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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Faculdade de Direito
Coordenação do Curso de Direito
Cadeira de Direito Fiscal e Aduaneiro
Trabalho de Campo

Discente: Linda Amelia Fabião

Docente:

Maputo, Maio de 2023

1
Índice
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................1

2. OBJECTIVOS DO TRABALHO............................................................................................2

2.1. Objectivo Geral.....................................................................................................................2

2.2. Objectivos específicos..........................................................................................................2

3. CONCEITO DO DIREITO TRIBUTÁRIO.............................................................................2

4. SISTEMA TRIBUTÁRIO MOÇAMBICANO........................................................................3

4.1. Período antes da Independência............................................................................................3

4.2. Enquadramento histórico......................................................................................................5

5. RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTARIA...................................................................................6

5.1. Sujeito activo........................................................................................................................9

5.2. Sujeito passivo....................................................................................................................10

5.2.1. Sujeito passivo direto......................................................................................................11

5.2.2. Sujeito passivo indirecto.................................................................................................11

6. DAS ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA.............................................................12

6.1. Obrigação principal............................................................................................................12

6.2. Obrigação acessória............................................................................................................13

7. CLASSIFICAÇÕES DO FACTO GERADOR......................................................................14

8. CONCLUSÃO........................................................................................................................14

9. REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA.......................................................................................15

2
1. INTRODUÇÃO
O Direito pode ser definido como um conjunto de princípios universais, imutáveis, superiores ou
normas jurídicas inerentes à própria condição humana; anterior ao homem e situa-se acima dele.
É eterno; não é racional; é fundamento do direito positivo.

Direito Tributário ou Fiscal é o conjunto das leis reguladoras da arrecadação dos tributos, bem
como de sua fiscalização. Regula as relações jurídicas estabelecidas entre o Estado e o
contribuinte, no que se refere à arrecadação dos tributos.

Cuida dos princípios e normas relactivas à imposição e à arrecadação dos tributos, analisando a
relação jurídica tributária, em que são partes o ente público e os contribuintes, bem como o facto
jurídico gerador dos tributos. O objecto é a obrigação tributária, que pode consistir numa
obrigação de dar (levar o dinheiro aos cofres públicos) ou uma obrigação de fazer ou não fazer
(emitir notas fiscais etc.)

O Direito Tributário é uma barreira contra o arbítrio que poderia ser demandado pelos
governantes, na ânsia de querer usurpar toda e qualquer riqueza proveniente do indivíduo e/ou da
sociedade de forma ditatorial, vingativa, sem critérios, pois, apenas através da lei, com raras
exceções, e de nenhuma outra fonte formal, é que se pode criar ou aumentar tributos de forma
racional, tendo em vista que o Estado tem a obrigação de prever os seus gastos e a forma de
financiá-los.

O instituto da obrigação tributária trata-se de um liame jurídico estabelecido entre Estado e


Particular, onde aquele amparado pela lei tributária poderá exigir deste uma prestação tributária
tanto positiva quanto negativa.

Desta forma, no presente trabalho, iremos nos debruçar sobre as obrigações tributarias, com vista
a analisar as características das obrigações tributarias no ordenamento jurídico moçambicano.

É importante salientar que, a relação jurídica desta obrigação tributária é objecto essencial do
direito tributário, pois sendo este de natureza obrigacional, constitui sempre em um vínculo
obrigacional entre o sujeito passivo – Estado, e o sujeito activo – Contribuinte.

1
2. OBJECTIVOS DO TRABALHO

2.1. Objectivo Geral


Analisar as características das obrigações tributarias

2.2. Objectivos específicos


 Apresentar a noção de obrigação tributaria;
 Identificar as espécies de obrigação tributária;
 Caracterizar as obrigações tributarias em geral.

3. CONCEITO DO DIREITO TRIBUTÁRIO


Em sua atividade financeira, o Estado necessita captar recursos materiais para manter sua
estrutura, disponibilizando ao cidadão-contribuinte os serviços que lhe compete, como autêntico
provedor das necessidades coletivas.
A principal fonte de receitas públicas é a cobrança de tributos direcionada aos objectivos
fundamentais, tais como a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a garantia do
desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e da marginalização, tendente à redução das
desigualdades sociais e regionais, bem como a promoção do bem-estar da colectividade. Daí
haver a necessidade de uma positivação de regras que possam certificar tão relevante desiderato
de percepção de recursos, o que se dá por meio da ciência jurídica intitulada Direito Tributário,
também denominado Direito Fiscal.

