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Quando o amor vira doença

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Quando o amor vira doença
Carência e cuidado excessivo podem ser sinais de amor patológico originado na infância. O amor patológico tem
origem na relação da mãe com o filho e em sua disponibilidade para suprir as necessidades emocionais da prole em
situações estressantes, principalmente em casos de separação.
Há três anos, a técnica em prótese dentária Kelly, 33 anos, encontrou um namorado de quem tenta se separar. O
problema era que o alvo do seu amor a agredia física e verbalmente, além de abusar de drogas e álcool. Sempre que o
parceiro se distanciava para tocar em barzinhos sozinho, ela ficava com insônia. Por causa da tensão vivida por um
amor conturbado, teve uma perda brusca de peso, ficava constantemente irritada e apresentava tensão muscular. No
passado, Kelly conta ter sido controladora e ciumenta com outros homens, um tipo de postura que provoca brigas
entre o casal. Sempre que se comporta assim, ela é agredida por seu namorado.

Esse é um caso de amor patológico. A pessoa embarca numa união simbiótica na


tentativa de fugir da insuportável sensação de abandono. Ela dirige toda sua atenção à pessoa amada, desdobrando-se
em cuidados e gentilezas que nunca cessam porque simplesmente ela não sabe como controlar o impulso de agradar o
parceiro. Numa postura obcecada, aquele que vive esse amor não consegue mudar de foco: seu objeto de desejo torna-
se prioridade, enquanto os outros interesses ficam em segundo plano.
Esse amor é vivido por pessoas de personalidade vulnerável, marcada pela baixa autoestima e pelos sentimentos de
rejeição e raiva. São pessoas que crescem em famílias desajustadas, com pouca atenção e carinho dos pais. Por isso,
tentam compensar esses anos de ausência com um amor possessivo. Elas acabam reproduzindo desarranjos do
passado, escolhendo parceiros dependentes, e que logo irão se mostrar negligentes, inacessíveis e problemáticos. “A
pessoa tem dificuldade de estabelecer limites entre ela e o parceiro, manifestada pela atitude constante de manter o
outro sobre controle e uma busca incessante pela fusão com ele. Os critérios diagnósticos para o amor patológico são
semelhantes aos da dependência química”, diz a psicóloga Eglacy Cristina Sophia, pesquisadora e psicoterapeuta do
Pro-AMITI (Ambulatório dos Múltiplos Transtornos do Impulso) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas
da USP, que traçou o perfil das pessoas que sofrem de amor patológico em sua dissertação de mestrado, defendida em
2008.
Ansiedade ambivalente

No amor patológico, a pessoa geralmente embarca em uma união simbiótica na


tentativa de fugir da insuportável sensação de abandono. Alguns pesquisadores acreditam que o amor patológico surge
conforme o vínculo que a pessoa vivencia com a mãe durante os primeiros anos de vida. Esse tipo de amor ocorreria
quando a pessoa experimenta, na infância, uma relação insegura com a mãe, sofrendo a ansiedade de separação – um
tipo de vínculo que os especialistas chamam de “ansioso ambivalente”. A atenção e proteção da mãe oscila: ela está
presente para apoiar a criança em algumas situações, mas em outras não, criando ameaças de abandono usadas por ela
como meio de controlar a criança. Na fase adulta, ela agirá como se nunca soubesse se a pessoa amada vai estar
presente ou ausente. Ela verá as outras pessoas como mais importantes e sentirá medo da perda, por isso, precisará ser
mais vigilante com seus parceiros.
Tudo indica que a disponibilidade emocional da mãe em situações estressantes, principalmente separações, é o meio
pelo qual a criança aprende a perceber e a se relacionar com o mundo, além de estar ligada a fatores genéticos dela
própria. “No primeiro ano de vida, a criança desenvolveria uma ‘lente’ a partir da qual a pessoa vai ver o mundo e a si
própria, ou seja, um tipo de vínculo específico e que se transformaria numa maneira de se relacionar na vida adulta”,
diz Eglacy. Essa teoria foi chamada de teoria do apego.
Teoria do apego

