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Comportamento Mecânico de Polímeros Termoplásticos

"Quase-Frágeis"
Caio Cesar Antunes Cirino
a
Departamento de Engenharia, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Campus Blumenau, 89036-002
Blumenau, SC, Brasil

Informações Resumo
O estudo do comportamento mecânico dos
Avaliação proposta como parte da aprovação na polímeros é de extrema importância para que
disciplina de Resistência e Falha dos Materiais. possamos escolher qual o melhor material para uma
determinada aplicação ou para o desenvolvimento
Prof.Dr. Wanderson Santana da Silva
de novos materiais. Nos polímeros, o
Palavras-chave: comportamento mecânico está diretamente ligado à
Comportamento mecânico estrutura molecular. Parâmetros como
cristalinidade, massa molar, presença de grupos
Polímeros polares, entre outros, têm influência direta em
PMMA como o polímero responde a tensões mecânicas.
Dessa forma, há polímeros que são classificados
PS
como duros e frágeis quando estão sob tensão,
Ensaios mecânicos como é o caso do PMMA, do PS e da Resina
fenólica. Neste trabalho, serão avaliados esses
polímeros com comportamentos frágeis sob ensaios
mecânicos, discutindo seus respectivos resultados
de ensaio e analisando sua estrutura molecular e
química, além de discutir possíveis métodos
capazes de aumentar a ductilidade desses materiais,
como na produção de blendas poliméricas.

possuem cadeias lineares ou ramificadas e os


1. INTRODUÇÃO termofixos, os quais apresentam uma estrutura
Será feito uma breve introdução aos polímeros e
suas características em geral. tridimensional. Tal classificação é explicada com
mais detalhes a seguir:
Polímeros são macromoléculas que
apresentam em sua estrutura molecular unidades a) Termoplástico: é um polímero artificial que, a
relativamente simples que se repetem, ligadas uma dada temperatura, apresenta alta viscosidade,
entre si por ligações covalentes. Este tipo de podendo ser conformado e moldado. Em um
ligação favorece uma grande estabilidade material termoplástico, uma longa cadeia
físico-química, formando longas cadeias e, molecular é interligada através de uma fraca força
portanto, resultando em compostos de alta massa de Van der Waals. Quando o material é aquecido,
molar [1]. a força da ligação intermolecular se enfraquece de
forma a amolecer e tornar o material mais flexível
De acordo com as características referentes à
e, eventualmente, dependendo da temperatura, até
fusibilidade, os polímeros podem ser divididos
derreter o material. Contudo, quando o material é
em dois grupos distintos. Termoplásticos, os quais
resfriado, ele se solidifica novamente. Este ciclo razão, os polímeros são caracterizados
de derretimento e resfriamento do polímero pode principalmente por seu peso molecular. Tanto o
ser feito várias vezes. Entretanto, as propriedades peso molecular quanto a distribuição de pesos
do material variam muito com a temperatura. São moleculares são determinadas pelas condições
exemplos de termoplásticos: polietileno, operacionais da reação, sendo que diferentes
policloreto de vinila, poliestireno, nylon e condições operacionais produzirão polímeros com
celulose. pesos moleculares médios diferentes [1].
b) Termofixo: Material não fusível e insolúvel. Em relação aos aspectos estruturais, os
Tal material é produzido através de uma reação polímeros podem ser classificados como, por
química de dois estágios: o primeiro estágio exemplo, um polímero linear que é aquele onde
resulta na formação de uma longa cadeia cada unidade repetitiva é unida somente a outras
molecular similar a cadeia presente nos duas. Assim como as cadeias lineares, as cadeias
termoplásticos, mas ainda capaz de uma reação cíclicas são formadas por uma sequência contínua
posterior. O segundo estágio da reação química de monômeros, porém uma extremidade da cadeia
(ligação cruzada de cadeias) acontece durante a se junta à outra, formando uma estrutura circular.
moldagem do material, quando se aplica pressão e No polímero ramificado, o monômero se liga a
temperatura. Durante o segundo estágio, as longas mais de dois outros monômeros, sendo que as
cadeias moleculares já foram interligadas com ramificações não são da estrutura do próprio
ligações fortes, assim o material não é derretido monômero e podem apresentar estruturas
com a presença de calor. Contudo, se calor características como, por exemplo, as cadeias do
excessivo for aplicado nesses materiais, eles irão tipo escova (comb-like) e estrela (star-like).
se degradar. Ainda devido às fortes ligações Polímero reticulado (crosslinking) ou em rede é um
químicas, os materiais termofixos são rígidos e polímero ramificado e interconectado entre si,
suas propriedades mecânicas são sensíveis ao formando assim um polímero de massa molecular
calor. São considerados materiais termofixos: infinita e com uma estrutura tridimensional.
resina epóxi, poliéster, fenólicos, melamina Polímeros chamados de dendrímeros (dendrimer)
formaldeído, éster vinil, dentre outros [2]. são uma classe especial de polímeros que
Além do arranjo dimensional, outra apresentam estruturas muito ramificadas e
característica relevante dos polímeros é a variação regulares formados por oligômeros multifuncionais
do peso molecular. Em um material polimérico e moléculas poliméricas por adição de cadeia [3].
pode ser encontrado uma variação estatística de Como consequência imediata da estrutura,
tamanho de cadeia. A variação de tamanho das surgem diferentes propriedades no produto,
cadeias poliméricas apresenta relação direta com especialmente em relação à fusibilidade e
o peso molecular do polímero. É comum um solubilidade. Os polímeros laterais, dificultam a
mesmo tipo de polímero ser comercializado com aproximação das cadeias poliméricas, isso faz
uma ampla variação de peso molecular. com que diminua as interações moleculares, o que
As propriedades mecânicas e o acarreta às propriedades mecânicas,
comportamento do polímero durante o “plastificando” internamente o polímero e
processamento são altamente dependentes do formação de retículos, devido às ligações
tamanho médio e da distribuição de cruzadas entre moléculas [4].
comprimentos das cadeias de polímero. Embora a 1.1 Comportamento mecânico dos
estrutura química do polímero seja igual, pesos polímeros
moleculares diferentes podem mudar O conhecimento sobre o comportamento
completamente as propriedades do polímero, mecânico dos materiais poliméricos é de grande
interferindo nas propriedades físicas, mecânicas, importância na área científica e tecnológica
térmicas, reológicas, e processamento, e por esta quando se está desenvolvendo novos materiais ou
mesmo para os já existentes, pois o projeto e a
fabricação de produtos para várias aplicações de de elasticidade, a resistência ao escoamento e a
engenharia se baseiam principalmente no dureza também aumentam. Portanto, qualquer
comportamento de fratura apresentado por esses variação no procedimento de preparação durante o
materiais [5]. processamento ou de pós-tratamento, tais como
Uma maneira de avaliar esse resfriamento lento ou tratamento térmico, que
comportamento dos polímeros é por meio dos proporciona acréscimo na densidade e na
ensaios de solicitação mecânica sob tração, flexão cristalinidade de um polímero, também aumentará
e compressão, realizados no próprio produto ou a sua resistência à tração.
em corpos de prova de dimensões e formas
específicas padronizados por normas brasileiras Presença de grupos polares: O aumento dos
ou estrangeiras [6]. grupos laterais da cadeia principal tende a diminuir
Nos polímeros, o comportamento os valores da temperatura de transição vítrea (Tg) e
mecânico está relacionado com a estrutura da temperatura de fusão (Tm), o que causa uma
molecular. Por apresentarem ligações primárias redução nos valores do módulo a qualquer
covalentes entre os átomos da cadeia principal e temperatura entre a Tg e a Tm, o que resulta num
ligações secundárias fracas com baixa energia de aumento da flexibilidade.
ligação entre as cadeias poliméricas tais como,
Massa molar: Em geral, à medida que a massa
forças de van der Walls, interações entre dipolos,
molar de um polímero aumenta, a Tg aumenta.
ligações de hidrogênio etc, podem ser
Este aumento é acentuado para faixa de baixas
classificados em termos de rigidez, fragilidade e
massas molares e aproxima-se de um valor
tenacidade [5].
constante à medida que a massa molar atinge um
Os comportamentos típicos apresentados
valor crítico. Entretanto, para a faixa usual de
pelos polímeros em ensaios de tração são
massa molar de muitos termoplásticos, este valor
apresentados a seguir na Figura 1 através da
não tem nem um efeito apreciável sobre a tensão
análise da curva tensão versus deformação em um
no escoamento ou sobre o módulo.
ensaio de tração [5].
Elastômero: A adição de elastômero em polímeros
é feita com o objetivo de promover a tenacificação
de polímeros frágeis. A presença de um elastômero
faz com ocorra redistribuição de tensões aplicadas,
fazendo com que, por exemplo, haja um aumento
no alongamento na ruptura durante um ensaio de
tração, alterando as propriedades mecânicas desses
polímeros.

