Você está na página 1de 34

AESGA - FACIGA – PENAL V = II UNIDADE: INFÂNCIA E JUVENTUDE

2023-2

Evolução histórica. Direito da Infância e Juventude. Estatuto da Criança e do


Adolescente e a Doutrina da Proteção Integral – Disposições preliminares e
direitos fundamentais. Colocação em família substituta.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

O Direito brasileiro, em sua origem, está intrinsecamente ligado ao


Direito português. Após o descobrimento do Brasil, a legislação portuguesa,
conhecida como ORDENAÇÕES DO REINO passaram a ser aplicadas em nosso
território. AS ORDENAÇÕES AFONSINAS, ditadas entre 1446 e 1447, em
nome do Rei Afonso V, formaram o primeiro diploma legislativo importante.
Foram inspiradas em leis genéricas, resoluções reais, costumes locais, estilos
da corte, jurisprudência e alguns preceitos de Direito Canônico e Romano. AS
ORDENAÇÕES AFONSINAS foram substituídas, logo no início do século XV,
pelas ORDENAÇÕES MANUELINAS, encomendadas a juristas destacados pelo
Rei D. Manuel. Na essência, as ORDENAÇÕES MANUELINAS mantinham os
ditames da legislação anterior. No que se refere aos menores permitiam ao juiz
aplicar uma pena reduzida ao delinquente que tivesse entre 17 e 20 anos de
idade, proibida a imposição da pena de morte aos menores de 17 anos.

Em 11 de janeiro de 1603, durante o reinado de FILIPE II (Felipe III


da Espanha), entraram em vigor as ORDENAÇÕES FILIPINAS, que pouco
alteraram a legislação anterior, especialmente quanto aos menores. REGRAS
GERAIS, excepcionadas por normas particulares: 1- OS MENORES DE 17
ANOS ERAM ISENTOS DA PENA CAPITAL E SUJEITOS ÀS DEMAIS; 2-
ENTRE 17 E 20 ANOS, O DELINQUENTE PODIA RECEBER QUALQUER PENA,
SE TIVESSE ATUADO COM “GRANDE MALÍCIA”, OU TÊ-LA DIMINUÍDO SE
NÃO ATUASSE COM TAL MALÍCIA; 3- A IMPUTABILIDADE ERA COMPLETA
ACIMA DE 20 ANOS. As Ordenações Filipinas foram as primeiras editadas
também no brasil, na época em que aqui começavam a surgir estudiosos do
direito.

INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

A Independência do Brasil, em 1822, não significou o abandono imediato


da legislação portuguesa. AS ORDENAÇÕES FILIPINAS FORAM
ASSIMILADAS PELO NOVO IMPÉRIO ATRAVÉS DE UM DECRETO DE 20 DE
OUTUBRO DE 1823, O QUE ACABOU PERMITINDO QUE O PRIMITIVO
PROCESSO PENAL BRASILEIRO ADMITISSE TORTURAS, AÇOITES E
OUTRAS PRÁTICAS ATROZES. O DIREITO CRIMINAL PORTUGUÊS, QUE

1
ADOTAVA LIMITES DE IDADE SEMELHANTES AOS DO DIREITO ROMANO,
PERMITIA O ARBÍTRIO DO JUIZ, QUE MUITAS VEZES ABANDONAVA O
CRITÉRIO ETÁRIO PARA LEVAR EM CONTA A MALÍCIA DO MENOR.

A CONSTITUIÇÃO DE 1824 GARANTIU ALGUNS DIREITOS


INDIVIDUAIS, como a proibição de prisão sem prévio reconhecimento de culpa
e a abolição das penas cruéis.

Em 16 de dezembro de 1830 foi sancionado o CÓDIGO CRIMINAL DO


IMPÉRIO, que, entre outras inovações, estabeleceu o PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE. Tal texto legislativo previa a aplicação de MEDIDAS
CORRECIONAIS AOS MENORES DE 14 ANOS QUE TIVESSEM AGIDO COM
DISCERNIMENTO, PRATICADO UM ATO ANTISSOCIAL. DOS 14 AOS 17
ANOS OS DELINQUENTES ERAM PUNIDOS COM A PENA CORRESPONDENTE
À DA CUMPLICIDADE, E DOS 17 AOS 21 ANOS TINHAM A SANÇÃO
ATENUADA. AOS 21 ANOS COMEÇAVA A IMPUTABILIDADE.

AS ORDENAÇÕES DE PORTUGAL FORAM TOTALMENTE REVOGADAS


EM 1917, COM A VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL.

SÉCULO XX: O Brasil passou por um relevante período de progresso no


século XX, que estabeleceu as bases de sua sociedade moderna. As grandes
transformações econômicas, políticas e sociais dessa época provocaram uma
mudança de mentalidade: O CONCEITO DE INFÂNCIA PASSOU A SER
TAMBÉM UMA QUESTÃO SOCIAL, COMPETÊNCIA DO ESTADO. Mas, a
criança nunca deixou de ser tratada como um produto da pobreza, um problema
que exigia atenção. Dessa concepção surgiu a expressão “MENOR”, que passou
a designar a criança pobre e potencialmente perigosa.

Começou o século XX sob a autoridade do Código Penal de 1890 – Código


Penal da República, que estabelecia: 1-Inimputabilidade absoluta até os nove
(9) anos de idade; 2-Dos nove (9) aos quatorze (14), aqueles que tivesse agido
com discernimento deveriam ser recolhidos a estabelecimentos industriais; como
esses estabelecimentos nunca foram organizados, os menores eram colocados
em prisões comuns; 3-Dos 14 aos 17 anos o discernimento era presumido, mas
eram aplicadas as penas de cumplicidade (2/3 da pena que coubesse ao adulto);
4-Dos 17 aos 21 anos, a idade configurava atenuante.

AS SUCESSIVAS LEIS PENAIS, INCLUSIVE O ATUAL CP de 1940,


QUE TEVE A SUA PARTE GERAL REFORMADA EM 1984 (Lei 7.209/84),
estabeleceram os 18 anos como limite da maioridade penal. Somente no início
da República surgiram as PRIMEIRAS NORMAS RELATIVAS À INFÂNCIA
ABANDONADA E DELINQUENTE.

2
Em setembro de 1896, o Senador Lopes Trovão já dizia que havia chegado
o tempo de preparar na infância a célula de uma juventude melhor e a gênese
de uma humanidade mais perfeita. Foi o mesmo Senador quem submeteu ao
Senado, em 29 de outubro de 1902, o primeiro projeto de uma lei especial,
sobre menores. Logo surgiram outras iniciativas, mas o pioneirismo coube à Lei
4.242, de 5 de janeiro de 1921, que fixava a Despesa Geral da República. O
art. 3º da citada Lei, de iniciativa do juiz JOSÉ CÂNDIDO DE ALBUQUERQUE
MELLO MATTOS, autorizava o governo a organizar o SERVIÇO DE
ASSISTÊNCIA E PROTEÇÃO À INFÂNCIA ABANDONADA E DELINQUENTE
E ABRIA OPORTUNIDADE PARA A CRIAÇÃO DOS JUIZADOS DE MENORES
– O QUE EFETIVAMENTE ACONTECEU COM A EDIÇÃO DOS DECRETOS
16.272 E 16.273, AMBOS DE 20 DE DEZEMBRO DE 1923, QUE FORAM
RATIFICADOS PELA LEI 4.793, DE 7 DE JANEIRO DE 1924. EM 1926, O
DECRETO LEGISLATIVO 5.083, DE 1º DE DEZEMBRO CRIOU O CÓDIGO DE
MENORES, CRIANDO NOVAS FIGURAS DE CRIMES E CONTRAVENÇÕES,
ALÉM DOS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO AOS MENORES.

TODA ESSA LEGISLAÇÃO FOI, MAIS TARDE, CONSOLIDADA NO


DECRETO 17.943-A, DE 12 DE OUTUBRO DE 1927, QUE RECEBEU O NOME
DE CÓDIGO DE MELLO MATTOS. Tal instrumento legal aboliu o critério do
discernimento, exigia que os menores estivessem sob os cuidados dos pais até
os 14 anos. Quando isso fosse impossível, a medida de internação era aplicada.
Dos 14 aos 18 anos estabelecia-se um tratamento especial aos menores que
fossem classificados como ABANDONADOS OU DELINQUENTES. Para os
ABANDONADOS eram previstas medidas de ENTREGA AO RESPONSÁVEL,
TRATAMENTO, SUSPENSÃO OU PERDA DO PODER FAMILIAR OU ALGUMA
OUTRA, A CRITÉRIO DO JUIZ. OS VADIOS NÃO HABITUAIS PODIAM SER
REPREENDIDOS OU ENTREGUES À PESSOA IDÔNEA; E OS HABITUAIS OU
QUE ESTIVESSEM ENVOLVIDOS EM JOGO, TRÁFICO, PROSTITUIÇÃO OU
LIBERTINAGEM, ERAM INTERNADOS ATÉ A MAIORIDADE EM ESCOLA DE
PRESERVAÇÃO. AOS DELINQUENTES ABANDONADOS A LEI RESERVAVA
INTERNAÇÃO DE UM A CINCO ANOS E AOS PERVERTIDOS, INTERNAÇÃO
DE TRÊS A SETE ANOS. O processo, sob a presidência de um juiz único, incluía
acusação pelo Ministério Público e defesa técnica por advogado. O Código de
Menores de 1927, após longo período de vigência ficou obsoleto. A doutrina
passou a rejeitar as designações de MENOR DELINQUENTE E MENOR
ABANDONADO, E PROPÔS A CRIAÇÃO DE FÓRMULAS GERAIS DENTRO DAS
QUAIS O MENOR DEVERIA SER ASSISTIDO. Além disso, faltava ao
mencionado Código, estabelecer a possibilidade de uma assistência educativa,
quer pela família do menor, quer por instituições especializadas. Importante

3
registrar que, a vigência do Código Penal de 1940 determinava ao legislador que
fizesse uma adaptação do Código de Menores ao PRINCÍPIO DA
IRRESPONSABILIDADE PENAL DOS MENORES INFRATORES.

Após várias reformas que não surtiram o êxito esperado, surgiu o


CÓDIGO DE MENORES DE 1979 (LEI 6.697 DE 10 DE OUTUBRO DE 1979),
que estabelecia a assistência, vigilância e proteção aos menores de 18 anos,
que se encontrassem em SITUAÇÃO IRREGULAR, ou entre 18 e 21, nos casos
expressos em lei. O CÓDIGO DE MENORES PREVIA SEIS DIFERENTES
MEDIDAS DE ASSISTÊNCIA E PROTEÇÃO, DESDE A ADVERTÊNCIA OU
ENTREGA DO MENOR A SEUS PAIS ATÉ A INTERNAÇÃO. O juiz e o promotor
de justiça não eram sujeitos neutros: assumiam uma função, punitiva e não
integravam uma relação processual tríplice. Aliás, as medidas podiam ser
aplicadas mediante procedimentos administrativos ou contraditórios, de iniciativa
oficial ou provocado pelo Ministério Público ou por quem tivesse legítimo
interesse.

Segundo Paulo Afonso Garrido de Paula, a EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO


DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE PODE SER RESUMIDA EM QUATRO FASES
OU SISTEMAS:

1- FASE DA ABSOLUTA INDIFERENÇA - não existiam normas


relacionadas a essas pessoas;

2-FASE DA MERA IMPUTAÇÃO CRIMINAL - as leis tinham o único


propósito de coibir a prática de ilícitos por crianças e adolescentes
(ORDENAÇÕES DO REINO DE PORTUGAL, CÓDIGO CRIMINAL DO IMPÉRIO
DE 1830, CÓDIGO PENAL DE 1890);

3-FASE TUTELAR - conferia ao mundo adulto poderes para promover a


integração social e familiar da criança, com tutela reflexa de seus interesses
pessoais (CÓDIGO DE MELLO MATTOS DE 1927 E CÓDIGO DE MENORES DE
1979); e

4-FASE DA PROTEÇÃO INTEGRAL - são reconhecidos direitos e


garantias às crianças e adolescentes, considerando-os como uma pessoa em
desenvolvimento. É nesta fase que surge o ECA – Lei 8069/1990.

DOCUMENTOS INTERNACIONAIS

No final do século XIX e início do século XX, vários movimentos sociais


em todo o planeta, passaram a exigir, sobretudo, a redução das horas
trabalhadas e da idade mínima para o trabalho, além de melhorias nas condições
de trabalho de modo geral. Tais reivindicações levaram a comunidade

4
internacional a se preocupar especificamente com as crianças. Pode-se dizer
que os dois fatores abaixo foram os responsáveis para que surgissem normas
jurídicas tratando da proteção às crianças: 1-O descontentamento da classe
operária com as condições de trabalho existente; 2- Os horrores da primeira
guerra mundial, com consequências nefastas às crianças (abandono das crianças
em razão da morte dos pais, entre outros).

Surgiu a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que de uma só


vez aprovou seis convenções, duas tratando da proteção dos interesses das
crianças e também a UNIÃO INTERNACIONAL SALVE AS CRIANÇAS,
vanguardista na luta pelos direitos da infância em todo o mundo, que elaborou
a DECLARAÇÃO DE GENEBRA, cuja proposta foi apresentada à Assembleia
Geral da Liga das Nações. Não se pode esquecer que vários instrumentos legais
internacionais trataram dos direitos humanos de crianças, entre os quais se
destaca a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM, DE 1948
(arts. 25 e 26).

Em 1959 a Assembleia Geral da ONU aprovou a DECLARAÇÃO DOS


DIREITOS DA CRIANÇA, documento que foi o divisor de águas, porque a
criança passou a ser vista como sujeito de direitos, abandonando o conceito de
que era objeto de proteção. Vale ressaltar que, como toda Declaração, a
Declaração de 1959 não tinha coercibilidade e o seu cumprimento ficava ao
arbítrio dos Estados. Dessa forma, era imperioso um documento que tivesse
coercibilidade, o que ocorreu com a CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA
CRIANÇA, de 1989, também conhecida como CONVENÇÃO DE NOVA YORK,
ratificada pelo Brasil em 1990, passou a considerar a criança como sujeito de
direitos, que faz jus à proteção integral.

Três mudanças internacionais deram origem a uma mudança no modelo


legislativo brasileiro: 1-AS REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA
A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE (REGRAS
DE BEIJING OU REGRAS DE PEQUIM, RES. 40/33, DE 29/11/1985, O
SISTEMA DE JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE); 2-A CONVENÇÃO
SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA (RES. 1386, DE 20/11/1989, DA
ASSEMBLEIA GERAL DA ONU = promulgada no Brasil pelo decreto 99.710 de
21/11/1990); 3-AS DIRETRIZES PARA A PREVENÇÃO DA DELINQUÊNCIA
JUVENIL (DIRETRIZES DE RIAD, RES. 45/112, DE 14/12/1990), DA
ASSEMBLEIA GERAL DA ONU. A esses documentos juntaram-se as REGRAS
MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A PROTEÇÃO DOS JOVENS
PRIVADOS DE LIBERDADE.

5
A doutrina da ONU reconheceu a criança e o adolescente como sujeitos
de direitos, e não apenas como objetos de proteção e a partir daí recomendou
aos países-membros que criassem uma justiça especializada com um modelo
processual caracterizado pelo processo devido, pela presunção de inocência e
pelos critérios de proporcionalidade e igualdade. A CF DE 1988, ainda que
anterior à Convenção sobre os Direitos da Criança, utilizou como fonte o projeto
da normativa internacional e sintetizou aqueles preceitos que mais tarde seriam
adotados pelas Nações Unidas. Uma vez imposta uma nova ordem jurídica pela
CF, editou-se a LEI 8.069 DE 13 DE JULHO DE 1990, O ESTATUTO DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA, que também deveria concentrar a tarefa
de manter perfeita identidade com a Convenção da ONU.

DIREITO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990) representa o


marco de consolidação do Direito da Criança e do Adolescente no Brasil, que
teve início com a CF/1988. O ECA tem como premissas que criança e adolescente
não mais são meros objetos de proteção, conforme disciplinava o Código de
Menores de 1979. Hoje, criança e adolescente são SUJEITOS DE DIREITOS,
pois são TITULARES DAS GARANTIAS EXPRESSAS A TODOS OS
BRASILEIROS, TAMBÉM POSSUEM DIREITOS ESPECIAIS, COMO O
DIREITO AO LAZER. O Direito da Criança e do Adolescente é um novo e
especial ramo do Direito, que merece tratamento diferenciado, tendo em vista
a jurisprudência pátria e a doutrina moderna.

A EC 45/2004, incluiu o § 3º AO ART. 5º DA CF/1988,


DETERMINANDO QUE OS TRATADOS E AS CONVENÇÕES
INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS QUE FOREM APROVADOS,
EM CADA CASA DO CONGRESSO NACIONAL, EM DOIS TURNOS, POR TRÊS
QUINTOS DOS VOTOS DOS RESPECTIVOS MEMBROS SERÃO
EQUIVALENTES ÀS EMENDAS CONSTITUCIONAIS.

O ECA PERMITIU QUE O DIREITO DE MENORES CEDESSE LUGAR AO


DIREITO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE, TENDO COMO FUNDAMENTO
O ABANDONO DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR EM FAVOR DA
DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL. Assim, substituiu-se UMA JUSTIÇA
DE MENORES, INTUITIVA E PATERNALISTA, POR UMA JUSTIÇA DA
INFÂNCIA E JUVENTUDE ADEQUADA AO DIREITO CIENTÍFICO E ÀS
NORMAS CONSTITUCIONAIS.

O ECA AFASTOU O TERMO “MENOR” E ADOTOU AS EXPRESSÕES


“CRIANÇA” E “ADOLESCENTE”, PARA DEFINIR, RESPECTIVAMENTE, AS

6
PESSOAS DE ATÉ 12 ANOS INCOMPLETOS E AQUELAS QUE TENHAM
ENTRE 12 E 18 ANOS INCOMPLETOS (ART. 2º). A distinção usa a melhor
técnica que a CONVENÇÃO DA ONU e a maior parte das leis estrangeiras, que
se referem ao menor como toda pessoa de menos de 18 anos de idade.

A SUPERIORIDADE DO CONCEITO ADOTADO PELO ECA PODE SER


NOTADA QUANDO SE FALA DO PROCESSO POR ILÍCITO PENAL
EQUIPARADO A ATO INFRACIONAL, CUJO ÚNICO SUJEITO ATIVO É O
ADOLESCENTE. Além disso, o termo “MENOR” tem conteúdo normativo jurídico
escasso e se presta a diferentes definições, além de ter conteúdo pejorativo.

DIA NACIONAL DO COMPROMISSO COM A CRIANÇA, O


ADOLESCENTE E A EDUCAÇÃO: A LEI 12.685/2012, QUE ENTROU EM
VIGOR NO MESMO DIA, INSTITUIU O DIA 21 DE NOVEMBRO como DIA
NACIONAL DO COMPROMISSO COM A CRIANÇA, O ADOLESCENTE E A
EDUCAÇÃO. Vale ressaltar que o dia 21 de novembro foi escolhido porque é a
data em que foi promulgada no Brasil a CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS
DA CRIANÇA, através do Decreto nº 99.710/1990, bem como a referida lei
ratifica a DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL E O POSTULADO
NORMATIVO DO SUPERIOR INTERESSE DA CRIANÇA e servirá para chamar
a atenção da sociedade para a necessidade de garantir direitos às pessoas em
desenvolvimento, especialmente a educação.

2.1 NORMAS ESSENCIAIS DO DIREITO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE

O DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE assim denominado surgiu


com o art. 227 da CF, que assim estabelece:

“É DEVER DA FAMÍLIA, DA SOCIEDADE E DO ESTADO ASSEGURAR


À CRIANÇA, AO ADOLESCENTE E AO JOVEM, COM ABSOLUTA
PRIORIDADE, O DIREITO À VIDA, À SAÚDE, À ALIMENTAÇÃO, À
EDUCAÇÃO, AO LAZER, À PROFISSIONALIZAÇÃO, À CULTURA, À
DIGNIDADE, AO RESPEITO, À LIBERDADE E À CONVIVÊNCIA
FAMILIAR E COMUNITÁRIA, ALÉM DE COLOCÁ-LOS A SALVO DE
TODA FORMA DE NEGLIGÊNCIA, DISCRIMINAÇÃO, VIOLÊNCIA,
CRUELDADE E OPRESSÃO”. (Redação dada Pela Emenda Constitucional
nº 65, de 2010)

A expressão “prioridade absoluta” significa que deve ser dada à criança


e ao adolescente e também ao jovem, nos termos da Lei 8.069/90 – Estatuto
da Criança e do Adolescente – um tratamento diferenciado, ou seja, os direitos

7
previstos no ECA aos sujeitos de direito referidos devem ser atendidos em
primeiro lugar em relação aos demais cidadãos.

Antes da promulgação da Constituição de 1988 (Constituição Cidadã) e da


Lei 8069/90 (ECA), JÁ SE FALAVA NA COMUNIDADE INTERNACIONAL
SOBRE A NECESSIDADE DE PROTEÇÃO ESPECIAL AO SER HUMANO NAS
PRIMEIRAS ETAPAS DE SUA VIDA, OU SEJA, INFÂNCIA E JUVENTUDE.

O ECA TROUXE UMA VISÃO HUMANIZADA DA POPULAÇÃO


INFANTO-JUVENIL, AO DISPOR EM SEU ART. 1º: “ESTA LEI DISPÕE
SOBRE A PROTEÇÃO INTEGRAL À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE”.

RESSALTE-SE QUE O ECA TEM COMO BASE OS PRINCÍPIOS


CONSTITUCIONAIS E CONSTITUI O PRINCIPAL DIPLOMA LEGAL NO QUE
SE REFERE À TUTELA DOS DIREITOS INFANTO-JUVENIS. HOJE,
CRIANÇAS E ADOLESCENTES SÃO SUJEITOS DE DIREITO.

2.2 CONCEITO: O ECA, segundo a doutrina, traduz o conjunto de


direitos fundamentais indispensáveis à formação integral de crianças e
adolescentes, mas longe está de ser apenas uma lei que se limita a enunciar
regras de direito material. É um microssistema que cuida de todo o arcabouço
necessário para se efetivar o ditame constitucional de ampla tutela da criança
e do adolescente.

PROTEÇÃO INTEGRAL E ABSOLUTA PRIORIDADE

O ECA É CONSTITUÍDO POR UM CONJUNTO DE PRINCÍPIOS E


REGRAS QUE DISCIPLINAM DIVERSOS ASPECTOS DA VIDA, DESDE O
NASCIMENTO ATÉ A MAIORIDADE E TEM COMO BASE O PRINCÍPIO DA
PROTEÇÃO INTEGRAL, nos termos do seu art. 1º.

A Lei 8.069/90 tem como objetivo proteger ou tutelar a criança e o


adolescente de forma ampla e por isso não se limita a tratar de medidas
repressivas previstas para os adolescentes que praticam atos infracionais. Antes
disso, o ECA dispõe sobre direitos infanto-juvenis, formas de auxiliar sua
família, tipificações administrativas etc. Dessa forma, por proteção integral
deve-se entender o conjunto amplo de mecanismos jurídicos voltados à tutela
da criança e do adolescente. Dessa forma, o ECA deve ser interpretado e
aplicado com os olhos voltados para os fins sociais a que se dirige, com
observância de que crianças e adolescentes são pessoas em desenvolvimento, a
quem deve ser dado tratamento especial. A doutrina da proteção integral guarda
ligação com o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, o que
significa que, na análise do caso concreto, os operadores do Direito (advogado,

8
defensor público, promotor de justiça e juiz) devem buscar a solução que
proporcione o maior benefício possível para a criança ou adolescente. Vale
ressaltar que, nas hipóteses de colocação em família substituta (guarda, tutela
e adoção), o princípio do melhor interesse se faz presente de forma primordial.

