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INSTITUTO SUPERIOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Curso de Licenciatura em Administração Pública

Trabalho de Conclusão de Licenciatura

Impacto socioeconómico do processo de Reassentamento das populações


vítimas de cheias em Moçambique: O caso do Distrito de Caia (2008 a 2012)

Helena Cumbane

Maputo, 21 de Maio de 2013


DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Eu, Helena Cumbane declaro, por minha honra, que o presente trabalho é da minha autoria e
que nunca foi anteriormente apresentado para avaliação em alguma Instituição de Ensino
Superior, Nacional ou de outro País.

Maputo, 21 de Maio de 2013

______________________________________________
Helena Cumbane

ii
AGRADECIMENTOS

Ao concluir este trabalho, presto uma homenagem especial às pessoas especiais que muito
contribuíram, para a realização desse sonho:
Ao meu orientador, Prof. Doutor Alsone Jorge Guambe, pela paciência e cordialidade com que
dirigiu este trabalho.

Ao meu amigo, dr. Agostinho Teotónio Nhacume que não mediu esforços nem poupou tempo,
em auxiliar-me na busca de melhores informações, para este estudo.

À Deus, rendo graças todos os dias pelo dom da vida. A toda minha família que desde a
participação nas entrevistas de admissão e do inicio do curso, deu me fortes incentivos e
encorajamento. Agradecimento muito especial vai, para o meu filho (Gervásio Armando
Lifaniça), aos meus falecidos pais (Simione e Carlota), às minhas filhas (Mércia e Nádia
Lifaniça) que sempre e sem cessar prestaram- me o apoio fraternal.

Um agradecimento especial vai, para o Instituto Superior de Relações Internacionais – ISRI e, o


meu obrigado vai também aos meus colegas (Arnaldo, Felicidade, Ângela e Márcia) pela partilha
do conhecimento, sofrimento e também por terem me proporcionado bons momentos de
convívio e de ajuda sempre que tivesse dúvidas ou problemas.
Agradeço `a Direcção do INGC, pelo todo o apoio prestado, até a concretização do sonho, pelo
acolhimento e oportunidade de estudo.

É difícil citar e agradecer de forma isolada a todas as pessoas, algumas foram por mim
esquecidas por questões de memória. Por isso, a todos que de forma directa ou indirecta
ajudaram-me nessa maravilhosa aventura, retribuo o meu sincero obrigado.

iii
TERMO DE RESPONSABILIZAÇÃO DO CANDIDATO E DO SUPERVISOR

Impacto Socioeconómico do Processo de Reassentamento das Populações Vítimas


de Cheias em Moçambique: O Caso do Distrito de Caia (2008 a 2012)

Trabalho a ser submetido ao Instituto Superior de Relações


Internacionais (ISRI) como cumprimento parcial dos requisitos
necessários, para a obtenção do grau de licenciatura em
Administração Pública.

A Candidata:

_________________________________________
(Helena Cumbane)

O Supervisor:

_________________________________________
(Prof. Doutor Alsone Jorge Guambe)

iv
ÍNDICE

DECLARAÇÃO DE AUTORIA ...................................................................................................................... ii


AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................. iii
TERMO DE RESPONSABILIZAÇÃO DO CANDIDATO E DO SUPERVISOR ..................................................... iv
Epígrafe ................................................................................................................................................. vii
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................................viii
LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS ............................................................................................................. ix
LISTA DE TABELAS ................................................................................................................................... ix
SUMÁRIO EXECUTIVO.............................................................................................................................. x

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1


1.1. Contextualização ...................................................................................................................... 2
1.2. Delimitação do tema no tempo e no espaço ............................................................................. 3
1.3. Pertinência do estudo .............................................................................................................. 4
1.4. Problematização do tema......................................................................................................... 4
1.5. Objectivos ................................................................................................................................ 6
1.5.1 Objectivo geral ........................................................................................................................ 6
1.5.2 Objectivos específicos ............................................................................................................. 6
1.5.3 Hipóteses ................................................................................................................................ 6
1.5.4. Questões de Pesquisa ............................................................................................................ 7
1.6. Metodologia ............................................................................................................................ 7
1.6.1 Métodos ................................................................................................................................. 8
1.6.2 Técnicas .................................................................................................................................. 9
1.7. Estrutura do trabalho ............................................................................................................... 9

CAPITULO 2 - ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL................................................................... 11


2.1. Enquadramento Teórico ......................................................................................................... 11
2.2. Quadro Conceptual .............................................................................................................. 13
2.2.1 Impacto Socioeconómico ................................................................................................ 13

v
2.2.2 Processo de Reassentamento das Populações ....................................................................... 14
2.2.3 Cheias ............................................................................................................................ 16

CAPÍTULO 3 - PROCESSO DO REASSENTAMENTO ................................................................................... 17


3.1. Abordagem Sobre os Problemas Provocados pelas Cheias e Formas de Resolução ...................... 20
3.2. Experiências de alguns países...................................................................................................... 20
3.3. Em Moçambique ......................................................................................................................... 24
3.4. Visão sobre o desenvolvimento local .......................................................................................... 29

CAPÍTULO 4 - ESTUDO DE CASO ............................................................................................................. 34


4.1 A amostra .................................................................................................................................... 34
2.2 Apresentação, interpretação dos dados (e resultados) ........................................................... 37
4.3. Caracterização do distrito de Caia ............................................................................................... 37
4.5. Instituições envolvidas no processo ............................................................................................ 43
4.6 Percepção das pessoas................................................................................................................. 45
4.7 Limitações ................................................................................................................................... 46
4.9 Recomendações........................................................................................................................... 48
Referências bibliográficas ...................................................................................................................... 50

vi
Epígrafe

“A mente que se abre para novas ideias jamais retorna ao seu estado original”.
Albert Einstein

vii
DEDICATÓRIA

Ao meu gentil e insubistituível filho (Gervásio Armando Lifaniça) que, conquanto conhece o
sabor da ciência (ainda que desprovido de recursos), usou do valor do seu cerebral, para me
incutir o interesse pelo conhecimento e sabedoria, neste caso a Escola [… Depois de muito
sofrimento, um dia as trevas irão desaparecer…] – diz ele!

Aos meus falecidos pais, Simione Cumbane e Carlota Mucumbi (in memorium) insubistituíveis
protectores, que com suas lições quotidianas traduziram sempre a seguinte citação [ quem dos
perigos foge, tudo ganha ou pelo menos sobrevive por mais tempo] – A Escola é um meio!

As minhas filhas Mércia e Nádia Lifaniça, pela moral, companhia e sorriso que sempre me
permitiram.

Ao meu companheiro Agostinho Teotónio Nhacume que sempre me deu todo o apoio necessário
para a realização deste sonho.

Dedico também `a minha família por ser minha família, aos amigos e colegas do serviço, pelo
apoio moral que me proporcionaram..

viii
LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS

BIRD - Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento


CCGC - Conselho Coordenador de Gestão de Calamidades
CGR - Comité de Gestão de Risco
CMRJ - Conselho Municipal do Rio de Janeiro
FMI - Fundo Monetário Internacional
GACOR - Gabinete de Apoio e Coordenação do Reassentamento
INGC - Instituto Nacional de Gestão de Calamidades
OGE - Orçamento Geral do Estado
OMM - Organização Meteorológica Mundial
PARPA - Programa Para a Redução da Pobreza Absoluta
PES - Plano Estratégico Social
PIB - Produto Interno Bruto
SDAE - Serviços Distrital das Actividades Económicas
SMDC - Sistema Municipal de Defesa Civil
UNAPROC - Unidade Nacional de Protecção Civil

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Indicadores das variáveis 39


Tabela 2 Instituições envolvidas no processo 44
Tabela 3 Percepção das pessoas 45

ix
SUMÁRIO EXECUTIVO

O estudo em causa é de carácter exploratório, descritivo, de abordagem qualitativo-quantitativa


e tem como objectivo central, analisar o impacto socioeconómico do processo de
Reassentamento das populações vítimas das cheias. Tratou-se de um estudo de caso com o uso
do método monográfico realizado no Distrito de Caia, no período compreendido entre 2008 a
2012.

A realidade de um reassentamento e subsequente reintegração faz-nos reflectir sobre os desafios


similares que surgem em contextos de pós-conflitos, de reconciliação e de integração.
Moçambique é um dos exemplos bem sucedidos de prevenção de calamidades naturais o que
releva a progressiva redução de mortes e danos materiais decorrentes dos desastres naturais
como consequência directa do estabelecimento, melhoramento sistemático dos sistemas de
prevenção e de resposta rápida ao nível das comunidades.

Contudo, a teoria da escolha pública (base teórica deste estudo) ajuda a clarificar os problemas
inerentes à tomada de decisão colectiva e isso, faz com que saiam a superfície, para hoje serem
identificados como resultado de «fracassos do governo», ou melhor, do sector público e do
sistema político: A pobreza da maior parte dos países em vias de desenvolvimento obriga as
pessoas a afixarem-se em zonas ou regiões baixas e propensas as in, para poderem praticar
agricultura garantindo assim, a sua sobrevivência por um lado e, por outro, a baixa renda, não
confere a estas pessoas uma opção dai que, o único recurso é se afixarem nestas zonas de risco.
A renitência destes cidadãos em abandonar estas zonas, mesmo com apelos, disseminação de
informações importantes e oferta de boas condições em zonas seguras por parte do governo
(administração Pública).

Palavras-chave: calamidades, Reassentamento de populações, vítimas das cheias, desastres naturais

x
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

A transferência obrigatória de população é um tema que, cada vez mais, ganha destaque no seio
da nossa sociedade, quer por razões ligadas às calamidades, quer por razões ligadas aos aspectos
de ecossistemas (manutenção de espaços de convívio entre o Homem e a fauna bravia) nos
diversos pontos do nosso país e até mesmo fora. De acordo com a ABES - Associação Brasileira
de Engenharia Sanitária e Ambiental, esta questão é tratada ainda com mais relevância quando
agências internacionais de financiamento estão envolvidas, como o Banco Mundial (BIRD) e o
Fundo Monetário Internacional (FMI). Os cuidados com os resultados dos reassentamentos, no
que se refere as condições de vida das famílias afectadas é uma questão que pressupões todas as
etapas dos programas: concepção, elaboração, negociação do financiamento e implementação.

Esses cuidados se traduzem na adopção de critérios e directrizes, desde a elaboração de um plano


de reassentamento detalhado, monitoria das acções, viabilização de equipas, para a realização do
trabalho social e verificação constante da metodologia aplicada com os especialistas das agências
internacionais, quando estas estão financiando a intervenção. Neste caso, esses procedimentos e
os resultados esperados compõem, a lista de acordos contratuais que são criteriosamente
acompanhados e que o seu não cumprimento integral, pode provocar o cancelamento do
financiamento dos respectivos programas.

Outrossim, o controlo sobre as consequências destas transferências, bem como o


acompanhamento de todo o processo também é exercido pelas organizações da sociedade civil,
pré-existentes ou potencializadas pela própria intervenção do sector público, que demanda
interlocutores representativos e com liderança para poder actuar nestas áreas.

Alceu Guérios Bittencourt1 ajuda a sustentar que as questões relativas à remoção e


reassentamento de população a serem destacadas neste trabalho ilustram os diversos aspectos a
serem tratados sobre o tema, tendo por intenção evidenciar a complexidade do assunto, e, por
isso, de interesse multidisciplinar para além da sociologia ou do serviço social. A análise das

1
Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Paraná e Curso de Especialização em Administração
de Empresas para Graduados da Fundação Getúlio Vargas. Diretor da COBRAPE – Cia. Brasileira de Projectos e
Empreendimentos, a partir de 1989; actualmente é Coordenador Geral da Equipe de Gestor do Programa Guarapiranga.

1
remoções e reassentamentos depende de um conjunto amplo de factores, que abrangem
alternativas de concepção dos projectos de engenharia, procedimentos quanto à programação e
implementação das obras, custos, e, em geral, um arranjo institucional que torna a
operacionalização das acções mais complexa e de difícil consecução.

A tentativa de avaliar os resultados do processo de reassentamento das vítimas de inundações do


bairro Sombreiro no distrito de Caia província de Sofala, faz com que se levantem as principais
questões que envolvem a transferência de populações de locais de risco para locais seguras,
também tem por objectivo, além de alertar para a dimensão do tema, contribuir, para orientar o
tratamento da questão no âmbito dos programas de investimentos, para implantação de infra-
estrutura em áreas de ocupação (densa e desordenada).

A actuação nesta área, pelo menos de forma mais consequente em relação aos resultados sobre as
condições de vida das famílias afectadas, é uma preocupação antiga do governo moçambicano,
assim que, no final da década de 90, criou-se através do decreto nº 38/99 de 10 de Junho, uma
instituição de administração pública dotada de personalidade jurídica e autonomia
administrativa, vocacionada, para a prevenção e mitigação de calamidades naturais.

1.1. Contextualização

Os perigos naturais só se consideram desastres quando actuam sobre as acções e actividades


humanas. As ameaças naturais não afectam a todos por igual. As suas consequências desastrosas
são proporcionais à vulnerabilidade das comunidades e dos territórios. Por isso, 90% das vítimas
de desastres vivem em países em vias de desenvolvimento, em condições de pobreza que levam
comunidades a viver em áreas de risco, propensas a serem afectadas por inundações, terramotos,
etc. Os seus riscos são maiores quando há práticas ambientais, tecnológicas e urbanistas que
aumentam o problema, (Rebouças, 2000:27).

