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Escola Portuguesa de Luanda

Centro de Ensino de Língua Portuguesa


Ano letivo 2023/2024
Português 9.º ano
Teste de avaliação

GRUPO I – LEITURA

Lê o texto. Se necessário, consulta o vocabulário.

Os bárbaros
Primeiro vieram a cavalo e a galope. Guerreando porque serem guerreiros era a sua
condição e a sua razão de viver. Os bárbaros. Alanos, Vândalos e Suevos. Mais tarde os
Visigodos. Algo os atraía já neste claro azul quase africano. Vinham dos seus países brancos
e invernosos, talvez gostassem do brando clima e do azul do céu, gostavam decerto das
5 terras que conquistavam aos indígenas, e onde se instalavam. Depois pararam as visitas
violentas. As últimas, e mais breves, foram as francesas.
E durante muito tempo não houve incursões1. Até ao advento2 do turismo. E então ei-
los que se puseram a chegar todos os anos pelo verão, voando ou de camioneta de vidraças
panorâmicas e ar condicionado, de automóvel também, naturalmente, e até em auto-stop3
10 que é a maneira atual de viajar na garupa do cavalo. Enchem os hotéis de todas as estrelas
que há na terra e também os parques de campismo onde erguem as suas tendas de paz.
Vêm armados de máquinas fotográficas e de filmar. E só lhes interessam as coisas, e eles
próprios no meio delas. Quanto aos indígenas, querem lá saber. Como dantes.
É uma coisa engraçada, o turismo. Porque não traz nada de verdadeiramente novo.
15 Como, de resto, nada neste mundo, ou tão pouco. As coisas é que mudam de nome e de
rosto com tempo. Mas repetem-se incessantemente.
Estou a escrevinhar estas regras – já muitas vezes escritas – porque avistei agora
mesmo, da minha janela, um grupo loiro e colorido de vikings, saindo do seu drakkar4
terrestre e sem cabeça de dragão.
(O Jornal, 18-7-80) Maria Judite de Carvalho, Este tempo, Lisboa, Editorial Caminho, 1991

VOCABULÁRIO 1incursões: invasões; 2advento: aparecimento; 3auto-stop: boleia; 4drakkar: embarcação escandinava,
comprida, movida a remos e com uma cabeça de dragão na proa, utilizada pelos vikings.

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1. As afirmações apresentadas de (A) a (G) correspondem a ideias-chave do texto.
Escreve a sequência de letras que corresponde à ordem pela qual essas ideias aparecem no texto.
Começa a sequência pela letra (D).
(A) A visão de um grupo de turistas nórdicos despoletou a reflexão que gerou a escrita deste texto.
(B) Os novos invasores apresentam um novo tipo de armas: máquinas fotográficas e de filmar.
(C) Um novo tipo de invasão surgiu com o desenvolvimento da indústria turística.
(D) Ao longo da História, Portugal foi palco de várias invasões nórdicas.
(E) Com o passar do tempo, pouco muda realmente, apenas se alteram a aparência e o nome das
coisas.
(F) Apesar da sua atitude menos agressiva, os novos invasores mantêm a desconsideração pelos
indígenas.
(G) As incursões violentas terminaram com as invasões francesas.

2. Para responderes a cada item (2.1. a 2.5.), seleciona a única opção que permite obter uma afirmação
adequada ao sentido do texto. Escreve o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
2.1. A sequência “Primeiro”, “Mais tarde” e “Depois”, presente no primeiro parágrafo visa
(A) apresentar uma linha temporal.
(B) transmitir uma relação de causa-efeito.
(C) transmitir exclusivamente uma relação de adição.
(D) localizar espacialmente a ação.

2.2. A frase “Vêm armados de máquinas fotográficas e de filmar.” (linhas 13-14) contém
(A) uma antítese. (C) um eufemismo.

(B) uma hipérbole. (D) uma metáfora.

2.3. A expressão “querem lá saber” (linha 15) exemplifica um registo de língua


(A) cuidado. (C) familiar.

(B) próprio do calão. (D) próprio da gíria

2.4. A expressão “já muitas vezes escritas” (linha 19) significa que a autora considera
(A) a sua perspetiva absolutamente inovadora.
(B) que também na sua escrita pouco há de novo.
(C) opiniões de outros autores ao longo do seu texto.
(D) que, ao escrever o texto, plagiou outros autores.

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2.5. A referência ao drakkar e ao aspeto viking dos turistas (linhas 20/21) pretende
(A) sublinhar o aspeto pouco bárbaro dos turistas nórdicos.
(B) retomar a ideia da invasão dos bárbaros que inicia o texto.
(C) evidenciar os conhecimentos históricos da autora da crónica.
(D) mostrar que, historicamente, tudo se altera.

GRUPO II – EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Lê o atentamente o texto e as notas.