Para Sousa1, o Direito Tributário é “o ramo do direito público que rege as relações jurídicas entre
os Estados e os particulares, decorrentes da atividade financeira do Estado no que se refere à
obtenção de receitas que correspondam ao conceito de tributos”.

Para CARVALHO (2004 P:15) “o Direito tributário é o ramo didaticamente autônomo do


Direito, integrado pelo conjunto de proposições jurídico-normativas, que correspondam, direta
ou indiretamente, à instituição, arrecadação e fiscalização de tributos”.

1
Souza, Rubens Gomes de, Compendio de legislação tributária, 2 ed. São Paulo Malheiros 2002

2
4. SISTEMA TRIBUTÁRIO MOÇAMBICANO

4.1. Período antes da Independência


Segundo Ibraimo (2002), mesmo antes da chegada dos portugueses já existia o imposto em
Moçambique e era pago em forma de roupa, gado, escravos e outros bens. Mas uma das
principais evidências da existência do imposto em Moçambique, foi com o surgimento dos
prazos da Zambézia, em que utilizou o tributo tradicional pela primeira vez.

Segundo alguns historiadores, citados por Ibraimo (2002), o vale do Zambeze em meados do séc.
XVII estava organizado politicamente e tradicionalmente por vários chefes em cada região. O
governador do distrito era designado por “mambo” que era assistido por um chefe local
“npfumu”, e pelo chefe das povoações. Uma das atribuições do “pfumu” era de cobrar o imposto.

Dentro dos prazos, todos os habitantes estavam sujeitos ao pagamento de um imposto anual
designado por “mussoco”, que era pago como forma de afirmar o poderio do mambo sobre a
terra. O conteúdo, a taxa e o montante do “mussoco” atribuído a cada família não era fixo nem
estabelecido, variava de prazo a prazo e de região para região.

Os camponeses através do “mussoco”, renda em géneros, canalizavam parte dos seus excedentes
agrícolas para a “elite” dos prazos, sendo, muitas das vezes, utilizados para alimentação. Com a
penetração crescente do capitalismo colonial, o “mussoco” passou a ser cobrado em trabalho e,
depois, em dinheiro, o que exprime uma mudança profunda nas relações sociais de produção.

Segundo Carlos Serra (2000:318), o imposto de palhota foi introduzido ao abrigo do decreto de 9
de Julho de 1982 e cobrado à luz do Regulamento do Imposto de Palhota de 30 de Julho de 1892.
Os proprietários das palhotas situadas no interior ficavam obrigados ao pagamento anual de 900
Reis por palhota utilizada como habitação. Nos dois primeiros anos, o imposto de palhota podia
ser cobrado em dinheiro ou género, mas em 1894 passou a ser obrigatoriamente recebido em
dinheiro.

Aquele que não cumprisse com esta obrigação era punido com trabalho forçado durante os dias
necessários do valor do salário oficial local acrescentado 50 por cento no valor após a finalização
do trabalho forçado.

3
Como o salário era fictício, esta medida tornou se um mecanismo de angariação de mão-de-obra
gratuita. Nota se, que tal como o “mussoco”, o imposto de palhota não era simples mecanismo
tributário com carácter simbólico, pelo contrário, um e outro eram a objectivação duma relação
social fundamental, concreta e historicamente determinada entre o camponês e o capital - um
mecanismo de dominação do capital sobre o trabalho.

Salienta-se que a Administração Directa durou até 1892, e era feita através dos agentes da
autoridade, cuja função não constituía apenas em cobrar o “mussoco”, mas, também em controlar
os chefes locais.

Como forma de obter dinheiro para pagamento do imposto de palhota a maior parte dos homens
moçambicanos residentes na zona sul do país emigravam para África de Sul para trabalhar nas
minas, o que facilitava a cobrança.