O Governo de Moçambique-PARPA II (2006:71), sustenta, considerando que, o aumento da


ocorrência de desastres no mundo, sobretudo em países como Moçambique ameaça destruir a
riqueza humana e a própria vida. Os desastres não são inevitáveis. Por isso, a prevenção de

2
desastres torna-se um assunto muito importante do desenvolvimento. Mediante a prevenção de
desastres pode-se reduzir a vulnerabilidade das comunidades e dos territórios, em face das
diversas ameaças. Contudo, não é fácil promover uma cultura de prevenção, porque os custos se
pagam no presente para surtir efeitos no futuro.

Esses desastres acontecem quando se desencadeia uma força ou energia com potencial destruidor
(ameaça) e encontra condições de debilidade perante essa força ou incapacidade para responder
aos seus efeitos (vulnerabilidade). A vulnerabilidade determina a intensidade do desastre, ou
seja, o grau de destruição da vida. Por isso, as calamidades naturais resultantes de mudanças
climatéricas e actividades sísmicas podem agravar a situação da pobreza absoluta, devido ao
impacto destrutivo sobre a dimensão humana e infra-estruturas sócio económicas, sem contar
que a localização geográfica de Moçambique torna o país vulnerável a anomalias climáticas,
(Rebouças, 2000).

Assim, este trabalho está inserido num contexto de medidas tendentes que possam responder
adequadamente às calamidades naturais, as quais partirão por conhecer as ameaças, as
vulnerabilidades e as capacidades das comunidades afectadas para poderem mitigar e responder
aos impactos negativos causados pela ocorrência de uma calamidade.

1.2. Delimitação do tema no tempo e no espaço

O horizonte temporal de incidência deste estudo compreendeu o período de 2008 a 2012, dentro
do qual, se produziu resultados baseados em instrumentos documentais (entre outros) tais como
os planos estratégicos concretos desenhados e implementados nesse período, bem como os
Programas Quinquenais do Governo etc. Esperando-se com efeito, que a implementação e
monitorização que se tenham realizado em conformidade com o sistema de planeamento vigente:
O Plano Económico e Social e o Orçamento do Estado dois instrumentos anuais chaves nesse
processo.

3
No entanto, há que ressaltar que em alguns casos, fez-se menção a alguns períodos anteriores
para efeitos de comparação e explicação da realidade do período em análise tendo como base o
passado.

Ora, no que diz respeito ao local onde se desenvolveu o estudo/trabalho de campo ficou
determinado o bairro Sombreiro do distrito de Caia na Província de Sofala, por se tratar de um
bairro resultante do reajustamento do Estatuto Orgânico do INGC, criando-se uma unidade
específica do reassentamento em 2007. Outrossim, uma proximidade que fez desta, uma das
regiões mais afectadas pelas cheias ocorridas no ano 2008.

1.3. Pertinência do estudo

O PARPA II (2006-2009) mantém os objectivos de reduzir a pobreza através da redistribuição de


recursos que também beneficiam a população mais desfavorecida e pobre. Por outro lado, o
desenvolvimento rural pretende assegurar o envolvimento activo e directo das famílias rurais
pobres no crescimento rápido da economia moçambicana e garantir que a economia agrária
contribua directamente para a redução da pobreza em Moçambique (A maioria dos pobres em
Moçambique vive nas zonas rurais).

Com base nesta noção e, aliado a questões das calamidades naturais, este estudo reveste-se de
elevada pertinência na medida em que tenta explanar com clareza as acções do governo na área
de gestão de risco de calamidades naturais que de entre outros podem se apontar a redução do
número de vítimas humanas e a perda de propriedades no caso especifico no Distrito de Caia, em
Sofala.

1.4. Problematização do tema

Para o Governo de Moçambique-PARPA II (2006:8) a redução da pobreza absoluta tem sido um


dos principais objectivos nos programas de governação, do país. Contudo, a definição do
conceito pobreza continua em debate. Para efeitos de definição de políticas, a pobreza foi
inicialmente relacionada com a falta de rendimentos – dinheiro ou espécie – necessários para a

4
satisfação das necessidades básicas. Porque esta definição monetarista não cobria todas as
vertentes da pobreza, foi-se alargando o conceito para abarcar aspectos como falta de acesso à
educação, saúde, água e saneamento, entre outros.

Neste momento, o conceito de pobreza também inclui aspectos como o isolamento, exclusão
social, falta de poder, vulnerabilidade e outros, dado que a pobreza é um fenómeno
multidimensional, e por isso, não existe um único indicador capaz de captar todas as suas
vertentes. Portanto, para medir a evolução de pobreza, é preciso empregar vários indicadores que
captem as vertentes principais de pobreza através de múltiplas abordagens, (PARPA II,
2006:18).

Entretanto, sabe-se que em 1992, Moçambique era conhecido como “o país mais pobre do
mundo”. Esta situação indesejável resultou de uma herança histórica complexa que inclui uma
colonização com fraco ênfase no capital humano, uma experiência socialista falhada (em termos
económicos), e uma guerra civil viciosa que durou mais de uma década. A esta combinação
nefasta acrescente-se a seca de 1991-92 que foi uma das mais severas do século XX. Seria difícil
sobrestimar a severidade da pobreza que existia nesta altura. Entretanto, desde 1992, a economia
e a sociedade transformaram-se profundamente, (Ibid.).

Por outro lado, a estratégia de redução da pobreza no PARPA I que se concentrou nas
determinantes principais do crescimento económico, tais como (i) a paz e o relançamento
económico pós-guerra, (ii) estabilidade macroeconómica, (iii) educação, (iv) saúde, (v)
agricultura e desenvolvimento rural, (vii) infra-estruturas básicas, (viii) boa governação e; (ix)
gestão macroeconómica e financeira bem como a transição para uma economia de mercado,
constituiu uma operacionalização, que estabeleceu uma visão das áreas de acção básicas visando
o melhoramento do bem-estar da população, como compromisso explícito do Governo. E, o
PARPA II (2006-2009) mantém os objectivos de reduzir a pobreza através da redistribuição de
recursos que também beneficiam a população mais desfavorecida e pobre.

Nesta base, procurando encontrar melhores formas de promoção de desenvolvimento económico


e consequente redução da pobreza em Moçambique – especialmente em Caia (Sofala) - levanta-

5
se a seguinte questão inicial de pesquisa: tendo em conta o papel interventivo do Estado como
agente provedor do bem-estar social, qual é o impacto socioeconómico do processo de
reassentamento da população vítima de cheias havidas no Distrito de Caia, em Sofala, no
período 2008 a 2012?

1.5. Objectivos

1.5.1 Objectivo geral

 Analisar o impacto socioeconómico do processo de Reassentamento da população


vítima de cheias no Distrito de Caia, em Sofala, no período 2008 a 2012.

1.5.2 Objectivos específicos


 Descrever o processo de remoção e reassentamento da população vítima de cheias no
Distrito de Caia, em Sofala, no período 2008 a 2012, tendo em conta os procedimentos
legais e contingenciais vigentes;
 Analisar o processo de reassentamento populacional e indicar os respectivos pressupostos
para sua melhor prossecução sobretudo em relação ao seu contributo, para o
desenvolvimento económico e redução da pobreza;
 Explicar os impactos que possam decorrer da execução do reassentamento e bem assim,
as medidas mitigadoras e/ou compensatórias pertinentes que se estabelecem;
 Descrever as competências e responsabilidades do órgão encarregado por organizar os
sistemas de recolha, estudo e divulgação de informação que permita prognosticar as
tendências ou consequências dos factos calamitosos.

1.5.3 Hipóteses

1. A focalização do interesse de minimizar os efeitos negativos da relocação, garantindo


uma nova base produtiva, constitui o pressuposto para um reassentamento bem- sucedido;
2. No contexto de reassentamento, a falta de uma intensa reflexão e audiências públicas não
só em relação as características socioeconómicas da área, como, sobretudo, o

6
conhecimento das reivindicações e expectativas da população afectada, pode trazer
impactos adversos aos esperados.

1.5.4. Questões de Pesquisa


1. Tendo em conta os procedimentos legais e contingenciais vigentes, como foi,
desencadeado o processo de remoção e reassentamento da população vítima de cheias no
Distrito de Caia, em Sofala, no período 2008 a 2012?

2. Quais são os possíveis impactos decorrentes da prossecução do processo do


reassentamento e bem assim, as medidas mitigadoras e/ou compensatórias pertinentes
que se estabelecem?

3. Qual é o órgão legalmente (estabelecido) encarregue por organizar os sistemas de


recolha, estudo e divulgação de informação que permita prognosticar as tendências ou
consequências dos factos calamitosos?

1.6. Metodologia

Por metodologia, entende-se que seja o conjunto de procedimentos racionais ou práticas


racionais que orientam o pensamento na busca de conhecimentos válidos. Neste caso especifico,
constituirá pois, a selecção de técnicas para uma acção científica. Assim, para o trabalho aqui
proposto, têm-se:

7
1.6.1 Métodos

 O Método Monográfico: Para Trujillo (1982:230)2 e Manzo (1971:32)3, é este método


que oferecerá meios para a definição e resolução do problema em todos seus aspectos e
reforçará a análise de suas pesquisas ou manipulação de informações obtidas” (Lakatos &
Marconi, 2009:183). Assim, relativamente ao caso específico de remoção e
reassentamento da população em Caia (Sofala) depreendemo-nos com um facto que ao
ser estudado em profundidade poderá explicar outros/todos os semelhantes, aqui em
Moçambique ou noutro ponto geograficamente diferente.
 Pesquisa Descritiva: com base na qual se irá descrever as características da população
e/ou fenómeno em estudo, ou ainda o estabelecimento de relações entre variáveis.
Envolverá o uso de instrumentos padronizados de colecta de dados: questionário e/ou
entrevista e observação sistemática e assumiu, em geral, a forma de levantamento (Ibid.).
 Pesquisa Qualitativa e quantitativa: por considerar que haja um vínculo indissociável
entre o mundo objectivo e a subjectividade do pesquisador. A interpretação dos
fenómenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa.
Por outro lado, considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em
números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de
recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, etc.), (Silva & Menezes,
2001:20).
 Pesquisa Exploratória: que vai proporcionar maior familiaridade com o problema
pretendendo torná-lo explícito pela construção de hipóteses. Este método envolverá
levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas
com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão, quer
dizer, assumir-se-á, de forma geral, as formas de Pesquisas Bibliográficas e Estudos de
Caso, (Silva & Menezes 2001:21).

2
Trujillo Ferrari, Alfonso. (1982). Metodologia da Ciência. 3ed. Kennedy: Rio de Janeiro.
3
Manzo, Abelardo J. (1971), Manual para la preparación de monografias: Una guia para presentar informes y tesis. 2ed.
Humanitas: Buenos Aires.

8
 Método Estatístico: que de acordo com Pestana e Gajero (2008: 17), é tido como um
instrumento matemático para recolher, organizar, apresentar, analisar e interpretar
dados.

1.6.2 Técnicas

De forma a dar suporte aos métodos acima declarados, juntam-se as seguintes técnicas de
pesquisa científica:

 Pesquisa bibliográfica – Esta técnica (secundária) é que ajudará no uso da bibliografia


pertinente. Para Trujillo (1982:230)4 e Manzo (1971:32)5, é esta técnica que oferece
meios para a definição e resolução do problema em todos seus aspectos ...” (Lakatos &
Marconi, 1996:183).

 O Estudo de caso: usou esta técnica com o objectivo de conseguir informações acerca do
problema da presente pesquisa. De acordo com Trujillo (1982:229) 6, o estudo de caso
consiste na observação de factos e fenómenos tal como ocorrem espontaneamente na
colecta de dados a ele referentes e no registo de varáveis que se presume relevantes para a
análise […] (Lakatos & Marconi, 1996:186).

 Pesquisa documental - Esta técnica assenta estritamente nos documentos como fontes de
colectas de dados.

1.7. Estrutura do trabalho

O presente trabalho está dividido em três partes, nas quais são postos em relevo diversos pontos.
A primeira parte dá lugar as considerações gerais em forma de introdução e aspectos
introdutórios do assunto desenvolvido.

4
Trujillo Ferrari, Alfonso. (1982). Metodologia da Ciência. 3ed. Kennedy: Rio de Janeiro.
5
Manzo, Abelardo J. (1971), Manual para la preparación de monografias: Una guia para presentar informes y tesis. 2ed.
Humanitas: Buenos Aires.
6
Trujillo Ferrari, Alfonso. (1982). Metodologia da Ciência. 3ed. Kennedy: Rio de Janeiro.

9
A segunda parte do trabalho faz um desenvolvimento do tema em abordagem e integra, para o
efeito, quatro capítulos numa sequência lógica que permite a compreensão dos assuntos neles
tratados.

Assim, no primeiro capítulo põe-se em relevo o (i) enquadramento teórico e a (ii) discussão
conceptual. (i) O enquadramento teórico é essencialmente consubstanciado na apresentação das
teorias que dão suporte ao trabalho para a análise desencadeada. (ii) A discussão teórica faz uma
exposição dos conceitos fundamentais cuja compreensão é também essencial para abordagem
deste trabalho, tais conceitos são: Impacto socioeconómico; Processo de Reassentamento das
populações e Cheias.