Um grande temor enchia o palácio, onde agora reinava uma mulher entre mulheres. O
bastardo, o homem de rapina que errava1 no cimo das serras, descera à planície com a sua horda2, e
já através de casais e aldeias felizes ia deixando um sulco de matança e ruínas. As portas da cidade
tinham sido seguras com cadeias mais fortes. Nas atalaias3 ardiam lumes mais altos. Mas à defesa
faltava disciplina viril. Uma roca4 não governa como uma espada. Toda a nobreza fiel perecera5 na
grande batalha. E a rainha desventurosa apenas sabia correr a cada instante ao berço do seu filhinho
e chorar sobre ele a sua fraqueza de viúva. Só a ama leal parecia segura – como se os braços em que
estreitava o seu príncipe fossem muralhas de uma cidadela6 que nenhuma audácia pode transpor.
Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre7,
entre os seus dois meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à
entrada dos vergéis8 reais. Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou,
ansiosamente. Na terra areada, entre os jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve
um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes, como um fardo. Descerrou violentamente a
cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de lanternas, brilhos de armas... Num
relance tudo compreendeu – o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar, matar o seu
Príncipe! Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de
marfim, atirou-o para o pobre berço de verga – e tirando o seu filho do berço servil, entre beijos
desesperados, deitou-o no berço real que cobriu com um brocado9.
Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto negro sobre a cota de
malha10, surgiu à porta da câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou – correu ao berço de
marfim onde os brocados luziam, arrancou a criança, como se arranca uma bolsa de ouro, e abafando
os seus gritos no manto, abalou furiosamente.
O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva.

Eça de Queirós, [«A Aia»], in Contos, Vol. I, Edição de Marie-Hélène Piwnik, Lisboa, IN-CM, 2009

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NOTAS
1 errava – andava de um lado para o outro, sem destino certo. 2 horda – conjunto de pessoas que provocam
desordem.3 atalaias – pontos elevados de onde se observa e vigia.4 roca – brinquedo de bebé /instrumento para fiar
o linho, a lã ou o algodão. 5 perecera – morrera. 6 cidadela – fortaleza.
7 catre – cama pobre. 8 vergéis – jardins ou pomares. 9 brocado – tecido de seda com fios de ouro ou prata e motivos
em relevo. 10 cota de malha – armadura defensiva.

Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.

1. Localiza a ação no tempo e no espaço, justificando com elementos textuais.


2. Quanto à delimitação da ação, como classificas esta narrativa? Justifica a tua resposta.
3. Explica de que modo se estabelece o contraste, no primeiro parágrafo, entre a descrição do
ambiente vivido no reino e a caracterização da ama.
4. Justifica a utilização do adjetivo «desesperados» (linha 18), no contexto dos acontecimentos.
5. Explicita a expressividade da comparação «arrancou a criança, como se arranca uma bolsa de ouro»
(linha 21).

6. Estabelece a correspondência entre os excertos presentes na Coluna A e os recursos expressivos


apresentados na Coluna B.

Coluna A Coluna B
A. metáfora
1. “Uma roca não governa como uma espada”. B. antítese
2. “passos pesados e rudes” C. anáfora
3. “avistou homens, um clarão de lanternas, brilhos D. personificação
de armas...” E. dupla adjetivação
4. “um corpo tombando (…)sobre lajes, como um F. enumeração
fardo” G. comparação

GRUPO III – GRAMÁTICA

1. Reescreve a frase seguinte, substituindo o pronome sublinhado pelo nome correspondente.


a) “atirou-o para o pobre berço de verga.” (linha 17)

2. Reescreve as frases, substituindo as expressões sublinhadas pelas formas adequadas do pronome


pessoal.
a) A rainha terá imaginado um desfecho trágico quando ouviu o barulho de armas.
b) A Aia nunca disse a verdade à rainha.
c) O povo aplaudiu a Aia.
d) Ela não viu o tio bastardo.
e) Se quisesse, ela ganharia a maior joia do tesouro.

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3. Indica a função sintática dos elementos sublinhados nas frases.

a) sem um braço que o defendesse


b) “Um homem enorme … surgiu à porta da câmara…”
c) O tio era violento.
d) Amava ambas as crianças, aquela escrava.

4. Indica o valor aspetual das frases seguintes.


a) “onde agora reinava uma mulher entre mulheres”
b) “E além, ao fundo da galeria, avistou homens…”
c) “Nas atalaias ardiam lumes mais altos”

5. Classifica as orações subordinadas destacadas nas frases que se seguem.


a) “gostavam decerto das terras que conquistavam aos indígenas”
b) “Estou a escrevinhar estas regras (…) porque avistei (…) um grupo loiro e colorido de vikings”
c) “Enchem os hotéis de todas as estrelas que há na terra”
d) “…deitou-o no berço real que cobriu com um brocado”
e) “Um grande temor enchia o palácio, onde agora reinava uma mulher entre mulheres”
f) “…arrancou a criança, como se arranca uma bolsa de ouro”

GRUPO IV– Escrita

Escolhe apenas um dos temas


Tema 1: Consideras que Angola devia investir mais no turismo?
Escreve um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de 160 e um máximo de 240 palavras,
em que defendas o teu ponto de vista.

Tema 2: Pode o dever de lealdade levar alguém a sacrificar a vida do seu próprio filho para salvar o
seu senhor?
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 160 e um máximo de 240 palavras, dá a tua opinião
sobre o assunto (mostra de forma clara se és a favor ou contra a atitude da Aia; fundamenta a tua
posição apresentando argumentos, exemplos).

Bom trabalho!
A professora: Ana Quelhas Rodrigues

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