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Eduardo CalBUCCI
JUCENIR Rocha
S OCIOLOGIA
anglo
SISTEMA DE ENSINO
Sociologia
Prof.:
Índice-controle de Estudo
Módulo 2
CONSELHO EDITORIAL
Guilherme Faiguenboim
Nicolau Marmo
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Assaf Faiguenboim
EDIÇÃO
Maria Ilda Trigo
ASSISTÊNCIA EDITORIAL
Creonice de Jesus S. Figueiredo
Kátia A. Rugel Vaz
Maria A. Augusta de Barros
Paula P. O. C. Kusznir
Silene Neres Teixeira Paes
ARTE E EDITORAÇÃO
Gráfica e Editora Anglo Ltda.
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
Gráfica e Editora Anglo Ltda.
Código: 82703228
2008
Módulo 2
Operários ao lado das máquinas no interior de uma tecelagem paulistana, no início do século XX.
Quando vemos uma jarra de argila produzida há 5 mil O texto associa o trabalho – entendido, num sen-
anos por algum artesão anônimo, algum homem cujas tido amplo, como todo o fazer humano – a um “pro-
contingências de vida desconhecemos e cujas valorizações cesso dinâmico” em que o homem recriaria “suas
dificilmente podemos imaginar, percebemos o quanto es- potencialidades essenciais”. Essa é uma concepção
se homem, com um propósito bem definido de atender com a qual não estamos muito acostumados: geral-
certa finalidade prática, talvez a de guardar água ou óleo, mente, associamos trabalho a sacrifício e luta pela
em moldando a terra moldou a si próprio. Seguindo a ma- sobrevivência.
téria e sondando-a quanto à “essência de ser”, o homem Em sua opinião, qual a noção de trabalho pre-
impregnou-a com a presença de sua vida, com a carga de dominante em nossa sociedade? Existem, atualmen-
suas emoções e de seus conhecimentos. Dando forma à te, condições para que o trabalho nos fortaleça no
argila, ele deu forma à fluidez fugidia de seu próprio exis- que temos de mais humano?
tir, captou-o e configurou-o. Estruturando a matéria,
Um pouco de teoria
também dentro de si ele se estruturou. Criando, ele se re-
criou. (...) O que é trabalho?
Formando a matéria, ordenando-a, configurando-a, do- Em português e em muitas outras línguas româ-
minando-a, também o homem vem a se ordenar interior- nicas, a palavra trabalho é polissêmica, ou seja,
mente e a dominar-se. Vem a se conhecer um pouco me- adquire significados diferentes, dependendo do con-
lhor e a ampliar sua consciência nesse processo dinâmico texto. Sua origem está no vocábulo latino tripalium,
em que recria suas potencialidades essenciais. que designava um antigo instrumento de tortura, o
(Fayga Ostrower. Criatividade e processos de criação. que mostra como, muitas vezes, trabalho pode pres-
Petrópolis, Vozes, 1987, p. 51 – 53.) supor esforço, fadiga ou sacrifício. No início do sécu-
Produção e produtividade
Um modelo exemplar do fenômeno revolucio-
nário da práxis coletiva inovadora está no processo
gerador da maquinofatura durante a Revolução In-
dustrial. Desde os séculos XV e XVI, um problema
para empresários ávidos por lucro era como aumen-
tar a produção de bens, até então manufaturados
Ao lado de Durkheim e Weber, Karl Marx (1818 – 1883) é conside- nos limites do trabalho artesanal. A angústia dos
rado um dos fundadores da moderna Sociologia.
capitalistas diante do mercado expandido em níveis
Marx – estudioso da sociedade capitalista do sé- globais os movia a pensar no aumento da produção
culo XIX – considerava o trabalho como elemento em proporções geométricas. O primeiro passo foi
que transforma a natureza e estabelece necessaria- criar novas formas de organização do trabalho nas
mente uma relação entre homens, num processo manufaturas, de modo a aumentar a produtividade
constante de satisfação das sempre crescentes neces- do trabalho. Mas qual a diferença entre produção e
sidades humanas. Essa concepção remonta a Adam produtividade? Ora, a produção, como dissemos, é o
Smith, que, em sua obra mais importante, A riqueza resultado concreto do trabalho, palpável sobretudo
das nações, escreveu: quando se trata, por exemplo, de uma tecelagem.
