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1 Neurociencia aplicada a arquitetura: a influencia do ambiente para o

desenvolvimento infantil

Em 2003, o termo neuroarquitetura passou a ser utilizado oficialmente,


fazendo referência aos estímulos que o cérebro recebe dependendo do ambiente em
que está. Ligando o trabalho de arquitetos, neurocientistas e psicólogos foi possível
aplicar ferramentas de diagnóstico a partir de exames (GONÇALVES; PAIVA,
2018), trazendo a possibilidade de analisar as áreas do cérebro que são ativadas
quando enxergamos determinadas imagens (BENCKE, 2018).
Assim, os projetos deixam de ser intuitivos e passam a estar baseados em
estudos científicos comprovados. Passa a ser possível criar espaços focados na
percepção de quem vai ocupá-los, transmitindo sensações pré-determinadas a
eles, dessa forma, estando bem acolhidos, podem desenvolver suas habilidades de
forma plena (CRÍZEL, 2020).
difícios serão projetados não apenas levando em

consideração a estética e a funcionalidade, mas focando nos

impactos gerados em níveis mais profundos no nosso

organismo, que escapam da percepção consciente.(Paiva, 2018)


À ação da arquitetura nos comportamentos, ações e estados emocionais é
discutida por Alain de Botton em seu livro "A Arquitetura da Felicidade", onde o
autor aborda como podemos explorar nossos espaços. Quando projetados
adequadamente, desempenham um papel significativo em moldar nosso humor e
bem-estar, refletindo na busca pela qualidade de vida.
DE BOTTON (2014), faz uma análise profunda da arquitetura, partindo da
ideia de que as construções "falam" conosco, seja por meio de suas formas,
referências ou mesmo personalidades e emoções humanas. Portanto, a forma como
planejamos ou assimilamos cores, sabores e texturas na arquitetura reflete como
percebemos o mundo, e, assim, a arquitetura tem o poder de transformar a maneira
como as pessoas vivem e como se veem.
Ao projetar espaços, podemos criar ambientes que tragam felicidade e
satisfação, não apenas para nós mesmos, mas também para os outros, mesmo que
isso ocorra de forma consciente ou inconsciente após essa autoanálise. Conforme
Alain de Botton destaca: "O fracasso dos arquitetos em criar ambientes agradáveis
reflete nossa incapacidade de encontrar a felicidade em outras áreas da vida. A má
arquitetura é, no final das contas, um fracasso tanto da psicologia quanto do projeto."

O Método Montessori tem como princípios fundamentais o ambiente e


suas relações. Maria Montessori, criadora do método, dizia que as crianças são
como esponjas, absorvendo todos os estímulos do ambiente em que estão
inseridos. Comprovasse que crianças que crescem em ambientes adequados a
elas, produzem substâncias cerebrais mais positivas e passam a obter aspectos
cerebrais como, rápida aprendizagem, mais motivação e concentração (MIGLIANI,
2021).
Desse modo, o ambiente no qual uma pessoa está inserida pode causar
profundas transformações em seu estado de ânimo e humor, seja de maneira positiva,
ao criar uma sensação de acolhimento, ou negativa, ao induzir a evasão. Essa
influência decorre do fato de que o ambiente desencadeia a produção de diferentes
substâncias no corpo, as quais podem, por sua vez, afetar tanto o humor quanto o
comportamento, a curto e a longo prazo (PAIVA, 2021).
Em seu artigo, Fred Gage corrobora com o conceito de que mudanças no
ambiente têm o poder de alterar o cérebro humano influenciando, por consequência,
o nosso comportamento. Quando planejamos os espaços em que vivemos de maneira
minuciosa, o projeto arquitetônico tem a capacidade de impactar nosso cérebro e,
consequentemente, nosso comportamento.
Piaget, psicólogo suiço, estudou sobre como as crianças adquirem
conhecimentos sobre a realidade, isso o levou a acreditar que esse
conhecimento é produzido através da reação que a criança tem sobre o
ambiente. Com base em seus estudos, ele apresenta quatro etapas desse
desenvolvimento, onde os dois primeiros são: o estágio da inteligência
sensório-motora, até os 2 anos de idade, quando a criança começa a
desenvolver capacidade de controlar seu reflexos, e, gradativamente, suas ações
motoras; e o estágio de inteligência simbólico ou pré-operatória, de 2 a 7 anos de
idade, quando a criança começa a contar com a capacidade de desenvolver
pensamento simbólico, tendo acesso a linguagem e ao pensamento. Podendo elaborar
imagens, que de algum modo lhe permite, transportar o mundo para sua cabeça
(CAVICCHIA, 2010).
A Educação Infantil é uma etapa essencial no processo de desenvolvimento
de crianças, visto que permite além do conhecimento pedagógico e lúdico, o
desenvolvimento motor, a interação social, a prática da linguagem e da lógica,
através de novas experiências vividas (OLIVEIRA, 2016 apud LAZARINI;
SGARBOSSA, 2021).
De acordo com esse entendimento, pode-se concluir que nessa faixa-etária o
pensamento da criança pode ser tomado pela representação imaginária, ou seja,
ela aprende melhor mediante à imagens e elementos lúdicos, não apenas por
meio de palavras.
Segundo Migliani (2021), os ambientes influenciam diretamente no
comportamento e nas emoções de seus usuários. Cerca de 90% do tempo de vida do
ser humano se passa em ambientes internos, por isso é tão importante que esses
ambientes favoreçam positivamente sua capacidade cerebral.

É importante destacar que apenas 5% desses efeitos são visíveis


externamente; os outros 95% ocorrem de forma imperceptível dentro do cérebro
(MARINHO, 2005). De acordo com Botton. (2006,p. 10):

“Ela proporcionou não apenas refúgio físico, mas também psicológico.


Tem sido uma guardiã de identidade.” (BOTTON, 2006, p. 10).

Nesse contexto, De Botton mostra que buscamos na arquitetura semelhante


ao que buscamos ao fazer amigos, pois os ambientes também têm uma linguagem
própria e expressam nossa identidade. Cada casa ou estágio de nossa residência
representa diferentes etapas e experiências de vida, refletindo nossas identidades
distintas para cada período.
REFERENCIAS

https://www.neuroau.com/post/entendendo-a-biofilia

https://www.neuroau.com/post/neuroarquitetura-e-biofilia-a-necessidade-primitiva-de-
natureza-que-o-ambiente-ajuda-a-suprir

https://www.neuroau.com/post/arquitetura-da-escolha-papel-do-ambiente-na-tomada-de-
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https://www.neuroau.com/post/anfa-2021-o-papel-do-ambiente-na-memoriza
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https://www.neuroau.com/post/concienciaemocionaleoambientefisico

https://www.neuroau.com/post/neurodiversidade-e-acessibilidade-insights-da-
neuroarquitetura

https://www.neuroau.com/post/neuroarquitetura-tempo-de-ocupa%C3%A7%C3%A3o-e-
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https://www.neuroau.com/post/anfa-2020-abordagem-para-categorizar-os-efeitos-da-
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https://www.neuroau.com/post/ambientes-para-crian%C3%A7as-e-a-neuroarquitetura

https://www.neuroau.com/post/os-olhos-do-corpo-percep%C3%A7%C3%A3o-
sensorialidade-e-a-neuroarquitetura

https://www.neuroau.com/post/neuroarquitetura-e-o-papel-das-emo%C3%A7%C3%B5es

https://www.neuroau.com/post/efeitos-da-cor-insights-da-neuroarquitetura

https://www.neuroau.com/post/emo%C3%A7%C3%B5es-e-sentidos-a-rela
%C3%A7%C3%A3o-entre-arquitetura-emo%C3%A7%C3%A3o-e-percep
%C3%A7%C3%A3o

https://www.neuroau.com/post/neuroarquitetura-emo%C3%A7%C3%A3o-e-decis
%C3%A3o

https://www.neuroau.com/post/a-neuroarquitetura-e-os-desafios-da-arquitetura-hospitalar-
parte-i

https://www.neuroau.com/post/principios

https://www.neuroau.com/post/neuroarquitetura-o-que-%C3%A9-isso

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