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Dr.

Pedro Moniz,

Vimos brevemente apresentar-lhe a situação emocional da Inês para ficar a conhecer melhor a sua
ficha clínica. Vamos tentar ser objetivos e apresentar os factos por pontos de modo a não alongar
muito esta exposição.

 Dos 5 aos 12 anos a Inês viveu e estudou em Inglaterra; regressou a Portugal em abril de
2000, durante a pandemia;
 Na escola inglesa foi identificada como sendo uma menina alegre, muito amiga dos outros,
mas com muita baixa estima;
 Dos 5 aos 10 anos a Inês corria atrás das meninas da turma, mesmo quando as outras fugiam
dela no recreio. Foi identificado pela psicóloga da escola como uma situação desesperada de
ter amigas e de se sentir integrada no grupo. No entanto, esta atitude tinha a reação inversa;
 Foi vítima de bullying verbal na escola (5-12 anos) com algumas crianças a demonstrar falta
de empatia;
 Com 12 anos, a melhor amiga que andava com ela na escola desde o ano 5, não a convidou
para a festa de anos porque as restantes amigas (também do mesmo grupo) não gostavam
da Inês. Diziam que ela era estranha. Esta situação marcou muito a Inês, possivelmente até
hoje;
 Tem crises de ansiedade desde os 8 anos, batendo nela própria quando está frustrada e
arrancava cabelos. As crises de ansiedade/stress acontecem agora na véspera dos testes,
mas agora já não arranca cabelos. Rói apenas as unhas, chora/grita muito e fica agitada;
 Entre os 7 e os 12 anos repetia todas as noites uma pergunta antes de adormecer e eu tinha
de responder sim à primeira pergunta e não à segunda. A frase não tinha muito sentido, em
Língua Portuguesa, seria: “é assim, não é mãe’? – SIM; e “não é assim, pois não?” – NÃO
 Mudámos para Portugal e ela ingressou numa escola pública (ano 8) não se adaptando
muito bem ao contexto escolar.
 Mudou para o Colégio da Nossa Senhora da Assunção, ano 9, em Anadia e o 1º ano também
não foi fácil. Nesse ano começou a perder peso progressivamente, foi identificada com
anorexia nervosa e tricotilomania no HUC, seção de psiquiatria de adultos. Entrou nas
consultas de distúrbios alimentares e está a ser seguida pela psicóloga Dra. Mariana
Marques. As consultas muito espaçadas no tempo não estão a ser suficientes.
 Como medicação tomou meio comprimido/dia do Zoloft e Seroxat durante um mês. Não se
adaptou bem, começou a ter falta de concentração nos estudos e a ter perda de memória.
Entrou em pânico. Retirou-se a medicação.
 Nos últimos meses tem uma coach que a tem ajudado muito a ganhar confiança. Com a
ajuda da psicóloga e da coach recuperou da anorexia, mas continua instável. Tem momentos
em que está bem e outros em que chora compulsivamente.
 Está agora no ano 10 e bem-adaptada ao colégio com amigas, mas continua a dizer que não
gosta dela e quer morrer para regressar noutro corpo. Só não o faz por causa de nós.
 Neste momento tem crises muito fortes de ansiedade antes dos testes; não quer ir ao
colégio nos dias em que recebe as notas e chora compulsivamente quando os testes não lhe
correm como gostaria (tira um 16 ou 17 e chora e se tirar um 14 ou 15 fica desesperada,
bate novamente nela própria);
 É uma boa aluna, muito exigente com ela própria. Acha que ser boa aluna é a única coisa
que tem de bom (palavras dela);
 Tem uma irmã de 13 anos, que tem uma personalidade muito diferente. É uma criança
despreocupada com a escola, sempre foi popular na escola e raramente chora, mesmo
quando está magoada. As duas são amigas, mas entram em conflito muitas vezes. Notamos
que são muito próximas quando estão sozinhas em férias, mas no dia-a-dia discutem com
muita frequência.
 A irmã dormiu com os pais até aos 5 anos de idade e ao meu colo no sofá até aos 9 anos. A
Inês sempre quis dormir sozinha, mas acho que esta situação a marcou pela negativa.
 Agora, na véspera dos testes, dorme comigo e só assim consegue adormecer.
 Ontem assumiu que não está nada bem e que precisa de mais ajuda ….

Resumindo, a Inês é uma menina muito amiga dos outros, sempre pronta a ajudar; vive para os
outros, tem espírito de missão e não compreende as injustiças de que foi vítima. Neste momento
não consegue controlar a ansiedade/stress antes dos testes e diz que é infeliz.

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