas sociais. Essa agenda de políticas
é continuamente negociada, como uma forma de resposta do
Estado ao conjunto de demandas da sociedade. Portanto, a política
pública de uma certa época reflete o momento histórico na qual
ela foi criada. Para isso, é levado em consideração o momento
econômico, os avanços do conhecimento científico e o poder de
determinadas classes sociais de influenciarem na política.

No Brasil, devido às crises econômicas e políticas, o processo de


cidadania foi instaurado de forma atrasada, o que explica a
desigualdade de acesso à saúde durante o século XX. O SUS é
resultado de uma longa trajetória de lutas, mudanças políticas e
uma prova de força da cidadania brasileira.

Vamos agora abordar cada época histórica do Brasil. Começando


pela República Velha!

Ao longo do capítulo, vamos montar nossa linha do tempo,


mostrando quando se deu a criação de cada tipologia de sistema
de saúde (primeira linha), qual a era política vigente no Brasil

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(segunda linha) e qual o modelo de sistema de saúde vigente no


Brasil (terceira linha).

REPÚBLICA VELHA (1889-1933)

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Durante a República Velha, o país era governado por oligarquias


dos estados mais ricos (SP, RJ e MG). Cabia aos fazendeiros um
poder centralizado de decisão sobre a administração federal.

ATÉ 1923 - MODELO CAMPANHISTA


Em relação à saúde, o principal problema eram as epidemias - que
matavam boa parcela da população e um dos motivos da

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diminuição da quantidade de pessoas dispostas a vir para o Brasil,


sendo necessário, portanto, estabelecer medidas para o
enfrentamento da situação. Para isso, foram criados serviços e
programas de saúde pública a nível nacional (centralizado),
principalmente durante a administração de Oswaldo Cruz (médico
sanitarista que ocupava a Diretoria Geral de Saúde Pública).

A estratégia ocorreu através da instauração de “Campanhas


Sanitárias” para o enfrentamento de epidemias (e mais
tardiamente também de endemias rurais), um período conturbado
de intervenção médica no âmbito individual e coletivo. A política
em saúde era bastante intervencionista (com retirada à força da
população de ambientes a serem sanitizados, obrigatoriedade
vacinal e tudo sendo acompanhado por vigilância policial). Esse
tipo de atuação é bem compatível com o modelo político da época,
portanto, sugerimos que vocês sempre tracem paralelos e
busquem a coerência com o momento em que ocorreu.

Em relação à assistência, as classes que poderiam pagar um


profissional registrado em medicina eram atendidas por esses
médicos, enquanto os demais eram assistidos por hospitais
filantrópicos ou pela medicina caseira.

DE 1923 A 1933 - CAIXAS DE APOSENTADORIAS E PENSÕES


Por volta dos anos 20, com o crescimento e organização da classe
operária-sindical nas grandes cidades, houve uma pressão social
sobre o Estado, culminando no início da Previdência Social - em
1923 e a formação das CAPs (Caixas de Aposentadoria e Pensões -
1923-1930). Esta organização foi influenciada pelo modelo
bismarckiano, vigente na Alemanha e de onde recebemos parte
dos imigrantes da época.

As CAPs eram gerenciadas por empresas privadas, responsáveis


pela organização dos benefícios dos trabalhadores (aposentadorias)
e assistência à saúde de empregados de empresas específicas. O

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Aspectos Históricos do SUS PREV

custeio das CAPs era feito em parte por empregadores e, em parte,


por empregados - tal qual sugere o modelo bismarckiano.

ERA VARGAS (1930-1945) E O PERÍODO DE


REDEMOCRATIZAÇÃO (1945-1964)

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Em decorrência da crise de 1929, os oligarcas perderam destaque


no cenário político nacional, dando fundamento à Revolução de
1930. Um aspecto importante da Revolução foi a participação das
camadas médias: intelectuais, militares e profissionais liberais (um
incremento na organização e participação popular).

Foi na “Era Vargas” que ocorreu a criação do Ministério do


Trabalho e da legislação trabalhista. A saúde ainda era muito
centralizada, mas houve progressos em relação à expansão para o
interior e organização dos departamentos estaduais de saúde (um
primeiro passo no processo de descentralização, mesmo que muito
primitivo).

O ganho de força política de outras classes de trabalhadores


culminou com a criação dos IAPs (Institutos de Aposentadorias e
Pensões - 1933-1966). Os IAPs eram financiados pelos
empregadores, empregados e, diferentemente das CAPs, também
pelo Estado. O governo indicava o presidente do conselho de
administração dos IAPs, ocorrendo um controle governamental.

