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PREFEITURA DO RECIFE

SECRETARIA DE SAÚDE

DIRETORIA EXECUTIVA DE GESTÃO DO TRABALHO E EDUCAÇÃO NA


SAÚDE

Módulo: Vigilância Epidemiológica

Ricardo da Silva Pereira

Resenha Crítica: O processo de transição demográfica e epidemiológica brasileiro

A transformação social de uma população rural e clássica com altas taxas de


natalidade e mortalidade para uma população urbana e contemporânea com baixas taxas
de natalidade e mortalidade fundamenta um desenho transicional que apresenta três
postulados centrais.
O primeiro deles aponta que, a transição demográfica tem sua gênese na redução
da mortalidade, em razão de conquistas que estão diretamente relacionadas ao
crescimento técnico, tais como aperfeiçoamento de sistemas de saneamento nas cidades
bem como o combate a doenças transmissíveis. Desse modo o alto índice de
mortalidade, em específico a infantil, apresentaria, portanto, o maior estímulo à
manutenção das elevadas taxas de fecundidade no período pré-transicional.
O segundo postulado refere-se à transição reprodutiva, a qual se dá em duas
fases. No primeiro momento, a demora dos casamentos e, no segundo momento, o
controle da fecundidade por parte das pessoas que se casam. Dessa maneira, os números
de mortalidade e de fecundidade começariam a decrescer em valores assintóticos uma
em relação a outra, em um dado momento no tempo, onde a fecundidade iniciaria a sua
queda. Outro ponto importante se dá pelo fato de que a fecundidade continuaria
decaindo a partir do ponto em que a mortalidade obteria um certo equilíbrio, deixando
de cair ou caindo em números bem menores.
O terceiro postulado se dá pelas influências do crescimento econômico atual,
quando se destaca a importância dos mercados na mobilidade e no processo de
crescimento populacional. Dessa maneira, o aumento do comércio mundial e a dinâmica
da urbanização e da modernização agrícola, conduzindo a mão-de-obra do campo para a
cidade, teriam tido efeitos no sentido de apontar o processo de queda da fecundidade.
Esses postulados unificados acabaram por influenciar o surgimento de outra transição, a
epidemiológica.
Nesse contexto, o conceito de transição epidemiológica originasse a partir da
teoria da transição demográfica sendo descrito pela primeira vez por Omram, que
evidenciou mudanças seculares dos padrões de saúde e doença relacionado aos fatores
sociais, econômicos e demográficos, ou seja, refere-se ao processo de mudança na
incidência ou na prevalência de doenças, assim como nas principais causas de morte, ao
longo do tempo.
Esse processo está, em geral, associado a dois aspectos: primeiro pelas
transformações associadas à faixa etária da população, ocorridas no decorrer do
processo de transição demográfica induzidas pela brusca queda da fecundidade em um
contexto mais suave de baixa mortalidade; segundo pelas mudanças no nível e no
modelo de desenvolvimento, caracterizando a mudança de sociedades rurais para
urbanas, também no aumento dos salários dos trabalhadores, incremento na cobertura
dos serviços sociais básicos de saúde, educação, aumento na distribuição da renda
nacional, etc.
Já no Brasil, o modelo de transição epidemiológica é considerado
contemporâneo ou retardado, diferente dos países desenvolvidos onde há uma evolução
gradual. Nesses países os aspectos determinantes para a transição são eco biológico e
socioeconômico, enquanto os nossos são referentes a introdução maciça de tecnologia e
assistência médica. Tanto transição demográfica quanto a transição epidemiológica
iniciaram com a queda da taxa de mortalidade na década de 1940, em razão da redução
das doenças infecciosas e paritárias como causas de óbitos, com a natalidade
apresentando ainda em níveis elevados até 1960.
Toda essa mudança trouxe novos arranjos no contexto da saúde pública. A taxa
de mortalidade infantil é considerada como um desses arranjos que a nível de
indicadores têm grande importância na avaliação das condições de saúde de uma
coletividade, já que se designa a um grupo etário extremamente vulnerável tanto às
agressões ambientais, quanto a agravos de maior complexidade, como são os de origem
materno-infantil assim como a qualidade e acesso aos serviços de saúde. É importante
considerar desse modo que a queda de mortalidade infantil foi causada, em boa parte,
pelo decréscimo nas taxas das doenças da infância cuja ordem depende de melhorias nas
condições ambientais, higiene e alimentação, isto é, em especial as que se relacionam ao
componente da mortalidade infantil tardia.
Outro desses arranjos refere-se a natalidade, suas mudanças que ocorrem desde a
década de 1960 , apresentam aspectos positivos e negativos. Positivos, quando se
percebe que a queda da fecundidade aumentou o intervalo intergestacional, diminuindo
riscos de mortalidade na infância, pois a mãe pode dar mais atenção e cuidados a seus
filhos. E negativos, quando associados com a saúde reprodutiva, em que se percebe a
elevada prevalência de abortamento no Brasil sem uma política pública de amparo e
suporte adequado a saúde dessas mulheres; bem como a persistência de atenção pré-
natal insuficiente e inadequada.
Assim compreende-se que o processo de urbanização se deu pela grande migração do
campo para a cidade e a transformação de áreas rurais em áreas urbanas foi fator primordial
para o que se considera hoje a transição demográfica e epidemiológica. Porém pesquisas
apontam que chegamos ao ano 2000 com um crescimento relativamente menor que em 1940.
Apesar disso, o Brasil vem evidenciando transição em seu perfil populacional, prevendo-se que
no ano de 2025, ocupará o sexto lugar entre os países com maior número de idosos.

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