Você está na página 1de 27

GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL


SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

CONTEXTO HISTÓRICO DO SISTEMA PRISIONAL


DE MINAS GERAIS
EAD

CURSO DE FORMAÇÃO TÉCNICO-PROFISSIONAL


POLÍCIA PENAL – MG

MINAS GERAIS
2022
LL

1
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 03
CAPÍTULO I - HISTÓRIA DAS PENAS E AS INFLUÊNCIAS NO CONTEXTO
DO ATENDIMENTO EM MINAS GERAIS.......................................................
a) Antes do Direito .......................................................................................... 1
b) A relação entre as penas aplicadas e o Direito ........................................ 2
c) Da exaltação pública da punição ............................................................... 3
d) Do sagrado dever de preservar a ordem pública ..................................... 3
e) A inovação começa na Grécia – a individuação da pena ........................ 4
f) Roma, a exceção e o evolução da pena ..................................................... 7
g) Da Idade Média ao Renascimento ............................................................. 8
h) da transição entre os sistemas de aplicação de pena ............................. 8
i) Da concepção de um sistema humanitário de cumprimento da pena .... 8
j) Um sistema que possui recaídas...................................................
CAPÍTULO II - CARACTERÍSTICAS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS
PRISÕES NO CONTEXTO DE MINAS GERAIS .............................................9
a) Evolução histórica das prisões ................................................................. 9
b) As prisões no Brasil e em Minas Gerais, no Brasil-Colônia ................. 10
c) As prisões e as penas no Brasil-Império ................................................ 11
d) As prisões e as penas no Brasil-República ............................................ 11
CAPÍTULO III - POLÍTICA CRIMINAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS.....12
a) Introdução .................................................................................................. 12
b) Uma Lei de Execução Penal Própria ....................................................... 13
c) Um conjunto de Políticas Públicas .......................................................... 14
d) Conselho de Criminologia e Política Criminal – CCPC ............................15
CAPÍTULO IV - QUESTÕES DE FIXAÇÃO......................................................16

2
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

CONTEXTO HISTÓRICO DO SISTEMA PRISIONAL DE MINAS GERAIS


CONTEUDISTA: Prof Msc JORGE BERNARDINO TASSI JUNIOR
EMENTA: História da Pena, Prisão, Sistema Prisional, Sistema Prisional
em Minas Gerais, Política Criminal em Minas Gerais

3
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

CONTEXTO HISTÓRICO DO SISTEMA PRISIONAL DE MINAS GERAIS –


EAD

INTRODUÇÃO
A história possibilita a compreensão do que caminho percorrido desde
o que foi até o presente, e mais, o que se precisa fazer, para mudar para o ponto
a que se pretende. Num curso de formação de policiais penais de um estado
como Minas Gerais, é essencial que descortinem o passado acerca do sistema
prisional do Estado, compreendam os erros e acertos do processo histórico, e
que reconheçam as oportunidades para a constituição de um sistema melhor e
melhor, ou seja, que assumam o papel de melhoria contínua que se coaduna
com uma sociedade que se propõe a busca de uma vida melhor!
Assim, o livro-texto em questão tem foco em analisar o sistema
prisional do estado de Minas Gerais, desde quando era reconhecido como a
“Província de Minas Gerais”, nos idos do Brasil-Império (pós-1822), até a
presente realidade, em que o Brasil se constitui em um Estado Democrático de
Direito, e Minas Gerais é uma parte fundamental de nossa Federação.
Assim, o recorte histórico nos permitirá reconhecer as nuanças do
cumprimento de pena em Minas Gerais, de acordo com o sistema punitivo e sua
relação com a ordem jurídica vigente a cada tempo, do superado Código Criminal
à concepção de uma política criminal e prisional vigente e instaurada no Estado,
alinhadas ao Código Penal atual e à Constituição Cidadã de 1988, regida por
uma Lei de Execuções Penais (Lei Federal n° 7.210/1984), que norteia (ou
deveria nortear) a estruturação prisões e da aplicação das reprimendas penais.

CAPÍTULO I
HISTÓRIA DAS PENAS E AS INFLUÊNCIAS NO CONTEXTO DO
ATENDIMENTO EM MINAS GERAIS
a) Antes do Direito
Compreende-se a História do Direito a partir da História da própria
escrita, ou seja, não
concebemos a existência de um Direito, como conhecemos, antes de
documentada a História. Uma coisa é fato, sempre houve uma relação entre a
situação de transgressão (numa relação como o que conhecemos por crime) e
uma punição.
Na vivência dos povos antigos, o homem empregava essa relação
entre transgressão e punição numa escala de PODER, em que o Líder escolhia
a punição, diante de uma transgressão. Surge, então, a concepção de que a
punição era uma VINGANÇA em relação a quem praticou a transgressão.
Nesse sentido, para alguns grupos sociais, a VINGANÇA era DIVINA,
pois a transgressão infringia a relação com os deuses, como se eles fossem as
vítimas das transgressões. Em outros, contudo, surgiu a visão de que o

4
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

transgressor agia não apenas contra a vítima direta, mas em relação ao


grupo social e, assim, a VINGANÇA se tornou PRIVADA, porquanto os membros
do grupo social e, inclusive, o seu soberano, compreendiam-se como vítimas do
crime.
Açoites, torturas, decepações, crucificação e outras formas de
violência se constituíram como o caminho mais natural de punir quem
transgredia as regras de cada grupo. O corpo era o receptáculo da punição e a
medida, nesse sentido, ditada pelo PODER do grupo ou do soberano.

b) A relação entre as penas aplicadas e o Direito


Em sua obrigatória obra, Vigiar e Punir 1, Michel Foucault destaca uma
relação absoluta entre a aplicação da pena pela prática do que concebemos por
crime, em qualquer sociedade, a um elemento essencial – o PODER. Esse
processo variou, em paralelo ao desenvolvimento do Direito e das Leis.
Atualmente, nas sociedades ocidentais, estamos naquilo que compreendemos
como o “Império do Direito” 2, e em países de tradição jurídica latina, como é o
caso do Brasil, as punições devem estar em perfeito alinhamento com a LEI.
Contudo, ao longo da História, nem sempre era possível o
estabelecimento de uma relação direta entre a lei penal e a punição aplicada. A
primeira norma penal conhecida, no século XVIII a.c., na Babilônia, é a
denominada Lei de Talião, inserida no que é conhecido Código de Hamurabi,
que contempla como mote principal a ideia de “Olho por Olho, Dente por
Dente.”
Por exemplo, em tradução livre, leia dois artigos do Código de
Hamurabi:
1) Artigo 1° - Se alguém acusa outra pessoa da prática de um crime,
mas não consegue provar isso, será MORTO;
2) Artigo 6° - Se alguém furta bens do seu Deus ou da Corte, deverá
ser MORTO, e mais, quem recebe a coisa furtada, também, deverá ser MORTO.
Notemos que, nos exemplos acima, era absolutamente normal que as
penas atinentes à prática de crimes se situassem em flagelos e morte. Em obra
de nossa lavra 3, expusemos que o banimento ou o exílio foram outra forma de
os grupos punirem efetivamente os autores dos delitos, ou seja, o condenado
era expulso do grupo, e com ele, seus familiares próximos, muitas vezes, sem
que pudessem levar os seus próprios bens.
Futuro policial penal, saiba que na Antiguidade, as punições não
gozavam dos princípios que limitavam à aplicação da pessoa ao autor do delito.
Em Roma, se alguém matasse um filho primogênito de um cidadão, teria que
entregar seu filho primogênito a morte! Pobre do filho primogênito, que em nada
havia corroborado com a prática da transgressão.
Notemos que o Direito, inicialmente, surgiu não com a finalidade de
racionalizar a aplicação das punições, mas de justificar as ordens punitivas
aplicadas, evidenciando sua posição como ferramenta de PODER.

5
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

c) Da exaltação pública da punição


Vigiar e Punir situa a aplicação da pena a um cenário de show. Em
filmes de época, podemos notar que as pessoas se reúnem em uma praça
pública, onde se situa uma cruz, uma fogueira, uma guilhotina ou qualquer outro
mecanismo de “purificação”. Para as sociedades em que o direito era divino, a
punição era a expiação do sujeito, para que pudesse ser “limpo” de seus
pecados.
Contudo, Foucault ressalta um duplo caráter na punição em praça
pública. Além de aviltar o corpo do condenado, a punição servia de instrumento
de doutrinação, de dominação, de prevenção em relação a população. As
pessoas que acompanhavam as execuções, internalizavam a visão de que o
PODER estava na mão soberano, e contra ele era impossível se insurgir. Para
Foucault:
“A arte de punir deve, portanto repousar sobre uma
tecnologia de representação... Encontrar para um crime o castigo que
convém é encontrar a desvantagem que torne definitivamente sem
atração a ideia de praticar um delito. (FOUCAULT, Michel. Op. cit, pg
32)
Essa é a primeira visão de um caráter preventiva da aplicação da
pena, e nesse sentido, algo que a legislação atual incorporou de maneira real,
uma das funções da punição penal é a de prevenir que outros crimes venham a
acontecer.

d) Do sagrado dever de preservar a ordem pública


O antigo Egito contemplou uma nova ideia, até então desconhecida,
de um “sistema judicial”, que aplicava punições, diante do descumprimento das
leis. MAAT é o sistema de justiça ou de ordem que norteava a aplicação das
punições, que deveriam ter alguma proporcionalidade.
Contudo, como podemos perceber na leitura do nosso material, até
então, não discutimos a ideia de uma prisão. Isso decorre de que a prisão, até
então, se posicionava apenas como uma situação provisória, até que o acusado
fosse condenado e a verdadeira pena lhe fosse aplicada, não sendo o cárcere
uma punição, efetivamente.
Cleber Masson, em seu livro “Direito Penal Esquematizado”4, ressalta
que o direito penal, então, era evidenciado como parte de um conjunto de leis
divinas. De fato, na bíblia, no livro do Deuteronômio, o crime é considerado uma
violação das leis de Deus, como se houvesse um pacto entre o homem e Deus
e, nesse sentido, o transgressor havia desobedecido ao ajuste com o divino, que
tinha efetiva força mandamental. O mesmo ocorre ao analisarmos os preceitos
do Islã, em que o Alcorão incorpora a Pena de Talião, já discutida. As penas
aplicadas por ambos se situavam entre a mutilação, a morte e o exílio ou
banimento.

6
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

e) A inovação começa na Grécia – a individuação da pena


Mesmo na Grécia, reconhecida como o nascedouro da Filosofia, o
crime/transgressão tinha inspiração no desrespeito aos deuses. 5 Transgredir leis
de deuses era se submeter a punições em vida e na morte. A democracia grega,
de fato, pouco se prendia a direitos básicos fundamentais, o que começou a
mudar com o surgimento da visão mais antropocêntrica de Aristóteles.
Em Ética a Nicômacos 6, o valoroso filósofo discute a ponderação,
inclusive para punir, a partir de um “meio termo” aristotélico. O autor expressou
valores importantes, que marcaram o desenvolvimento de um Direito mais
racional, mais afastado da ideia de vingança.
Aristóteles enxergava a humanidade em cada um de nós, tanto que
foi o primeiro grande autor a “criticar” a escravidão, apontando que o “escravo”
tinha direitos e uma dignidade, que deveria ser tratado com honra.

f) Roma, a exceção e o evolução da pena


Em nossa obra, trabalhamos o direito romano, que teve origens no
ordenamento jurídico grego, mas como a história romana se alonga em mais de
dois mil anos, muitas foram as transformações. Para nós e para Masson, os
magistrados (juízes) aplicavam punições discricionárias (de acordo com o seu
entendimento), que poderiam ser questionadas apenas pelo povo. Esse foi o
caso histórico da pena aplicada a Jesus Cristo, em sua crucificação, em que o
poder do magistrado Pôncio Pilatos, que condenou a Barrabás, foi limitado por
vontade do povo.
Tanto a história grega, como a romana, demonstra uma severa
limitação acerca do conceito de cidadão. Para eles, cidadão era a pessoa maior
de 18 anos, do sexo masculino, nascida, respectivamente, em uma cidade-
estado grega ou no Império Romano, livre (não poderia ser um escravo), sendo
excluídas as mulheres e estrangeiros.
Em algumas situações, o Direito Romano, como predispõe Masson,
prevê que o condenado arque com uma indenização à vítima, mas as penas
mais aplicadas se situavam entre a mutilação corporal ou a morte por
crucificação, decapitação ou em fogueiras (reconhecidas como supplicia summa
– suplício máximo). Pelas Leis das XII Tábuas, em Roma, foi determinado que o
poder de punir (o IUS PUNIENDI – o direito de punir) fosse exercido
especificamente pelo Estado.
Giorgio Agamben, em “Estado de Exceção” 7, nos cita que em Roma,
nalgumas situações específicas, de amplo descontrole institucional e social, o
Senado poderia emitir uma ordem denominada de Iustitium, que suspendia a
aplicação das leis e, assim, toda e qualquer violência seria admitida para superar
a situação de caos social e reinstaurar a ordem.
A suspensão do direito é o que denominamos de Estado de Exceção
e seu conceito é totalmente atual. Nesse sentido, quaisquer violências
perpetradas durante a vigência da suspensão do direito e das leis não seria
considerada como crime, inclusive a possível a morte do próprio soberano.

7
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

g) Da Idade Média ao Renascimento


O Império Romano se fragmentou e, no século V d.C., o Império
Romano do Ocidente caiu, sendo invadido pelos germânicos. Os Estados
desapareceram e a Europa Ocidental foi dividida em feudos, sendo reconhecida
a época como “Idade das Trevas”. A maioria absoluta das populações foi
envolvida num sistema de subserviência rural, denominada de servidão, em que
as pessoas produziam e entregavam parte dessa produção, em troca de
proteção, por parte do seu senhorio, o Senhor Feudal.
Como cita Masson, o direito se esfacelou e as leis deixaram de existir.
Os costumes se impunham como a regra de decisão do senhor feudal, que
cumulava todos os poderes na região sob seu controle. Houve um retorno ao
sistema da vingança, que poderia ser pública (quando a punição era aplicada
pelo senhor feudal) ou privada (quando o senhor entregava o transgressor para
que a vítima ou sua família aplicassem a pena).
Aos poucos, porém, a Igreja Católico começou a despontar como
elemento de PODER. Os regramentos da Igreja, então, foram difundidos e
aplicados em toda a Europa e a Inquisição se impôs como meio de punição,
aplicando morte, tortura e marcações no corpo das pessoas, seguidas de
banimento.
O direito canônico, contudo, foi essencial para impor um novo tipo de
punição – a penitência. A prisão surgiu como ferramenta de correção do cidadão,
como afirmamos em nossa obra. O professor Felipe Caldeira 8 revela o
surgimento do termo Penitenciária (onde se cumpre a penitência) e, assim, o
Sistema Penitenciário (que deve cuidar para que o culpado cumpra as
penitências), que tinha por sentido a aproximação do culpado de Deus, sendo o
encarceramento o meio de fazer sofrer o culpado e purgar seu pecado, por meio
da solidão.

h) da transição entre os sistemas de aplicação de pena


Foucault descreve o fluxo histórico entre o sistema de punições de
suplício ao corpo e exílio do culpado, até o sistema de privação da liberdade.
Esse processo percorre uma realidade de absoluta desnecessidade de
proporção entre a conduta criminosa e a punição aplicada, até a consolidação
da obrigatoriedade da concepção de um sistema que minimamente respeite uma
relação racional entre crime e castigo.
As leis começaram a limitar os governantes, e o devido processo legal
a implicar o Juiz! Naturalmente, essas condições somente foram possíveis a
partir do RENASCIMENTO CULTURAL, com a formação dos Estados Nacionais,
a constituição de leis dissociadas nas regras canônicas, e a divisão entre o que
era divino e o que era do homem. O Estado se laicizou, ou seja, passou a ser
dirigido por leis.
Esse processo começou em 1.215 d.C, com a Revolução dos Barões
contra o Rei João Sem Terra, na Inglaterra, quando ele foi obrigado a firmar a
Magna Carta (Magna Charta Libertatum). Pela primeira vez, um soberano foi
submetido a obrigações legais. Interessante se faz ressaltar que o documento

8
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

foi redigido em Latim e delineava uma série de liberdades para os


ingleses. Vejamos a Cláusula 39, que insculpiu o que denominamos de Due
Process of Law – Devido Processo Legal, ipsi in verbis:
"...Nenhum homem livre será preso, aprisionado ou privado de uma
propriedade, ou tornado fora-da-lei, ou exilado, ou de maneira alguma
destruído, nem agiremos contra ele ou mandaremos alguém contra
ele, a não ser por julgamento legal dos seus pares, ou pela lei da
terra." (GN)
Aos poucos a prisão começou a ser instituída como pena,
normalmente envolvendo, ainda, o suplício do corpo do condenado, mas
decretou o fim da proposta de vingança, tornando a pena apenas uma punição.
Com a visão de um mundo maior, com novas descobertas e a “iluminação” por
meio da ciência, aos poucos, a força dos soberanos passou a ser superada pela
concepção de um Estado Moderno, gerido por leis.
Pouco depois, e o Iluminismo gerou mudanças radicais no modo de
compreendermos a vida, ao que deixamos o Teocentrismo (a ideia de que Deus
era o centro de tudo) e passamos para um modo de vida Antropocêntrico (em
que o homem se tornou o centro de tudo). Nessa época, o alvo principal da
repressão penal deixou de ser o corpo do transgressor e passou para sua
liberdade.
A justiça, por sua vez, deixou de assumir publicamente a punição
como um ato de violência e vingança, enaltecendo o caráter de que está voltada
para a proteção da sociedade e a recuperação do criminoso.

i) Da concepção de um sistema humanitário de cumprimento da pena


O Iluminismo foi o momento histórico propício para que um viés de
dignidade se tornasse o fiel da balança do cumprimento das penas. O marco
definitivo da discussão foi proferido em 1764, pelo jurista italiano Cesare
Bonessana (1738–1794), conhecido como Marquês de Beccaria, a partir de sua
obra, denominada de DEI DELITTI DELLE PENE (Dos Delitos e Das Penas 9).
Beccaria criticou frontalmente o sistema penal vigente, relacionando
aspectos fundamentais, os quais listamos abaixo:
I. A forma de aplicação e a linguagem utilizada pela lei,
incompreensível para a maioria da população;
II. A desproporção entre os delitos as sanções;
III. Emprego indiscriminado da pena de morte;
IV. Uso da tortura como meio válido para obtenção de prova;
V. A situação de falência das estruturas prisionais.
Para Beccaria, o Juiz de Direito seria obrigado a relacionar, sempre,
a um determinado tipo de crime, uma pena previamente estipulada pela lei.
Surge, então, de sua obra o que compreendemos por PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE ou DA ANTERIORIDADE DA LEI PENAL.
O autor criticava a ampla indistinção entre as pessoas no sistema
prisional, colocando-se numa mesma cela suspeitos e condenados e, dentre tais,

9
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

aqueles que praticavam crimes violentos e não-violentos, crimes


políticos e de corrupção, crimes contra o patrimônio e sexuais. As relações
sociais advindas desse imbróglio contextual dificultavam (e ainda dificultam) o
que denominamos de ressocialização, aumentando de maneira exponencial o
conhecimento acerca do crime e dos modus operandi, bem como, tornando cada
vez mais comum a reincidência criminal, depois de a pessoa ter cumprido a
pena.
As ideias de Beccaria representaram uma verdadeira e plena reforma
no pensamento moderno acerca do cumprimento da pena a partir da prática de
crimes, abrindo espaço para que Estados passassem a discutir leis e processos
inerentes, a partir de preceitos científicos complexos, como o Direito, a
Sociologia, a Psicologia e a Antropologia, alicerçados em preceitos de Gestão.
Aos poucos, nos Estados Ocidentais, as penas de morte foram
banidas, bem como, o direito penal se especializou em indicar os fundamentos
e dirigir a aplicação das penas, diminuindo a liberdade de o Juiz de Direito de
dizer o direito aplicável, o que tornou as penas algo mais determinável, diante
das peculiaridades de cada crime.
Beccaria abriu o debate sobre a educação ser fundamental no
ambiente prisional, para que houvesse uma integração (ou reintegração) do
condenado à sociedade, o que compreendemos em uníssono como essencial
para diminuir a criminalidade e a violência de nossa sociedade.
De outro lado, surgiu John Howard foi outro expoente nos estudos e
na reflexão acerca da humanização do sistema penitenciário. O inglês Howard
foi preso, em 1.755 d.C., sem qualquer fundamentação, quando seu destino era
simplesmente o de socorrer pessoas vitimadas em um terremoto, sendo
recolhido a um local tenebroso.
Cerca de 20 anos depois, ele foi nomeado “Sheriff” em um cidade da
Inglaterra e passou a ter contato direto com as prisões locais e seu estado
tenebroso, sem higiene, ventilação ou luz, infestados por ratos, piolhos e toda a
sorte de doenças conhecidas.
Suas experiências nortearam estudos sobre as prisões e muito
contribuíram para a defesa do tratamento digno ao condenado, para que ele
possa se reconstituir como cidadão e ser reincorporado à sociedade, para
cumprir um papel positivo. Ele travou lutas por ambientes mais higiênicos,
espaço mínimo essencial para cada preso, alimentação adequada e com hora
certa, educação religiosa, moral e para o trabalho, bem como, obrigatoriedade
do trabalho durante o cumprimento da pena, sendo reconhecido, postumamente,
como Pai da Ciência Penitenciária, sendo trabalho publicado em 1.777, com o
nome “The state of prisions in Ingland end Wales” 10.

j) Um sistema que possui recaídas


Apesar da evolução, a humanidade teima em negar o aprendizado e
produzir horror. Em diversos países, sob diferentes circunstâncias, observamos
retrocessos, e de tempos em tempos, situações inaceitáveis. O horror da punição
ao extremo, em sua máxima versão conhecida, deve ser conhecido para que
possamos internalizar a necessidade de mudanças no caráter da pena.

10
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

A televisão estava presente na abertura dos campos de concentração


na Europa, ao final da Segunda Grande Guerra Mundial. Há imagens sobre tudo
o que estamos a relatar. Como dissertou Agamben, em sua essencial obra Homo
Sacer 11, o holocausto demonstrou à humanidade que podemos ser perversos ao
extremo, enquanto estrutura de Estado, e ainda, que essa “maldade” pode ir
além do suplício do corpo e da morte do criminoso.
De fato, os judeus foram presos e eram “culpados” apenas pelo fato
de serem judeus, não lhes sendo imputável qualquer outro “crime”. A franca
maioria deles se constituíam de trabalhadores, e famílias inteiras, com pais e
mães, avós e tios, crianças e adolescentes, foram colocados à destruição mais
abominável já documentada, onde o alvo da punição não era o suplício do corpo,
nem a morte direta, mas a execração da dignidade em sua máxima realização,
sendo a morte um mero detalhe.
Em sua visão extrema, o processo de punição constituiu duas
categorias de seres presos, nos campos de concentração:
1) A primeira categoria, composta por pessoas, que detinham
dignidade, necessidades básicas humanas (comunicar-se, relacionar-se, ter
prazer, vivência espiritual, regramento moral e ético, amor e amizade, raiva e
ódio) e, naturalmente, um conjunto de necessidades fisiológicas (dormir, comer,
defecar e respirar, por exemplo), normais para qualquer ser humano.
2) A segunda categoria, por sua vez, que não era composta por
pessoas, mas por “restos” de pessoas, sem qualquer dignidade, em que os
únicos impulsos “restantes” seriam as necessidades meramente fisiológicas.
Esses “seres” desprovidos de dignidade (como retrata o estudo do autor), aos
poucos, eram desprezados entre os membros da primeira categoria.
Agamben retrata o mal-estar que a presença de um ser dessa
“segunda categoria” acarretava às pessoas da primeira categoria, pois eles
representavam um recado acerca do que seriam no futuro, caso o mundo não
mudasse! A indignidade de uma prisão dessas é pura barbárie, é um crime
contra a humanidade! É inadmissível que o sistema de qualquer prisão detenha
tamanha perversidade, que avilta toda a dignidade, até o ponto em que os presos
não reconheçam mais o estado de humanidade.
A indignidade na prisão, como sabemos, proporciona a constituição
de um caos institucional absolutamente severo. Nas prisões, em qualquer lugar
do mundo, a indignidade culmina a fortalecer na pessoa presa um ideário de
reagir ao sistema punitivo.
Essas reações são, certamente, uma das mais fluentes explicações
acerca do surgimento, estruturação e fortalecimento de organizações criminosas
dentro de presídios. Naturalmente, não é esta a disciplina que discutirá tais
circunstâncias, nem a atuação do crime organizado no Brasil, como um todo e,
especial, nas prisões.
Contudo, esse contexto é essencial para a concepção de uma política
criminal, que dialogue com a realidade de maneira real, e que não discorra
apenas sobre aspectos filosóficos e esotéricos. Conceber valores é fundamental
e trabalho de uma política criminal, mas estudar, internalizar e aplicar tais valores

11
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

é tão mais importante, para a mudança da realidade!


Disto a humanidade se reorganizou, concebeu a ONU e diversas odes
aos Direito Internacional, realizando convenções para tratar dos direitos dos
presos e dos deveres dos aplicadores da lei, que serão objeto de estudo em
outras disciplinas. Mesmo assim, os Estados Unidos foram acusados
internacionalmente pela prática de diversas barbáries, de tortura e dilapidação
da dignidade humana na prisão de Guantânamo, há menos de 15 anos atrás.
A ordem jurídica brasileira, por sua vez, internalizou as lições da
História e se orientou para a concepção de normas mais justas, que respeitem a
dignidade das pessoas. Atualmente, discutimos NEGÓCIOS PROCESSUAIS
PENAIS, MEDIDAS DE DESPENALIZAÇÃO e de DESENCARCERAMENTO,
como inovações essenciais para ampliar a coerência do sistema punitivo criminal
no Direito Brasileiro, bem como, oferecer diversas oportunidades de
desenvolvimento humano e social para a pessoa punida pela prática de um ou
mais crimes, num ponto sem volta de uma ordem jurídica que destaca,
sobretudo, a dignidade da pessoa humana, afinal, somos todos seres humanos!