Segundo Ibraimo, o fenómeno de imigração no Sul do nosso país influenciou a política fiscal
porque, fez com que o Estado colonial encarasse duas questões que não lhe agradava:

 Com a emigração, o número de trabalhadores para as Companhias reduzia;


 Os salários praticados na África do Sul eram substancialmente mais elevados que os da
Companhias que operavam em Moçambique. Este facto anulava a política existente de
elevar os impostos para obrigar os trabalhadores a permanecerem mais tempo nas suas
terras.
Este fenómeno causava problemas no próprio orçamento do Estado colonial e na balança de
pagamentos.

Por um lado, necessitava de promover a emigração, de obter o imposto em libras - ouro, e por
outro lado necessitava da mão-de-obra.

Após o imposto de palhota a outra forma de tributação introduzida foi a tributação indirecta, que
incidia sobre os bens de consumo produzidos pelos indígenas, como forma de os levar a
concorrer para as despesas públicas.

E, foram criados alguns impostos directos, nomeadamente:

 Impostos prediais – que incidiam sobre os prédios rústicos e urbanos situados na baixa da
cidade, dentro do território das companhias;

4
 Tributação das actividades comerciais e industriais – que eram tributados por taxas
variáveis, em função do valor das mercadorias importadas por cada contribuinte, a
legislação e a cobrança deste imposto era feito com base nas declarações dos
contribuintes;
 Contribuição de Juros – que consistia num imposto sobre o crédito e sobre a aplicação de
capitais, com base numa taxa fixa;
 Sisa – que incide sobre os actos de transmissão da propriedade de bens imóveis a título
oneroso;
 Imposto sucessório – que incide sobre os actos de transmissão de propriedade móvel a
título gratuito.

4.2. Enquadramento histórico


Uma breve perspetiva daquilo que foram as reformas fiscais em Moçambique após a
independência, o sistema fiscal Moçambicano sofreu várias reformas das quais destacaram-se
nos anos 1978, 1987 e 2002 antes da criação da Autoridade Tributária de Moçambique. A
primeira que se verificou em 1978, a segunda em 1987 e a última em 2002 antes da criação da
AT. A primeira reforma tributária que ocorreu em 1978, visava melhorar o sector da saúde,
educação, o mesmo que culminou com o grande problema de arrecadação de receita com vista a
assegurar a justiça social. Devido a complexidade da resolução deste problema que tinham tudo a
ver com os princípios de políticas fiscais que na altura vigoravam, tendo sido posteriormente
definidos na resolução da lei nº. 5-1978, de 1 de Setembro (Moçambique, 1978) da Assembleia
Popular com vista a garantir a equidade social. Alguns objetivos apontados por WATY (2004)
citado por (“Classificação das empresas da indústria dos componentes para calçado,” 2011), na
arrecadação de receitas com base numa fórmula que fizesse face às exigências orçamentais.
Analiticamente destaca-se: Simplificação do processo de captação do rendimento das empresas
retendo-o no processo de circulação de mercadorias e factoração de serviços; manutenção da
contribuição industrial e do Imposto Complementar apenas como impostos corretivos; fusão das
diversas formas de tributação do rendimento do trabalho num só imposto, estabelecendo-se taxas
progressivas nos termos da Constituição vigente; agravamento das taxas dos impostos sobre o
lucro das empresas; e simplificação da legislação fiscal em vigor. Após a materialização da Lei
nº. 5-1978, de 1 de Setembro (Moçambique, 1978) passado alguns anos, houve tendência do

5
agravamento do Imposto sobre o Consumo dos produtos contrariamente áquilo que era a
produção dos produtos da primeira necessidade, o que levou a alteração do Decreto-Lei n."
27/76, de 29 de Julho (Ministros, 1976) com vista a entrar em consonância com a lei 5/77
(Ministros, 1977), o que levou a introdução do Imposto de Reconstrução Nacional (IRN) com
tendências a ser temporário, Imposto de 10 Circulação e, por fim, foi revisto e alterado o Código
dos Impostos sobre o Rendimento. As consequências deste sistema não tardaram, pois
dificultavam a captação de excedentes gerados pelos agentes económicos, fator que fez com que
do lado da procura aumentasse cada vez mais o dinheiro e do lado da oferta, os preços oficiais
não correspondessem o valor da oferta que acabaram culminando em distorções na estrutura
económica e comercial, inadequação do sistema tributário que não incidia sobre o mercado
paralelo, progressiva deterioração da economia por causa da guerra. A última reforma que
ocorreu em 2002, antes da criação da Autoridade Tributária de Moçambique. Esta reforma
ocorrida com a Lei n.º 15/2002, de 26 de junho (CIVA) (Assembleia da República de
Moçambique, 2002a), veio aumentar a capacidade do Estado na arrecadação de receitas, o
mesmo que serviu de matéria de estudo para alteração do Imposto de Valor Acrescentado (IVA).

5. RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTARIA


O estudo da relação jurídica tributária constitui um elemento essencial na nossa análise, uma vez
que consideramos ser este o ponto de abordagem inicial necessário, tendo em vista a
compreensão do nosso trabalho. Como sabemos, o sistema fiscal constitui hoje em dia uma das
mais importantes garantias da sustentabilidade financeira dos Estados Modernos, pelo que o
entendimento do seu funcionamento, nomeadamente das interações criadas no seu âmbito,
integra o objectivo primordial do nosso estudo.

Ora, tendo em conta que a actividade financeira do Estado, na qual se enquadra a tributação
realizada pelo mesmo, visa essencialmente a satisfação das suas próprias necessidades
financeiras, bem como a de outras entidades públicas, podemos afirmar que o papel
desempenhado pelos impostos, taxas e demais contribuições financeiras assume fundamental
importância no que à sustentabilidade financeira do Estado respeita2.

2
Assim e no mesmo sentido V. LIMA GUERREIRO, António, in Lei Geral Tributária Anotada, Editora Rei dos
Libros, pp. 56, “a atividade tributária é essencialmente um modo de atuação pública visando objetivos de política
económica e social”.

6
No entanto, e atentas as diferentes caraterizações dos impostos, das taxas e das contribuições
financeiras, consideramos serem os primeiros o alvo central da nossa análise, uma vez que são
estes os que desempenham grande parte das receitas estaduais, bem como são estes os que mais
relevantes actuações desenvolvem na promoção de um Estado, que se ambiciona, social.

No entanto, e atentas as diferentes caraterizações dos impostos, das taxas e das contribuições
financeiras, consideramos serem os primeiros o alvo central da nossa análise, uma vez que são
estes os que se afiguram como parte das características das obrigações tributarias, bem como são
estes os que mais relevantes atuações desenvolvem na promoção de um Estado, que se
ambiciona, social.

Podemos considerar assim que a relação jurídica tributária – ou relação jurídica de imposto -
consiste na relação fiscal desenvolvida entre as partes (sujeitos da relação jurídica tributária) e a
Administração Tributária ou puramente entre as partes , no âmbito de uma obrigação tributária a
que estão adstritas3. Como partes da relação jurídica tributária, temos de um lado aqueles que
figuram como sujeitos ativos, nos quais se enquadram tanto os titulares do poder tributário, como
os titulares da capacidade tributária, os titulares da competência tributária e os titulares da receita
fiscal.

Já do lado do sujeito passivo, poderemos ter tanto os contribuintes, como os substitutos, os


retentores, os responsáveis fiscais, os sucessores, os suportadores económicos do imposto e ainda
aqueles que não configurando nenhuma das figuras descritas, ainda assim são sujeitos passivos
dos deveres acessórios da relação jurídica tributária 4.
Ora, esta diversidade de sujeitos potencialmente operantes na relação jurídica tributária, com a
consequente multiplicidade de relações tributárias possíveis daí advenientes, aliada ao próprio
conteúdo da relação jurídica tributária, em que ao lado do cumprimento da prestação considerada
principal, figuram uma série de deveres acessórios de igual ou maior relevo, perspetiva a
complexidade do assunto em análise.
3
Muitas e diversificadas são as definições do conceito de relação jurídica tributária na doutrina. Vejamos, a título de
exemplo e porque nos debruçaremos sobre o seu desmembramento de seguida, SOARES MARTÍNEZ, que define a
relação tributária ou relação de imposto como o “vínculo jurídico obrigacional ou creditício, constituído com o fim
de obtenção de uma receita pública e autónomo, no sentido de não depender de situações jurídicas anteriores nem
criar novos vínculos legais” in Direito Fiscal, 10ª Ed, pp. 161
4
Acompanhamos o entendimento do Senhor Professor CASALTA NABAIS, in Direito Fiscal, pp. 227.

