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APRESENTAÇÃO

Finalmente, chegamos ao nosso último bloco! Quero te parabenizar por chegar até aqui.
Foi um processo que imagino ter sido recheado de desafios, mas também de possibilidades.
Estudar é uma atividade que exige esforço e ao mesmo tempo é recompensadora principalmente
quando estamos comprometidos com nossa formação.
Para além de te parabenizar quero que você também faça um exercício de autorreflexão.
Agora é o momento de parar e olhar para si, buscando responder as questões: como foi meu
processo de estudo nesse semestre? Consegui atender as minhas metas? Consegui dar conta das
exigências das disciplinas e dos(as) meus(minhas) professores(as)? Consegui participar
ativamente de minhas aulas? Consegui organizar minhas atividades de estudo e não deixar tudo
para última hora? Quais foram as dificuldades encontradas? Como as superei? Quais mudanças
notei em meu comportamento agora que estou no ensino superior? Responder essas questões
vai te possibilitar realizar uma autoanálise da sua atuação como estudante, também vai te
possibilitar verificar quais foram as lacunas nessa atuação, te ajudando assim a propor ações
que possam suprir essas lacunas identificadas.
Como bem diria um ex-professor meu: estudante precisa estudar, se fosse para relaxar,
seu nome seria relaxante. Isso indica que estudar é uma atividade que exige de você cumprir
alguns critérios e compromisso pessoal, ou seja, exige dedicação. Retomando o que falamos no
Bloco I: estudar é realmente um trabalho difícil que demanda disciplina intelectual que só se
ganha praticando-a (FREIRE, 1982). Mas isso não significa que não seja prazeroso. Como
aquele velho ditado costuma dizer: as melhores coisas da vida não são fáceis!
Frente a isso, vamos dar o pontapé no debate do Bloco VI? Após vivenciarmos no V o
o processo de elaboração do projeto de pesquisa, partiremos para o passo seguinte, que é o de
colocar em prática essa pesquisa. Os itens a serem desenvolvidos no processo de ação do projeto
são: a coleta de dados, a análise do material colhido e sua sistematização e, finalmente, as
considerações finais. Ao final desse trabalho, o que teremos em mãos pode ser transformado
em um artigo, TCC, monografia, dissertação, tese, livro, ensaio, paper, dentre outros. Por isso
mesmo, temos por objetivo neste Bloco VI apresentar as diferentes formas de comunicar uma
pesquisa científica, evidenciando como se analisa os dados coletados em uma pesquisa.
Aviso: não deixe de verificar o material complementar dos blocos, disponíveis no
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), pois em nossos ebooks fazemos um debate mais
conciso sobre as temáticas. No material complementar você vai poder ter acesso aos textos que
são referência na área da Metodologia e que também serviram de base para a produção dos
ebooks de nossa disciplina. Portanto, apesar dos ebooks serem a base de nossa atividade de
estudo, você não deve se resumir a eles, ok? Então, vamos lá para nosso debate final!

1 COLETA DE DADOS
Após realizado o projeto de pesquisa, sendo ele aprovado pelo(a) seu(sua)
professor(a)/orientador(a), você desenvolverá efetivamente a pesquisa. Isso porque o projeto
trata-se do planejamento das ações que você pretende realizar na pesquisa, sendo necessário
depois disso partir para a coleta de dados. A coleta de dados se refere, portanto, à busca de
informações necessárias para responder ao problema da investigação. Dessa forma, “se as
informações empregadas no início da pesquisa são, às vezes, vagas ou incompletas, a coleta de
dados necessários à etapa da verificação deve ser sistemática, ordenada e a mais completa
possível” (LAVILLE, DIONNE, 1999, p. 165). Isso implica dizer que para coletar os dados
será preciso que você defina quais instrumentos e procedimentos irá se utilizar.
Assim, tendo que responder a um problema e atender à determinadas metas que se
materializam nos objetivos, o(a) pesquisador(a) vai desenvolvendo um raciocínio
demonstrativo e para fazer isso recorre a um volume de fontes suficientes para cumprir a tarefa
que se propôs.
Por exemplo, na minha pesquisa de mestrado intitulada “Os sentidos partilhados sobre
estágio supervisionado e as contribuições para a prática docente do professor com experiência
docente” eu procurei perceber o dito, o não dito e o silenciado dos sentidos atribuídos ao
componente curricular estágio supervisionado em três grupos de produção do discurso: as
publicações científicas, os projetos curriculares e os professores em formação do curso de
Pedagogia, de duas instituições de ensino superior de Caruaru. Para responder ao meu problema
de pesquisa que dizia respeito à: “Quais sentidos são construídos sobre estágio supervisionado
a partir do movimento discursivo e quais são as contribuições deste componente curricular para
a prática docente do professor com experiência?”, precisei coletar os dados nesses três grupos
mencionados anteriormente. Ou seja, precisei recorrer a um volume de fontes suficientes para
cumprir a tarefa a que me propus.
Por isso, inicialmente recorri às fontes bibliográficas dos trabalhos científicos
publicados nas reuniões da ANPEd (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Educação), EPENN (Encontro de Pesquisa Educacional Norte e Nordeste), BDTD da UFPE
(Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade Federal de Pernambuco), o
ENDIPE (Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino) e para o BDTD da Capes (Banco
Digital de Teses e Dissertações da Capes). Ao todo foram selecionados 118 trabalhos, sendo
estes localizados da seguinte maneira:

ANPEd BDTD da UFPE EPENN


Estágio Estágio Estágio
Supervisionado: 6 Supervisionado: 3 Supervisionado: 35
Prática Docente: 5 Prática Docente: 2 Prática Docente: 9

ENDIPE BDTD da Capes


Estágio Estágio
Supervisionado: 40 Supervisionado: 8
Prática Docente: 10

Posteriormente, tive como fonte da pesquisa os documentos de duas instituições do


ensino superior, correspondendo aos projetos curriculares do curso de Pedagogia dessas
instituições localizadas na cidade de Caruaru. Ao mesmo tempo em que tinha como fonte os
projetos curriculares, precisei definir também quais seriam os sujeitos da pesquisa. Isso foi
realizado através de questionário sócio-profissional que me permitiu visualizar os sujeitos que
já detinham cinco anos ou mais de experiência na docência, tendo em vista que meu objeto de
pesquisa pedia a análise dos discursos sobre as mudanças na prática docente do professor em
formação a partir da vivência com o Estágio Supervisionado. Por essa razão escolhi aplicar o
questionário nos últimos períodos (8º período no caso da Instituição A, e 8º e 9º períodos no
caso da Instituição B) dos cursos de Pedagogia das instituições. Cheguei a um total de nove
professoras em formação tendo entre 5 a 12 anos de experiência na docência, sendo realizadas
entrevistas com esses sujeitos.
A partir do exemplo de minha pesquisa, você consegue perceber quais foram as fontes
da coleta de dados? Ficou claro que precisei me utilizar de diferentes fontes? Então, coletei os
dados me utilizando de fontes bibliográficas, documentais, de questionários e de entrevistas.
Todos esses instrumentos e procedimentos me ajudaram a coletar os dados e a responder meu
problema de pesquisa. Para te ajudar a entender melhor os instrumentos e procedimentos de
coleta de dados, apresento a seguir alguns deles.

1.1 Fontes Bibliográficas


De acordo com Severino (2007), trata-se de documentos que se definem pela natureza
dos temas estudados e pelas áreas em que os trabalhos se situam. Esses documentos são
basicamente textos, como livros e artigos. Os principais lugares para coletar fontes
bibliográficas são: o portal da Capes (www.capes.gov.br), onde há possibilidade de acesso a
periódicos de todas as áreas, bem como a teses e dissertações defendidas nos Programas de Pós-
Graduação de todo o país; o portal Scielo (www.scielo.br), que armazena todos os artigos das
principais revistas científicas especializadas do Brasil e do mundo nas diferentes áreas; o
sistema de bibliotecas (www.usp.br/sibi), portal que permite o acesso a todos os acervos das
bibliotecas das universidades interligadas em sistema de rede. “De modo geral, todas as
Universidades têm hoje seus acervos documentais disponibilizados em seus sites, podendo ser
acessados pelo público” (ibdem, p. 136). Você também pode acessar os trabalhos publicados
no evento do NUPIC (Núcleo de Pesquisa e Iniciação Científica) da FAFIRE, que te
possibilitará verificar as pesquisas realizadas pelos(as) professores(as) e estudantes de nossa
instituição, assim como você também pode acessar os trabalhos publicados em nossas revistas
(Revista FAFIRE e Lumen). Para ter acesso a essas publicações basta entrar no site da
instituição (https://publicacoes.fafire.br/).

1.2 Fontes Documentais


Segundo Laville e Dionne (1999) “um documento pode ser algo mais que um
pergaminho poeirento: o termo designa toda fonte de informações já existente” (p. 166). As
fontes documentais se diferenciam das fontes bibliográficas, porque as documentais ainda não
passaram por tratamento de análise. Estou me referindo, portanto, às fontes impressas desde
publicações de organismos que “definem orientações, enunciam políticas, expõem projetos,
prestam conta de realizações, até documentos pessoais, diários íntimos, correspondência e
outros escritos em que as pessoas contam suas experiências, descrevem suas emoções [...]”
(ibdem). Mas para além das fontes impressas, também são considerados documentos aquilo que
é sonoro e visual, tais como discos, fitas magnéticas, fotos, pinturas, desenhos, filmes, vídeos.
Assim, “pouco importa sua forma, os documentos apontam informação diretamente: os dados
estão lá, resta fazer sua triagem, criticá-los, isto é, julgar sua qualidade em função das
necessidades da pesquisa, codificá-los ou categorizá-los” (ibdem, p. 167).

1.3 Observação
A observação pode ser vista como forma privilegiada de contato com a realidade.
Entretanto “para ser qualificada de científica, a observação deve respeitar certos critérios,
satisfazer certas exigências: não deve ser uma busca ocasional, mas ser posta a serviço de um
objeto de pesquisa, questão ou hipótese, claramente explicitado” (LAVILLE; DIONNE, 1999,
p. 176). Isso implica dizer que a observação como técnica de pesquisa não é contemplação, não
é simplesmente ter um olhar atento, “é essencialmente um olhar ativo sustentado por uma
questão e por uma hipótese” (ibdem). Dessa forma, entendemos que ao observador não basta
simplesmente olhar.
Deve certamente saber ver, identificar e descrever diversos tipos de interações e
processos humanos, além disso [...] é importante que no seu trabalho de campo o
observador possua suficiente capacidade de compreensão, paciência, espírito alerta,
sensibilidade e, ainda bastante energia para concretizar sua tarefa. (VIANNA, 2003,
p. 12).

A observação também pode ser participante ou não-participante. Na observação não-


participante o pesquisador se abstém de qualquer intervenção no campo de pesquisa, o objetivo
é analisar a realidade social a partir de uma perspectiva externa. “É uma tentativa de observar
eventos que acontecem naturalmente. Resta a dúvida até que ponto esse objetivo possa ser
consumado, uma vez que seja como for, o ato de observação influencia o observado” (FLICK,
2009, p.207). Já na observação participante, o pesquisador se torna um nativo daquele contexto
pesquisado, pressupondo, portanto, “um período mais longo no campo e em contato com
pessoas e com contextos a serem estudados” (ibdem, p. 212).
Importa salientar, que atualmente há um questionamento sobre como a presença do
pesquisador realizando as observações pode influenciar o campo de pesquisa. Ou seja, sua
presença pode afetar o comportamento dos atores observados. Desse modo, é necessário
minimizar esses efeitos através, por exemplo, do hábito e frequência com o que o(a)
pesquisador(a) se apresenta no campo.
Sobre isso, analise a tirinha abaixo. Veja que nela há uma criança brincando e o pai se
interessa em tirar uma foto. Quando ele volta a criança está na mesma posição? Há alguma
mudança no comportamento da criança? Como isso se relaciona com a discussão sobre
observação que acabamos de fazer? Apresente suas impressões em nosso fórum de discussão
do bloco VI.
Fonte: LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências
humanas. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda; Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

1.4.Questionário
Para além da observação, há ainda técnicas e instrumentos que permitem ter acesso aos
depoimentos de pessoas, suas representações, crenças, valores, opiniões, projetos etc. Uma
dessas técnicas de coleta de dados é o questionário que consiste em “preparar uma série de
perguntas sobre o tema visado [...] Para cada uma dessas perguntas, oferece-se aos interrogados
uma opção de respostas, definida a partir dos indicadores, pedindo-lhes para que assinalem a
que corresponde melhor à sua opinião” (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 183). Estou me
referindo, desse modo, ao questionário padronizado que pode ser utilizado como sondagem ao
tema de pesquisa ou como forma de selecionar os sujeitos que participarão da investigação,
assim como demonstrei no exemplo da minha pesquisa de mestrado. Entretanto, a utilização
dos questionários não se resume a isso, eles também podem ser instrumentos que possibilitam
acessar às informações essenciais para responder à pergunta proposta pelo pesquisador.
É possível ainda, construir questionários que permitem respostas abertas, onde
diferentemente do tipo de questionário anterior, não se oferecem opções de respostas. Ele
possibilita ao investigado “exprimir seu pensamento pessoal, traduzi-lo com suas próprias
palavras, conforme seu próprio sistema de referência” (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 186).
A seguir insiro o questionário socioprofissional que elaborei no mestrado e que me
ajudou a selecionar os sujeitos que seriam submetidos às entrevistas. Esse exemplo vai te ajudar
a visualizar as especificidades deste instrumento de coleta de dados:
Fonte: produção da própria autora