CAPÍTULO II
CARACTERÍSTICAS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PRISÕES NO
CONTEXTO DE MINAS GERAIS

a) Evolução histórica das prisões


A história das prisões segue, com certeza, a história das penas.
Enquanto as sociedades não refletiam acerca da dignidade do preso,
e a pena se situava entorno da morte, do suplício (tortura) ou do banimento
(exílio), ou seja, em grande parte da História da Humanidade, a prisão era
apenas um estado provisório, aplicado a pessoa que esperava uma condenação
criminal, sob a qual recairia, sem clemência, uma punição capital (morte) ou
quase.
Uma prisão provisória, em que inexiste qualquer compromisso entre
a Sociedade e o Estado quanto à dignidade do autor do delito é um filme de
terror, apenas por sua existência. Não havia preocupação com o condenado,
ainda que não tivesse sido condenado, ainda. A única estrutura mais organizada
de uma prisão da idade média era a sala de tortura, e nada mais.
Nesse sentido, as obras de Beccaria e de Howard foram essenciais
para que as Sociedades percebessem que as prisões se relacionavam com o
meio e, assim, a violência que comportavam saía pelos muros e repercutia nas
cidades. A corrupção do sistema abria campo para a violência entre as pessoas.
Não era raro os embates entre presos e encarregados de fazer cumprirem as
penas, numa relação regada a sangue e ódio. Era normal a cadeia “virar”, ou
seja, o preso se insurgir contra o encarregada do aplicação da pena, numa
situação de estresse permanente.
Outra não era a sorte da falta de higiene, da carência de um regime
alimentar, de descuido com a saúde e com a educação. A penitenciária se
relaciona com o meio, nesse sentido também. não era apenas o preso que ficava

12
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

doente, o encarregado da aplicação da pena trazia consigo, para o mundo


civilizado, para o seio de sua família, as marcas e os organismos responsáveis
pelas doenças. Ratos, pulgas, bactérias e vírus circulavam da penitenciária para
a sociedade livre, e certamente foram grandes focos de processos endêmicos,
que assolaram populações, em toda a História.
Aos poucos, a prisão se identificou como novos processos. Como nos
cita Foucault, a penitenciária passou a compreender a pena como uma forma de
moldar o ser humano, de transformar não mais o seu corpo, como no tempo do
suplício, mas a sua mente e o seu espírito e, para tanto, constitui processos
disciplinares para tal.
A prisão moderna possui regimes de horário, de trabalho e de estudo,
sedimentados e que vinculam os condenados, pois fazem parte do seu processo
de cumprimento da pena, incluindo espaço para desenvolvimento espiritual, para
lazer e momentos para visitas e convívio familiar. Caso isso não fosse concebido,
como ressocializar uma pessoa?
Cumprir a pena se tornou um exercício de modelagem de
comportamentos, pois a penitenciária sempre “enxerga” o que o condenado faz.
Naturalmente, essa é uma visão de controle de comportamento, algo que
realmente é muito importante para que uma pessoa possa se adequar à
convivência na sociedade.
Contudo, isso nem sempre é possível, em sistemas penitenciários
destituídos de políticas criminais voltadas à ressocialização, ou ainda, que não
compreendem que o preso nada mais é do que um ser humano que praticou
crime e que, se não vislumbrar uma oportunidade para ser alguém melhor, para
ter vantagens reais numa nova vida, pós-cumprimento de pena, certamente
voltará a delinquir.

b) As prisões no Brasil e em Minas Gerais, no Brasil-Colônia


A história do sistema penitenciário no Brasil e, em especial, em Minas
Gerais, não foi diferente, de tudo o que descrevemos. As penas aplicáveis no
Brasil-Colônia eram pautadas nas Ordenações Filipinas, que foram o primeiro
estatuto de direito penal no Brasil.
Em muitas situações, as ordenações propunham pena de morte, sem
muita referência a uma proporcionalidade entre crime e castigo e, para tal,
empregávamos penas como o enforcamento, a queima pelo fogo, o açoitamento,
a tortura, a mutilação peniana, das mãos e da língua, e a degredação para a
África, como penas costumeiras.
Como as ordenações seguiam os ensinamentos católicos, crime e
pecado eram conceitos compreendidos como idênticos e a classe social do
responsável era o único fundamento de distinção entre aplicar uma pena de
multa ou a morte por enforcamento. Não havia penas de prisão, em regra, ou
seja, o estado de prisão era apenas provisório, até que o culpado recebesse a
sua pena.
Dessa época, aproveitamos para apresentar trechos do Acórdão em

13
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

Relação Extraordinária, da Justiça do Rio de Janeiro, de 18.04.1792,


que condenou o jovem TIRADENTES, (o alferes Joaquim José da Silva Xavier),
aplicando-lhe a conhecida pena de MORTE, sendo que os reflexos de sua pena
atingiram, inclusive seus sucessores, ipsi in verbis, em língua portuguesa da
época:
“Portanto condemnam ao Réu Joaquim José da Silva Xavier por alcunha o
Tiradentes Alferes que foi da tropa paga da Capitania de Minas a que com
baraço e pregão seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca e nella
morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a
cabeça e levada a Villa Rica aonde em o lugar mais publico della será
pregada, em um poste alto até que o tempo a consuma, e o seu corpo será
dividido em quatro quartos, e pregados em postes, pelo caminho de Minas
no sitio da Varginha e das Sebolas aonde o Réu teve suas infames praticas,
e o mais nos sítios de maiores povoações até que o tempo também os
consuma; declaram o Réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus
bens applicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Villa
Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique, e
não sendo própria será avaliada e paga a seu dono pelos bens confiscados,
e no mesmo chão se levantará um padrão, pelo qual se conserve na
memoria a infâmia deste abominável Réu”.

c) As prisões e as penas no Brasil-Império


Bittencourt 12 cita que em 1.830, Dom Pedro I sancionou o Código
Criminal do Império. Pela primeira vez, a legislação brasileira fez menção da
necessidade de diferenciação de motivações criminais e eclesiásticas para a
condenação de crimes, bem como, atenuantes relativas à menoridade do autor
de um delito.
Contudo, os escravos eram condenados a penas mais graves do que
os demais autores de delitos, e a pena capital era executada na forca. Ainda,
sobre a pena de morte, ela foi banida oficialmente do Brasil pelo Imperador Dom
Pedro II, em 1.855.
As prisões e unidades carcerárias do Brasil-Império deveriam ser
mantidas pelos governos das províncias. Alguns governos provinciais
empenhavam mais recurso na construção de prisões, outros preferiam
empenhar recursos em outras obras. Assim, as estruturas prisionais eram
melhores ou piores de acordo com o entendimento e atenção do governante
provincial.
Em 1.855, com o fim da pena de morte, surgiu a necessidade de
modernização da estrutura carcerária para o cumprimento das leis. Tal processo
estava a cargo das províncias, sem que houvesse uma política criminal instalada
no Brasil. O próprio Código Criminal de 1.830 trazia consigo as ideias de
Beccaria, e mesmo, princípios da Declaração de Direito do Homem, da
Revolução Francesa, de 1.789. Concebeu-se no Brasil o IUS PUNIENDI (o
Direito de Punir), monopolizado para o Estado (apenas o Estado poderia punir).
A pena de prisão, nos termos do Código, deveria ser aplicada em
praticamente metade dos casos de crime previstos na legislação, ou seja,
finalmente o Brasil adotou a prisão como uma efetiva PENA. IMPORTANTE: a
própria Constituição de 1.824 concebeu a exclusão de pena de tortura, marcação

