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Infelizmente não pude comparecer ao FITU pois fui selecionada para uma residência
artística chamada Fôlego 1 para a criação de uma peça que será dirigida por Pedro
Kosoviski. Dentro da engrenagem da proposta de criação da peça a performatividade é um
elemento crucial para o levantamento das ideias levantadas. Kosoviski ao apresentar suas
peças teatrais pelo Brasil, se atentou a um movimento muito cotidiano de pós peça : A roda
de conversa. É muito comum após as apresentações teatrais, como contrapartida, a
atividade de conversar sobre a peça com a platéia. Os atores suados, com o figurino pela
metade são provocados sobre seus trabalhos, a platéia deixa de ser platéia para uma
relação de maior horizontalidade, extingue-se os protagonismos e a relação persiste e
preenche todo aquele espaço. Em tempos nublados como o nosso, de muitos
silenciamentos, Kosoviski notou que as rodas de conversa tem ganhado mais força do que
muitas vezes o próprio espetáculo. Após dividirem essa experiência viva que é o teatro, as
pessoas sentem-se confortáveis não só para falar sobre a peça mas também sobre si
mesmo, sensações para além da obra, política, memórias, declarações, desabafos e
diversas opiniões. A ideia de Kosoviski é realizar uma peça que na verdade é uma roda de
conversa de um pós peça, em que a participação do público será altamente afetada em sua
obra. A peça está em construção não sabe-se o que poderá se tornar, mas durante a
oficina/criação toda interferência performativa era bem vinda a qualquer momento. Seja
durante uma fala de alguém, de um exercício, fora do espaço de jogo o que tornava a
residência uma experiência intensa de corpos, discursos e suas formas de escuta. Como
mote para o trabalho começamos a estudar as maneiras de estar e se organizar em roda e
seus desdobramentos. Uma questão que me chamou a atenção foi a do fato da roda ser
uma opção democrática, em que todos se olham de maneira horizontal mas também um
lugar opressivo por não haver formas de esconder-se. Para olhar a todos é preciso se
deixar olhar e a medida que somos olhados e olhamos em suas tensões e relaxamentos é
possível notar o corpo performativo se estabelecendo; é e não é um ator, uma cena, um
acontecimento. Falarei aqui sobre duas performances realizadas durante a residência que
mais chamaram a atenção:
1- Uma roda por uma prova de amor: A performer recebia o público entregando-os uma
cadeira e dizia que gostaria da nossa ajuda para formar uma roda com provas de amor.
Uma menina se prontificou a pegar mais de uma cadeira e oferecer seu lugar para algumas
pessoas, outra entrou na roda falando sobre o seu pai, um casal com um grande beijo, um
mais rebelde jogou a cadeira e gritou: “amor é o caralho, chega de romantismo!” Outro
carregou mais cadeiras que conseguia deixando-as cair no chão prontamente ajudado por
outro alguém. A performer sentada olhava a construção da roda vestida de atenção. Foi
muito interessante perceber as diversas relações que uma expressão “ prova de amor”pode
gerar e ser interpretada. A memória chega primeiro que a palavra, o cheiro de alguém, a
experiências que nos aproxima da expressão. Outra questão que me atentou foi em como o
sentido de - prova de amor- está ligado para muitas pessoas a sacrifício, deixar de fazer
algo por si para fazer pelo outro e em muitas vezes em se prejudicar. Talvez seja a palavra
“prova”que pese o amor. O casal que caiu em um longo beijo encontrou outro significado o
provar no sentido de saborear o amor. Eram apenas cadeiras, uma performer e uma
sugestão. Simples e explosivo.
2- A performance de uma peça: Um ator com uma mochila diz que vai realizar uma peça
sobre o Van Gogh mas que precisa da ajuda de todos. “Quem vai ser o diretor?”
“Maquiador?” “Cenógrafo?” o ator vai distribuindo funções e as pessoas em volta vão se
empenhando para a construção da peça. Uma pinta o rosto do ator, outra o veste enquanto
um grupo pensa no cenário, o produtor corre de um lado para o outro e aos poucos uma
peça vai sendo elaborada em segundos. O ator faz 2 minutos de peça e senta em roda de
conversa para conversar sobre o trabalho e na roda de conversa dá a possibilidade das
pessoas que se prontificaram a montar a peça com ele a conversar sobre seus conceitos. A
cena não cena ficou bastante caracterizada nesse trabalho, era uma espécie de ficção em
que as pessoas que participavam entravam sendo elas mesmas, porém no final havia
espaço para a imaginação, para a criação de conceitos, havia espaço para o “e se…” Era
uma linha tênue entre a brincadeira, a cena, o absurdo e a realidade.
Observações finais: