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DORIANNE GRAVINA

MIHA LOVŠIN

Competências de Gestão de Carreira


FATORES DE SUCESSO NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLITICAS

ELGPN Concept Note No. 3


Competências de Gestão de Carreira:
Fatores de Sucesso na Implementação de Politicas
Documento Síntese encomendado pela ELGPN

Dorianne Gravina & Miha Lovšin


Este documento síntese foi encomendado pela Rede Europeia para as Políticas de Orientação ao Longo da
Vida (ELGPN), uma rede de Estados-Membros que beneficia do apoio financeiro da EU através do Programa
de Aprendizagem ao Longo da Vida. Este artigo baseia-se na discussão dentro da Rede. Contudo, os pontos
de vista aqui expressos são os dos autores e não refletem necessariamente a posição oficial da ELPGN ou dos
países que a constituem, da Comissão Europeia ou de qualquer outra pessoa em nome da Comissão.

O artigo foi elaborado por Dorianne Gravina (Direção de Serviços Educativos, Malta) e Miha Lovšin (Instituto
para a Educação e Formação Profissional, Eslovénia). A sua elaboração foi apoiada pelo Professor Ronald G.
Sultana e um grupo de referência constituído por membros da ELGPN.

© The European Lifelong Guidance Policy Network (ELGPN)

Coordenador 2011–12:
Universidade de Jyväskylä Finlândia
Instituto Finlandês para a Investigação em Educação
http://elgpn.eu
elgpn@jyu.fi

Capa e trabalho gráfico: Martti Minkkinen / Instituto Finlandês para a Investigação em Educação
Maqueta: Kaija Mannström / Instituto Finlandês para a Investigação em Educação

ISBN: 978-972-742-370-5

Jyväskylä 2012
Competências de Gestão de Carreira:
Fatores de Sucesso na Implementação de Politicas

Introdução A introdução de uma nova política, como as CGC,


acarreta desafios na sua implementação. Isto deve-se,
Este documento síntese aborda diferentes questões como é notado por Ball1, a que a mudança implica
relacionadas com o processo de implementação de frequentemente processos que são simultaneamente
políticas de Competências de Gestão de Carreira complexos e confusos. De acordo com este autor, a
(CGC) em seis sectores –ensino básico e secundário, maior parte das medidas de política são “situações
ensino profissional (EP),ensino superior, formação desconjuntadas, de compromisso, tentativa e erro,
de adultos, emprego e inclusão social. Visa especifi- que são retrabalhadas, retocadas, com gradações e
camente a identificação dos elementos que facilitam inflexões, através de processos complexos de influ-
a implementação e o desenvolvimento das políticas, ência, produção de textos, disseminação e, em última
assim como aqueles que se revelem um obstáculo à instância, de recriação em contextos de prática” (p.
sua implementação. As questões destacadas apoiam- 126). As respostas ao questionário foram analisadas
se na teoria e na experiência de países membros da usando o enquadramento desenvolvido por Honig2 e
ELGPN, recolhidas através de um questionário sobre aprofundado por Sultana3, que chama a atenção para
“Fatores de sucesso e constrangimentos na imple- quatro aspetos-chave que têm impacto no processo
mentação de políticas de CGC” com respostas de de implementação de políticas:
onze países (AT, CZ, DE, DK, HU, LT, MT, PT, SE, SI,
SK). As respostas variaram em termos de qualidade e
1
Ball, S. (1998). Big policies/small world: An introduction to interna­
nível de pormenor. É importante notar que também tional perspectives in education policy. Comparative Education, 34(2),
outros países poderão ter práticas interessantes de 119–130.
2
Honig, M.I. (Ed.) (2006). New directions in education policy implemen­
implementação de políticas de CGC que não foram tation: Confronting complexity. Albany, NY: SUNY Press.
incorporadas neste documento. Foi incluída no Rela- 3
Sultana, R.G. (2008). The challenge of policy implementation: A com­
parative analysis of vocational school reforms in Albania, Kosovo and
tório de Progresso 2011 – 12’ uma versão mais redu- Turkey: Peer Learning 2007, p. 15. European Training Foundation. Lux­
zida deste documento. embourg: Office for Official Publications of the European Communities.

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Dorianne Gravina & Miha Lovšin

(1) As políticas a implementar; de CGC no campo educativo (ensinos básico


(2) As pessoas envolvidas na implementação; e secundário e/ou ensino profissional e/ou
(3) O local de implementação; ensino superior) (p. ex., DE, HU, LT, MT, PT).
(4) O ritmo de implementação. No sector do emprego as políticas de CGC são
menos comuns (embora cf. DE, SI).

1 As políticas a implementar É importante que, quando a política de CGC for


introduzida, esta esteja relacionada com o enqua-
O tipo de política a implementar tem um forte dramento político geral dos seis sectores (ensino
impacto na definição do processo de implementa- básico e secundário, ensino profissional, ensino
ção da mesma. Este relaciona-se com os objetivos superior, formação de adultos, emprego, inclusão
que a política pretende alcançar, a relação que tem social). Desta forma, os membros das organizações
com outras políticas e a forma como decorre a sua compreendem o valor destas políticas e estarão mais
implementação: disponíveis para cooperar no processo de imple-
mentação. Nas respostas ao questionário isto torna-
• Os objetivos das políticas têm que ser claros e se evidente nalguns sectores em, pelo menos, dois
coerentes de forma a serem compreendidos por países (CZ, PT): por exemplo, na República Checa,
todas as partes envolvidas. a introdução das CGC no sector da educação estava
• Justificar o alcance e o significado das novas em linha com a política geral de educação. Para além
políticas e os seus objetivos é o primeiro disso, quando a política de CGC é vista como dando
passo no processo de implementação. Se que- resposta às necessidades dos grupos de clientes da
remos que apoiem a sua inclusão, os decisores organização é geralmente mais bem aceite.
políticos têm que ser convencidos de que a Um outro fator que apoia a implementação de
aquisição de CGC tem a maior importância. políticas de CGC consiste em ter os diferentes sec-
Dedicar algum tempo a explicar e a justificar tores direcionados para objetivos políticos comuns,
os objetivos das políticas, i. e. qual a mais assegurando desta forma que as políticas de CGC
valia que as CGC representam para os jovens estão alinhadas entre si. A construção de consen-
e/ou adultos poderem enfrentar o mercado sos pode contribuir para uma implementação bem-
de trabalho que é atualmente mais duro e sucedida, tendo presente que a falta de uma visão
difícil, poderá ajudar a convencer os deciso- comum entre os diferentes sectores conduz à frag-
res políticos sobre o valor do apoio a estas mentação de serviços e ao desperdício de recursos.
políticas. Isto, por si só, constitui um desafio, Na República Checa existe uma coordenação entre as
uma vez que uma mudança política é geral- diferentes partes, nomeadamente entre os represen-
mente melhor aceite se surgirem resultados tantes dos dois ministérios-chave (Ministério da Edu-
rápidos e tangíveis e não é provável que seja cação, Juventude e Desporto; Ministério do Trabalho
este o caso relativamente à aquisição de CGC. e Segurança Social), associações profissionais e orga-
As evidências sobre a eficácia do desenvolvi- nizações não-governamentais (ONG) para assegurar
mento de CGC são difíceis de demonstrar: este que os seis sectores avançam em direção a objetivos
poderá ser um dos obstáculos à implementa- políticos comuns. Isto reforça a importância da coo-
ção bem-sucedida de políticas neste âmbito. peração transectorial entre os seis sectores. O desen-
Das repostas ao questionário resulta que os volvimento das CGC ao longo da vida é largamente
decisores políticos estão, de uma forma geral, facilitado pela cooperação e coordenação transversal
mais conscientes da importância das políticas aos sectores.

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Competências de Gestão de Carreira: Fatores de Sucesso na Implementação de Politicas

Alguns aspetos da política de CGC são mais fáceis vários níveis do sistema educativo no que diz
de implementar se ocorrerem de cima para baixo respeito à inclusão de políticas de CGC.
enquanto outros têm mais possibilidades de sucesso • Quanto mais radical for a mudança de polí-
se implementados de baixo para cima4: tica, mais difícil será a sua implementação. Em
relação às CGC, nalguns casos poderá ser mais
• Algumas mudanças nas políticas têm maio- difícil a introdução de uma nova disciplina
res probabilidades de serem implementadas no currículo do que a sua integração transver-
quando a iniciativa parte dos decisores políti- sal. Esta situação é evidente em Malta onde,
cos de topo. embora a sugestão da política de ensino das
• Por outro lado, certas mudanças podem ter CGC seja através de um programa incluído no
um maior impacto quando se iniciam ao nível Desenvolvimento Pessoal e Social (uma disci-
da base. É o caso de decisões sobre como as plina atualmente lecionada no ensino básico e
CGC devem ser ensinadas/desenvolvidas, p. ex., secundário), a limitação do tempo curricular, a
como disciplina autónoma ou como conteúdo luta por espaço no currículo e a necessidade de
integrante dos diferentes contextos de trabalho/ uma reforma curricular (atualmente em curso)
aprendizagem. Isto porque são os profissio- são desafios a enfrentar durante a implemen-
nais que estão mais próximos do seu grupo de tação.
clientes e dos objetivos e ethos das organizações,
encontrando-se assim em melhor posição para Legislação. Os países mais comprometidos com o
terem um impacto positivo. desenvolvimento e implementação de uma política
• Contudo, em muitas situações ambas as abor- de CGC têm vindo a mostrar o seu compromisso
dagens podem contribuir para o processo de através da promulgação de legislação relevante. A
implementação. Isto foi indicado pela Ale- Alemanha é um bom exemplo. Países sem esta legis-
manha (ensino básico e secundário, ensino lação, como a Áustria e a República Checa, relatam
profissional, emprego), Malta (ensino básico e uma série de boas práticas, mas em muitos casos
secundário), Portugal (ensino superior) e Eslo- estas não estão integradas de forma sistémica e pode-
vénia (sector do emprego). rão não ser sustentáveis a longo prazo.

Reforma progressiva/ acelerada. É difícil fazer o


balanço entre a opção por uma reforma sistémica e 2 As pessoas envolvidas na
holística ou por uma abordagem progressiva, ponto implementação
por ponto, tendo cada decisão os seus compromissos
e implicações no processo de implementação: Implementação multinível. A implementação de
políticas envolve pessoas que desempenham diferen-
• Quer os inquiridos Portugueses quer os Litu- tes papéis – gestores de topo, gestores intermédios e
anos se referem a um processo progressivo. pessoas na linha da frente, são alguns exemplos. A
Destacam o facto de a mudança de políticas implementação de políticas de CGC é mais prová-
requerer acordo e mudanças significativas em vel se for aceite pelos diferentes intervenientes. De
facto, o modo como os executores de primeira linha
respondem aos requisitos das políticas é fundamen-
4
Sultana, R.G. (2008). The challenge of policy implementation: A com­
parative analysis of vocational school reforms in Albania, Kosovo tal. A resistência à mudança é prejudicial à imple-
and Turkey: Peer Learning 2007, p. 19. European Training Founda­
mentação de políticas e pode criar entraves a todo o
tion. Lux­embourg: Office for Official Publications of the European
Communities. processo. Assim, como se evidenciará em baixo, é da

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Dorianne Gravina & Miha Lovšin

maior importância que as pessoas na linha da frente e entre os diferentes departamentos/minis-


estejam envolvidas no processo de formulação para térios (p. ex., emprego/trabalho e educação)
assegurar a sua adesão às mudanças de política. É são também importantes. Um exemplo de
também importante assegurar um ‘feedback’ durante como este tipo de colaboração pode ocorrer
a fase de implementação porque, em última análise, é o Fórum Nacional de Orientação (FNO) na
as políticas serão o que fizerem as pessoas na linha República Checa. Contudo, como será apon-
da frente5. tado no Anexo numa análise detalhada sobre
Consulta e comunicação. Consultar todos os par- como o FNO na República Checa se desen-
ceiros durante a formulação das políticas de CGC volveu, estes fóruns não deixam de ter as suas
é da maior importância. Assegurar que todos os dificuldades.
pontos de vista de todas as partes são ouvidos con- • A comunicação continua a ser vital durante a
corre para que todos os envolvidos sintam que estão fase de implementação das políticas. Consta-
a contribuir para um objetivo comum e nacional. tou-se a existência de alguma comunicação de
sentido vertical e horizontal durante a imple-
• É importante que nenhum grupo de colabora- mentação de políticas, entre os países que res-
dores seja excluído da consulta e que a consulta ponderam ao questionário:
entre os decisores políticos e os técnicos no • República Checa: ensino básico e secun-
terreno esteja estabelecida desde a formula- dário.
ção das políticas de CGC. Isto foi evidente em • Alemanha: ensino básico e secundário,
Malta, onde estudantes, técnicos de orientação, ensino profissional, sector do emprego e
conselheiros escolares, funcionários dos cen- inclusão social.
tros de emprego, das universidades, sindicatos • Hungria: ensino básico e secundário,
de professores e funcionários-chave da Direção ensino profissional, ensino superior,
de Educação foram consultados durante a for- formação de adultos, sector da inclusão
mulação da política de orientação para o sector social.
da educação. As entrevistas visaram assegurar • Lituânia: ensino básico e secundário,
uma visão qualitativa, por parte destes técnicos, ensino profissional e ensino superior.
sobre a disponibilização de intervenções de • Malta: ensino básico e secundário.
orientação aos estudantes, na altura integrados • Portugal: sector do emprego.
no sistema de ensino em Malta, e examinar as • Eslovénia: ensino profissional e sector do
suas perceções, opiniões e atitudes em relação emprego.
à orientação de carreira. Consequentemente,
uma vez que isto torna mais forte a possibi- Agentes-chave de políticas. Quem concebe a reforma
lidade da política ser vista como pertença de pode ter um impacto sobre a forma como se desen-
todas as partes envolvidas, pode-se afirmar que rola a implementação. Por exemplo, num contexto
a sua implementação ao nível da base tem mais de implementação de cima para baixo, os agen-
probabilidades de ser bem-sucedida. tes-chave dos Ministérios são indispensáveis para a
• Redes de comunicação eficientes entre os deci- implementação de políticas de CGC nos seis secto-
sores políticos e os executores das políticas res – ensino básico e secundário, ensino profissional,
ensino superior, formação de adultos, emprego e
5
Sultana, R.G. (2008). The challenge of policy implementation: A com­ inclusão social. Incluem-se entre os outros atores
parative analysis of vocational school reforms in Albania, Kosovo and
Turkey: Peer Learning 2007, p. 35. European Training Foundation. Lux­
chave os legisladores, decisores políticos, peritos e
embourg: Office for Official Publications of the European Communities. investigadores. É apenas através da identificação dos