3.1 DEFINIÇÃO DO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL: conjunto de


mecanismos jurídicos voltados à tutela da criança e do adolescente.

IMPORTANTE REGISTRAR QUE A LEI 13.257, DE 8 DE MARÇO DE


2016, que entrou em vigor na data de sua publicação, dispõe sobre as políticas
públicas para a primeira infância e alterou o ECA, o Decreto-Lei 3689, de
3/10/194 (CPP) e a CLT. dita lei estabelece princípios e diretrizes para a
formulação e a implementação de políticas públicas para a primeira infância em
atenção à especificidade e à relevância dos primeiros anos de vida no
desenvolvimento infantil e no desenvolvimento do ser humano, em consonância
com os princípios e diretrizes do ECA.

Pela lei citada, considera-se primeira infância o período que abrange os


primeiros seis (06) anos completos ou 72 (setenta e dois) meses de vida da
criança e no seu § 3º estabelece que a prioridade absoluta em assegurar os
direitos da criança, do adolescente e do jovem, nos termos do art. 227 da CF
e do art. 4º do ECA, implica o dever do Estado de estabelecer políticas, planos,
programas e serviços para a primeira infância que atendem às especificidades
dessa faixa etária, visando a garantir seu desenvolvimento integral.

A LEI 13.257, DE 8 DE MARÇO DE 2016 ACRESCEU AO ART. 3º DO


ECA, UM PARÁGRAFO ÚNICO, IN VERBIS:

PARÁGRAFO ÚNICO. OS DIREITOS ENUNCIADOS NESTA LEI


APLICAM-SE A TODAS AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES, SEM
DISCRIMINAÇÃO DE NASCIMENTO, SITUAÇÃO FAMILIAR, IDADE,
SEXO, RAÇA, ETNIA OU COR, RELIGIÃO OU CRENÇA, DEFICIÊNCIA,
CONDIÇÃO PESSOAL DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM,
CONDIÇÃO ECONÔMICA, AMBIENTE SOCIAL, REGIÃO E LOCAL DE
MORADIA OU OUTRA CONDIÇÃO QUE DIFERENCIE AS PESSOAS, AS
FAMÍLIAS OU A COMUNIDADE EM QUE VIVEM.

O caput do art. 4º do ECA traduz o art. 227 da CF, em sua redação


original, antes das alterações da EC 65/2010, com enumeração de alguns dos
direitos da criança e do adolescente, de modo exemplificativo. A expressão
principal desse artigo é “absoluta prioridade”.

9
CONCEITO DE ABSOLUTA PRIORIDADE: DEVER QUE RECAI SOBRE A
FAMÍLIA, A SOCIEDADE E O ESTADO DE PRIORIZAR O ATENDIMENTO
DOS DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES. O PARÁGRAFO ÚNICO DO
ART. 4º ESTABELECE QUE A GARANTIA DE PRIORIDADE ABSOLUTA
COMPREENDE:

1-PRIMAZIA DE RECEBER SOCORRO; 2-PRECEDÊNCIA DE ATENDIMENTO


NOS SERVIÇOS PÚBLICOS OU DE RELEVÂNCIA PÚBLICA; 3-PREFERÊNCIA
NA FORMULAÇÃO E EXECUÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E 4- DESTINAÇÃO
PRIVILEGIADA DE RECURSOS.

3.2 CRIANÇAS E ADOLESCENTES SÃO SUJEITOS DE DIREITO

Nos termos do art. 5º do ECA: NENHUMA CRIANÇA OU ADOLESCENTE


SERÁ OBJETO DE QUALQUER FORMA DE NEGLIGÊNCIA, DISCRIMINAÇÃO,
EXPLORAÇÃO, VIOLÊNCIA, CRUELDADE E OPRESSÃO, PUNIDO NA FORMA
DA LEI QUALQUER ATENTADO, POR AÇÃO OU OMISSÃO, AOS SEUS
DIREITOS FUNDAMENTAIS.

O mencionado artigo está diretamente relacionado à parte final do art.


227 da CF. As condutas proibidas não se referem apenas aos pais, mas a
quaisquer pessoas que tenham contato com a criança ou com o adolescente. A
negligência, por exemplo, pode ser praticada por um guardião ou alguém que
tenha a criança ou adolescente sob seus cuidados em determinada situação. A
discriminação pode ter por alvo motivos de cor, religião, origem etc.

O art. 5º busca enumerar de forma ampla qualquer conduta que possa


violar os direitos da criança e do adolescente, sendo certo que o ECA prevê
sanções de natureza civil (ex: suspensão e perda do poder familiar), penal e
administrativa - o Título VII, do Livro II dispõe sobre crimes e infrações
administrativas relacionadas a crianças e adolescentes).

Ressalte-se que o CÓDIGO DE MENORES, TRATAVA CRIANÇAS E


ADOLESCENTES COMO OBJETOS DE PROTEÇÃO. A DOUTRINA MODERNA,
AO CONTRÁRIO, TRATA TAIS PESSOAS EM DESENVOLVIMENTO COMO
SUJEITOS DE DIREITO, COM O OBJETIVO DE DEIXAR CLARO QUE HÁ
DIREITOS A RESPEITAR E QUE TODA A SOCIEDADE – PAIS,
RESPONSÁVEIS E PODER PÚBLICO DEVEM ZELAR POR ELES.

CONCEITO DE CRIANÇA E ADOLESCENTE

Nos termos do art. 2º do ECA, considera-se CRIANÇA a PESSOA EM


DESENVOLVIMENTO COM ATÉ DOZE (12) ANOS INCOMPLETOS E

10
ADOLESCENTE, AQUELE QUE COMPLETOU DOZE (12) ANOS E AINDA NÃO
COMPLETOU DEZOITO (18) ANOS.

A partir dos 18 anos, a pessoa deixa de ser adolescente e alcança a


maioridade civil (art. 5º do CC) e a maioridade penal.

À CRIANÇA SÓ PODE SER APLICADA MEDIDA DE PROTEÇÃO (ART.


101 DO ECA), JÁ AO ADOLESCENTE PODEM SER APLICADAS AS MEDIDAS
DE PROTEÇÃO E TAMBÉM AS SOCIOEDUCATIVAS.

3.4 APLICAÇÃO DO ESTATUTO A QUEM JÁ COMPLETOU A


MAIORIDADE

O parágrafo único do art. 2º do ECA determina que o ECA é aplicável


EXCEPCIONALMENTE ÀS PESSOAS ENTRE 18 E 21 ANOS DE IDADE, TANTO
NA ÁREA CÍVEL QUANTO INFRACIONAL.

3.5 COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

A competência legislativa para tratar da proteção da criança e do


adolescente é CONCORRENTE e recai sobre a UNIÃO, ESTADOS E DISTRITO
FEDERAL, conforme o art. 24, inciso XV, da CF.

4. DIREITOS FUNDAMENTAIS

A CF, no art. 1º, inciso III estabelece como fundamento da República,


a dignidade da pessoa humana. Dessa forma, cada cidadão deve ser respeitado
em sua dignidade, ou seja, seus direitos e deveres devem ser observados e
atendidos pelos demais membros da sociedade e pelo Poder Público. Tratando-
se de criança e adolescente, tal respeito deve ser ainda mais acentuado, porque
são pessoas em desenvolvimento, carecedoras de maior atenção para a tutela
dos seus direitos fundamentais, essenciais para a preservação de sua dignidade.
O ECA elenca esses DIREITOS FUNDAMENTAIS entre os arts. 7º a 69. Os
direitos fundamentais da criança e do adolescente no ECA: direito à vida e à
saúde (arts. 7º a 14); direito à liberdade, ao respeito e à dignidade (arts. 15
a 18); direito à convivência familiar e comunitária (arts. 19 a 52-d); direito à
educação, à cultura, ao esporte e ao lazer (arts. 53 a 59); direito à
profissionalização e à proteção no trabalho (arts. 60 a 69).

DIREITO À VIDA E À SAÚDE: Indubitavelmente, o direito à vida é o


de maior valor para a sociedade e para a estrutura do ordenamento jurídico.
Não se pode falar em qualquer outro direito sem que haja vida humana, sendo
claro que, não é possível se falar em qualquer outro direito sem que haja a vida
humana. Diante disso, o direito à vida não poderia deixar de estar relacionado

11
como o primeiro no rol dos direitos fundamentais do ECA, em perfeita harmonia
com a inviolabilidade do direito à vida, nos termos dos arts. 5º, caput e 227
da Carta Magna. Ao lado do direito à vida, está o direito à saúde, que é a
qualificação do primeiro direito. É preciso garantir o direito à vida, com saúde.

O art. 7º estabelece a necessidade de “EFETIVAÇÃO DE POLÍTICAS


SOCIAIS PÚBLICAS QUE PERMITAM O NASCIMENTO E
DESENVOLVIMENTO SADIO E HARMONIOSO, EM CONDIÇÕES DIGNAS DE
EXISTÊNCIA”. Efetivamente, para garantir a vida do ser nascente, os cuidados
com a gestante são imprescindíveis, razão pela qual, o ECA disciplina os cuidados
que devem ser dispensados à gestante e ao seu atendimento hospitalar.

A LEI 13.257, DE 8 MARÇO DE 2016, ALTEROU A REDAÇÃO DO ART.


8º DO ECA, ASSIM DISPOSTO, IN VERBIS:

Art. 8º. É ASSEGURADO A TODAS AS MULHERES O ACESSO AOS


PROGRAMAS E ÀS POLÍTICAS DE SAÚDE DA MULHER E DE
PLANEJAMENTO REPRODUTIVO E, ÀS GESTANTES, NUTRIÇÃO
ADEQUADA, ATENÇÃO HUMANIZADA À GRAVIDEZ, AO PARTO E AO
PUERPÉRIO E ATENDIMENTO PRÉ-NATAL, PERINATAL E PÓS-NATAL
INTEGRAL NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE.

A REFERIDA LEI TAMBÉM MUDOU A REDAÇÃO DOS §§ 1º, 2º, 3º,


5º, 6º, 7º. 8º, 9º e 10, do art. 8º; acresceu os §§ 1º e 2º ao art. 9º,
mudou a redação dos artigos 11, 12, 13 e 14 do ECA, determinando ações
sistemáticas, individuais ou coletivas, para planejamento, implementação,
avaliação, proteção e apoio ao aleitamento materna e à alimentação
complementar saudável de forma contínua, bem como que os serviços e as
unidades de terapia intensiva neonatal deverão dispor de banco de leite humano
ou unidade de coleta de leite humano, tudo para estabelecer direitos à gestante
e à parturiente a fim de que seja garantida assistência integral às pessoas em
desenvolvimento na primeira infância. Não se pode esquecer que uma gestação
com assistência familiar e médica previne doenças e possibilita o desenvolvimento
saudável do feto, acarretando melhores condições de vida ao neonato. A LEI
13.872, DE 17 DE SETEMBRO DE 2019, ESTABELECE O DIREITO DE AS
MÃES AMAMENTAREM SEUS FILHOS DURANTE A REALIZAÇÃO DE
CONCURSOS PÚBLICOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA OU
INDIRETA DOS PODERES DA UNIÃO.

DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE: São direitos


previstos nos arts. 15 a 18 do ECA. O direito de liberdade é a faculdade de ir
e vir, ou seja, é a faculdade que tem a pessoa de agir como melhor lhe aprouver,

12
com exceção das restrições referentes aos direitos dos demais integrantes da
sociedade. O art. 5º, inciso II, estabelece que “NINGUÉM É OBRIGADO A
FAZER OU DEIXAR DE FAZER ALGUMA COISA SENÃO EM VIRTUDE DA
LEI”. O direito à liberdade pode ser dissecado, como sendo: direito de ir e vir
e estar nos espaços públicos e comunitários, ressalvadas as restrições legais;
direito de opinião e expressão, direito de crença e culto religioso, direito de
brincar, praticar esportes e divertir-se, direito de participar da vida familiar
e comunitária, sem discriminação, direito de participar da vida política, na forma
da lei, direito de buscar refúgio, auxílio e orientação.