14
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

à ferro quente e outras penas cruéis, sendo admitido o açoite,


eventualmente, para os escravos.
Outra inovação da constituição foi estabelecer que as cadeias
públicas deveriam oferecer condições mínimas para detenção dos réus, e
separação conforme a gravidade dos delitos praticados. Assim, a prisão passa
a ocupar um espaço importante nas discussões sociais, no Brasil-Império,
encerrando-se as sessões de punições públicas, ocorridas durante toda o Brasil-
Colônia.
Minas Gerais foi afetada, como todo o país, submetendo-se à nova
realidade, concebendo as primeiras unidades prisionais para cumprimento de
pena de prisão, e eliminando os espaços de execução pública de sentenças, em
razão do novo modelo de execução penal, por meio da privação da liberdade.
As estruturas penitenciárias eram absolutamente carentes e
precárias. Os edifícios empregados para o cumprimento de penas eram
mantidos em péssimas condições, e não eram dotados de estrutura para deter
os condenados, sendo constantes os episódios de revoltas e fugas. Na maioria
dos casos, inclusive, as prisões eram, simplesmente, casas que serviam como
depósitos de gente.
Na província de Minas Gerais, a competência legislativa sobre a
questão era da Assembleia da Província, como cita o artigo Art. 10 da Lei n.
16/1834 13: Compete às mesmas Assembleias legislar [...] 9º) Sobre construção
de casas de prisão, trabalho, correição e regime delas”.
A incumbência de cuidar das cadeias era dos CARCEREIROS, que
poderiam infligir castigos aos presos, para que eles cumpram os seus deveres.
Contudo, não havia uma estrutura administrativa ou logística coerente, de
maneira que a relação entre presos e carcereiros se dispunha como uma barril
de pólvora, prestes a explodir.
Como vimos, as assembleias, então, poderiam constituir normas para
a gestão do cárcere, mas o governo imperial tinha autonomia para inspecionar
as penitenciárias, para respeito à Constituição e à melhoria das condições para
o cumprimento das penas, com cadeias mais limpas, seguras e que separem os
presos, conforme a gravidade do delito praticado.
As cadeias e os regulamentos de prisão, então, passam a ser
organizados, não apenas em Minas Gerais, mas em todo o Brasil, pelos Chefes
Locais de Polícia, com aprovação dos presidentes das províncias e do governo
central. Aos presidentes das províncias, como tempo, foi definido o dever de
conceber planos dos edifícios a serem empregados como presídios. Essas
normas foram editadas pelo Império, a partir do Regulamento n° 120/1.842.
As cadeias começaram a funcionar com regimes de execução de
penas mais direcionados pelo regulamento, com a definição de obrigações aos
presos e deveres dos carcereiros, bem como, regras gerais de obediência e
sanção, no caso de descumprimento. Os presos passaram a ser classificados,
antes de ingressarem na prisão, por idade, sexo, gravidade da conduta, devendo
ser separados – quanto for possível e as normas descritas jamais ficaram ao
arbítrio do carcereiro.
Por fim, o que se pode depreender dessa época, é que as unidades

15
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

prisionais eram exíguas e muito precárias, as normas frágeis e os


relacionamentos entre presos e carcereiros carregados por forte tensão, capaz
de fazer romper a ordem do cárcere a qualquer momento. Notemos a descrição
abaixo, de um cárcere em um quartel da Guarda Municipal Permanente de São
João Del Rey:
“...O cárcere precisa de um xadrez (grade - gn) na porta para ser mais bem
arejado; o Calabouço no mesmo quartel é muito pequeno e estreito, e não
tem toda limpeza necessária. A prisão militar acha-se no antigo estado, sem
que tenha havido reforma alguma.” 14
No texto citado, em Alvarenga e Viana, verifica-se que “...o sistema
carcerário, como hoje, tomava, à época, a pauta jornalística constantemente,
com as notícias de ausência de cadeias para a execução das penas, a má
condição dessas, as frequentes fugas de presos e a ausência de regulação dos
regimes de cumprimento.”
Em Minas Gerais, foi concebida a Lei n° 1.977/1.873 15, que regulou a
criação de vilas, condicionando-as a concepção de uma câmara municipal, um
estabelecimento de instrução primária para crianças e uma CADEIA. Mesmo
assim, o Governo Provincial, normalmente, era o responsável pela construção
da maioria das cadeias para o cumprimento das sentenças criminais, quando
elas não eram constituídas a partir de investimentos de particulares,
interessados na criação da província.
Contudo, como citam Alvarenga e Viana, em artigo já citado, a
estrutura das unidades era “...altamente deficitária..., ampla maioria das cadeias
praticamente não possuía a estrutura minimamente necessária e exigível para o
recolhimento de presos... nem mesmo a Cadeia de Ouro Preto, na capital, tinha,
àquela época, a sua construção completamente acabada.”

c) As prisões e as penas no Brasil-República


Com a Proclamação da República (1.889) veio logo após a abolição
da escravatura (1.888) e, assim, as penas relacionadas a castigos físicos foram
definitivamente afastadas com a Constituição de 1891 e o Código Criminal de
1890. A novel legislação penal ressaltava a pena de prisão como a principal
modalidade punitiva em relação a prática de crimes, mas no início da República,
ainda, havia um vazio de normas jurídicas a regulamentar o sistema prisional e
a execução da pena. 16
Em Minas Gerais, na época da proclamação, ainda estava sobre o
impacto da citada Lei n° 1.977/1.873, praticamente havia uma cadeia por vila,
mas elas não reuniam as mínimas condições de abrigar com segurança e
dignidade qualquer pessoa que devesse cumprir a pena de prisão, contudo,
segunda o texto de Alvarenga e Viana, conforme o Regulamento n. 93/1881
(MINAS GERAIS, 1882b) 17, na cadeias de Mariana, São João Del Rey, Montes
Claros, Barbacena e Diamantina foram implementadas as primeiras cadeiras de
instrução primária, para fomentar a educação dos presos e isso, por si só, já se
impunha como uma inovação no sistema prisional do país.
Segundo relatos, os quadros prisionais do início da República (da
primeira república – 1.889 a 1.930) eram terríveis, compostos por milhares de
presos em situação de penúria institucional, cumprindo penas em presídios que
16
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

não atendiam os mínimos requisitos de segurança, salubridade e


higiene, acarretando a constituição de um ambiente pernicioso, superlotado, em
que a criminalidade ocorria constantemente, sem qualquer suporte para a
reeducação e ressocialização dos condenados, muito menos conhecimento e
segurança jurídica acerca do cumprimento das penas.
Na segunda e terceira república (A era Vargas, entre 1.930 a 1.945,
com o Estado Novo), advém a mudança da legislação penal e processual penal.
Capitaneado pelo jurista Nelson Hungria, surgia o Código Penal atual (em 1.941),
o Decreto-Lei n° 2.848/41 (ainda em vigor, apesar de absolutamente reformado,
em 1.984). Pouco tempo depois adveio o Decreto-Lei n° 3.689/41, o Código de
Processo Penal (também em vigor, apesar de bastante reformado).
O país começou a investir em uma estrutura prisional e dessa época
em diante começaram a surgir alguns presídios históricos. Ainda assim, a prisão
ocorria em regime único. Mesmo assim, como cita em artigo o saudoso professor
J.R. Sette Câmara 18, ipsi in verbis:
“...Mas, além da pobreza completa de higiene, a promiscuidade tirava à pena
qualquer função educativa. Organizado o Conselho Penitenciário, em 1927,
o Presidente Antônio Carlos convidou o grande jurista professor Mendes
Pimentel para seu primeiro Presidente, encarregando-o de estudar os
planos para a inauguração, no Estado, de um sistema mais humano de
corrigir os desajustados sociais.”;
e
“...Coube ao Secretário do Interior de então, Sr. José Maria de Alkmim, a
inauguração do regime penitenciário em Minas Gerais. E o fêz com todo
coração e um entusiasmo admirável, de tal forma apaixonando-se pela
grande obra que deixou a Secretaria para dedicar-se inteiram ente à nobre
causa, como primeiro diretor da Penitenciária de Neves, que para logo
cobrou fama, atraindo visitantes de tôda parte, quando de sua
administração. Alargou a área inicial do estabelecimento, e imprimiu rumo
definitivo ao trabalho dos detentos, instalando máquinas e abrindo culturas
em antigas fazendas do Estado, onde localizou núcleos de sentenciados
escolhidos, os quais, com a terapêutica milagrosa do trabalho, no cultivo do
solo, se preparavâm para retornar à sociedade. A passagem do Dr. José
Maria de Alkmim pela Penitenciária de Neves assinalou-se como um marco
de vitória para aquêle reformatório, onde ainda hoje repercute a ação
inteligente, humanitária e educadora do grande penitenciarista, que tão bem
soube compreender a obra de recuperação do homem desajustado, cuja
mentalidade e cujos problemas procurou sempre interpretar e resolver com
justiça e bondade.”
O estudo do professor Sette Câmara ocorreu em 1.949, ou seja, nos
idos da quarta república (1.945 a 1.964). Naquela época, apontou que de 1.927
a 1.949 passaram pouco mais de 1.600 pessoas para correição na prisão, na
então Presidiária de Neves, e apenas 14 dessas pessoas haviam reincidido e
retornado ao presídio. Esse apontamento é muito digno de ser apreciado, e nos
faz avaliar sobre o quanto perdemos o rumo, como sociedade, desde então.
Aliás, o professor, ainda, faz menção a quantidade de pessoas presas naquele
momento no Estado de Minas Gerais, algo aproximado a 2.600 pessoas em
cumprimento de pena.
Por fim, algo que também nos determina um pensamento reflexivo é