7
Relativamente à natureza da relação jurídica tributária podemos afirmar que até se chegar ao
entendimento maioritário, predominante nos dias de hoje, que lhe atribui natureza obrigacional,
foi este um tema bastante discutido pela doutrina.

De facto, muitos eram os Autores 5 que recusavam a atribuição de natureza obrigacional à relação
jurídica tributária, com o argumento de que sendo a obrigação um conceito do âmbito do direito
privado, não poderia o mesmo ser levado para uma área como a do direito fiscal, em que domina
o objetivo final de concretização do interesse colectivo.

Este pensamento encontra-se atualmente ultrapassado, atribuindo-se natureza obrigacional à


relação jurídica tributária. Assim, considera-se ser a obrigação fiscal uma obrigação em sentido
próprio, embora com algumas caraterísticas particulares que apenas se desenvolvem no campo
do direito fiscal, a saber: (i) a natureza ex lege da obrigação fiscal; (ii) a indisponibilidade e
irrenunciabilidade da obrigação fiscal e (iii) o facto de a obrigação fiscal ser uma obrigação
executiva e especialmente garantida6.

Relativamente à natureza ex lege da obrigação fiscal, efetivamente podemos afirmar que a


relação jurídica tributária nasce da ocorrência do facto tributário, não relevando em nenhuma
situação a vontade das partes ou qualquer acordo entre elas.

Por outro lado, no direito fiscal não existe a possibilidade do sujeito activo da relação jurídica
tributária dispor do seu crédito, ao contrário do que sucede no direito privado, em que não está
vedada à parte credora essa possibilidade.

Por fim, a obrigação fiscal é doptada de força executiva, e composta por determinadas garantias
específicas, que determinam uma posição privilegiada para o credor tributário, no seio dos
credores comuns.

Sufragamos assim na íntegra o entendimento do Senhor Professor SOARES MARTÍNEZ,


quanto à admissão da figura da obrigação tributária:

“Há que encarar frontalmente a questão e esclarecê-la no sentido de que, admitida nos quadros
do Direito dos Impostos a figura da obrigação tributária, da obrigação fiscal, ela se há-de incluir
5
Com destaque para a doutrina Germânica, acérrima defensora da não atribuição de natureza obrigacional à relação
tributária
6
Neste sentido FREITAS PEREIRA, Fiscalidade, 2014, 5ª Ed., pp. 276.

8
no conceito jurídico genérico de obrigação, que, embora elaborado pelo Direito Civil, constitui
um elemento comum do património cultural da doutrina jurídica7.”

Atente-se que as considerações supracitadas relativamente aos sujeitos da relação jurídica


tributária encontram apoio na letra da lei, na medida em que a Lei ao definir os sujeitos da
relação jurídica tributária, dá-nos conta da existência de duas partes em sentidos opostos na sua
composição: o sujeito activo e o sujeito passivo.

5.1. Sujeito activo


Tendo em conta que a definição do conceito de sujeito ativo não comporta um só entendimento,
de modo a proceder a uma delimitação eficaz do conceito, acompanhamos o ensinamento de
CASALTA NABAIS, e tomamos em consideração as diversas situações que compõem o
conceito de titularidade activa, nas suas diferentes dimensões: o poder tributário inserido na
relação constitucional fiscal, a competência tributária que se localiza na relação administrativa
fiscal, a capacidade tributária activa que se integra na relação obrigacional fiscal e a titularidade
da receita fiscal, que se situa fora da relação tributária.

Assim, o poder tributário, como poder supremo, consubstancia-se no poder conferido


constitucionalmente ao legislador para a criação, instituição, estabelecimento ou invenção dos
impostos e a sua disciplina essencial.

A competência tributária diz respeito à administração ou gestão dos impostos, traduzida no


lançamento, liquidação e cobrança dos impostos.

A titularidade da receita fiscal é definida como a situação existente quando, por imposição
constitucional ou legal, as receitas proporcionadas por determinados impostos estejam
subjetivamente consignadas a determinados entes públicos que não tenham todas ou algumas das
outras titularidades fiscais activas8.