Reforço com fibras: Considerando-se que a


distribuição de esforços ou tensões em uma matriz
polimérica é uniforme em todos os seus pontos, a
presença de uma segunda fase dispersa nesta
matriz também sentirá a solicitação aplicada no
Figura 1 – Comportamento mecânico dos polímeros sob tensão [7]. conjunto. Se o módulo de elasticidade desta
segunda fase for mais alto que a matriz, o resultado
Vários parâmetros estruturais podem afetar final será um aumento nas propriedades mecânicas
diretamente o desempenho dos polímeros sob do composto, principalmente o módulo de
solicitações mecânicas. Características, tais como: elasticidade e a resistência ao escoamento ou
ruptura. Esse efeito é conhecido como
Cristalinidade: À medida em que o grau de
reforçamento por adição de fibras e é muito
cristalinidade de um polímero aumenta, o módulo
utilizado comercialmente para melhorar o diâmetros na faixa de 0,6 a 30 nm, entre as quais se
desempenho mecânico de polímeros [5]. formam microvazios devido à incompatibilidade de
deformações na vizinhança das fibrilas. Em tensões
1.2 Tipos de fratura em polímeros muito altas, as fibrilas se alongam e rompem,
causando a coalescência e crescimento de
A solicitação aplicada a um polímero é
microvazios e iniciando uma trinca. O processo de
transmitida às ligações químicas de suas cadeias
fratura envolve a formação de microfissuras e a
poliméricas e a tensão resultante é distribuída
superfície apresenta, normalmente, bandas de
desproporcionalmente pelos segmentos da cadeia.
deformação plástica e zonas de rasgamento,
A não-uniformidade na distribuição da tensão é
associadas à rede de vazios e fibras. A ductilidade
maior nos polímeros amorfos do que nos
das fibrilas modifica a textura da superfície de
semicristalinos. Se a tensão solicitante excede a
fratura, onde é possível visualizar uma superfície de
resistência do material, as ligações se quebram,
fratura rugosa após o rompimento, e que se
formando vazios e trincas submicroscópicas ou
desenvolvem, em geral, perpendicularmente ao eixo
microfissuras, que coalescem e dão origem às
de solicitação [5].
trincas, que depois de iniciadas, se propagam até a
ocorrência da falha [8].

A fratura é a separação de um corpo de


prova em duas ou mais partes quando submetidos a
um esforço mecânico. Os materiais, de uma forma
geral, podem falhar de maneira dúctil ou frágil.
Entretanto, é possível que ocorra tanto fratura
frágil como dúctil apresentando características de
mecanismo de fratura mista.
Fratura frágil: ocorre com a propagação
rápida da trinca e o material sofre pouca deformação
plástica. A propagação da trinca ocorre após se Figura 2 - Imagem à esquerda: Fratura Frágil; Imagem à
direita: fratura dúctil [5].
atingir a tensão crítica, ocorrendo a fratura do
material. Esse tipo de fratura é comum aparecer em
polímeros amorfos, principalmente se a fratura 2. Análise do comportamento mecânico dos
ocorre a uma temperatura abaixo da temperatura de polímeros “quase-frágeis” PMMA e HIPS.
transição vítrea destes materiais. Na análise de
polímeros com fratura frágil, é possível identificar, 2.1 PMMA
microscópicamente, que as regiões deformadas são
O polímero acrílico polimetilmetacrilato
caracterizadas por apresentar superfície de fratura
(PMMA) é derivado do ácido acrílico e metacrílico
lisa (Figura 22a) [5].
[5]. O PMMA é um polímero de adição,
Fratura dúctil: nos polímeros, embora termoplástico, linear e amorfo, que, dependendo da
também dependa da propagação da trinca, são bem utilização, pode ser produzido por diversos
mais complexos. No processo de fratura os métodos de polimerização como, por exemplo, em
polímeros dúcteis, apresentam um escoamento das massa ou em suspensão [9]. Ele possui um aspecto
moléculas poliméricas, estiramento a frio das com excelente transparência, boa resistência
moléculas e o estágio final da fratura. A ocorrência mecânica e aos agentes atmosféricos, podendo ser
de deformação plástica localizada é a maior fonte de moldado em forma de objetos plásticos rígidos. O
dissipação de energia. Em deformações monômero metacrilato de metila (MMA), utilizado
suficientemente altas, as cadeias moleculares dão na produção do plástico transparente PMMA, foi
origem a “pacotes” chamados de fibrilas, com descoberto em 1928. O PMMA desde 1931 tem
sido largamente empregado em aplicações comportamento tixotrópico, de acordo com Mano e
industriais e domésticas desde a sua Mendes (2001), ou seja, quando é submetido a uma
comercialização[10]. deformação lenta, mostra o início de um
comportamento newtoniano. Porém, em certa
A partir da necessidade de conferir rigidez velocidade de deformação, mostram uma tendência
e transparência aos polímeros acrílicos, pesquisas a diminuir a viscosidade. O comportamento do poli
foram conduzidas no desenvolvimento do MMA. (metacrilato de metila), submetido ao ensaio de
Empresas como a Rohm e Haas e a Metacril tração apresenta uma curva de tensão-deformação,
fabricam o PMMA no Brasil. Comercialmente o que pode ser visto na Figura 4, típica de material
PMMA é conhecido como Plexiglas, Perspex, frágil. Na temperatura ambiente esse polímero
Plazcryl, Lucite, etc [11]. A estrutura do apresenta de forma quebradiça, porém pode-se
poli(metacrilato de metila) pode ser vista na Figura mostrar uma ductilidade acima de uma temperatura
3. de aproximadamente 35ºC [13].

Esse polímero apresenta alto módulo de


elasticidade ou de Young, cerca de 2700 Mpa
segundo a norma ASTM D788:14. Possui
moderada resistência à ruptura e baixo
alongamento. Observa-se ainda, que a fratura do
Figura 3 - Estrutura do poli(metacrilato de metila) [11]. material ocorre devido a um defeito crítico e
microfissões na superfície do polímero que são
A polimerização via radical livre do MMA
percebidas antes e depois da sua fratura [13].
produz um polímero com alta massa molecular,
resistente ao risco e com excelente transparência
ótica, semelhante ao vidro [11]. Possui um peso
molecular na ordem de 105 a 106 g/mol, densidade
de 1,18 g/cm3 com Temperatura de transição vítrea
de 105 ºC.

A resistência ao impacto do PMMA não é


muito alta, o que limita sua aplicação. Para
melhorar sua resistência mecânica são empregados
artifícios como a copolimerização com polímeros
acrílicos de baixo peso molecular aprimorando o
desempenho mecânico do PMMA. Por outro lado, Figura 4 - Comportamento mecânico do PMMA sob tração
a mistura com elastômeros aumenta a resistência a temperatura de 20ºC [13].
mecânica do PMMA. Estas técnicas resultam na
diminuição da claridade óptica. Para atingir boa O PMMA pode apresentar falha por
propriedade mecânica, sem prejudicar a fadiga sob condições de aplicação de cargas
transparência, os pesquisadores têm investido no cíclicas. A fadiga ocorre em níveis de tensão que
desenvolvimento de nanocompósito. A presença de são baixos em relação ao limite de escoamento. A
nanopartículas dispersas na matriz polimérica é Figura 5 apresenta curvas de fadiga para vários
capaz de melhorar o desempenho mecânico, polímeros, inclusive o PMMA, na forma de
aumentar a estabilidade térmica, propriedades tensão em função do número de ciclos até a falha,
físicas e químicas, sem prejuízo da transparência com frequência de 30Hz. Quando os polímeros
[12]. são submetidos ao ensaio de fadiga com altas
frequências, e/ou a tensões relativamente grandes,
O poli (metacrilato de metila) apresenta um
pode ocorrer um aquecimento localizado no
polímero; consequentemente as falhas podem ser
devidas a um amolecimento do polímero e não
resultando de processos típicos de fadiga [14].
O processo de falha por fadiga possui três
etapas distintas: primeiramente, inicia-se a trinca
em um ponto devido à alta concentração de
tensões; posteriormente a trinca se propaga até
que ocorre a falha devido à trinca ter atingido um
tamanho crítico [14].

Figura 6 - Influência da temperatura de ensaio sobre o


comportamento tensão-deformação do PMMA [14].