17
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

a comparação realizada pelo autor sobre o Brasil e os Estados Unidos,


naquela época, apontando que a população carcerária nos Estados Unidos era
de proporção três vezes maior do que a brasileira. Em 1.949, nos Estados Unidos
1(uma) a cada 1.000 (mil) pessoas estavam encarceradas e no Brasil, 1(uma) a
cada 3.000 (três mil) pessoas estavam nessa situação. Hoje, contudo,
atualmente, no Brasil, 1(uma) a cada 300 (trezentos e cinquenta) pessoas estão
encarceradas, ou seja, a taxa de encarceramento cresceu quase de 1.000%,
enquanto nos Estados Unidos cresceu apenas 100%.
Na fase posterior, a fase do regime militar, tivemos a construção de
diversos presídios. As prisões continuaram a ser dirigidas por profissionais que
cumpriam o encarceramento, mas a segurança das unidades era feita pela
Polícia Militar. O processo era rudimentar, sem muita tecnologia, com vagas
escassas em relação às estruturas do sistema, e com pouco e nenhuma
especialização profissional. O trabalho, aos poucos se consolidou nas
penitenciárias, mas o estudo era exíguo.
Apesar disso, não havia (e não há) vagas suficientes de trabalho para
os presos. Os trabalhos de ressocialização eram efetivamente feitos por
benfeitores e pela Igreja Católica. Até o final do regime militar, não havia notícias
de que o crime organizado havia conquistado espaço nas cadeias, mas é fato,
que as estruturas criminosas começaram a se organizar politicamente, o que
conduziu ao processo de sedimentação das bases de organizações complexas,
que passaram a atuar nos presídios. As rebeliões, naquele tempo, eram
enfrentadas por policiais militares sem treinamento específico, com armas de
fogo e intervenções muito severas.
Na nova república (a partir de 1984, até hoje) desde o advento da
Constituição Cidadã de 1988, o direito penal e processual penal mudaram, as
políticas de desencarceramento e de despenalização impactaram
profundamente a aplicação da pena, enquanto há uma compreensão sistêmica
de que a humanização poderá reduzir a reincidência e diminuir o ímpeto de
organizações criminosas dentro dos presídios.
A Lei de Execução Penais – Lei Federal n° 7.210/1984 concebeu um
cumprimento de pena progressivo e escalonado, que permite a ressocialização
a partir do mérito do condenado, que recebe benefícios na medida em que
cumpre etapas da pena, com mérito e respeito às leis e ao sistema vigente.
Esses fatores se somaram com a rebelião na Penitenciária do
Carandiru, em São Paulo, uma tragédia que repercutiu internacionalmente e que
ainda tramita na ordem jurídica brasileira, foi um divisor de águas no processo
de intervenção policial junto ao sistema prisional.
O ano era de 1.992 e esse fato foi um dos primeiros desafios da nova
ordem jurídica brasileira, pois gerou uma mudança radical nos processos de
compreensão sobre a pena, sua função no âmbito da sociedade, e na
necessidade da concepção de uma política criminal. De fato, ainda há muito a
percorrer, mas há mudanças que estão em trâmite, como na profissionalização
do agente que atua no sistema prisional, seja ele um policial penal, um policial
militar ou profissional da medicina, da psicologia ou da assistência social, muito
mais especializado.
Em paralelo, organizações sociais e universidade se voltaram para o

18
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

desenvolvimento de uma nova realidade! No Estado de Minas, há uma


experiência muito profícua envolvendo a SEJUSP e a APAC. A APAC –
Associação de Proteção e Assistência aos Condenados é uma organização
privada da sociedade civil sem fins lucrativos, voltada para o acolhimento e
ressocialização de detentos.
Nas APACs, o detentos são recebidos no cumprimento de pena, com
trabalho, estudo e um conjunto de medidas de reintegração, de resgate espiritual
e desenvolvimento humano! Minas Gerais é o Estado com as melhores
experiências de integração do país, e é notável o esforço comum entre
organizações como a APAC (há quase 50 unidades no Estado de Minas Gerais),
o Tribunal de Justiça do Estado e a SEJUSP, demonstrando uma ampla
predisposição de levar humanidade a um sistema em que a violência, ainda é a
linguagem de comando!
A proposta das APACs inclui linhas de ação fundamentais, que visam
o preenchimento das necessidades de uma pessoa, que cumpre pena, para se
ressocializar, como a participação na comunidade, o trabalho, a religião, a
assistência jurídica e social, a saúde, a valorização humana, a família, a
voluntariedade, e a formação profissional.
O modelo em questão recebe detentos em todos os regimes (fechado,
semiaberto e aberto, e eles são responsáveis pela gestão de grande parte do
empreendimento, desenvolvendo atividades de capacitação e trabalhos, que
permitem a valorização humana e a percepção de utilidade e humanidade.
Mesmo assim, ainda temos um sistema prisional inchado, uma
persecução penal que gera muito encarceramento (somos o quarto maior país
do mundo em população carcerária geral), uma estrutura que opera com ampla
tecnologia de controle e de reação, mas que possui grande dificuldade de limitar
aos presos o acesso a drogas e celulares, que carece de instrumentos de
inteligência para competir com organizações criminosas, que sobrecarrega os
profissionais que trabalham na segurança prisional, tudo porque há uma
carência nacional por uma estrutura mais real de política criminal.
Essa realidade, passa não apenas por medidas que evitariam ou
reduziriam o encarceramento, mas pela estruturação de financiamento, gestão
e aprofundamento do controle dos presídios, na esteira dos mesmos problemas
que ocorriam no Império, em que as cadeias estavam cheias e havia
necessidade de melhorar!
Felizmente, essa é parte essencial da luta que a Secretaria de Estado
de Justiça e Segurança Pública do Estado de Minas Gerais (SEJUSP) e todo o
Sistema Prisional do Estado estão focados, para que possamos mudar a
realidade e constituirmos uma perspectiva de que, em alguns anos, Minas terá
não apenas um dos melhores sistemas prisionais do Brasil, mas continuará a ser
um dos Estados mais seguros para se viver!

19
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

CAPÍTULO III
POLÍTICA CRIMINAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS

a) Introdução
Poucos estados do Brasil possuem uma preocupação com pessoa
humana como Minas Gerais. Há uma conjunção de esforços realmente notável
no que condiz à concepção de uma Política Criminal do Estado de Minas Gerais,
capaz de superar as expectativas impressas a partir da Política Criminal do
Brasil.
Primeiramente, o que é uma Política Criminal? Numa visão
simplificada, para entendimento momentâneo, é o conjunto de princípios e
normas pelas quais o Estado promove a prevenção e a repressão das infrações
penais, envolvendo diversos níveis de atuação. Para Claus Roxin 19, “é o como
devemos proceder quando há infringência das regras básicas de convivência
social.”
Contudo, o futuro policial penal deve compreender que a Política
Criminal de um Estado não é exercida meramente pelo aparato policial, nem
mesmo pelo sistema sancionatório. Enquanto aparato policial, podemos
distinguir um conjunto de órgãos de Estado que opera na proteção dos direitos
dos cidadãos e na preservação da ordem pública, bem como, na aplicação das
normas.
Enquanto sistema sancionatório, enquadramos, além dos órgãos
policiais (que fazem parte dele), o Ministério Público, o Poder Judiciário, e porque
não, estruturas administrativas de Justiça e Segurança Pública, como o
Ministério da Justiça e Segurança Pública (e seus órgãos), e seus similares nos
estados e municípios, o Poder Legislativo que conceber as normais penais e
processuais penais e, mais, entidades do terceiro setor, que possuem missões
de reeducação e reinserção do detento, para que ele não volte a delinquir e
possa encontrar um fluxo de vida saudável e socialmente adequada.
No sistema sancionador, temos então, processos de prevenção da
violência e da quebra da ordem pública, como um todo, mas também, processos
de aplicação da lei e, finalmente, de execução das normais penais, em diversos
níveis. A Polícia Penal, em todo o território nacional, e como não poderia ser
diferente, em Minas Gerais, faz parte desses dois sistemas, porquanto é uma
estrutura policial, inserida no bojo do artigo 144, inciso VI, §5°- A da Constituição
Federal, alterado nos termos da Emenda Constitucional n° 104, de 2.019, sendo
órgão responsável pela segurança dos estabelecimentos prisionais, na esfera
federal, estadual ou distrital.
Pensa-se, muitas vezes, que o sistema policial e sancionatório do
Estado depende exclusivamente do Direito, pois é alicerçado por leis, mas essa
é uma visão míope do sistema, já que é a Criminologia a ciência que deveria
permitir a concepção da Política Criminal, cabendo ao Direito o firmamento das
opções científicas por essa delineada, posto que a Criminologia coordena um
conjunto amplo de ciências (como a Antropologia, a Sociologia, a Psicologia, a
Assistência Social, a Medicina, a Biologia e, ainda, o próprio Direito).