Já a capacidade tributária ativa, é associada ao papel de credor tributário, uma vez que este
conceito dirá respeito à qualidade de sujeito activo da relação de crédito em que a relação fiscal

7
V., SOARES MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 2001, 10ª Ed., pp. 162.
8
vide CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 2012, cit., pp. 241.

9
se consubstancia, consistindo, por conseguinte, na titularidade do crédito de imposto e demais
direitos tributários9.

Ora, auxiliando-nos das diferentes designações referidas, com que aliás tendemos a concordar,
cumpre tomar partido acerca da definição do conceito em análise pois, de facto, quando o
Legislador definiu o conceito de sujeito ativo, criou alguma margem para debate entre a doutrina.

Excluímos as entidades titulares do poder tributário, nomeadamente a Assembleia da República,


como integrantes do conceito de sujeito activo. Quando nos referimos ao poder tributário
referimo-nos à detenção do poder soberano de criação dos impostos, que por virtude do princípio
da separação de poderes, não se confunde com o poder de aplicação da lei criada. Assim, não
podemos considerar que existe uma total coincidência entre os titulares do poder tributário e os
sujeitos activos da relação jurídica tributária.

Considerando que a competência tributária é usualmente praticada pela Administração Tributária


e que a mesma “não tem interesses próprios na relação jurídica tributária e não é titular de
direitos nem de obrigações em matéria tributária”, não pode a mesma ser identificada como
sujeito activo da relação jurídica tributária. Atento o seu caráter imparcial, deve a Administração
Tributária garantir que tanto os direitos do sujeito activo, como os direitos do sujeito passivo são
cumpridos; é esta a sua função.

Assim, consideramos que o sujeito ativo da relação jurídica tributária será aquele que detém o
verdadeiro direito de crédito. Aquele que, por via de determinada situação que originou o início
de uma relação a nível fiscal, é agora detentor de um direito de crédito sobre outra parte - esta
devedora -, podendo “cobrar os tributos diretamente, por intermédio dos seus órgãos de
administração tributária, ou por meio de terceiros, que constituirão seus representantes legais.”

5.2. Sujeito passivo


Sujeito passivo da relação jurídica tributária é “a pessoa singular ou coletiva, o património ou a
organização de facto ou de direito que, nos termos da lei, está vinculado ao cumprimento da
prestação tributária, seja como contribuinte direto, substituto ou responsável”, procedendo de
seguida a uma delimitação negativa do conceito, enunciado duas figuras afins que não integram
o conceito de sujeito passivo, nem direta nem indiretamente, designadamente aquele que suporte

9
Distinções elaboradas por CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 2012, cit., pp. 240-241.

10
o encargo do imposto por repercussão fiscal e aquele que deva prestar informações sobre
assuntos tributários de terceiros, exibir documentos, emitir laudo em processo administrativo ou
judicial ou permitir o acesso a imóveis ou locais de trabalho.

5.2.1. Sujeito passivo direto


Entender-se-á como sujeito passivo direto “aquela pessoa ou entidade que tem uma relação
pessoal e direta com o facto tributário10” , ou por outras palavras aquele que, ao se ter em conta
determinada relação jurídica tributária, figurará em primeiro lugar como vinculado ao
cumprimento da prestação que lhe estiver subjacente.

Auxiliamo-nos da presunção do benefício, trazida à colação por alguns autores para mero auxílio
na determinação do sujeito passivo direto. De facto, tendemos a concordar com JOAQUIM
FREITAS DA ROCHA e HUGO FLORES DA SILVA 11 , que relacionam o sujeito passivo
direto da relação jurídica tributária àquele que for o primeiro e principal beneficiário dos
acréscimos ou vantagens que a tributação visa atingir, verificando-se, por conseguinte, a
presunção de benefício quanto ao mesmo.

Assim e para nós, como sujeito passivo direto poderá figurar quer uma única pessoa ou entidade
- sujeito passivo singular, quer mais que uma pessoa ou entidade, caso em que estaremos perante
um sujeito passivo plural.

5.2.2. Sujeito passivo indirecto


Podemos considerar que estaremos perante a figura do sujeito passivo indireto no caso do
cumprimento da prestação tributária devida por qualquer parte que não o sujeito passivo direto e,
portanto, cumprida por pessoa terceira à relação jurídica principal, onde se presume uma relação
pessoal e direta entre o sujeito passivo e o facto tributário.