O período de Redemocratização, ocorrido entre 1945 e 1964, foi


influenciado pela vitória dos EUA e dos Aliados na Segunda Guerra,
o que enfraqueceu a política ditatorial de Vargas, ao passo que
favoreceu uma política mais liberal no Brasil - impulsionada pela
pressão social de melhorar as condições de vida e facilitada pela
entrada de capital estrangeiro para o desenvolvimento do país (o
cenário estava favorável). Em relação à influência externa dos
Aliados, em 1942 houve a criação do SESP (Serviço Especial em
Saúde Pública), através de um acordo Brasil-EUA, além da criação
do Ministério da Saúde em 1953 (que nessa época atuava de forma
restrita em ações sanitárias, enquanto as assistenciais eram de
responsabilidade dos IAPs) . O SESP era custoso e sofisticado, bem
parecido com o vigente nos EUA (influência smithiana), não sendo
compatível com a realidade nacional. A insatisfação da prestação

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Aspectos Históricos do SUS PREV

de serviços de alguns IAPs deu margem para a implementação dos


primeiros serviços privados no país, impulsionada pelo cenário
político dos anos 60.

Nesse período, ainda, o modelo beveridgiano (e outros modelos de


seguridade social) ganhavam força na Europa. No Brasil, havia clara
insatisfação em relação à saúde e um movimento popular ocorreu
nos anos 60 a fim de pressionar o Estado a realizar uma Reforma
Sanitária coerente para a época. Curiosos para saber a resposta a
esse movimento? Ditadura militar!

DITADURA MILITAR (1964-1985)

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Com a revolução de 1964, os militares assumiram o comando da


política no Brasil. Muitos dos líderes da reforma sanitária ensaiada
nos anos 60 foram classificados como Comunistas Internacionais e
punidos. O movimento foi freado temporariamente, mas as
mudanças continuaram a ocorrer (acompanhadas de muitos
retrocessos, também).

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Do ponto de vista político, houve destaque para a centralização do


poder, privilegiando o Poder Executivo em detrimento do
Legislativo e Judiciário.

No campo econômico, vivenciamos o “Milagre Econômico”, um


período de elevação do PIB em decorrência da produtividade
nacional, mas também através de políticas que reduziram o salário-
mínimo e as conquistas trabalhistas, tudo isso promoveu maior
concentração de renda e empobrecimento da população.

Já na saúde, diante de todo esse cenário, houve aumento da


morbimortalidade no período, principalmente decorrente de
epidemias - favorecidas pela vulnerabilidade social dos estratos
mais pobres da sociedade. A administração militar reduziu os
investimentos em saúde pública, com priorização do atendimento
individual em relação ao coletivo. Em relação à gestão, em 1966,
houve a fusão dos IAPs e surgimento do INPS (Instituto Nacional
de Previdência Social - 1966-1977). Ocorreu uma centralização
administrativa e financeira neste instituto, com regulação estatal,
diminuindo a participação dos trabalhadores na gestão do sistema.

A cobertura da previdência apresentou uma expansão para todos


os trabalhadores formais, acompanhada pelo aumento da
assistência médica. Até então, essa assistência era prestada por
rede de serviços próprios dos IAPs. A partir da criação do INPS,
priorizou-se a terceirização da saúde, ocorrendo contratação de
serviços privados de saúde, com caráter curativo, individual e
especializado, tendo poucas ações preventivas e de saúde pública
(que eram atribuições do Ministério da Saúde). Foi um período de
estímulo ao crescimento da saúde suplementar e desenvolvimento
do modelo médico-industrial. O sistema de saúde era público,
porém não universal (somente para quem contribuía com a
previdência), muito centralizado e individualista.

Com a gestão fragilizada e o aumento da cobertura, o INPS não


demonstrou sustentabilidade, faliu e abriu espaço ao INAMPS

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Aspectos Históricos do SUS PREV

(Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social, em


1977).

NOVA REPÚBLICA (1985-DIAS ATUAIS)

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Após a falência do regime militar, o país estava em crise. A


sociedade voltou a se mobilizar para exigir eleições diretas,
liberdade e democracia.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Na saúde, o contexto foi favorável a mudanças, uma vez que o


aumento da cobertura assistencial, encarecimento do atendimento
pelo desenvolvimento de tecnologias mais complexas e a gestão
insatisfatória, tornaram o sistema de saúde vigente muito caro.
Apesar de medidas para redução de custos, o movimento de
expansão de acesso à saúde estava acelerado.

Prognosticando a insustentabilidade do sistema de saúde,


correntes ideológicas ganharam força com base na crítica do
modelo hospitalocêntrico, requerendo prioridade do setor público
(tendo em vista o forte estímulo ao setor privado nos períodos
anteriores) e foco na atenção primária à saúde, influenciado pela
tipologia beveridgiana e pela Conferência Internacional sobre
Cuidados Primários à Saúde.