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Competências de Gestão de Carreira: Fatores de Sucesso na Implementação de Politicas

técnicos que podem determinar as prioridades, a sua 3 O local de implementação


direção e ritmo de mudança, que a implementação
de políticas de CGC é possível. Não será necessá- O local de implementação refere-se ao contexto onde
rio dizer, no entanto, que não é suficiente. Fazer o a política de CGC será implementada: por outras
acompanhamento ao longo do processo de imple- palavras, o contexto organizacional no qual as CGC
mentação das medidas de política é essencial para serão desenvolvidas – ensino básico e secundário,
assegurar que as políticas de CGC estão em funcio- ensino profissional, ensino superior, serviços públi-
namento. Assim, uma condução clara das políticas cos de emprego, centros de formação de adultos,
requer, na maior parte dos casos, uma unidade de locais de trabalho, etc.
coordenação dedicada que desenvolva estratégias Contextos organizacionais. Os contextos variam
claras que assegurem o progresso no terreno. Um e colocam diferentes desafios ao processo de imple-
bom exemplo é o Fórum Nacional de Orientação, na mentação. Para mencionar alguns exemplos, pode-
Alemanha. Uma comissão para o desenvolvimento mos sublinhar algumas diferenças: na atribuição
contínuo do Fórum providencia o apoio à maioria de recursos; na dotação de fundos; entre entidades
dos parceiros envolvidos e aos técnicos de orienta- públicas e privadas; nos objetivos e propósitos das
ção, incluindo o apoio às autoridades ministeriais. organizações; nas perceções do desenvolvimento de
A implementação de políticas deve ser apoiada CGC entre as entidades; e na localização das organi-
por um sólido desenvolvimento de conteúdos, zações – urbana ou rural, etc. Estas diferenças levan-
serviços com profissionalismo e recursos huma- tam questões centrais em relação ao processo de
nos bem formados. O derradeiro teste ao desen- implementação, pelo facto de não haver um campo
volvimento de uma política bem-sucedida é a sua de ação idêntico para a implementação das políticas
implementação com sucesso. Em relação às CGC de CGC. Apesar da direção política comum, os dife-
pelo menos três aspetos devem ser cuidadosamente rentes contextos colocam diferentes desafios. Isto
considerados: o conteúdo das CGC, a oferta dos chama a atenção para as estratégias que combinam
serviços e os recursos humanos. Não será neces- fatores comuns nos objetivos das políticas com uma
sário dizer que as modalidades em que as CGC implementação flexível na sua realização.
são abordadas variam de acordo com o contexto e Estes contextos consistem numa variedade de
sector. O conteúdo das CGC em ambiente educativo, micro sistemas nos quais decorre a realização con-
por exemplo, pode ser ensinado transversalmente creta. A introdução de uma política de CGC terá por
no currículo ou como disciplina separada; pode ser vezes um impacto sobre os vários subsistemas da
assegurado por orientadores externos, conselheiros própria organização, particularmente sempre que as
escolares e/ou professores. No entanto independen- novas políticas criam um desafio ao funcionamento
temente da forma como é assegurado, é importante existente na organização, afetam os indivíduos, per-
que os técnicos tenham um sólido conhecimento turbam práticas estabelecidas e normas de perfor-
do tema e tenham tido uma formação adequada. mance, ou desafiam a identidade profissional. Mais
É também importante que os programas de CGC uma vez, estes fatores podem prejudicar o processo
sejam desenvolvidos com base numa investigação de implementação das políticas de CGC. O sucesso,
cuidada. Os países que relataram uma implementa- neste caso, requer mais uma vez, uma atenção sobre
ção bem-sucedida de políticas de CGC confirmaram os agentes que desempenham os papéis intermé-
que o seu sucesso dependeu de terem todos estes dios – p. ex., diretor de uma escola, de um centro de
três elementos nucleares estabelecidos: conteúdos emprego, coordenador de curso numa universidade,
sólidos, oferta de bons serviços e recursos humanos etc. Isto estabelece uma relação entre as dimensões
bem formados.

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Dorianne Gravina & Miha Lovšin