Tanto a atuação do substituto como a do responsável tributário, chamados ao cumprimento de


determinada prestação no papel de terceiros relativamente a uma relação tributária pré-existente
entre o sujeito activo direto e o sujeito activo credor, tem como fundamento o dever genérico de
10
V., JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/HUGO FLORES DA SILVA, Teoria Geral da Relação Jurídica Tributária,
pp. 77 e ss., que utilizam a dicotomia versada na presente dissertação existente entre sujeito passivo direto e sujeito
passivo indireto.
11
In Teoria Geral da Relação Jurídica Tributária, pp. 80.

11
colaboração na tarefa de prossecução do Interesse Público materializada na arrecadação da
receita tributária, a que são submetidos12.

6. DAS ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA


A obrigação tributária trata de vínculo obrigacional tributário existente entre um ente público, ou
fisco, e um particular, derivado da obrigação civil, que tem por elemento objetivo uma prestação
que envolve direta ou diretamente um tributo ou multa, bem como deveres instrumentais de fazer
ou não fazer em favor alguma coisa em favor do fisco.

Ressalta-se que obrigação tributária se diferencia de crédito tributário que é uma obrigação
tributária quantificada pelo fisco, ou seja, trata da própria obrigação tributária, mas já lançada,
titulada e individualizada. O crédito tributário quantifica, valoriza e materializa a obrigação
tributária, isto é, determina a quantidade do tributo, mediante o lançamento por autoridade
administrativa que é o acto que o constitui.

O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta.

A obrigação tributária é principal ou acessória.

6.1. Obrigação principal


A obrigação principal surge em razão do facto gerador, seu objectivo final é o pagamento tanto
da prestação pecuniária – tributo, ou penalidade pecuniária – multa.

A obrigação principal surge com a ocorrência do facto gerador, tem por objecto o pagamento de
tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente.

Vale ressaltar que um crédito assim como seus respectivos juros e multas são considerados
obrigação tributária principal, vez que para ser uma obrigação tributária principal depende
exclusivamente do seu conteúdo pecuniário. Diferente do que é apresentado na esfera civil, onde
a coisa acessória segue a principal, pois só esta existe por si, abstrata ou concretamente. Logo, se
uma obrigação principal for nula, nula também será a respectiva (multa).

12
Assim, JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/HUGO FLORES DA SILVA, Teoria Geral da Relação Jurídica
Tributária, pp. 84

12
A multa é o que o tributo não pode ser, nem por definição legal – uma sanção por acto ilícito.
Desta forma, a obrigação de pagar a multa tributária é uma obrigação tributária principal, ou seja,
a multa tributária não é tributo, mas a obrigação de pagá-la tem natureza tributária.

Em suma, a obrigação tributária principal é caracterizada pelo pagamento, seu objeto principal,
tanto do tributo ou da multa tributária, isto é, tal obrigação é sempre de dar – dinheiro, jamais de
fazer ou não fazer algo.

6.2. Obrigação acessória


A obrigação acessória é caracterizada pelas prestações de cunho positivo ou negativo, ou como
são classificadas pelo Direito Civil de obrigações de fazer ou deixar de fazer, previstas no
interesse da fiscalização dos tributos ou da arrecadação.

A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas
ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos.

É importante frisar que tratam de obrigações simples e instrumentais que viabilizam o


cumprimento das obrigações principais – obrigação de dar dinheiro.

Obrigações acessórias existem com o interesse de fiscalizar ou arrecadar tributos, criadas com a
finalidade de facilitar a aplicação da obrigação tributária principal, bem como de possibilitar a
comprovação do cumprimento desta fiscalização.

Quanto às entidades imunes, as obrigações acessórias existem no interesse da fiscalização e


arrecadação de tributos, pois são obrigadas a escriturar livros fiscais para que sejam fiscalizadas
e devidamente verificadas, pelo corpo administrativo, se as condições para a fruição da
imunidade permanecem presentes.

7. CLASSIFICAÇÕES DO FACTO GERADOR


A obrigação tributária surge com o facto gerador, assim entendido como a materialização da
descrição prévia e normativa (hipótese de incidência). Surge a partir da subsunção tributária.
Quando o fato encontra-se à hipótese, à luz do fenômeno da incidência tributária, temos o
nascimento do elo que unirá credor ao devedor do tributo.

Está ligada ao campo do “dever”, e não à exigibilidade, daí se fala em cumprimento da obrigação
tributária (adimplemento) ou não, o que provocará as consequências normais de cobrança do

13
tributo. Cria um ambiente de direitos – pagar o tributo que a lei manda, ou seja, direito de o
Estado cobrar só o que a lei manda, e deveres – dever de pagar o tributo.

O facto gerador é considerado a situação de facto, previsto na lei tributária de forma genérica e
abstrata, ao ocorrer de plano, concretamente, viabiliza a materialização do direito ocorrendo,
assim, o nascimento da obrigação tributária, como principal ou acessória. Possui, ainda,
elementos básicos:

i. A Legalidade, que se refere à exigibilidade do cumprimento do princípio constitucional


da legalidade;
ii. A Economicidade, que caracteriza o fenômeno econômico do fato tributário, envolvendo,
via de regra, base de cálculo e alíquota do tributo, bem como a capacidade contributiva
do sujeito passivo;
iii. Causalidade, que corresponde ao consequente nascimento da obrigação tributária, por
meio do efeito caracterizado pelo fato gerador;

8. CONCLUSÃO
No presente trabalho, pudemos concluir que, em sua actividade financeira, o Estado necessita
captar recursos materiais para manter sua estrutura, disponibilizando ao cidadão-contribuinte os
serviços que lhe compete, como autêntico provedor das necessidades colectivas, e que a principal
fonte de receitas públicas é a cobrança de tributos direcionada aos objectivos fundamentais, tais
como a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a garantia do desenvolvimento
nacional, a erradicação da pobreza e da marginalização, tendente à redução das desigualdades
sociais e regionais, bem como a promoção do bem-estar da colectividade. Daí haver a
necessidade de uma positivação de regras que possam certificar tão relevante desiderato de
percepção de recursos, o que se dá por meio da ciência jurídica intitulada Direito Tributário,
também denominado Direito Fiscal.

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Por outro lado, concluímos que o estudo da relação jurídica tributária constituiu um elemento
essencial na nossa análise, pois foi por via deste que concluímos que no que tange as
características das obrigações, temos o sujeito passivo direto “aquela pessoa ou entidade que tem
uma relação pessoal e direta com o facto tributário ” , ou por outras palavras aquele que, ao se ter
em conta determinada relação jurídica tributária, figurará em primeiro lugar como vinculado ao
cumprimento da prestação que lhe estiver subjacente, e temos o sujeito passivo da relação
jurídica tributária que é “a pessoa singular ou colectiva, o património ou a organização de facto
ou de direito que, nos termos da lei, está vinculado ao cumprimento da prestação tributária, seja
como contribuinte direto, substituto ou responsável.

Quanto a espécie, concluímos que a obrigação tributária é principal ou acessória, sendo que a
obrigação principal surge em razão do facto gerador, seu objectivo final é o pagamento tanto da
prestação pecuniária – tributo, ou penalidade pecuniária – multa, ao passo que a obrigação
acessória é caracterizada pelas prestações de cunho positivo ou negativo, ou como são
classificadas pelo Direito Civil de obrigações de fazer ou deixar de fazer, previstas no interesse
da fiscalização dos tributos ou da arrecadação.

9. REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
 AMARO. Luciano. Conceito e classificação dos tributos. Revista de Direito Tributário
Nacional. São Paulo. Saraiva. 1998;
 Carlos, Américo Fernando Brás, Impostos: Teoria Geral, 4ª edição, Almedina, 2014;
 Catarino, João Ricardo et Guimarães, Vasco Branco, Lições de Fiscalidade Volume I,
3ªedição, Almedina, 2014;
 Dória, António Roberto Sampaio, A evasão fiscal legítima: conceito e problemas, CTF,
1970;
 Gomes, Nuno de Sá, Evasão fiscal, infração fiscal e processo penal fiscal, 2000;
 Joaquim, Freitas DA Rocha/Hugo Flores Da Silva, Teoria Geral da Relação Jurídica
Tributária
 Martínez, Pedro Soares, Direito Fiscal, 10ºedição, Almedina, 2000.

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