O art. 17 do ECA estabelece o direito ao respeito, que “CONSISTE NA


INVIOLABILIDADE DA INTEGRIDADE FÍSICA, PSÍQUICA E MORAL DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, ABRANGENDO A PRESERVAÇÃO DA
IMAGEM, DA IDENTIDADE, DA AUTONOMIA, DOS VALORES, IDEIAS E
CRENÇAS, DOS ESPAÇOS E OBJETOS PESSOAIS”.

O direito ao respeito compreende a inviolabilidade da integridade física,


psíquica e moral, para preservação de imagem, identidade, autonomia, valores,
ideias e crenças, espaços e objetos pessoais.

O art. 18 do ECA refere-se expressamente à DIGNIDADE DA PESSOA


HUMANA, que deve ser entendido como sendo mais do que um princípio, é UM
POSTULADO NORMATIVO, que deve ser respeitado em qualquer situação, UM
VALOR, que deve ser PERSEGUIDO POR TODA A SOCIEDADE, base da
construção de uma sociedade mais justa e solidária.

DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA: Está previsto


nos artigos 19 a 52 do ECA. Abrange direitos e deveres relacionados à família
natural e à família substituta, em suas três modalidades: GUARDA, TUTELA E
ADOÇÃO.

A criança e o adolescente têm direito a ser criado por uma família, que
tem sido o pilar de construção da sociedade em todas as épocas da história
humana. É através da família que a pessoa nasce, cresce e se desenvolve, dela
recebendo assistência. Sem dúvida, o direito à convivência familiar é direito
natural, inato à própria existência humana. Tratando-se do direito à convivência
familiar, pode-se afirmar que a preferência será sempre da família natural,
sendo exceção a colocação em família substituta, ressaltando-se que, somente
excepcionalmente, a criança e o adolescente devem ser inseridos em programa
de acolhimento.

A já falada Lei 13.257 de 8 de março de 2016, acresceu o parágrafo


único ao art. 22 do ECA, in verbis:

13
PARÁGRAFO ÚNICO. A MÃE E O PAI, OU OS RESPONSÁVEIS, TÊM
DIREITOS IGUAIS E DEVERES E RESPONSABILIDADES COMPARTILHADAS
NO CUIDADO E NA EDUCAÇÃO DA CRIANÇA, DEVENDO SER RESGUARDADO
O DIREITO DE TRANSMISSÃO FAMILIAR DE SUAS CRENÇAS E CULTURAS,
ASSEGURADOS OS DIREITOS DA CRIANÇA ESTABELECIDOS NESTA LEI.

A CF, no § 6º do art. 227, PROÍBE QUALQUER TIPO DE DISTINÇÃO


OU TRATAMENTO DISCRIMINATÓRIO ENTRE FILHOS. O art. 20 do ECA,
reproduz tal dispositivo constitucional e o Código Civil apresenta a mesma norma
em seu art. 1.596.

4.4 DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER:


Constitui um direito assegurado pela CF, no título sobre a “Ordem Social”, no
qual se encontram inseridos três direitos subjetivos públicos destinados a todas
as pessoas, inclusive à criança ou adolescente, aos quais está conferido o direito
de exigir do Estado a execução desses direitos: educação, cultura e desporto,
abarcando neste último o lazer.

A Constituição Federal, em seu art. 205, vincula a educação como forma


de cidadania, atribuída a todos, tendo por objetivo preparar o jovem para o
mercado de trabalho, pois, quanto mais educada a criança for, maior será a sua
capacidade de lutar e efetivar seus direitos e de cumprir os seus deveres, sendo
claro que, através da educação, a pessoa em desenvolvimento estará apta à
obtenção à inserção no mercado de trabalho. Este direito deve ser garantido
pelo Estado, cabendo aos pais, o direito de participação na educação dos seus
filhos.

O direito de ir à escola com respeito e dignidade é sagrado, ressaltando-


se que o ECA prevê o direito de criança e adolescente não serem molestados
por outros alunos, fato comum nas escolas, local onde comumente surge o bullying
termo utilizado para atos de violência, podendo ser física ou psicológica,
causando efeitos nocivos à formação física e mental da população infanto-
juvenil, consolidando a educação como instrumento essencial na vida da criança
e do adolescente. A LEI 13.845, DE 18 DE JUNHO DE 2019, MODIFICOU A
REDAÇÃO DO INCISO V DO ART. 53 DO ECA, PARA GARANTIR VAGAS NO
MESMO ESTABELECIMENTO EDUCACIONAL A IRMÃOS QUE FREQUENTEM
A MESMA ETAPA OU CICLO DE ENSINO DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

A Vara da Infância e Juventude é competente para fiscalizar a conduta


comissiva ou omissiva, que prejudique a criança ou o adolescente, conforme
disciplina o art. 209 do ECA, que prevê a responsabilidade criminal a quem se
recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso da criança e do adolescente

14
em estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau, direito
também estabelecido no art. 6º da Lei nº 7.716/89. Por fim, não se pode
esquecer que a cultura, o esporte e o lazer constituem garantia subjetiva da
criança e do adolescente, devendo o Poder Executivo Municipal criar programas
sociais, que serão auxiliados pelo Estado e União.

4.5 DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO DO


TRABALHO: É direito previsto na Constituição Federal que determina a vedação
ao trabalho infantil, pela necessidade premente de escolarização, com objetivo
de proteger a criança e o adolescente contra o desgaste prematuro de seu
desenvolvimento física, psicológico e mental, em consonância com a doutrina da
proteção integral.

Digna de ênfase é a proibição do trabalho noturno, perigoso ou insalubre


a menores de dezoito anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos,
com exceção do aprendiz, que pode ser inserido a partir dos quatorze anos,
sendo protegidos e regulados pela Legislação especial, como dispõe o art. 60 do
ECA:

“É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo


na condição de aprendiz.”

5. FAMÍLIA SUBSTITUTA

O ECA estabelece que a criança ou adolescente deve ser criado


preferencialmente por sua família natural. Caso a família esteja em dificuldade,
É DEVER DO PODER PÚBLICO DAR O SUPORTE NECESSÁRIO À FAMÍLIA,
ATRAVÉS DE PROGRAMAS ASSISTENCIAIS, PARA QUE O VÍNCULO ENTRE
PAIS E FILHOS POSSA SER MANTIDO. INFELIZMENTE, HÁ CASOS EM
QUE, É INEVITÁVEL A SEPARAÇÃO DA CRIANÇA OU ADOLESCENTE DE
SUA FAMÍLIA NATURAL, COMO POR EXEMPLO, NO CASO DE PAIS
DROGADITOS, QUE ABANDONAREM O LAR OU QUE FALECEREM, SEM QUE
QUALQUER MEMBRO DA FAMÍLIA EXTENSA POSSA ASSUMIR O ENCARGO
DA GUARDA DA CRIANÇA OU DO ADOLESCENTE.

ASSIM, NO CASO DE IMPOSSIBILIDADE DE PERMANÊNCIA DA


CRIANÇA OU ADOLESCENTE COM SUA FAMÍLIA NATURAL, BUSCA-SE A
COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA.

O ECA, NO ART. 28, PREVÊ TRÊS FORMAS DE COLOCAÇÃO EM


FAMÍLIA SUBSTITUTA: GUARDA (ARTS. 33 A 35); TUTELA (ARTS, 36 A
38) E ADOÇÃO (ARTS, 39 A 52-D).

15
A NOVA LEI DA ADOÇÃO: A Lei 13.509 de 22 de novembro de 2017
dispõe sobre adoção e alterou a Lei 8069/90, a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei 5.452, de 1º/05/1943 e a Lei
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). IMPORTANTE REGISTRAR
que no dia 20 de fevereiro de 2018, a Câmara dos Deputados e o Senado
Federal derrubaram, por unanimidade, quatro vetos do Presidente da República
à NOVA LEI DE ADOÇÃO, passando a vigor dentro da Lei 13.509/2017, os §
1º do art. 19, os §§ 6º e 10 do art. 19-A e o § 2º do art. 19-B.

§ 1º do art. 19, da Lei 8069/90, passa a vigorar com as seguintes


alterações:

“Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de


acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no
máximo, a cada três meses, devendo a autoridade judiciária competente,
com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou
multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de
reintegração familiar ou pela colocação em família substituta, em
quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei”. (VETO
DERRUBADO)

§ 2º A permanência da criança e do adolescente em programa de


acolhimento institucional não se prolongará por mais de 18 (dezoito
meses), salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior
interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.

A Lei 13.509/2017 incluiu ao art. 1.638 do Código Civil, que disciplina


sobre foi acrescentando o inciso V, estabelecendo que e entrega de forma
irregular de filho a terceiros para fins de doação será causa da perda por ato
judicial do poder familiar o pai ou a mãe.

A Lei 13.509/2017 incluiu ao art. 391-A da CLT o parágrafo único,


disciplinando que a estabilidade provisória garantida à gestante no curso da
vigência do contrato de trabalho deve ser também aplicada ao empregado
adotante ao qual tenha sido concedida guarda provisória para fins de adoção

A Lei 13.509/2017 incluiu ao art. 392-A da CLT disciplinando que à


empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança
ou adolescente será concedida licença-maternidade nos termos do art. 392 (120
dias).

A Lei 13.509/2017 modificou caput do art. 396 da CLT:

16
Para amamentar seu filho, inclusive se advindo de adoção, até que este
complete 6 (seis) meses de idade, a mulher terá direito, durante a
jornada de trabalho, a 2 (dois) descansos especiais de meia hora cada
um. § 1º Quando o exigir a saúde do filho, o período de 6 (seis) meses
poderá ser dilatado, a critério da autoridade competente. § 2º Os
horários dos descansos previstos no caput deste artigo deverão ser
definidos em acordo individual entre a mulher e o empregador.

5.1 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE A COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA


SUBSTITUTA (arts. 28 a 32 do ECA)

OITIVA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: O § 1º do art. 28 do ECA


recomenda a OITIVA DA CRIANÇA OU DO ADOLESCENTE POR EQUIPE
INTERPROFISSIONAL para que suas opiniões sejam levadas em consideração
na decisão de colocação em FAMÍLIA SUBSTITUTA, respeitado o seu GRAU
DE DESENVOLVIMENTO E COMPREENSÃO DO ASSUNTO.

EM CASO DE COLOCAÇÃO DE ADOLESCENTE EM FAMÍLIA


SUBSTITUTA SUA OITIVA É OBRIGATÓRIA EM AUDIÊNCIA, SENDO SEU
CONSENTIMENTO NECESSÁRIO (§ 2º).

TRATANDO-SE DE CRIANÇA, NOS TERMOS DO § 1º DO ART. 28 DO


ECA, ESTA SERÁ PREVIAMENTE OUVIDA POR EQUIPE
INTERPROFISSIONAL, SEMPRE QUE POSSÍVEL.

5.2. PREFERÊNCIA POR FAMÍLIA SUBSTITUTA COM RELAÇÃO DE


PARENTESCO; De acordo com o § 3º do art. 28 do ECA deve-se dar
preferência a famílias substitutas que tenham alguma relação de PARENTESCO
OU AFINIDADE OU AFETIVIDADE com criança ou adolescente. O objetivo de
tal determinação legal é aumentar as chances de sua adaptação à nova família,
bem como preservar, na medida do possível, laços com a família natural.

5.3 GRUPOS DE IRMÃOS: O § 4º do art. 28 do ECA dispõe que o


GRUPO DE IRMÃOS DEVE SER MANTIDOS JUNTOS, na mesma família
substituta. É A REGRA GERAL, OU SEJA, OS IRMÃOS FICAM JUNTOS,
EXCEÇÃO É A SUA SEPARAÇÃO. Quando não puderem ser mantidos juntos,
deve-se estimular algum tipo de contato para evitar a perda do vínculo
fraternal. Exemplo é o que ocorre quando com grupo de irmãos deve ser colocado
em adoção e não há uma família em condições de adotar todos, o que obriga a
justiça da infância e juventude a buscar famílias que morem no mesmo bairro,
na mesma cidade, o que possibilita que as crianças tenham maiores chances de
conviver.

17
5.4 CRIANÇA OU ADOLESCENTE INDÍGENA OU DE ORIGEM
QUILOMBOLA: A identidade social e cultura da criança ou adolescente deve
ser analisada na escolha da família substituta, em razão das peculiaridades
culturais de indígenas ou daqueles provenientes de comunidade remanescente de
quilombo (art. 28, § 6º). A preferência legal é pela COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA
SUBSTITUTA da mesma comunidade ou grupo étnico.

O ECA estabelece a necessidade de participação de representantes dos


órgãos federais de políticas indígenas e antropólogos no caso dos quilombolas.
Há uma imprecisão na referência à situação dos quilombolas. A referência à
oitiva dos antropólogos só se justificaria se não houvesse órgão federal próprio
para a tutela dos direitos dessas pessoas em desenvolvimento. Mas, no âmbito
federal há órgãos que tratam da questão do quilombola, dentre os quais se
destaca a FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES, ligada ao MINISTÉRIO DA
CULTURA, cuja função específica é a de TUTELA DE DIREITOS dessas
comunidades.

5.5 INCOMPATIBILIDADE E AMBIENTE INADEQUADOS

Nos termos do art. 29 do ECA:

“NÃO SE DEFERIRÁ COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA A


PESSOA QUE REVELE, POR QUALQUER MODO, INCOMPATIBILIDADE
COM A NATUREZA DA MEDIDA OU NÃO OFEREÇA AMBIENTE
FAMILIAR ADEQUADO.”

Deve-se entender como INCOMPATIBILIDADE COM A NATUREZA DA


MEDIDA É A IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO.

Exemplo: avô que pretende adotar o neto. O AMBIENTE FAMILIAR


INADEQUADO é o lar em que seus habitantes façam uso de entorpecentes,
pratiquem crimes, prostituição etc.

5.6 IMPOSSIBILIDADE DE TRANSFERÊNCIA PARA TERCEIROS: O


encargo assumido pela pessoa que receba a criança ou adolescente é de ENORME
RELEVÂNCIA e traz consigo um grande dever de responsabilidade. Por isso, não
pode ser transferido a terceiros sem autorização judicial (art. 30).

5.7 FAMÍLIA SUBSTITUTA ESTRANGEIRA: A criança ou o adolescente


somente pode ser colocado em família substituta estrangeira de modo
excepcional e somente na modalidade adoção (art. 31).

O ECA proíbe a concessão de guarda ou tutela à família estrangeira. Só


haverá a colocação em família substituta estrangeira na modalidade adoção.

18
ESPÉCIES DE COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA

GUARDA

É a primeira modalidade de colocação em família substituta. A pessoa


que tem a criança ou adolescente sob sua guarda tem o dever de lhe prestar
ASSISTÊNCIA MATERIAL, MORAL E EDUCACIONAL. Em decorrência de seu
dever de atender ao melhor interesse da criança e do adolescente, o guardião
pode-se opor a terceiros, inclusive, aos pais (art. 33).

A guarda possibilita a REGULARIZAÇÃO JURÍDICA de uma situação JÁ


CONSOLIDADA, que é a POSSE DE FATO da criança ou do adolescente, ou
seja, a criança ou adolescente já vive sob os seus cuidados e essa pessoa lhe
presta toda a assistência e lhe guia a criação, mas sem a formalização pelo
Poder Judiciário. ATRAVÉS DA GUARDA, SURGE O VÍNCULO JURÍDICO DE
RESPONSABILIDADE. A GUARDA prevista no ECA NÃO É A MESMA DO
DIREITO DE FAMÍLIA, que surge quando os pais se separam.

A guarda disciplinada pelo ECA é concedida a terceiro, como uma das


modalidades de colocação em família substituta, que poderá inclusive opor-se à
vontade dos pais. AO ASSUMIR A GUARDA, O RESPONSÁVEL PRESTA
COMPROMISSO DE BEM E FIELMENTE DESEMPENHAR O ENCARGO,
MEDIANTE TERMO NOS AUTOS (ART. 32). ESSE É O DOCUMENTO HÁBIL
A PERMITIR AO RESPONSÁVEL A TOMAR PROVIDÊNCIAS RELATIVAS À
CRIANÇA OU ADOLESCENTE, NOTADAMENTE EM REPARTIÇÕES PÚBLICAS,
COMO A MATRÍCULA ESCOLAR E A REGULARIZAÇÃO DA CARTEIRA DE
VACINAÇÃO.

O PRINCÍPIO QUE DEVE NORTEAR A COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA


SUBSTITUTA É O DE MELHOR INTERESSE, O QUE SIGNIFICA DIZER QUE
SE DEVE SEMPRE ANALISAR O CASO CONCRETO PARA IDENTIFICAR QUAL
A SOLUÇÃO QUE MELHOR.

O STJ já consolidou o entendimento de que a dependência econômica dos


pais, como único fundamento, não enseja a concessão da guarda a um terceiro,
ou seja, razões econômicas não devem orientar a concessão da guarda, mas sim
o princípio do melhor interesse.

Tendo em vista, os benefícios previdenciários conferidos pela guarda à


criança ou adolescente, nos termos do § 3º do art. 33, que dispõe que a guarda
confere a condição de dependente à criança ou adolescente, inclusive para fins
previdenciários, O STJ mudou o entendimento.

19
EM DECISÃO PROFERIDA NO DIA 07/12/2016, A CORTE ESPECIAL
DO STJ MUDOU O ENTENDIMENTO, NO SENTIDO DE QUE À CRIANÇA OU
AO ADOLESCENTE SOB GUARDA DEVE SER ASSEGURADO O DIREITO AO
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA PENSÃO POR MORTE MESMO SE O
FALECIMENTO SE DEU APÓS A MODIFICAÇÃO LEGISLATIVA PROMOVIDA
PELA LEI 9.258/91. O ART. 33, § 3º DO ECA DEVE PREVALECER SOBRE A
MODIFICAÇÃO LEGISLATIVA PROMOVIDA NA LEI GERAL DA PREVIDÊNCIA
SOCIAL, EM HOMENAGEM AO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL E
PREFERÊNCIA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ART. 227 DA CF/88) –
STJ. Corte Especial. EREsp 1141788/RS, Min. Rel. João Otávio de Noronha,
julgado em 07/12/2016. PARA O STJ, PREVALECIA PELO CRITÉRIO DA
ESPECIALIDADE, A REGRA DO ART. 2º DO ART. 16 DA LEI 8.213/1991,
QUE DISCIPLINA: “O ENTEADO E O MENOR TUTELADO EQUIPARAM-SE O
FILHO MEDIANTE DECLARAÇÃO DO SEGURADO E DESDE QUE
COMPROVADA A DEPENDÊNCIA ECONÔMICA NA FORMA ESTABELECIDA NO
REGULAMENTO”.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA GUARDA

1-Regularização jurídica de posse de fato; 2-Implica o dever de assistência


material, moral e educacional; 3-O guardião pode opor-se à vontade de
terceiros, inclusive dos pais; 4-Pode ser concedida em processo autônomo ou no
bojo de processo de tutela ou adoção (exceto adoção estrangeira); 5-Pode incluir
direitos de representação para determinados atos; 6-Concede benefícios
previdenciários (jurisprudência do STJ); 7-Permite a visitação dos pais à criança
ou ao adolescente, exceto guarda para adoção e determinação expressa em
contrário; 8-É revogável a qualquer tempo.

TUTELA

Pela tutela, uma pessoa maior assume o dever de prestar assistência


material, moral e educacional a criança ou adolescente que não esteja sob o
poder familiar de seus pais, bem como de lhe administrar os bens.

É cabível quando AMBOS OS PAIS FALECEM OU SÃO DECLARAM


AUSENTES OU, AINDA, SE FOREM DESTITUÍDOS DO PODER FAMILIAR.
O CÓDIGO CIVIL DISCIPLINA O INSTITUTO DA TUTELA EM SEUS ARTS.
1.728 a 1.766.

TRATA-SE DE UM SUBSTITUTO DO PODER FAMILIAR, A TUTELA


CONTÉM OS PODERES DE ASSISTÊNCIA E REPRESENTAÇÃO DA CRIANÇA
OU DO ADOLESCENTE PARA OS ATOS DA VIDA CIVIL.

20
CESSA A TUTELA QUANDO O ADOLESCENTE ALCANÇA A
MAIORIDADE, AOS 18 ANOS (art. 36), OU SE É CONCEDIDO O PODER
FAMILIAR, SEJA ATRAVÉS DE ADOÇÃO OU DO RECONHECIMENTO DA
FILIAÇÃO OU, AINDA, COM O FIM DE SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR.

AO CONTRÁRIO DA GUARDA, É PRESSUPOSTO PARA A CONCESSÃO


DE TUTELA QUE SEJA DECRETADA A PERDA OU SUSPENSÃO DO PODER
FAMILIAR (art. 36, parágrafo único). Vale ressaltar que, se os pais já são
falecidos, não há necessidade de se acumular o pedido de decretação da perda
do poder familiar na ação em que se objetiva a concessão de tutela.

INDICAÇÃO DO TUTOR

Pode decorrer DE DECLARAÇÃO DE VONTADE MANIFESTADA PELOS,


ATRAVÉS DE TESTAMENTO OU OUTRO DOCUMENTO IDÔNEO (art. 37; CC,
1.729). SUA NOMEAÇÃO, PORÉM, SERÁ APRECIADA PELA AUTORIDADE
JUDICIÁRIA, À LUZ DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA OU
ADOLESCENTE. SE HOUVER PESSOA EM MELHORES CONDIÇÕES DE
CUIDAR DOS INTERESSES DA CRIANÇA OU ADOLESCENTE DO QUE
AQUELA INDICADA PELOS PAIS, FICA AFASTADA A DISPOSIÇÃO DE
ÚLTIMA VONTADE (art. 37, parágrafo único).

Apesar do ECA não prever expressamente, a tutela possibilita à criança


ou adolescente a aquisição de direitos previdenciários ligados ao seu tutor, nos
termos do art. 16, § 2º, da Lei 8.213/1991.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA TUTELA

1-CABÍVEL QUANDO O PODER FAMILIAR DOS PAIS ESTÁ SUSPENSO OU


EXTINTO; 2-INCLUI OS DEVERES DECORRENTES DA GUARDA
(ASSISTÊNCIA MATERIAL, MORAL E EDUCACIONAL), BEM COMO O DE
ADMINISTRAR OS BENS DO TUTELADO; 3-CESSA COM A MAIORIDADE
OU COM A FORMAÇÃO DE NOVO PODER FAMILIAR, DECORRENTE DE
ADOÇÃO OU RECONHECIMENTO DO ESTADO DE FILIAÇÃO OU DO
RESTABELECIMENTO DO PODER FAMILIAR SUSPENSO; 4-O TUTOR PODE
SER NOMEADO PELOS PAIS, MAS DEVE ATENDER AO MELHOR INTERESSE
DA CRIANÇA OU ADOLESCENTE.