O primeiro e mais importante teste da teoria do apego foi publicado pelo psiquiatra inglês
John Bowlby, com a colaboradora Mary Ainsworth, em 1978, quando surgiu o primeiro sistema de classificação: o
seguro, o rejeitador (ou ansioso com evitação) e o ansioso/ ambivalente (ansioso resistente).
Tipos de apego

No apego seguro, a mãe é sensível às necessidades da criança e promove


confiança de que os pais estarão disponíveis, caso ela se depare com uma situação amedrontadora. A pessoa, então, se
sente encorajada a explorar o mundo, estando apta a vivenciar o amor saudável durante a vida adulta.
No apego rejeitador, há constante rejeição por parte da mãe quando a criança procurava obter proteção, gerando falta
de confiança de que terá ajuda quando precisar. A pessoa passa a tentar viver sem amor e sem ajuda dos outros, ou
seja, tornar-se emocionalmente autossuficiente.
Para a pessoa com apego ansioso-ambivalente, os pais estiveram disponíveis em algumas situações e não em outras,
levando o bebê a vivências de separação e ameaças de abandono, usadas pelo pai como meio de controle. Isso gera
incerteza quanto à disponibilidade dos pais e, consequentemente, à ansiedade de separação no relacionamento adulto.
Homens que amam demais
O empresário S. E., 50 anos, chefe de família, tinha um relacionamento estável com sua mulher, quando embarcou
numa acalorada paixão por uma garota de programa de 25 anos. Refém de uma paixão avassaladora, ele achou que
poderia resgatá-la da prostituição. Começou a empenhar todos os recursos pessoais para atrair a atenção da amada. Ela
recusou todas as investidas. Quanto mais ela o rejeitava, mais ele a desejava. Homem bem-sucedido, ele perdeu tudo:
trabalho, casa e família, por causa desse amor mal resolvido – o drama do empresário é um dos casos narrados pela
escritora Tatiana Ades, em seu livro Hades – Homens que amam demais, da Editora Record. O nome do livro é uma
referência ao mito de Hades, o sedutor deus grego que detinha todos os encantamentos, até que se apaixonou por uma
deusa que não o desejava. Ele, então, a sequestrou, provocando um grande caos na Terra, por causa de um amor não
correspondido.
“O livro traz narrativas como a de Hades. A partir da mitologia grega, percebemos que desde épocas mais remotas já
existiam histórias de homens que amavam demais, apesar de nossa sociedade não reconhecer a fragilidade que existe
no universo masculino”, explica a autora. “São pessoas que viveram em lares desajustados. Na maioria dos casos, o
homem foi criado por uma mãe muito ausente ou tinha uma relação simbiótica com ela. O sujeito, então, reproduz a
relação doentia com a figura materna”, analisa.
Quem são os Homens que Amam Demais?
Geralmente, eles vêm de um contexto familiar destrutivo. Tem relacionamento simbiótico com a mãe (ou ela é muito
próxima ou muito ausente), os pais normalmente são alcoólatras e, de algum modo, os homens que amam demais
sofreram violência doméstica, tanto física quanto verbal. Eles trasportam essas frustrações para a vida e repetem a
história.
Outras características:
 Na visão dele, ela é sempre a vítima. Tudo que acontece de errado no relacionamento ele se culpa;
 Ele quer tanto a aprovação dela que, mesmo sofrendo muito, abre mão de suas vontades para satisfazer as
dela;
 Ele começa a viver em função da amada, vasculha tudo e corre um sério risco de estar caindo na cilada do
ciúmes excessivo;
 Ele tem auto-estima muito baixa, por isso não se dá valor e deixa com que essa situação permaneça;
 Quem aconselha se torna um inimigo, é como se destruísse algo saudável. Na visão do homem que ama
demais, o relacionamento dele é normal porque ele sempre vai viver na expectativa de que a situação
melhore;
 Ele pode se considerar um homem que ama demais quando o amor for sinônimo de sofrimento;
 Porque ele a ama muito, não liga de ser humilhado e sempre justifica as atitudes de sua amada;
Este último é “cegueira emocional”. É como se esse amor obsessivo estivesse mais do que claro, mas ele insiste em
não querer ver. “É muito triste quando você percebe o amor doentio. O casal não aproveita o melhor desse sentimento
e corre grande risco de se separar. Para se ter uma ideia, quando um ‘Hades’ se separa da amada ele tem os mesmos
sintomas de uma pessoa que está em abstinência de cocaína: tremores, vômitos e até síndrome do pânico.
A seguir, as Doze Promessas do CoDA (Co-Dependentes Anônimos), grupo que busca ajudar homens e mulheres a
desenvolver um relacionamento saudável, que com certeza te ajudarão bastante a se amar primeiro:

– Reconheço que não estou só e que meus sentimentos de vazio e solidão vão desaparecer.

– Não sou controlado por meus medos. Eu supero meus medos e ajo com coragem, integridade e dignidade.

– Experimento uma nova liberdade.

– Liberto-me da preocupação, da culpa e da lamentação quanto ao meu passado e ao presente. Eu me mantenho o


suficientemente atento para não repetir.

– Experimento um novo amor e uma nova aceitação por mim mesmo e pelos demais. Eu me sinto genuinamente
merecedor(a) de ser amado(a).

– Aprendo a me ver igualmente aos demais. Em minhas novas e renovadas relações são baseadas na igualdade de
ambas as partes.

– Sou capaz de desenvolver e manter relações saudáveis e amorosas. A necessidade de controlar e manipular os
outros desaparecerá na medida em que eu aprenda a confiar nas pessoas dignas de confiança.

– Aprendo que é possível recuperar-me e converter-me numa pessoa mais amorosa, mais íntima e capaz de
oferecer apoio apropriado. Eu tenho a escolha de comunicar-me com minha família de uma maneira segura para mim
e respeitosa para eles.

– Reconheço que eu sou uma criação única e preciosa.

– Não dependo unicamente dos demais para poder me sentir valioso.

– Tenho a confiança de que meu Poder Superior me guia. E venho a acreditar em minhas próprias capacidades
Controle e dependência
“Nossa experiência clínica tem mostrado que a pessoa com amor patológico presta cuidados ao parceiro, mas com o
intuito de obter afeto, sem respeitar as necessidades e interesses do outro, muitas vezes com atitude crítica quando não
recebe o esperado, contrariamente ao conceito de cooperatividade, que inclui ajuda desinteressada, tolerância e
empatia social”, diz Eglacy.
O seu estudo mostrou que pessoas que sofrem de amor patológico também têm dificuldade de estipular metas e de se
manter focado nelas. “Isso ocorre porque o foco principal de sua vida é manter o parceiro sob controle, porque
necessita da sua atenção”, diz Eglacy. As principais estratégias utilizadas para controle são ligações telefônicas, seguir
o parceiro, interrogar sobre as atividades dele, ser extremamente atencioso para com as necessidades dele e provocar
ciúme.
Há quem diga que o medo é a essência desse amor. A pessoa foge da sensação de isolamento tornando-se parte de
outra. Alguns estudos mostram que as reações químicas observadas no cérebro daqueles que vivenciam o amor
patológico seriam muito parecidas àquelas encontradas em pessoas que sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo ou
TOC, uma alteração de comportamento que faz com que a pessoa tenha pensamentos persistentes de medo e
ansiedade. Para aliviar o mal-estar, ela costuma realizar tarefas ou gestos repetitivos, como se desdobrar em cuidados
dirigidos à pessoa amada.
Tudo indica que a disponibilidade emocional da mãe em situações estressantes, principalmente separações, é o meio
pelo qual a criança aprende a perceber e a se relacionar com o mundo
A maioria dos pesquisadores, no entanto, defende que o amor patológico se assemelha à dependência por drogas ou
álcool. A pessoa experimenta uma sensação de abstinência quando está longe da pessoa amada, gasta muito tempo e
energia em cuidados, abandona atividades para cultivar esse amor, sua dedicação exagerada traz problemas para a
pessoa que ama e também para a pessoa amada.
“Embora alguns autores comparem os sintomas do amor patológico aos pensamentos repetitivos do TOC, nossos
estudos têm demonstrado que as pessoas com amor patológico apresentam critérios semelhantes à dependência, como
cuidar do parceiro mais do que gostaria, as tentativas de diminuir esse comportamento são insatisfatórias e sinais e
sintomas de abstinência quando há ameaça de abandono”, explica Eglacy. Ela lembra que a alta impulsividade
encontrada no amor patológico se assemelha aos demais transtornos do impulso, como jogo patológico, por exemplo.
Descargas biológicas

