Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS E LINGUÍSTICA

Referência GONÇALVES, Rodrigo Tadeu. PERPÉTUA PRISÃO ÓRFICA OU ÊNIO TINHA TRÊS
CORAÇÕES: O RELATIVISMO LINGÜÍSTICO E O ASPECTO CRIATIVO DA
LINGUAGEM. Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do
Paraná. 2008
Resumo:
Palavras-chave:

FICHAMENTO

Página 40 - Conforme diz Ricken (1994: 174) quanto a Humboldt, “a questão sobre as
fontes teóricas da hipótese da ‘visão de mundo’ antes de Humboldt foi muito raramente
levantada”, e, em seguida, “hoje não há dúvida sobre a dívida de Humboldt para com as
teorias do Iluminismo”.

Página 52-53 - Wilhelm von Humboldt é, possivelmente, dos autores menos estudados
da tradição da ciência da linguagem moderna, um dos mais interessantes. Suas
propostas apresentam uma síntese profundamente elaborada do pensamento lingüístico
desenvolvido ao longo dos períodos pós-cartesianos, especialmente do Iluminismo e do
Classisismo Alemão. Humboldt apresenta uma espécie de síntese entre objetivismo e
subjetivismo, entre relativismo e universalismo, através de um tipo peculiar de relação
entre língua, indivíduo e sociedade. O relativismo lingüístico proposto por Humboldt
não é explícito nem formulado com precisão. Além disso, o sentido da influência causal
língua-pensamento não é único: há, para Humboldt, influência da língua no pensamento
do indivíduo, assim como antes houve influência do indivíduo na língua, formando um
círculo de influência que constitui uma das visões mais interessantes do RL especulativo
pré-Whorf.
Página 54 - Posteriormente, em um ensaio datado de 1807 intitulado Sobre a natureza
da linguagem em geral (Uber die Natur der Sprache im allgemeinen, in Humboldt,
2006: 2-19), encontramos definições mais gerais de linguagem como a seguinte: A
linguagem nada mais é do que o complemento do ato de pensar, a intenção de elevar as
impressões externas e as sensações internas ainda obscuras à condição de conceitos
nítidos, e, para a criação de novos conceitos, ligar esses conceitos uns aos outros.
(Humboldt, 2006: 9-11)

Página 54 - Para Humboldt, nação, raça e povo se confundem e são usados por vezes
intercambiavelmente (Heidermann, 2006: xxxvii-xxxviii), mas o que é verificável é o
modo como a língua, para ele, está diretamente ligada à nação. Mais uma vez, a
definição de língua dá a ela um caráter fortemente constitutivo da atividade mental.
Assim também a ligação direta entre língua e o ato de pensar vista acima se manifesta
especificamente em cada cultura, em cada “raça”, como se pode depreender de sua
discussão a respeito:

a língua é também um instrumento mais propício para se apreender o


caráter, um meio entre o fato e a idéia, e tendo sido ela formada por
princípios gerais e vagamente percebidos como tais, e também
composta em sua maior parte de um
repertório já disponível, ela fornece não apenas recursos para o cotejo
de várias nações, mas também uma pista para a verificação da
influência de uma sobre a outra. (Humboldt, 2006: 5)

Página 55 - língua ser complementar ao pensamento e ao mesmo tempo o instrumento


da apreensão do caráter de um povo, “a soma de todas as palavras, a língua, é um
mundo situado no espaço intermediário entre o mundo externo, aparente, e o mundo
interno que age em nós” (loc. cit., p. 9). Ora, com as passagens citadas chegamos perto
de começar a entender a complexidade do ideário humboldtiano sobre a linguagem: a
língua é, ao mesmo tempo, veículo do pensamento, instrumento do pensamento,
instrumento da apreensão do caráter da nação e o próprio “mundo” intersubjetivo que
liga as operações internas ao mundo exterior.

Página 58 - Para Humboldt, a importância do estudo comparado entre muitas línguas jaz
exatamente no fato de que somente esse estudo cuidadoso e meticuloso é capaz de
responder à questão com sobretons fundamentalmente relativistas: “Como pode ser
vista, de um modo geral, a diferença entre as línguas, em relação com a formação do
gênero humano?” (loc. cit., p. 63)

Página 60 - Humboldt entendia por relação causal linguagem-pensamento

Página 60 - Resumindo, a linguagem molda o pensamento, mas o pensamento também


molda a linguagem, ou seja, o ser humano é refém de uma visão de mundo determinada
pela sua língua, mas isso se dá porque ele se inscreve num momento histórico em que a
língua que fala já existe por completo (ou seja, o início da língua lhe é completamente
inacessível),

Página 60 - temos um Humboldt simultaneamente racionalista-universalista e empirista-


relativista, com formulações acerca da natureza das relações entre língua e
desenvolvimento intelectual bastante singulares, em grande parte por fazer que
convergissem em sua obra os elementos do iluminismo racionalista e empirista e do
romantismo e classicismo alemão no momento de nascimento da lingüística científica.

Página 61 - Além disso, o primeiro trecho deixa explícita a idéia de que a língua é a
responsável não só por um sentido de influência causal no pensamento, mas também
por propiciar a descoberta da verdade anteriormente desconhecida. A língua, uma vez
que é o elemento possibilitador do pensamento, é o que torna possível a segmentação
analítica do pensamento, num processo dedutivo de contornos kantianos. Se é a língua
específica que permite o pensamento do seu falante, aquele falante, com acesso àquela
realidade e àquela visão de mundo via a sua língua individual, terá acesso àquela
parcela da verdade resultante do seu acesso ao mundo pela sua língua.

Página 63 - No capítulo Form der Sprachen, Humboldt define linguagem de um modo


que posteriormente ficou bastante famoso: como uma atividade e não como um
produto. Segundo as próprias palavras de Humboldt:

Considerada do ponto de vista de sua verdadeira essência, a


linguagem é algo que se encontra constante e ininterruptamente
em transição. Até mesmo sua conservação pela escrita nunca é
mais do que mera preservação incompleta, mumificada, que por
sua vez sempre exige que busquemos evocar aos sentidos a
elocução oral ao escrever. A língua em si não é uma obra
acabada (Ergon), mas sim uma atividade (Energeia). Por isso,
sua verdadeira definição só pode ser aquela que a apreenda em
sua gênese. Afinal, a língua consiste no esforço
permanentemente reiterado do espírito de capacitar o som
articulado para a expressão do pensamento. (Humboldt, 2006:
99)

A linguagem não é mero instrumento, portanto, do pensamento, mas, antes, estabelece


uma relação de interdependência com ele.

língua se coloca inteiramente entre o homem e a realidade percebida, gerando uma visão
de mundo específica para cada língua

Página 67 - Conforme se pode perceber pela longa exposição de diferentes momentos


da obra lingüística de Humboldt, há uma série de tensões não resolvidas, aparentes
paradoxos e uma dificuldade de exprimir em linhas gerais o que seria a teoria
humboldtiana da linguagem.

Página 67 - Em grande medida, isso se deve ao fato de, como já afirmei acima,
Humboldt ter sido influenciado em grande medida tanto pelos iluministas quanto pelos
classicistas e românticos alemães, o que, em si, já estabelece uma tensão importante e
de difícil resolução

Das ações que se fazem com a linguagem

Página 211 - Geraldi discute basicamente o modo como os sujeitos se utilizam do


discurso afetando o outro, consciente ou inconscientemente. Trata-se,
fundamentalmente, de entender a constitutividade na linguagem de modo a verificar os
modos como se pode exercer alguma influência no outro:

Página 211 - As ações que fazemos com a linguagem vão desde as mais simples,
consideradas
por muitos como as únicas ou as mais importantes coisas que fazemos com a linguagem
(como comunicar o mundo objetivo, alheio a nós), até complexas coerções sutis através
de atos ilocucionários e perlocucionários195 (na terminologia famosa de Austin,
retomada tanto por Franchi quanto por Geraldi), com os quais conseguimos que o
interlocutor faça alguma coisa.

Num nível intersubjetivo, o diálogo estabelece na consciência do outro vários tipos de


alteração

A cria no conjunto mental de informações e

Exatamente porque os modos como escolhemos representar a suposta realidade objetiva


dependem de nossas inclinações, objetivos, modos de manipular o material lingüístico,
o que fortalece a proposta de que não há descrição objetiva da realidade através da
linguagem, não há “reflexo”. crenças de B uma alteração sensível:

5.3.3. Das ações que se fazem sobre a linguagem

A atividade retórico-poética exerce papel fundamental neste terreno: os recursos


comuns da língua são levados a extremos de criação proposital, e muitos deles passam a
viver na língua como parte do inventário comum após os atos criativos iniciais.

De fato é dentro da, e pela língua que indivíduo e sociedade se


determinam mutuamente. O homem sentiu sempre – e os poetas
freqüentemente cantaram – o poder fundador da linguagem, que
instaura uma realidade imaginária, anima as coisas inertes, faz ver o
que ainda não existe, traz de volta o que desapareceu. É por isso que
tantas mitologias, tendo de explicar que no início dos tempos alguma
coisa pôde nascer do nada, propuseram como princípio criador do
mundo essa essência imaterial e soberana, a Palavra. (Benveniste,
1995: 27)

Tendo exposto a problemática do relativismo lingüístico, que não é inédita, a parte que
se propunha realmente inédita da tese seria estabelecer uma ligação coerente entre essa
problemática e aquilo que foi chamado de modos variados ao longo da tradição do
pensamento sobre a linguagem, que eu aqui, por questões de simples conveniência,
preferi chamar de aspecto criativo da linguagem.
A lógica examina as relações entre uma conclusão e as evidências que lhe servem de
apoio, propondo "princípios gerais" que distinguem os argumentos válidos dos não-
válidos. É tarefa da lógica, portanto, apresentar métodos capazes de identificar
argumentos e inferências logicamente válidos ou seja, princípios gerais de validade das
inferências e dos argumentos. Em outras palavras, cabe à lógica estabelecer as leis
gerais das demonstrações

Nós, lingüistas, produzimos conhecimento sobre a linguagem – e acreditamos no


conhecimento que produzimos. Se não somos ouvidos, talvez estejamos nos colocando
mal no debate, talvez as pessoas que conduzem o debate não estejam querendo nos
ouvir, talvez alguns estejam sendo ouvidos e não outros.

um conjunto de regras de boa formação

Você também pode gostar