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PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIOS

Projeto De Prevenção E Combate Á Incêndio

A Prevenção e Combate a Incêndios surgiu já na pré-história, quando o homem começou a utilizar o


fogo para as mais variadas atividades: aquecimento, preparo de alimentos, têmpera de metais, etc.
Durante sua evolução, constatou-se que os seres humanos sempre tentaram dominar as forças da
natureza. Porém, a exemplo de tantas outras, o fogo, que tantos préstimos faz ao homem, quando
fora de controle possui uma capacidade imensa de destruição, através dos denominados incêndios
(sinistros). Seus efeitos são destruidores, na forma de perdas patrimoniais e também humanas.

Com o intuito de proteger-se, uma série de medidas de combate ao fogo foram sendo adotadas, bem
como o desenvolvimento de novos equipamentos, novas técnicas e o mais importante, novas legisla-
ções e constantes atualizações das mesmas.

Infelizmente, foram necessárias muitas mortes para que legislações de prevenção contra incêndio
fossem criadas e, depois de criadas, muitas outras ainda foram necessárias para que tais normas
fossem cumpridas.

Pode-se ter como exemplo o recente incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, que deixou como lega-
do uma maior exigência dos órgãos fiscalizadores, duas novas Leis Complementares do Estado do
Rio Grande do Sul, a de nº 14.376 de 26 de dezembro de 2013, e a nº 14.555 de 02 de Julho de
2014, e um crescimento da importância a essa prevenção em todo o país.

Tem-se atualmente uma enorme quantidade e variedade de normas e leis que devem ser cumpridas,
tanto em nível federal como estadual e mesmo municipal, sobre os mais variados tipos de edifica-
ções, que detalham todos os equipamentos necessários, condutas no momento do incêndio, manu-
tenção, bem como cuidados especiais já na elaboração de projetos e construção.

No entanto, vale salientar que a consciência da importância da prevenção de incêndios não deve ser
apenas dos profissionais ligados à área, como arquitetos, engenheiros, bombeiros e profissionais da
saúde, mas ser inerente a todos, sendo vitais campanhas com ênfase em conhecimentos básicos (os
riscos do fogo, os perigos de brincadeiras com fogos de artifícios e balões, riscos elétricos, riscos dos
produtos químicos domésticos, entre outros) e treinamento básico (uso correto de extintores, mango-
tinhos, formas de propagação do fogo, procedimento de emergência, rotas de fuga, etc.). “O incêndio
existe onde a prevenção falha”.

2. 1 Conceito De Fogo

Segundo Ferigolo “para fazermos uma prevenção de incêndio adequada é necessário primeiro colo-
carmos o fogo sob todos os seus aspectos: sua constituição, suas causas, seus efeitos e, principal-
mente, como dominá-lo”.

fogo é o resultado de uma reação química, denominada combustão, que se caracteriza pelo despren-
dimento de luz e calor.

Essa reação de combustão só acontece se houver a presença simultânea de três elementos essenci-
ais, em suas devidas proporções: combustível, calor e um comburente (oxigênio do ar). Esses ele-
mentos formam a clássica figura do Triângulo do Fogo (Figura 1).

Figura 1 – Triângulo do Fogo

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Combustível: é o elemento que, ao mesmo tempo em que alimenta o fogo, serve de campo de propa-
gação para o mesmo. São todas e quaisquer substâncias sólidas, líquidas ou gasosas que, após
atingir uma temperatura de ignição, combinem quimicamente com outra, gerando uma reação exo-
térmica, liberando calor e luminosidade.

Os materiais orgânicos são todos combustíveis. Já os inorgânicos apenas alguns. A combustibilidade


de um corpo depende de sua maior ou menor facilidade de combinação com o oxigênio, sob ação do
calor.

Comburente: trata-se do oxigênio existente no ar atmosférico. É o elemento ativador do fogo, que dá


vida às chamas e intensifica a combustão, tanto que em ambientes pobres em oxigênio o fogo não
tem chamas e em ambientes ricos em oxigênio as chamas são intensas, brilhantes e de altas tempe-
raturas.

Normalmente, o oxigênio está presente no ar a uma concentração de 21%. Quando esta concentra-
ção é inferior a 15%, não haverá combustão.

