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ANA JÚLIA DA SILVA

VIVIAN ALVES PACHECO

DEFINIÇÃO DE DIREITO
Conceito e autocrítica

Araraquara - SP
2018
Introdução
Segundo Dimoulis (2013), em seu livro Manual de Introdução ao Estudo do
Direito, é desenvolvida a ideia de que a construção de uma definição para o direito
pode ser difícil, e ao mesmo tempo fácil. Difícil, pois nunca haverá apenas uma
única definição, e fácil pelo fato que todos os manuais de direito a possuem e/ou
qualquer pessoa, desde estudantes até um profissional da área jurídica podem dar
seu significado.
Dentre as definições dos pensadores apresentadas no livro, é citado
Immanuel Kant e sua obra A Metafísica dos Costumes, onde há uma reflexão a
respeito da ideia de que a lei usa do seu poder como uma forma opressora diante da
conduta das pessoas, sem fazer questionamentos da causa ou motivação que faz
ela optar por certo modo de agir. Kant afirma que o direito impõe limites aos
indivíduos com o objetivo de conciliar a liberdade de cada um com a dos demais.
Neste contexto, o presente trabalho tem a finalidade de demonstrar a visão de
direito de cada uma de nós, debatendo juntamente com o livro de Dimoulis e
elaborando uma autocrítica com base na música do cantor Emicida, Dedo Na Ferida.
Na letra, o compositor mostra indignação com a justiça brasileira e as falhas na sua
aplicação, não contemplando a população menos favorecida e não fazendo a devida
leitura das desigualdades sociais. Por fim, o presente trabalho estará mostrando
também a importância do papel do direito na sociedade e seus reflexos diante dela.

Conceito de Direito

“Qualquer ação é justa se for capaz de coexistir com a liberdade de todos de


acordo com uma lei universal, ou se, na sua máxima, a liberdade de escolher
de cada um puder coexistir com a liberdade de todos, de acordo com uma lei
universal.” (KANT, Immanuel. 2003, p.76)
Com base no pensamento de Kant, é demonstrado que o Direito é moldado
pela sociedade em que ele se insere, dependendo da moral dos indivíduos.
Portanto, a moral define os limites que devem ser impostos à uma sociedade, e o
Direito existe para coagir os indivíduos a obedecer tais limites. Logo, o interesse
coletivo prevalece sobre o individual, para assim haver uma ordem.
A Justiça, assim, age em favor do bem comum, evitando que uma classe se
beneficie mais do que a outra e considerando a sociedade como um todo. Kant
acredita que, com o advento do Direito, seria possível garantir a liberdade das
pessoas, pois as leis agiriam para a coexistência entre liberdade e o respeito na
sociedade, sem que ninguém tire os direitos do outro.

Ana Júlia: Juntamente com o livro de Dimitri Dimoulis, é desenvolvida a ideia


que o direito possui variadas definições, pois sua construção depende muito do
espaço onde ele se propaga, e com isto, permite a geração de seus reflexos em tal
sociedade. Reflexos, que regulamentam o comportamento das pessoas, fazendo
com que, teoricamente, elas tenham atitudes éticas, sem invadir o espaço de
liberdade de ninguém, o que se encaixa com a “ Regra de ouro” de Kant. Esta regra
diz que não devemos fazer algo que não gostaríamos que o outro fizesse, de certa
forma, é isso que impõem limites aos indivíduos.
Com base nesse pensamento, podemos dizer que o direito é aquele que
impõe suas regras e o seu poder sobre a população, visando procurar a melhor
solução possível em questões de igualdade, e também de garantir a segurança de
cada cidadão, fazendo com que eles tenham a sua liberdade, desde que o mesmo
possua consciência e atitudes que respeitem a lei.
E mesmo com essa finalidade que o direito procura sempre exercer,
devemos levar em conta que nem sempre a lei acaba sendo justa para
determinadas pessoas, e que o desrespeito a lei muitas vezes pode ser um
descontentamento ou revolta de determinado povo. Pode se dizer que estes
procuram por uma lei justa para que os seus direitos não sejam violados, e que a
igualdade se instaure definitivamente entre as pessoas, deixando de ser aquela
utopia que grande parte da sociedade sonha.

Vivian: Tomando novamente como base o pensamento de Dimitri Dimoulis, é


perceptível que o Direito é algo cuja definição depende muito do ponto de vista, do
espaço e do tempo. Segundo o autor, “a nossa definição deve especificar a qual
período e a qual ordenamento jurídico nos referimos, levando em consideração a
relatividade histórica do fenômeno jurídico”. Logo, o Direito é a adaptação. Ele é
semelhante ao bambu: tem uma estrutura firme, contudo é flexível, dependendo do
ambiente e por quem está sendo utilizado. Se curva, mas não quebra.

Autocrítica

Ana Júlia: Debatendo a música “ Dedo na ferida” do cantor Emicida com a


teoria Kantiana de Direito, percebe-se que a lei nem sempre age de maneira justa
com determinada sociedade. E com isso, anula totalmente a ideia que o direito
sempre buscará igualdade e melhor solução diante das situações que andam
surgindo no mundo. O preconceito e a falta de sensibilidade do Estado acaba
passando na frente no desenrolar de vários casos, e é exatamente através disso,
que surgem as revoltas, protestos e ate os descumprimendo das leis, pois a
população sempre buscará a justiça e por condições melhores para o seu povo,
mesmo que isso ultrapasse os limites da justiça imposta, pois é desta maneira que
se faz a revolução, como é visto em todas as lutas por direitos que aconteceram na
história do mundo.

Vivian: A definição kantiana de Direito, encontra um impasse, em razão de


nossa sociedade possuir a tendência de normalizar os grupos sociais e pré-
estabelecer quem está certo e quem está errado, com base em etnia, credo, poder
aquisitivo, entre outros fatores. Embora Kant sugira que, com o surgimento do
Direito, haveria um maior respeito à liberdade dos demais, a realidade brasileira não
revela o sucesso desse objetivo.

Visto como lixo, soterrado nos desabamento


Em favela, disse marighella. elo
Contra porcos em castelo
O povo tem que cobrar com os parabelo
Porque a justiça deles, só vai em cima de quem usa chinelo
E é vítima, agressão de farda é legítima. (EMICIDA, 2013)

O rapper Emicida, discorre sobre esse tema em sua música Dedo na Ferida
e, ao dizer “a justiça deles, só vai em cima de quem usa chinelo”, demonstra que a
Justiça defende apenas a liberdade dos mais favorecidos e que o Direito não está
exercendo seu propósito trazido por Kant.

Conclusão
Em virtude do que foi mencionado, nota-se que, na teoria, o direito foi criado
para mediar conflitos e organizar a sociedade, beneficiando todos igualmente.
Apesar disso, o Direito se mostra como uma força maior para induzir que as pessoas
tenham um determinado comportamento perante as outras. Numa sociedade com
desigualdades sociais, deve-se levar em conta as necessidades de cada grupo
social, impedindo assim que a lei seja controlada por um grupo específico.
A Justiça atinge cada classe social de maneira diferente, em um Estado
Democrático de Direito é fundamental que as leis tenham suas finalidades atingidas
com base na igualdade e que estas sejam válidas para todos. No Brasil, um exemplo
disso são as cotas sociais, em que há uma distinção feita nas leis, valorizando um
grupo social em detrimento do outro, com o objetivo de diminuir as desigualdades
entre as pessoas. Esse tipo de ação afirmativa é sustentado pelo princípio da
Isonomia, representado no Art. 5º da Constituição Federal de 1988 e conceituado
por Ruy Barbosa, baseando-se no pensamento aristotélico: “Devemos tratar
igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua
desigualdade”.
Na letra de Dedo Na Ferida, é apontado que ainda não foi atingido esse ideal.
O Direito deve não somente criar leis visando contemplar a todos, mas também
garantir a aplicabilidade dessas leis, para assim atingirmos uma Justiça igualitária e
a teoria de Immanuel Kant se tornar verdadeira na prática.

Referências bibliográficas
DIMOULIS, Dimitri. Definições do Direito. In: ______. Manual de Introdução ao
Estudo do Direito. São Paulo: RT, 2013.
EMICIDA. Dedo Na Ferida. Disponível em: <http://www.letras.mus.br/emicida/dedo-
na-ferida/>. Acesso em 10 março 2018.
KANT. Immanuel. Introdução À Doutrina do Direito. In: ______. A Metafísica dos
Costumes. São Paulo: EDIPRO, 2003.
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>.
BARBOSA, Ruy. Oração aos Moços. 2009.

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