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INDEPENDÊNCIA DE INSTÂNCIAS ADMINISTRATIVAS E JUDICIAL

TEXTO: OLIVEIRA, Carlos Alberto Fonseca Seixas de. Independência de instâncias e


a responsabilidade disciplinar Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 18 set 2019. Disponivel
em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/49712/independencia-de-
instancias-e-a-responsabilidade-disciplinar. Acesso em: 18 set 2019.

A independência entre instâncias decorre da separação entre os Poderes e da


própria distinção entre a responsabilidade administrativa com as demais
responsabilidades. Assim, em virtude da independência das responsabilidades (sanções
penais, civis e administrativas) e, em consequência das respectivas instâncias, a
Administração Pública poderá aplicar sanção disciplinar ao servidor, mesmo se ainda
em curso a ação judicial a que responde o mesmo fato.
Isto porque, o processo administrativo não se sujeita ao pressuposto de haver
prévia definição sobre o fato na esfera judicial. Desse modo, em princípio, não há
necessidade de se aguardar o desfecho de um processo em outra esfera para somente
depois apenar um servidor pelo cometimento de falta funcional.
Entendimento pacífico do STF (Mandado de Segurança n. 22.899, Rel. Min.
Moreira Alves, DJ 16.5.2003; Mandado de Segurança n. 22.155, Rel. Min. Celso de
Mello, DJ 24.11.2006):
“As decisões emanadas do Poder Judiciário não condicionam o
pronunciamento censório da Administração Pública nem lhe
coarctam o exercício da competência disciplinar, exceto nos
casos em que o juiz vier a proclamar a inexistência de autoria
ou a inocorrência material do próprio fato, ou, ainda, a
reconhecer a configuração de qualquer das causas de
justificação penal.”

Também por este prisma é o entendimento do doutrinador José Olimpio


Barbacena Filho1, ao asseverar que “A Administração Pública tem a obrigação legal de
conduzir e decidir acerca de processos administrativos disciplinares instaurados em
seu âmbito, pois a instância administrativa não se confunde com a judicial. Mesmo que
haja ação de improbidade administrativa ajuizada, isso não é empecilho para que o
1
Revista da CGU, Ano VI, Julho/2011, ISSN 1981-674X, fl. 160
mesmo fato seja apurado administrativamente e concluído mesmo antes da decisão
judicial inerente ao fato porventura em apuração”.
Cabe registrar também que, na absolvição na esfera judicial por insuficiência de
provas, não repercute de forma necessária no âmbito disciplinar, até porque outra pode
ter sido a interpretação dos fatos nos autos do processo administrativo disciplinar,
inclusive em vista de distintos elementos probatórios.
A autoridade administrativa competente tem autonomia para apreciar os mesmos
fatos de forma diferente, uma vez que a decisão judicial não tem efeito vinculante,
senão esta relacionada ao reconhecimento da inexistência do fato ou negativa de autoria.
O doutrinador português Paulo Veiga e Moura considera que a possibilidade de
um comportamento do empregado poder despertar responsabilidade civil,
administrativa, criminal, enseja o juízo de que “não impede que haja uma autonomia e
independência dos procedimentos destinados a efectivar qualquer uma daquelas
responsabilidades, com natural risco de se poderem alcançar conclusões divergentes
em ambas as sedes”2
A corroborar o exposto acima, insta transcrever o entendimento da doutrina de
Hely Lopes Meirelles:
“A punição administrativa ou disciplinar não depende de
processo civil ou criminal a que se sujeite também o servidor
pela mesma falta, nem obriga a Administração a aguardar o
desfecho dos demais processos, nem mesmo em face da
presunção constitucional de não culpabilidade. Apurada a
falta funcional, pelos meios adequados (processo
administrativo, sindicância ou meio sumário), o servidor fica
sujeito, desde logo, à penalidade administrativa
correspondente. A punição interna, autônoma que é, pode ser
aplicada ao servidor antes do julgamento judicial do mesmo
fato. E assim é porque, como já vimos, o ilícito administrativo
independe do ilícito penal. A absolvição criminal só afastará o
ato punitivo se ficar provada, na ação penal, a inexistência do
fato ou que o acusado não foi seu autor”3.

2
MOURA. Paulo Veiga e. Estatuto Disciplinar dos trabalhadores da Administração Pública anotado. 2ed.
Coimbra: Coimbra Ed., 2011, p.101.
3
Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros Editores, 30ª ed., p. 481
Ademais, a atuação do Poder Judiciário, no tocante ao controle jurisdicional do
processo administrativo, cingir-se ao campo da legalidade e regularidade do ato
administrativo.
Por exemplo, a aplicação da pena disciplinar (administrativo) e a decisão judicial
em ação civil pública (cível) instauradas pelos mesmos fatos, em regra, não se
vinculam, por visarem resultados diversos.
Ressalta-se que, a responsabilidade administrativa do empregado será afastada
somente quando a absolvição criminal negar a existência do fato ou sua autoria,
conforme entendimento da doutrina e jurisprudências retro mencionadas.