Para responder às questões 2 e 3, leia o que segue: várias pessoas. Isso poderia, de fato, ter feito com que
os homens trabalhassem menos. Mas não foi o que
Em 2006, o exame de Redação da Fuvest solicitou
a produção de um texto sobre o tema do trabalho. ocorreu. Surgiu um grupo enorme de desempregados,
Como subsídio para a realização da tarefa, a Banca que formaram um exército industrial de reserva. Assim,
selecionou alguns trechos. Dois deles transcrevemos
quem tinha emprego fazia o possível – o que significa-
a seguir:
va “matar-se de tanto trabalhar” – para não passar
Trecho 1 a fazer parte desse exército. E isso vale até hoje.
O trabalho não é uma essência atemporal do homem.
Ele é uma invenção histórica e, como tal, pode ser trans-
formado e mesmo desaparecer.
Adaptado de A. Simões
Trecho 2
Tarefa mínima
Há algumas décadas, pensava-se que o progresso téc-
Um elemento fundamental das relações so-
nico e o aumento da capacidade de produção permiti-
ciais é o trabalho. Pensando nessa questão,
riam que o trabalho ficasse razoavelmente fora de moda
Marx escreveu, em 1875, sua famosa máxima:
e a humanidade tivesse mais tempo para si mesma. Na
verdade, o que se passa hoje é que uma parte da huma- “Quando o trabalho se tornar necessidade pri-
nidade está se matando de tanto trabalhar, enquanto a meira da vida, quando as fontes da riqueza coletiva
outra parte está morrendo por falta de emprego. jorrarem plenamente, então o estreito horizonte ju-
M. A. Marques rídico burguês poderá ser superado e a sociedade
escreverá sobre uma bandeira: de cada um, segun-
Com base nesses trechos e nas demais infor- do sua capacidade, a cada um, segundo suas neces-
mações que você tem sobre a questão do trabalho, sidades.”
responda:
Levando em conta a maneira como você vê as
1. Considerando a definição que Marx e Engels relações de trabalho no mundo contemporâneo,
apresentam de trabalho (“um processo entre o analise se estamos próximos ou não do estágio,
homem e a natureza, durante o qual o homem, previsto por Marx, de superação do “estreito ho-
mediante sua própria atividade, medeia, regula e rizonte jurídico burguês”.
controla o intercâmbio de substâncias entre ele e
a natureza”), será que ele pode desaparecer, co- O estágio ideal, imaginado por Marx, em que cada pes-
mo propõe o trecho 1? Explique sua resposta. soa produziria segundo suas capacidades e receberia
Não. A definição de trabalho como atividade que organi- segundo suas necessidades está distante. Atualmente,
za o intercâmbio de substâncias entre o homem e a na- as pessoas trabalham cada vez mais para conseguir
tureza, com o objetivo de suprir as necessidades do ser manter seus empregos, o que não garante, necessaria-
humano, mostra que ele é elemento fundamental da vida mente, melhores salários. A informatização dos proces-
3. Agora, procure pensar em sua realidade: quais Tanto a aquarela de Debret quanto a foto dos ope-
os trabalhos mais e menos valorizados em nos- rários em greve são emblemáticas de dois momen-
sa sociedade? Os trabalhos mais desvalorizados tos importantes da história do trabalho no Brasil.
são, necessariamente, os menos importantes? Ambas representam etapas de um longo percurso. O
Os alunos poderão citar vários tipos de trabalhos. O im- texto a seguir é um breve histórico desse percurso.
portante é que eles consigam perceber que os trabalhos Leia-o com atenção, procurando identificar os prin-
cipais eventos referentes à evolução do trabalho no
menos valorizados não são menos importantes que os Brasil.
mais valorizados. Vários exemplos podem ser lembrados.
