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Em razão disso, é natural que o mercado seja externado em um ambiente

dinâmico e complexo, onde ocorrem constantes interações entre oferta e demanda,


preços e quantidades, concorrência e cooperação. Há influência de diversos fatores,
como tecnologia, política, cultura, meio ambiente, entre outros.
Nesse sentido, o mercado pode ser dividido em diferentes segmentos, de
acordo com critérios como produtos, serviços, regiões geográficas, clientes,
fornecedores etc. Cada segmento apresenta suas próprias características e desafios, e
exige estratégias específicas por parte das empresas que atuam neles.
Com essa compreensão, deve-se caracterizar mercado como um conceito
amplo e multifacetado, que abrange diversas dimensões da atividade econômica e
empresarial, que acontece em um ambiente dinâmico e complexo, e exige das empresas
uma constante adaptação e inovação para se manterem competitivas e relevantes.
Isso se dá, também, pela exposição inevitável a fatores externos, como crises
econômicas, mudanças na legislação, instabilidade política, entre outros. Esses fatores
podem afetar significativamente o desempenho das empresas e o comportamento dos
consumidores, e exigem uma gestão cuidadosa por parte dos empresários e gestores.
No entanto, a busca pelo interesse próprio não implica necessariamente em
uma competição desenfreada ou em uma ausência de cooperação. Pelo contrário, o
mercado pode se desenvolver em um ambiente de cooperação e coordenação, onde os
agentes econômicos buscam criar valor e inovar por meio da troca de informações,
conhecimentos e recursos.
É importante destacar que o mercado é regulado pelo direito e pelas
instituições, e sua eficiência e equidade dependem da qualidade dessas instituições e da
capacidade dos agentes econômicos de cooperar e competir de forma saudável e
sustentável.
Por isso, deve-se ressaltar que o mercado não é um fim em si mesmo, mas sim
um meio para alcançar objetivos econômicos e sociais mais amplos. O mercado deve ser
visto como parte de um sistema econômico e social mais amplo, que inclui outras
instituições e valores, como o Estado, a sociedade civil, a justiça social, a
sustentabilidade ambiental, entre outros. A gestão do mercado deve levar em conta esses
valores e objetivos maiores, e buscar conciliar os interesses individuais com o bem
comum.
Conquanto, é importante que as empresas atuem de forma ética e responsável,
respeitando os direitos dos consumidores, dos trabalhadores, dos fornecedores e da
sociedade em geral. As empresas devem buscar criar valor de forma sustentável,
levando em conta não apenas os aspectos econômicos, mas também os aspectos sociais
e ambientais.
Nessa direção, torna-se imprescindível a atuação estatal para que o mercado
seja regulado de forma adequada, a fim de evitar abusos e garantir a concorrência
saudável. A regulação do mercado deve levar em conta as características específicas de
cada setor e segmento, e buscar promover a eficiência, a inovação e a equidade.
Da mesma forma, é fundamental que os agentes se engajem em um diálogo
construtivo e cooperativo, buscando soluções conjuntas para os desafios e
oportunidades do mercado. A cooperação entre empresas, governos, sociedade civil e
outros atores pode contribuir para a criação de um mercado mais justo, eficiente e
sustentável, capaz de promover o desenvolvimento econômico e social de forma
equilibrada e inclusiva.
Para que essa cooperação seja efetiva, deve haver transparência e confiança
entre os agentes econômicos, bem como uma cultura de diálogo e negociação. As
empresas devem buscar estabelecer relações de longo prazo com seus fornecedores,
clientes e parceiros, baseadas na confiança e no respeito mútuo.
É importante que as empresas estejam atentas às mudanças no mercado e na
sociedade, e sejam capazes de se adaptar e inovar de forma constante. A inovação é
fundamental para a competitividade e a sobrevivência das empresas, e pode ser
alcançada por meio da pesquisa e desenvolvimento, da colaboração com outras
empresas e instituições, e da adoção de novas tecnologias e práticas de gestão.
Essas instituições devem se comprometer com a responsabilidade social e
ambiental e buscar o desenvolvimento sustentável da sociedade. Isso pode ser feito por
meio de práticas de gestão responsáveis, que incluem respeito aos direitos humanos,
promoção da diversidade e inclusão e redução do impacto ambiental. Os consumidores
e a sociedade em geral tendem a valorizar mais as empresas que adotam uma postura
responsável e sustentável. Isso pode melhorar a reputação e a competitividade das
empresas no mercado.
De outro lado, a existência de um conjunto de regras e instituições que
garantam a concorrência saudável e a proteção dos direitos dos consumidores, dos
trabalhadores, dos fornecedores e da sociedade em geral é importante para que o
mercado funcione de forma eficiente e justa. Essas regras e instituições podem incluir
leis antitruste, agências reguladoras, tribunais de justiça, organizações de defesa do
consumidor, entre outras.
Nessa linha é o entendimento de Irti (2004), ao asseverar que as relações
econômicas devem ser influenciadas por institutos jurídicos que as regulam, e que o
mercado requer um critério unificador capaz de conduzir a variedade de
comportamentos à uma unidade, a ordem jurídica do mercado:
Proponho definir o mercado como uma unidade jurídica de relações de troca,
referenciando um bem específico a uma determinada categoria de bens. Nem
uma única relação de troca nem uma pluralidade arbitrária delas formam um
mercado, que é sempre um critério unificador: um princípio, capaz de reger a
variedade de comportamentos e reduzi-la à unidade. (IRTI, 2004, p. 111,
tradução nossa).1

Irti (2015) rejeita a ideia do naturalismo econômico, afastando a possibilidade


de o direito reproduzir ou constituir a imagem de uma ordem econômica que seja
originária e externa a ele. Não há, segundo Irti (2015), uma normatividade natural do
mercado sem a interferência de institutos jurídicos que delimitem a atuação dos agentes
econômicos (IRTI, 2015, p. 13-14).
Nesse sentido, Irti (2015) assinala que a ordem jurídica do mercado ampara-se
em três princípios:
1) que a economia de mercado, como outras estruturas similares e diferentes
(coletivista, mista etc.), é locus artificialis, e não locus naturalis;
2) que esta artificialidade deriva de uma escolha do direito, a qual, sujeita a
de decisões políticas, confere forma à economia e a torna, de tempos em
tempos, mercantil ou coletivista ou mista, e assim por diante;
3) que tais decisões políticas são, por si só, mutáveis, de modo que os vários
regimes da economia vêm marcados pela historicidade, e nenhum pode dizer-
se absoluto e definitivo. A vontade humana é sempre capaz de fazer e
desfazer, constituir e desconstituir os diversos regimes da economia. (IRTI,
2015, p. 13).

Como se verifica, Irti (2015) sustenta que a economia de mercado é pautada em


locus artificialis na medida em que as decisões políticas e a normatividade jurídica dão
forma à economia, sendo mutáveis de acordo com o espaço e tempo.
Esse pensamento é contrário ao “capitalismo na sua formação primitiva”, onde
o mercado era enxergado “como um mecanismo autorregulador, do qual frutificavam
‘naturalmente’ todas as regras do relacionamento econômico” (ARAÚJO; NUNES,
2005, p. 449).

1
“Propongono di definire il mercato come untá giuridica dele relazioni di scambio, riguardanti um dato
bene a data categoria di beni. Nê uma singola relazione di scambio nè um ‘arbitrarua pluralità di esse
formano um mercato, il quale sempre exige um critério unificante: um principio, capace di governar ela
varietà dei comportameni e di ridurli a unità. (IRTI, 2004, p. 111).”
Por isso, aspectos elementares da economia, como o mercado, as empresas e as
relações de trabalho, não eram objetos essenciais do sistema jurídico e do âmbito
normativo (ARAÚJO, 2005, p. 449).
Do capitalismo resultava uma ordem natural e autossuficiente, afastando a
necessidade de regulação normativa por meio de institutos jurídicos tendentes à
consolidar regras econômicas, “pois que a arquitetura formal dos negócios poderia,
dentro dessa lógica, ficar a cargo dos institutos jurídicos gerais, como o direito de
propriedade e a autonomia da vontade” (ARAÚJO, 2005, p. 449).
Ao contrário, no pensamento adotado por Irti, a artificialidade, a juridicidade e
a historicidade afastam o naturalismo econômico, aproximando a concepção de ordem
jurídica do mercado à vontade humana, que, por meio das lutas políticas e das escolhas
legislativas, determina e conforma a estrutura econômica. (IRTI, 2015, p. 13 a 15).
Irti (2015) sustenta que:
Se a estrutura da economia remete às escolhas normativas, e estas ao êxito da
luta política, aqui esta última revela-se como o originário fundamento, a
vontade decisiva e conformadora das duas esferas. Aqui, não se trata de
“encontrar” leis, que a natureza tenha dado aos homens de uma vez por todas,
ou de retirá-las de outras fontes terrenas ou supra-terrenas, mas somente de
querê-las, ou seja, descer para a arena na luta política, a fim de defender,
modificar ou abolir um determinado sistema jurídico-econômico (e
econômico porque pressupõe um certo regime de direito).
As decisões fundamentais, capazes de dar forma a uma ou outra economia (se
os meios de produção devem estar na propriedade privada, se os acordos
devem ser tutelados, se os lucros das empresas merecem proteção e assim por
diante) são, justamente, atos do agir político, e não do puro conhecer, e então
implicam amizade ou inimizade entre idéias e visões da sociedade. O
pensamento único – a ideologia liberal, em que a esquerda e a direita
parecem concordar – oculta a intrínseca politicidade de toda a estrutura
econômica e vende como lei “natural” – neutra, objetiva, imparcial – aquilo
que propriamente é o resultado de uma decisão. Somente este
desmascaramento pode restituir à política a paixão pelas idéias e a
responsabilidade pelas escolhas. (IRTI, 2007, p.49).

Assim, a politicidade da estrutura econômica deve, do mesmo modo, impactar


o desenvolvimento e a eficiência da economia, na medida em que uma adequada
racionalização e sistematização do direito, na visão de Weber (2004), permitem a
“calculabilidade crescente do funcionamento da justiça - uma das condições prévias
mais importantes para empresas econômicas permanentes, especialmente aquelas de
tipo capitalista, que precisam da ‘segurança de tráfico’ jurídica” (WEBER, 2004, p.
149).
Isso significa que a racionalização do direito é importante para garantir a
previsibilidade e a segurança jurídica no mercado, na medida em que, paralelamente, o
pacifica e permite sua ampliação, culminando no conceito de ordem jurídica legítima, o
que é fundamental para a atividade econômica (WEBER, 2004, p. 161).
Essa ideia coaduna, por outro lado, o conceito de burocracia, como uma forma
de organização baseada na racionalidade instrumental, que busca eficiência e
maximização de resultados, também caracterizada pela divisão do trabalho, pela
hierarquia de autoridade, pela impessoalidade e pela formalidade (WEBER, 2004).
Com a divisão do trabalho, alcança-se a especialização dos funcionários em
tarefas específicas e a maximização da eficiência; por meio da hierarquia, fica
estabelecida uma cadeia de comando clara e definida; e pela impessoalidade, as
decisões são tomadas com base em regras e procedimentos formais, e não em
considerações pessoais (WEBER, 2004).
Tal concepção pode, da mesma forma, amoldar-se à dinâmica do mercado, em
que as empresas buscam a potencialização de seus resultados, com ampliação do lucro,
cujas atividades tendem a ser especializadas e focadas em nichos determinados e cuja
realidade relacional, de certo modo, segue um padrão hierárquico pautado no poder
econômico, mas vinculada ao contrato que materializa as negociações e vivifica o
mundo corporativo.
Na verdade, trata-se de busca por poder e dominação por meio do poder
econômico, na medida em que o controle dos recursos dita a capacidade de influência
nos aspectos intrínsecos da economia de mercado, como a propriedade dos meios de
produção, a posse de capital e a capacidade de influenciar os preços no mercado e,
consequentemente, a oferta e a demanda (WEBER, 2004).
No entanto, é importante destacar que os fatores sociais e políticos, como a
cultura, a religião, a tradição e a política, influenciam, também, na oferta e na demanda
dos produtos (WEBER, 2004), consistindo, também, mecanismos de interferência no
mercado, que devem ser levados em consideração na concepção das relações negociais.
De um modo ou de outro, Weber (2004) ressalta que o mecanismo de
organização eficiente do Estado e da economia moderna relaciona-se diretamente com
as formas de criação, e controle da criação, dos direitos subjetivos, que classifica em
“contratos de status” e “contratos funcionais”, dos quais interessa esse último, voltado
ao estabelecimento de direitos e obrigações recíprocos entre as partes, especialmente
regulando a troca de bens e serviços, com fundamento na liberdade individual e na
autonomia das partes (WEBER, 2004, p. 14-66).
No entanto, Weber (2004) já apontava que:
[...] a autonomia que cabe a um círculo de pessoas, em virtude de
consenso ou ordem estatuída, difere também qualitativamente da
simples liberdade de contrato. O limite de ambas encontra-se onde
também se encontra o limite do conceito de norma, isto é, onde a ordem
vigente, em virtude de consenso ou acordo racional dos participantes,
deixa de ser compreendida como regra objetivamente vigente,
imposta a determinado círculo de pessoas, mas se compreende como
base de recíprocas pretensões subjetivas - por exemplo, o acordo
entre dois proprietários de uma firma referente à divisão do
trabalho, à divisão do lucro e à situação jurídica externa e interna.
Revela-se aqui, claramente, a elasticidade do conceito de direito
objetivo ante o conceito de direito subjetivo. Teoricamente, nossos
hábitos de pensamento orientados pelo direito estatuído somente
conseguem encontrar o limite entre ambos pressupondo que, na área
do direito privado, o único que aqui nos interessa, se exerça
autonomia nos casos em que a origem normal da regra estatuída é uma
resolução, enquanto, nos casos em que um acordo entre indivíduos
concretos desempenha este papel, exista para nós um caso especial
de regulamento em virtude da liberdade de contrato. (WEBER, 2004,
p. 41).

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