local e pessoas envolvidas na implementação, con- que fazem avançar as políticas de CGC, como
firmando a inter-relação das diferentes dimensões. foi acima mencionado. Por outro lado, os
As estruturas organizacionais podem também ciclos políticos podem prejudicar o seu pro-
atrasar o processo de implementação de políticas. cesso de implementação. Os decisores políticos
É o caso de líderes em posições estratégicas, que mudam, o que implica que os esforços de per-
têm um grande número de responsabilidades, e por suasão e promoção de determinadas medidas
isso sentem dificuldade em se concentrar sobre um de política, no nosso caso as políticas de CGC,
aspeto, no nosso caso a implementação das políticas tenham que ser renovados com novos líderes.
de CGC. • Existe também o forte apoio de organizações
Financiamento sustentável para atividades de internacionais como a UE. Por exemplo, uma
CGC. A atribuição de recursos segue-se geralmente das prioridades chave da política de educação e
à promulgação dos normativos legais que regulam a formação é a melhoria da qualidade do ensino
implementação de uma política. O inquérito confir- profissional. Com este apoio existe maior pro-
mou que há geralmente uma ligação próxima entre babilidade de as políticas serem implemen-
a atribuição de orçamentos e a implementação sec- tadas. Infelizmente, a situação nem sempre é
torial das CGC. Todos os países que têm alguma tão linear6 e, por vezes, a retórica política não é
política em vigor reportam existir alguma forma de seguida de um apoio concreto.
financiamento. Em muitos casos é um financiamento
temporário (CZ,LT,SI), enquanto noutros o financia- O local de implementação é também diferente nos
mento é constante mas não suficiente (CZ, HU, SI). seis países (de dez) que responderam ao questio-
A Alemanha é o único país onde o financiamento é nário em termos de haver alguma política de CGC
referido como sendo simultaneamente constante e estabelecida (ver o Anexo para mais detalhes).
suficiente. Os inquiridos salientaram a importância A Hungria tem uma política de CGC obrigatória
das questões orçamentais, sendo o financiamento no sector da educação:
instável prejudicial para a implementação de ativi-
dades de CGC. • Ao abrigo do primeiro plano de desenvolvi-
Questões políticas. As políticas podem ter influ- mento da UE (2004-08), o programa de CGC,
ência sobre se uma determinada medida de política enquanto competências nucleares do 1º ao
é implementada ou não: 12º ano, foi estruturado e parcialmente testado
mas nunca introduzido em todas as escolas. O
• As políticas são específicas do contexto e, deste novo governo, 2010, introduziu uma nova lei
modo, a introdução de alterações, como as de educação pública e foi emitido um novo
relacionadas com CGC, podem variar devido Currículo Nacional Obrigatório em Março de
às condições específicas de um país (sociais, 2012. Estes documentos baseiam-se em conhe-
políticas, económicas). Para além disso, apesar cimentos, em contraste com competências e
dos objetivos comuns das CGC, a prioridade aptidões. O novo Currículo Nacional Obriga-
das ações varia a nível nacional/regional de tório sublinha o papel da orientação como
acordo com os diferentes contextos/condições suporte para uma escolha precoce de carreira
e recursos disponíveis. (no 8º ano, aos 14 anos).
• Individualmente, os políticos podem ‘pressio-
nar’ a implementação de medidas de política 6
Sultana, R.G. (2008). The challenge of policy implementation: A com­
de orientação. Deste modo, a implementação parative analysis of vocational school reforms in Albania, Kosovo and
Turkey: Peer Learning 2007, p. 20. European Training Foundation. Lux­
depende, em alguns países, de agentes-chave embourg: Office for Official Publications of the European Communities.

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Competências de Gestão de Carreira: Fatores de Sucesso na Implementação de Politicas

• Sob o novo sistema de ensino profissional • Em Malta a implementação de políticas de


foi publicada uma nova lei em 2011. O pará- CGC tem progredido no sector da educação.
grafo 85 é dedicado à orientação, mas é efetivo • Portugal tem políticas de CGC no ensino supe-
apenas para 3 anos de escolaridade (do 9º ao rior e no sector do emprego. No entanto, estas
11º) em escolas comerciais sem exame final e políticas assumem mais uma forma não-siste-
para escolas secundárias de ensino profissional matizada do que estruturada e planeada.
(do 9º ao 12º). • A Eslovénia tem em vigor uma política de CGC
• A nova lei Nacional de Ensino Superior reduziu no sector do emprego.
o número de estudantes do ensino superior e
não menciona explicitamente a orientação.
• A antiga Lei do Emprego (1991) enumerava 4 A dimensão ritmo
diferentes serviços de orientação para adul-
tos, não apenas para desempregados inscritos. Ritmo de implementação. Uma das questões anali-
Embora o Conselho Nacional de Orientação ao sadas relacionava-se com o facto de a implementação
Longo da Vida tenha enfaticamente expressado das políticas de CGC ter ocorrido de forma gradual,
o seu ponto de vista (2008)7 quanto ao corte progressiva ou acelerada. As respostas ao questioná-
transversal no desenvolvimento do sistema rio da República Checa, Lituânia, Malta e Portugal
nacional de OLV, isso acabou por ter um efeito indicaram que o ritmo de implementação das CGC
muito limitado sobre a nova regulamentação. foi gradual. A resposta portuguesa ao referir-se à
introdução das CGC no sector do ensino superior
Para além disto: sublinhou o facto de ‘esta mudança política reque-
rer não apenas uma mudança de mentalidade na
• A República Checa não tem uma política defi- forma como as pessoas pensam e agem em termos de
nida de CGC, de acordo com as respostas ao tomada de decisões de carreira e de desenvolvimento
questionário. No entanto, os programas nacio- de carreira, mas também mudanças nas práticas de
nais de enquadramento educativo contêm um aprendizagem’. A tentação de seguir soluções ime-
corpo substancial de elementos relacionados diatas em vez de investir numa mudança sistémica,
com o desenvolvimento de competências de mais eficaz e de longo prazo deve ser evitada. Esta
carreira. O Fórum Nacional de Orientação dimensão relaciona-se com a fase de formulação
assume-se como plataforma de comunicação de políticas de CGC onde é necessário haver um
entre os diferentes parceiros. tempo dedicado a consultar todas as partes de forma
• A Alemanha tem uma política de CGC nos sec- a envolver as pessoas. É necessário definir marcos
tores da educação, ensino profissional, ensino temporais para que os objetivos imediatos, a médio
superior, emprego e inclusão social. As políti- e longo prazo das políticas de CGC sejam claros e
cas de CGC raramente estão em vigor no sector definidos.
da formação de adultos. Processo de monitorização. A par das dimensões
• A Lituânia tem em vigor uma política de CGC local e ritmo de implementação , temos o processo
no sector da educação. A lei de educação faz de monitorização das políticas, i.e., a verificação de
uma referência à educação de carreiras e ao que as políticas estão em andamento. Mais uma vez,
desenvolvimento das CGC. também esta dimensão se combina com a dimensão
pessoas envolvidas. Uma das responsabilidades da
7
NPT. (2008). Declaração de políticas relacionadas com o desenvol­
unidade de coordenação para a implementação de
vimento de um sistema nacional de orientação/aconselhamento ao
longo da vida harmonizado com os requisitos europeus. políticas, acima mencionada, deve consistir não

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Dorianne Gravina & Miha Lovšin

apenas na monitorização do processo de implemen- dade de fatores interligados. No entanto, a forma


tação das CGC mas também comunicar e colabo- como as políticas de CGC são implementadas e como
rar com as diferentes organizações que sofrem esta as CGC são disponibilizadas aos cidadãos depende
mudança e oferecer o apoio que seja necessário. do contexto social e cultural e das especificidades
Em relação à monitorização, a Alemanha, Lituânia, de cada país. Neste sentido vale a pena reiterar os
Malta, Portugal e Eslovénia relataram atividades rea- aspetos referidos no início, deste documento, nome-
lizadas nos sectores em que as políticas de CGC estão adamente que os seis fatores identificados servem, de
estabelecidas. certo modo, como pontos de reflexão sobre o desen-
volvimento e implementação das políticas de CGC.