Fiquemos com um deles: a coleta de lixo. Seria impen- O trabalho no Brasil
sável a vida, principalmente nas grandes cidades, se A colonização portuguesa na América provocou
um choque nas relações de produção, que se con-
não houvesse quem recolha o lixo. Mas a importância
funde com a formação da sociedade e do povo bra-
dessa atividade não é compatível com o status de seus sileiro. Das relações de trabalho típicas das comu-
trabalhadores. nidades indígenas aqui existentes, o colonizador fez
saltar para a escravidão, tanto dos índios nativos
quanto dos nativos africanos, trazidos à força para a
produção colonial. A primeira grande estrutura de
produção foi montada no Nordeste com a economia
canavieira financiada pelos mercantilistas flamengos
no século XVI. A opção lusitana pela escravidão ne-
gra deveu-se a vários fatores. A inexistência de um
contingente suficiente de trabalhadores livres que
pudessem ser deslocados de Portugal para a colônia,
LEITURA COMPLEMENTAR a inadequação por desconhecimento da agricultura
ou pela resistência mais eficaz dos índios à escravi-
zação, as pressões dos missionários jesuítas contra a
escravidão indígena e, principalmente, os interesses
dos traficantes de escravos no lucro que aquele co-
mércio proporcionava determinaram a imposição
do trabalho escravo negro nos principais pólos eco-
nômicos montados na colônia.
A presença africana no Nordeste açucareiro no
século XVII, nas regiões mineradoras do Sudeste e
do Centro-Oeste no século XVIII, na economia algo-
doeira do Maranhão e na lavoura do café durante o
Império, deixou profundas marcas nos costumes e
Jean Baptiste Debret. Vendedores de capim e leite. Aquarela, iní- tradições da cultura brasileira. A relação de produ-
cio do século XIX. ção fundamental entre escravos e senhores de terras
A queda do Muro de Berlim – que separava a Ale- Essa provocativa frase alude a uma declaração do
manha Oriental (socialista) da Alemanha Ocidental ex-chanceler da Alemanha Ocidental Willy Brandt
(capitalista) – foi um evento muito significativo para (1913 – 1992), que teria dito:
a História da humanidade. Vista com euforia não só
pelos países capitalistas, mas também pela popula- Quem aos 20 anos não é comunista não tem coração; e
ção dos países comunistas, a queda do Muro deu iní- quem assim permanece aos 40 anos, não tem inteligência.
cio a uma era marcada por aquilo que se convencio- Você concorda com os autores das frases? Você
nou chamar fim das utopias (fim na crença de se es- acha que defender o estabelecimento de um novo
tabelecer uma organização social alternativa ao capi- sistema, com o desejo de diminuir as desigualdades
talismo). do mundo capitalista, pode ser considerado falta de
Dentre essas formas alternativas de organização, imaginação ou de inteligência?
destaca-se o socialismo, que estudaremos em algumas
de nossas aulas. Por enquanto, podemos entendê-lo, Um pouco de teoria
simplificadamente e de acordo com o dicionário O que é Economia?
Houaiss, como o “conjunto de doutrinas de fundo hu-
manitário que visam reformar a sociedade capitalista Nosso interesse agora se voltará para a análise
para diminuir um pouco de suas desigualdades”. das várias formas de organização social criadas pelos
Tendo em vista essa definição, leia a frase que o homens até que se chegasse ao capitalismo ou, como
economista Roberto Campos (1917 – 2001) escreveu alguns sociólogos preferem classificar, à sociedade
em sua biografia intelectual A lanterna na popa: industrial contemporânea.