20
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

Na concepção de uma Política Criminal, deve-se considerar não


apenas o crime praticado, mas o esforço conjunto da sociedade e seus meios de
controle para prevenção da violência, como um todo, cumprindo-lhe,
essencialmente o papel de sistema integrador de todos os mecanismos
disponíveis para redução da violência e da criminalidade, inclusive acerca do
cumprimento da prisão, como fase essencial de prevenção da violência – a
prevenção terciária.
Assim, não é movimento próprio do Direito a modificação das leis,
porquanto ele é apenas uma ferramenta do sistema, que não visa sua própria
modificação. Em nossa obra citada, citamos que o Direito não é autopoiético, ou
seja, não existe para transformar a si próprio, para funciona em dialética (diálogo)
com outras ciências. É a política criminal, ditada pelo conjunto de ciências
coordenadas pela Criminologia, quem escolhe as opções lógicas para repensar
a punição no Brasil.
Assim, o Direito Penal e Processual Penal seria, na verdade, como
Claus Roxin expressa, na mesma citada obra, seriam um produto da Política
Criminal e não o contrário, pois essa concebe “as valorações político-criminais
que fundamentam o sistema do Direito Penais e a interpretação de suas
categorias.” Assim, o próprio Direito Constitucional Penal seria parte da Política
Criminal, como opção jurídica e, no caso do Brasil, democrática para o trato do
crime e de quem o pratica.
O mesmo, podemos dizer, acerca dos tratados internacionais a que o
país se filia, porquanto tal processo de internalizar normas internacionais deve
se coadunar com a Política Criminal do país.
Em se tratando do Estado de Minas, é fundamental esclarecer que,
em razão do pacto federativo, determinado pela nossa Carta Magna, a Política
Criminal do Estado não ser absolutamente independente da Política Criminal
Nacional, pelo contrário, ao estado é lícito conceber ações para operacionalizar
os princípios propostos pela Política Nacional, o que é feito de maneira
pormenorizada, a partir de um conjunto de ações, que enreda todas as polícias
(incluindo a Polícia Penal), órgãos do executivo do Estado, do Ministério Público,
do Judiciário, da sociedade civil organizada e, por fim, propriamente, o cidadão
comum.

b) Uma Lei de Execução Penal Própria


Minas Gerais é, definitivamente, um Estado Inovador, que prima pela
legalidade! Apesar de existir uma Lei de Execuções Penais de cunho nacional
(Lei Federal n° 7.210/1984), o Estado de Minas Gerais é um dos únicos do Brasil
que possui uma Lei Estadual de Execuções Penais. A Lei Estadual n°
11.404/1994 20 não é apenas uma compilação das regras da lei federal, mas uma
norma jurídica com existência própria, porquanto incorpora princípios e
procedimentos que respeitam as regras gerais, mas que demonstram o intuito
desenvolvimentista do Estado, na busca da prevenção da violência.
Não é sem motivo que Minas Gerais é um dos estados com os
melhores indicadores de violência do país. Não é sem motivo que temos uma

21
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

polícia atuante, seja na preservação secundária da violência (a polícia


administrativa), como na investigação e prisão (a polícia repressiva), seja no
ambiente de execução penal e reintegração social do detento (a polícia penal).
Talvez pelo momento histórico, mas é fundamental destacar que a Lei
de Execuções Penais de Minas Gerais regula as medidas privativas de liberdade
e restritivas de direito, bem como a manutenção e a custódia do preso provisório,
tomando por princípio basilar a sua reeducação e reintegração na sociedade,
para proteger a todos e evitar a reincidência delitiva.
Assim, a lei busca garantir a manutenção dos direitos civis, políticos,
sociais e econômicos dos detentos, desde que compatíveis com a execução da
pena, determinando aos policiais penais e a qualquer agente público o integral
respeito e dever de proteger os direitos do homem, sendo vedada qualquer
distinção de caráter racional, religiosa ou política. O futuro profissional policial-
penal de Minas Gerais estudará com mais afinco o sistema de execução penal
do Estado, em outras disciplinas.

c) Um conjunto de Políticas Públicas


O estado e a sociedade de Minas Gerais conceberam um conjunto
enorme de ações para implementar a sua política criminal. Para tal, precisamos
contextualizar que as ações estão divididas em três vieses distintos, cada qual
situado em um momento de prevenção. Abaixo, situamos o aluno acerca do
conceito e de exemplos de ações desenvolvidas em cada uma delas, senão
vejamos
1) PREVENÇÃO PRIMÁRIA: é o conjunto de ações desenvolvidas
pela sociedade e pelo poder público, sem vinculação direta com o aparato
policial, no sentido de prevenir a ocorrência de delitos da maneira mais efetiva
possível, por meio do desenvolvimento de uma cultura de paz e de prevenção,
que envolve propensos autores de crimes (transgressores das normas) e as
propensas vítimas.
Como exemplo de prevenção primária dirigida aos propensos
transgressores temos o projeto Fica Vivo e o PROERD, o primeiro visando a
prevenção do homicídio no seio das comunidades, o segundo a redução do uso
de drogas psicotrópicas.
Como exemplo de prevenção primária dirigida as propensas vítimas
da violência temos os vários processos educacionais para a autoprevenção dos
crimes, para que a pessoa, por seus atos, possa reduzir as probabilidades de
ser vítima de um delito, como nas campanhas para redução da violência
doméstica contra crianças, mulheres, idosos ou deficientes, bem como, para
esclarecimento sobre as diversas formas de discriminação, de condutas
perniciosas do comércio ou de fraudes.
Nesse sentido, além dos órgãos de estado de segurança pública, as
escolas públicas e privadas, as universidades, organizações sociais e, inclusive,
empresas, se envolver

22
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

2) PREVENÇÃO SECUNDÁRIA: é o conjunto de ações


desenvolvidas por meio de instrumentos de controle do Estado, com foco
específico em evitar que os crimes venham a acontecer. O videomonitoramento
das cidades, realizado pela Polícia Militar ou pelas Guardas Civis Municipais, o
policiamento preventivo, as blitz (ou bloqueios policiais), os controles de receita
nas estradas, as bases comunitárias móveis, as abordagens policiais, as
fiscalizações de acesso em estádios e shows, todas essas atividades são
exemplos habituais de prevenção secundária, pois é aquela voltada para a
fiscalização das atividades desenvolvidas no âmbito da sociedade, com
aplicação direta do poder de polícia administrativa.
3) PREVENÇÃO TERCIÁRIA: é o conjunto de ações desenvolvidas
por meio do sistema sancionador do Estado, envolvendo o Judiciário, o Ministério
Público, as forças de Segurança Pública, no processo de repressão da
criminalidade, para prisão de transgressores da norma e, posteriormente, na
plena aplicação e execução das penas atinentes às práticas dos crimes, onde
se insere o policial penal.
Há muitas dúvidas acerca da prevenção terciária, posto que é uma
atividade que ocorre após a prática do delito. Contudo, como predispõe a Lei de
Execuções do Estado de Minas Gerais, a atividade de execução da pena visa
reeducar e reinserir o apenado junto à sociedade e, assim, diminuir a
possibilidade de reincidência. Por si só, esse trabalho já se constitui num
excelente exemplo da prevenção da violência e da criminalidade, porquanto
evitaria que as pessoas voltassem a delinquir (fazendo novas vítimas de seus
crimes).
Contudo, a prevenção terciária atua em outro aspecto preventivo, no
que tange à percepção social acerca da aplicação do direito penal. Quando o
Direito funciona em uma sociedade, as pessoas consideram a possibilidade da
aplicação da lei um fator de desestímulo a prática delitiva. Assim, a prevenção
terciária possui um papel de apaziguar o ímpeto da vingança privada da vítima,
bem como, de diminuir o interesse das pessoas pela prática delitiva,
evidenciando que o crime não compensa, e que a punição é justa e certa.

d) Conselho de Criminologia e Política Criminal - CCPC


O Conselho de Criminologia e Política Criminal do Estado de Minas
Gerais (CCPC) é uma órgão interno da Secretaria de Estado da Justiça e
Segurança Pública (SEJUSP), responsável por conduzir e realizar a plena
reavaliação da política criminal do Estado de Minas Gerais, com foco na
consecução dos princípios de reeducação e reintegração da pessoa privada de
liberdade, na avaliação e constante aperfeiçoamento dos processos atinentes ao
cumprimento das penas e nas demandas relativas ao desenvolvimento dos
profissionais que trabalham no sistema prisional do estado.
O CCPC é responsável pela conformidade do trabalho do sistema
prisional a partir da política delineada pelo Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária, sob tutela do Secretário de Estado de Justiça e de
Segurança Pública, mormente composto por profissionais e professores de
Direito, Criminologia e Ciências Sociais, com atribuições na constituição da
política penitenciária do Estado, na elaboração de planos de desenvolvimento e
metas, acerca das prioridades do sistema, na consultoria acerca do investimento
em política previdenciária, na relação com o terceiro setor e a comunidade na

23
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

execução da política criminal, na apuração de desvios funcionais e


violações legais, na fiscalização de unidades prisionais, na normatização interna
das unidades (regimentos internos)

CAPÍTULO IV
QUESTÕES DE FIXAÇÃO
1) Sobre os processos de execução da pena antes da existência do Direito, podemos
afirmar que:
( ) Na fase da vingança privada, antes de existir o Direito, o Estado aplicava a pena
diretamente.
( ) Numa existência social em que vigia a vingança divina, as transgressões infringiam
diretamente a relação do homem com os deuses
( ) Antes de existir um Direito, a punição em relação a qualquer crime seguia apenas
os mandamentos legais, mas era aplicada pelo soberano.
( ) O líder ou soberano decidia a punição acerca da prática do crime a partir de
processos racionais

2) Sobre as fases de vingança privada ou divina, podemos afirmar que:


( ) As penas aplicadas atingiam a liberdade das pessoas transgressoras.
( ) A pena de banimento era normalmente aplicada a partir do Império Romano.
( ) As prisões eram aplicadas apenas provisoriamente, até a aplicação da pena de
suplício do corpo, banimento ou morte.
( ) As penas aplicadas se limitavam à tortura e chicoteamento de escravos.

