Bildung como cultura, como arte e como processo de formação.
Relaciona-se diretamente com a concepção que a sociedade alemã tinha de si mesma na época. Berman identifica no período romântico uma necessidade maior de se pensar a própria tradução – uma teoria da tradução que é influenciada por outros aspectos filosóficos e culturais, fazendo com que o traduzir se tornasse um "ato gerador de identidade" no período. Essa relação passou a se estreitar com a tradução da Bíblia de Lutero no século XVI, pois essa modificou e influenciou a língua alemã profundamente. Para Berman, a Bildung resume a própria concepção que a cultura alemã do período tem de si mesma – ou seja, a própria cultura buscava o constante aprimoramento de si mesma. O conceito canônico firmou-se com Goethe. Processo orgânico necessário o qual é, ao mesmo tempo, um resultado. A ideia de um início particular que passa por um desdobramento – o qual pode ocorrer nas mais diversas áreas -, sendo o movimento em direção a uma forma que é uma forma própria. Para que se alcance um “ser-em-si-mesmo", é necessário, primeiramente, “ser-fora- de-si". O desdobramento que ocorre para que um “mesmo” adquira sua própria dimensão pode ser visto a partir da experiência, ou seja, esse “mesmo” é jogado em uma outra dimensão que o transformará - passagem do particular para o universal. A experiência, portanto, tem caráter de alteridade – o conhecer o outro para se conhecer, para se ampliar em si ao mesmo tempo que amplia o outro. Aparente alteridade radical: a alteridade nunca é tão radical quanto parece ser, pois é feita das aparências, ou seja, dominada pela visão do outro que atinge a si mesmo da forma que compreende a experiência com o externo. Estranheza e romance - experiência progressiva. A Bildung está conectada a uma experiência romântica passiva, ou seja, em que a alteridade é desempenhada de forma passiva e não necessariamente opcional. Se dá a abertura para que a mudança ocorra, mas não à faz, propriamente. Por isso não há apropriação na Bildung, pois não parte da Vontade de Poder. Essa apropriação não caracteriza um movimento em direção ao outro, mas sim a diminuição do mesmo. A tradução como movimento de sair de si em direção ao outro para, então, voltar. Tradução através da história demonstra como povos, em determinadas épocas, compreendiam o mundo e a si mesmos. Berman defende então, partindo de Heidegger, que a Bildung é triádica, ou seja, composta por três etapas: ser-em-si-mesmo, ser-fora-de-si, o retorno a si. Natureza cíclica implica numa translação. Bildung é também, essencialmente, limitação. Para atingir o individual, o si-mesmo, deve haver uma limitação, mas tal deve abrir portas em seu entorno para a infinidade exterior a si. A “viagem” não é de base caótica, mas sim de base direcionada, pois só ocorre onde se sabe que haverá uma formação, educação e progressão de si mesmo. Dessa forma, a limitação é o próprio processo de voltar-a-si-mesmo. A tradução é, em si, uma experiência do estrangeiro, que ocorre tanto na prática tradutória, expondo a língua alvo a uma influência de uma língua estrangeira, quanto na prática da leitura, permitindo o contato com um estrangeiro aos leitores. Portanto, pode-se dizer que há na cultura alemã e entre seus autores a ideia de abertura em direção ao outro, a outra língua, outra cultura, a partir da tradução. Quanto à tradução, pode-se pensar que o retorno a si mesmo é o texto final escrito na língua alvo que, embora tenha passado por uma transformação dado o contato com um texto estrangeiro, é um texto na língua alvo que se dá em diferença com o texto na língua de partida. Voss e a tradução de Homero: usando da língua grega para transformar o alemão. A diferença demasiada entre os alemães modernos e os gregos antigos - o caráter puro e definitivo na Antiguidade. Alemães aproximam-se mais dos romanos antigos no sentindo de suas produções, concepções e ações com base na alteridade – os gregos tornam-se o “outro” que deve ser aprendido.