Esta conferência ocorreu em Alma-Ata no ano de 1978, com


elaboração da Declaração de Alma-Ata, que colocava a Atenção
Primária como base dos sistemas de saúde, tendo a participação
dos indivíduos, da comunidade e de outros setores (como da
educação) nos cuidados, levando em conta a desigualdade da
saúde dentro e entre os países, além da necessidade de cooperação
entre os povos. Foi nesse contexto que surgiu o Movimento
Sanitário Brasileiro.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Em 1986, com as discussões já aquecidas sobre a necessidade de


mudança em saúde, ocorreu a VIII Conferência Nacional de
Saúde, um “divisor de águas” na evolução do conceito de saúde no
país. Na Conferência, representantes da Reforma Sanitária
defenderam a saúde como sendo: “resultante das condições de
alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,
transporte, lazer, liberdade, acesso e posse de terra e acesso a
serviços de saúde”. Foi a base de discussão para a Assembleia
Constituinte que, em 1988, aprovou a atual Constituição. Só que
dessa vez, incluiu, pela primeira vez, uma seção somente para a
Saúde.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Imagem 1. VIII Conferência Nacional de Saúde - um marco histórico e


um passo essencial para o surgimento do SUS.

Durante a elaboração da Constituição, uma outra iniciativa em


saúde foi executada - o SUDS (Sistema Unificado e Descentralizado
em Saúde) - um modelo transicional entre INAMPS e o SUS. O
SUDS foi uma iniciativa do INAMPS em “universalizar” a assistência,
não garantindo saúde apenas àqueles que tinham emprego formal
com carteira assinada.

Em 1988, é promulgada a Constituição Federal.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Imagem 2. Importância da participação popular na fundamentação


da Constituição de 1988 - “Constituinte sem povo, não cria nada de
novo”.

E, desde então:

Olhem toda a história, todas as influências, lutas e conquistas para


que tivéssemos um Sistema de Saúde de atenção integral e acesso
universal. É esse sentimento de vitória que faz com que
especialistas em saúde pública se orgulhem ao falar do SUS,
mesmo cientes das falhas e pontos de melhora. O SUS representa
uma evolução política, econômica e, principalmente, social.

36
Aspectos Históricos do SUS PREV

A BASE LEGAL DO SUS

Com a Constituição de 1988, criamos o Sistema Único de Saúde… na


teoria! Chegou a hora de regulamentá-lo através de uma Lei
Orgânica. Três documentos formam o que chamamos de “base
legal do SUS”, eles foram os responsáveis por expressar os
elementos básicos que estruturam e organizam o nosso sistema.

Nesta parte da apostila, vamos discutir os aspectos relevantes


desses três documentos para as provas de residência. Se vocês
lerem todos eles na íntegra, vão notar que existem várias alterações
- afinal de contas, o conhecimento sobre o que funciona ou não
funciona, do ponto de vista de gestão e financiamento, mudou ao
longo dos mais de 30 anos em que foram escritos. Mas acalmem
esses corações, a história recente da saúde no Brasil será discutida
no próximo capítulo - Sistema Único de Saúde - Evolução do SUS.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

O que continua irretocável desde a época em que foram escritos é


a definição do que é o Sistema Único de Saúde e todos os conceitos
que fundamentam a sua essência. É exatamente isso que veremos
agora.

PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DO SUS - UM DOS


ASSUNTOS MAIS COBRADOS NAS PROVAS DE
PREVENTIVA

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Antes de começar, vamos entender o que é um princípio e diretriz


(e como eles podem ser também chamados).

Os princípios do SUS são os alicerces do sistema de saúde brasileiro,


representando os valores, lutas e preceitos ideológicos. São os
valores que escolhemos para orientar todas as políticas de saúde do
país.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Prestem atenção na última frase, pois ela é potente: Todas as


políticas e ações em saúde no país precisam respeitar os princípios
do SUS! Todas!

Um exemplo muito claro disso é olharmos para a luta histórica para


termos saúde para todos. E isso foi conseguido através da força
popular que influenciou a redação da Constituição de 1988,
portanto, um princípio que não “abriríamos mão” é a
Universalidade… e esse raciocínio é aplicado para todos os outros
que foram selecionados como “raízes”.

As Diretrizes do SUS são os meios, articulados com os princípios,


para organizarmos o sistema.

Um exemplo disso é a Descentralização (um outro princípio).


É através de uma gestão que permite a descentralização política,
administrativa e financeira da União aos estados e municípios que
conseguimos garantir um melhor reconhecimento das
necessidades da população (tão heterogênea no Brasil) e promover
a integralidade.

Mas calma lá, Medway! Já ouvi falar do termo Princípios Ético/


Doutrinários e Princípios Organizativos, o que isso significa?

Galera, a base legal do SUS é um tanto confusa em definir o que


realmente é Princípio ou Diretriz. Porém, a forma que iremos
apresentá-los a vocês é como eles aparecem nas provas e bem
difundida por especialistas da área, certo?

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Aspectos Históricos do SUS PREV

PRINCÍPIOS ÉTICO/DOUTRINÁRIOS

1. Universalidade

A Constituição Federal, ao prever a saúde como direito social e


dever do Estado, criou o Sistema Único de Saúde com uma
característica que o torna um dos maiores e mais ambiciosos
programas sociais do mundo: a universalidade de cobertura (art.
196 e seguintes da Constituição Federal).

O art. 2º da Lei 8.080/1990 também prevê a universalidade de


acesso ao SUS. Vale dizer, não se pode impor qualquer tipo de
obstáculo ao acesso ao SUS, ele se destina ao atendimento de
toda a população, aí incluídos os estrangeiros em território nacional.

Um erro conceitual sobre universalidade é associá-la à gratuidade


do sistema. Mas por que é errado? A partir do momento em que
saúde é um direito da população, não podemos fazer esta

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Aspectos Históricos do SUS PREV

associação. Ser gratuito significa apenas que o Estado está


cumprindo seu dever, previsto na Constituição.

Atenção para um ponto sobre universalidade que tem sido cobrado


de maneira tímida, mas difícil, nas provas:

Outros países do mundo apresentam um conceito diferente do


nosso em relação à universalidade. Enquanto entendemos que o
nosso é um sistema universal e de atenção integral,
internacionalmente, tem crescido o debate sobre o conceito de
Cobertura Universal de Saúde (principalmente reforçado após a
Declaração de Astana - realizada em 2018). O conceito de Cobertura
Universal de Saúde surgiu a partir do conhecimento de que, pelo
menos, metade da população mundial (isso mesmo, pelo menos
METADE) não possui acesso a serviços básicos de saúde - como
saúde infantil, materno-fetal ou assistência a doenças crônicas não-
transmissíveis. A proposta, firmada pelos países na Declaração de
Astana, é que todos os países ofereçam uma cobertura universal à
saúde para suas populações, através de uma cobertura financeira
obtida a partir da contratação de seguro (privado ou público) que
seria responsável por fornecer uma “cesta” de serviços básicos,
principalmente no âmbito da Atenção Primária à Saúde; ou seja,
permitindo uma maior entrada do serviço privado de saúde em
grandes populações e descaracterizando o que conhecemos aqui
como integralidade e universalidade.

Mas calma, isso pode fazer muito sentido num contexto


internacional, onde os gastos em saúde são as principais causas de
falência das pessoas e poucos têm acesso aos serviços mais básicos
de saúde, mas aqui, o SUS está “protegido” por uma base legal.
Notem a importância de firmarmos raízes dentro desses
documentos elementares.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

1. Equidade - o mais cobrado dentre os Princípios

Atenção! Esse cai demais nas provas!

O princípio da equidade surgiu para “batermos de frente” com uma


das principais dores de gerenciar uma população tão heterogênea:
as iniquidades sociais e econômicas. Equidade, por definição, diz
respeito ao "senso de justiça”, ou seja, é através desse princípio
que iremos priorizar aqueles que apresentam maiores
vulnerabilidades a fim de garantir, no fim das contas, uma
igualdade de acesso ao sistema. Nesse sentido, as diferenças entre
grupos populacionais e indivíduos devem ser consideradas pelos

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Aspectos Históricos do SUS PREV

serviços de saúde, priorizando os de maior necessidade devido a


situações de risco ou condições de vida e saúde.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Alguns programas do SUS têm o intuito de promover a equidade


para algumas populações vulneráveis:

Imagem 3. Exemplos de programas específicos para equidade,


Ministério da Saúde.

Justíssimo!

Igualdade ou Equidade?

A preocupação inicial, na base legal do SUS, era garantir a


igualdade, visto que todos os brasileiros teriam o direito de acesso
ao sistema de saúde. Mas, a realidade é outra e, quando passamos a
confrontá-la, a igualdade não era o suficiente para fazer frente às
diferenças regionais ou de grupos populacionais e vencer os
determinantes sociais em saúde. A equidade surge como um “
espaço regulador” dessas diferenças, no sentido de reduzir ou
atentar para iniquidades ou diferenças.

Contudo, o termo igualdade vigora na Constituição, junto ao


conceito de universalidade.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

1. Integralidade

Lembram que vimos anteriormente que o sistema público de


saúde era voltado apenas para saneamento? Ou que, na ditadura
Militar, era muito direcionado ao modelo hospitalocêntrico,
deixando às margens as medidas de cunho coletivo e preventivo?

A integralidade surge como um Princípio Ético/Doutrinário para


acabar com a ideia de que existem sistemas diferentes. Nosso
sistema é único e irá disponibilizar serviços que atendam às
necessidades populacionais em saúde. Neste contexto, a Lei 8080
define o termo como “integralidade de assistência, entendida
como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços

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Aspectos Históricos do SUS PREV

preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para


cada caso, em todos os níveis de complexidade do sistema”.

Resumindo, é disponibilizar assistência para o indivíduo de modo


que se resolva todas suas demandas, ocorrendo uma integração
entre promoção, prevenção, tratamento e reabilitação, articulando-
se nos diferentes níveis de atenção do sistema.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS

1. Descentralização e comando único

A Constituição define que o SUS deve se organizar a partir da


descentralização, com direção única em cada esfera de governo
(Brasil, 1988: 63).

O princípio corresponde a uma distribuição do poder político, de


responsabilidades e de recursos da esfera federal, em direção a
estadual e municipal. Desta forma, há uma desconcentração do
poder da União para os estados e municípios. Assim, os municípios,
estados e União apresentam autonomia e soberania para tomarem
decisões no nível de gestão a que são responsáveis (comando
único), existindo, também, a possibilidade de parceria entre eles.

Mas, atenção: isso não aconteceu da noite para o dia! Imaginem


chegar para o gestor de um município no interior do Brasil, nos
anos 90, e dizer: “Oi amigo, a partir de hoje, você é o principal
responsável por conduzir as ações de saúde no município - na
gestão, política e financiamento. Aqui está um livro para você
estudar e é só seguir que vai dar certo. Um abraço!”.

Houve todo um processo de delegação progressiva para que os


gestores estaduais e municipais implementassem, com tempo, as
mudanças que culminaram na descentralização. Iremos discutir,
mais adiante, como isso aconteceu e como estamos hoje.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Mas qual é a lógica de descentralizar?

O gestor municipal é quem conhece, de maneira mais profunda e


precisa as reais necessidades da população pela qual é responsável.
Nada mais justo que haja maior autonomia e responsabilidade na
instância municipal.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Imagem 4. Representação da descentralização.

1. Regionalização e Hierarquização

A lei 8.080 dispõe sobre a necessidade da rede de serviços se


organizar a partir dos princípios de regionalização e hierarquização.

A regionalização objetiva uma apropriada distribuição de serviços


para a promoção da equidade de acesso, otimização dos recursos e
racionalidade de gastos, sendo uma forma de focarmos a
organização do sistema a partir da noção de território.

Veremos no capítulo de Evolução do SUS como isso foi organizado,


no que chamamos de Regiões de Saúde. Por enquanto, guardem
apenas o conceito de regionalização, mesmo. Mas que tal se
entendermos isso a partir de um exemplo prático?

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Imagem 5. Mapa do Alto Vale do Itajaí - SC.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Era essa a ideia original de regionalização, que também passou por


mudanças, a partir da concepção de Regiões em Saúde (que foi
estabelecida no Decreto 7.508/2011 - que veremos detalhadamente
no próximo capítulo).

Mas e os partos, cirurgias, atendimento especializado, leitos de UTI?

Bom, aí é que entra a organização dos serviços de saúde em níveis


de complexidade, com hierarquização. O fato de a regionalização
ser norteada por hierarquização dos níveis de complexidade,
permite que as necessidades de saúde das pessoas sejam supridas
- sustentando a integralidade. A organização de forma
hierarquizada deve atender desde as medidas de promoção,
prevenção e atendimentos básicos (geralmente feitas em cada
município, através da APS), até atendimentos que necessitam de

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Aspectos Históricos do SUS PREV

maior utilização de tecnologias duras (recursos diagnósticos,


internações em UTI, cirurgias).

Para que ocorra a hierarquização, geralmente há extrapolação dos


limites do município, sendo necessário o estabelecimento de
convênios com outros municípios para atendimento das demandas
de saúde de seus cidadãos. Uma das formas de executar essa ação
é através de uma pactuação feita em Comissão Intergestores
Bipartite (com representantes das secretarias municipais
envolvidas, junto à secretaria estadual). A partir dessa pactuação,
são estabelecidos fluxos de referência e contra referência
intermunicipais.

Voltamos ao exemplo:

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Imagem 6. Mapa do Alto Vale do Itajaí - SC.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Imagem 7. Modelo esquemático da hierarquização dos serviços. O


decreto 7.508 regulamenta esse princípio. Veremos adiante!

1. Participação Popular

Depois de tudo que falamos sobre o Movimento e a Reforma


Sanitária, era de se esperar que a participação popular fosse
valorizada no SUS. A proposta era justamente construir uma
abertura democrática e mais justa, de forma participativa,
questionando o passado de opressão e desigualdade.