Para quem sofre de amor patológico, o objeto de desejo torna-se uma prioridade, enquanto os outros interesses ficam
em segundo plano. O outro é sempre mais importante. Segundo Eglacy, o estado de exaltação desse amor provocaria
fortes descargas de adrenalina, o que pode explicar o estado de constante euforia. As sensações experimentadas por
quem vive esse tipo de amor são semelhantes à provocada por altas doses de anfetamina. Isso acontece porque o amor
produz sua própria substância, a feniltilamina. Ela também estaria presente no chocolate, o que explica por que
algumas pessoas que vivem uma perda gostam de se empanturrar de chocolate.
Um estudo verificou que, independente da cultura, a reação cerebral dos apaixonados é a mesma: ao ver fotos do ser
amado, se “acendem” algumas partes do núcleo caudado do cérebro, estrutura que regula a sensação de recompensa.
São zonas ricas em dopamina, neurotransmissor que age no cérebro promovendo sensação de motivação e prazer, e
endorfina, que desperta sensação de bem-estar e euforia . “O fenômeno é semelhante ao que ocorre com dependentes
químicos e jogadores patológicos diante da droga de escolha, por exemplo”, exemplifica a psicóloga.
Mas quem sofra mais de amor patológico? Foram identificadas divergências em várias culturas: na população
americana, as mulheres com essas características superaram os homens, e entre os japoneses e russos, as atitudes de
amor patológico prevaleceram no sexo masculino.
O problema é que as pessoas que vivem o amor patológico só buscam ajuda profissional quando perdem o parceiro. E
quando isso acontece, elas têm em mente mudar algo em seu comportamento para agradar o parceiro na esperança de
assim ele voltar. Nesse sentido, os programas de recuperação como DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos)
e MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas) podem ajudar na superação do problema. Esses grupos de apoio
procuram recuperar comportamentos compulsivos e que envolvam a dependência por sexo, relacionamentos
românticos, fantasias e anorexia sexual. Os voluntários seguem doze passos, nos mesmos moldes dos Alcoólicos
Anônimos, e p artem do princípio de que o primeiro passo para a recuperação é reconhecer a origem do seu
comportamento desajustado.
Segundo a pesquisa realizada por Eglacy, 22% das pessoas com amor atológico não têm qualquer transtorno
psiquiátrico, o que mostra que esse quadro pode surgir isoladamente. Outro achado é o alto risco de s uicídio
identificado em 28% deles (o que mostra um perfil mais voltado para a autoagressividade do que para a agressão ao
sexo oposto). Também houve maior prevalência de depressão e de transtornos ansiosos. Apenas 8% apresentaram
TOC. E, ao contrário do que se pensava, não existe uma correlação entre amor patológico e intensidade de amor (amor
excessivo), mas sim a persistência num amor que não dá certo e gera sofrimento.
Critérios para diagnóstico de amor patológico

– Sinais e sintomas de abstinência


Quando o parceiro está distante (física ou emocionalmente) ou perante ameaça de abandono, podem ocorrer: insônia,
taquicardia, tensão muscular, alternância de períodos de letargia e intensa atividade.