ADOÇÃO

EVOLUÇÃO E DISCIPLINA ATUAL NO ECA

O CC de 1916 regulava a adoção, tanto de adultos quanto de crianças e


adolescentes. A idade mínima para o adotante era de 50 anos, que deveria ser

21
18 anos mais velho que o adotado. O adotante não poderia ter prole legítima ou
legitimada. Nessa época a adoção era concedida apenas para atender aos
interesses dos adotantes. No ano de 1957 algumas mudanças foram feitas:
diminuição da idade mínima do adotante para 30 anos e o parentesco tinha efeito
somente entre adotante e adotado, com exceção do pátrio poder (hoje poder
familiar). Em 1979, com o novo Código de Menores (doutrina da situação
irregular), ficou disciplinado que a adoção de adultos fosse regida pelo CC e a
de menores regida pelo Código Menorista, com a subdivisão de adoção plena
(rompia todos os vínculos com a família biológica) e adoção simples (não rompia
os vínculos com a família biológica).

No dia 13 de julho de 1990, surgiu a Lei 8.069 (Estatuto da Criança e


do Adolescente). Inicialmente, determinava que a adoção de adultos continua
sendo regida pelo CC/1916. Em relação a crianças e adolescentes as mudanças
foram enormes, pois a adoção dessas pessoas em desenvolvimento passou a
romper todos os laços familiares anteriores. O Código Civil de 2002 unificou a
adoção, impondo novo e completo vínculo familiar com a efetiva participação do
poder público. Só previa a adoção plena e o ECA passou a ser aplicado somente
naquilo que não contrariasse o novo diploma legal. Assim, para qualquer tipo de
adoção se passou a exigir sentença constitutiva e efetiva assistência do poder
público, a adoção por escritura pública foi abolida (modificação feita pela Lei
12.010/2009 – revogação do inciso III do art. 10 do CC).

A nova redação dos arts. 1618 e 1.619 do CC/2002, estabelece que a


adoção de crianças e adolescentes será regida pelo ECA. A adoção de adultos,
que também dependerá da assistência efetiva do poder público e de sentença
constitutiva será regida pelo ECA. Foram revogados os arts. 1.620 a 1.629 do
CC/2002, que tratavam da adoção.

As peculiaridades da adoção de adultos são: não haverá necessidade de


fixação do tempo de estágio de convivência, até porque não se deverá averiguar
a possibilidade ou não de convivência e não haverá necessidade de estudo social
interprofissional, até porque não se trata de verificar a existência de eventual
situação de risco justificadora de uma medida extrema.

É A MODALIDADE DE COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA MAIS


NOBRE. É um instituto jurídico milenar, através do qual uma pessoa recebe
outra como seu filho. É um ato de desprendimento, carinho e solidariedade, com
imensos reflexos sociais. QUEM ADOTA DEMONSTRA ALTRUÍSMO E AMOR
(ASSIM DEVE SER ENTENDIDA A ADOÇÃO), POIS É ATO FUNDADO EM
INTERESSE LEGÍTIMO DO ADOTANTE QUE OBJETIVA PROPORCIONAR
TUDO DE MELHOR QUE ESTEJA AO SEU ALCANCE PARA O ADOTADO (art.

22
43). Diante da importância social da adoção, o ECA trata o instituto de forma
mais ampla. Em 2009, foi promulgada a Lei 12.010, que deu nova disciplina à
adoção, sobretudo, a adoção internacional, nos moldes da Convenção de Haia,
da qual o Brasil é signatário.

NOVA LEI DE ADOÇÃO: A Lei 13.509 de 22 de novembro de 2017


dispõe sobre adoção e altera a Lei 8069/90, a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), aprovada pelo Decreto-Lei 5.452, de 1º/05/1943 e a Lei 10.406, de
10 de janeiro de 2002 (Código Civil).

IMPORTANTE REGISTRAR: no dia 20 de fevereiro de 2018, a Câmara


dos Deputados e o Senado Federal derrubaram, por unanimidade, quatro vetos
do Presidente da República à NOVA LEI DE ADOÇÃO, passando a integrar a
Lei 13.509/2017, os § 1º do art. 19, os §§ 6º e 10 do art. 19-A e o § 2º
do art. 19-B.

O § 1º do art. 19, da Lei 8069/90, passa a vigorar com as seguintes


alterações:

“Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de


acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no
máximo, a cada três meses, devendo a autoridade judiciária competente,
com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou
multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de
reintegração familiar ou pela colocação em família substituta, em
quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei”. (VETO
DERRUBADO)

§ 2º A permanência da criança e do adolescente em programa de


acolhimento institucional não se prolongará por mais de 18 (dezoito
meses), salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior
interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.

A Lei 13.509/2017 incluiu ao art. 1.638 do Código Civil, que prevê


hipóteses de destituição do poder familiar o inciso V, estabelecendo que
a entrega de forma irregular de filho a terceiros para fins de doação
será causa da perda por ato judicial do poder familiar o pai ou a mãe.

A Lei 13.509/2017 incluiu ao art. 391-A da CLT o parágrafo único,


disciplinando que a estabilidade provisória garantida à gestante no curso da
vigência do contrato de trabalho é estendida ao empregado adotante ao qual
tenha sido concedida guarda provisória para fins de adoção

23
A Lei 13.509/2017 incluiu ao art. 392-A da CLT disciplinando que à
empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança
ou adolescente será concedida licença-maternidade nos termos do art. 392 (120
dias).

A Lei 13.509/2017 modificou caput do art. 396 da CLT: Para amamentar


seu filho, inclusive se advindo de adoção, até que este complete 6 (seis) meses
de idade, a mulher terá direito, durante a jornada de trabalho, a 2 (dois)
descansos especiais de meia hora cada um. § 1º Quando o exigir a saúde do
filho, o período de 6 (seis) meses poderá ser dilatado, a critério da autoridade
competente. § 2º Os horários dos descansos previstos no caput deste artigo
deverão ser definidos em acordo individual entre a mulher e o empregador.

PRINCIPAIS INOVAÇÕES DA LEI 13.509 DE 22/11/2017: Art. 19: §


5º: Será garantida a convivência integral da criança com a mãe adolescente que
estiver em acolhimento institucional. § 6º: A mãe adolescente será assistida
por equipe especializada multidisciplinar. Art. 19-A: A gestante ou mãe que
manifeste interesse em entregar seu filho para adoção, antes ou logo após o
nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude. § 1º: A
gestante ou mãe será ouvida pela equipe interprofissional da Justiça da Infância
e Juventude, que apresentará relatório à autoridade judiciária, considerando
inclusive os eventuais efeitos do estado gestacional e puerperal. § 2º: De posse
do relatório, a autoridade judiciária poderá determinar o encaminhamento da
gestante ou mãe, mediante sua expressa concordância, à rede pública de saúde
e assistência social para atendimento especializado; § 3º: A busca à família
extensa, conforme definida nos termos do parágrafo único do art. 25 desta
Lei, respeitará o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual
período.

LEI 13.509 DE 22/11/2017: § 4º: Na hipótese de não haver indicação


do genitor e de não existir outro representante da família extensa apto a
receber a guarda, a autoridade judiciária competente deverá decretar a
extinção do poder familiar e determinar a colocação da criança sob guarda
provisória de quem estiver habilitado a adotá-la ou de entidade que desenvolva
programa de acolhimento familiar ou institucional. § 5º: Após o nascimento da
criança, a vontade da mãe ou de ambos os genitores, se houver pai registral ou
pai indicado, deve ser manifestada na audiência a que se refere o § 1º do art.
166 desta Lei, garantido o sigilo sobre a entrega. § 6º: VETADO. § 7º: Os
detentores da guarda possuem o prazo de 15 (quinze) dias para propor ação de
adoção, contado dia seguinte à data do término do estágio de convivência. §
8º: Na hipótese de desistência pelos genitores – manifestada em audiência ou

24
perante a equipe interprofissional – da entrega da criança após o nascimento, a
criança será mantida com os genitores e será determinado pela Justiça da
Infância e Juventude o acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento e
oitenta) dias.

SEMANA NACIONAL DA ADOÇÃO: A Lei 14.387 de 30/06/2022, modificou


a Lei 10.447, de 9/05/2002, para incluir a Semana Nacional da Adoção, a
ser celebrada anualmente na semana que antecede o Dia Nacional da Adoção
(25 de maio).

CONCEITO DE ADOÇÃO: Segundo o ECA, ADOÇÃO é uma medida


protetiva de colocação em família substituta que estabelece o parentesco civil
entre adotantes e adotados.

EFEITOS DA ADOÇÃO: trata-se de um ATO JURÍDICO EM SENTIDO


ESTRITO, CUJAS CONSEQUÊNCIAS ESTÃO PREVISTAS LEGALMENTE,
COMO DIREITO AO NOME, À HERANÇA, À FORMAÇÃO DO VÍNCULO
IRREVOGÁVEL

NATUREZA JURÍDICA DA ADOÇÃO: é ato jurídico em sentido estrito,


ou seja, não pode ter seus efeitos modificados, não é, pois, negócio jurídico.
Quem adota não pode negar ao adotado o direito ao sobrenome ou direitos
sucessórios.

CARACTERÍSTICAS DA ADOÇÃO

1-Ato personalíssimo- § 2º do art. 39 do ECA – é vedada a adoção por


procuração. 2-Excepcional- § 1º do art. 39 do ECA – só se deve recorrer à
adoção quando esgotados os recursos de manutenção da criação ou do
adolescente na família natural ou extensa. 3-Irrevogável - § 1º do art. 39 do
ECA, a adoção perpetua seus efeitos de forma definitiva, impossibilitando a
retomada do poder familiar pela família biológica. 4-Incaducável – a morte dos
adotantes não restabelece o poder familiar dos pais naturais. É decorrência do
caráter de definitividade inerente à adoção. Assim como ocorre com a família
natural, os pais adotivos só terão suspenso ou perdido o poder familiar mediante
procedimento específico e motivado por descumprimento dos deveres de guarda,
sustento e educação que lhes são inerentes. Nem a oposição dos pais biológicos
nem a morte dos pais adotivos podem extinguir o vínculo da adoção. 5-Plena –
o adotado tem a mesma condição dos filhos biológicos, ou seja, os mesmos
direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com
pais e parentes. Em relação à condição de filiação anterior, somente
permanecem os impedimentos matrimoniais, haja vista terem por objetivo evitar

25
a formação de famílias que gerem prole com necessidades especiais (motivadas
pelo encontro de características genéticas incompatíveis (tios e sobrinhas, por
exemplo), bem como impedir a formação de arranjos familiares esdrúxulos e
distantes dos costumes morais, como por exemplo, o adotante com quem foi
cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante, ou seja, o pai não
pode casar com a ex-esposa do filho e o filho não pode casar com a ex-esposa
do pai. 6-Constituída por sentença judicial – a necessidade de constituição por
sentença judicial, não se admitindo, portanto, a escritura pública. A adoção
somente se constitui por sentença judicial, tornando-se definitiva com o trânsito
em julgado.

ESPÉCIES DE ADOÇÃO – atualmente existem várias formas de adoção:


1- ADOÇÃO CONJUNTA (realizada por um casal); 2- UNILATERAL (quando
um cônjuge adota o filho do outro); 3-PÓSTUMA, NUNCUPATIVA OU POST
MORTEN (O adotante, antes de seu falecimento, manifesta a vontade de ter
adotado alguém); 4- INTUITO PERSONAE (quando os pais biológicos escolhem
o adotante) e 5- INTERNACIONAL (os adotantes residem fora do Brasil,
mesmo que tenham nacionalidade brasileira). Vale ressaltar que é considerada
ilegal a ADOÇÃO À BRASILEIRA, que ocorre quando a pessoa, que não é o pai
ou mãe da criança ou adolescente, o registra como filha, o que constitui crime
previsto no art. 242 do Código Penal, com pena abstrata de reclusão, de dois
a seis anos.

A exceção é ADOÇÃO PÓSTUMA, NUNCUPATIVA OU POST MORTEM,


em que se considera definitivamente materializado o parentesco civil não com o
trânsito em julgado, mas a partir da data do óbito, gerando efeitos retroativos
(ex tunc). Tal modalidade de adoção ocorrerá sempre que houver o falecimento
do adotante no curso do processo de adoção e houver sido manifestada a
inequívoca vontade de adotar, nos termos do § 6º do art. 42 do ECA.