A partir disso, a participação popular tornou-se uma diretriz na


forma de organização e operacionalização do SUS, em todas as
suas esferas.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Na VIII Conferência Nacional de Saúde, a participação popular


aparece como: “Participação da população, na formulação da
política, planejamento, gestão, execução e avaliação das ações de
saúde”.

Em dezembro de 1990, foi aprovada a Lei 8.142 - que tratou a


respeito de como seria organizada essa participação, além de
definir os recursos financeiros para financiamento do sistema.

LEI 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990

Galera, após a Constituição de 1988, houve a necessidade de


regulamentar o que estava descrito nos artigos 196 a 200. Para isso,
é publicada, em 1990, a primeira Lei Orgânica da Saúde - a famosa
Lei 8.080: “Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras
providências.”

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Ela é extensa, mas precisamos discutir alguns pontos específicos


que ela traz:

“Vish, mas precisa mesmo entender de leis? É maçante, é chato, é


difícil de ler.”

Calma, meu povo, vamos lendo e guiando vocês para decodificar


tudo isso. A resposta quanto a pergunta anterior é: Sim, pelo
menos esses principais pontos. Principalmente porque vocês quase
não foram atrás disso na faculdade e chegam muito deficientes nas

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Aspectos Históricos do SUS PREV

provas - de onde formulam questões seguras e praticamente


extraídas, na íntegra, das leis.

Passem um cafézinho aí e bora!

DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo
o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e


execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de
riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de
condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e
aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.

§ 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das


empresas e da sociedade.

Art. 3° Os níveis de saúde expressam a organização social e


econômica do País, tendo a saúde como determinantes e

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Aspectos Históricos do SUS PREV

condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o


saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a
educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos
bens e serviços essenciais (Redação dada pela Lei nº 12.864, de
2013).

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por


força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às
pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e
social.

Disposição Preliminar:
Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por
órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da
Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo
Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS).

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Aspectos Históricos do SUS PREV

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Aspectos Históricos do SUS PREV

§ 1º Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas


federais, estaduais e municipais de controle de qualidade, pesquisa
e produção de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e
hemoderivados, e de equipamentos para saúde.

§ 2º A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de


Saúde (SUS), em caráter complementar.

ATRIBUIÇÕES COMUNS A TODAS AS ESFERAS

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


exercerão, em seu âmbito administrativo, as seguintes atribuições:

1. Definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação


e de fiscalização das ações e serviços de saúde;

1. Administração dos recursos orçamentários e financeiros


destinados, em cada ano, à saúde;

1. Acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de


saúde da população e das condições ambientais;

1. Organização e coordenação do sistema de informação de


saúde;

1. Elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões


de qualidade e parâmetros de custos que caracterizam a
assistência à saúde;

1. Elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões


de qualidade para promoção da saúde do trabalhador;

1. Participação de formulação da política e da execução das


ações de saneamento básico e colaboração na proteção e
recuperação do meio ambiente;

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Aspectos Históricos do SUS PREV

1. Elaboração e atualização periódica do plano de saúde;

1. Participação na formulação e na execução da política de


formação e desenvolvimento de recursos humanos para a
saúde;

1. Elaboração da proposta orçamentária do Sistema Único de


Saúde (SUS), de conformidade com o plano de saúde;

1. Elaboração de normas para regular as atividades de serviços


privados de saúde, tendo em vista a sua relevância pública;

1. Realização de operações externas de natureza financeira de


interesse da saúde, autorizadas pelo Senado Federal;

1. Para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e


transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente,
de calamidade pública ou de irrupção de epidemias, a
autoridade competente da esfera administrativa
correspondente poderá requisitar bens e serviços, tanto de
pessoas naturais como de jurídicas, sendo-lhes assegurada
justa indenização;

1. Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e


Derivados;

65
Aspectos Históricos do SUS PREV

1. Propor a celebração de convênios, acordos e protocolos


internacionais relativos à saúde, saneamento e meio
ambiente;

1. Elaborar normas técnico-científicas de promoção, proteção e


recuperação da saúde;

1. Promover articulação com os órgãos de fiscalização do


exercício profissional e outras entidades representativas da
sociedade civil para a definição e controle dos padrões éticos
para pesquisa, ações e serviços de saúde;

1. Promover a articulação da política e dos planos de saúde;

1. Realizar pesquisas e estudos na área de saúde;

1. Definir as instâncias e mecanismos de controle e fiscalização


inerentes ao poder de polícia sanitária;

1. Fomentar, coordenar e executar programas e projetos


estratégicos e de atendimento emergencial.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

COMPLEMENTARIDADE DO SETOR PRIVADO


A complementaridade do setor privado é tão relevante pro SUS
que, em algumas literaturas, recebe o destaque de diretriz
organizacional. Vamos começar fazendo uma distinção importante!

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Aspectos Históricos do SUS PREV

O que está escrito na Lei?

Parágrafo único. A participação complementar dos serviços


privados será formalizada mediante contrato ou convênio,
observadas, a respeito, as normas de direito público.

68
Aspectos Históricos do SUS PREV

Art. 25. Na hipótese do artigo anterior, as entidades filantrópicas e


as sem fins lucrativos terão preferência para participar do
Sistema Único de Saúde (SUS).

69
Aspectos Históricos do SUS PREV

Art. 26. Os critérios e valores para a remuneração de serviços e os


parâmetros de cobertura assistencial serão estabelecidos pela
direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), aprovados no
Conselho Nacional de Saúde.

§ 1° Na fixação dos critérios, valores, formas de reajuste e de


pagamento da remuneração aludida neste artigo, a direção

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Aspectos Históricos do SUS PREV

nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) deverá fundamentar seu


ato em demonstrativo econômico-financeiro que garanta a efetiva
qualidade de execução dos serviços contratados.

§ 2° Os serviços contratados submeter-se-ão às normas técnicas


e administrativas e aos princípios e diretrizes do Sistema Único
de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio econômico e financeiro do
contrato.

§ 3° (Vetado).

§ 4° Aos proprietários, administradores e dirigentes de entidades ou


serviços contratados é vedado exercer cargo de chefia ou função de
confiança no Sistema Único de Saúde (SUS).

VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Galera, se teve um assunto que caiu de maneira constante em
várias provas de São Paulo foi atuação da Vigilância Sanitária!

Iremos definir as ações de cada vigilância em saúde prevista na Lei


8.080, com ênfase à Vigilância Sanitária. A Vigilância
Epidemiológica será melhor explorada na apostila de Notificação e
a do Trabalhador, na de Vigilância em Saúde do Trabalhador.

71
Aspectos Históricos do SUS PREV

Vigilância Sanitária

§ 1º Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz


de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos
problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção
e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da
saúde, abrangendo:

1. O controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente,


se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e
processos, da produção ao consumo; e

1. O controle da prestação de serviços que se relacionam direta


ou indiretamente com a saúde.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Vigilância Epidemiológica
§ 2º Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de
ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou
prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e
condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de
recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das
doenças ou agravos.

73
Aspectos Históricos do SUS PREV

Vigilância de Saúde do Trabalhador


§ 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um
conjunto de atividades que se destina, através das ações de
vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e
proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à

74
Aspectos Históricos do SUS PREV

recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos


aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho.

Além dessas três, temos ainda algumas outras vigilâncias que


também podem ser citadas nas provas. Separamos a tabela a
seguir para que vocês não deixem de aprofundar no tema. Como
vocês perceberam no trecho que trouxemos, a lei 8.080 chega a
citar a vigilância nutricional, e a assistência terapêutica integral,
mas não a vigilância em saúde ambiental. Ao longo da lei, a
importância de olhar para o meio ambiente é citada em vários
momentos, mas não a vigilância em si.

75
Aspectos Históricos do SUS PREV

Organizamos em um quadro o conceito das outras três vigilâncias!

LEI 8.142, DE 28 DE DEZEMBRO DE 1990

A Lei 8.142, no que tange à participação popular, diz o seguinte (na


íntegra):

Art. 1° O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n° 8.080,


de 19 de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo,
sem prejuízo das funções do Poder Legislativo, com as seguintes
instâncias colegiadas:

1. a Conferência de Saúde; e

1. o Conselho de Saúde.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

§ 1° A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a


representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação
de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de
saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder
Executivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de
Saúde.

77
Aspectos Históricos do SUS PREV

§ 2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo,


órgão colegiado composto por representantes do governo,
prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua
na formulação de estratégias e no controle da execução da
política de saúde na instância correspondente, inclusive nos
aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão
homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em
cada esfera do governo.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

§ 3° O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o


Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems)
terão representação no Conselho Nacional de Saúde.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

§ 4° A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e


Conferências será paritária em relação ao conjunto dos demais
segmentos.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

§ 5° As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde terão sua


organização e normas de funcionamento definidas em regimento
próprio, aprovadas pelo respectivo conselho.

Agora, em relação às transferências intergovernamentais de


recursos financeiros:

Art. 2° Os recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) serão


alocados como:

1. despesas de custeio e de capital do Ministério da Saúde, seus


órgãos e entidades, da administração direta e indireta;
2. investimentos previstos em lei orçamentária, de iniciativa do
Poder Legislativo e aprovados pelo Congresso Nacional;
3. investimentos previstos no Plano Quinquenal do Ministério da
Saúde;
4. cobertura das ações e serviços de saúde a serem
implementados pelos Municípios, Estados e Distrito Federal.