TEXTO: Processo Administrativo Sancionador CVM nº 01/2011


(http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/decisoes/anexos/2017/20171031/9229_1.pdf)

11. Não há nenhum amparo legal a justificar a suspensão do processo administrativo até
que se dê decisão judicial em processo criminal.
12. Como se sabe, cada tipo de responsabilidade, civil, penal ou administrativa é, em regra,
independente um do outro, podendo uma mesma conduta ser causa de mais de um tipo de
responsabilidade. Em tais circunstâncias, quando há simultaneidade de responsabilidades,
pode ocorrer a cumulação de sanções, na medida em que um mesmo ato ilícito pode violar
diferentes ordenamentos jurídicos, com consequências jurídicas também diversas.
13. Neste sentido, cabe colacionar excerto da recente decisão do Egrégio Superior Tribunal
Federal (“STF”), proferida em 02.05.2017 no âmbito do agravo regimental em mandado de
segurança nº 34.420/DF, de relatoria do Excelentíssimo Ministro Dias Toffoli:
Conforme expendido no decisum então recorrido, a jurisprudência
desta Suprema Corte é pacífica no sentido da independência entre as
instâncias cível, penal e administrativa, afastando a alegação de
violação do princípio da presunção de inocência pela aplicação de
sanção administrativa mesmo quando pendente processo penal em
que apurados os mesmos fatos.
14. O entendimento do STF sobre a questão não deixa margem a dúvidas: a sanção
administrativa pode ser aplicada ainda que esteja pendente processo penal em que são
apurados os mesmos fatos.
15. Com efeito, as decisões tomadas no juízo criminal não prejudicam o ordinário
processamento do presente feito, assim como as decisões aqui tomadas em nada afetam o
processo judicial, pois as condutas praticadas por Adalberto Savioli são lá examinadas em face
dos dispositivos contidos na Lei nº 7.492, de 1986, que define os crimes contra o sistema
financeiro nacional, ao passo que aqui elas são revisadas ante aos preceitos da Lei nº 6.404, de
1976, que dispõe sobre as sociedades por ações.
16. Como há diferentes elementos do tipo constantes de cada uma das duas normas, bem
como instruções probatórias distintas, não é difícil imaginar hipóteses em que uma ou outra
instância possa aplicar uma reprimenda enquanto outra não, sem que isso tenha o condão de
macular qualquer um dos dois processos.
17. E a independência entre as instâncias se dá sem prejuízo do eventual compartilhamento
das provas produzidas, em respeito aos princípios da eficiência e da celeridade processual,
como ocorre no presente caso, em que as provas produzidas no âmbito da aludida ação penal,
sob o crivo do contraditório, são aproveitadas para este processo administrativo sancionador,
que é, em termos fáticos, semelhante àquele processo criminal.

TEXTO: http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/decisoes/anexos/0001/3771-1.pdf

36. Ao contrário, decorrência do próprio princípio da separação dos poderes é a


independência das instâncias administrativa e judicial. As decisões desta apenas terão
reflexos naquela quando sejam pela inexistência material do fato apreciado ou pela
negativa de sua autoria. Esse, aliás, o entendimento dos tribunais, de que são notícia as
seguintes decisões:
ADMINISTRATIVO – MILITAR – OFICIAL TEMPORÁRIO
– INQUÉRITO CRIMINAL – DESLIGAMENTO –
INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS
ADMINISTRATIVA E PENAL.
Pelo princípio da separação de poderes que tem como
corolário a independência das instâncias penal e
administrativa, só repercute aquela nesta quando se
manifesta pela inexistência material do fato ou pela negativa
de sua autoria. Enquanto não existir a referida manifestação
jurisdicional, a instância administrativa está livre para
poder decidir de modo diverso, inexistindo qualquer
vinculação desta, no aguardo do resultado da esfera judicial.
Desta forma, enquanto não dirimida a questão de forma
definitiva na esfera judicial, há que se manter a independência
das instâncias administrativa e esta, autorizando-se que incidam
as normas regulamentares pertinentes. Recurso e remessa
conhecidos e providos para, reformada a sentença apelada,
denegar a segurança.4

MANDADO DE SEGURANÇA. CONSTITUCIONAL E


PROCESSUAL CIVIL. PENALIDADE DISCIPLINAR.
SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA.
REVISÃO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO.
1. O pedido de revisão do procedimento administrativo não
possui natureza recursal, não suspendendo o cumprimento da
decisão definitiva.
2. "Em nosso ordenamento jurídico vigora o princípio da
independência entre as esferas penas, civil e administrativa,
de modo que pode um mesmo fato não constituir infração
penal e corresponder a uma infração administrativa
disciplinar, como também pode alguém ser absolvido na
instância penal e nem por isso deixar de ser punido na esfera
administrativa ou civil por haver praticado o fato a ele
imputado, não estando, por outro lado, a instância
administrativa subordinada à instância penal, salvo
hipóteses entre as quais não se encontra o caso dos autos.
3. "A lei, não havendo restada provada a repetida alegação do
impetrante de que o devido processo legal, o princípio do
contraditório e o da ampla defesa restaram violados, quando se
sabe que, no mandado de segurança, ainda que tal discussão
fosse aqui permitida, a prova deve ser pré-constituída suficiente
a confirmar as alegações do impetrante".5

4
STF, MS nº 21.545/SP, Rel. Min. Moreira Alves, Pleno, un., DJ 02.04.1993, p. 5.619
5
TRF-5ª Região, Segunda Turma, REO 51464-CE, Rel. Juiz José Delgado, un.,DJ 01.12.1995, p. 83.820

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