Calor: é o elemento que serve para dar início ao fogo, para mantê-lo e incentivar sua propagação.
Pode ser resultado da ação da luz solar, queda de meteoros, raios, curto-circuitos em redes elétricas
ou mesmo de descuidos humanos, como pontas de cigarros, aparelhos aquecedores, velas acesas,
fósforos, etc.

Os combustíveis, em geral, precisam ser transformados em gases para queimar e o calor necessário
para vaporizá-los varia muito de corpo para corpo. A gasolina, por exemplo, vaporiza a uma tempera-
tura bem baixa, enquanto a madeira ou mesmo o carvão exigem mais calor. Aumentando o calor,
pode-se vaporizar quase todos os combustíveis. Vale ressaltar que, após vaporizar, é necessário
ainda mais calor para que a queima do material aconteça. Exemplo disto é a gasolina, que vaporiza a
cerca de 40ºC, mas só queima a uma temperatura de 275ºC.

Essa representação mais famosa do fogo pelo triângulo nada mais é do que uma representação didá-
tica. Na realidade, existe ainda um quarto elemento, sem o qual o fogo não se mantém: a reação
química em cadeia. Portanto, uma representação mais adequada é a do Quadrado do Fogo (Figura
2).

Figura 2 – Quadrado do Fogo

A reação química em cadeia nada mais é do que a transferência de energia de uma molécula em
combustão para outra intacta. Os combustíveis, após entrarem na fase de combustão, geram mais
calor. Esse calor vai gerar o desprendimento de mais gases combustíveis que, novamente, combina-
dos com o oxigênio do ar, darão continuidade à reação de combustão. Deste modo, tem-se uma rea-
ção em cadeia, com uma transformação gerando outra transformação.

Formas De Transmissão Do Calor

Segundo Ferigolo é vital, tanto no estudo de prevenção quanto de extinção do fogo, conhecer como o
calor pode ser transmitido. Essa transmissão de energia se processa através do ar atmosférico ou da
própria estrutura do corpo combustível e dos líquidos e gases nas suas proximidades. O calor se
propaga sempre dos pontos mais quentes para os mais frios de três maneiras diferentes e, muitas
vezes, associadas:

Condução: a transferência de calor se faz por contato direto entre um corpo e outro, de molécula em

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molécula, ou através de um meio intermediário, sólido, líquido ou gasoso que seja condutor de calor.
Não há transferência de calor por condução através do vácuo e os sólidos são melhores condutores
que os gases. (Ex.: barra de ferro levada ao fogo).

Convecção: a transferência de calor se faz através de movimentos de massas de gases ou líquidos.


Uma massa de ar, ao ser aquecida, se torna mais leve, menos densa, e tende a subir para as partes
mais altas do ambiente. Muitas vezes, essas massas de ar podem levar calor suficiente para que, ao
acenderem e se deslocarem horizontalmente em um ambiente fechado, iniciar o fogo em materiais
combustíveis com os quais entrem em contato.

Irradiação: a transferência de calor se faz por meio de ondas caloríficas que se deslocam através do
espaço vazio. (Ex.: calor que recebemos do sol).

Métodos De Extinção Do Fogo

Como citado anteriormente, a condição imprescindível para ocorrer o surgimento do fogo é a união
dos elementos combustível, oxigênio e calor. A extinção se dá quando se elimina um desses elemen-
tos ou se interrompe o processo de reação química em cadeia, impedindo que o fogo continue. Têm-
se quatro métodos básicos de extinção:

Resfriamento: consiste em retirar ou diminuir o calor do material incendiado, até o ponto em que não
libere mais vapores que reajam com o oxigênio, impedindo o avanço do fogo. É o processo mais usa-
do. Exemplo: uso de água.

Abafamento: consiste em impedir ou diminuir o contato do oxigênio com o material combustível. Não
havendo concentração suficiente de comburente no ar para reagir (concentração de O2< 15%) não
haverá fogo. Exemplos: cobertura total do corpo em chamas, fechamento hermético do local, empre-
go de areia, terra, etc. Como exceções, existem materiais que possuem oxigênio em sua composição,
como os peróxidos orgânicos e a pólvora.

Isolamento: consiste na retirada, diminuição ou interrupção do material (combustível) não atingido


pelo fogo, com suficiente margem de segurança, para fora do campo de propagação do fogo. Exem-
plos: interrupção de vazamento de um líquido combustível, realização de aceiro em incêndios flores-
tais, retirada manual do material, fechamento de válvula de gás, etc.

Interrupção da reação química em cadeia: consiste em utilizar determinadas substâncias que têm a
propriedade de reagir com algum dos produtos intermediários da reação de combustão, evitando que
esta se complete totalmente. Pode-se impedir que materiais combustíveis e comburentes se combi-
nem colocando-se materiais mais reativos e menos exotérmicos na queima. Exemplos: bicarbonato
de sódio (extintor de PQS), bicarbonato de potássio, etc.

Conceito de incêndio

livro Segurança Contra Incêndio no Brasil, escrito sob a coordenação de Alexandre Seito, fornece
algumas definições. Pela própria NBR 13860, tem-se que: “incêndio é o fogo fora de controle”. Pela
Internacional ISO 8421-1, tem-se que: “incêndio é a combustão rápida disseminando-se de forma
descontrolada no tempo e espaço”.

Sabe-se que sempre será um dever dos profissionais da engenharia prevenir e lutar contra aquilo que
ameaça bens materiais e vidas.

Como resultado da queima de combustíveis, o incêndio produz:

gases;

chamas;

calor;

fumaça.

Todas estas substâncias são altamente prejudiciais e ameaçadoras da saúde humana, podendo pro-
vocar queimaduras, irritação nos olhos e lesões ao aparelho respiratório decorrente dos gases libera-

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dos (monóxido de carbono, amoníaco, etc.).

Principais Causas De Incêndio

As causas de um incêndio podem ser classificadas em três grupos:

Causas naturais: não dependem da vontade do homem. Ex.: raios, vulcões, terremotos, calor solar,
combustão espontânea, etc.

Causas acidentais: muito variáveis. Ex.: chamas expostas, eletricidade, balões, ratos, etc.

Causas criminosas: fraudes para receber seguros, queima de arquivo, inveja, crimes passionais, pi-
romania, etc.

Fatores Que Influenciam O Incêndio

Segundo Seito et al., não existem dois incêndios iguais, pois são vários os fatores que concorrem
para seu início e desenvolvimento, podendo-se citar:

forma geométrica e dimensões da sala ou local;

superfície específica dos materiais combustíveis envolvidos;

distribuição dos materiais combustíveis no local;

quantidade de material combustível incorporado ou temporário;

características de queima dos materiais envolvidos;

local do início do incêndio no ambiente;

condições climáticas (temperatura e umidade relativa);

aberturas de ventilação do ambiente;

aberturas entre ambientes para a propagação do incêndio;

projeto arquitetônico do ambiente e ou edifício;

medidas de prevenção de incêndio existentes;

medidas de proteção contra incêndio instaladas.

incêndio inicia-se bem pequeno e seu crescimento dependerá dos materiais disponíveis e sua distri-
buição no ambiente. Há certo padrão de evolução que pode ser identificado, como citado no Gráfico
1.

Gráfico 1 - Curva de evolução do incêndio celulósico

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Três fases distintas podem ser identificadas no gráfico: a primeira fase é o incêndio incipiente, tendo-
se um crescimento lento, em geral de duração entre cinco a vinte minutos até a ignição, em que inicia
a segunda fase, caracterizada pelas chamas que começam a crescer aquecendo o ambiente. O sis-
tema de detecção de fumaça e alarme deve operar na primeira fase e o combate a incêndio e conse-
quente extinção tem grande probabilidade de sucesso.

Quando a temperatura do ambiente atinge em torno de 600ºC (a esta temperatura, estruturas de aço
comumente usadas na construção civil começam a perder sua resistência, tendo início os riscos de
desabamento), o que ocorre rapidamente, todo o ambiente é tomado por gases, vapores combustí-
veis e fumaça desenvolvidos na pirólise dos combustíveis sólidos.

Havendo líquidos combustíveis, eles irão contribuir com seus vapores e ocorrerá a inflamação gene-
ralizada (flashover) e o ambiente será tomado por grandes labaredas.

Caso o incêndio seja combatido antes dessa fase (por chuveiros automáticos, hidrantes e mangoti-
nhos) haverá grande probabilidade de sucesso na sua extinção. A terceira fase é caracterizada pela
diminuição gradual da temperatura do ambiente e das chamas, o que ocorre por exaurir o material
combustível.

Classes de incêndios

Essa Classificação foi elaborada pela NFPA - Associação Nacional de Proteção a Incêndios/EUA, e
adotada pelas seguintes instituições: IFSTA - Associação Internacional para o Treinamento de Bom-
beiros/EUA; ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas/BR; e Corpos de Bombeiros/BR.

Os incêndios são classificados de acordo com os materiais neles envolvidos, bem como a situação
em que se encontram. Essa classificação determina a necessidade do agente extintor adequado.

Classe “A”: fogo em combustíveis sólidos como, por exemplo, madeiras, papel, tecido, borracha, etc.
É caracterizado pelas cinzas e brasas que deixa como resíduos, sendo que a queima acontece na
superfície e em profundidade. O melhor método de extinção é o resfriamento, sendo os agentes extin-
tores que podem ser usados são a água e PQS ABC.

Classe “B”: fogo em líquidos inflamáveis, graxas e gases combustíveis, como, por exemplo, gasolina,
óleo, querosene, GLP, etc. É caracterizado por não deixar resíduos e queimar apenas na superfície
exposta. O melhor método de extinção é por abafamento, sendo os agentes extintores que podem ser
usados são a espuma, o PQS BC e PQS ABC. Não se deve usar a água.

Classe “C”: fogo em materiais e equipamentos energizados, como, por exemplo, motores, transfor-
madores, geradores, etc. É caracterizado pelo risco de vida que oferece, sendo importante nunca
usar extintor de água. O melhor método de extinção é por interrupção da reação em cadeia ou por
abafamento, com o uso de extintores de PQS BC, PQS ABC e CO2. O extintor de CO2 é o mais indi-
cado por não deixar resíduos que danifiquem os equipamentos.

Classe “D”: fogo em metais combustíveis, como, por exemplo, magnésio, selênio, antimônio, lítio,
potássio, alumínio fragmentado, zinco, titânio, sódio e zircônio, etc. É caracterizado pela queima em
altas temperaturas e por reagir com agentes extintores comuns, principalmente se contêm água. O
melhor método de extinção é por abafamento, com o uso de extintores de pó químico seco especial
(PQSE).

Existem algumas classes especiais adotadas por normas internacionais e pouco conhecidas ainda no
Brasil:

Classe “K”: fogo envolvendo óleo vegetal e gordura animal, tanto no estado sólido ou líquido, tendo
como exemplo de ambientes as cozinhas comerciais ou industriais. Essa classe é ainda pouco co-
nhecida no Brasil. O melhor método de extinção é por abafamento e também nunca se deve usar
água. Esta classe possui agente extintor especial para sua classe, com alto custo.

Classe “E”: fogo envolvendo material radioativo e químico em grandes proporções, sendo necessário
equipamentos e equipes altamente treinadas.

No livro Segurança Contra Incêndio no Brasil fornece um resumo objetivo da evolução das normas,

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leis e técnicas de prevenção e combate a incêndios no Brasil, destacando claramente que esses
avanços foram resultado direto da reação da sociedade aos maiores incêndios ocorridos na história
do País, que deixaram prejuízos materiais e ceifaram muitas vidas humanas. Infelizmente, foram ne-
cessárias muitas perdas para que legislações fossem criadas, melhoradas e, principalmente, cumpri-
das.

No Brasil, pela ausência de grandes incêndios e grande número de vítimas, até a década de 1970 o
problema “incêndio” ficou restrito apenas à atuação do Corpo de Bombeiros. A regulamentação era
escassa, sem absorver conhecimentos internacionais e exclusiva aos Códigos de Obras de cada
município, assim como a ABNT se envolvia apenas na fiscalização da produção de extintores. Não
havia normas sobre saídas de emergência, iluminação, sinalização, rotas de fuga e escadas protegi-
das.

Por fim, ao longo dos anos, houve mudanças em todo esse quadro descrito acima até se chegar à
legislação atual, após uma sequência de tragédias.

O maior incêndio em perda de vidas, até hoje, aconteceu em 1961, na cidade de Niterói (RJ), quando
por causas criminosas o toldo do Gran Circo Norte-Americano pegou fogo e caiu sobre os espectado-
res. Não havia sinalização ou saídas suficientes e nenhum pessoal treinado. O resultado foi 250 mor-
tos e 400 feridos. Ainda assim, tanto as seguradoras quanto o poder público ainda não tinham sido
impactados para gerar mudanças. Mais uma vez o início da revolução nessa área da construção civil
só veio depois de mais dois grandes incêndios.

O primeiro foi no ano de 1972, no Edifício Andraus, de 31 andares, construído em concreto armado e
com fachada em vidro, no centro da cidade de São Paulo. O incêndio deixou 16 mortos e 336 feridos.
Os números só não foram piores porque as pessoas se refugiaram no heliponto do edifício e ficaram
protegidas pela laje de cobertura, sendo resgatadas por helicópteros. Depois do ocorrido, a Prefeitura
de São Paulo criou grupos de trabalho para estudar reformulações nas legislações e Código de Obra
da cidade, mas as sugestões terminaram engavetadas, sem qualquer efeito prático.

Dois anos depois, em 1974, acontece o grande incêndio no Edifício Joelma, de 23 andares, em con-
creto armado, também localizado na cidade de São Paulo. O saldo é assustador, com 179 mortos e
320 feridos, gerando grande comoção devido às imagens fortes de pessoas se projetando do prédio.

Figura 3 – Incêndio no Edifício Joelma, em 1º de fevereiro de 1974

Devido à proximidade, tanto espacial quanto temporal, do incêndio no Edifício Andraus, o impacto na
opinião pública foi gigantesco. Percebeu-se a inaptidão dos poderes tanto municipal quanto estadual
para lidar com situações de risco, tanto pelo despreparo do Corpo de Bombeiros quanto pelas conse-
quências de grandes falhas nas legislações.

É nesse momento que se tem o início da criação de Comissões, Decretos, Normas e aperfeiçoamen-
to de todos os sistemas existentes atualmente, unificando toda a linguagem de incêndio para todas as
regiões do País, sendo o Estado de São Paulo sempre um pioneiro nessa área.

Pode-se ainda, com base no livro Instalações Hidráulicas de Combate a Incêndios nas Edificações,
de autoria do Professor e Engenheiro Civil Telmo Brentano, citar uma lista de grandes incêndios naci-

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onais:

Conjunto Nacional (São Paulo, 1978);

Edifício Grande Avenida (São Paulo, 1981);

Torres da CESP (São Paulo, 1987);

Lojas Americanas (Porto Alegre, 1973);

Lojas Renner (Porto Alegre, 1976);

Edifício Andorinhas (Rio de Janeiro, 1986).

E como não se destacar o mais recente deles, a maior tragédia da história do Estado do Rio Grande
do Sul e uma das motivações do desenvolvimento dessa monografia, o incêndio na Boate Kiss, em
Santa Maria, no dia 27 de Janeiro de 2013, deixando 242 mortos e 680 feridos.

Como é usual, esse acontecimento colocou novamente em pauta a segurança contra incêndio nas
edificações do país, levando a novas pesquisas, criação de duas novas Leis Complementares no
Estado do RS, que tornaram mais rígidas a concessão de alvarás, fornecendo novos detalhamentos
de procedimentos e equipamentos de emergência, bem como maior segurança para espaços com
aglomeração de pessoas, como casas de shows e eventos públicos.

Ao mesmo tempo, a mídia associou o incêndio em Santa Maria com outro ocorrido em 30 de dezem-
bro de 2004, em Buenos Aires, no Boliche República Cromagnon, que deixou 175 mortos e 714 feri-
dos.

Indica-se como causa do incêndio o uso de fogo de artifício no interior da edificação, o qual teria in-
flamado o material de acabamento do teto. Houve problemas com as rotas de fuga - quatro, das seis
portas de saída, apresentavam alguma forma de bloqueio, para evitar acesso gratuito de pessoas. A
maioria das vítimas teve problemas por inalação de fumaça e gases aquecidos, com queimaduras
nas vias aéreas. Não por acaso há muitas semelhanças.

PPCI

PPCI é o Projeto de Prevenção e Combate a Incêndio e pode ser elaborado apenas por profissionais
habilitados (Engenheiros Civis e Arquitetos), fiscalizado e aprovado pelo Corpo de Bombeiros, medi-
ante vistorias e concessão de alvarás, sendo exigido por órgãos públicos para qualquer imóvel, a fim
de proporcionar maior segurança às pessoas.

É obrigatório para todas as edificações existentes, mesmo aquelas que se encontram em situação de
construção ou reforma (naquelas que possuírem ampliação de área superior a 10% da sua área to-
tal).

Segundo Brentano, os principais objetivos do Projeto de Prevenção e Combate a Incêndio devem ser
a proteção da vida humana, a proteção do patrimônio e, por último, a continuidade do processo pro-
dutivo.

A elaboração do PPCI de uma edificação deve ser focada em duas premissas básicas: evitar o início
do fogo; havendo a ocorrência de foco de fogo, devem ser previstos meios apropriados para confinar
o fogo no seu local de origem, permitir a desocupação da edificação com segurança e rapidez e facili-
tar o acesso e o combate ao fogo de forma rápida e eficaz.

Ainda segundo Brentano, as medidas de proteção da edificação ao fogo podem ser classificadas em
passivas e ativas.

As medidas de proteção passiva são aquelas tomadas durante a fase de elaboração do projeto arqui-
tetônico e de seus complementares, com o objetivo de evitar ao máximo a ocorrência de um foco de
fogo, e, caso aconteça, reduzir as condições propícias para o seu crescimento e alastramento para o
resto da edificação e para as edificações vizinhas. Podem- se citar como exemplos:

afastamento entre edificações;

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segurança estrutural das edificações;

compartimentações horizontais e verticais;

controle da fumaça de incêndio;

controle dos materiais de revestimento e acabamento;

controle das possíveis fontes de incêndio;

saídas de emergência;

sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA);

brigada de incêndio;

acesso das viaturas do corpo de bombeiros junto à edificação.

As medidas de proteção ativa, também chamadas de medidas de combate, são aquelas tomadas
quando o fogo já está ocorrendo. São sistemas e equipamentos que devem ser acionados e opera-
dos, de forma manual ou automática, para combater o foco de fogo, com o objetivo de extingui-lo ou,
em último caso, mantê-lo sob controle até sua auto-extinção, e também auxiliar na saída dos ocupan-
tes da edificação com segurança e rapidez. Podem-se citar como exemplos:

sistema de detecção e alarme de incêndio;

sistema de sinalização de emergência;

sistema de iluminação de emergência;

sistema de extintores de incêndio;

sistema de hidrantes ou mangotinhos;

sistema de chuveiros automáticos (“sprinklers”);

sistema de espuma mecânica, em alguns tipos de risco;

Sistema De Iluminação De Emergência

Os sistemas de iluminação de emergência têm como objetivo proporcionar iluminação suficiente e


adequada, a fim de permitir a saída fácil e segura das pessoas em caso de interrupção da alimenta-
ção normal, bem como proporcionar a intervenção de equipes de socorro.

Para a elaboração de projeto de iluminação de emergência, instalação, manutenção do sistema e


demais orientações, deve ser utilizada a NBR 10898/2013, conforme indicado no Art.12 do Decreto nº
38.273/98. No PPCI, os locais de instalação das luminárias precisam constar em planta e o preen-
chimento do “Memorial” deve ser feito conforme Anexo F.

Sistema pode ser classificado basicamente quanto às fontes de energia a serem utilizadas:

Sistema centralizado de acumuladores: composto por central de comando (painel de controle), acu-
muladores de energia (baterias), rede de alimentação (instalação elétrica), e luminárias.

Grupo moto-gerador: composto por um grupo moto-gerador automatizado, painel de controle, rede de
alimentação e luminárias.

Conjunto de blocos autônomos: são aparelhos com lâmpadas incandescentes ou fluorescentes, con-
tendo pequenas baterias e os dispositivos necessários para colocá-lo em funcionamento. É o sistema
mais comumente usado em edificações.

Características Do Sistema

Fontes de Energia: as fontes de alimentação de energia deverão estar localizadas de forma que:

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não podem situar-se em compartimentos acessíveis ao público nem tampouco onde haja risco de
incêndio;

devem estar isoladas de outros compartimentos por paredes que resistam ao fogo por período no
mínimo de 2 horas;

devem estar ventiladas de forma adequada e dotadas de dispositivo de escapamento de ar;

não podem oferecer riscos de acidentes aos usuários;

devem permitir fácil acesso para inspeção e manutenção.

A fonte de energia do sistema centralizado poderá ser utilizada em conjunto com o sistema de detec-
ção e alarme de incêndio. A troca do estado de vigília para estado de funcionamento, no caso de
sistema centralizado de acumuladores, não pode demorar mais do que 5 segundos e, no caso de
grupo moto-gerador, não mais que 12 segundos.

Eletrodutos e condutores: os fios condutores e suas derivações não devem ser propagantes de cha-
ma e devem estar embutidos em eletrodutos rígidos. No caso de serem externos (instalação aparen-
te), devem também ser metálicos, pintados de cor vermelha ou em PVC rígido antichama, conforme a
NBR 15465/2008.

Autonomia: todos os sistemas de iluminação de emergência devem ter autonomia de funcionamento


mínimo de 1 hora, garantindo-se que, durante este período, haja uma iluminação de intensidade ade-
quada, uma vez que a visibilidade fica prejudicada pela fumaça.

Tipos de luminárias: as luminárias poderão possuir lâmpadas fluorescentes, incandescentes ou mis-


tas, podendo ser classificadas como luminárias de aclaramento (servem para clarear o ambiente) ou
balizamento (servem para dar orientação, como, por exemplo, indicações de saída).

A tensão das luminárias de aclaramento e balizamento para iluminação de emergência em áreas com
carga de incêndio deve ser de, no máximo, de 30 Volts.

Os pontos de iluminação de emergência devem ser distribuídos nas áreas de riscos, circulação de
uso comum, escadas, corredores e rotas de fuga. Em locais onde seja possível a presença de fuma-
ça, a instalação deve estar a uma altura tal que fique abaixo do “colchão” de fumaça.

Também é importante, no caso de blocos autônomos, que periodicamente se deixe esgotar a carga
das baterias, para que não fiquem “viciadas”. Esse procedimento pode ser feito desligando da fonte
de alimentação (tomadas), de forma intercalada, uma luminária sim e outra não.

Distribuição Das Luminárias

Segundo a norma, a distância máxima entre dois pontos de iluminação de ambiente deve ser equiva-
lente a quatro vezes a altura da instalação destes em relação ao nível do piso e nunca deve ultrapas-
sar 15 m. A distância máxima entre o ponto de iluminação e a parede não deve ultrapassar 7,5 m.

Figura 11 – Iluminação de emergência

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Sistema De Detecção E Alarme De Incêndio

Os sistemas de detecção e alarme de incêndio são constituídos de conjuntos de elementos dispostos


de forma planejada e adequadamente interligados que fornecem informações de princípios de incên-
dios por meio de indicações sonoras e visuais, além de controlar os dispositivos de segurança e de
combate automático instalados no edifício.

O objetivo consiste em detectar o incêndio através de três fenômenos físicos: fumaça, elevação da
temperatura do ambiente e radiação da luz de chama aberta. O alarme pode ser acionado por meio
de acionadores manuais ou de detectores automáticos.

As exigências quanto à instalação, manutenção e elaboração de projetos estão na NBR 17240/2010,


sendo obrigatório preenchimento do “Memorial” na entrega do PPCI conforme Anexo G. O recomen-
dado é entrar em contato com empresas de instalação de alarmes durante o desenvolvimento do
projeto e instalação, a fim de conhecer os detalhes.

Sistema Acionado Manualmente

Para que o sistema de alarme entre em funcionamento, é necessária a interferência do ser humano.
O sistema é composto por:

Central de alarme: consiste em equipamento destinado a processar os sinais provenientes dos circui-
tos de detecção automática ou manual, convertê-los em indicações adequadas e comandar e contro-
lar os demais componentes do sistema. Deve estar localizada sempre em área de fácil acesso, longe
de locais com risco de fogo e, sempre que possível, sob vigilância humana constante, como, por
exemplo, portarias e sala de bombeiros.

A central deverá possuir meios para identificação dos circuitos de detecção e indicativa de área ou
local afetado, que possibilitem fácil entendimento para pessoal de supervisão e dispositivos manuais
destinados ao acionamento de todos os alarmes sonoros.

Fonte de energia alternativa: dispositivo destinado a fornecer energia para os equipamentos e siste-
mas de emergência, na falha ou ausência da fonte de energia principal.

Podem ser um conjunto de baterias ou gerador de energia de funcionamento automático. O sistema


deve funcionar em regime de alarme de fogo por 15 minutos, considerando o funcionamento simultâ-
neo de todas as indicações sonoras e visuais.

Circuito de alarme: circuito destinado ao comando dos indicadores e avisadores sonoros e visuais. Os
condutores (fios elétricos) devem ser rígidos e, quando não protegidos por eletrodutos incombustí-
veis, devem ter isolamento resistente à propagação de chamas. Os eletrodutos podem ser aparentes
ou embutidos, metálicos, plásticos ou de qualquer outro material que garanta efetiva proteção mecâ-
nica dos condutores.

Acionadores manuais: dispositivos destinados a transmitir a informação de um princípio de incêndio


por iniciativa do elemento humano. Devem ser alojados no interior de caixas lacradas com tampa de
vidro ou plástico, facilmente quebrável.

Os acionadores devem ser instalados a uma altura entre 1,20m e 1,60m do piso acabado, na forma
embutida ou de sobrepor, na cor vermelha de segurança. Uma sinalização na parede em uma altura
máxima de 2,50m deve ser prevista.

A distância máxima a ser percorrida por uma pessoa, em qualquer ponto da área protegida, até o
acionador manual mais próximo, não deve ser superior a 16 metros, e a distância máxima entre acio-
nadores é de 30m. Esses critérios são usados na distribuição dos acionadores na edificação. Na se-
paração vertical, cada andar da edificação deve ter pelo menos um acionador manual.

Avisadores acústicos e visuais: dispositivos que emitem sinais audíveis e visuais de alerta combina-
dos. Devem ser instalados, em quantidade suficiente, em locais que permitam sua visualização e
audição em qualquer ponto do ambiente, nas condições normais de trabalho do ambiente.

Os avisadores não podem ser instalados em áreas como corredores ou escadas, no intuito de au-

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PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIOS

mentar o raio de ação do equipamento.

O som e a frequência de repetição devem ser únicos na área e não podem ser semelhantes a outros
sinalizadores que não pertencem à proteção contra incêndio. Preferencialmente, devem ser instala-
dos junto aos hidrantes ou próximos às portas de saída de emergência.

Sistema Acionado Por Detectores Automáticos

Detectores automáticos são dispositivos que, quando sensibilizados por fenômenos físicos ou quími-
cos, detectam princípios de incêndio, enviando um sinal a uma central receptora. Agem, portanto, de
forma semelhante aos acionadores manuais, porém automaticamente. Dividem-se basicamente em
três grupos:

Detectores de fumaça: dispositivo destinado a atuar quando ocorre a presença de gases ou partícu-
las, visíveis ou não, produzidos pela combustão. A área máxima de ação é de 81 m², para instalação
em tetos planos, a uma altura de instalação de até 8 m.

Detectores de temperatura: dispositivo destinado a atuar quando a temperatura ambiente ultrapassa


um valor determinado. A área máxima de ação é de 36 m², para instalação em tetos planos, a uma
altura de instalação de até 7 m.

Detectores de chama: dispositivo destinado a atuar em resposta a uma radiação visível ou não. Sua
instalação deve ser executada de forma que seu campo de visão seja suficiente e não impedido por
obstáculos. Os tipos mais utilizados são o detector infravermelho e detector ultravioleta.

Exigência De Alarme

A exigência de alarme de incêndio para cada “Classe de Ocupação” pode-se dar em função da tabela
fornecida pela NBR 9077/2001 (Tabela 26), ou de forma mais completa, pelas tabelas da Lei 14.376
atualizada, já citadas anteriormente.

Tabela 26 – Exigência de alarme

Sinalização De Emergência

Os detalhes de projeto e instalação da sinalização de emergência nas edificações estão nas duas
partes da NBR 13434, sendo que a NBR 13434-1/2004 trata de princípios de projeto e a NBR 13434-
2/2004 trata de símbolos e suas formas, dimensões e cores.

A sinalização, que se dá por meio da colocação de placas, deve ser exaustiva e de fácil visualização
e entendimento. Sua projeção deve levar em consideração o fato de que irá orientar pessoas em
pânico, de forma que jamais as pode deixar em dúvida quanto ao que fazer ou a rota a seguir.

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