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CONDUTA NO TRAUMA DE EXTREMIDADE DISTAL DOS DEDOS

Martin Brandolt Aramburu


Bruno Grund Frota
Eduardo Andres
Jefferson Luis Braga Silva

UNITERMOS
TRAUMATISMOS DA MÃO; TRAUMATISMOS DOS DEDOS.

KEYWORDS
HAND INJURIES; FINGER INJURIES.

SUMÁRIO
A identificação e o manejo precoce das lesões de extremidades distal dos
dedos são medidas fundamentais para um melhor desfecho estético e funcional
1
. A conduta inicial deve-se pela boa avaliação da lesão. Com isso, buscamos
esclarecer conceitos fundamentais para a preservação do membro.

SUMMARY
Identification and early management of distal finger injuries are
fundamental for a better aesthetic and functional outcome 1. The initial
approach should be the proper assessment of the injury. Thus, we seek to clarify
key concepts for limb preservation.

INTRODUÇÃO
O trauma de mão representa um tipo de lesão que pode deixar sequelas
funcionais importantes. O conhecimento adequado do primeiro atendimento
nas lesões mais frequentes da extremidade distal dos dedos tem impacto
importante para a prevenção de desfechos desfavoráveis. Em virtude disso,
este capítulo abordará de forma objetiva as principais lesões deste segmento.

INVESTIGAÇÃO E CONDUTA
As lesões de extremidade distal dos dedos, composta pela falange óssea,
complexo ungueal e polpa digital, constituem uma das principais causas de
lesão do membro superior, correspondendo a 45% dos atendimentos de
emergência e também a principal causa de amputação de membro superior 2.
Muitas dessas situações podem ser manejadas por médico plantonista,
apresentando melhora do desfecho funcional e estético, se abordadas em um
primeiro momento3. Em virtude de sua prevalência no atendimento inicial, este
capítulo abordará de forma objetiva principalmente as lesões do aparelho
ungueal por ser a mais frequente 3, seguida de lesões tendinosas, amputação da
falange distal, fraturas e luxações, entre outros.
Na chegada do paciente, é feita uma breve anamnese para que se saiba o
mecanismo do trauma e as possibilidades de lesões. Ao exame físico observa-se
inicialmente a vascularização da extremidade distal (enchimento capilar) e após
pede-se para o paciente fletir e estender as falanges dos dedos, afim de que se
identifique alguma lesão tendínea. Uma lesão muito frequente é a lesão do
tendão extensor, que se apresentará por flexão da falange distal (dedo em
martelo)4. O próximo passo seria identificar fraturas e luxações por meio do raio
X. Lembramos que luxação de articulação é considerada uma urgência médica e
deve ser diagnosticada e reduzida.

Figura 1. Lesão do tendão extensor, “ dedo em martelo”

Nas lesões da extremidade dos dedos, deve- se coibir o sangramento


através da utilização de curativo compressivo com gaze ou compressa estéril e
elevação da mão1. Não é necessária a utilização de garrote digital. A avaliação
inicia-se pela verificação das condições da ferida, o grau de contaminação e o
tipo da lesão. A anestesia, quando utilizada, deverá ser sem vasoconstritor na
base dos dedos em no máximo 3 pontos, poupando o dorso, lidocaína 1% 1. O
próximo passo seria a limpeza exaustiva da ferida com substância degermante e
soro fisiológico. Logo após, se necessário, faz-se o debridamento para uma boa
sutura cutânea. Caso isso não seja possível, um retalho com especialista poderá
ser feito em bloco cirúrgico. Em casos de amputação distal, o segmento
amputado deverá ser acondicionado em superfície limpa e seca, mantida em
recipiente com gelo e encaminhada para um serviço de cirurgia da mão 5,6. O
congelamento é formalmente contra indicado. As indicações absolutas de
reimplantes são em amputação do polegar, em múltiplos dedos, e em crianças5.
As lesões que envolvem o aparelho ungueal são normalmente causadas
por esmagamentos ou por instrumento contundentes3. Devem ser
imediatamente tratadas, tendo em vista que o reparo imediato apresenta
resultados superiores em relação ao reparo tardio ou de reconstrução 3. O
primeiro passo deve ser a restauração com fio absorvível e hemostasia do leito
ungueal. Para tanto, é preciso elevar a unha ou retirá-la. Em caso de avulsão
ungueal, deve-se lavá-la adequadamente e reimplantá-la com sutura simples. Se
o paciente se apresentar sem a unha, uma pequena placa feita com bolsa de
soro fisiológico deve ser improvisada e implantada3. Os quadros que se
apresentam com fratura exposta ou perda de grande quantidade de tecido
devem ser encaminhado a um especialista para que seja feito um retalho 1. Na
presença de fratura instável de falange distal com deslocamento ou luxação
deve ser feita a redução e estabilização longitudinal. Quando presente fatura
exposta, a antibiótico profilaxia com um grama de cefazolina endovenoso em
até oito em oito horas de dois a cinco dias6.