No segundo capítulo, desenvolve-se exaustivamente o Impacto socioeconómico do processo de


Reassentamento das populações vítimas de cheias em Moçambique, aspecto focal do
presente trabalho.

O capítulo seguinte é reservado ao Estudo de Caso, nele são conjuntamente apresentadas as


respostas relativas às entrevistas e questionários adoptados para presente pesquisa. É neste que se
responde à pergunta de partida, concretização dos objectivos, tanto geral quanto específicos,
confirmação das hipóteses e respostas das questões de pesquisas, no quadro das variáveis em
análise.

Finalmente, na terceira parte apresentar-se-á a respectiva sintetização em forma de breves


recomendações e conclusão. Sendo que seguidamente, serão cuidadosa e metodologicamente
enumeradas todas as fontes que foram usadas para concretização do presente trabalho.

10
CAPITULO 2 - ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL

Um trabalho de pesquisa como este, possibilita uma melhor compreensão do seu conteúdo
principal, quando para além da clara e detalhada metodologia que se atribui e apresenta, expõe
também clara e detalhadamente o seu quadro teórico. Outrossim, é o quadro teórico que comanda
a leitura do seu tema e abordagem para o leitor.

Complementarmente, devem ser apresentados os principais conceitos, que no entender da


Estudante são os que constituem o tema do próprio trabalho e são eles: Impacto
socioeconómico; Processo de Reassentamento das populações e Cheias.

2.1. Enquadramento Teórico

A realização do presente trabalho foi fundamentalmente baseada na Teoria de Escolha Pública.

De acordo com Samuelson e Nordhaus (2005: 324), a Teoria da Escolha Pública é, inserida no
contexto das teorias normativas da Governação, fundamentalmente sobre as políticas apropriadas
que o governo deve seguir ou elaborar e implementar, para aumentar o bem-estar da população.
É que os governos podem tomar decisões erradas ou aplicar erroneamente boas ideias. De facto,
tal como existem falhas de mercado (monopólio, entre outras), também existem “falhas de
governo” em que as intervenções do governo levam ao gasto ou à repartição do rendimento dum
modo não desejável. Entretanto, esta teoria foi, objecto do estudo dos políticos conservadores no
início da década 80 e constituiu uma base teórica, para uma revisão constitucional de modo a
equilibrar o orçamento do Estado desde aquela fase, (Ibidem).

A Teoria da Escolha Pública, como um ramo da economia e da ciência política estuda a forma
como o governo toma decisões. Os seus pressupostos estão consubstanciados na análise de como
funcionam os diferentes mecanismos de voto, e na demonstração de que não há nenhum
mecanismo ideal para transformar as preferências individuais em escolhas públicas (Samuelson e
Nordhaus, 2005: 324). Por isso é que segundo Porta (2003: 233) as análises do governo nas

11
democracias contemporâneas não devem se limitar ao estudo do executivo, pois alargam-se a
todos os actores que participam nas decisões públicas.

A contar entre outros, com precursores como:

 Joseph Schumpeter (19427) como verdadeiro pioneiro da Teoria da Escolha Pública;


 James Buchanan e Gordon Tullock (19598), que defenderam controlos e equilíbrios e
advogaram o uso de unanimidade nas decisões políticas, argumentando que as decisões
por unanimidade não são coercivas para ninguém e portanto não impõem custos;
 Anthony Downs, (19579) que formulou uma nova e poderosa teoria segundo a qual os
políticos escolhem as políticas económicas de forma a serem reeleitos (Samuelson e
Nordhaus, 2005: 324).

Esta teoria traz um contributo importantíssimo por considerar o contínuo crescimento das
despesas públicas em relação as transformações que ocorrem a nível das funções do Estado
designadamente, a redistribuição do rendimento, afectação de recursos, serviços públicos e
principalmente as actividades, para avaliar a perspectiva do bem-estar social (Pereira et al.
2009: 88).

Neste contexto, os autores da escola da teoria da escolha pública, dum modo geral, são críticos e
consideram que os actores políticos devem, ser modelizados como prosseguir de forma racional
os seus interesses pessoais. E, argumentam que, dum lado, as elites partidárias dependem das
eleições, para deterem o poder pelo que definem estratégias, para alcançá-lo. Os governantes, por
seu lado, pretenderiam maximizar os votos, para se manterem no poder (ou caso estejam na
oposição, alcança-lo). Do mesmo modo, argumentam, os dirigentes da administração pública
pretendem frequentemente maximizar os orçamentos à sua disposição pois, isso está associado
ao status e o poder, independentemente de ser necessário, para o serviço público (ibidem).

7
Joseph Schumpeter (1942). Capitalism, Socialism and Democracy. Harper and Row: New York.
8
James Buchanan e Gordon Tullock (1959). The Calculus of Consent. Doubleday: New York.
9
Anthony Downs (1957). An Economic Theory of Democracy. Harper and Brothers: New York.

12
Assim, de acordo com a esta teoria o tema do presente estudo terá que ser lido considerando o
legítimo interesse público da população de Caia (Sofala), em termos de suas aspirações de modus
vivendi em relação ao papel do governo como principal actor e/ou provedor cimeiro do bem-estar
socioeconómico, especificamente no contexto da remoção e reassentamento daquelas populações
(vítimas de cheias), como uma das medidas de promoção de desenvolvimento económico e
redução da pobreza, tal como estabelecido no PARPA.

2.2. Quadro Conceptual

A apresentação conceptual que se vai levar a cabo nesta subsecção, consistirá na definição dos
conceitos constituintes do tema do presente trabalho, e articulação e operacionalização que se
estabelece entre si. Há que realçar que esta apresentação conceptual é baseada no facto de que
nem sempre - e quase maior parte dos casos - encontramos unanimidade no tratamento dos
conceitos, uma vez que variados autores, tratam-nos segundo uma certa visão, abordagem ou
anglo cientifico, tal como, económico-social, jurídico, administrativo, etc.

Assim, para efeitos deste trabalho, tem-se como conceitos fundamentais os seguintes: Impacto
socioeconómico; Processo de Reassentamento das populações e Cheias.

2.2.1 Impacto Socioeconómico


Impacto Socioeconómico – resultante de uma avaliação, representa a mensuração do real valor
de um investimento social, tendo como fundamento a promoção de políticas públicas já
existentes para o desenvolvimento social e económico de uma região (DETR:2000)10.

Tradicionalmente, as avaliações realizadas na área social têm se limitado ao aspeto financeiro


das intervenções, não se preocupando em mensurar seus benefícios económicos e impactos
sociais. Mais do que isso, a Avaliação de Impacto Social consiste na correlação de três níveis de

10
[On-line] Disponível na Internet via https://www.google.com/#
Avalia%C3%A7%+do+Desenvolvimento+Socioecon%C3%B3mico%2C+MANUAL Acesso em 20 de Março de 2013, 14:43h.

13
análise (financeira, económica e social) dos investimentos realizados nos diferentes projectos e
programas sociais. Essas análises tomam como base a relação existente entre a oferta e demanda,
para a adopção de produtos sociais por públicos – adotantes específicos e seus respectivos
impactos na sociedade.

A avaliação do impacto económico-social é uma abordagem baseada em várias teorias que:


 Têm em linha de conta os interesses de vários agentes económicos (empregadores,
trabalhadores, consumidores, produtores, territórios e habitantes);
 Introduzem elementos relacionados com a evolução temporal e incerteza (comparação de
cenários);
 Têm em consideração a ponderação da importância e intensidade das actividades
económicas (participação no emprego total, participação no PIB);
 Procedem à comparação de impactos directos e indirectos.

A avaliação do impacto económico é ainda uma ferramenta usada para avaliar, de modo
quantitativo, a dimensão dos impactos imputáveis a um determinado programa. É normalmente
desenvolvida por analistas, com o apoio e envolvimento de decisores políticos (Ibid.).

2.2.2 Processo de Reassentamento das Populações


O conceito de Reassentamento, estabelece-se melhor a partir do seu sentido etimológica, que nos
termos do dicionário de língua portuguesa significa, assentar novamente, tornar a assentar (-se),
ou seja, um novo assentamento. Ora, o mesmo dicionário da língua portuguesa refere que, o
assentamento como acto ou efeito de assentar, cujo sinónimo é dentre outros, afixar-se.

Entretanto, entende-se por reassentamento, qualquer deslocamento físico, involuntário de


pessoas causado por um projecto. Este conceito aplica-se tanto aos sectores públicos quanto ao
privado. Excluí, entretanto, esquemas de colonização e o reassentamento de refugiados ou
vítimas de desastres naturais11.

11
[On-line] Disponível na Internet via: http://www.amplaengenharia.com.br/ser/reassentamento.swf Acesso em 20 de Março de
2013, 01:03h.

14
Contudo, para Saide et al. (2011:21), citando Kifleyesus (2010) as causas de um reassentamento
são variadas e complexas e a elas deve-se promover e incentivar o processo de desenvolvimento,
de ordenamento e reordenamento dos espaços, de criação de segurança da comunidade, como
consequência da instabilidade política, de desastres e de calamidades naturais.

Por sua vez, Araújo (2007:13), citado por Saide et all. (2011:21), Define reassentamento ou
repovoamento humano como sendo forma como a população se organiza e/ou se reorganiza no
espaço e o utiliza, ou ainda, a (re) distribuição da população num determinado espaço que pode
ser regional, nacional, continental ou mundial.

Tal como as formas de organização do espaço que são dinâmicas, também os reassentamentos o
são, pois adquirem características próprias de acordo o tipo de desenvolvimento socioeconómico
e cultural do grupo humano e da forma como este se relaciona com a terra (ibidem).

Saide et al. (2011:21), ao citar Kefleyesus (2010), afirmam que a realidade de um


reassentamento e subsequente reintegração faz-nos reflectir sobre os desafios similares que
surgem em contextos de pós-conflitos, de reconciliação e de integração.

Por isso, exige a capacidade de monitorar as consequências do fenómeno em si e garantir o


restabelecimento das necessidades básicas dos reassentados, na medida em que tensões sociais e
económicas poderão emergir em relação ao acesso e disputa de recursos que podem ocorrer entre
os recém-chegados e os residentes (ibidem).

Outrossim, nesses termos, assumimos que o reassentamento é um processo dinâmico que ao


longo do tempo toma formas diferentes, provoca o discurso do “eu” e o “outro”, que
aparentemente contrasta com a noção da globalização que se refere à intensificação da
consciência do mundo como um todo.

Finalmente, o processo de reassentamento é uma questão de desenvolvimento o que impera, a


sua integração na política da população e/ou na de migração ou, eventualmente, a definição

15
duma política específica de reassentamento, uma vez que esse processo também é sensível,
complexo e envolve decisões individuais e da colectividade.

2.2.3 Cheias
É possível dar vários conceitos às cheias, tal como afirma Egídio (1989), entretanto, dentre esses
vários conceitos, é comummente aceite que, cheia seja qualquer nível de água ou qualquer caudal
relativamente alto, acima dum nível ou caudal, arbitrados e definidos como cheias.

Por outro lado, embora não muito distante, Vilanculos e Macuácua (2003:17), entendem que
cheias, são inundações resultantes da ocorrência natural caracterizada por subida acentuada dos
escoamentos nos cursos de água e expectativas de alturas hidrométricas (altura da água). Essas
subidas, forçam geralmente o transbordo pelas margens dos cursos (rios) com tendências `as
zonas baixas adjacentes, causando cheias.

Para Macuácua (2000), Cheias ou indício de cheias é um fenómeno que ocorre sempre que as
alturas hidrométricas igualarem ou superarem os níveis considerados de alerta nas estações de
sistema de aviso prévio de cheias. Assim, o nível de alerta é assumido, quando a água do rio
atinge a cota superior das margens normais do rio e a água começa a inundar as regiões vizinhas.

Cheia é um fenómeno natural extremo e temporário provocado por precipitações moderadas e


permanentes ou por precipitações repentinas de elevada intensidade 12.

Ora, fundamentalmente não existirá nenhum aspecto que faça dessas concepções divergentes
entre si. Com efeito, é razoável concluir-se que cheias são, geralmente, uma situação natural de
“transbordamento” de água do seu leito natural, o qual seja, riachos, arroios, lagos, rios, mares e
oceanos provocados geralmente por chuvas intensas e contínuas13.

12
[On-line] Disponível na Internet via http://caj8b.wordpress.com/definicao-de-cheias/ Acesso em 20 de Março de 2013, 14:28h.
13
Entre os rios mais propensos a ocorrência de cheias encontram-se: Rio Púngue, Zambeze, Búzi, Save, Limpopo, Incomáti,
Umbeluzi e Rio Maputo. As cheias são mais frequentes na região Centro do país (Sofala e Zambézia, em particular) e na região
sul (Gaza e Maputo, em particular) e ocorrem com mais frequência no período húmido compreendido entre os meses de
Novembro a Março.

16
CAPÍTULO 3 - PROCESSO DO REASSENTAMENTO

Como já foi, referido na secção relativa à apresentação de conceitos, o conceito de


Reassentamento, estabelece-se melhor a partir do seu sentido etimológico que nos termos do
dicionário de língua portuguesa significa, assentar novamente, tornar a assentar (-se), ou seja um
novo assentamento. Ora, o mesmo dicionário da língua portuguesa menciona que assentamento
como acto ou efeito de assentar, cujo sinónimo é dentre outros, afixar-se.

Porém, entende-se por reassentamento qualquer deslocamento físico, involuntário de pessoas


causado por um projecto. Este conceito aplica-se tanto aos sectores públicos quanto aos privados.
Excluí, entretanto, esquemas de colonização e o reassentamento de refugiados ou vítimas de
desastres naturais14.

Por sua vez, Araújo (2007:13) citado por Saide et al. (2011:21), define reassentamento ou
repovoamento humano como sendo a forma como a população se organiza e/ou se reorganiza no
espaço e o utiliza, ou ainda, a (re) distribuição da população num determinado espaço que pode
ser regional, nacional, continental ou mundial.

Tal como as formas de organização do espaço que são dinâmicas, também os reassentamentos o
são, pois, adquirem características próprias de acordo com o tipo de desenvolvimento
socioeconómico e cultural do grupo humano e da forma como este se relaciona com a terra
(Ibid.).

Saide et al. (2011:21), ao citar Kefleyesus (2010), afirmam que a realidade de um


reassentamento e subsequente reintegração faz-nos reflectir sobre os desafios similares que
surgem em contextos de pós-conflitos, de reconciliação e de integração.

14
[On-line] Disponível na Internet via: http://www.amplaengenharia.com.br/ser/reassentamento.swf Acesso em 20 de Março de
2013, 01:03h.

17
Por isso, exige a capacidade de monitorar as consequências do fenómeno em si e garantir o
restabelecimento das necessidades básicas dos reassentados, na medida em que tensões sociais e
económicas poderão emergir em relação ao acesso e disputa de recursos que podem ocorrer entre
os recém-chegados e os residentes (ibidem).

Casal (1996), discute os reassentamentos no processo da criação de um habitat, entendido este


como habitação humana. Se bem que, segundo o mesmo autor, o conceito de habitat ultrapassa
em si o sentido de habitação humana pois, ele é produto social ou resultado de um processo
organizado a partir das relações que se esclarecem necessariamente entre uma formação social e
o seu território, entre a organização do espaço e a organização social, enfim, é o espaço ocupado,
produzido e organizado pela sociedade, por um grupo social. Assim, o habitat humano pode ser
rural ou concentrado15.

De acordo com Saide e Saúte (2011:21)15, citando Kifleyesus (2010)16 as causas de um


reassentamento são variadas e complexas e a elas deve-se promover e incentivar o processo de
desenvolvimento, de ordenamento e reordenamento dos espaços de criação de segurança da
comunidade, como consequência da instabilidade politica, de desastres e de calamidade
naturais.

Araújo (1998), Borge Coelho (1993), Casal (1993) e o Município de Maputo (2010), defendem
que o reassentamento tem vários propósitos, podendo ser:

 Necessidade em proteger a população dos efeitos nefastos duma guerra e, por isso, a
necessidade de criar aldeamentos;
 Prevenção contra inundações, com o propósito de desenho de zoneamento adequado e
definição de planos detalhados de uso de terra e;
 Em particular, novas experiências de melhoramento de bairros informais espontâneos e
em bairros com infraestruturas e serviços insuficientes, cuja implementação definirá o
acesso da comunidade ao uso de acesso a recursos económicos e sociais.
15
Nos meios rurais africanos, a dispersão e o relativo isolamento sócio-espacial constituem as características mais visíveis do
habitat que está adaptado a condições materiais concretas, a um projecto específico de sociedade baseado em relações sociais e
económicas de carácter essencialmente doméstico.
16
É crucial cultivar uma consciencilização da existência derisco na população que habita essas áreas mediante a sua informação e formação,
como forma de prevenir e gerir uma situação de crise. Até porque a densiformação e o carácter desprevenido das povoações rebeirinhas em
situação de risco contribuem para o agravamento da vulnerabilidade dessa população

18
Entretanto, as mudanças no uso de terra implicam, por vezes, a perda de propriedade de meios de
subsistência ou de acesso a bens e serviços, assim como a necessidade de mudança de local de
residência, o que implica um novo assentamento (reassentamento). Isso pode marginalizar alguns
dos agregados familiares afectados por essas mudanças, que poderão não ter facilidade em
aproveitar as alternativas oferecidas (Saide, et al., 2011:21).

Com efeito, e considerando que a população reassentada é heterogénea, a sua reintegração nos
lugares de destino não pode ser entendida como um processo pacífico, pois tudo dependerá da
experiencia individual na adaptação à nova realidade. Afinal, algumas pessoas sentem-se
desapontadas com o processo de reintegração e outras podem passar por experiências traumáticas
relacionadas com a perda de seu espaço e, por isso, sentem-se impelidas em regressar ao lugar de
origem (Ibid.).

Outrossim, nesses termos, assume-se que o reassentamento é um processo dinâmico que ao


longo do tempo toma formas diferentes, provoca o discurso do “eu” e o “outro”, que
aparentemente contrasta com a noção da globalização que se refere à intensificação da
consciência do mundo como um todo.

É, por isso, que se assume que o processo de reassentamento é uma questão de desenvolvimento
o que impera, a sua integração na política da população e/ou na de migração, uma vez que esse
processo também é sensível, complexo e envolve decisões individuais e da colectividade.

Entretanto, uma vez que o reassentamento da população abrange a deslocação física e os


impactos económicos e sociais, sendo, por isso, uma política no mínimo semi-pública, deverá
prever a necessidade de compensação quando o impacto cause perdas de acesso a quaisquer bens
em desenvolvimento ou fixos que ocorram, como abrigos, negócios, edifícios e culturas
agrícolas, assim como quaisquer impactos que provoquem perdas de acesso a uma base de
recursos económicos e ou meios de subsistência das comunidades locais.

19
3.1. Abordagem Sobre os Problemas Provocados pelas Cheias e Formas de Resolução

As estatísticas sobre a incidência de desastres induzidos por fenómenos naturais extremos no


mundo contemporâneo revelam a tendência para a preponderância de fenómenos de origem
hidroclimática, como sejam cheias e tempestades (Munich-Re, 2005). Segundo a Organização
Meteorológica Mundial (2006), os desastres provocados por cheias têm vindo a aumentar, como
consequência, principalmente do incremento da expansão urbana em planícies aluviais. A
ocupação humana destas áreas tem-se reflectido no agravamento dos danos provocados por
cheias, que mesmo em bacias regularizadas, continuam a ocorrer e a provocar extensas
inundações, com perdas humanas e prejuízos muito avultados.

Paiva (2005) secunda a mesma instituição e afirma que ao longo das últimas décadas as
tentativas de minimização dos efeitos desses acontecimentos extremos têm-se pautado por um
predomínio absoluto das intervenções puramente técnicas sobre as linhas de água (barragens,
açudes, diques, entre outros), descurando por completo a dinâmica social e geográfica das áreas
susceptíveis de inundações.

Tendo por base as cheias de Caia em Fevereiro e Março de 2008, descreve-se e analisa-se, na
secção que se segue, as várias vias de mitigação do risco de cheias e inundações, as limitações
que impõem e as potencialidades que apresentam, no quadro de um aumento nítido da
importância das medidas decorrentes da experiência de Moçambique na mitigação de inundações
catastróficas nos últimos anos em suas bacias.

3.2. Experiências de alguns países

Os fenómenos naturais extremos não se traduzem necessariamente em risco para os indivíduos e


sistemas sociais. Só o são quando a sua manifestação ameaça a normalidade de uma qualquer
colectividade ou dos recursos que valoriza por um lado.

Por outro lado, as sociedades podem, pela sua acção no território, interferir na magnitude do
risco e nos seus impactos. Com efeito, é da interacção entre, por um lado, o ambiente biofísico e,
por outro, as estruturas sociais, processos socioculturais e quadros de acção humana que estes

20
riscos emergem (ou não) e se manifestam (ou não) enquanto desastres. As cheias são portanto, o
exemplo, uma vez que nem sempre se assumem como risco.

Segundo Paiva (2005), a história da relação do Homem com os sistemas fluviais encontra-se
repleta de exemplos em que este tipo de fenómenos naturais é potenciado, nomeadamente para
fins agrícolas. Mas, com a modernidade, a natureza da relação com os sistemas fluviais alterou-
se. Os usos dos recursos hídricos diversificaram-se. O forte crescimento demográfico, a
aceleração dos processos de urbanização a par da industrialização, conferiram novas pressões
sobre os rios e territórios adjacentes e alteraram a natureza do risco de cheias, criando novos
padrões de vulnerabilidade e de impactos associados (Ibid.).

De acordo com o Parlamento Europeu (2002), no espaço da União europeia, existe uma
Resolução do Parlamento Europeu sobre os desastres causados pelas cheias na Europa Central,
onde (i). Manifesta o pesar e a solidariedade para com as populações afectadas pelas graves
cheias que assolaram aquele espaço, transmitindo assim, condolências às famílias das vítimas e
a todos aqueles que perderam casas e bens; (ii) Presta homenagem à coragem e dedicação das
muitas equipas de salvamento, cujo trabalho árduo e contínuo contribuiu para limitar as perdas
humanas e os prejuízos materiais e (iii) assume compromisso europeu sobretudo na Aceleração
da reconstrução, que se traduziu na:

 Solicitação da Comissão que promova todas as facilidades administrativas, a fim de


acelerar os procedimentos de adjudicação de contratos públicos, e adopte uma atitude
flexível no que se refere à concessão de ajudas estatais e;
 Responsabilidade do Presidente em transmitir a presente resolução à Comissão, ao
Conselho, aos governos e parlamentos dos Estados-Membros e regiões afectadas.

Entretanto, apesar de um avanço sem precedentes na ciência e tecnologias aplicadas à gestão do


risco de cheias, este tipo de fenómenos extremos permanece como um sério problema no quadro
das sociedades contemporâneas. Reportando-nos apenas ao continente Europeu, este sofreu,
entre 1998 e 2004, aproximadamente 100 inundações, com efeitos nefastos para as populações e
áreas atingidas, tendo sido particularmente graves, as cheias dos rios Elba, Vlatva e Danúbio no

21
Verão de 2002, as cheias no sul de França em Dezembro de 2003 e, em Portugal, as cheias do
Mondego em Janeiro de 2001 (Silva, 2002).

No contexto Europeu, a mitigação do risco de cheias tem assentado sobretudo em estratégias de


pendor fundamentalmente estrutural e, Portugal é um dos casos. No entanto, essa opção está a
ser, presentemente, objecto de questionamento e de debate, quer no seio da comunidade
científica quer nos meios políticos. A experiência recente de desastres hidroclimáticos na Europa
em particular, as cheias supracitadas com perdas de vidas humanas e avultadíssimos prejuízos,
está em grande parte, na génese desse debate (Ibid.).

Saraiva (1999) afirma que o estudo detalhado destes episódios extremos tem, conduzido a
conclusões claras. Por um lado, a expansão urbana, para áreas de risco, que tem sido uma
constante em bacias regularizadas constitui, um factor agravante largamente responsável pelos
danos das cheias ocorridas. Por outro lado, a opção estratégica de regularização hidráulica dos
sistemas fluviais, muito comum no quadro Europeu tem, de algum modo gerado, sindromas de
falso sentimento de segurança e estimulado tal expansão.

A proposta de Directiva do Parlamento Europeu relativa à avaliação e gestão de inundações,


actualmente em discussão, reflecte estas preocupações e pretende sinalizar uma mudança de
política de gestão do risco de cheias. Muito sucintamente, as medidas preconizadas apelam a um
investimento dos Estados-membros em políticas de controlo dos usos dos solos nas áreas
susceptíveis de inundações (Silva, 2002).

O mesmo desafio se coloca a Portugal. Como referido anteriormente, neste país, as soluções
tecnológicas de controlo do risco de cheias têm, predominado em detrimento de medidas não-
estruturais aplicadas aos territórios adjacentes. Com efeito, sublinha-se a necessidade de
minimizar o risco de cheias e de inundações através de políticas que envolvam as diversas
instâncias de governação, ao nível central e local, envolvendo técnicos e a população que
habitam nessas áreas de risco (Paiva, 2005).

Ressalta também, a necessidade de cartografia de risco de inundações que permita aos decisores
e técnicos, a tomada de decisões mais rigorosas em termos de regulamentação do uso dos solos,

22
um instrumento no planeamento urbano que poderá ser fundamental neste processo mediante a
definição de restrições, servidões ou alternativas à ocupação das áreas de risco. Para além das
medidas tradicionalmente apontadas, torna-se necessário, inovar ao nível das medidas não-
estruturais17 (Ibid.).

O diagnóstico está portanto, em grande parte feito. Importa agora, caminhar no sentido de sair
deste ciclo vicioso, em que a preocupação com as cheias e com as inundações surge apenas ao
rítimo e na sequência da sua ocorrência (Silva, 2002).

No município do Rio de Janeiro existe, um plano (O PLANO VERÃO), que visa organizar e
coordenar as acções dos órgãos públicos e privados componentes do Sistema Municipal de
Defesa Civil (SMDC), e das Comunidades do Município do Rio de Janeiro (CMRJ), quando da
ocorrência de factos climáticos adversos de grande monta nos seus limites territoriais (Dos
Santos, 1999).

Fundamenta-se na utilização de toda a composição de meios materiais e humanos da Prefeitura,


bem como dos Órgãos Públicos Estaduais, Federais e Entidades componentes do Sistema de
Defesa Civil. Dá ênfase especial à descentralização das acções, bem como à imprescindível
participação da comunidade e das Coordenações Gerais de Áreas de Planeamento nestas acções
(Ibid.).

Assim, cabe à Direcção do Sistema Municipal (Chefe do Poder Executivo Municipal) avaliar a
situação das comunidades atingidas por facto adverso e, em decorrência de eventuais perdas
humanas e materiais decreta, caso julgue conveniente, “situação de Emergência” ou “Estado de
Calamidade Pública”. As acções de Defesa Civil segundo este plano, desenvolvem-se nas
seguintes fases: (i) Fase Preventiva; (ii) Fase de Socorro; (iii) Fase Assistencial e (iv Fase de)
Recuperação (Ibid.).

17
É crucial cultivar uma consciencialização da existência de risco na população que habita essas áreas mediante a sua informação
e formação, como forma de prevenir e gerir uma situação de crise. Até porque a desinformação e o carácter desprevenido das
povoações ribeirinhas em situação de risco contribuem para o agravamento da vulnerabilidade dessa população.

23
3.3. Em Moçambique

Como consequência das persistentes chuvas ocorridas nos meses de Dezembro de 2007 a Janeiro
de 2008 em Moçambique, e nos países vizinhos Zâmbia, Zimbabwe e Malawi, o rio Zambeze
transbordou afectando mais de 163.045 pessoas das províncias de Tete, Zambézia, Manica e
Sofala (Governo de Moçambique, 2009).

Para garantir que as populações transferidas das zonas de risco e de vulnerabilidade a cheias
encontrem, nas zonas seguras, condições de vida melhoradas, traduzidas em melhor habitação,
existência de infraestruturas básicas de educação, saúde, água e saneamento, o Conselho
Coordenador de Gestão das Calamidades (CCGC) alargado aos governos provinciais e distritais
realizado na cidade de Chimoio, de 5 a 6 de Março de 2007, produziu um plano (conhecido
como Plano de Chimoio), que levou à definição da estratégia de reassentamento e reconstrução,
aprovada pelo Conselho de Ministros em Outubro de 2007, (Relatório) 18 referente`a cerca de 30
mil famílias das quatro províncias afectadas pelas cheias de Fevereiro de 2007.

A situação de calamidades que ocorreu em 2008, nomeadamente cheias, ciclones e ventos fortes
concorreu para a necessidade de reajustamento do plano de reassentamento e reconstrução, sendo
que foram identificadas novas zonas de reassentamento nos distritos de Govuro, Machanga,
Nhamatanda, Dondo, Maganja da Costa, Mopeia, Mutarara, Morrumbala, Sussundenga,
Tambara, Macomia, Mecúfi, Montepuez e Muidumbe (Governo de Moçambique, 2009).

O plano de reassentamento e reconstrução pós calamidades 2007 e 2008, apresentou sete


objectivos principais:

a) Acelerar o processo de edificação de casas melhoradas tendo em conta a participação activa


dos beneficiários, a redução de risco de calamidades futuras e a integração da habitação no
processo global de combate à pobreza;

18 Plano para a segunda fase do Processo de Reassentamento e Rreconstrução pós cheias – 2007.

24
b) Criar condições básicas nos bairros de reassentamento, para garantir o acesso à água, aos
serviços de saúde e saneamento básico;
c) Assegurar a produção e produtividade nas zonas de reassentamento, na perspectiva de
criação de condições atractivas que garantam a segurança alimentar e melhoria das
condições de vida das populações reassentadas e das zonas afectadas pelo ciclone Jókwè e
pela seca;
d) Assegurar a assistência alimentar e nutricional nas zonas afectadas pelas calamidades;
e) Criar condições para a ampliação das escolhas de geração de renda;
f) Fornecer energia aos bairros de reassentamento como uma forma de expandir as
possibilidades tecnológicas e de negócios no contexto de combate à pobreza e
desenvolvimento rural;
g) Criar condições apropriadas e mínimas para a redução do risco às calamidades naturais.

O governo moçambicano, pelo decreto Nº 52/2007, de 27 de Setembro, (BT, 2007), aprovou o


dispositivo legal que introduziu alterações ao Estatuto Orgânico do Instituto Nacional de Gestão
de Calamidades (INGC). Esta alteração visou, essencialmente, criar o Gabinete de Coordenação
de Reassentamento (GACOR), uma unidade que se ocupa de forma exclusiva e permanente da
elaboração e implementação das estratégias e de planos de acção de reassentamento das
populações vítimas das calamidades.

No exercício das suas actividades, o GACOR articula com todos os sectores do governo. Esta
unidade faz o planeamento do uso da terra, construindo casas seguras, para as populações,
providenciando assim, condições básicas nos reassentamentos, como água, saneamento, entre
outros serviços.

Moçambique é um país bastante exposto aos ciclones, em virtude da sua costa formar a fronteira
ocidental de uma das mais activas bacias dos ciclones tropicais e em todos os anos, esta bacia
sozinha produz cerca de aproximadamente 10% de todos os ciclones que têm ocorrido no
mundo, sendo que Moçambique é o terceiro país mais afectado pelos desastres naturais em Áfri-
ca, agravado pela sua disposição geográfica pois, maior parte ou todos os rios que banham este
país nascem, no exterior (países vizinhos), Governo de Moçambique (2009).

25
Ainda de acordo com o Governo de Moçambique (2009), de 1956 a 2008, Moçambique registou-
se 10 grandes secas, que mataram mais de 100 mil pessoas e afectaram 16,4 milhões; 20
inundações, que provocaram quase dois mil mortos e afectaram nove milhões de pessoas; 13
ciclones (697 mortes e três milhões de afectados) e 18 epidemias (2400 mortos e mais de 314 mil
afectados), e registou no período compreendido entre o ano de 1994 e 2007, quase o triplo dos
desastres naturais, com destaque para os ciclones “Nadia”, “Bonita”, “Eline”, “Hudah”, “Jafet” e
“Favio”, todos com velocidade superior a 110 quilómetros por hora, deixando para trás danos
avultados que ainda hoje não foram reparados. O mais intenso foi o ciclone “Eline”, que chegou
a atingir cerca de 180 quilómetros por hora.

Dos 56 ciclones e tempestades tropicais que passaram pelo Canal de Moçambique no período
1980-2007, um total de 15 (25%) assolaram a costa de Moçambique. Quatro ciclones atingiram
as províncias do Norte, oito as províncias do Centro e três as províncias do Sul. Somente quatro
ocorreram no período de 1980-1993, enquanto os outros onze ocorreram de 1994-2007. Dois
ciclones no período 1980-1993 foram classificados como de categoria 3 a 5, comparados a sete,
de 1994-2007 (ibid).

Em função dessa constatação, a decisão do governo moçambicano em criar o Gabinete de Apoio


e Coordenação de Reassentamento (GACOR), veio colmatar a necessidade de incluir a
componente de reassentamento no rol das actividades do INGC.

Assim, para além de intervir no momento de calamidades, socorrendo as populações que se


encontrem em zonas de risco através da Unidade Nacional De Proteção Civil (UNAPROC), uma
unidade constituída por militares e civis, colocando-as em Centros de Acomodação e depois
garantir-lhes a devida assistência, o INGC passa, igualmente, a responsabilizar-se pelo
reassentamento das populações nas zonas seguras. O Governo propôs no Orçamento Geral do
Estado (OGE) para o ano de 2009, um total de 167.460 mil meticais, para construir três mil
casas, nos diversos bairros de reassentamento das vítimas de cheias registadas em 2009 e em
2007, ao longo das bacias hidrográficas do Zambeze e Save, nomeadamente nalgumas regiões
das províncias de Manica, Sofala, Tete, Zambézia e Inhambane (Ibid.).

26
Do universo de habitações melhoradas a serem erguidas, a província de Sofala foi contemplada
com 800 unidades, Tete com 890, Manica com 275, Zambézia com 870 e Inhambane com 165.

Na óptica da pesquisadora, o plano de reassentamento e reconstrução pós-calamidades


2007/2008, além de ser totalmente desconhecido pela população afectada, na sua maioria
analfabeta, não atende à realidade e deixou clara a omissão do Estado, sua função de provedor de
serviços básicos, pois em nenhum dos seus sete objectivos faz menção explícita e clara da
criação de infraestruturas básicas, para a provisão de serviços de saúde como maternidades,
infraestruturas do sector de educação com material convencional, de forma a garantir o acesso
aos serviços básicos (assistência médica, serviços de saúde materno-infantil, doenças de
veiculação hídrica, malária, tuberculose e apoio aos doentes de HIV/SIDA).

Moçambique é um dos exemplos bem - sucedido em matérias de prevenção de calamidades


naturais baseada nas comunidades, através dos Comités de Gestão de Risco (CGR), o que releva
a progressiva redução de mortes e danos materiais resultantes desses desastres naturais como
consequência directa do estabelecimento, melhoramento sistemático dos sistemas de prevenção e
de resposta rápida ao nível das comunidades. No entanto, o Governo de Moçambique (2002),
afirma que há muito ainda por aprender no processo de reassentamento e reconstrução pós-
calamidades, tendo em conta que o mundo é dinâmico daí, vão surgindo novos desafios, que
requerem o seu estudo e implementação de modo a minorar seus efeitos nefastos por um lado.

Por outro, surge um enorme desafio de que o Estado moçambicano tem imensas dificuldades de
capacidade financeira e humana, para garantir os serviços requeridos por toda a população,
embora tenha a obrigação de garantir os serviços essenciais básicos aos cidadãos, e isso deve,
estar explícito em todas as suas intervenções, incluído em planos de reassentamento e
reconstrução pós calamidades (Ibid.).

O reassentamento é tido como a expressão mais aguda de perda de poder, por parte das pessoas
atingidas, devido à impossibilidade de controlo sobre o espaço físico, Governo de Moçambique
(2002). Há perda de terras removendo assim, as bases sobre as quais são constituídos os sistemas
produtivos e formas de sobrevivência, perda de habitação ainda que de forma temporária. O local

27
onde se habita é uma referência, para o indivíduo que se relaciona com a sua identidade, cultura,
hábitos, costumes e expectativas, Governo de Moçambique (2002).

Para Eletrosul (1992), O universo cultural do local de origem, as tradições presentes estabelecem
os códigos e práticas socialmente aceites, sendo elas, os veículos da normalização da acção
social. Assim, os valores sociais e a auto-estima são afectados pelo reassentamento”. A par do
benefício fundamental que advém das populações afectadas poderem agora estar a habitar em
zonas mais seguras às inundações, e muitas delas em casas de construção convencional, há a
necessidade de se reconhecer que existem perdas imensuráveis que não podem ser compensadas
“apenas” com a construção de uma casa melhorada, pelo que urge a inclusão de melhorias de
vida pela provisão de serviços de saúde e educação, que de certa maneira, constitui atractivos,
para a permanência efectiva da população em zonas seguras.

Há também necessidade de se elaborar estudos cartográficos prévios que sirvam de mecanismo


de orientação da distribuição da população, tendo em conta a pressão demográfica e uso
sustentável de recursos naturais, enquadrando os bairros de reassentamento às fontes de
subsistência das comunidades.

Porém, de acordo com Governo de Moçambique (2002), Agache (1930), Alcântara (1951) e
Antunes (1998), afirmam que, qualquer reassentamento de população deve privilegiar princípios
básicos, sendo que muitos deles têm sido ignorados ou considerados de pouca importância, com
destaque para os seguintes:
1. Consulta e participação genuína das populações afectadas deve ter lugar - porque o
resultado final não é claro no início e que todos os interesses têm de ser tomados
seriamente.

A preocupação primária é, tomar muito a sério os direitos e interesses dos potenciais desalojados
e outras pessoas afectadas”. Para que isto aconteça deve-se, auscultar as populações afectadas,
aquando da escolha do local da implantação do bairro definitivo de reassentamento.

28
A voz da população afectada deve, ser ouvida na sua diversidade, bem como colectivamente, ou
a nível do fórum de consulta; a planta das casas, deve emergir de uma genuína
consulta/negociação/planificação do processo de acordo com as necessidades básicas, hábitos e
costumes dos beneficiários, isto é, consultar as populações afectadas acerca do ordenamento
habitacional nos bairros de reassentamento, de forma a conciliar as formas tradicionais de
ordenamento com os da modernidade;
2. Reassentamento deve realizar-se como desenvolvimento de actividades que assegurem
benefícios às populações afectadas: “Substituir habitações e terreno arável ao nível
desfrutado antes do reassentamento vale em teoria, para a restauração do status quo. Na
prática, tal restauração ‘matemática’ muitas vezes deixa as pessoas pior que antes, pois
foram afastadas dos seus recursos de base durante o processo de reassentamento. Para
naquele lugar haver desenvolvimento, as pessoas têm de estar activamente melhor do que
anteriormente, e de uma maneira que lhes seja sustentável”.