3) Sobre a aplicação das penas a partir da Lei de Talião, na antiguidade, podemos


afirmar que:
( ) O Código de Hamurabi não significou nenhuma evolução, pois as penas aplicáveis
eram, em regra, capitais, gerando a morte do condenado.
( ) O Olho por Olho, Dente por Dente significava que todas as penas aplicáveis geravam
a morte do transgressor.
( ) Foi uma evolução social enorme, porque as pessoas reconheceram o que eram
crimes e se estabeleceu uma relação direta entre crime e castigo
( ) Com a Lei de Talião, o soberano deixou de aplicar as penas.

4) Sobre a aplicação da pena na antiguidade, podemos afirmar que:


( ) Desde sempre se estabeleceu uma relação direta entre o soberano, o poder e
aplicação da pena.
( ) As penas eram aplicadas em total relação com as leis.
( ) As leis previam o princípio da individuação da pena, ou seja, que apenas o
transgressor da norma seria punido pelo crime praticado.
( ) O surgimento do Direito não teve uma finalidade de racionalizar a aplicação das
penas, mas de justificar as ordens aplicadas pelos soberanos

5) Sobre as formas de aplicação da pena ao longo da História, podemos afirmar que:


( ) As penas sempre foram públicas, ou seja, aplicadas diante da sociedade.
( ) As penas foram sendo racionalizadas, ao longo da História, mudando de acordo com
a evolução do Direito.

24
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

( ) Na Grécia, apenas existiam penas de suplício ao corpo e morte.


( ) Na Grécia surgiu a possibilidade de suspensão do direito, para que o caos social
fosse resolvido, e tudo era permitido nesse momento.

6) Sobre as inovações da pena na Grécia, podemos afirmar que:


( ) Na Grécia, a democracia era plena e, assim, foi banida a pena de morte.
( ) As punições na Grécia era evidentes transgressões às leis divinas e a família do
condenado deveria suportar sempre a sua condenação.
( ) Na filosofia de Aristóteles, surgiu uma visão mais teocêntrica, que determinava que
o culpado deveria ser punido pelo homem e pelos deuses.
( ) Em sua obra, Aristóteles propôs uma proporcionalidade entre crime e castigo.

7) Sobre as inovações da pena na Grécia, podemos afirmar que:


( ) O povo romano impunha a pena aos acusados e os magistrados poderiam modificar
a sua decisão.
( ) Roma começou a aplicar penas de indenização, diversas do suplicio do corpo, do
banimento e da morte do transgressor.
( ) Qualquer pessoa era considerada um cidadão para Roma.
( ) Numa circunstância de suspensão do Direito, os crimes praticados poderiam ser
punidos poderiam ser punidos, nos termos da lei.

8) Sobre a transição entre os sistemas de aplicação das penas, podemos afirmar que:
( ) Não houve relação entre o desenvolvimento do Direito e o emprego da prisão como
meio de punição pela prática de crimes
( ) A constituição de um novo sistema de penas decorreu do desenvolvimento das
ciências, que mudaram o curso da História
( ) Por ter se laicizado, o Estado começou a punir sem aplicar torturas ou mortes.
( ) O Iluminismo constituiu uma série de leis, obrigando ao Estado banir a pena de
morte.

9) Sobre a transformação das penas no Iluminismo, podemos afirmar que:


( ) Beccaria foi responsável pela implantação de uma série de mudanças nas prisões,
humanizando a aplicação da pena.
( ) Em “Dos Delitos e das Penas, Beccaria discute o princípio da cumulação das penas.
( ) A teoria de Beccaria foi essencial para transformar a linguagem jurídica em algo mais
técnico, para que os Juízes se distinguissem da população.
( ) Beccaria discorreu sobre a desproporcionalidade entre crime e castigo, criticando o
uso indiscriminado da pena de morte.

10) Sobre a evolução das prisões, podemos afirmar que:


( ) Quanto a prisão era um estado meramente provisório, e o preso aguardava apenas
a condenação (que nunca era uma prisão), elas possuíam uma estrutura melhor,
porque havia poucas pessoas presas.
( ) Howard foi responsável pelo processo de individuação da pena e pela edição do
princípio da anterioridade da lei penal.
( ) Nas cadeias da antiguidade e mesmo nas da época do Iluminismo, como havia a
inspiração na Igreja Católica, as estruturas eram bem organizadas e respeitosas.
( ) Howard verificou que a realidade das prisões era caótica e sem higiene, e esse
modelo antecedeu a prisão moderna, com regimes modelares, que visavam a
reeducação do detento.

25
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

11) Sobre as prisões no Brasil-Colônia, podemos afirmar que:


( ) Eram obrigatórias para a constituição de vilas, e abrigavam o cumprimento de penas.
( ) O sistema penal aplicado no Brasil-Colônia era igual ao de Portugal, e o Imperador
determinava a pena a ser aplicada.
( ) As penas incluíam degredar o condenado para a África.
( ) A pena de morte foi banida do Direito Brasileiro nessa época.
12) Sobre as prisões no Brasil-Império, podemos afirmar que:
( ) O Código Criminal do Império atenuou a pena em relação a menoridade e promoveu
diferenças entre os fundamentos criminais e eclesiásticos
( ) As penas aplicáveis a escravos eram mais leves, em razão da situação em que
viviam.
( ) A pena de morte era a regra do ordenamento do Brasil-Império, até a Proclamação
da República.
( ) As prisões na época do Império eram mantidas pelo governo central, com apoio dos
governos das províncias

Gabarito

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10 11. 12.

B C C D B B C B D D C A

1 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Editora
Vozes, 1987.
2 DWORKIN, Ronald. O Império do Direito, 1ª edição, São Paulo: Martins Fontes, 1999

3 TASSI, Jorge. Introdução à Filosofia do Direito de Segurança Pública – O ser humano no

Estado de Exceção. São Paulo: Suprema Cultura, 2008.


4 MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado – Parte Geral – vol.1 – 9°ed. rev., Rio de

Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015.


5 https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/prisoes-na-antiguidade-o-direito-penal-

nas-sociedades-primitivas/

6 ARISTÓTELES, Ética à Nicômacos. Brasilia: Editora UnB, 2011. ______________: Ética a


Nicômaco. São Paulo, Martin Claret, 2003.
7 AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção. Trad. Iraci D. Poleti, São Paulo: Boitempo Editorial ,

2004.
8 CALDEIRA, Felipe Machado. A evolução histórica, filosófica e teórica da pena. Revista da

EMERJ, Rio de Janeiro, nº45, v.12, 2009.


9 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1998.

10 A PRISÃO E O SISTEMA PENITENCIÁRIO – UMA VISÃO HISTÓRICA GARUTTI, Selson

(UEPG)1 OLIVEIRA, Rita de Cássia da Silva (UEPG),


http://www.ppe.uem.br/publicacoes/seminario_ppe_2012/trabalhos/co_02/036.pdf

11 AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua. Trad. Henrique Burigo,
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
12 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal. 13ª ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2008

26
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
SUBSECRETARIA DE PROMOÇÃO DA QUALIDADE E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE
DEFESA SOCIALESCOLA DE FORMAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA
SOCIAL

13 ALMG, Lei n. 16/1834.


14 O cárcere e a Assembleia Legislativa Provincial Mineira (1835-1889) IMPRISONMENT AND
THE PROVINTIAL LEGISLATIVE ASSEMBLY OF MINAS GERAIS (1835-1889),
https://www.scielo.br/j/rdgv/a/ThVjmb6mSPdqJ3Tmz93wPzq/abstract/?lang=en

15 ALMG, Lei n. 1.977/ 1873.


16 SANTOS, Márcia Maria, ALCHIERI, João Santos & FLORES FILHO, Adão José.
Encarceramento Humano: Uma Revisão Histórica: UFRN, Natal -
http://www.susepe.rs.gov.br/upload/1326804245_Encarceramento%20Humano%20Revisao%2
0Historica.pdf

17 ALMG, Regulamento n. 93/1881


18 SETTE CÂMARA, J.R. SISTEMA PENITENCIÁRIO EM MINAS GERAIS - 807-Texto do
Artigo-1507-2-10-20140911 (1).pdf
19 ROXIN, Claus. Política criminal e sistema jurídico-penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2000.

20 ALMG, Lei Estadual n° 11.404/1994

27

Você também pode gostar