1.6 Entrevistas
As entrevistas, assim como os questionários, permitem ter acesso aos depoimentos de
pessoas. Assim “o pesquisador consegue os mesmos ganhos que no caso do questionário,
principalmente pelo fato de que, deixando o entrevistado formular uma resposta pessoal, obtém
uma ideia melhor do que realmente pensa” (LAVILLE, DIONNE, 1999, p. 187). Entretanto, a
entrevista oferece maior amplitude que o questionário no que se refere a sua organização. Isso
porque nos questionários o(a) pesquisador(a) fica preso aos documentos entregues aos sujeitos
investigados e podem, inclusive, não receber as respostas. Contrariamente, nas entrevistas, o(a)
pesquisador está frente a frente com os sujeitos podendo explicitar algumas questões,
reformulá-las caso os sujeitos não tenham compreendido bem, sendo também possível
“acrescentar perguntas para fazer precisar uma resposta ou para fazê-la aprofundar: Por quê?
Como? Você pode me dar um exemplo? E outras tantas subperguntas que trarão frequentemente
uma porção de informações significativas” (ibdem, p. 188).
Esse tipo de entrevista se distancia, portanto, da categoria entrevista estruturada, porque
traz flexibilidade à técnica de coleta de dados. Ela é mais utilizada em pesquisas qualitativas e
são denominadas de entrevistas do tipo semi-estruturadas e não-estruturadas. Nesses dois tipos
de entrevistas se procura ampliar o papel do(a) entrevistado(a) ao fazer com que o(a)
pesquisador(a) mantenha uma postura aberta no processo de interação. Seu objetivo é evitar
que a entrevista tenha um roteiro fechado o qual não permite ao(a) entrevistado(a) se expressar
mais livremente.
Assim, na abordagem qualitativa de pesquisa – baseada na compreensão da realidade
humana vivida socialmente – a entrevista deverá garantir a representatividade dos significados,
permitir certa liberdade aos(às) entrevistados(as) com um roteiro de entrevista mais flexível,
bem como submeter as interpretações do(a) pesquisador(a) à avaliação crítica dos participantes
da pesquisa, garantindo assim, certa confiabilidade dos dados.
Já na abordagem quantitativa de pesquisa – baseada na quantificação e controle das
variáveis – a entrevista deverá obedecer a um roteiro estruturado, sendo os entrevistadores
neutros ao ignorarem a interação com os entrevistados. Ou seja, esse tipo de pesquisa costuma
fazer uso das entrevistas estruturadas. É possível então, perceber que a entrevista poderá ter
diferentes significados e se materializará de diferentes maneiras dependendo da abordagem
teórica em que ela estiver baseada e do tipo de pesquisa que se estiver desenvolvendo.
Sobre a seleção dos sujeitos a serem entrevistados, se considera que o fundamental é
que essa seleção seja feita de forma a ampliar a compreensão do tema e explorar as variadas
representações sobre determinado objeto de estudo. De acordo com Dantas e Gondim (2004) o
número de entrevistas individuais de uma pesquisa deve oscilar entre 15 a 25, e entre 6 e 8 no
caso de entrevistas grupais. Contudo, não considero que fixar um número de entrevistas possa
necessariamente garantir a confiabilidade de uma pesquisa, sendo mais importante os critérios
para seleção dos entrevistados, buscando o atendimento aos objetivos da investigação.
Importa salientar, no entanto, que esses instrumentos não são as únicas possibilidades
de coleta de dados, tantos outros são possíveis. Por isso é importante ter acesso às pesquisas
desenvolvidas na sua área para entender quais são os instrumentos mais utilizados. Outro
aspecto a se considerar é que os instrumentos vão variar dependendo do seu objeto de estudo,
ou seja, nem toda pesquisa precisará utilizar questionários, nem entrevistas, nem observações.
Associado a isso, e retomando o que discutimos no Bloco IV, lembro que uma das
características do(a) pesquisador(a) é a imaginação disciplinada. Dessa forma, é possível que
o(a) pesquisador(a) também construa outros instrumentos. Assim, “os modos de coleta de
informações são muito diversificados e não têm limite senão na imaginação fértil dos
pesquisadores” (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 195).
Após colher os dados, a pesquisa dá prosseguimento, restando ao(à) pesquisador(a)
analisar o material acumulado, interpretando-o a luz do seu referencial teórico e tirar suas
conclusões. Isso é feito na análise dos dados, elemento a ser tratado a seguir.

2. ANÁLISE DOS DADOS


Com os dados em mãos, o(a) pesquisador(a) vai inicialmente precisar, antes de analisá-
los e interpretá-los, desenvolver os seguintes passos: selecionar, codificar e tabular os dados.
Segundo Marconi e Lakatos (2003), a seleção se constitui como o exame minucioso dos dados,
onde “de posse do material coletado, o pesquisador deve submetê-lo a uma verificação crítica,
a fim de detectar falhas ou erros, evitando informações confusas, distorcidas, incompletas, que
podem prejudicar o resultado da pesquisa” (p. 166). Esse processo é necessário porque muitas
vezes podemos ter uma grande quantidade de dados e nem tudo será relevante para responder
a nossa pergunta de investigação. Ainda segundo as mesmas autoras, a codificação se refere à
categorização dos dados que se relacionam, e a tabulação diz respeito à “disposição dos dados
em tabelas, possibilitando maior facilidade na verificação das inter-relações entre eles”
(MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 167).
Depois de realizado esses três processos, é o momento de analisar e interpretar os dados.
Análise e interpretação precisam estar intimamente vinculadas, fazendo-se paralelamente e
conjuntamente. Dessa forma, a análise ou explicação corresponde à “tentativa de evidenciar
as relações existentes entre o fenômeno estudado e outros fatores” (ibdem). A interpretação se
configura como “a atividade intelectual que procura dar um significado mais amplo às
respostas, vinculando-as a outros conhecimentos. Em geral, a interpretação significa a
exposição do verdadeiro significado do material apresentado, em relação aos objetivos
propostos e ao tema” (ibdem, p. 168).
A análise e interpretação dos dados precisam ainda se produzir vinculadas às
perspectivas teóricas evidenciadas no projeto de pesquisa. Essas perspectivas vão permitir
entender os dados sob determinado olhar. Isso implica dizer que o referencial teórico do(a)
pesquisador(a) precisará ser mobilizado na leitura dos dados. Para facilitar a compreensão posso
retomar o exemplo de minha pesquisa de mestrado. O fato de me utilizar de uma perspectiva
teórica que pensava o estágio supervisionado na formação de professores enquanto investigação
da prática a partir de um olhar teoricamente orientado (PIMENTA; LIMA, 2004) me permitiu
chegar à conclusão com meus dados que o estágio é atividade teórica e prática, eixo articulador
da formação, espaço de reflexão sobre os saberes experienciais em diálogo com os
conhecimentos veiculados na academia. Essa análise só foi possível por causa dos meus
vínculos teóricos.
Portanto, não há como desenvolver uma análise descolada do referencial teórico
proposto na pesquisa, assim como não há como desenvolver uma análise deslocada do problema
e dos objetivos de investigação. Ao analisar os dados é preciso ter o tempo todo em mente: o
que eu quero responder com essa pesquisa? Os meus dados me ajudam a responder minha
pergunta de pesquisa? Consegui responder a minha pesquisa? Consegui atender a todos os meus
objetivos?

3. CONCLUSÕES
Após a apresentação, análise dos dados e interpretação dos resultados, o(a)
pesquisador(a) produz suas conclusões, que segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 232) “deve
evidenciar as conquistas alcançadas com o estudo; indicar as limitações e as reconsiderações;
apontar a relação entre os fatos verificados e a teoria; representar ‘a súmula em que os
argumentos, conceitos, fatos, hipóteses, teorias, modelos se unem e se completam’ (Trujillo
Ferrari, 1982:295)”. Ou seja, as conclusões se referem à síntese comentada das ideias essenciais
e dos principais resultados obtidos durante a pesquisa, sendo necessário ser produzida com
precisão e clareza.

4. TRABALHOS CIENTÍFICOS
Vimos no Bloco V como propor um projeto de pesquisa e ao longo deste Bloco fomos
entendendo como a partir do projeto colocamos a pesquisa em prática através da coleta e análise
dos dados. Entretanto, a pesquisa precisa ser sistematizada em texto acadêmico, havendo
diferentes formas que esses textos podem se materializar.
TRABALHOS ACADÊMICOS
TIPO CARACTERIZAÇÃO
Projeto de Trata de um planejamento prévio de uma pesquisa a ser realizada. Deve apresentar as fases
de realização da pesquisa, os procedimentos metodológicos a serem seguidos, além de
pesquisa
abordar ligeiramente o referencial teórico da pesquisa. Muito comum nos cursos de
graduação e pós-graduação, já que, em ambos os níveis, trabalhamos, necessariamente, com
pesquisa.

Artigo Texto no qual se discutem resultados de pesquisa científica, devendo envolver o objeto
pesquisado, os métodos e as técnicas da pesquisa, os resultados (provisórios ou definitivos)
científico
e as conclusões a que se chegou. Seu objetivo é a publicação em periódicos científicos e/ou
apresentação em encontros de pesquisa.
Paper Normalmente é elaborado para comunicação rápida em encontros de pesquisa e/ ou palestras
etc. É um pequeno artigo em que se ideias fundamentais sobre um determinado tema são
brevemente mostradas, sem, no entanto, desenvolver ad nausean tais ideias. Normalmente
usado também para apresentação de resultados de pesquisa, sem aprofundamento maior.

Relatório Documento em que se relatam os resultados de pesquisas realizadas ou em andamento,


normalmente exigido de alunos e/ou pesquisadores.
técnico
científico
Monografia Documento que descreve um estudo minucioso sobre um tema relativamente restrito. É
normalmente exigido por ocasião da conclusão dos cursos de graduação e de pós-graduação
em nível de especialização. É também conhecido como TCC - Trabalho de Conclusão de
Curso.

Dissertação Documento normalmente elaborado tendo em vista a conclusão de cursos de mestrado. Trata
de um único tema que deve ser discutido em profundidade, demonstrando revisão da
literatura existente a respeito, assim como análise de dados coletados empiricamente,
quando for o caso. Exige a orientação de um professor-pesquisador da área.

Tese Documento exigido nos cursos de doutoramento, na livre-docência etc. Trata de pesquisa
científica em torno de um assunto, tema ou fato qualquer ainda não tratado cientificamente.
Uma das exigências é a da originalidade, isto é, deve ser fruto de pesquisa original.

Fonte: SILVA, A. M. da. Metodologia da pesquisa. Fortaleza, CE: EDUECE, 2015.

Assim, os tipos de textos científicos citados no quadro anterior, são exemplos de como
as pesquisas podem ser sistematizadas, organizadas e comunicadas. É importante que você
identifique as diferenças, pois ao longo de sua vida no ensino superior alguns desses tipos
mencionados vão ser requeridos, principalmente o artigo, paper, e o TCC.
Dessa forma, entendemos que a pesquisa deve ser comunicada, publicizada, pois é dessa
forma que ela contribui para o progresso da ciência. E uma das formas privilegiadas de
publicização do conhecimento científico é a produção de artigos. De acordo com Laville e
Dionne (1999, p. 247) “o artigo é provavelmente o meio por excelência para a comunicação da
pesquisa. É nas revistas que se vê melhor e mais rapidamente a ciência que se faz; é nelas que
a comunidade pode avaliar a justa medida da pesquisa, pois o(a) pesquisador(a) precisa dizer o
essencial e com concisão” já que as páginas são limitadas. Assim, o artigo tem por objetivo
ampliar e divulgar o conhecimento, devendo ser apresentado “segundo a Norma Brasileira NBR
6022 de 2003, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e as normas editoriais
adotadas pela publicação periódica científica impressa escolhida pelo autor” (ZANELLA,
2013, p. 87). Verificar as normas de cada revista é muito importante, tendo em vista que mesmo
seguindo a ABNT, algumas revistas podem trazer especificidades que deverão ser levadas em
conta na hora de submeter um artigo para avaliação.
A estrutura geral de escrita do artigo é um texto corrido, lembrando que a quantidade de
páginas é definida pelo local de publicação ou mesmo pelo periódico, ou seja, as revistas,
impressas ou digitais, ou pelo evento acadêmico. Na escrita do artigo para publicação, ainda há
que se observar se são levadas em consideração as normas da ABNT, as de Vancouver ou as
da APA, além da necessidade ou não do trabalho ter sido submetido ao Comitê de Ética antes
da publicação. Segue a estrutura geral de um artigo:
- Título
- Instituição
- Autor e seu mini currículo e contato
- Orientador(a)

a) Resumo;
b) Introdução;
c) Referencial teórico-metodológico;
d) Análise dos dados;
e) Conclusão.

Fonte: produção da própria autora

Em nossa instituição há duas revistas (Revista FAFIRE e Lumen) que podemos publicar
artigos científicos produtos da sistematização de nossas pesquisas. Mas é preciso considerar
suas normas, apresentadas na íntegra a seguir:

1. Serão recebidos trabalhos no gênero artigo científico, ensaio, entre outros que expressem, com
qualidade conteudística e formal, a produção científica e cultural do meio/contexto acadêmico.
2. A produção de discentes submetida ao Conselho Editorial para publicação nas revistas Lumen e
FAFIRE deverá ser realizada sob a orientação de um docente da mesma área da pesquisa, cujo nome
deverá constar paralelamente ao do autor.
3. Todos os trabalhos serão apreciados pelo Conselho Editorial da FAFIRE, devendo ser,
preferencialmente, inéditos. Caso não sejam, poderão ser aceitos, desde que referenciada a
publicação anterior em nota de rodapé.
4. Os artigos originados de projetos de pesquisas que envolvam o acesso direto a seres humanos, ainda
que seja apenas a aplicação de questionários, contação de histórias, estudo de caso nas escolas, ou
mesmo a simples manipulação de prontuários, etc., deverão ter sido enviados ao Comitê de Ética
em Pesquisa, via Plataforma Brasil, precisando, portanto, apresentar o nº do CAAE (Certificado de
Apresentação para Apreciação Ética), gerado automaticamente, o qual sinaliza o projeto como
aceito e viável.
5. Os trabalhos apresentados para submissão ao Conselho Editorial deverão ser enviados por e-mail
institucional – publicacoes@fafire.br – em versão Word 97 ou superior, acompanhados de termo de
cessão de direitos autorais, conforme formulário disponibilizado no site, devidamente preenchido e
assinado, sendo um documento para cada um dos autores.
6. O trabalho deverá ser apresentado na seguinte sequência:
6.1. título em letras minúsculas, exceto a inicial ou quando houver nomes próprios; fonte 12, em
negrito e centralizado; logo abaixo deverá vir o título em língua estrangeira (em espanhol ou
inglês), em fonte do mesmo tamanho;
6.2. nome(s) do (s) autor(es) à margem direita, com o último sobrenome em caixa alta, fonte 12; os
principais credenciamentos do autor deverão constar em nota de rodapé, fonte 8;
6.3. resumo em português, fonte 10, inicial maiúscula, alinhamento justificado, espaço simples
entre linhas, seguindo-se da respectiva versão em língua inglesa (abstract) ou espanhola
(resumen); apenas o nome resumo e sua correspondente versão em língua estrangeira serão
grafados em negrito, seguidos de dois pontos; o resumo não deve ultrapassar 250 palavras;
6.4. palavras-chave na mesma configuração do resumo, contendo preferencialmente o mínimo de 3
palavras e o máximo de 6, separadas entre si por ponto final e espaço. A respectiva versão em
inglês (keywords) ou espanhola (palavras clave) deve vir abaixo do resumo correspondente;
6.5. apresentar Introdução; desenvolvimento do tema, distribuído em subtítulos; considerações
finais e referências, de acordo com as Normas da ABNT.
7. Quanto ao formato, o artigo deverá ter as seguintes características:
7.1. margens esquerda e superior: 3cm; margens direita e inferior: 2cm;
7.2. fonte Times New Roman, corpo 12, alinhamento justificado, espaço 1,5 entre linhas;
7.3. parágrafos com adentramento em 1 cm;
7.4. citações com até 3 linhas devem ser inseridas no corpo do texto, marcadas com aspas duplas;
7.5. a citação que ultrapassar 3 linhas deve ser recuada e inserida em parágrafo próprio, com recuo
de 4cm, fonte Times New Roman, corpo 10, alinhamento justificado, espaço simples entre
linhas. Para separar o texto da citação do corpo do trabalho, utilizar 1 linha em branco antes e
outra depois, no mesmo tamanho de fonte da citação;
7.6. as citações deverão ser seguidas de referências entre parênteses, nos quais constem o último
sobrenome do autor em caixa alta, o ano da obra e o número das respectivas páginas;
7.7. se o trabalho possuir subdivisão interna, os subtítulos de cada parte deverão ser grafados na
mesma fonte e corpo do texto, apenas a inicial maiúscula, destacados em negrito e posicionados
à margem esquerda, precedidos pelo numeral arábico correspondente à subdivisão, com apenas
um espaço de separação entre o numeral e o título da subdivisão;
7.8. as notas explicativas deverão ser inseridas, de preferência, utilizando o recurso "Inserir nota de
rodapé" (no caso do Microsoft Word) ou recurso semelhante. Devem aparecer ao pé da página
em que ocorre a inserção, em fonte Times New Roman, corpo 8, alinhamento justificado,
espaço simples entre linhas, precedidas pelo numeral arábico que as identifica;
7.9. as referências devem constar ao final do texto, em fonte Times New Roman, corpo 12, espaço
1,5 entre linhas. O termo Referências deve estar em negrito e não ser acompanhado de dois
pontos;
7.10. as palavras com emprego não convencional devem estar destacadas com aspas simples.
Deve-se empregar o uso de itálico para termos estrangeiros, neologismos e títulos de livros e
periódicos;
7.11. se houver ilustrações, a qualidade deve ser a necessária para uma boa reprodução.
Deverão ser identificadas, com título e legenda, e designadas, no texto, de forma abreviada,
como figura (Fig. 1, Fig. 2, etc.). Em caso de ilustrações já publicadas, mencionar a fonte;
7.12. as tabelas conterão título e, no texto, serão denominadas de forma abreviada (Tab.1,
Tab.2, etc.);
7.13. havendo anexos, serão colocados após as referências, apresentados em algarismos
romanos;
7.14. número preferencialmente de 08 a 12 páginas.
8. O processo de avaliação e aprovação dos trabalhos acadêmicos submetidos ao Conselho Editorial
se fará através de revisão por pares ou revisão paritária.
9. Os trabalhos deverão ser acompanhados Termo de Cessão de Direitos Autorais à FAFIRE, em
modelo disponibilizado na página da faculdade
10. O trabalho poderá ser aceito na íntegra, aceito com recomendações ou recusado pelo Conselho
Editorial.
11. Artigos de autores estrangeiros podem ser aceitos no idioma inglês ou espanhol, desde que estejam
em conformidade com as normas e apresentem resumo e palavras-chave em português do Brasil.
12. Todas as fontes de pesquisa para o trabalho deverão estar devidamente dispostas no final, sob o
título de Referências, devendo obedecer rigorosamente às normas da ABNT.
13. Os casos omissos nestas normas de publicação deverão ser resolvidos pelo Conselho Editorial da
FAFIRE.

Em 05 de março de 2020. EDITORIA CIENTÍFICA | FAFIRE

Fonte: https://publicacoes.fafire.br/diretorio/normas.pdf

5. PALAVRA FINAL
Chegamos ao final de nossa disciplina. Parabenizo mais uma vez a você pelo empenho
tido ao longo do semestre! Essa é uma disciplina que vai te ajudar nessa caminhada no ensino
superior, você verá que precisará retomar o que estudamos ao longo de sua formação. Por isso
guarde bem nosso material que ele vai te ajudar muito na realização das tarefas propostas
pelos(as) professores(as).
E para finalizar mesmo gostaria de destacar que o bom senso é o que prevalece nas boas
relações, e na academia não é diferente. Ou seja, a dica é: seja cuidadoso(a) no seu trabalho,
quando este for solicitado pelo(a) professor(a), e sempre pergunte ao(à) professor(a) que está
solicitando o trabalho, seja qual for, qual a estrutura que ele(a) está pensando em seguir. Por
que isso? Temos uma vasta literatura com relação à metodologia científica / metodologia do
estudo / metodologia da pesquisa, dentre tantas outras nomenclaturas e teóricos diversos. Para
não ocorrer equívocos e mal-entendidos, quem melhor poderá explicar a você será o(a) seu(sua)
professor(a)
Boa sorte!!!!!! Obrigada pela atenção!!!!!

REFERÊNCIAS

DANTAS, M. T.; GONDIM, M. G. Da fala do outro ao texto negociado: discussões sobre a


entrevista na pesquisa qualitativa. Paidéia. 2004, pp. 139-152.

FLICK, U. Observação e Etnografia. In: FLICK, U. Introdução à Pesquisa Qualitativa. Porto


Alegre, Artmed. 3ª edição. 2009, p. 203-2018.

FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 6ª
edição, 1982, pp. 09-12.

LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do Saber: manual de metodologia da pesquisa em


ciências humanas. Porto Alegre: Editora Artes Médicas; Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

MARCONI, M. A. de; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo:


Atlas, 2003.

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro. Estágio e docência. São Paulo: Cortez,
2004.

SILVA, A. M. da. Metodologia da pesquisa. Fortaleza, CE: EDUECE, 2015.

VIANNA, H. Pesquisa em Educação: a observação. Brasília: Plano em Editora, 2003.

ZANELLA, L. C. H. Metodologia de pesquisa. Florianópolis: Departamento de Ciências da


Administração/UFSC, 2013.

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