Há necessidade da inclusão da provisão de apoio financeiro para o desenvolvimento de


actividades de rendimento, com destaque para actividades informais diversas, carpintarias,
moageiras, pequenas oficinas para a reparação de rádios, bicicletas e motorizadas bem como
aquisição de insumos e alfaias agrícolas para o desenvolvimento de uma agricultura de
rendimento.

3. Práticas tradicionais e costumeiras devem ser acomodadas no processo de


reassentamento: “Dada a importância do poder, que é exercido pelas autoridades
tradicionais, no futuro deve-se equacionar no ordenamento habitacionais espaços
específicos para as residências das mesmas de forma a evitar-se interferências estranhas
no processo de resolução de problemas das comunidades”.

3.4. Visão sobre o desenvolvimento local

A transferência de população resulta da necessidade de criação de espaço para a implantação de


uma rede de infraestruturas sanitárias, habitacionais, entre outras. Os programas que contemplam
projectos que geram transferências buscam, sem excepção, reduzir o número de residências

29
afectadas para minimizar o problema social que estas transferências acarretam para a população
a ser transferida e, também, porque equacionar a oferta de novas residências em geral não é uma
equação de fácil resolução.

Mais ainda, a possibilidade de equacionar o reassentamento da população afectada pelas cheias


se transforma em um determinante do grau de intervenção a ser adoptado, ou impõe que a
alternativas de atendimento habitacional seja incorporado ao próprio processo de
reassentamento. Ora, um dos condicionantes importantes é a densidade habitacional e o padrão
construtivo das habitações.

Este conjunto de factores já é suficiente para diferenciar as transferências geradas por cheias e as
provocadas por outras obras de infra-estrutura, como hidroeléctricas, canalização de rios grandes
obras viárias, entre outras, onde as transferências estão circunscritas à faixa de interferência com
a obra.

Com efeito, no contexto de cheias, as transferências ocorrem de forma dispersa em vários pontos
da região, seja, a abertura do sistema viário principal ou de ruelas de acesso, a contenção de uma
situação de risco, etc. Ademais, as soluções técnicas da intervenção adoptadas permitem uma
maior adequação dos impactos do processo em relação a disponibilidade e alternativas de oferta
de unidades habitacionais para a população afectada.

De acordo com Todaro (2009), em termos mais estritos, desenvolvimento refere-se á capacidade
da economia nacional ou local, cuja condição económica inicial tem vindo a ser mais ou menos
estável por muito tempo, para gerar e sustentar um rendimento anual no seu produto interno
bruto (PIB) a taxas de 5% para 7% ou mais. Uma alternativa comum para o índice de
desenvolvimento económico é a utilização de taxas de crescimento do rendimento per capita de
forma a ter em conta a habilidade de uma nação em expandir o seu produto ou rendimento a
uma taxa mais rápida do que a taxa de crescimento da população. Níveis e taxas de crescimento
do PIB per capita são normalmente utilizados para medir o bem-estar económico geral da
população – quanto dos bens e serviços que são disponibilizados para os cidadãos em forma de
consumo e investimento.

30
No entanto, o desenvolvimento deve então ser concebido como um processo multidimensional
que envolve grandes mudanças nas estruturas sociais, atitudes populares, redução das
desigualdades e erradicação da pobreza. Assim, Desenvolvimento, na sua essência, representa
uma mudança através da qual o sistema social como um todo, visa as diversas necessidades
básicas dos indivíduos e programas sociais dentro desse sistema (ibidem). Pelo menos três
valores fundamentais são a base conceptual e as linhas orientadoras para o entendimento do
significado de desenvolvimento. Três necessidades básicas são identificadas:

 Sustento: a habilidade de ter as necessidades básicas - Nesta lista de necessidades básicas do


ser humano faz parte: comida, habitação, saúde e protecção. Quando uma destas condições
falta, encontramo-nos numa situação de subdesenvolvimento. São condições necessárias, para
ultrapassar a miséria e melhorar a qualidade de vida. Aumentar o rendimento per-capita,
eliminar a pobreza absoluta, criar novas oportunidades de emprego e colmatar as
desigualdades de rendimento. Estas são, condições necessárias mas, não suficientes, para o
desenvolvimento.
 Auto estima: para se ser uma pessoa. O sentido de valorização e auto respeito são valores
importantes para um indivíduo não se sentir utilizado pelos outros como uma ferramenta para
os seus fins, trata-se de Autenticidade, identidade, dignidade, respeito, honra e
reconhecimento.
 Liberdade 19 da servidão: habilidade de escolha. A liberdade aqui é entendida como o senso
de emancipação das condições materiais da vida e da servidão social para com a natureza,
outras pessoas, miséria, instituições opressivas, e crenças dogmáticas (exemplo: a pobreza é
“pré-destinada”).
Por outro lado, como escreve Todaro (2009), pode se considerar três principais objectivos do
desenvolvimento: i) Aumentar a disponibilidade e distribuição dos meios de sustento básico do

19
Conceito de liberdade humana. A liberdade aqui é entendida como o senso de emancipação das condições materiais da vida e
da servidão social para com a natureza, outras pessoas, miséria, instituições opressivas, e crenças dogmáticas (exemplo: a
pobreza é “pré-destinada”). Enquanto Sen escreve “desenvolvimento como liberdade”, Lewis argumenta: “a vantagem do
crescimento económico não é que o facto de a riqueza aumentar a felicidade, mas sim que aumenta a abrangência ou extensão da
escolha humana”. A riqueza permite às pessoas ganhar maior controlo sobre a natureza e o ambiente físico (através da produção
de comida, roupa, habitação) evitando que permaneçam pobres. Também dá liberdade para escolher mais lazer, ter mais bens e
serviços, ou mesmo escolher uma vida sem estes de forma espiritual. O conceito de liberdade humana deve também compreender
a liberdade política, incluindo o estado de direito, liberdade de expressão, participação política, e igualdade de oportunidades.
Alguns países alcançaram crescimentos económicos e altos rendimentos como a China, Malásia, Arábia saudita, Singapura, mas
não deixaram muito a desejar em termos de liberdade humana.

31
ser humano como comida, habitação, saúde e protecção; ii) Subir os níveis de vida, não só em
rendimento como também: provisão de mais empregos, melhor educação, maior atenção
cultural, e valores humanos. Estes servem para reforçar o bem-estar material e também para
gerar maior auto-estima individual e nacional e, iii) Expandir as liberdades de escolha
económica e social disponíveis aos indivíduos e nações, livrando-as da servidão e dependência
em relação a outras pessoas e estados nação.

Entretanto, O desenvolvimento sustentável não prescinde do protagonismo local. O próprio


ambiente sociocultural de onde emergem os agentes locais – as pessoas e instituições que, no
campo político, económico, social e cultural, se constituem em sujeitos do desenvolvimento local
- propicia o surgimento desses agentes. Caracteriza-se uma relação de pertença entre eles e o
território. São elementos conhecedores da realidade local e, integrantes da estrutura social local.

Actualmente (como já se referiu) é quase unânime entender que o desenvolvimento local não
está relacionado unicamente com crescimento económico, mas também com a melhoria da
qualidade de vida das pessoas e com a conservação do meio ambiente. Estes três factores estão
inter-relacionados e são interdependentes. O aspecto económico implica em aumento da renda e
riqueza, além de condições dignas de trabalho. A partir do momento em que existe um trabalho
digno e este trabalho gera riqueza, ele tende a contribuir para a melhoria das oportunidades
sociais. Do mesmo modo, a problemática ambiental não pode ser dissociada da social.

Assim, o desenvolvimento local pressupõe uma transformação consciente da realidade local


(Milani:2005). Isto implica uma preocupação não apenas com a geração presente, mas também
com as gerações futuras e é neste aspecto que o factor ambiental assume fundamental
importância. O desgaste ambiental pode não interferir directamente a geração actual, mas pode
comprometer sobremaneira as próximas gerações, (Sachs, 2001).

Outro aspecto relacionado ao desenvolvimento local é que ele implica em articulação entre
diversos agentes e esferas de poder, seja a sociedade civil, as organizações não governamentais,
as instituições privadas e políticas e o próprio governo. Cada um dos agentes tem seu papel para
contribuir com o desenvolvimento local, (Buarque, 1999).

32
Finalmente, ao se entrelaçar estes dois aspectos do desenvolvimento (Institucional e Local), tem-
se o objectivo fulcral de estabelecer por um lado o discernimento concreto entre os dois âmbitos
do desenvolvimento e por outro demonstrar a sua “indissociabilidade” na procura de
mecanismos que promovam o bem-estar das comunidades locais (Autarquias), afinal é a partir
duma instituição orgânica e estruturalmente bem constituída que podem emanar as mais
eficientes e eficazes políticas de desenvolvimento económico local.

33
CAPÍTULO 4 - ESTUDO DE CASO

4.1 A amostra

A amostra foi constituída por 63 habitantes de um todo de 137 habitantes da zona baixa do bairro
Sombreiro no distrito de Caia, Sofala, significa portanto, 46% dos 100%. Suas idades são
compreendidas entre os 25 e os 76 anos, sendo que 27 são do sexo masculino (42,9) e 36 do sexo
feminino (57,1); todos foram submetidos ao inquérito. A pesquisa decorreu em plenos domicílios
do bairro, aliás, o procedimento mostrou-se pertinente e justificativo, para os resultados da
pesquisa em causa.

Não existiu um rigor na distribuição das fichas de inquérito, seja por critério de níveis de
rendimento, instrução académica, classe profissional ou outras características. Pelo que foram
todos considerados população de estudo na vertente única de população reassentada. Assim, a
interpretação dos dados baseou-se no método dedutivo, (Silva & Menezes, :2001).

Por outro, foi por via de entrevistas (questionário) que foram obtidos dados importantes da
pesquisa, fundamentalmente, no que toca aos aspectos técnico-administrativo e/ou
procedimentos do processo de reassentamento ocorrido em Caia. Para o efeito, foram
contemplados representantes do bairro Sombreiro e Nhambalo, bem assim uma parte dos seus
residentes, órgãos técnicos e Administrativo do Governo Distrital de Caia e do INGC.

b. Relação entre variáveis e indicadores

Impacto socioeconómico do processo de Reassentamento das populações vítimas de cheias em


Moçambique, constitui o pressuposto do trabalho científico aqui desencadeado. Numa
abordagem quantitativo-qualitativa, o modelo que se sugere preconiza o processo de
reassentamentos populacionais dos locais de perigo, para os menos arriscados e que
proporcionem melhores condições de habitabilidade e renda, promovendo com efeito, o
Desenvolvimento económico-social necessário, para as pessoas. No contexto desse modelo e
fundamentalmente das considerações feitas na presente pesquisa, foram tomadas respectivamente
como independente e dependente as variáveis, Reassentamento e o bem-estar social e económico

34
das pessoas reassentadas e isso, depois vai se traduzir no próprio desenvolvimento
socioeconómico do distrito.
Araujo (19998) refere que o reassentamento deve, contemplar novas experiências do
melhoramento dos bairros com infraestruturas e serviços que irão permitir o acesso aos recursos
sociais e económicos e também se promova a auto-estima do ser humano, liberdade e sustento.

Assim, e por inerência do modelo sugerido procurou-se analisar o impacto socioeconómico do


processo de Reassentamento das populações vítimas de cheias em Moçambique recorrendo
principalmente ao estudo de três indicadores, nomeadamente: (i) rendimento familiar, (ii)
Habitação e (iii) Meios e tempo usados para o acesso aos serviços básicos e postos de trabalho,
a elas vai se associar uma variável acessória, designadamente a percepção das pessoas, tal como
sugerem os autores como Todaro (2009), o desenvolvimento deve ser, entendido como a
transformação da vida humana ou da realidade local através do aumento do nível de vida das
pessoas.

i. Rendimento familiar: considerado como somatório da renda individual dos moradores


do mesmo domicílio. É o que assegura a alimentação, integra as várias formas de
geração de renda para o sustento da família e melhoria da qualidade de vida das
famílias em causa.

ii. Habitação: De acordo com Núcleo de Pesquisas em Qualidade de Vida, NPQV (sd), é
um direito social que permite um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua
família no que contemple ao saúde e bem-estar. É que “habitar” é uma necessidade
básica dos indivíduos, é no interior da casa que se realizam outras necessidades, é na
casa onde se dorme, tem-se privacidade, fazem-se as refeições, realiza-se a higiene
pessoal etc”, independentemente de renda ou não.

Ou ainda, unidade delimitada por paredes separadoras, constituída pelos espaços


privados nos quais se processa a vida do agregado familiar, tais como a sala, os
quartos, a cozinha, as instalações sanitárias, a despensa e as varandas privativas,

35
incluindo, no caso de edifícios em regime de propriedade horizontal, a quota-parte
que lhe corresponda das partes comuns do edifício 20.

iii. Meios e tempo usados para o acesso aos serviços básicos e postos de trabalho: Além de
ser fundamental para transportar pessoas, os diversos meios de transporte são
importantíssimos para levar de um lugar para o outro diversos tipos de carga como
alimentos, matéria-prima para produção de vários produtos, medicamentos etc. Os
meios de transporte são classificados da seguinte forma: terrestres (ferroviário,
rodoviário e metroviário), aquáticos ou hidroviários (marítimo, fluvial e lacustre) e
aéreo.

c. Instrumentos de recolha de dados


O inquérito por questionário e a entrevista foram as ferramentas de pesquisa aplicadas. O
questionário foi produzido e atestado durante o decurso deste trabalho. O inquérito foi
constituído por 15 questões e dividida em três partes principais, que comportam uma constituição
mista entre questões do modelo dicotómicas, cujas alternativas de respostas possuem valores
opostos (sim/não) e outras de argumentação adaptadas às exigências de tempo dos inquiridos.

As questões 1 a 11, permitiram a recolha de dados em relação as questões habitacionais,


rendimento das famílias e seus mecanismos de locomoção e acesso aos serviços básicos, portanto
em relação às principais variáveis do trabalho, as questões 12 a 15, forneceram dados relativos a
percepção das pessoas e grau de envolvimentos das instituições ao reacondicionamento do
desejado nível de vida no local de reassentamento.

I. Procedimento
A recolha de dados foi realizada em fase única tendo consistido na distribuição do inquérito
(questionário) que, foi respondido pelos inquiridos, e bem assim algumas interacções como as
estruturas do governo local e do INGC. Importa salientar que a ocorrência das respostas dadas às
20
[On-line] Disponível na Internet via
http://www.portaldahabitacao.pt/pt/portal/glossario/consultarAlfabetoList.jsp?inicialVocabulo=H Acesso em 20 de Maio de
2013, 11:17h.

36
questões constantes do inquérito dirigido aos respondentes (população reassentada), foi na
ausência da pesquisadora.

No devido interesse da população de estudo e na salvaguarda da componente ética no processo


de investigação científica foi “obrigatoriamente” consensual a omissão de alguns dados de
identificação dos entrevistados, ainda que anteriormente tenha sido garantida a confidencialidade
das informações nesse processo facultadas. Como tal, houve azo a que algumas questões em
formulário não fossem cabalmente respondidas, fundamentalmente as de argumentação.

Assim, analisadas as questões só se chegou ao mais apurado resultado admitido com o auxílio de
técnicas estatísticas21 adiante demonstradas (na apresentação dos resultados).

2.2 Apresentação, interpretação dos dados (e resultados)


Nesta etapa são interpretados e analisados os dados recolhidos com base nos mecanismos e
instrumentos citados anteriormente. A análise deve ser, feita para atender aos objectivos da
pesquisa e para comparar e confrontar dados e provas com o objectivo de confirmar ou rejeitar a
(s) hipótese (s) ou os pressupostos da pesquisa, (Silva e Menezes:2001).

4.3. Caracterização do distrito de Caia

O Distrito de Caia, situa-se ao norte da província de Sofala, e dista cerca de 300km da cidade da
Beira pela estrada 213 e 475km pela EN1, enquadrando-se num ponto estratégico ao nível da
região. Ainda o distrito é atravessado pela Estrada Nacional número 1 (EN1), que liga as regiões
Sul, Centro e Norte, é também atravessado pela linha férrea de Sena que dá acesso ao Porto da
Beira, `a Província de Tete e ao vizinho Malawi22

A escolha deste distrito foi, movida pelo facto de ter sido um dos primeiro distritos a serem
contemplados no reassentamento das populações vítimas das intensas induções causadas pelo
transbordamento do maior rio (Zambeze) entre os anos de 2007 e 2008, pelo GACOR, logo após

21
Vide pag. 6, subsecção sobre metodologia aplicada a este trabalho.
22
Plano Estratégico de desenvolvimento do Distrito de Caia, 2010 - 2020

37
a sua criação em 2007, tendo na altura se reassentado cerca de 137 famílias no Bairro Sombreiro
em 2008.

O bairro Sombreiro não é o único bairro de reassentamento. Existem outros tantos em diferentes
pontos daquele distrito com características específicas, erguidos neste âmbito mas, o Sombreiro
constitui o tema em estudo.

Divisão Administrativa

O Distrito de Caia é constituído por 3 Postos Administrativos, 5 Localidades e 23 Regulados.


Este Distrito possui uma superfície de 3.585km2.

Desenvolvimento Humano e Social


Segundo o Censo de 2007, o Distrito tem um total de 115. 328 Habitantes, dos quais 54.808
mulheres e 60.520 homens, com uma taxa média de crescimento anual de 2,6%.

Idiomas
Predominam nesta parcela do País idiomas, Sena e Ndau e socialmente predominam, as
sociedades matrilineares.

Bairro Sombreiro
O Bairro Sombreiro, localiza-se a Este da vila de Caia, cerca de 10km2, com 137 famílias (685)
habitantes. Este Bairro, possui como infra estruturas, uma Escola de EP2, um Centro de Saúde a
cerca de 700m2 do bairro, uma fontenária, machambas, energia em via de instalação.

4.4. Rendimento, habitação, meios e tempo usados para o acesso aos serviços básicos e ao
posto de trabalho

A tabela 1, faz ilustração dos dados e dos resultados obtidos através da aplicação do questionário
por inquérito em relação aos indicadores, Rendimento, habitação, meios e tempo para o acesso
aos serviços básicos e ao posto de trabalho.

38
Tabela 1: Indicadores das variáveis

Questões Indicadores das variáveis: Rendimento, habitação e meios e tempo


Respostas (N= 63)
para o acesso aos serviços básicos
Parte I Sim % Não %

1. Habitabilidade 50 79.40 13 20.60

2. Acessibilidade económica 53 84.10 10 15.90

3. Segurança de ocupação 47 74.60 16 25.40

4. Facilidade de acesso, localização 42 66.67 21 33.33

5. Disponibilidade de serviços 45 71.43 18 28.57


6. Materiais, equipamentos e infraestruturas 38 60.30 25 39.70
7. Respeito pelo meio cultural 63 100 0 0

8. Crescimento do rendimento e produtividade 32 50.80 31 49.20

Necessidade de meios de deslocação para o acesso aos serviços sociais


9. 13 20.60 50 79.40
básicos (ex: veículos)

10. Mecanismos acessíveis de reclamação e direito à reparação 36 57.14 27 42.86

Compensação das perdas relativas à situação presente vivida pela


11. 38 60.30 25 39.70
população

Fonte: Concepção e Elaboração da Autora

a) De acordo com a tabela, pode-se ver que maior parte da população (79.40% em relação a
20.60%) assume que no bairro do destino, local de Reassentamento há condições de
Habitabilidade. Quer dizer, possibilita aos habitantes uma habitação condigna, por ser
habitável em termos de proporcionar aos seus ocupantes espaço adequado, segurança,
proteger do frio, da humidade, do calor, da chuva, do vento e outros perigos para a saúde,
dos riscos devido a problemas estruturais e vectores de doença, (HREA, 2012)23.

b) Acessibilidade económica - Uma habitação acessível é uma habitação cujos custos


financeiros suportados se situam a um nível que não ameaça a satisfação das outras
necessidades básicas. É por isso que os Estados devem tomar medidas para assegurar que
os custos afectos à habitação sejam compatíveis com os níveis de rendimento (ibid.). Ora

23
[On-line] Disponível na Internet via http://www.hrea.org/index.php?doc_id=412 Acesso em 28 de Março de 2010, 14:28h.

39
de acordo com a tabela 1, temos a maioria da população reassentada (84.10% em relação
15.90%) a assumir a acessibilidade económica das habitações atribuídas.

c) Segurança legal de ocupação - Para Human Rights Education Association, essa


segurança, significa que todas as pessoas, onde quer que vivam, têm direito a um
determinado grau de segurança que garanta a protecção legal contra o desalojamento
forçado, agressão e outras ameaças. Os Estados são obrigados a adoptar medidas para
conferir legalmente esta segurança. Entretanto, a busca de dados reflectidos na tabela 1,
indica haver uma concordância na maior parte da população em estudo (74.60% em
relação a (25.40%), no que respeita a segurança legal da ocupação de suas habitações.

d) Facilidade de acesso, localização - A Human Rights Education Association uma


habitação condigna deve ser acessível a todos os que a ela têm direito, incluindo os
grupos desfavorecidos, que podem apresentar necessidades especiais, (devendo beneficiar
de uma certa prioridade no que se refere à habitação). Por outro lado, uma habitação
condigna, urbana ou rural, deve localizar-se num local onde existam possibilidades de
emprego, serviços de saúde, escolas, centros de cuidados infantis e outras estruturas
sociais. As habitações não devem ser construídas em lugares poluídos, nem na
proximidade de fontes de poluição que ameacem o direito à saúde dos seus ocupantes. Se
olhar para a tabela 1, os dados ilustram uma maior parte da população em estudo (66.67%
em relação a 33.33%) a concordar com essas condições no local de reassentamento.

e) Disponibilidade de serviços, materiais, equipamentos e infraestruturas – segundo a


Human Rights Education Associatin, de forma a garantir a saúde, segurança, conforto e
alimentação dos seus ocupantes, uma habitação condigna deve permitir o acesso
sustentado aos recursos naturais e comuns, água potável, energia para cozinhar,
aquecimento, eletricidade, instalações sanitárias e de limpeza, meios de conservação de
alimentos, sistemas de recolha e tratamento do lixo, esgotos e serviços de emergência
entre outros. Ora, no contexto da delimitação espacial do presente trabalho existe
conforme mostram os dados da tabela 1 esforços institucionais para materialização desses
preceitos. Da população inquirida, 71.43% assume a existência de serviços básicos para

40
população (28.57 é no entanto de pronunciamento contrario). Por sua vez a existência de
infraestruturas e outros equipamentos ou materiais, é apontada como um facto pela
população do bairro Sombreiro em Caia (60.30% a concordar em relação 39.70 a
discordar).

f) Respeito pelo meio cultural - A arquitectura, os materiais de construção utilizados e as


políticas subjacentes devem permitir exprimir, a identidade e diversidade culturais
relativamente à habitação. De uma forma geral, a construção e modernização da
habitação deve manter as dimensões culturais da habitação disponibilizando,
simultaneamente, os equipamentos técnicos, entre outros, (HREA,2012). Da tabela 1,
pode-se ver que 100% da população inquirida acha-se culturalmente correspondida no
que diz respeito ao meio cultural que lhes envolve no novo local de residência.

g) Crescimento do rendimento e produtividade – de acordo com Human Rights Watch, aqui


está inserido o princípio de uma melhoria do padrão de vida que deve incluir a garantia
de que as pessoas reassentadas terão uma produtividade com base no uso de terra ou num
emprego, conforme cada caso, e proteger os seus direitos a alimentação, água e habitação
adequada, (HRW:2012) 24. No tocante a este indicador de sucesso para o processo de
reassentamento, os dados disponíveis na tabela 1, denotam uma situação relativamente
preocupante. Quase metade da população alvo a não assumir o crescimento do
rendimento e produtividade locais (não foram disponíveis nem por parte do Governo
Local, nem por parte do INGC dados estatísticos que mostrassem evolução desse
indicador no período em estudo). Ainda assim, estudos do terreno mostraram que 50.80%
da população considera haver um crescimento na sua renda e os mecanismos de produção
e produtividade já forma instalados, bastando o bom uso e tempo para “verificabilidade”
do efeito.

Outrossim, está prevista no Plano de Reassentamento Reajustado, do Conselho


Coordenador de Gestão de Calamidade a necessidade da inclusão da provisão de apoio
financeiro para o desenvolvimento de actividades de rendimento, com destaque para

24
[On-line] Disponível na Internet via http://www.hrw.org/node/110544 Acesso em 28 de Março de 2010, 14:28h.

41
actividades informais diversas, carpintarias, moageiras, pequenas oficinas para a repa-
ração de rádios, bicicletas e motorizadas bem como aquisição de insumos e alfaias
agrícolas para o desenvolvimento de uma agricultura de rendimento.

h) Necessidade de meios de deslocação para o acesso aos serviços sociais básicos (ex:
veículos) – o estudo feito no terreno denotou que uma vez se tratando de um bairro de
reassentamento, tendo em conta que a apesar de existir o órgão coordenador com vista ao
processo de reassentamento profícuo, esse processo é levado a cabo mediante esforços
intersectoriais e conjuntos. Assim, estão no novo local de residência da população de
sombreiro em Caia, instaladas infraestruturas educacionais, sanitárias entre outras que
não torne o acesso aos serviços básicos e aos postos de trabalho impossíveis sem meios
de transporte para deslocação humana e de carga. Da nossa pesquisa para esta realidade,
temos que 79.40% da população inquerida acha de facto dispensável o transporte baseado
em veículos como meio de deslocação para e/ou ao acesso de serviços básicos e posto de
trabalho.

i) Mecanismos acessíveis de reclamação e direito à reparação – segundo preconiza a


Human Rights Watch, a criação de canais para as várias partes interessadas fazerem
reclamações ou resolverem disputas relacionadas com o processo de reassentamento é um
não ser excluído nesse processo. Por sua vez a Constituição moçambicana proporciona
diversas salvaguardas para os cidadãos se expressarem livremente, exigirem uma
compensação e apresentarem queixas perante as autoridades através do sistema formal de
Justiça. E, de acordo com a pesquisa feita, os dados patentes na tabela 1 apontam em
57.14% que a população em estudo admite a existência desses mecanismos.

j) Compensação das perdas relativas à situação presente vivida pela população – de


acordo com a Human Rights Watch, trata-se do direito à compensação de todos os bens
perdidos através de activos em dinheiro ou de substituição dos bens. Conforme o caso, a
compensação baseia-se no princípio do custo da reposição. E, preferência deve ser dada
às estratégias de reassentamento com base na terra para pessoas deslocadas cujos meios
de subsistência dependem da terra. Os dados apresentados na tabela 1, apontam para

42
60.30% da população em estudo que assume a existência de recompensas por essas
perdas.