Conclusão

Este estudo sugere que o sucesso na implementação


das políticas de CGC está dependente de uma varie-

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Competências de Gestão de Carreira: Fatores de Sucesso na Implementação de Politicas

Anexo: Exemplos interessantes/ da implementação bem-sucedida de políticas de CGC

Áustria República Checa

Portfólio de talentos/carreira nas escolas Fórum Nacional de Orientação (FNO).


Através de um portfólio de talentos/carreira, os estu- O FNO foi originalmente estabelecido em 2007 por
dantes descobrem e desenvolvem os seus pontos iniciativa do Instituto de Aconselhamento Psico-
fortes e os seus talentos. Os professores encorajam- lógico e Educacional da República Checa. Desde
nos a recolher provas das suas capacidades e interes- 2010 tem atuado como um corpo consultivo formal-
ses, incluindo certificados e documentação relevante mente estabelecido entre o Ministério da Educação,
que tenham recebido na escola ou noutro local, que Juventude e Desporto e o Ministério do Trabalho e
são depois integrados num portfólio de talentos Assuntos Sociais. Os objetivos principais do FNO,
baseado no ‘school-wide enrichment model´ (SEM) formulados através dos seus Estatutos, são a coorde-
(http://www.gifted.uconn.edu/). nação das políticas enquadradoras a nível nacional
O foco de atenção não são os chamados ‘altos assim como assessorar os decisores políticos nas
potenciais’, alunos extremamente dotados em deter- áreas da orientação, educação e emprego.
minado campo. O portfólio é um instrumento usado Desde o estabelecimento do FNO, estes objeti-
para sistematicamente reunir e registar informação vos têm vindo a ser alcançados sobretudo através
sobre os interesses e capacidades. Os estudantes do fortalecimento da informação recíproca entre os
desenvolvem-no autonomamente enquanto os pro- seus membros, particularmente entre os dois minis-
fessores servem de facilitadores no processo de revi- térios-chave, mas também entre outros membros-
são do portfólio. Apenas os estudantes decidem o chave, como as associações profissionais, no sector
que querem incluir. As provas poderão centrar-se da orientação e aconselhamento e as ONG. Este
em ofícios/artesanato, desporto, história, matemá- processo levou à construção de parcerias ad hoc entre
tica/lógica, línguas, ciências físicas, computadores, as ONG associadas que têm implementado vários
negócios, performance musical, composição musi- projetos conjuntos a nível local, regional e nacional.
cal, classificações de cursos, e avaliação de produtos. Um exemplo desta cooperação é o Prémio Nacional
Podem também incluir notas, documentos com o de Orientação, um projeto do Centro Euroguidance
feedback sobre interação com terceiros, amostras de da República Checa que envolve vários membros do
trabalhos concluídos, e outras observações e avalia- FNO, que têm contribuído substancialmente para
ções baseadas na realização. a atualização da informação sobre os serviços de
Durante o processo os estudantes ganham capa- orientação a nível nacional, que anteriormente se
cidades importantes como a reflexão e a avaliação. encontrava fragmentada e com deficit de identidade
O objetivo principal consiste em encorajar cada profissional. Em geral, a contribuição do FNO para
estudante a escolher o seu primeiro emprego ou o uma política de orientação integrada pode caracte-
prosseguimento de estudos, estando ciente das suas rizar-se sobretudo por um diálogo contínuo entre
competências pessoais. Numa situação de crise eco- os dois ministérios chave e os outros membros não-
nómica, a pessoa foi preparada para não desistir, mas governamentais. Isto conduziu a um entendimento
antes refletir com confiança nos potenciais pessoais e partilhado dos conceitos e questões chave.
continuar no seu caminho. Em 2011, o Ministério da Educação, Juventude e
Desporto, convidou os membros do FNO a contri-

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Dorianne Gravina & Miha Lovšin

buírem para a preparação de um grande projeto e avalia competências e conhecimentos que foram
do Fundo Social Europeu (FSE) visando o desen- adquiridos em todos os aspetos da vida: formação
volvimento estratégico dos serviços de orientação profissional, trabalho voluntário, emprego, tempos
em todas as regiões administrativas do país. Um de lazer, trabalho familiar, etc. Este instrumento cen-
dos membros institucionais do FNO, o Instituto tra-se particularmente nas competências adquiridas
Nacional de Educação, foi encarregado de elaborar a em contextos de aprendizagem informal e não-for-
proposta de projeto. Outros membros institucionais mal. Apoia o desenvolvimento e aquisição de CGC
foram convidados a contribuir com comentários à assim como a autoavaliação através duma avaliação e
proposta do projeto. Este processo foi concluído reflexão intensiva sobre pontos fortes, competências
no final de 2011. O projeto representa a primeira e interesses pessoais, bem como através do estabe-
iniciativa estratégica em orientação com um forte lecimento de objetivos e de uma parte adicional
potencial para influenciar o desenvolvimento estraté- relacionada com as competências necessárias aos
gico da orientação no país. Os objetivos principais e processos de candidatura.
atividades chave do projeto têm sido profundamente Escola: Berufswahlpasss and Profilpass. Na Alema-
influenciados pelos resultados da ELGPN e refletem nha, a orientação tem um papel importante e uma
as suas principais prioridades, enquadradas pelos longa tradição no currículo da escola secundária. Em
quatro aspetos-chave da orientação: desenvolvi- todas as regiões, é sistematicamente disponibilizada
mento das competências de gestão de carreira, acesso, orientação e preparação profissional numa disciplina
coordenação e cooperação, e garantia de qualidade. especial que pode ter designações diferentes (p. ex.,
Contudo, apesar de ter contribuído para a con- aulas sobre trabalho, trabalho-economia-tecnologia)
ceção do projeto, o FNO foi efetivamente excluído ou integrada noutras disciplinas. Aqui, a orientação
da posterior preparação do projeto. A proposta de de carreira e as CGC são os conteúdos chave.
projeto foi elaborada pelo departamento do Minis- Para facilitar, apoiar e documentar o processo de
tério da Educação, Juventude e Desporto responsável aprendizagem nesta área, o portfólio Berufswahlpasss
pela administração de projetos do FSE, sem que o (Passaporte de escolha de carreira) é integrado nas
FNO tenha sido envolvido no processo. Uma vez aulas e usado em 12 das 16 regiões. O instrumento
que o FNO tem a capacidade única, a nível nacio- inclui não só várias ofertas, parceiros e informações
nal, de garantir a qualidade de implementação do sobre orientação, como ajuda a avaliar os interesses e
projeto, a sua exclusão deste processo levanta uma pontos fortes através da autoavaliação e da avaliação
série de questões a considerar a nível da política externa. Para além disto, inclui também ‘checklists’
nacional, nomeadamente de transparência, mérito, sobre vários tópicos como a relação entre profissões
e qualidade assegurada através da cooperação de e características pessoais . Deste modo, procura ava-
organizações com capacidade para a implementação liar os conhecimentos sobre as profissões e encoraja
do projeto. a reflexão crítica e a permuta com outros estudantes.
Através da abordagem do portfólio orientado para os
Alemanha recursos do Berufswahlpasss, a autoconsciência, auto-
estima e auto eficiência são também reforçadas.
Educação de adultos: Profilpass. O ProfilPASS® é um O processo e planeamento profissional e a aqui-
instrumento ,em forma de portfólio, para fazer uma sição de CGC são apoiadas e avaliadas através do
revisão sistemática da nossa própria vida. Desta aconselhamento de carreira e também através da
forma, regista e avalia competências e conhecimen- cooperação com os serviços de orientação do Serviço
tos. Apoia as pessoas tornando-as conscientes das Público de Emprego (SPE). Para além disso, o passa-
suas forças e fraquezas pessoais. O ProfilPASS regista porte ajuda os alunos na organização da documen-

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Competências de Gestão de Carreira: Fatores de Sucesso na Implementação de Politicas

tação relativa ao processo de escolha e na gestão e com o conteúdo; requisitos e vias de acesso, possibi-
valorização dos seus documentos. lidades e alternativas às profissões mais importantes;
O Berufswahlpasss foi desenvolvido como parte do e compatibilização das aspirações e possibilidades
programa ‘Escola, Economia e Trabalho’ (financiado com a realidade. Os alunos eram consciencializados
pelo Ministério Federal da Educação e Investigação) da possibilidade de terem que mudar repetidamente
e tem sido amplamente usado em cerca de 80% das de profissão durante a sua vida de trabalho. As esco-
escolas gerais como parte integrante dos programas las tiveram que oferecer uma visão abrangente do
de educação de carreira desde 2005. O seu poste- mundo do trabalho, de acordo com a idade dos
rior desenvolvimento contínuo é assegurado por um estudantes e das suas próprias possibilidades. Con-
grupo de trabalho dos estados federais, que utilizam sequentemente, tornou-se necessário assegurar con-
o instrumento, dirigem também o sítio da internet e dições e atividades que pudessem ajudar os alunos a
organizam outras atividades relacionadas. Ver: www. testar as suas capacidades e a envolverem-se nas áreas
Beruf­swahlpass.de e a base de dados KSSLLL. que cativassem os seus interesses, de forma a desen-
volver o seu autoconhecimento e o conhecimento
Hungria das profissões. A orientação só poderá ser eficaz se
for implementada durante um período mais longo
Ensino básico e secundário. O primeiro Currículo de tempo e se explorar as possibilidades inerentes às
Nacional Obrigatório (abreviatura húngara: NAT) várias disciplinas, áreas e atividades extracurriculares
publicado em 1995 (reestruturado em 2003 e em de forma concertada.
2007) especificou o desenvolvimento por anos de Ensino profissional. O primeiro e o segundo Pro-
escolaridade de,1 a 10, em termos de dez domínios grama de Desenvolvimento de Escolas Profissionais
culturais. Um dos dez era o ensino de estilos de vida (SZFP: Szakiskolai Fejlesztési Programme) foram imple-
e competências práticas, incluindo orientação de mentados pelo Instituto Nacional de Ensino Pro-
carreira. O primeiro NAT definiu que a percentagem fissional (Nemzeti Szak­képzési Intézet). No primeiro
do tema estilos de vida e competências práticas no SZFP estiveram envolvidas 90 escolas comerciais e
total do currículo era de 4-7% do 1º ao 4º ano, 5-9% na segunda fase foram adicionadas outras 70. Foram
no 5º e 6º, 6-10% no 7º e 8º e finalmente, de 5-9% formados cem professores das escolas comerciais.No
no 9º e 10º. 9.º ano das escolas comerciais, de acordo com a lei
Paralelamente à publicação do currículo obri- de educação pública em vigência, as escolas podem
gatório, os professores tiveram que enfrentar um tomar as suas próprias decisões sobre se incluem ou
novo desafio: elaborar o currículo local correspon- não orientação em duas aulas por semana (74 aulas
dente. O domínio cultural em questão integrava por ano letivo).
três disciplinas: tecnologia, ciências domésticas e A administração quis que o projeto reforçasse o
orientação. A expressão ‘aconselhamento (de car- desenvolvimento das escolas profissionais que fica-
reira) ‘usada antes da mudança de regime deu lugar ram numa posição de grande desvantagem devido à
a ‘orientação (de carreira).’ De acordo com a legisla- introdução do alargamento da escolaridade obriga-
ção aplicável, o objetivo geral era ajudar os alunos/ tória até aos 18 anos. No SZFP, o desenvolvimento
estudantes a estabelecer um projeto profissional. da orientação em escolas profissionais foi atribuído
Mais especificamente incluía as seguintes vertentes: ao Módulo G. Este foi elaborado com um conte-
desenvolvimento do autoconhecimento com base údo reduzido ab ovo, devido ao facto deste tipo de
na identificação das competências e capacidades do escola não oferecer um certificado aos alunos for-
indivíduo; familiarização, baseada na experiência, mados. Consequentemente, as opções educativas e

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Dorianne Gravina & Miha Lovšin

de emprego posteriores dos alunos estão limitadas por isso que as atividades representando o ponto
a empregos e a formação adicional que não exijam de partida para os passos a definir numa data pos-
o exame final do secundário (GCSE). terior devem ter esse caráter de processo.
Houve muitas críticas à disponibilização de orien-
tação nas escolas profissionais, sendo considerado Princípio de desenvolvimento. Tanto a abordagem
como um beco sem saída. No entanto, em resul- pedagógica como a individual se traduzem em
tado do projeto, ofereceu-se formação adicional em mudança, frequentemente definida como uma
orientação a centenas de professores de escolas pro- nova qualidade no percurso de vida. O desen-
fissionais. As instituições participantes e os seus pro- volvimento biológico normal, em idade escolar,
fessores estabeleceram uma rede. Para além disso, foi está associado ao desenvolvimento psicológico.
preparado um conjunto de instrumentos eletrónicos Ou seja, no contexto de construção de carreira, os
de orientação, que está agora acessível com o título traços de personalidade são tomados em conside-
Sza­kmaInfo. ração, pois contribuem para o desenvolvimento
Emprego. A medida 3.1.1. do Programa Opera- pessoal, construção de projetos profissionais e
cional de Desenvolvimento de Recursos Humanos para o sucesso.
(abreviatura húngara: HEFOP), cofinanciado pela
União Europeia, incluía o desenvolvimento de uma O princípio de periodicidade. A periodicidade, isto
área curricular, do 1º ao 12º ano, sobre com- é, a repetição, está presente no processo da ativi-
petências chamada ‘construção de careira’ em vez dade criativa. As mesmas experiências, eventos
de ‘orientação’. A atividade terminou em Março de e circunstâncias serão recorrentes, embora com
2008. Até essa data, 600 escolas, 105.000 alunos e diferentes características. As repetições podem
8.000 professores participaram neste projeto lançado marcar fases fortemente interligadas ou clara-
com a gestão do anterior Sulinova Kht (sucessor ofi- mente separadas. A repetição é uma componente
cial: Educatio Kht). A base para o desenvolvimento essencial e é motivada pelo desejo de cumprir
profissional foi uma aplicação intitulada ‘The Real objetivos ou requisitos cada vez mais avançados.
Game,’ anteriormente importada do Canadá. A área
de desenvolvimento de competências de gestão de O princípio da consolidação. É uma precondição
carreira definiu as suas diretivas da seguinte forma: que os traços de personalidade que garantem a
continuidade de performance estejam presentes.
Princípio de processo. Se as atividades represen- Estes traços de personalidade consolidam-se gra-
tando o percurso de vida são definidas como dualmente ao longo do tempo. A própria ativi-
atividades criativas, então, obviamente, a sua dade é exclusivamente definida ou influenciada
sequência tem uma dimensão cronológica e essa pelos traços de personalidade consolidados.
dimensão surge, em última análise, como um
processo no percurso de vida. Essencialmente, os O princípio da valorização das circunstâncias positi-
alunos são iniciados neste processo através de ati- vas. A construção do projeto profissional coloca
vidades de socialização. Os professores trabalham menos ênfase no desenvolvimento de conteúdos
com os alunos durante um período de tempo emocionalmente positivos, traços de personali-
definido, um ‘momento fixo’ (que, , pode durar dade e conhecimentos: centra-se antes no subli-
até um ano). Isto representa um curto período, nhar dos existentes. O salientar dos pontes fortes
em termos do desenvolvimento da personali- de cada um é a base para uma correta autoava-
dade e do autodesenvolvimento. Encontrando-se, liação e para o nível adequado e qualidade de
assim, numa etapa específica do ciclo de vida. É autoconfiança.

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Competências de Gestão de Carreira: Fatores de Sucesso na Implementação de Politicas

O princípio de apoio. A construção do percurso térios de avaliação, bem como o conjunto de serviços
profissional é uma atividade de apoio: implica na área da gestão de carreira. O Modelo também
não haver uma direção ou o assumir de respon- inclui a descrição dos princípios subjacentes à dispo-
sabilidades. O apoio é prestado para apoiar a nibilização de serviços de apoio à gestão de carreira,
pessoa a selecionar o que for melhor para si. Este questões financeiras e de organização.
princípio implica que não podemos decidir pelo Nos serviços de apoio à gestão de carreira para
outro; apenas podemos apresentar as alternativas estudantes, é conferido um papel importante à moni-
existentes e alertar para a vantagem de fazer cor- torização do percurso dos licenciados. O sistema de
responder as características individuais com as monitorização complementa o conjunto de serviços
diferentes oportunidades. de apoio à gestão de carreira.
Os serviços de apoio à gestão de carreira para estu-
Transectorial. Um dos resultados mais importantes dantes do ES incluem:
do SROP 2.2.2, iniciado em 2008, foi a construção
de uma rede nuclear de profissionais de orientação, 1. Educação para a carreira – desenvolvimento
funcionando através de um protocolo unificado e de competências de gestão de carreira dos
uma matriz nacional de competências recentemente estudantes (conhecimentos, competências e
desenvolvida. Esta matriz contém as competências atitudes).
mais importantes que se espera que qualquer técnico 2. Avaliação de carreiras – ajudar os estudantes
de orientação na Hungria tenha. na aplicação do conhecimento sobre carate-
rísticas pessoais relevantes para o desenvolvi-
Lituânia mento profissional.
3. Aconselhamento de carreiras – ajudar os estu-
CGC no ensino superior. O Modelo de serviços de dantes a resolver problemas de carreira.
apoio à gestão de carreira para estudantes do ensino 4. Exploração de oportunidades de carreira –
superior foi aprovado pelo Ministério da Educação ajudar os estudantes na aplicação de conhe-
e Ciência em 2011, com a recomendação do Minis- cimentos sobre oportunidades profissionais
tério para ser implementado no sector do ensino no processo de desenvolvimento de carreira.
superior. Desenvolvido pela Universidade de Vilnius, 5. Procura de emprego – ajudar os estudantes a
enquanto parte de um projeto financiado pela UE, adquirir competências de procura de emprego
em parceria com outras 27 instituições de ensino e a procurar empregos que satisfaçam as suas
superior na Lituânia. O Modelo é um exemplo do necessidades pessoais.
acordo alcançado entre o Ministério, autoridades
universitárias, profissionais e peritos de orientação. A educação de carreiras é referida como o serviço
Representa o entendimento comum da natureza e nuclear de orientação de carreiras para estudantes no
princípios dos serviços de apoio à gestão de car- ES: o principal objetivo de todos os serviços de car-
reira que deveriam ser oferecidos aos estudantes do reira é o desenvolvimento das CGC dos estudantes.
ensino superior.
A Lei de ensino superior e investigação (2009) Malta
apenas refere a obrigação da instituição de ensino
superior ‘oferecer consulta no âmbito da carreira aos Simulação de emprego nas escolas. As experiências
estudantes’, enquanto o Modelo descreve o sistema de simulação de emprego no sector financeiro, da
geral de gestão de carreira nas instituições de ensino saúde e das TIC estão a ser implementadas em esco-
superior: a sua missão, visão, objetivos, tarefas e cri- las a nível nacional. São organizadas pelas entidades

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Dorianne Gravina & Miha Lovšin

relacionadas com cada sector e pelo Departamento fazer uma autorreflexão e a procurar feedback dos
de Serviços de Estudantes na Direção de Serviços empregadores.
Educativos. Isto implica que os estudantes passem As aulas de carreira, do programa de educação de
uma semana num posto de trabalho, simulando carreiras no 2º ciclo (Form 4) ,também oferecem aos
estarem empregados. estudantes uma boa base de competências necessá-
O contacto com as atividades profissionais ofere- rias para o mundo do trabalho. Os estudantes podem
cem aos estudantes uma oportunidade de pensarem relacionar o que aprenderam durante as aulas de
concretamente sobre o seu percurso profissional. A carreira com o que observaram enquanto estiveram
investigação sugere que os estudantes que têm um “colocados”. O final do segundo ciclo (Form 4) é um
plano de carreira têm mais probabilidades de perma- bom ano para proporcionar aos estudantes uma
necer no sistema escolar. Um outro propósito desta experiência como esta.
experiência é alargar o conhecimento dos percursos Sector do Ensino Profissional. Foram introdu-
profissionais. Frequentemente os estudantes apenas zidos os programas MQF nível 1, com um espaço
conhecem um pequeno número de profissões num semanal de duas horas dedicado ao desenvolvi-
determinado sector. Esta reconsideração pode signi- mento pessoal. Os aspetos de carreira são também
ficar que o estudante necessite de uma determinada incluídos transversalmente no currículo tanto em
disciplina que não esteja a estudar nesse momento. competências chave como em disciplinas vocacio-
Por exemplo, uma estudante compreendeu que ter nais. Para além disso, foram introduzidas sessões
Contabilidade no 9º ano a ajudaria a seguir o per- de desenvolvimento pessoal para estudantes que
curso profissional escolhido: ao frequentar esta dis- prosseguem nos programas MQF nível 3, com uma
ciplina nos seus tempos livres foi capaz de fazer o ênfase particular nas competências interpessoais que
exame no final do 9º ano. Este contacto com o tra- são uma necessidade no emprego.
balho também se destina a motivar os estudantes, do
nível secundário, a estudarem mais. Os estudantes Portugal
fazem-no frequentemente ao tomar consciência da
relevância da disciplina. Esta experiência também Competências de Gestão Pessoal de Carreira no
ajuda os estudantes a compreender que necessitam Ensino Superior. Tem sido implementado um Semi-
de dominar um certo número de competências nário de Gestão Pessoal de Carreira (GPC, versões A
sociais e interpessoais (soft skills). Estas competências e B) por professores e investigadores de psicologia
demoram tempo a adquirir. Serviço de Psicologia da Universidade do Minho.
A experiência é distribuída ao longo de um certo O GPC-A destina-se a apoiar a gestão pessoal de
período de tempo, durante o qual são desenvolvidas carreira de estudantes de graduação (explorar profis-
várias competências: escrever uma carta de candida- sões, estabelecer objetivos, elaborar e implementar
tura, elaborar um CV, preparação para uma entre- planos de ação, monitorização e feedback). Consiste
vista (para a qual os estudantes são estimulados a em oito sessões de 120 minutos cada, desenvolvidas
procurar informação), e como proceder durante uma semanalmente em ambiente de sala de aula ou no
entrevista. Através da experiência prévia de ‘e-mails’ Centro, com pequenos grupos de estudantes de dife-
enviados aos alunos, sessões individuais e de turma rentes áreas de especialização (n = 8 – 10). O GPC-B
para os estudantes que participam na experiência destina-se a apoiar os estudantes de doutoramento
de emprego, assim como através de um ‘diário de e bolseiros de investigação da mesma instituição,
bordo’ de reflexão, os estudantes são estimulados a também na aquisição ou desenvolvimento de com-
visitar na internet os sítios dos seus empregadores, portamentos estratégicos de carreira. Consiste em

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Competências de Gestão de Carreira: Fatores de Sucesso na Implementação de Politicas

sete sessões de 90 minutos cada, que se desenrolam mais novos na universidade. O Programa de Men-
semanalmente no Centro, com pequenos grupos de tores em Gestão Pessoal da Carreira é uma iniciativa
participantes de diferentes domínios científicos (n complementar desenvolvida pela mesma equipa de
= 6-8). Ambas as formas do GPC estão estruturadas académicos de psicologia e inclui uma supervisão
em três blocos principais, numa tentativa de abran- contínua dos Mentores GPC pela equipa. Os Men-
ger três componentes do processo de construção de tores GPC são reconhecidos pela Universidade do
carreira: personalidade profissional, adaptabilidade Minho para efeitos de Suplemento ao Diploma (SD).
de carreira, e temas de vida. Contudo, é dedicada O SD é recomendado pela Declaração de Bolonha
uma ênfase especial aos recursos de adaptabilidade e tem-se tornado num dos instrumentos principais
de carreira. de mobilidade e empregabilidade de licenciados. O
O processo e os resultados deste modelo de inter- objetivo do SD é oferecer suficiente informação, livre
venção são avaliados através do uso de ‘check-lists’, de qualquer julgamento de valores, para promover
questionários e entrevistas estruturadas. Os parti- a transparência internacional e o justo reconheci-
cipantes do GPC-A podem candidatar-se a Mento- mento das qualificações profissionais e académicas
res em Gestão Pessoal da Carreira de estudantes (diplomas, licenciaturas, certificados).

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EUROPEAN LIFELONG GUIDANCE POLICY NETWORK (ELGPN) aims to assist the European Union
Member States (and the neighbouring countries eligible for the Lifelong Learning Programme) and the Euro-
pean Commission in developing European co-operation on lifelong guidance in both the education and the
employment sectors. The purpose of the Network is to promote co-operation and systems development
at member-country level in implementing the priorities identified in EU 2020 strategies and EU Resolutions
on Lifelong Guidance (2004; 2008). The Network was established in 2007 by the member-states; the Com-
mission supports its activities under the Lifelong Learning Programme.

A IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS de Competências de Gestão de Carreira (CGC) envolve variados

Cover: Martti Minkkinen


desafios. Este documento síntese pretende identificar os elementos que apoiam o desenvolvimento e
implementação de políticas relacionadas com as CGC, assim como aqueles que possam constituir um
obstáculo à implementação das políticas. As questões destacadas são apoiadas pela teoria e experiências
observadas em países membros da ELGPN.

O documento síntese foi encomendado pela ELGPN e tem o apoio de um grupo de referência seleciona-
do entre os seus membros. Os pontos de vista expressos, contudo, são os dos seus autores e não repre-
sentam necessariamente os pontos de vista da ELGPN ou dos seus países-membros.

Os autores são Dorianne Gravina (Malta) e Miha Lovšin (Eslovénia).

ISBN 978-972-742-370-5 http://elgpn.eu

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