Parágrafo único. Os recursos referidos no inciso IV deste artigo


destinar-se-ão a investimentos na rede de serviços, à cobertura
assistencial ambulatorial e hospitalar e às demais ações de saúde.

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Aspectos Históricos do SUS PREV

Art. 3° Os recursos referidos no inciso IV do art. 2° desta lei serão


repassados de forma regular e automática para os Municípios,
Estados e Distrito Federal, de acordo com os critérios previstos no
art. 35 da Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990.

Art. 4° Para receberem os recursos, de que trata o art. 3° desta lei,


os Municípios, os Estados e o Distrito Federal deverão contar com:

1. Fundo de Saúde;
2. Conselho de Saúde, com composição paritária de acordo com
o Decreto n° 99.438, de 7 de agosto de 1990;
3. Plano de saúde; (aqui vale uma observação, estamos falando
de um plano utilizado para o planejamento em saúde, não
estamos falando de planos privados de saúde da saúde
suplementar)
4. Relatórios de gestão que permitam o controle de que trata o §
4° do art. 33 da Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990;

82
Aspectos Históricos do SUS PREV

5. Contrapartida de recursos para a saúde no respectivo


orçamento;
6. Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e
Salários (PCCS), previsto o prazo de dois anos para sua
implantação.

Parágrafo único. O não atendimento pelos Municípios, ou pelos


Estados, ou pelo Distrito Federal, dos requisitos estabelecidos
neste artigo, implicará em que os recursos concernentes sejam
administrados, respectivamente, pelos Estados ou pela União.

Art. 5° É o Ministério da Saúde, mediante portaria do Ministro de


Estado, autorizado a estabelecer condições para aplicação desta lei.

Art. 6° Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário.

Meu povo, fim da parte 1 do SUS!

Parabéns a todos vocês que chegaram até aqui! Tudo que foi
descrito acima já foi alvo de uma grande quantidade de questões
em São Paulo, portanto, não se sintam tristes ou desmotivados.
Tentamos, ao máximo, deixar esse assunto jurídico mais tranquilo e
atrativo. É importante que vocês construam uma base firme para
que não fiquem reféns na hora das provas.

83
Aspectos Históricos do SUS PREV

Na parte 2, iremos discutir a evolução do SUS até o momento atual!


Forte abraço!

84
Aspectos Históricos do SUS PREV

Bibliografia

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Brasil. Projeto MultiplicaSUS, p. 23-40, 2005.
2. AGUIAR, ZN. SUS: Sistema Único de Saúde - antecedentes,
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4. BRASIL. Lei nº 8080 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre
as condições para a promoção, proteção e recuperação da
saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm
5. BRASIL. Lei nº 8142 de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a
participação da comunidade na gestão do Sistema Único de
Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de
recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l8142.htm
6. Eric C. Schneider et al., Mirror, Mirror 2021 — Reflecting Poorly:
Health Care in the U.S. Compared to Other High-Income
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7. PenseSUS. Conferências de Saúde. [Internet]. Disponível em:
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8. Medicare.gov: the official U.S. government site for Medicare. O
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Disponível em: https://www.medicare.gov/sites/default/files/
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9. MEDICI, AC. O Desafio da Cobertura Universal de Saúde nos
Estados Unidos. 1. ed. EUA: Universal Health Monitor, 2021

85
Aspectos Históricos do SUS PREV

10. NUNES, E. Principais sistemas de saúde no mundo [Internet].


2015. Disponível em:https://www.rets.epsjv.fiocruz.br/biblioteca/
principais-sistemas-de-saude-no-mundo
11. OECD (2021), Estudos da OCDE sobre os Sistemas de Saúde:
Brasil 2021, OECD Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/
f2b7ee85-pt.
12. RICE, Thomas et al. Health reforms in the United States: The
outlook after Biden's first 100 days. Health Policy, v. 125, n. 10, p.
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13. SERAPIONI, M; TESSER, CD. O Sistema de Saúde brasileiro ante
a tipologia internacional: uma discussão prospectiva e
inevitável. Saúde em Debate, v. 43, p. 44-57, 2020.
14. SOUZA JÚNIOR, PRB et al. Cobertura de plano de saúde no
Brasil: análise dos dados da Pesquisa Nacional de Saúde 2013 e
2019. Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, suppl 1, p. 2529-2541, 2021.
15. United States. Health Insurance Coverage in the United States:
2021. United States Census Bureau. 2021. Disponível em:
https://www.census.gov/library/publications/2022/demo/
p60-278.html#:~:text=In%202021%2C%20private%20health%20insurance,
16. WORLD HEALTH ORGANIZATION et al. Declaration of Alma-
Ata. 2000.

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