2.1.1 Melhorias nas propriedades mecânicas do


PMMA
Em relação ao PMMA podemos destacar
os seguintes parâmetros de modificação
atualmente estudados e utilizados: Tratamento
térmico para alívio de tensões, obtenção de
blendas poliméricas e a introdução de
Figura 5 - Curvas de fadiga para o poli (tereftalato de
etileno) (PET), o náilon, poliestireno (PS), o poli Nanocompósitos.
(metacrilato de metila) (PMMA), o polipropileno (PE) e o Alívio de tensões: Todas as chapas
poli (tetraflúor-etileno) (PTFE) [14].
acrílicas, inclusive as extrusadas a partir da resina
de PMMA, com diferentes graus de intensidade,
O PMMA apresenta mudança no carregam tensões internas ou residuais resultantes
comportamento mecânico de frágil para dúctil dos efeitos térmicos de seus processos de
com a variação da temperatura de ensaio, assim fabricação. Para aliviar as tensões do acrílico são
como a sua nanodureza. As características empregados dois processos distintos:
mecânicas do PMMA são dependentes da Normalização (normalizing) e Recozimento
temperatura de ensaio. Na Figura 6, tem-se o (annealing) [15].
comportamento tensão-deformação para o Na Normalização (normalizing), o
PMMA submetido a várias temperaturas entre 4 e processo de tratamento térmico é utilizado para
60ºC. Várias características são apresentadas chapas ANTES de serem transformadas
como, por exemplo, o aumento da temperatura (usinagem, moldagem ou colagem). Neste
produz uma diminuição do módulo de procedimento, as chapas (como fabricadas) são
elasticidade, uma diminuição do limite de aquecidas uniformemente a uma temperatura
resistência à tração, e uma melhoria na acima de seu ponto de transição até que se
ductilidade. Já para a temperatura de 40 ºC o garanta o completo relaxamento das tensões
material se torna frágil, enquanto que uma existentes. Depois, se dá o resfriamento lento até
deformação plástica é obtida a 50ºC como a 60 ºC a temperatura ambiente em uma 24 proporção que
[14]. evite a reintrodução de tensões. Nas aplicações
mais críticas exige-se a normalização
independente da intensidade das tensões internas
presentes no material [15].
Já no Recozimento (annealing) o processo
de tratamento térmico é utilizado para aliviar as consegue dissipar de forma eficiente a energia. O
tensões APÓS o material sofrer qualquer teor de elastômero para gerar uma maior
transformação (usinagem, moldagem ou resistência ao impacto para blendas com PMMA
colagem). Esse tratamento térmico é realizado está entre 25 e 40 % em volume de modificador.
com temperaturas abaixo da temperatura de Além destes fatores é preciso que haja uma boa
transição. São três etapas consecutivas: adesão entre a matriz e a fase dispersa,
a) O componente é aquecido lentamente permitindo uma eficiente transferência de tensões
até a faixa de temperatura entre 87ºC e 93ºC. entre elas. Contudo a tenacificação é sempre
acompanhada por uma redução do módulo de
b) Essa temperatura é mantida por um elasticidade e da tensão na ruptura do
tempo “T” determinado (patamar). termoplástico [15].
c) Depois o material é resfriado Nanocompósitos: A edição de
lentamente para evitar a reintrodução de tensões elastômeros ao PMMA proporciona a melhoria
ou deformações térmicas [15]. das propriedades mecânicas. Entretanto, a
Obtenção de blendas poliméricas: Um claridade ótica é prejudicada com a utilização
método simples para obtenção de novos materiais desses métodos. Uma maneira de melhorar as
poliméricos é a mistura física de polímeros e/ou propriedades do PMMA sem prejudicar a
copolímeros; a essa mistura dá-se o nome de transparência é a introdução de partículas com
blenda polimérica [15]. dimensões nanométricas. Neste caso, a
A obtenção de blendas com elastômeros é transferência de carga ocorre sem concentração
um ótimo meio de aumentar a resistência de tensão. Uma vez que essas estruturas na escala
mecânica de polímeros frágeis, como o poli nanométrica apresentam uma alta razão de
(metacrilato de metila), PMMA. Para isso, o aspecto e uma grande área superficial. Dentre os
elastômero deverá estar disperso sob a forma de materiais que podem ser utilizados como
domínios na matriz. O elastômero tem a função nanocargas destacam-se as partículas de sílica,
de promover e controlar a deformação da matriz, nanotubos de carbono e argilas [16].
fornecendo grande número de pontos 2.1.2 Adição de elastômero no PMMA
concentradores de tensão. O mecanismo de O PMMA é um polímero amorfo e frágil na
absorção da energia do impacto ou tenacificação temperatura ambiente, com baixo alongamento na
depende da ductilidade intrínseca da matriz e da ruptura. Por isso, ele é um material rígido, de
morfologia da blenda. O poli (metacrilato de baixa resistência ao impacto e pouco tenaz. Como
metila) (PMMA) é um polímero frágil, cuja o PMMA é bastante utilizado em aplicações que
deformação é acompanhada pela formação de substituem o vidro, que requerem transparência e
fibrilas “crazes”. Contudo quando está resistência, um método muito comum para
tenacificado com um elastômero a deformação promover melhorias nas propriedades mecânicas
ocorre por cavitação seguida de cisalhamento do PMMA é a sua tenacificação com elastômeros
[15]. [5].
Há três importantes fatores que A adição de elastômero faz com que o
determinam as propriedades mecânicas de PMMA torne-se opaco e perca umas das suas
blendas tenacificadas: o tamanho das partículas principais aplicabilidades óticas que é a
tenacificadoras, a quantidade de elastômero transparência. Uma solução para este problema é
adicionado e a adesão do elastômero na matriz. a adição dos polímeros MBS (metacrilato de
Para as blendas com PMMA, o tamanho ideal das metila-butadieno-estireno) e MABS (metacrilato
partículas para promover uma melhor dissipação de metila-acrilonitrila-butadieno- estireno), os
da energia é de aproximadamente 250 nm e quais são transparentes porque o índice de
segundo Wu, abaixo de 200 nm o elastômero não refração da matriz é igual ao do elastômero, (por
ser uma combinação adequada dos monômeros).
Vários estudos desenvolvidos na literatura orientado. As fibrilas atravessam os vazios e
mostram que o MBS quando adicionado ao evitam a formação de uma trinca catastrófica.
PMMA não altera sua transparência e melhora Esses vazios são chamados de microfibrilações ou
suas propriedades mecânicas, principalmente a crazes, e se iniciam em regiões com alta
resistência ao impacto. O MBS pode apresentam concentração de tensão, como regiões próximas a
vários tipos de morfologia conforme apresentados defeitos estruturais ou regiões próximas a
na Figura 11 (TODO e colaboradores, 2006). partículas dispersas [5].

Figura 8 - a) Micrografia eletrônica de um


microfissuramento; b) Crazes produzidos por
microfibrilamento sob tensão [5].