Como vimos na aula anterior, os homens sempre
Quem não é socialista aos 20 anos não tem coração, e desenvolveram atividades voltadas para o suprimen-
quem assim permanece aos 40 anos, não tem imaginação. to das necessidades básicas do grupo. Eis a gênese
exercícios
LEITURA COMPLEMENTAR
Tarefa complementar
Estrutura econômica e sistemas de produção
A chamada a seguir é o início de uma longa re-
Se a prática econômica gerou o pensamento eco-
portagem publicada na Folha de S. Paulo, em 16 de
nômico, esse, por sua vez, passou a influenciar a or-
dezembro de 2007:
ganização da própria economia. Coube aos econo-
17 horas de trabalho por casa e comida mistas o estudo do que pode ser chamado estrutura
Repórter-fotográfico trabalha com bolivianos econômica. Os diversos tipos de trabalhos se articu-
e revela exploração de mão-de-obra lam numa estrutura tanto mais complexa quanto
clandestina em SP mais desenvolvida for a sociedade. É comum, por
exemplo, a referência na imprensa ao “setor primá-
rio” da economia. Isso se deve a alguns conceitos
clássicos desenvolvidos pela corrente estruturalista
dos economistas, que foram se tornando comuns até
mesmo na linguagem cotidiana. Vejamos alguns
deles:
• O setor primário é aquele voltado para as ativi-
dades básicas da produção associada aos recur-
sos naturais. Inclui a agricultura, a pecuária e a
extração ou coleta, em suas mais variadas formas.
• O setor secundário engloba as atividades indus-
triais, também em suas múltiplas formas, o que
inclui a transformação dos bens e matérias-pri-
Jovem boliviano faz curso de corte e costura em La Paz, onde os mas, acrescentando aos produtos características
imigrantes se preparam para trabalhar no Brasil. resultantes do emprego das forças produtivas
Usina condenada em R$ 500 mil por Agora, leia o Artigo XXIII da Declaração Uni-
condições degradantes no MT versal dos Direitos Humanos, adotada e procla-
Justiça condena Destilaria Gameleira, localizada em mada pela Assembléia Geral das Nações Unidas
Confresa (MT), por más condições de trabalho de seus em- em 10 de dezembro de 1948.
pregados. Empresa já foi palco da maior libertação de es- Artigo XXIII
cravos realizada, quando 1.003 pessoas foram resgatadas.
1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre es-
SÃO PAULO – A Vara do Trabalho de São Félix do Ara- colha de emprego, a condições justas e favoráveis
guaia (MT) condenou a Destilaria Gameleira, localizada em de trabalho e à proteção contra o desemprego.
Confresa, também no Mato Grosso, a pagar R$ 500 mil ao 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem
Fundo de Amparo ao Trabalhador a título de danos morais direito a igual remuneração por igual trabalho.
coletivos pelas más condições de trabalho em que se en- 3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma
contravam 348 de seus empregados. A decisão é de pri- remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure,
meira instância e foi tomada em 19 de outubro pelo juiz assim como à sua família, uma existência compatí-
do trabalho João Humberto Cesário. vel com a dignidade humana, e a que se acrescenta-
(...) rão, se necessário, outros meios de proteção social.
Em sua decisão, o juiz afirma que as situações encon- 4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos
tradas na propriedade são “fato denunciador do seu des- e a neles ingressar para proteção de seus interesses.
prezo para com os fundamentos republicanos da dignidade
Ninguém duvida de que essa Declaração está re-
da pessoa humana e dos valores sociais do trabalho”.
cheada de boas intenções. Porém, mais de meio sé-
(Iberê Thenório, especial para a Carta Maior, 11/11/2006,
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm? culo depois de sua proclamação, será que esses direi-
materia_id=12806, acesso em 19/02/2008.) tos universais estão, de fato, sendo respeitados?
Tarefa mínima
Leia o fragmento a seguir e responda às duas
questões propostas:
exercícios
A acumulação primitiva desempenha na economia
política relativamente o mesmo papel que o pecado origi-
Leia a tirinha de Bob Thaves e, a seguir, responda
nal na teologia. Adão mordeu a maçã, e o pecado surgiu
às questões:
no mundo. A origem do pecado explica-se por uma aven-
tura que se teria passado alguns dias depois da criação do
mundo.
Da mesma maneira, teria havido outrora, faz muito
tempo isso, uma época em que a sociedade se dividia em
dois campos: acolá pessoas de elite, laboriosas, inteligen-
tes e, sobretudo, dotadas de aptidões administrativas; aqui
uma porção de folgazões, divertindo-se de manhã à noite
(O Estado de S. Paulo, 30/12/2007.) e da noite ao dia seguinte. Naturalmente, aqueles acumu-
Crianças brincam no Rio Guaíba durante a realização do Fórum Mundial de Porto Alegre de 2005,
em que militantes promoveram protestos antiglobalização.
A glorificação da sociedade de consumo impõe a cul- lução Industrial. Os primeiros economistas pro-
tura de massas no lugar da cultura popular. E constrói o curavam explicar a questão do desenvolvimento a
individualismo feroz, que detona a noção de individua- partir das “leis naturais” da chamada Economia
lidade, a qual tem tudo a ver com tomada de consciência, Clássica, que eram fixas e eternas, nem boas nem
fundamental para o homem se entender como cidadão e más. Adam Smith, David Ricardo, James Mill, John
reivindicar direitos e mudanças. Stuart Mill e outros entendiam que:
(Francisco Quinteiro Pires. “Um demolidor elegante
e otimista”. O Estado de S. Paulo, “Cultura”, 2/12/2007.) o bem-estar da sociedade está ligado ao do indivíduo.
Com liberdade a todos para ganharem o mais que pude-
Costuma-se afirmar que a globalização tem con-
rem, no interesse pessoal, toda a sociedade melhorará.
tribuído para um processo de padronização cultural
Trabalhe para si mesmo e estará servindo ao bem geral.
bastante perigoso, que acaba por transformar cida-
dãos em meros consumidores, ou – para utilizar um
Era a doutrina do “laissez-faire, laissez-passer”
termo em voga atualmente – em usuários. Será que
(que, ao pé da letra, significa: “deixai fazer, deixai
é possível reverter esse processo, ou pelo menos ten-
passar”), que combatia todos os pontos de vista eco-
tar amenizá-lo? De que recursos a sociedade dispõe
nômicos do chamado Antigo Regime. Enquanto a já
para enfrentar esse fenômeno que parece “atro-
envelhecida burguesia mercantil, aliada aos regimes
pelar” indivíduos e comunidades, mediante a im-
absolutistas europeus, defendia os princípios do mer-
posição da ideologia dominante?
cantilismo monopolista, uma nova facção industrial
Um pouco de teoria de capitalistas se fortalecia. Para eles, os monopólios
comerciais, o pacto colonial, o intervencionismo do
Liberalismo econômico
Estado e o metalismo haviam sido impulsionadores
Assim como a Sociologia, a Economia Política do crescimento econômico no passado; mas passado
surgiu durante o século XVIII, em meio às trans- é passado. Era chegada a hora do grande salto e o
formações socioeconômicas geradas pela Revo- que havia acelerado a economia, agora era um freio
1. O que há em comum entre a declaração e a ins- “Todas as nações industrialmente desenvolvidas trata-
talação? ram de colocar uma grande parte de seu capital fora
Ambas aludem às relações de dominação presentes na dos limites de sua própria área política”.
sociedade contemporânea. A declaração denuncia o fa-
Vista aérea da Baía de Guanabara, com o Cristo Redentor em primeiro plano. Rio de Janeiro, Brasil.
Os textos que seguem veiculam diferentes visões Como podemos perceber pelos textos, as opi-
sobre o Brasil. Leia-os com atenção: niões sobre as potencialidades do Brasil não são pa-
E uma luz vasta brilhou no cérebro dele. Se ergueu na cíficas. De um lado, há os que vêem o país como “na-
jangada e com os braços oscilando por cima da pátria de- ção do futuro”, por sua beleza idílica, por sua riqueza
cretou solene: natural, pela diversidade cultural e étnica e pela cor-
— POUCA SAÚDE E MUITA SAÚVA, OS MALES DO dialidade de seu povo. De outro, há os que acreditam
BRASIL SÃO! que nosso país é “inviável”, pois, apesar de suas mui-
(Mário de Andrade. Macunaíma. Belo Horizonte, tas qualidades, ele parece viver em crise e estar fada-
Itatiaia, 1984, p. 56.) do ao subdesenvolvimento.