– O ato de cuidar do parceiro ocorre em maior quantidade do que o indivíduo gostaria


O indivíduo costuma se queixar de manifestar atenção ao parceiro com maior frequência ou período mais longo do
que pretendia de início.

– Atitudes para reduzir ou controlar o comportamento patológico são mal sucedidas


Em geral, já ocorreram tentativas frustradas de diminuir ou interromper a atenção despendida ao companheiro.

– Excessivo dispêndio de tempo no controle das atividades do parceiro


A maior parte da energia e do tempo do indivíduo são gastos com atitudes e pensamentos para manter o parceiro sob
controle.

– Abandono de interesses e atividades antes valorizados


Como o indivíduo passa a viver em função dos interesses do parceiro, as atividades propiciadoras da realização
pessoal e profissional são relegadas, como cuidado com os filhos, atividades do trabalho e convívio com colegas.

– O amor patológico é mantido, apesar dos problemas pessoais e familiares


Mesmo consciente dos danos resultantes desse comportamento para sua qualidade de vida, persiste a queixa de não
conseguir controlar tal conduta.
Mulheres que amam demais
A questão da quantidade de amor foi abordada pela psicoterapeuta de casais Robin Norwood em seu famoso best-
seller Women who love too much, base do grupo de autoajuda Mulheres que Amam Demais Anônimas. O livro relata
a história de diversas mulheres atendidas na experiência clínica da psicoterapeuta, que delineia o comportamento
excessivo, progressivo de dar amor e atenção ao parceiro, o qual levaria a mulher a se tornar viciada e dependente de
um homem distante e negligente.
Segundo material publicado no site do programa de recuperação Mulheres que Amam Demais Anônimas (MADA),
algumas características podem ajudar a definir essas mulheres:
 Vem de um lar desajustado, onde suas necessidades não foram supridas;
 Com medo de ser abandonada, faz qualquer coisa para impedir o fim do relacionamento;
 Habituada à falta de amor em relacionamentos pessoais, está disposta a ter paciência, esperança, tentando
agradar cada vez mais;
 Está disposta a arcar com mais de 50% da responsabilidade, da culpa e das falhas em qualquer
relacionamento;
 Sua auto-estima está criticamente baixa, e no fundo não acredita que mereça ser feliz. Ao contrário, acredita
que deve conquistar o direito de desfrutar a vida;
 Como experimentou pouca segurança na infância, tem uma necessidade desesperadora de controlar seus
homens e seus relacionamentos;
 Está muito mais em contato com o sonho de como o relacionamento poderia ser, do que com a realidade da
situação;
 Tende a ter momentos de depressão e tenta preveni-los por meio da agitação criada por um relacionamento
instável;
 Não tem atração por homens gentis, estáveis, seguros e que estão interessados nela. Acha que esses homens
“agradáveis” são enfadonhos.
As teorias do amor
O primeiro grande estudo sobre amor foi feito pelo sociólogo John Alan Lee, da Universidade de Toronto, e publicado
em The colors of love. Ele realizou 120 entrevistas em cidades canadenses e inglesas em que os participantes
descreviam o amor, comprovando que haveria vários estilos de amor. Então ele colocou os vários estilos em rodas da
cor e comparou o mecanismo humano da visão de cores com a capacidade de amor. Para Lee, assim como os olhos
que só têm receptores para três cores, também temos três estilos primários de amor: Eros , Ludus e Estorge. O amor
Eros geralmente é marcado por uma forte atração física e se consuma no comprometimento do casal; enquanto o tipo
Ludus é voltado para o prazer, os enamorados jogam com a sedução e se envolvem com vários parceiros. No amor
Estorge, o amor surge a partir de uma forte amizade, construída com o tempo, a partir da confiança mútua.
Outra teoria que tenta explicar o amor patológico é a teoria triangular do amor, formulada pelo psicólogo Robert
Sternberg, da Universidade de Yale. Segundo essa teoria, o amor se desdobraria em três elementos: intimidade, paixão
e decisão/compromisso. Ele identificou sete diferentes tipos de amor: amizade, paixão, amor vazio, amor romântico,
amor companheiro, amor instintivo, amor verdadeiro.
Pesquisadores defendem que o amor patológico se assemelha à dependência de drogas ou álcool. A pessoa
experimenta uma sensação de abstinência quando está longe da pessoa amada