Escoamento por cisalhamento: O escoamento por


cisalhamento ao contrário do microescoamento sob
Figura 7 - Microscopia eletrônica de transmissão de três tipos
tensão, consiste de uma distorção do formato do
de MBS: (a) Monomodal (140 nm: 10% em massa), (b)
material sem uma mudança significativa do
Bimodal (140 nm: 7,5% em massa, 2,5 nm: 2,5 % em massa),
volume. Ocorre em um ângulo que varia entre 30 e
(c) Monomodal (2,5 nm: 10% em massa) [17]. 60º em relação à direção da tensão aplicada. O
Em polímeros tenacificados como o PMMA escoamento cisalhante em polímeros se assemelha
elastomérico quando se aplica uma tensão nesse ao fluxo plástico de metais, do ponto de vista da
material, as partículas elastoméricas dispersas mecânica do contínuo [5].
concentram ou absorvem essa tensão o que As bandas de cisalhamento iniciam em regiões
promove uma alteração do estado de tensão da onde as moléculas deslizam umas sobre as outras
matriz polimérica frágil, que influencia as quando sujeitas a uma tensão crítica, ou em regiões
propriedades mecânicas destes polímeros. Além onde há pequenas heterogeneidades de deformação
disso, a fase elastomérica pode induzir diferentes devido a defeitos internos ou superficiais. A partir
mecanismos de fratura nos polímero, tais como: do ponto de escoamento, estas regiões têm uma
resistência menor à deformação do que o material
Crazing: São heterogeneidades causadas devido a
ao redor destas regiões, o que causa o aumento da
deformação plástica micro localizada do material
heterogeneidade de deformação e diminuição da
polimérico, que normalmente ocorre sob tensão,
resistência do material ao cisalhamento devido ao
onde as superfícies das microfissuras estão
amolecimento por deformação dentro da banda
ligadas por fibrilas poliméricas. Quando uma
incipiente. Na extremidade da zona cisalhada o
tensão é aplicada a um polímero frágil, o material
material torna- se deformado e amolecido,
responde com formação de microvazios que se
originando a banda para propagar ao longo do
desenvolvem em um plano perpendicular à
plano de tensão de cisalhamento máximo [5].
direção da tensão. Ao invés desses vazios se
Cavitação: Acredita-se que a cavitação das
propagarem e formarem uma trinca, como
partículas seguida de deformação plástica da matriz
acontece nos metais, os mesmos são estabilizados
seja o mecanismo principal de tenacificação em
por fibrilas compostas de material polimérico
muitos polímeros. A formação de vazios na fase SAN e de EPDM livres além do copolímero de
elastomérica é outra maneira de polímeros enxertia EPDM-g-SAN. A blenda é miscível para
tenacificados responderem à tensão aplicada, teores de acrilonitrila no SAN entre 9,4 % e 34,4
entretanto, a cavitação isoladamente não é %, PMMA com massa molar de 43.000 g.mol-1 e
considerada um mecanismo de tenacificação. A SAN com massa molar entre 128.000 e 179.000
cavitação atua no sentido de aliviar a tensão triaxial g.mol-1. Ocorrendo a miscibilidade entre o PMMA
entre as partículas, transformando em um estado de e a fase SAN do AES, o EPDM ficará ancorado na
tensão uniaxial e assim permitindo a deformação matriz de PMMA, permitindo uma melhor
plástica da matriz [5]. transferência de tensões entre as fases [18].
Durante a realização do ensaio de tração é 2.1.3.1 Procedimento experimental
possível visualizar macroscopicamente que
polímeros tenacificado como o PMMA As blendas de PMMA com AES foram preparadas
elastomérico, apresentam esbranquiçado sob tensão em dois misturadores, um misturador interno e uma
devido a variações microlocalizadas no índice de extrusora monorosca, nas composições 5, 10, 20 e
refração. A origem destas variações no índice de 30 % de AES, denominadas AES 5, AES 10, AES
refração dependem do tipo de polímero, e são 20 e AES 30, respectivamente. Também foi
causadas essencialmente pela formação de preparada uma blenda com 20 % de EPDM no
microcavitação em grande escala, induzida pelos misturador interno, sendo denominada EPDM 20
mecanismos de microdeformação tais como, o [18].
microfibrilamento sob tensão ou o escoamento sob Os corpos de prova para os ensaio de tração e de
cisalhamento de polímeros reforçados com resistência ao impacto, foram preparados segundo as
borracha (exemplos: HIPS, ABS, PMMA especificações das normas ASTM D638 e ASTM
elastomérico, etc), ou pela desacoplagem D256, respectivamente, na injetora Arburg
interfacial de fibras em polímeros reforçados com Allrounder 221M 250-55 utilizando-se o mesmo
fibras de vidro ou simplesmente por perfil de temperatura da extrusora, temperatura do
microfissuramento em grande escala [5]. molde de 60 o C e tempo de resfriamento de 30 s
[18].
As blendas obtidas tanto no misturador interno
como na extrusora são translúcidas, apresentando
uma fina dispersão das partículas de elastômero na
matriz vítrea, como é evidenciado na Figura 10. À
medida que aumenta-se a quantidade de elastômero,
a blenda se torna mais translúcida. Durante o
processamento no misturador interno, monitorou-se
o torque. Na figura 2 é apresentado o torque médio
no último minuto de mistura em função da
composição em dois tempos de processamento total,
5 e 10 minutos [18].
Figura 9 - Exemplo de um esbranquiçamento sob tensão
em PMMA elastomérico [15].

21.3 Análise do PMMA com elastômero AES


O PMMA através da adição do AES, que é um
elastômero modificado, obtido pela enxertia do
copolímero (acrilonitrila-co-estireno), SAN no
terpolímero EPDM. Este processo resulta em uma
mistura complexa compreendida por uma fração de
elasticidade em função da porcentagem em massa de
AES. A blenda com 30 % de AES, obtida no
misturador interno apresentou uma diminuição de 26
% no valor do módulo, enquanto que na blenda de
mesma composição obtida na extrusora, houve uma
diminuição de 22% em relação ao PMMA. Em
contrapartida, a blenda obtida no misturador interno
com mistura de 5 minutos apresentou um aumento
na resistência ao impacto de 866 % com a adição de
15 % de EPDM (ou seja, 30 % de AES, pois o
EPDM compreende 50 % em massa do AES). Já a
blenda com 20 % de EPDM apresentou menor
energia de impacto que o próprio PMMA,
Figura 10 - (a) PMMA; ( b) AES 5; (c) AES10; (d)
demonstrando a função do SAN na adesão e
AES 20; (e) AES 30; (f) EPDM 20 [18].
dispersão do EPDM no PMMA, como é evidenciado
A Figura 11 mostra que o alongamento na ruptura pelas micrografias apresentadas na Figura 13. Esse
aumenta continuamente com o teor de elastômero, aumento na resistência ao impacto obtido com a
para blendas obtidas no misturador interno com adição de 30 % de AES é bem superior ao de uma
tempo de mistura de 10 minutos. Para as blendas blenda de PMMA com a partícula core-shell MBS,
obtidas na extrusora, o alongamento na ruptura exibe na qual o aumento é de aproximadamente 300 %
um máximo para a blenda AES 10 e sofre uma com a adição de 50 % em massa de MBS (17), o que
ligeira queda nas composições com maiores teores indica que o AES é um ótimo modificador de
de AES. A blenda AES 30 preparada no misturador impacto para o PMMA [18].
interno apresentou um alongamento na ruptura 330
% maior que o do PMMA, enquanto que para a
blenda AES 10 obtida na extrusora, o aumento foi de
363 % [18].

