Você está na página 1de 31

TEMA: patologia nutricional em

moçambique e sua abordagem


Objectivo
Descrever a rotina e exercutar a conduta correcta do manejo de
casos de Desnutrição aguda grave, crónica e por deficiências
Nutricionais, e de outras enfermidades que possam interferir na
satisfação das necessidades Nutricionais:

Diagnóstico,

Causas, e

Tratamento da Desnutrição.
Abordagem da Patologia Nutricional
MALNUTRIÇÃO:
É o estado patológico resultante quer pela deficiente quer pelo excesso de
ingestão ou absorção de nutrientes.

A carência nutricional: está ligada ao deficiente ingestão ou absorção de


nutrientes, o que leva a Desnutrição ou Subnutrição.

O distúrbio nutricional: está ligado ao excesso de ingestão ou absorção de


nutrientes, o que leva a Sobrenutrição.
Abordagem da Patologia Nutricional

• A Desnutrição constitui um problema de saúde pública em Moçambique.

• Segundo o tempo de desencadeamento, a desnutrição pode ser

classificada em Aguda ou Crónica.

• Origem/tipo, pode ser energética, protéica, energético-protéica, e por

Deficiência em micronutrientes.
Abordagem da Patologia Nutricional

o Diz -se Desnutrição aguda: quando ocorre uma deficiente ingestão


alimentar/nutrientes associada ou não ao aparecimento de uma
determinada doença no indivíduo, num passado recente, resultando na
perda do peso/ emagrecimento acentuado ou aparecimento de edema
bilateral, principalmente nos membros inferiores.
o É Desnutrição Crónica: quando se verificar uma deficiente ingestão
alimentar ou absorção de nutrientes num período longo do tempo.
o Desnutrição por Deficiência em Micronutrientes: é originada pelo deficiente
consumo de alimentos ricos em determinados nutrientes ou ocorrência de
doenças que impeçam a sua absorção.
Malnutrição

Estado de patológico que ocorre quando a ingestão de alimentos ou absorção de nutrientes é


insuficiente ou excede as necessidades individuais para manter o equilibrio para o crescimento,
producao da imunidade e funcionamento do órgãos e realizacao de multiplas actividades...

Sub-Nutrição ou Deficiência de
Sobre-Nutrição ou Excesso de peso micronutrientes:
(Pré-obesidade/obesidade e suas Desnutrição
Vit.A, Ferro, Iodo
complicações) (Défice: Energ – Prot)

Desnutrição Aguda: baixo P/E e baixo P/I Desnutrição Crónica: baixa E/I

 Resulta de um choque recente, e/ou doenças  Resulta de um longo prazo/infecções


agudas; repetidas
 Pode ser prevenida, tratada e curada.
 Pode ser prevenida, não tratavel/não curavel.
6
CAUSAS DA DESNUTRIÇÃO

Em Geral, as causas da Desnutrição são divididas em dois grupos:

 Causas Naturais ( doenças, calamidades naturais como a seca,


cheias e pragas) , e

 Causas Artificiais ( guerras e conflitos, ambiente politico e sócio


- económico, nível de educação, saneamento do meio, nível
cultural e posse, uso e aproveitamento de terra, etc).
Causas da Insegurança Alimentar e Nutricional e/ou ( DESNUTRIÇÃO)
Subjacentes Causas Básicas
 Limitacoes do Acesso fisico aos aquelas que constituem potenciais
alimentos (falta de alimentos no recursos disponíveis para a efectivação ou
Imediatas comprometimento do estado nutricional.
mercado ou altos preços ou falta
de producao propria);  Altos níveis de pobreza;
 Baixa  Baixa disponibilidade e acesso
disponibilidade de aos serviços de saúde (baixa  Baixo nível de educação e
alimentos ao nível elevadas taxas de analfabetismo;
cobertura dos serviços de
dos Afs e baixa saúde);
ingestao;  Tabus, crenças, práticas
 Alta taxa de mortalidade materna tradicionais e religiosas
– infantil (cuidados materno infantis negativas;
 Deficiente estado inadequados: AME, alimentação
de saúde. complementar, cuidados na gravidez  Baixa disponibilidade de recursos
e lactação estruturais - agricultura de
 Baixo acesso à água potável e subsistência, com baixa utilização
de tecnologia e muito baixa
saneamento. produtividade.

8
FORMAS DE DESNUTRIÇÃO AGUDA
( baixo peso para altura ou Edemas bilaterais)

A desnutrição aguda, pode aparecer isolada ou combinada e apresentar as seguintes


manifestações clínicas:

MARASMO - (conhecida como desnutrição Seca ou caquética): frequente entre 6 aos 18


meses de idade, a criança apreesenta -se magrinha (aspecto pele e osso ou sulcos de
Harrison), cara de velho, fominta e irritada.

O peso é baixo em relação a idade ( atraso no crescimento), as proteínas séricas, os minerais e


enzimas hepáticas são normais.

causas: desmame brusco, dieta deficiente em energia (carboidratos), associada ao


aparecimento da doença ( sarampo, malária, diarréia, etc).
FORMAS DE DESNUTRIÇÃO AGUDA
( baixo peso para altura ou Edemas bilaterais)

KWASHIORKOR ( também conhecida como desnutrição húmida ou doença da


primeiro criança quando nasce a outra):
 frequente entre 9 aos 18 meses de idade, a criança apresenta Edemas
bilaterais nos membros inferiores, apática, cara de lua cheia, cabelo
quebradiço, dermatite, lesões cutâneas e volume do fígado aumentado
(hepatomegalia).
O peso é ligeiramente baixo ( apresenta peso falso devido aos Edemas). As
proteínas séricas são baixas e vitamina A e minerais são relativamente baixas.
 Causas: desmame brusco e alimentação deficiente em proteínas e a base de
carboidratos e em quantidades insuficientes.
FORMAS DE DESNUTRIÇÃO AGUDA
( baixo peso para altura ou Edemas bilaterais)

KWASHIORKOR – MARASMÁTICO – (é a forma mista).

 Frequente entre 9 aos 13 meses de idade.


A criança apresenta -se simultaneamente com Edemas e emagrecimento
acentuado ( sinais clínicos de marasmo e kwashiorkor), apática, baixa
resistência imunológica e com atraso de crescimento.
O peso para sua idade e altura é muito baixo.
Causas: desnutrição energético-protéica ( dieta pobre em carboidratos e
proteínas).
CARÊNCIAS NUTRICIONAIS

• Em Moçambique, as Carências nutricionais mais importantes são: Iodo,


Vitamina A, Ferro, Niacina, e ácido fólico.

o A carência de vitamina A: causa a cegueira nocturna ou perturbações da


visão, lesões cutâneas, manchas esbranquiçadas sobre a conjuntiva ou córnea
( xeroftalmia).

o Carência de Iodo: causa Bócio, cretinismo ( retardo físico e mental) e


abortos espontâneos.
CARÊNCIAS NUTRICIONAIS

Carência de Ferro: causa anemia ferropriva hipocrómica (baixa quantidade de


hemoglobina) e anemia ferropriva microcítica (células vermelhas pequenas).

Vitamina do complexo B (Niacina): (1) numa situação leve, causa rachaduras na pele
quando exposta aos raios solares, confusão e desorientação. (2) Na forma mais grave,
causa PELAGRA ( doença conhecida como 3D: Dermatite + Diarréia + Demência).

Ácido fólico: é fundamental para evitar as más formações congénitas e doenças


mentais. Exerce potente função sobre a formação do tubo neural durante a formação
fetal.
DIAGNÓSTICO DA DESNUTRIÇÃO

• Existem vários métodos/ indicadores para a avaliação e diagnóstico da Desnutrição.

são agrupados em:

 Sinais e sintomas clínicos,

 Dados antropométricos,

 Dados laboratoriais (Bioquímica e Hemograma), e

 Dados dietéticos.
Classificação do IMC e Risco de co - morbidade Crónico - Degenerativa (OMS, 2007)

Situação Nutricional IMC ( kg/m2) Estado Nutricional Risco co-morbidade


<16 Magreza, grau III
Carência Nutricional 16-16.9 Magreza, grau II
17-18.4 Magreza, grau I
Normal ou óptimo 18.5-24.9 Normal ou Eutrófico Ponto Médio
25-29.9 Peso excessivo Aumentado
Distúrbio 30-34.9 Obesidade, grau I Moderado
Nutricional
35-39.9 Obesidade, grau II Severo
≥ 40 Obesidade, grau III Muito severo
(Morbida)
TRATAMENTO DA DESNUTRIÇÃO

Dependendo do estado de gravidade e das complicações médicas (doenças


associadas a desnutrição): pode ser feito no Ambulatório (TDA) ou no
Internamento (TDI).

• Casos moderados e graves sem complicações médicas o tratamento é feito no


TDA, ao nível hospitalar (CCR), cujo Controlo do quadro clínico é feito de 15 em
15 dias ou menos caso a condição médica justifique.

• E, os casos graves com complicações médicas ( febres, falta de apetite,


Edemas, convulsões, hipotermia, hipoglicemia, malária), o tratamento é feito
no TDI.
TRATAMENTO DA DESNUTRIÇÃO
O tratamento inclui o aconselhamento alimentar e social, dietético e
medicamentoso / antibioterapia, devendo ser:
1. Ambulatório (TDA)
a) crianças de 6-59 meses: 1a linha (ASPU), 2a linha (ATPU). NB: Não dar CSB. Em
casos de não existência de ASPU, pode dar apenas o ATPU e/ou papas enriquecidas.
• São outras medidas: aconselhamento alimentar e social, medicamentos
(antibióticos S.O.S)
b) mulheres grávidas, lactentes ou adultos: 1a linha ( CSB ou ASPU) e 2a linha (
ATPU). Na falta do ASPU ou CSB, pode se dar apenas o ATPU, incluindo o
aconselhamento alimentar para a necessidade de se ter alimentação equilibrada.
Igualmente, pode -se, quase que obrigatório, fazer o tratamento medicamentoso
S.O.S.
TRATAMENTO DA DESNUTRIÇÃO

2. Internamento ( TDI)
a) crianças de 6 -59 meses e adultos.
 Fase 1 ou de estabilização: leite terapêutico F75 (75 Kcal por cada 100 ml do leite)
 Fase de transição: leite terapêutico F100 ( 100 Kcal por cada 100 ml do leite), nas
mesmas quantidades do F75 calculado na fase 1.
 Fase 2 ou Reabilitação: leite terapêutico F100 e ATPU, incluindo ovo e papinhas.
• Em casos de diarréia, continue com o leite ate que prove que seja intolerância
(fezes espumosas com aspecto de leite não digerido) , caso prove a intolerância,
introduz caldo de peixe ou de carne, até que a diarréia se estanque. O tratamento
medicamentoso também é obrigatório, para corrigir as infecções, que ditaram
como critério para o internamento.
TRATAMENTO DA DESNUTRIÇÃO

• NB1 : para o cálculo das quantidades do leite a administrar de 2 em 2 ou 3 em 3 horas,


dependendo da necessidade ajustada a gravidade ou praticidade, recorre -se a seguinte
fórmula:

Marasmo: 130ml x peso a entrada ou actual / pelo número de refeições ao dia.

Kwashiorkor: 100 ml x peso a entrada ou actual / pelo número de refeições ao dia.


NB2 : em casos de Edemas, na fase 1, oferecer o F100-diluido.

• Ex:. 130ml x 5kg/ 8 refeições = 650ml/8= 81.25 ml em cada hora de administração.

• Utiliza -se o horário de 8 refeições ( 24h/8 refeições = 3), logo termos: 3h, 6h, 9h, 12h,
15h, 18h, 21h e 24h.
ESTIMULAÇÃO EMOCIONAL E PSICO-MOTORA
SEQUELAS DE DESNUTRIÇÃO
PARA O DESENVOLVIMENTO

• Atrasos cognitivos irreversíveis após 2 anos

• Fraco desempenho escolar

• Fraca productividade na vida adulta


Actividades Estimulantes - (OMS/UNICEF)
\ BRINQUE COM A CRIANÇA NO HOSPITAL E EM CASA
AOS 6 MESES AOS 9 MESES AOS 12 MESES AOS 18 MESES
Onde está
o nariz?

Toque a criança com Dê à criança coisas Olha,


coisas suaves para pegar, . mota!
bater
e deixar cair

Cante cancões e faça jogos de


dedos com a criança

Converse e imite os sons Conte histórias à criança


da criança

*Programa de Reabilitação Nutricional


Passo 9 de recuperação da criança com desnutrição grave
Outros impactos de estimulação...

• Ajuda a estabilizar e aumentar


peso nas crianças com baixo peso ao nascer / prematuras

• Melhora a apetite e acelera a recuperação (ganho de peso) nas crianças com


desnutrição.

• Reduz a depressão materna, que é responsável pelos 29% de casos de


falência de crescimento.
Espaço da Pediatria
• Cores vivas

• Decorações alegres

• Móveis de cores vivas penduradas sobre cada cama

• Esteiras para crianças sentar e brincar

• Brinquedos sempre ao alcance das crianças

• Uniformes do pessoal parecidos com roupa de uma mãe

• Evitar privação sensorial


• Evitar restringimento de movimentos nas crianças
IMPORTÂNCIA DA BOA NUTRIÇÃO EM PESSOAS VIVENDO COM HIV/SIDA
(PVHIV/SIDA)

• A alimentação ou Nutrição deficiente leva ao aumento das


necessidades nutricionais, à redução de ingestão de alimentos e
fraca capacidade de combater o HIV e,

• Por outro lado, o HIV leva ao aumento de ingestão de alimentos, a


Vulnerabilidade às infecções oportunistas, a saúde debilitada e a
rápida progressão para o último estágio da SIDA.
IMPORTÂNCIA DA BOA NUTRIÇÃO EM PESSOAS VIVENDO COM HIV/SIDA
(PVHIV/SIDA)

• A doença e os medicamentos provocam a falta de apetite e, as infecções da


boca dificultam a mastigação; os intestinos se deterioram pela acção do vírus
e outras infecções, levando a má absorção e, em consequência disso, resulta
em diarréia é perda de electrólitos, água e nutrientes e, finalmente, a perda
do peso e deficiente estado nutricional.

• Como quebrar o ciclo de HIV/ SIDA e Nutrição deficiente?

Para isso, É necessário:


IMPORTÂNCIA DA BOA NUTRIÇÃO EM PESSOAS VIVENDO COM HIV/SIDA
(PVHIV/SIDA)
1. Ter uma alimentação equilibrada para manter o peso, evitar a perda da massa muscular,
repor os nutrientes, recuperar das infecções e lidar com a medicação.
2. Ter dieta hiperproteica, hiperglicídica , hipervitamínica e rica em sais minerias ( A, C, E,
B12, Cálcio, cobre, zinco e selénio), para combater infecções e fortalecimento do sistema
imunológico.
• Esta quebra do ciclo consiste em:

Oferecer pequenas quantidades de alimentos, várias vezes durante o dia; e

Oferecer alimentos de energia concentrada e/ou fermentados tais como papas


enriquecidas, papas fermentadas, frutas e Hortícolas cozidas e esmagadas, nos intervalos
entre as principais refeições.
DOENÇAS CRÓNICO-DEGENERATIVAS

• O consumo excessivo de alimentos e absorção dos seus nutrientes pode levar a


distúrbios Nutricionais ( obesidade, HTA, diabetes, hipercolesterolemia,
aterosclerose, insuficiência renal, etc.).

• Inicialmente, os distúrbios Nutricionais estavam ligados ao bem estar e fortemente


associados a qualidade de vida dos países desenvolvidos.

• Hoje em dia, através da transnacionalização das tecnologias e do comércio dos


produtos industrializados, os distúrbios Nutricionais passaram a pertencer ao role
destas doenças nos países em vias de desenvolvimento e, Moçambique não é uma
excepção.
DOENÇAS CRÓNICO-DEGENERATIVAS

• Por um lado, enquanto cresce a consciência e o interesse da sociedade em


melhorar a sua alimentação, reconhecendo a importância da prevenção e
controlo de determinadas patologias, em particular as crónico -degenerativas;

• Por outro lado, o profissional de saúde, independentemente da sua área de


formação específica, deve prestar apoio necessário para contribuir na
desaceleração do processo de envelhecimento precoce e das sequelas que daí
advirão.
DOENÇAS CRÓNICO-DEGENERATIVAS
No geral, o aconselhamento direccina -se na necessidade de :
Ingerir muitos líquidos ( pelo menos 2 litros ao dia, entre água, sumos naturais ou de
frutas, chás e/ ou infusões).
Prática regular de Exercícios ( correr, caminhar e prática de jogos, que resultem em
produção de suor, que significa a queima e perda de calorias).
Controlo rigoroso do consumo de sal, evitando excessos ao cozinhar ou sal adicional
durante as refeições.
Controlar o consumo de alimentos fritos e/ ou gordurosos, passando a preferir os de baixo
teor de gorduras ( carnes brancas, leguminosas como feijões, e verduras e frutas.
Controlar e evitar os excessos de consumo de carboidratos e açúcares ( milho, arroz,
mapira, mandioca, mexoeira, inhames), incluindo doces, refrigerantes, sorvetes e bolos.
BIBLIOGRAFIA

1. MISAU/DNS-Repartição de Nutrição; Manual de Tratamento e Reabilitação


Nutricional/Materiais de Apoio, vol. I., MISAU- Maputo, Moçambique.

2. MISAU/DNS-Repartição de Nutrição: Pacote Nutricional Básico “PNB”,


MISAU- Maputo, Moçambique.

3. MISAU – Repartição de Nutrição. Tabelas de crescimento: Livro de Referência.


Março – 2018. MISAU – Moçambique.
Fim!

Você também pode gostar