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Se há tantas vagas em

tecnologia, por que


existem
desenvolvedores
desempregados?
Déficit no setor segue como realidade, mas empresas
diminuíram contratações e têm exigido trabalhadores com
mais experiência profissional

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Por Guilherme Guerra


01/11/2023 | 09h00
Atualização: 02/11/2023 | 11h26

6 min de leitura

Composto por grandes empresas e startups, o mercado de tecnologia


está sempre em busca de talentos, oferecendo oportunidades com
salários altos e benefícios gordos para atrair desenvolvedores e
programadores. Mas, nos últimos meses, esses trabalhadores têm ido
às redes sociais reclamar de algo até então inédito nessa área: falta de
trabalho.

“Se há tantas vagas em tecnologia, por que existem tantos


desenvolvedores e programadores desempregados?” é uma das
perguntas feitas por quem é da área. Em plataformas como LinkedIn,
ficou cada vez mais comum encontrar esses profissionais em busca de
emprego, relatando dificuldades de encontrar boas propostas e
salários mais achatados.
Leia também
Não é só trabalho: Como o LinkedIn se tornou a rede social
mais legal do momento

O programador e criador de conteúdo Dayvid Nascimento (conhecido


nas redes como Mano Deyvin) relata que essas reclamações têm
chegado a ele, que tem uma comunidade de mais de 75 mil seguidores
no YouTube, onde fala com uma comunidade de programadores em
início de carreira.

“Esse boom na área de tecnologia veio da promessa de emprego e


salário alto com home office. Esse cara apostou todas as fichas nessa
situação”, diz. “Mas o que estudantes e programadores iniciantes me
relatam é que eles não têm passado da primeira fase de um processo
seletivo”.

Notamos que está mais difícil para nós empregarmos essas


mulheres. Antes era mais fácil, porque as empresas nos
buscavam (em busca de talentos)
Carla de Bona, cofundadora da Reprograma

A ONG Reprograma, dedicada a incluir na tecnologia grupos


minorizados (como mulhere negras, trans e travestis), relata o mesmo
problema, apontando que há uma maior dificuldade de inserir essas
pessoas no mercado de trabalho nos últimos anos.

“É justa e válida a reclamação dessas pessoas desenvolvedoras”, diz a


cofundadora e diretora de inovação da Reprograma, Carla de Bona.
“Notamos que está mais difícil para nós empregarmos essas mulheres.
Antes era mais fácil, porque as empresas nos buscavam (em busca de
talentos).”

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O motivo para essa mudança de humor do mercado está no cenário


pós-pandemia. Com a alta dos juros e diminuição da demanda por
serviços digitais, o ritmo de crescimento das empresas de tecnologia
desacelerou. Por isso, no ano passado, companhias dos mais diversos
tamanhos em todo o mundo realizaram cortes de pessoal e
congelaram contratações.

Como consequência, o dinamismo do setor de tecnologia arrefeceu.


Ou seja, se antes os programadores eram abordados com frequência
por recrutadores em redes sociais, hoje o cenário se inverteu com a
escassez de vagas — e são os profissionais que devem ser mais
proativos na busca por oportunidades.
Aumentou a quantidade de candidatos, mas ainda assim está
difícil buscar as pessoas que vão fazer a diferença na
companhia
Executivo de startup

Em condição de anonimato, executivos do mercado do Brasil


confessam que a onda de demissões no mercado de tecnologia
(batizadas de “layoffs”, do inglês) abriu portas para que as empresas
buscassem talentos - mas isso não significa que todas as vagas sejam
preenchidas.

“Sentimos que está relativamente mais fácil contratar, mas vemos que
a maioria das pessoas demitidas tinha cargos mais juniores ou eram
recém-contratadas, então acabamos não conseguindo absorver muito
dessas pessoas”, diz um CEO de uma startup de finanças.

“Aumentou a quantidade de candidatos, mas ainda assim está difícil


buscar as pessoas que vão fazer a diferença na companhia”, diz outro
executivo de uma startup em estágio acelerado de crescimento.

Mercado de tecnologia sofreu desaceleração no cenário de pós-pandemia,


ocasionando demissões e congelamento de vagas Foto: Taba Benedicto/Estadão

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Desafio é maior para iniciantes


A frustração com o mercado de tecnologia parece ser pior para
pessoas em estágio inicial de aprendizado — os desenvolvedores
juniores. Geralmente, tratam-se de pessoas jovens em começo de
carreira ou em transição, após largar uma outra área.
Com nenhuma ou pouca experiência, os profissionais esbarram em
dificuldades em processos seletivos, bem como exigem supervisão
durante o expediente, o que pode prejudicar a produtividade das
equipes, que se tornaram mais enxutas nos últimos anos.

Se você contrata uma pessoa com experiência, em uma semana,


essa pessoa pega o embalo mais rápido (do trabalho)
Mano Deyvin, criador de conteúdo para desenvolvedores

“Se você contrata uma pessoa com experiência, em uma semana, essa
pessoa pega o embalo mais rápido (do trabalho). Já o junior leva pelo
menos três meses para ter um começo de independência na rotina.
Esse é um grande problema ao contratar pessoas sem experiência”, diz
Mano Deyvin.

Carla de Bona, da Reprograma, aponta que esse cenário de escassez


de trabalho para uma pessoa júnior torna a transição de carreira mais
demorada para essa faixa: se antes uma pessoa demorava seis meses
para se “qualificar” como programadora, hoje esse período é de um
ano ou mais.

“Para essas pessoas, a grande dica é baixar a expectativa e continuar


estudando”, aponta Carla, que indica buscar mais cursos com outras
linguagens entre as opções. Outra maneira é aprender habilidades
emocionais, que podem ser úteis durante um trabalho. “No início de
carreira, ter a parte técnica é muito importante, e, depois, os soft skills
vão ser determinantes para subir de nível.”

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Déficit permanece
Isso não significa que o tão famoso “déficit do mercado de tecnologia”
tenha desaparecido. Na verdade, o cenário continua tão crítico quanto
antes — segundo dados da Associação das Empresas de Tecnologia da
Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), a
estimativa é um déficit total de 530 mil profissionais de tecnologia no
Brasil até 2025.

Em relatório de maio de 2023, o Google for Startups aponta que o


Brasil enfrenta um cenário ainda mais sensível em relação aos países
desenvolvidos, que também apresentam esse déficit. Aqui, há o
problema de poucos profissionais com experiência de mercado (muito
juniores e pouco seniores), homogêneos (concentrados na região
Sudeste, com alta parcela do sexo masculino) e com fuga de cérebros
para o exterior (onde há oportunidades que remuneram melhor).

É um mercado que continua promissor. O que acabou é a


demanda altíssima das empresas, com baixa oferta de
profissionais
Maria Sartori, diretora da Robert Half

“Os profissionais que são especialistas buscam e são alvos constantes


de melhores oportunidades e salários, principalmente fora do País”,
diz André Barrence, diretor do Google for Startups no Brasil, em
relatório sobre emprego de maio de 2023, citando que isso torna o
mercado de tecnologia brasileiro “menos atrativo para profissionais
estabelecidos ou recém-formados”.

Para Maria Sartori, diretora da empresa de recrutamento Robert Half,


o mercado de tecnologia continua em busca por profissionais
qualificados — dados da companhia apontam que, para essa categoria,
há situação de pleno emprego, com apenas 3,5% dos profissionais
desempregados em 2023.

“É um mercado que continua promissor. O que acabou é a demanda


altíssima das empresas, com baixa oferta de profissionais”, diz a
executiva. “Agora, o setor de tecnologia está mais próximo de outros
segmentos, como financeiro.”

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Todos os comentários 13
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Jefferson cr

há 6 horas (Editado)

Procurem vaga de estágio! Ainda vejo muitos "influencers" dizendo que o conhecimento acadêmico é perda de tempo. Quando fazemos um bacharel em engenharia
passamos pelo estágio, do estágio surge uma oportunidade como júnior, pleno e finalmente sênior. O que vejo é muita gente fazendo cursinhos on line e querendo
uma vaga como junior sem ter construído uma biografia como profissional. Devemos entender a realidade do mercado e nos adaptarmos, ou melhor, aprender com
nossos pais.

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Flavio Martins

há um dia

Trabalhar com TI envolve raciocínio lógico, foco e estar sempre estudando, não por acaso que muitos dos melhores profissionais que conheci nessa área serem

formados em outras áreas como engenharia e matemática. Infelizmente nosso sistema de ensino parou no tempo e não ensina as pessoas a pensarem , apenas a
decorar coisas inúteis.

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Flavio Martins

há um dia

Trabalho nessa área há mais de 20 anos e o que mais vi foram jovens querendo entrar na área motivados pelos ganhos mas que não tinham o perfil ou preparo
necessário, existe uma diferença básica entre gostar de tecnologia e saber tecnologia, programar não tem nada a ver com ficar dandos cliques na tela de um

smartphone, muita gente foi incentivada a entrar na área porque achavam que "dominavam" a tecnologia e no primeiro contato com uma IDE de desenvolvimento
cheia de códigos desistiram.

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rodrigo pereira

há um dia

A formação acadêmica é importante, mas observo que muitos alunos querem apenas o (diploma) e fazem o curso sem se dedicar suficiente, sem buscar formações
paralelas ou estágios. A Universidade tem como fim criar um espaço de pensamento crítico, de oportunidades, interação, amadurecimento e também de

aprendizado. Se a sua não faz isso, troque de instituição.

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DARCI JORGE PRASS

há um dia

"mercado de tecnologia"? de que tecnologia se trata? automotiva? de alimentos? informática?...ao usar esta definição genérica, o artigo não deixa claro do que, de

fato, se trata.

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Marcelo D S Meneses
há 2 dias

Graduação é algo muito básico nessa área. É necessário se qualificar e isso é caro. Demanda tempo e dinheiro. Certificações são necessárias. Vai trabalhar com
desenvolvimento na nuvem? HPC? Saber uma linguagem de programação não é o mesmo que saber construir algo de valor. É uma área para poucos.

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FERNANDO CARLOS RIBEIRO DA SILVA

há 2 dias

Muitos profissionais desqualificados, que acham que basta ter um diploma e certificado, que estarão com as vagas garantidas. Esquecem que ainda existe um
processo de seleção, entrevistas, muitas em inglês, e dinâmicas de grupos. Uma parte considerável dos jovens estão totalmente despreparados para essas

situações, pois muitos foram forjados no péssimo ensino brasileiro, onde cada vez mais se formam ativistas e menos profissionais de verdade. Uma hora a conta

chega, e parece que chegou.

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Pedro Luis

há 2 dias

O que gosto mais é.... as empresas pedem qualificação gigantescas e após a contratação, te dão um Excel pra preencher ou uma função no qual você não foi

contratado.

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Alessandro Nens

há 2 dias

Não tem nada a ver com baixa na demanda, tem a ver com transformação das atividades. O mercado de tecnologia está sempre se transformando e quem trabalha
nele sabe disso, se você não acompanha a onda acaba tendo que remar mais para se atualizar e adequar-se às oportunidades que estão disponíveis.

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LUIZ AYRES MARQUES

há 2 dias

Como o empregado vai ter experiencia se ninguem quer dar chance de ele ganhar esta experiencia?

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