Figura 12 - Módulo em função da composição das blendas


obtidas no misturador interno com mistura de 10 minutos e na
extrusora.

Figura 11 - Alongamento na ruptura em função da composição


das blendas obtidas no misturador interno com misturador
interno com mistura de 10 minutos (quadrado preto) e na
extrusora (círculo) [18].

Na Figura 12 é apresentado o módulo de


estireno leva à obtenção de uma mistura
polimérica in situ, com domínios discretos de fase
borrachosa dispersos em uma matriz contínua de
PS. A polimerização borracha-estireno resulta em
um produto com propriedades mecânicas sob
impacto superiores, o Poliestireno de Alto
Impacto (HIPS), quando comparado ao PS e
mesmo a blendas de PS e borracha. Esse
aperfeiçoamento deve-se principalmente à
introdução de um componente amorfo flexível
(Tg ≤ - 40°C) na matriz rígida de PS e: (1) ao
grau de ligações cruzadas da borracha, (2) à
interação química entre cadeias de PS formadas e
cadeias da borracha, com aumento da adesão
interfacial entre as fases PS e borracha, e (3) às
oclusões de fase contínua de PS no interior das
partículas de borracha, com aumento da fração
volumétrica desta última [19].
A morfologia é um dos principais fatores
responsáveis pelo elevado desempenho mecânico
do HIPS. Ainda que o HIPS possa ser produzido
por polimerização em emulsão, o processo
Figura 13 - Micrografias eletrônicas de varredura da fratura comercial atualmente utilizado é o de
perpendicular à injeção dos corpos de prova das blendas (a)
polimerização em massa, no qual a borracha é
EPDM 20 (b) AES 30 obtidas no misturador interno com
tempo de mistura de 10 minutos [18]. solubilizada pelo monômero estireno, também
podendo ser considerado um processo em
A micrografia da blenda EPDM 20,
solução. A reação de polimerização é feita através
apresentada na Figura 8, mostra que o EPDM (mais
do uso de iniciadores, geralmente peróxido de
claro) está distribuído irregularmente pela superfície,
benzoíla. Em HIPS comerciais, o tamanho e a
formando vários domínios irregulares, apresentando
distribuição de tamanhos das partículas de
baixa adesão e dispersão na matriz. Já a blenda AES
borracha são controlados pela taxa de
30 apresenta morfologia uniforme, com a fase
cisalhamento do processo, durante e após a
dispersa distribuída regularmente pela superfície
inversão de fases, isto é, quando o PS passa a ser
com domínios esféricos e diâmetros maiores que 200
a fase contínua e a borracha a fase dispersa, pelas
nm. Essas características são as responsáveis pelas
viscosidades relativas das fases e pela tensão
melhores propriedades mecânicas das blendas com
interfacial entre essas fases [19].
AES em relação à blenda com EPDM [18].
O teor de borracha em resinas de HIPS
2.2 HIPS
comerciais obtidas em processo de polimerização
O poliestireno (PS) à temperatura em massa está limitado a 14% em peso devido à
ambiente é um polímero vítreo e apresenta baixa alta viscosidade do meio, sendo o conteúdo de
absorção de energia sob impacto devido a borracha normalmente inferior a 10%. A
ausência de mobilidade local de segmentos de limitação do volume da partícula de borracha
cadeia, uma vez que a sua Tg ocorre entre 90 e devido à restrição do teor da mesma é
100°C, temperatura a partir da qual ocorrerem compensada pela oclusão de domínios de PS no
movimentos de segmentos de cadeia responsáveis interior dessas partículas, os quais podem
pela dissipação de energia. A utilização de aumentar a fração volumétrica da fase
borracha no processo de polimerização do tenacificadora de 10 a 40% [19].
As diferenças estruturais e morfológicas
entre resinas de HIPS resultam de diferenças nos
processos de produção e no tipo e teor de
borracha. Existe uma grande variedade de tipos
ou grades de HIPS disponíveis comercialmente.
Os mais comuns possuem tamanho médio de
partícula de borracha de até 5 µm de diâmetro e
morfologia do tipo salami, conforme mostrado na
Figura 14 . Essa morfologia consiste de partículas
de diferentes tamanhos, com subinclusões de PS
envoltos por uma membrana de borracha, Figura 15 - Imagem MET de HIPS produzido por
dispersas numa matriz de PS e é típica de HIPS polimerização em emulsão. Morfologia tipo core shell. A
obtido em processo de polimerização em massa parte escura da fase dispersa identifica a borracha (shell) e a
parte clara das inclusões o poliestireno (core) [21].
[20].