ADOÇÃO INTERNACIONAL – arts. 51 a 52-D do ECA.

O art. 51 e os incisos I e II do § 1º do ECA, modificados pela Lei


13.509/2017, disciplina: Considera-se adoção internacional aquela na qual o
pretendente possui residência habitual em país-parte da Convenção de Haia, de
29 de maio de 1993, relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em
Matéria de Adoção Internacional, promulgada pelo Decreto nº 3.087, de 21 de
junho de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte da Convenção.

§ 1º A adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro ou


domiciliado no Brasil somente terá lugar quando restar comprovado: I – que a
colocação em família adotiva é a solução adequada ao caso concreto; II – que

26
foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou adolescente
em família adotiva brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, da
inexistência de adotantes habilitados residentes no Brasil com perfil compatível
com a criança ou adolescente, após consulta aos cadastros mencionados nesta
Lei”.

ORGANISMOS INTERNACIONAIS DE ADOÇÃO: art. 52, §§ 2º e 2º (sem


finalidade lucrativa).

REQUISITOS PARA ADOÇÃO

REQUISITOS SUBJETIVOS: 1-IDONEIDADE DO ADOTANTE. 2-MOTIVOS


LEGÍTIMOS/DESEJO DE FILIAÇÃO – vontade de ter a pessoa em
desenvolvimento como filha. 3-REAIS VANTAGENS PARA O ADOTANDO – art.
43 do ECA – possibilidade efetiva de convivência familiar e estabelecimento do
vínculo adequado à formação e ao desenvolvimento da personalidade do adotando.

REQUISITOS OBJETIVOS: 1-REQUISITOS DE IDADE – art. 42 do ECA –


podem adotar os maiores de 18 anos, ressalvando-se a diferença de idade de
16 anos entre adotante e adotando. 2-CONSENTIMENTO DOS PAIS E DO
ADOLESCENTE OU DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR – O ECA exige o
consentimento dos pais biológicos ou dos representantes legais, salvo se já
destituídos do poder familiar, ou os pais forem desconhecidos (§ 1º do art. 45
do ECA). A destituição do poder familiar poderá ser feita incidentalmente, nos
autos do processo de adoção. Deve haver a concordância do adotando maior de
12 anos (§ 2º do art. 45 do ECA). 3-PRECEDÊNCIA DO ESTÁGIO DE
CONVIVÊNCIA – art. 46 do ECA. A adoção será precedida de estágio de
convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo máximo de 90 (noventa)
dias, observadas as idades da criança ou adolescente e as peculiaridades de
cada caso (modificado pela Lei 13.509/2017). § 2º-A – o prazo máximo
estabelecido no caput deste artigo pode ser prorrogado por até igual período,
mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária. (acrescentado pela Lei
13.509/2017) § 3º Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou
domiciliado fora do País, o estágio de convivência será de, no mínimo, 30 (trinta)
dias e, no máximo, 45 (quarenta e cinco) dias, prorrogável por até igual período,
uma única vez, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.
(modificado pela Lei 13.509/2017) § 3º-A- Ao final do prazo previsto no § 3º
deste artigo, deverá ser apresentado laudo fundamentado pela equipe
mencionada no § 4º deste artigo, que recomendará ou não o deferimento da
adoção à autoridade judiciária. (acrescentado pela Lei 13.509/2017) § 5º - O
estágio de convivência será cumprido no território nacional, preferencialmente
na comarca de residência da criança ou adolescente, ou a critério do juiz, em

27
cidade limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência do juízo da
comarca de residência da criança (acrescentado pela Lei 13.509/2017).

O § 1º do art. 46 do ECA disciplina que o estágio de convivência poderá


ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante
durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da
constituição do vínculo. O § 4º do art. 46 do ECA determina que o estágio de
convivência será acompanhado pela equipe interprofissional a serviço da Justiça
da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio de técnicos
responsáveis pela execução da política de garantia de direito à convivência
familiar, que apresentarão relatório minucioso acerca da conveniência do
deferimento da medida.

A LEI 13.509/2017 ACRESCENTOU O § 10 DAO ART. 47 DO ECA,


COM A SEGUINTE REDAÇÃO: “O PRAZO MÁXIMO PARA CONCLUSÃO DA
AÇÃO DE ADOÇÃO SERÁ DE 120 (CENTO E VINTE) DIAS, PRORROGÁVEL
UMA ÚNICA VEZ POR IGUAL PERÍODO, MEDIANTE DECISÃO
FUNDAMENTADA DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA”.

A LEI 13.509/2017 TAMBÉM MODIFICOU O § 10 DO ART. 50 DO


ECA, QUE PASSOU A TER A SEGUINTE REDAÇÃO: “CONSULTADOS OS
CADASTROS E VERIFICADA A AUSÊNCIA DE PRETENDENTES
HABILITADOS RESIDENTES NO PAÍS COM PERFIL COMPATÍVEL E
INTERESSE MANIFESTO PELA ADOÇÃO DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE
INSCRITO NOS CADASTROS EXISTENTES, SERÁ REAVALIADO O
ENCAMINHAMENTO DA CRIANÇA OU ADOLESCENTE À ADOÇÃO
INTERNACIONAL”.

A LEI 13.509/2017 ACRESCENTOU O § 15 AO ART. 50 DO ECA, COM


A SEGUINTE REDAÇÃO; “SERÁ ASSEGURADA PRIORIDADE NO CADASTRO
A PESSOAS INTERESSADAS EM ADOTAR CRIANÇA OU ADOLESCENTE COM
DEFICIÊNCIA, COM DOENÇA CRÔNICA OU COM NECESSIDADES
ESPECÍFICAS DE SAÚDE, ALÉM DE GRUPO DE IRMÃOS”.

PRÉVIO CADASTRAMENTO – é o CADASTRO DE ADOÇÃO. Em regra,


família substituta que não esteja cadastrada não poderá adotar. A INSCRIÇÃO
NO CADASTRO DEVERÁ SER REQUERIDA POR MEIO DE UM PROCEDIMENTO
ESPECÍFICO, regulado no ECA a partir do art. 197-A – “DA HABILITAÇÃO
DE PRETENDENTES À ADOÇÃO”.

Nos termos do art. 197-E do ECA, deferida a habilitação, o postulante


será inscrito nos cadastros, sendo sua convocação para a adoção feita de acordo
com ordem cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de crianças

28
ou adolescentes adotáveis. Há também a ressalva no sentido de que a ordem
cronológica das habilitações somente poderá deixar de ser observada pela
autoridade judiciária nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 do ECA, quando
comprovado ser essa a melhor solução no interesse do adotando, bem como que
a recusa sistemática na adoção das crianças ou adolescentes indicados importará
na reavaliação da habilitação concedida.

Vale ressaltar que, AS PESSOAS E CASAIS JÁ INSCRITOS NOS


CADASTROS DE ADOÇÃO FICAM OBRIGADOS A FREQUENTAR, NO PRAZO
MÁXIMO DE UM ANO, CONTADO DA ENTRADA EM VIGOR DA LEI, A
PREPARAÇÃO PSICOSSOCIAL E JURÍDICA, SOB PENA DE CASSAÇÃO DE
SUA INSCRIÇÃO NO CADASTRO (art. 6º da Lei 12.010/2009).

DO CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO – criado em 2008, pela


Resolução nº 54 do CNJ, atualmente revogado pela Resolução 289, DE
14/8/2019, do CNJ, que criou o SNA- SISTEMA NACIONAL DE ADOÇÃO E
ACOLHIMENTO.

SISTEMA NACIONAL DE ADOÇÃO E ACOLHIMENTO - SNA

Considerando a necessidade de racionalizar e aprimorar os bancos de


dados, os cadastros e os sistemas do Conselho Nacional de Justiça que versam
sobre acolhimento e adoção de crianças e adolescentes, bem como a edição da
Portaria Conjunta nº 4, de 4 de julho de 2019, que instituiu o Sistema Nacional
de Adoção e Acolhimento, sob a gestão do Comitê Gestor dos Cadastro
Nacionais-CGCN, o CNJ editou a RESOLUÇÃO 289 de 14/8/2019, que dispõe
sobre a implantação e funcionamento do SISTEMA NACIONAL DE ADOÇÃO E
ACOLHIMENTO – SNA, que consiste em uma plataforma para CONSOLIDAR
OS DADOS FORNECIDOS PELOS TRIBUNAIS, APRIMORANDO OS BANCOS
DE DADOS, CADASTROS E SISTEMAS REFERENTES À ADOÇÃO E
ACOLHIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES, INCLUINDO AS INTUITU
PERSONAE, E A OUTRAS MODALIDADES DE COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA
SUBSTITUTA, BEM COMO SOBRE PRETENDENTES NACIONAIS E
ESTRANGEIROS HABILITADOS À ADOÇÃO. Determina a citada Resolução,
que a inserção de pretendentes domiciliados fora do território brasileiro no SNA
compete às Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção – CEJAS/CEJAIS dos
Tribunais de Justiça; que fica assegurado à Autoridade Central Administrativa
Federal – ACAF o acesso ao sistema para inserção de dados sobre organismos
internacionais e autoridades estrangeiras, bem como para visualização dos dados
referentes ao cadastro dos pretendentes à adoção, domiciliados no exterior,
brasileiros que desejam adotar no exterior, crianças aptas à adoção
internacional e adoções internacionais realizadas; os Tribunais de Justiça

29
deverão dispor de condições técnicas operacionais e de pessoal para receber e
processar os pedidos de habilitação para adoção apresentados por pretendentes
residentes no exterior; as Corregedorias dos Tribunais de Justiça ou as
Coordenadorias da Infância e Juventude funcionarão como administradoras do
SNA na respectiva unidade federativa e terão acesso integral aos dados
cadastrados, competindo-lhes cadastrar e liberar o acesso ao usuário, bem
como zelar pela correta alimentação do sistema; a responsabilidade pelo
cadastro de pessoa, expedição de documentos, classificação, atualização,
inclusão e exclusão de dados no sistema é exclusiva das autoridades judiciárias
competentes; o SNA INTEGRA TODOS OS CADASTROS MUNICIPAIS,
ESTADUAIS E NACIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM CONDIÇÕES
DE SEREM ADOTADOS E DE PRETENDENTES HABILITADOS À ADOÇÃO,
INCLUSIVE OS CADASTROS INTERNACIONAIS, CONFORME PRECEITUA O
ART. 50, §§ 5º E 6º, DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE,
DISPENSADA A MANUTENÇÃO PELOS TRIBUNAIS DE CADASTROS
SEPARADOS; COMPETE AO COMITÊ GESTOR DOS CADASTROS NACIONAIS
VIABILIZAR A MIGRAÇÃO DOS DADOS ARMAZENADOS NO CADASTRO
NACIONAL DE ADOÇÃO – CNA E NO CADASTRO NACIONAL DE CRIANÇAS
E DE ADOLESCENTES ACOLHIDOS – CNCA PARA O SNA; OS CADASTROS
CNA E CNCA FICARÃO DISPONÍVEIS PARA CONSULTA ATÉ O DIA 12 DE
OUTUBRO DE 2019; CONCLUÍDA A MIGRAÇÃO DOS DADOS PARA O SNA E
OBSERVADO O DISPOSTO NO § 1º DESTE ARTIGO, OS CADASTROS CNA
E CNCA SERÃO EXTINTOS, EM CONFORMIDADE COM A LEI 13.709, DE 14
DE AGOSTO DE 2018, LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS; FICAM
REVOGADAS AS RESOLUÇÕES Nº 54, DE 29 DE ABRIL DE 2008, Nº 93, DE
27 DE OUTUBRO DE 2009, E Nº 190, DE 1º DE ABRIL DE 2014, BEM COMO
A PORTARIA CONJUNTA Nº 2, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2010.

O SNA foi lançado oficialmente no dia 12 de outubro DE 2019.