Rendimento, habitação, meios e tempo para o acesso aos serviços básicos e ao posto de
trabalho, foram os indicadores do sucesso do processo de reassentamento em estudo neste
trabalho, apresentados na tabela 1. Importa referir que vai ser considerado profícuo esse processo
se a população do novo local de residência dispor de habitação condigna que envolve,
privacidade adequada, espaço adequado, segurança adequada, iluminação e ventilação
adequadas, infraestruturas básicas adequadas e localização adequada relativamente ao local de
trabalho e equipamentos básicos - tudo isto a preço razoável, acessível e alcançável.

4.5. Instituições envolvidas no processo

A tabela 2, faz ilustração dos dados e dos resultados obtidos através da aplicação do questionário
por inquérito em relação as instituições e seu grau de envolvimento no processo de
reassentamento populacional em estudo no presente trabalho.

Tabela 2: Instituições envolvidas no processo

Respostas (N= 63)


Questões
Instituições envolvidas no processo INGC Gov. Local Ambos
Parte II
N % n % n %
12. Processo participativo (stakeholders) 17 27.00 22 34.90 24 38.10
Gestão de conflitos resultante do processo de
13. 14 22.22 37 58.73 12 19.05
integração
14. Órgão providente dos meios logísticos 42 66.67 8 12.70 13 20.63

Fonte: Concepção e Elaboração da Autora

k) Processo participativo (stakeholders) - Qualquer reassentamento de população deve


privilegiar princípios básicos, dentre eles, pode se destacar a Consulta e participação
genuína das populações afectadas que deve ter lugar na medida em que o resultado final
não é claro no início e que todos os interesses têm de ser tomados seriamente. A
preocupação primária é tomar muito a sério os direitos e interesses dos potenciais
desalojados e outras pessoas afectadas”. Para que isto aconteça deve-se auscultar as

43
populações afectadas, a quando da escolha do local da implantação do bairro definitivo
de reassentamento25.

Da tabela 2, estão patentes os resultados de que a Consulta e participação genuína das


populações afectadas, foi tão importante e como tal, não podia sê-lo sem esforços
conjuntos entre o INGC e o Governo local. Assim, 27% da população acredita num
processo de consulta e participação levado a cabo somente pelo INGC, quando 34.90%
acredita terem sido esforços do Governo Local e finalmente 38.10% da população
assume ter havido esforços conjuntos de uma e de outra instituição.

l) Gestão de conflitos resultante do processo de integração – No movimento da sociedade


em suas transformações, a categoria território usado, revela a complexidade da relação
social, com o seu meio, pela “interdependência e a “inseparabilidade” entre a
materialidade, que inclui a natureza e, o seu uso à acção humana, isto é o trabalho e a
política” Santos e Silveira (2005:247). Ora, nesse processo de mobilidades (seja de que
nível for), estão implícita ou explicitamente incrustados focos de conflitos sociais
resultantes da disputa humana dos recursos, e na maioria dos casos, fica claro em casos
de integração populacional num território “originariamente estranho”, (ibid.).

A pesquisa feita sobre o processo de reassentamento populacional no distrito de Caia, em


Sofala, refere conforme os dados da tabela 2 que 58.73% atribui principalmente ao
Governo local a responsabilidade e o papel pela gestão de conflitos resultante do
processo de integração.

m) Órgão providente dos meios logísticos – um dos ensinamentos da Human Right Watch, é
a preocupação do governo ou do órgão director/coordenador do processo de
reassentamento populacional em relação a questão central para as populações
reassentadas que consiste na sua capacidade de manter ou melhorar os seus meios de

25
A voz da população afectada deve ser ouvida na sua diversidade, bem como colectivamente, ou a nível do fórum de consulta; a
planta das casas, deve emergir de uma genuína consulta/negociação/planificação do processo de acordo com as necessidades
básicas, hábitos e costumes dos beneficiários, isto é, consultar as populações afectadas acerca do ordenamento habitacional nos
bairros de reassentamento, de forma a conciliar as formas tradicionais de ordenamento com os da modernidade.

44
subsistência. É baseado nisso que os governos em geral devem integrar os planos de
reassentamento nos orçamentos, fiscalizações e planos de desenvolvimento a nível
distrital, provincial e nacional.
Entretanto, para a pesquisa levada a cabo no presente trabalho, constata-se mediante os
dados da tabela 2 que a maior parte da população (66.67%) em estudo assume que o
INGC, foi Instituição governamental encarregada de prover recursos básicos e/ou de
subsistência à população ora, reassentada.

4.6 Percepção das pessoas

Tabela 3: Percepção das pessoas

Questões Respostas (N= 63)


Percepção das pessoas
Parte II Positiva % Negativa %

15. Diferença entre o anterior local de residência e o actual 47 74.60 16 25.40

Fonte: Concepção e Elaboração da Autora


Finalmente, para a tabela 3, sobre a percepção das pessoas entrevistas, os dados revelam, que
mais de metade dos residentes em bairros de reassentamento, encontram-se satisfeitos com os
novos lugares de habitação portanto, em percentagem de 74.60% contra 25.40% que se
demostram insatisfeitos.

Estes residentes, afirmam que nos antigos locais de habitação, tinham dificuldades do acesso `a
educação, saúde, infraestruturas, `agua entre outros serviços básicos. Salientam ainda possuirem
oportunidade de desenvolverem actividades de geração de renda, para o seu aut-sustento através
de abertura de machambas com apoio do governo e parceiros da comunidade internacional. Em
suma, a diferença entre as residência antigas e as actuais é bem grande, avaliando pelo material
de construção (convencional). O material apesar de ser de fabrico caseiro na sua maioria mas, é
de qualidade relativamente ao material de construção das antigas residências.

45
4.7 Limitações

Chegada a esta parte, torna-se imperioso deixar claro as dificuldades com que me deparei
durante a realização do presente trabalho, que teve como foco, analisar o impacto
socioeconómico resultante do processo de reassentamento das populações vítimas de cheias no
Distrito de Caia em (Sofala), num período de 4 anos. Portanto, de 2008 a 2012, tendo em conta
os procedimentos legais e contingenciais vigentes, e constitui monografia de Licenciatura em
Administração Pública.
As intensas chuvas que se registaram por quase todo o território nacional, fizeram com que este
trabalho se desenvolvesse de forma lenta pois, tive que permanecer quase três meses a trabalhar
arduamente sem direito a fins-de-semana, para poder me dedicar às leituras de obras que
contribuíssem, para a presente monografia por um lado, e por outro, a distância que me separa do
local de estudo do caso, fez com que a investigação durasse mais tempo em relação ao que se
pretendia logo no início desta monografia pois, certas vezes recorria-me às investigações `a
distância, isto é, uso do telefone ou e-mail, para a recolha de dados que serviriam de sustento
deste trabalho. Esta foi a primeira limitação.

A segunda limitação que esta investigação tem, é a escassez de tempo e recursos, para examinar
todos os factores passíveis tidos como influenciadores da vida socioeconómica das famílias
reassentadas. Por exemplo, este estudo não controla variáveis como: a localização das famílias
(relativamente aos serviços administrativos, estabelecimentos comerciais, feiras comerciais entre
outros).

A terceira limitação está aliado ao grau de satisfação das famílias reassentadas, que foi, avaliado
com base em respostas dos entrevistados, havendo algum risco de subjectividade nas respostas
dadas, visto que nem todos os membros dos agregados familiares foram inquiridos, por um lado;
e por outro, existem, entre as famílias inquiridas, aquelas que não estão totalmente satisfeitas
com o processo.

46
4.8.Conclusões

Face ao que acima foi arrolado, há que considerar dois aspectos neste processo de
reassentamento, social e económico, no âmbito do tema que me propus a desenvolver como o
culminar no meu curso. (Impacto sócioeconómico do processo de reassentamento de população
vítima de cheias no período de 2008/2012 no distrito de Caia, província de Sofala).

Deste processo foi, possível tirar as seguintes ilações:

Tratando-se duma investigação científica, usei dados de dois (2) bairros próximas, apenas para
proceder uma comparação do grau de satisfação das famílias reassentadas, com o uso de
inquéritos onde inqueri 63 famílias tidas como uma amostra de um universo de 137 famílias alí
reassentadas e, entrevistei 2 chefes de dos bairros Sombreiro e Nhambalo, portanto, trata-se de 2
bairros muito próximos um do outro, o Director do GACOR e seus técnicos e o Director de
Serviços Distritais de Apoio `as Actividades Económicas onde ficou patente que, nem todas as
famílias instaladas naqueles bairros foram, afectadas pelas inundações ou seja, a sua
transferência não foi compulsiva, havendo no etanto, famílias que de forma voluntária foram, se
instalar nos bairros de reassentamento, após a sua apresentação junto às estruturas competentes,
movidas pela ambição do alcance aos serviços básicos existentes naqueles locais: (água, escola,
saúde, insumos agrícolas, saneamento entre outros).

No âmbito de coordenação de todas as actividades inerentes ao reassentamento das populações,


há que considerar o esforço envidado por todos os sectores interveniente neste processo, para
garantir uma permanência efectiva destas populações nos bairros de reassentamento e isso, se
traduz na satisfação das mesmas.

As hipóteses avançadas, nesta pesquisa, ficam refutadas tendo em conta que este processo
satisfaz todos os pressupostos dum processo de reassentamento, à luz dos resultados obtidos na
interpretação de dados colhidos no terreno, confrontados com opiniões de diferentes autores
consultados, para esta pesquisa.
Para finalizar, pode-se afirmar que o processo de reassentamento das populações vítimas das
cheias em particular no Bairro Sombreiro surtiu efeitos desejados se, se tomar em conta, as
informações aqui interpretadas nas duas vertentes, tanto social assim como na económica.

47
Os serviços básicos são alcançáveis com facilidade e existe um plano claro e exequível de apoio
`as actividades de geração de renda destas populações através do SDAE, ONG’s e o INGC.
O Programa Mundial para Alimentação (PMA), uma ONG das Nações Unidas apoia as famílias
mais desfavorecidas em cada bairro, pagando um valor estimado em 650,00MT durante 4 meses
seguidos de modo a garantir que aquelas famílias também consigam desenvolver algumas
actividades de geração de rendimentos. O SDAE através dos extensionistas que apoiam aqueles
bairros, desbravando a terra, o seu parcelamento pelas famílias e alocação de motobomba, para a
irrigação das machambas obedecendo o calendário estabelecido, para o efeito.

É de referir que após a realização do presente estudo e duma forma bem resumida, o
reassentamento de populações vítimas de calamidades naturais, serve de fonte de inspiração, para
todas as famílias ao nível dos distritos acima referidos pois, através dele é, bem notório o grau de
desenvolvimento local nestas províncias e em Moçambique em geral.

4.9 Recomendações

Do que foi, possível observar no terreno, ao longo da minha investigação, gostaria de deixar
algumas ideias ou subsídios que possam servir de base, para os futuros estudos de viabilidade
neste processo de reassentamento:

 Proceder nos bairros de reassentamento o ordenamento dos espaços de modo a permitir, o


desenvolvimento social e económico sustentável de acordo com a resolução nº 18/2007
de 30 de Maio, que aprova a política do ordenamento territorial, para além de delimitação
dos espaços habitacionais usando estacas secas, de modo a evitar a sua devoração pelos
animais domésticos (cabritos);

 Reservar espaços suficientes, para permitir o desenvolvimento socioeconómico do bairro


tendo em conta a dinâmica social e económica do país e do distrito de Caia em particular;

 Construir no mínimo 5 unidades de casas melhoradas, para albergar famílias que por
ventura sofram qualquer tipo de calamidade, enquanto se espera pela reabilitação da sua

48
residência inicial ora destruída parcial ou totalmente, seja por fogo, ciclones, ventos
fortes etc;

 Introduzir novas formas de geração de rendimentos, através do fomento de piscicultura,


pecuária e avicultura, para alteração do nível de renda e garantir a sua sustentabilidade,
segundo a recomendação da Human Rights Watch ;

 Introduzir o sistema de alfabetização no bairro, de modo a reduzir a pobreza absoluta,


conforme os objectivos do PARPA II, (2006-2009) pois, com o mínimo nível de
educação ou formação escolar, é possível evitar vulnerabilidade ao risco através do
acesso `as informações úteis, como por exemplo, não se instalar em zonas propensas as
inundações e/ou ter capacidade de tomar decisão e escolhas sobre o seu comportamento
sexual; ,

 Criar espaços de recreação ou de laser, para as crianças trocar impressões entre elas,
bricando, jogando a bola, saltando a corda etc., como forma de desenvolvimento de suas
capacidades físicas e mentais;

 Finalizando, aproximar cantinas, através do projecto dos 7 milhões de meticais, a pessoas


que apresentem o projecto de fornecimento de chapas de zinco, cimento, pregos e outros
materiais essenciais, para a construção de habitações melhoradas, porque estas
populações percorrem longas distâncias para a sua aquisição para além do
estabelecimento de reserva da água (represas), para que no período de seca serva as
populações.

49
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em Caia;

55

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