2.2.1 Mecanismo de tenacificação do


HIPS
Os mecanismos envolvidos na
tenacificação do HIPS incluem essencialmente o
microfissuramento (crazing) e a cavitação. A
presença de uma segunda fase tenacificadora na
matriz de PS pode modificar significativamente o
seu comportamento tensão x deformação, levando
à ocorrência de modos de microdeformação com
maior consumo de energia. Assim, a
concentração, a dimensão, a morfologia e as
propriedades da fase tenacificadora são
Figura 14 - Imagem MET de HIPS produzido por extremamente relevantes no desempenho do
polimerização em massa ou solução. Morfologia tipo salam.
material. De uma maneira geral, existe uma
A parte escura (fase dispersa) identifica a borracha e a parte
clara (fase contínua e inclusões) o poliestireno [21].
concordância no sentido de que as partículas de
borracha absorvem a energia de impacto porque
podem atuar da seguinte forma: (1) seriam
A morfologia do HIPS obtido através de iniciadores ou nucleadores de microfissuras e (2)
processo de polimerização em emulsão agiriam como terminadores de microfissuras,
geralmente apresenta partículas de borracha evitando a transformação rápida das microfissuras
esféricas, não-desejáveis por comprometer a em fratura [22].
transparência, e partículas com estrutura do tipo
Quando o HIPS é submetido a uma
core shell, isto é, partículas compostas por um
energia de impacto, parte dessa energia é
núcleo de PS (core) revestido por uma membrana
dissipada pela borracha sob a forma de calor, pela
de PB (shell), conforme mostrado na Figura 15.
vibração térmica de seus átomos e pelos
Essa morfologia não afeta significativamente a
movimentos de relaxação de segmentos da
transparência do HIPS, sendo uma resina semi
macromolécula. A energia restante é dissipada na
transparente utilizada na fabricação de
formação de diversas microfissuras na interface
embalagens [21].
da matriz de PS com a borracha. Essas
microfissuras irão propagar-se até encontrar uma
nova partícula de borracha na qual a energia irá
novamente ser dissipada sob forma de calor e
novas microfissuras poderão ser nucleadas, num A Figura 17 mostra um quadro resumo da
processo de redistribuição da energia de impacto. variação de algumas propriedades do HIPS em
O mecanismo de microfissuramento pode ser relação a características estruturais da fase gel ou
explicado em termos de propagação de borracha, como teor e grau de entrecruzamento de
microporos através da instabilidade de meniscos PB, graftização, tamanho de partícula, e em
ou fibrilas que os separam. Como fatores que relação à massa molar da matriz[3]. Como se
aumentam a formação de microfissuras, e pode notar, a tenacidade do HIPS é a propriedade
portanto a absorção de energia de impacto, estão a que mais varia em função das modificações da
boa adesão borracha-matriz, o correto tamanho fase borracha, apresentando um acréscimo
das partículas, o alto teor e a baixa Tg da significativo, com exceção do aumento do
borracha, a morfologia esférica das partículas número de ligações cruzadas. O módulo elástico
tenacificadoras e o alto coeficiente de expansão tende a diminuir somente quando há um aumento
térmica da borracha. A massa molar da matriz de do teor e tamanho da partícula de borracha, o que
PS tem efeito desprezível na formação de diminui a rigidez do material. A temperatura de
microfissuras, mas uma alta massa molar deflexão térmica não sofre influência com a
estabiliza as microfissuras uma vez que estas variação da maioria das variáveis, mas somente
sejam formadas [21]. com o aumento do teor de borracha, afinal é uma
propriedade que depende mais significativamente
da fase contínua, que é responsável pela rigidez
do material. O brilho tende a diminuir com a
introdução de borracha, com exceção do caso em
que o número de ligações cruzadas aumenta. Essa
propriedade é geralmente melhorada pelo uso de
partículas pequenas de borracha (< 1 µm). O
índice de fluidez do HIPS diminui sensivelmente
Figura 16 - Mecanismo de absorção de impacto do HIPS com o aumento da massa molar da matriz e, por
através do microfissuramento [21]. outro lado, aumenta à medida que o tamanho da
2.2.2 Propriedades do HIPS partícula de borracha aumenta. O ESCR
(environmental stress cracking resistance)
Certas aplicações características das
aumenta sempre que ocorre um incremento no
resinas de HIPS requerem propriedades
valor das características estruturais avaliadas [23].
superiores àquelas apresentadas pelo PS
convencional, como maior resistência ao impacto
e melhor ductilidade. Um balanço da resistência
ao escoamento e da resistência térmica é
necessário, sem que haja a perda do brilho do
material. As propriedades requeridas para o HIPS,
principalmente a resistência ao impacto, são
dependentes de fatores como teor e tipo de
borracha, tamanho e morfologia das partículas de
borracha, volume da fase tenacificadora, grau de
entrecruzamento e graftização, massa molecular e
distribuição de massas molares da fase PS,
comportamento viscoelástico da borracha e grau
de adesão entre borracha e matriz. Como as
variáveis que afetam as propriedades não são
independentes, a otimização de uma propriedade
pode ser obtida em detrimento de outra [23].
à tração pode ser aperfeiçoada pela diminuição do
tamanho de partículas e teor de borracha, pelo
aumento do grau de entrecruzamento da borracha e
pelo aumento da massa molecular do PS da matriz.
Uma maior elongação pode ser obtida pelo
aumento do diâmetro médio das partículas e teor
de borracha, ou pela diminuição do grau de
entrecruzamento da borracha [24].
As Figuras 18 e 19 mostram,
respectivamente, a variação da resistência ao
impacto Izod (entalhado) e do módulo elástico de
HIPS em função do conteúdo de fase gel e do teor
de borracha incorporados, de dados obtidos em
ensaios de laboratório de grades comerciais de
HIPS, os quais serão avaliados quanto à sua
resistência química a alimentos gordurosos.
O aumento do conteúdo da fase gel permite uma
maior nucleação das microfissuras, mecanismo
responsável pela maior resistência ao impacto.
Outra hipótese possível é que o aumento do
Figura 17 - Quadro-resumo das variações de algumas
propriedades do HIPS versus caracterísiticas estruturais conteúdo da fase gel seja acompanhado de um
típicas [23]. incremento no conteúdo de PS graftizado,
responsável pela maior interação na interface
Sobre os efeitos do contato do HIPS com borracha-matriz, o que consequentemente leva a
determinadas substâncias químicas, associado a um aumento da resistência ao impacto [24].
tensões existentes no material, origina o O aumento do teor de borracha é
environmental stress cracking (ESC). Estima-se responsável pela relaxação molecular, a qual
que tal fenômeno seja responsável por 20 a 30% da dissipa parte da energia e, por isso, tem efeito
ruptura dos diversos materiais plásticos sob tensão. sinérgico na absorção de impacto. A introdução de
Basicamente, o ESC é o resultado da combinação uma fase elastomérica na matriz rígida de PS,
da ação de um agente químico e de tensões como esperado, promove uma diminuição no valor
externas ou residuais internas no material, do módulo elástico, o que significa que o material
originadas principalmente durante o seu tenacificado deforma-se em tensões menores que
processamento [24]. as verificadas para o PS homopolímero. Assim, um
O ESC pode ser explicado em termos de ganho na resistência ao impacto do material
efeito plastificante ou do mecanismo de redução de tenacificado é sempre acompanhado por uma perda
energia superficial. Baseado na teoria da no valor de seu módulo elástico [24].
plastificação, a ruptura pode ocorrer através da
concentração de tensão em um ponto originada
pela difusão de pequenas moléculas do agente
agressor. A teoria da redução da energia superficial
sugere que um agente químico de baixa tensão
superficial adere à superfície do polímero e reduz a
energia total da superfície, permitindo a formação
e o crescimento de poros que darão origem mais
facilmente às microfissuras. O ESC está
Figura 18 - Variação do módulo elástico e da resistência ao
relacionado com a diferença no parâmetro de
impacto Izod de HIPS comercial em função do conteúdo da
solubilidade entre polímero e agente químico, fase gel [24].
sendo que, quanto mais próximos esses valores,
maior a probabilidade de ocorrer o fenômeno. O
ataque químico no material pode produzir efeitos
variados, como dissolução de material polimérico,
ruptura da peça ou formação de uma região
translúcida ou opaca. A propriedade de resistência
Em suma, a tenacificação por meio da adição
de elastômeros é uma técnica eficaz para melhorar
as propriedades de tenacidade de polímeros duros e
frágeis, como o PMMA e o HIPS. Essa estratégia
permite a utilização desses materiais em uma
ampla gama de aplicações, proporcionando uma
combinação equilibrada de rigidez e resistência ao
Figura 19 - Variação do módulo elástico e da resistência ao impacto. O desenvolvimento contínuo de novos
impacto Izod de HIPS comercial em função do teor de PB
elastômeros e técnicas de modificação também
[24].
oferece perspectivas promissoras para o
3. Conclusão. aprimoramento das propriedades mecânicas dos
polímeros no futuro.
Os polímeros podem variar no seu comportamento
mecânico a partir da sua estrutura molecular, forças
intermoleculares, processamento, entre outros 4. Referências.
fatores. Dentro do grupo de polímeros temos [1] PIVA, A. C. Caracterização de Aditivos
materiais que apresentam comportamento duro e em Filmes Flexíveis de Polietileno. 73f.
frágil, como o PMMA e PS. O PMMA apresenta Dissertação - Programa de Pós-Graduação em
uma resistência mecânica elevada, porém é Ciência e Engenharia de Materiais da
altamente quebradiço, tornando-se propenso a Universidade do Extremo Sul Catarinense.
fraturas sob impacto. Por outro lado, o HIPS é uma Criciúma. 2014.
mistura de poliestireno (PS) e elastômero, [2] MOTTA, E.P. Caracterização Mecânica de
desenvolvido para melhorar as propriedades de Argamassas Poliméricas de Óleo de Mamona
impacto e reduzir a fragilidade do poliestireno Reforçadas com Fibra Natural de Piaçava.
puro. Dissertação PósGraduação em Engenharia
Mecânica da UFF. Niterói. 2014.
As técnicas de tenacificação, como a adição [3] MATYJASZEWSKI, K.; DAVIS, T. P.
de elastômeros, têm sido amplamente empregadas Handbook of Radical Polymerization. [s.l.]
para melhorar a resistência ao impacto desses Wiley-Interscience, 2002.
polímeros. A inclusão de elastômeros, no PMMA [4] MARINHO, J. R. D. Macromoleculas e
ou no HIPS, permite a absorção de energia durante polímeros. São Paulo: editora Manole, 1°
a deformação, reduzindo a probabilidade de Edição, 2005.
fraturas sob impacto. Esses elastômeros atuam [5] CANAVEROLO Jr., S. V. Ciência dos
como "pontes" entre as cadeias de polímero, polímeros. São Paulo: Artliber, 2ª Ed.,8°
dispersando o estresse e aumentando a tenacidade. edição 2006.
[6] PADILHA, A. F. Materiais de Engenharia,
No entanto, é importante destacar que a Hemus, São Paulo, 2007.
quantidade e o tipo de elastômero adicionado [7] KREVELEN, Properties of polymers,
podem afetar as propriedades finais do polímero Elsevier, Amsterdam 1990
modificado. Um teor excessivo de elastômero pode [8] ANDERSON, T. L., "Fracture Mechanics
comprometer a rigidez e a transparência do Fundamentals and applications," 2o ed, 1995.
PMMA, enquanto uma quantidade inadequada [9] BILLMEYER, Fred W. Jr., Textbook of
pode não fornecer o aumento desejado na polymer science, New York, WileyInterscience,
tenacidade. Portanto, é necessário um estudo 1984
cuidadoso e otimização das formulações para [10] PARKINSON, W.W. SISMAN, O. The
alcançar o equilíbrio ideal entre rigidez e use of plastics and elastomers in nuclear
resistência ao impacto. radiation Original. Elsevier. 1971.
[11] MANO, E. B.; MENDES, L.C. [23] Maestrini, C.; Pisoni, K. & Kaush, H. H.
Introdução a polímeros. São Paulo: Edgard - J. of Mat. Sci., 31, p.3249 (1996).
Blücher Ltda., 2001 [24] Hough, M. C. & Wright, D. C. - Polymer
[12] OKAMOTO, M.; MORITA, S.; Testing, 15, p.407 (1996).
TAGUCHI, H.; KIM, Y. H.; KOTAKA,
T.;TATEYAMA,H.; Synthesis and structure of
smetio clay-poly(methyl methacrylate) and
claypolystyrene nanocomposites via in situ
intercalative polymerization.
[13] Medina, H. and B. Hinderlite. "Use of
poly (methyl methacrylate) in the study of
fracture of randomly damaged surfaces: I.
Experimental approach."Polymer 53(20):
4525-4532, 2012.
[14] CALLISTER, W. D. Ciência e
engenharia de materiais uma introdução. São
Paulo: LTC, 2006.
[15] SILVA, G. C. Mapeamento das
propriedades mecânicas do polimetacrilato de
metila (PMMA). Rio de Janeiro, 2016.
[16] MEDEIROS, A. M. Propriedade térmica,
mecânica e morfologia de nanocompósitos de
poli( metracrilato de metila) / argila
processados por mistura no estado fundido.
Dissertação de Mestrado Universidade Federal
do Rio Grande do Norte. Natal, RN, 2010
[17] TODO, M.; TAKAHASHI, J.;
WATANABE, H.; NAKAMOTO, J.;
ARAKAWA, K.
Effect of Loading-Rate on Fracture
Micromechanism of Methylmethacrykate-
Butadiene-Styrene Polyner Blend. Polymer,
2006
[18] R. Turchette, M.I. Felisberti. Blendas de
PMMA com o elastômero AES. Instituto de
Química - Universidade Estadual de
Campinas.
[19] Soderquist, M. E. & Dion, R. P. -
“Encyclopedia of Polymer Science and
Engineering”, vol. 16, pg. 88-97, segunda
edição (1989).
[20] Boletim Técnico, “Innova-Etilbenzeno,
Estireno, Poliestireno” (1998).
[21] Correa, C. A. - Polímeros: Ciência e
Tecnologia – Jan/ Mar, p.24 (1995).
[22] Donald, A. M. & Kramer, E. J. - J. of
Appl. Polym. Sci., 27, p.3729 (1982).

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