Figura 2. Elevação da unha e visualização da lesão do leito ungueal


Figura 3. A) Lesão do leito ungueal, B) Fixação longitudinal, C) Uso de silastic
para proteção do leito ungueal, D) Resulatdo pós-operatório

Mesmo em casos que a lesão se apresenta menos grave, apenas como


hematoma ungueal, devemos prestar atenção para que haja um conforto maior
do paciente. Pelo simples fato de realizar drenagem da unha com uma agulha, já
temos o alívio da dor1,7. O hematoma é avaliado pela área da unha: se o
hematoma for menor que 50% da área, devemos drená-la, fazendo um furo na
região na lúnula (parte branca em meia lua na base da unha). Não é necessário
anestesia, pois a técnica não provoca dor. Se o hematoma for maior que 50%,
devemos levantar a unha e expor o leito ungueal para que se faça o reparo do
mesmo, se necessário. O curativo deve ser feito com material que não cause
aderência. O cuidado de lesões da polpa digital com perda de substancia
também deve ser tomado; podem ser manejada de forma conservadora, desde
que pequena, superficial, limpa e sem exposição óssea8. Caso contrário, o
tratamento com enxertos e retalhos feito por especialista é necessário.
Em resumo, na maioria das vezes, há a necessidade de retirar a unha para
avaliar o leito ungueal, reparando sempre que preciso e reimplantando a unha
ou a prótese, para que haja sustentação e o crescimento da nova unha, afim de
se obter melhores desfechos funcionais e estéticos. Os casos em que há fratura
exposta ou grande perda de substância, referenciamos a um serviço de cirurgia
da mão, assim como os casos de amputação.
Figura 4. A) Amputação da falange distal do dedo indicador com fio Kirchner
para fixação, B) Resultado do reimplante, C) Resultado do dedo reimplantado
comparativamente ao dedo normal

CONCLUSÃO
Tendo em vista que a população mais afetada nesse tipo de lesão é a
economicamente ativa, a má preservação distal da mão pode ter impacto
socioeconômico negativo nesse tipo de paciente em idade laboral 5. Reforçamos
a ideia de que a atenção no atendimento primário tem como objetivo diminuir
consequências desfavoráveis e sequelas funcionais deste tipo de trauma.

REFERÊNCIAS
1. Braga Silva J, Gehlen D. Conduta das lesões da extremidade distal dos dedos. Rev AMRGS.
2008;52(3):223-30.
2. Braga Silva J. Cirurgia da mão: trauma. Rio de Janeiro: Revinter; 2003.
3. Braga Silva J, Gerhardt S. Trauma do complexo ungueal. Rev Bras Ortop. 2014;49(2):111–5
4. Wang QC, Johnson BA. Fingertip injuries. Am Fam Physician. 2001;63(10):1961-6.
5. Braga Silva J, Gazzalle A, Alvarez G, et al. Amputação x Reimplante. Rev AMRGS. 2011;55 (4):375-9.
6. Braga Silva J, Muñiz AR, Ramos RFM, et al. Trauma complex da mão parte II: lesão óssea, amputação
e reimplante, perda de substancia dos dedos, lesão da polpa digital e lesão ungueal. Rev AMRGS.
2014;58(4):291-301.
7. Braga Silva J, Muñiz AR, Ramos RFM, et al. Trauma complex da mão parte I: lesão vascular, lesão
nervosa, lesão tendínea. Rev AMRGS. 2014;58 (3):240-6.
8. Alwis W. Fingertip injuries. Emerg Med Australas. 2006;18(3): 229-37

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