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Referência SEVERO, Cristine Gorski. Por uma Perspectiva social dialógica da linguagem:
repensando a noção de indivíduo. Tese de doutorado (Programa de Pós-Graduação em
Linguística). Universidade Federal de Santa Catarina:2007
Resumo:
Palavras-chave:
FICHAMENTO
Página 33 – para que o indivíduo possa se desenvolver é necessário que ele esteja
inserido num meio propício, contudo, seu desenvolvimento depende “de sua própria
natureza mais íntima e [é] para o seu próprio benefício” (ibid., p. 148). Humboldt
estipula o princípio que localiza a relação razão vs. liberdade como base de todo sistema
político:
A razão não pode desejar para o homem outra condição além daquela
em que cada indivíduo não apenas desfrute da mais absoluta liberdade
para desenvolver a si mesmo a partir de suas próprias energias, em sua
perfeita individualidade, mas na qual a própria natureza externa seja
deixada informe por qualquer intervenção humana, recebendo apenas
a impressão a ser deixada por cada indivíduo e por seu próprio
livrearbítrio, de acordo com a medida de seus desejos e carecimentos,
restrito assim apenas pelos limites de seus poderes e de seus direitos
(ibid., p. 151).
Página 34 - Humboldt concebe a língua como mediadora entre o mundo real e o mundo
da consciência; com isso, ela é, ao mesmo tempo, material e espiritual.
Página 36-37 - No que diz respeito ao estudo da linguagem, Humboldt contempla dois
aspectos que devem estar interligados: a forma e a substância. O autor alerta para o fato
de que, na investigação minuciosa da forma de cada língua, se deve levar em conta as
dificuldades em delimitar as fronteiras do que seria uma língua específica e o fato de
que a língua, na sua natureza, permanece constantemente em evolução. Salienta ainda
que a análise da forma não visa identificar e classificar as diversas partes da linguagem,
uma vez que “a quebra em palavras e regras nada mais é do que obra malfeita e morta,
produzida pela prática desmembradora da ciência” (HUMBOLDT, trad. VOLOBUEF,
2006, p. 101). Essa preocupação com o esmiuçamento da forma também é evidente no
seguinte trecho: “mesmo o falar da nação mais rudimentar é uma obra natural nobre
demais para ser desfigurada em partes tão casuísticas e ser examinada de forma tão
fragmentária” (HUMBOLDT, trad. MONTEZ, 2006, p. 43). Já o estudo da substância
da língua envolve “de um lado, o som propriamente dito, de outro, a totalidade das
impressões sensoriais e dos movimentos autônomos do espírito que antecedem a
construção dos conceitos com o auxílio da língua” (HUMBOLDT, trad. VOLOBUEF,
2006, p. 112-3). É na interligação de forma e substância que se revela o caminho da
expressão do pensamento: “por meio da representação da forma deve-se reconhecer o
caminho específico pelo qual a língua, e com ela a nação à qual pertence, chega à
expressão do pensamento” (ibid., p. 115). Percebe-se que para Humboldt a língua deve
ser estudada como constituída, simultaneamente, de forma e substância. Não se trata de
dicotomizar esses dois aspectos para favorecer um estudo científico da língua; trata-se,
sim, de ver no fenômeno lingüístico as regras e leis que constituem seu funcionamento,
bem como o aspecto semântico (mental) da linguagem.
Página 49 - Os fatos sociais para serem observados, uma vez que são objetos de estudo
da sociologia, devem ser considerados como coisas, ou seja, eles são dados à
observação do cientista: “o que nos é dado não é a idéia que os homens têm do valor,
visto que ela é inacessível; são os valores que se tocam realmente no decurso das
relações econômicas” (ibid. p. 402).
Página 51 - A linguagem engloba duas partes, uma mais essencial – a língua, cuja
natureza é social –, e outra secundária – a fala, que é individual e psico-física.
Página 55 - as forças sociais. Evidentemente, tais forças, para Saussure, não se referem
a fenômenos como diferenças sócio-econômicas, aspectos políticos, ideológicos etc.
Página 93 - formalismo russo, que centra a análise literária na relação dos elementos da
obra entre si sem qualquer preocupação com questões ideológicas ou sociais, mas, não
por acaso, rompeu com essa corrente justamente devido à falta de reflexão filosófica
dessa perspectiva, embora, vale ressaltar, não tenha rompido com a estética romântica
de onde, paradoxalmente, os formalistas se originaram.
Página 95 - conhecida e mais amplamente lida, ele certamente seria colocado ao lado de
Saussure como um dos fundadores do pensamento lingüístico moderno” (ROBINS,
1983, p. 140).
um compromisso político do pesquisador com suas teorias e pesquisa, uma vez que elas
promovem ações no mundo; por exemplo, elas podem gerar mudanças nas crenças e
atitudes dos falantes em relação à língua e, conseqüentemente, aos usos que fazem da
linguagem;
trabalho final nunca é concluso, mas uma resposta a um outro enunciado e uma
antecipação de outras respostas: todo encontro dialógico (diálogo de sentidos) produz
alterações, por menores que sejam;
a promoção de um diálogo inter e transdisciplinar com áreas afins que tratam da questão
da identidade, linguagem e sociedade, como a filosofia, a sociologia e a psicologia.
Essas são as bases que, mesmo sendo algumas delas de caráter geral, considero
fundamentais para se pensar um teoria social dialógica da linguagem, que articule
indivíduos/sujeitos, linguagem e sociedade. As idéias expostas aqui não são conclusivas
e definitivas; elas, por um lado, respondem à demanda da tese de se buscar um olhar
dialógico/crítico sobre a abordagem social dos estudos da linguagem, a partir de uma
reflexão sobre a noção de indivíduos e da relação desses com a língua e a dinâmica
social; por outro lado, essas idéias dialogam com outras tantas que emergem do
processo de compreensão ativa e criadora da leitura deste texto.
crença na objetificação
A língua, para Humboldt, é o órgão formador do pensamento (das bildende Organ des
Gedanken1 ). E a linguagem, desta perspectiva, não é considerada como o meio para
falar da realidade, do mundo preexistente, mas é ela que constrói a realidade do mundo