HIPÓTESES DE ADOÇÃO FORA DO CADASTRO - § 13º do art. 50 do


ECA

1-ADOÇÃO UNILATERAL = ocorre quando a pessoa adota a criança ou


adolescente que já é filha de seu cônjuge ou companheiro = inciso I

2-PARENTE = se a criança ou adolescente já convive com membros de sua


família natural, que a criam e educam, a adoção também pode ser deferida fora
do contexto dos cadastros de postulantes, ressalvadas as vedações à adoção
por ascendentes e irmãos = inciso II

30
3-GUARDA LEGAL OU TUTELA DEFERIDA ANTERIORMENTE = ocorre na
situação em que a criança maior de 3 anos ou o adolescente já está sob guarda
legal ou tutela. O guardião ou o tutor pode pleitear a adoção imediata, sem
passar pelo cadastro de postulante = inciso III. A Lei 13.509/2017 incluiu o §
15 ao art. 50 do ECA, determinando que será assegurada prioridade no cadastro
a pessoa interessadas em adotar criança ou adolescente, com doença crônica ou
com necessidades especiais, além de grupo de irmãos.

PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO DOS PROCESSOS DE ADOÇÃO: art.


47, § 9º: adotando com deficiência ou doença crônica.

VEDAÇÕES À ADOÇÃO – veda-se que o ato seja realizado por procuração


(art. 39, § 2º). É preciso que o juiz receba as partes em audiência e perceba
sua verdadeira intenção de adotar, ou seja, os motivos do adotante devem ser
legítimos (art. 43), fundamentados em amor e dedicação, não em interesses
econômicos ou escusos. É vedada a adoção do tutor ou curador enquanto não
prestar contas de sua administração (art. 44 do ECA).

VEDAÇÃO À ADOÇÃO POR ASCENDENTES E IRMÃOS = O § 1º do art.


42 do ECA VEDA A ADOÇÃO POR ASCENDENTES E IRMÃOS. O objetivo é
evitar a modificação abrupta nos vínculos familiares. Para o legislador seria
muito complicado para o desenvolvimento saudável da criança ou adolescente que
o irmão se tornasse seu pai, por exemplo.

ADOÇÃO INTERNACIONAL: As regras atinentes à adoção internacional


do ECA foram modificadas pela Lei 12.010/2009, tendo em vista as disposições
da Convenção de Haia, relativas à proteção de crianças e à cooperação em
matéria de adoção internacional, da qual o Brasil é signatário. O texto foi
ratificado em nosso ordenamento jurídico pelo Decreto Legislativo nº 1 de 1999.
A nova lei incorporou as normas firmadas internacionalmente no ECA.

NOVO CONCEITO DE ADOÇÃO INTERNACIONAL: Recentemente a Lei


13.509, de 22 de novembro de 2017, conhecida como a NOVA LEI DA
ADOÇÃO, modificou o art. 51 do ECA, que passou a ter a seguinte redação:
CONSIDERA-SE ADOÇÃO INTERNACIONAL AQUELA NA QUAL O
PRETENDENTE POSSUI RESIDÊNCIA HABITUAL EM PAÍS, QUE TENHA
RATIFICADO A CONVENÇÃO DE HAIA, DE 29 DE MAIO DE 1993, RELATIVA
À PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS E À COOPERAÇÃO EM MATÉRIA DE ADOÇÃO
INTERNACIONAL, PROMULGADA PELO DECRETO Nº 3.087, DE 21 DE
JUNHO DE 1999, E DESEJA ADOTAR CRIANÇA EM OUTRO PAÍS-PARTE
DA CONVENÇÃO. O § 1º DO ART. 51 DO ECA, teve os seus incisos I e II
modificados: I - QUE A COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA ADOTIVA É A SOLUÇÃO

31
ADEQUADA AO CASO CONCRETO. II – QUE FORAM ESGOTADAS TODAS
AS POSSIBILIDADES DE COLOCAÇÃO DA CRIANÇA OU ADOLESCENTE EM
FAMÍLIA ADOTIVA BRASILEIRA, COM A COMPROVAÇÃO, CERTIFICADA
NOS AUTOS, DA INEXISTÊNCIA DE ADOTANTES HABILITADOS
RESIDENTES NO BRASIL COM PERFIL COMPATÍVEL COM A CRIANÇA OU
ADOLESCENTE, APÓS CONSULTA AOS CADASTROS MENCIONADOS NESTA
LEI.

REQUISITOS PARA CONCESSÃO DA ADOÇÃO INTERNACIONAL

O § 1º do art. 51 do ECA estabelece os pressupostos para efetivação


da ADOÇÃO INTERNACIONAL: 1-DEMONSTRAÇÃO DE QUE É NECESSÁRIA
A COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA ADOTIVA; 2-EXAME DA ADOÇÃO
INTERNACIONAL SOMENTE APÓS SUPERADA A POSSIBILIDADE DE
ADOÇÃO NACIONAL; 3-CONSULTA AO ADOLESCENTE SOBRE A ADOÇÃO E
DEMONSTRAÇÃO – DENTRO DE SEU GRAU DE DISCERNIMENTO – DE QUE
ESTÁ PREPARADO PARA A MEDIDA; 4-PREFERÊNCIA POR POSTULANTES
BRASILEIROS EM DETRIMENTO DE ESTRANGEIROS.

HABILITAÇÃO PARA ADOÇÃO INTERNACIONAL: Segue o mesmo


procedimento da adoção nacional, com determinadas peculiaridades
estabelecidas no art. 52 do ECA. Para adoção internacional, o procedimento se
inicia com o pedido de habilitação no país de origem, onde os postulantes residem
e, naturalmente, para onde a criança será levada (inciso I). Deferida a
habilitação, que demanda estudo psicossocial por profissionais habilitados (inciso
IV), a autoridade do país de origem emitirá relatório pormenorizado acerca dos
postulantes, devidamente autenticado pelo CONSULADO e TRADUZIDO por
TRADUTOR JURAMENTADO (inciso V), e encaminhará às autoridades estadual
e federal (incisos II e III), com cópia da legislação pertinente do país de origem
e prova de sua vigência (inciso IV). A autoridade estadual pode solicitar a
complementação dos estudos psicossociais já feitos (inciso VI), se forem
insuficientes. Verificada a regularidade da documentação apresentada, a
Autoridade Central Estadual expede laudo de habilitação à adoção internacional,
cuja validade é de, no máximo, um ano, e encaminha o postulante ao Juizado da
Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente
(inciso VII e VIII). A HABILITAÇÃO DE POSTULANTE À ADOÇÃO
INTERNACIONAL TEM PRAZO DE VALIDADE DE UM ANO E PODE SER
RENOVADA (§ 13).

ORGANISMOS INTERNACIONAIS DE ADOÇÃO: A adoção internacional


pode ser intermediada por organismo credenciado, nacional ou estrangeiro,
desde que a legislação do país de origem admita essas entidades e que haja o

32
devido credenciamento junto à autoridade central federal brasileira (art. 52,
§§ 1º e 2º). Essas entidades prestam importante papel na efetividade dos
pleitos de adoções internacionais. Diante das dificuldades de idioma, obstáculos
inerentes à burocracia administrativa, contar com a experiência de agências e
organismos internacionais facilita muito a realização de adoções internacionais.

OS REQUISITOS PARA CREDENCIAMENTO E AS OBRIGAÇÕES DOS


ORGANISMOS NO BRASIL ESTÃO PREVISTOS NOS §§ 3º, 4º, 12 E 14 DO
ART. 52 DO ECA. O ECA determina que esses organismos não podem ter
finalidade lucrativa (art. 52, § 4º, inciso I), o que não significa dizer que o
organismo não possa cobrar taxas pelos serviços prestados. A atividade, por
envolver custos para sua administração e remuneração do corpo técnico precisa
ter fonte de receita. O que deve ficar demonstrado é que os valores auferidos
são aplicados exclusivamente nas atividades fins. A entidade pode ser
descredenciada pelas razões previstas nos arts. 52, §§ 5º e 11, e 52-a. Além
disso, o credenciamento tem validade de dois (2) anos e o pedido de renovação
pode ser feito nos 60 dias anteriores ao término da concessão anterior (§§ 6º
e 7º).

EFEITOS DA ADOÇÃO: A sentença que julga a adoção tem natureza


constitutiva, ou seja, opera uma modificação no estado jurídico das pessoas
envolvidas, criando para as partes um vínculo jurídico antes inexistente,
desfazendo o vínculo anterior da criança ou do adolescente. O adotante passa
a possuir o status jurídico de pai, o adotado, o de filho. Seus efeitos operam
ex nunc e, excepcionalmente, no caso da adoção póstuma, os efeitos são também
ex tunc, pois alcançam a data do óbito.

O § 7º DO ART. 47 DO ECA DISCIPLINA: “A ADOÇÃO PRODUZ SEUS


EFEITOS A PARTIR DO TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA
CONSTITUTIVA, EXCETO NA HIPÓTESE PREVISTA NO § 6º DO ART. 42
DESTA LEI, CASO EM QUE TERÁ FORÇA RETROATIVA DO ÓBITO”.

DIREITO DE CONHECER A ORIGEM BIOLÓGICA: Embora a adoção crie


vínculos irrevogáveis entre o adotado e os adotantes (art. 39, § 1º), o
adolescente, ao alcançar a maioridade (18) anos, tem direito de conhecer SUA
ORIGEM, de SABER QUEM SÃO SEUS PAIS BIOLÓGICOS. ISSO, COM BASE
NO ART. 48 DO ECA, QUE ESTABELECE: “O ADOTADO TEM DIREITO DE
CONHECER SUA ORIGEM BIOLÓGICA, BEM COMO DE OBTER ACESSO
IRRESTRITO AO PROCESSO NO QUAL A MEDIDA FOI APLICADA E SEUS
EVENTUAIS INCIDENTES, APÓS COMPLETAR 18 (DEZOITO) ANOS”. Para
permitir o exercício desse direito por parte do adotado, o ECA determina, no
art. 47, § 8º, o armazenamento dos dados referentes aos processos.

33
REFERÊNCIAS:

BARROS, Guilherme Freire de Melo. Direito da Criança e do Adolescente.


Salvador, Bahia, Editora JusPODIVM, 12ª. edição, revista e atualizada, 2023.

BARROS, Guilherme Freire de Melo. Estatuto da Criança e do Adolescente.


Salvador, Bahia, Editora JusPODIVM, 16ª. edição, revista e atualizada, 2022.

CURY, Munir. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado, comentários


jurídicos e sociais. Malheiros Editores. 13. Edição.2018.

DUPRET, Cristiane. Estatuto da Criança e do Adolescente- Resumos para


concursos – vol. 36. Salvador, Bahia, Editora JusPODIVM, 3ª. edição, 2019.

ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente – doutrina e


jurisprudência. Salvador, Bahia, Editora JusPODIVM, 23ª. edição, 2023.

MACIEL, Katia Regina Ferreira Lobo Andrade (coordenação. In memoriam Rosa


Maria Xavier Gomes Carneiro (revisão jurídica) e outros. Curso de Direito da
Criança e do Adolescente. São Paulo, Saraiva Jur, 15ª. edição, 2023.

NUCCI, Guilherme de Souza. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado.


Editora Gen Forense. 5ª. edição, 2021.

PAULA, Paulo Afonso Garrido. Direito da Criança e do Adolescente e tutela


jurisdicional diferenciada –São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2002.

ROSSATO, Luciano Alves. LÉPORE, Paulo. Manual do Direito da Criança e do


Adolescente. Salvador, Bahia, Editora JusPODIVM, 2ª. edição, 2022.

Teixeira, Tarcila Santos, BIANCHINI, Alice, Bazzo, Mariana, CHAKIAN,


Silvia. Crimes contra crianças e adolescentes. Salvador, Bahia, Editora
JusPODIVM, 1ª. Edição, 2022.

34

Você também pode gostar