Na verdade das coisas, o que somos é a nova Roma. Em sua opinião, apesar dos muitos problemas, o
Uma Roma tardia e tropical. O Brasil é já a maior das na- Brasil ainda pode ser considerado um país “viável”,
ções neolatinas, pela magnitude populacional, e começa a isto é, um país que pode dar certo?
sê-lo também por sua criatividade artística e cultural. Pre- Um pouco de teoria
cisa agora sê-lo no domínio da tecnologia da futura civi-
Capitalismo monopolista de Estado e
lização, para se fazer uma potência econômica, de pro-
subdesenvolvimento
gresso auto-sustentado. Estamos nos construindo na luta
para florescer amanhã como uma nova civilização, mes- O sonho de Adam Smith, para quem a livre con-
tiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque corrência traria o progresso econômico e o Estado
mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais huma- seria o guardião da paz e da propriedade para garan-
nidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com tir a prosperidade de todos, deu lugar ao capitalismo
todas as raças e todas as culturas e porque assentada na monopolista de Estado. Nesta fase, o Estado ascen-
mais bela e luminosa província da terra. deu como força econômica significativa e diretamen-
(Darcy Ribeiro. O povo brasileiro – a formação e o sentido do te envolvida na acumulação do capital. O mundo tor-
Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2003, p. 454-455.) nou-se o palco da atuação do Estado alinhado com o
exercícios
3. Agora, observe o gráfico, veiculado por reportagem publicada no jornal Folha de S.Paulo, em 16/12/2008.
Crescimento tira milhões das classes D e E
Cerca de 20 milhões entram na classe C em 5 anos, aponta Datafolha;
movimento intensifica-se nos últimos 17 meses
Fonte: Datafolha Obs.: No gráfico, o que falta para atingir 100% corresponde a “não respondeu”
Em sua opinião, os dados veiculados pelo gráfico contrariam a visão pessimista sobre o desenvolvi-
mento do país?
Apesar de os analistas econômicos alertarem para o fato de que ainda não é hora para comemorar – pois a melhoria dos
índices econômicos não foi acompanhada por melhoras em outras áreas fundamentais, como saúde e educação –, os
dados contrariam a idéia de que “nada vai mudar nunca” e reavivam as esperanças em políticas públicas que possam vir
a melhorar a qualidade de vida da população excluída.
Texto 1
A conhecida “Carta de Caminha” é o primei-
ro documento brasileiro. Foi escrito muito antes A educação é o ponto no qual definimos se
de Portugal colonizar, de fato, o Brasil. No en- amamos o mundo o bastante para assumir a respon-
tanto esse texto é importantíssimo para enten- sabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína
der as origens das formações sociais brasileiras. que seria inevitável. A educação é, também, onde de-
Explique como a “Carta” já mostra característi- cidimos se amamos nossas crianças o bastante para não
cas da relação de dominação em relação à Eu- expulsá-las de nossos mundos, não abandoná-las a
ropa que o Brasil iria experimentar durante boa seus próprios recursos, tampouco arrancar de suas mãos
parte de sua história. a oportunidade de empreender alguma coisa nova e im-
prevista para nós.
De um modo quase profético, Caminha mostra que o
(Hanna Arendt. Citada em: vários autores. Realidade ou
Brasil é um lugar de uma exuberância natural incrível, utopia – questões de educação. São Paulo, Lazuli e
SESC, 2005, p. 65.)
com inesgotáveis recursos hídricos e, portanto, com
grande potencial econômico. Trata-se de uma terra Texto 2
“graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela Um em cada 5 jovens não completou
o ensino fundamental.
tudo”. Porém, seria preciso “salvar” os índios por meio
Alagoas é o Estado líder da exclusão, com 46%
da “fé” católica e “saber se há ouro ou prata nela, ou
dos jovens com o curso incompleto ou analfabetos;
outra coisa de metal, ou ferro”, para que a terra possa São Paulo tem menor taxa.