Os portadores, em geral, são pessoas que cresceram em famílias desajustadas, com


pouca atenção e carinho dos pais, e que veem no amor possessivo um modo de compensação. Já a antropóloga Helen
Fisher, da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, realizou um estudo para a teoria da rejeição. Ser rejeitado por
um grande amor é uma das experiências mais dolorosas da experiência humana. Pensando nesta sensação e em sua
relação com o amor patológico, Helen Fisher e sua equipe descobriram, a partir de escaneamento do cérebro realizado
por meio da ressonância magnética funcional, que há uma área do cérebro que fica mais ativa quando os voluntários
(rejeitados por seus parceiros) observavam a imagem da pessoa amada, o núcleo accubens, relacionado à sensação de
recompensa. Há ativação também de outras áreas ligadas ao pensamento obsessivo-compulsivo e raiva.
Diagnóstico diferencial
Não é tarefa fácil diferenciar o normal do patológico, quando o assunto é amor. Porém, os especialistas partem do
princípio de que o amor patológico se diferencia dos seguintes quadros: Amor saudável – o amor ocorre com controle
e visa realização pessoal; Erotomania – a pessoa apresenta delírios de que está sendo amada por uma pessoa
desconhecida e de posição social superior à sua; Ciúme patológico – a pessoa demonstra medo da perda, resultado da
baixa autoestima e da sensação de insegurança; Transtorno de personalidade borderline – a pessoa apresenta alta
impulsividade e pela instabilidade emocional desde a infância, traços que podem se manifestar sobre o parceiro em
situações de ameaça de abandono; Codependência – a pessoa manifesta comportamento desajustado que se caracteriza
pela dependência mútua numa relação; o problema está na dificuldade de lidar com uma pessoa dependente (por jogo,
drogas, sexo, etc); TransTranstorno obessivo-compulsivo – a pessoa tem pensamentos intrusivos e persistentes que
geram um comportamento repetitivo. (Veja quadro Critérios para diagnóstico de amor patológico).
Um estudo verificou que, independentemente da cultura, a reação cerebral dos apaixonados é a mesma: ao ver fotos
do ser amado, se “acendem” algumas partes do núcleo caudado do cérebro

Alguns pesquisadores acreditam que o amor patológico surge de acordo com o


vínculo que a pessoa vivencia com a mãe durante os primeiros anos de vida. As pessoas que experimentam o amor
patológico, geralmente, procuram ajuda quando não suportam a angústia devido ao relacionamento. Segundo Eglacy,
o primeiro passo é o paciente se conscientizar do problema. O tratamento inclui psicoterapia psicodinâmica, que se
atém aos aspectos conscientes e inconscientes do funcionamento da mente. Esse recurso pode aliviar sintomas que,
provavelmente, estão presentes desde a infância. O diagnóstico de um psiquiatra poderá indicar se a pessoa sofre
também de algum outro distúrbio mental, associado ao amor patológico, que poderá ser tratado a partir de
medicamentos.
Vale destacar a importância da consciência de quem sofre de amor patológico para a evolução do tratamento eficaz.
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Fonte: por Roberta de Medeiros / Psique – Ciência & Vida – Edição 73 – 2012 – Editora Escala.
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