No Brasil, o desenvolvimentismo marcou o pós-guerra com especial atuação do governo Juscelino Kubitschek, entre
1956 e 1961. Sob o lema “desenvolveremos 50 anos em 5”, JK pôs em andamento o seu Plano de Metas. Com trinta metas
distribuídas entre os setores de educação, alimentação, transportes, energia e indústrias de base, o planejamento elabo-
rado pelo governo conseguiu alcançar um acelerado crescimento econômico, com todas as metas cumpridas ou até
mesmo ultrapassadas. O lado cruel esteve ligado ao também acelerado endividamento externo, ao processo inflacionário
desencadeado e à desnacionalização de setores da economia, tomados pelos investidores estrangeiros. A experiência de
planejamento do crescimento gerou novos planos mesmo depois de encerrado o ciclo nacional-populista em 1964. Em
todos os planos executados, no entanto, um aspecto ficou claro: não há desenvolvimento sem crescimento econômico,
mas nem todo crescimento se traduz mecanicamente em desenvolvimento.
Se entendemos que o desenvolvimento significa necessariamente a extensão dos benefícios à maioria da popu-
lação, o que vivemos no Brasil foi o crescimento acompanhado da concentração de renda. Com a maioria ficaram
os custos, e não os ganhos do crescimento.
Pensar é algo que certamente não se aprende; é a coisa o indivíduo se entrega às pressões sociais, sem perce-
mais compartilhada do mundo, a mais espontânea, a mais ber que a consciência coletiva acaba por delimitar
orgânica. Mas aquela também da qual se é mais afastado. suas visões de mundo, estamos diante de um caso de
Pode-se desaprender a pensar. Tudo concorre para isso. En- alienação. Agora, vamos analisar mais profunda-
tregar-se ao pensamento demanda até mesmo audácia mente esse conceito, tão importante para a Sociolo-
quando tudo se opõe, e, em primeiro lugar, com muita fre- gia moderna.
qüência, a própria pessoa! Engajar-se no pensamento re- Podemos chamar de alienado o elemento afasta-
clama algum exercício, como esquecer os adjetivos que o do do grupo, e de alienação, a transferência de pro-
apresentam como austero, árduo, repugnante, inerte, eli- priedade de um bem (como automóveis e jóias), ou
tista, paralisante e de um tédio sem limites. Frustrar as ar- até mesmo a insanidade mental. Mas há outros sen-
timanhas que fazem crer na separação entre o intelectual tidos para a palavra: no século XVIII, Jean-Jacques
e o visceral, entre o pensamento e a emoção. Quando se Rousseau definiu alienação como o fenômeno por
consegue isso, é como se fosse a eterna salvação! meio do qual os indivíduos perdem sua consciência
(Viviane Forrester, O Horror Econômico.) da vida concreta, deixando-se influenciar por ter-
ceiros e a eles transferindo seus direitos. Já para
Você concorda que vivemos numa sociedade em
Norberto Bobbio, ela seria a aculturação dos coloni-
que “tudo concorre” para que desaprendamos a
zados pelos colonizadores e a manipulação de mas-
pensar? Quais seriam as evidências disso? Quais as
sas pela mídia. Por isso, de maneira geral, a idéia de
conseqüências?
alienação ficou relacionada à perda de identidade, a
Um pouco de teoria uma situação de dependência, como se se tratasse de
uma característica exclusiva das classes subalternas.
Alienação e reificação
Isso é um erro: são passíveis de se alienar tanto do-
Já tratamos, em aulas anteriores, do conceito so- minados como dominantes. A alienação, na acepção
ciológico de fato social. Dissemos então que, quando marxista, é:
Tarefa mínima
Já virou senso comum dizer que o antídoto contra a alienação seria o acesso à informação. Sobre isso,
leia a tira e o texto que segue: