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ESTUDANDO E REFLETINDO
A palavra história vem do grego, significa investigação, informação. Surgiu no
séc. VI a.C, na região mediterrânea da costa norte africana e da Europa Ocidental
(BORGES, 1980).
Constata-se, até mesmo nas civilizações mais primitivas, a presença da
história em seu dia-a-dia. Cabe ressaltar, que esta história era praticada de um
modo bem diferente da que praticamos nos dias de hoje, mas com uma essência
comum: Informar sobre o passado.
Civilizações anteriores transmitiam oralmente de geração em geração seus
conhecimentos, suas experiências, baseando-se predominantemente em crenças
religiosas, para afirmar, explicar e convencer as pessoas que determinados fatos
eram verdadeiros. Estes “fenômenos”, sem bases científicas, ou até mesmo sem
apoio em síntese concreta, denominava-se mito. Na verdade, o mito chamava-se
assim, pois, as pessoas que se envolviam em narrar histórias, utilizavam deuses,
superstições, personagens sobrenaturais, entre outras significações abstratas para
explicar um “marco ou fato da história”. A base mítica evidencia-se até os dias de
hoje, porém apresentada na forma coadjuvante, não em papel principal, como na
fase antiga.
O aparecimento da história vem como forma de explicação ou contestação
porém, unida à filosofia. Heródoto foi o primeiro a falar sobre investigação e
pesquisa, considerado o pai da história, pois em suas obras está clara a
preocupação em desvendar o passado e, ao mesmo tempo, atenta-se ao que é real
e ao que pode ser imaginário, esforçando-se para registrar o real, no que se refere à
descoberta de mundo.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 1 - A HISTÓRIA VIVIDA SOB O MITO
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Após esta breve análise sobre a história vivida através do mito, passamos
para a história teológica, ou seja, fundamentada na religião, na visão do
cristianismo, em que a influência cristã vai determinar atitudes sociais. Deste modo,
observa-se a história do aspecto linear, cujo desenvolvimento decorre sempre da
Providência Divina; que não foge à questão de mito, explicação sobrenatural, mas,
desta vez, apresenta-se como dois grandes extremos que são Deus (plano superior,
a perfeição) e o homem (plano inferior, a imperfeição). Exatamente neste período
que se inicia a revelação da conotação Deus-Salvação e as civilizações passam a
ter na Igreja a orientação necessária para seguir a Deus, o salvador, e assim,
consequentemente, serem salvos.
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do progresso e até mesmo da própria perfeição; anteriormente acreditada somente
pela fé.
No século XIX, muitos conflitos iniciaram-se. Os Estados em organização e
estabilização começam a estimular o estudo de suas próprias histórias. Surgem
sociedades de pesquisa (governamentais e particulares). Cada país empenha-se em
levantar informações sobre seu passado. A partir dessa visão nacionalista, alguns
historiadores classificaram-se como românticos, devido ao retorno nostálgico ao
passado. Ainda no século XIX, efetiva-se a sociedade burguesa e a implantação do
capitalismo industrial, destacados pelos pesquisadores Karl Marx e Friederich
Engels (1980, p. 24). Ambos abordam como método principal o materialismo
histórico, cuja finalidade era demonstrar aos homens a necessidade de
transformação do ambiente em que vivem, incluindo a natureza. Para eles, a história
era um processo dinâmico, dialético, no qual cada realidade social trazia dentro de si
o princípio de sua contradição, o que gera a transformação constante na história.
Uma história em que “não é a consciência que determina a vida, mas a vida
determina a consciência” (MARX & ENGELS, 1984, p.193)
Ao abordarmos o termo história, é possível desvinculá-lo do significado de
estudo do passado, para compreensão do presente. Trata-se de uma inquietação do
presente, cuja compreensão buscamos no passado, vivo e presente na sociedade.
Dessa forma, todo homem é detentor de uma história.
Fica claro que a transformação é a essência da história, desse modo, nada
permanece igual e, através do tempo, é possível perceber mudanças com o intuito
final de levar o ser humano a refletir sobre as formas de vida, procurando
compreender e explicar suas causas e dilemas como organização social em todos
os tempos.
As coisas mudam constantemente e tais mudanças são perceptíveis através
do tempo. A grandeza da análise da história é o tempo, pois, através dele, analisam-
se os acontecimentos. No entanto, é necessário destacar que não se pode atribuir
ao tempo histórico a mesma noção de tempo cronológico que vivemos, pois esse é
definido por meio de calendários e relógios. No tempo histórico, ao contrário, podem-
se perceber mudanças repentinas, ou até mesmo mudanças mais vagarosas e o ser
humano é ativo e participante dessas mudanças. Para melhor compreensão,
recorremos à análise de Borges: “São os homens que fazem a história; mas,
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evidentemente, dentro das condições reais que encontramos estabelecidas, e não
dentro das condições ideais que sonhamos” (BORGES, 1987, p. 45).
Muitas vezes, o uso da história tem sido constante para os detentores de
qualquer tipo de poder. No entanto, a história como forma de conhecimento jamais
pode ser manipulada por poderosos. É papel do historiador estudar e investigar as
relações sociais, políticas e econômicas das culturas de diferentes épocas,
buscando compreender os acontecimentos, as instituições e os movimentos sociais,
focando, fundamentalmente, o comportamento do homem ao longo do tempo.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Diante do conteúdo estudado até o momento, cabe a indagação: Afinal, o que
é história? Ao abordarmos o termo história, é possível relacionar o significado de
estudo do passado, para compreensão do presente. Trata-se de uma inquietação do
presente, cuja compreensão buscou no passado, vivo e presente na sociedade.
Dessa forma, todo homem é detentor de uma história social e tem importância no
avanço do conhecimento e da transformação nessa sociedade tão
indissociavelmente ligada a história, ou, a sua própria história.
Fica claro que a transformação é a essência da história, desse modo, nada
permanece igual e, através do tempo, é possível perceber mudanças com o intuito
final de levar o ser humano a refletir sobre as formas de vida, procurando
compreender e explicar suas causas e dilemas como organização social ao longo do
tempo.
INDICAÇÕES
O link abaixo traz o livro A Escrita da História: Novas Perspectivas, organizado pelo
historiador Peter Burke.
Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=XMih8wEFXXwC&lpg=PP1&ots=21jzjlBGZY&
vq=o%20significado%20de%20hist%C3%B3ria&dq=o%20significado%20de%20hist
%C3%B3ria&lr&hl=pt-
BR&pg=PP1#v=snippet&q=o%20significado%20de%20hist%C3%B3ria&f=false>
Acesso em 15 de junho de 2014.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 2 - HISTÓRIA E CIÊNCIA
Thiago Thomaz Garcia
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ESTUDANDO E REFLETINDO
Iniciaremos nossos estudos, estabelecendo uma concepção adequada para
ciência. Para tanto, vamos nos deter em certos pontos fundamentais.
Neste primeiro momento, podemos dizer que ciência é o conhecimento das
leis da natureza e da sociedade numa leitura pertinente do meio em que vivemos.
Ela tem como finalidade, ou princípio maior, associar certa representação psíquica,
mental, do senso crítico do ser, mais adequado a tudo que ocorre, materialmente, na
natureza e no mundo social das relações humanas. Além disso, com o intuito de
garantir a objetividade do conhecimento e sua coerência, a ciência toma para si um
conjunto de formas, maneiras de agir, que pode ser conhecido como “método
científico”. Indo mais adiante, podemos dizer que, ao se falar em método, estamos
estabelecendo uma cientificidade, que só irá coexistir, primariamente, em dois níveis
diferentes, mesmo sendo ligados, mas que, de forma alguma, podem ser
subordinado um ao outro. Estamos falando do teórico e do empírico. (experiências,
observações).
O sujeito que vive o processo de conhecimento científico o faz não de forma
individual, mas coletiva. Podemos dizer que para entendermos a Ciência é
necessário produzir análises sociais e históricas determinadas. A ciência está e vive
num tempo próprio. Além disso, vincula-se ao conjunto de coexistência material e
cultural “de cada época da história humana” (CARDOSO, 1981, p.28).
Podemos dizer que a ciência é histórica, porque faz parte de uma trajetória
vivida pelos homens. Ela não tem a intenção de produzir verdades absolutas e
acumulá-las, imutavelmente, ao longo dos séculos de uma civilização. A ciência
tende sim a um conhecimento amplo, compacto, de acumulação de certas verdades
parciais ou totais. Ela sempre tende a caminhar em busca de explicações, desde os
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UNIDADE 2 - HISTÓRIA E CIÊNCIA
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conhecimentos menores, também chamados de primários, até os mais avançados,
produzidos pelo processo civilizatório.
Para alguns historiadores positivistas, a História pode ser vista como uma
ciência. Contudo, outra corrente filosófica, de base neokantiana, não está totalmente
de acordo com esse princípio. Para os neokantianos, os “historicistas” ou também
chamados de “idealistas alemães”, a natureza se opõe ao processo de cultura. Do
mesmo modo o “método generalizador e explicativo das ciências naturais se opõe
ao método descritivo e individualizador das ciências da cultura” (CARDOSO, 1981,
p. 44).
Os “historicistas” viam que, por meio dos fatos singulares ou individuais do
passado, fazia-se o objeto da História. Esses historiadores não chegavam a atribuir
o caráter dos fatos reais, ao contrário, entendiam que eram externos ao historiador.
Viam-no como um fenômeno de criação subjetiva. Isso se caracterizava como um
método intuitivo, subjetivo e relativista da história, não uma concretude da dimensão
dos fatos históricos.
No século XX, podemos dizer que os passos importantes para a construção
da história como ciência foram marcados, basicamente, por duas correntes:
marxismo e o grupo dos Annales.
Pelo marxismo, desde suas origens em meados do século XIX, a ciência se
caracteriza pela busca de leis ligadas ao processo do desenvolvimento histórico-
social (leis dinâmicas). Essas leis serão base para determinar uma organização
sócio-histórica específica, com seus fatores invariantes e com seus processos
repetitivos. Desta forma podemos entender, por outro lado, que a história é
considerada pelos marxistas como “um desenvolvimento autodinâmico ou
autodeterminado”, em que o próprio “marxismo expulsa do âmbito explicativo
quaisquer entidades metafísicas, externas ao processo histórico.” (CARDOSO,
1985, P.40).
Para outra linha de historiadores, grupo dos Annales, o movimento de ideias
é mais influente no sentido da construção da história como ciência. Essa concepção
perdurou na primeira e segunda fase, entre os anos de 1929 a 1969. A eles creditou-
se uma nova dimensão da relação entre história e ciência. Pode-se afirmar, ainda,
que há uma passagem da “História-narração” para a “História-problema”, implicando
com isso o uso de hipóteses pelos historiadores, ressaltando a tese de crença no caráter
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UNIDADE 2 - HISTÓRIA E CIÊNCIA
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científico da história, mesmo podendo-se dizer que trata-se de uma ciência em processo de
formação.
Podemos afirmar, ainda, que a Escola dos Annales lançará mão de todos os
tipos de documentos disponíveis, para análise dos objetos. Tais documentos podem
ser desde sinais arqueológicos, tradição oral entre outros, acabando com a
excessiva fixação positivista de fontes escritas, diplomáticas e oficiais.
Para seguidores dos preceitos difundidos através da Escola dos Annales, o
que existe é a construção das chamadas temporalidades múltiplas (CARDOSO,
1985), ao invés do historiador limitar-se o, basicamente, ao tempo linear, berço da
historiografia tradicional.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Afinal, podemos dizer que a história é ciência ou não?
Para alguns historiadores, a História não pode ser científica, por ser feita de
objetos que são fatos ou acontecimentos ditos “únicos”, “singulares”, “individuais”, ou
seja, não passíveis de lei. Contudo, tais fatos não são mais aceitáveis em dias
atuais, já que há várias décadas muitos historiadores saíram de um olhar voltado
para os fatos singulares, para uma concepção de sociedade humana com estruturas
globais historicamente específicas.
No fundo, podemos dizer que a história e uma ciência ainda em construção. Num
certo sentido, a ciência busca a verdade, mas não verdades absolutas e eternas,
fechadas. Em termos de história, podemos dizer que a conquista do método
científico “ainda não é completa e os historiadores ainda estão descobrindo os meios
de análise adequados ao seu objeto”.
INDICAÇÕES
O link abaixo se refere ao artigo produzido por Ana Paula dos Santos Lima.
É um convite à reflexão: “História é Ciência?”.
Disponível em:
<http://www.uesc.br/eventos/cicloshistoricos/anais/ana_paula_dos_santos_lima.pdf>
Acesso em 25 de junho de 2014.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 3 - OS MULTIPLOS CAMINHOS DA HISTÓRIA
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ESTUDANDO E REFLETINDO
Por mais estranho que possa soar, não faz tanto tempo assim que se
começou a ensinar História como disciplina autônoma na escola. No século XIX, o
saber e o ensino de História privilegiavam os fatos políticos e “feitos de grandes
homens” e voltavam-se principalmente para a sustentação e legitimação das nações
que nasciam ou se consolidavam. Grande parte dos relatos históricos baseava-se
em documentos oficiais escritos, entendidos como a única e verdadeira versão dos
fatos.
Desde então ocorreram muitas mudanças no âmbito da pesquisa e do
ensino da história. A partir das primeiras décadas do século XX, houve uma
renovação e ampliação das abordagens e temáticas de pesquisa, dos documentos
considerados fontes históricas e do próprio papel do historiador, permitindo nos
olhares, novas abordagens e novas vozes na leitura, na construção do saber
histórico e, consequentemente, no ensino da História.
As pesquisas históricas passaram a interessar-se por toda a atividade
humana, levando à noção de uma história total, mais ampla e menos excludente, e
não mais aquela antiga história apenas dos vencedores, heróis, etc. Sendo assim,
há algumas décadas, estudar história deixou de significar apenas a memorização de
datas, “fatos importantes” ou “personagens ilustres” e passou a compreender uma
leitura do passado com base nos problemas e indagações que nos são postos pelo
presente.
No estudo da história, os temas e os elementos que nos importam nos são
dados pelas preocupações e anseios de nossa época, porém é necessário cautela
para não reduzirmos outros lugares e outros tempos à nossa visão de mundo. Esse
cuidado vale para historiadores pesquisadores de qualquer área científica e para
estudantes de historia. Devemos tentar entender o passado considerando o ponto
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UNIDADE 3 - OS MULTIPLOS CAMINHOS DA HISTÓRIA
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de vista de quem viveu em determinada época, com seus valores e conceitos, e não
com os nossos.
Sala de aula da Escola Caetano de Campos, colégio frequentado pelas crianças da elite paulistana.
Fonte: http://www.unicamp.br/iel/memoria/projetos/ensaios/ensaio15.html. Acesso em 30 de junho de 2014.
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UNIDADE 3 - OS MULTIPLOS CAMINHOS DA HISTÓRIA
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Ao mesmo tempo em que existe uma pluralidade de pontos de vista sobre o
passado, múltiplos são as fontes de informação, que se fazem presentes nos
discursos orais e escritos, monumentos, obras literárias, pinturas, obras de arte,
objetos cotidianos e mesmo nos corpos preservados ou esqueletos de pessoas de
agrupamentos antigos, bem como no DNA de seus descendentes, Portanto, cabe ao
historiador definir um enfoque, sem deixar de considerar a existência de outros.
Depois de selecionar,
classificar e relacionar os dados
levantados em bibliotecas,
arquivos, entrevistas ou estudos
arqueológicos, o historiador deve
contextualizar o fato ou o objeto,
checar autenticidade e analisar
sua importância e seu significado
para a compreensão do seu
objeto de estudo.
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UNIDADE 3 - OS MULTIPLOS CAMINHOS DA HISTÓRIA
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UNIDADE 4 - PERIODIZAÇÃO DO TEMPO
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Compreender história como o estudo das ações humanas ao longo do tempo
e em determinado espaço geográfico.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Como definir o tempo? Santo Agostinho, um dos grandes filósofos do
cristianismo, dizia que, se não lhe perguntassem, sabia o que era tempo; mas, se
tivesse de defini-lo, não saberia. Existem muitas temporalidades possíveis e
diferentes formas de explicar e sentir a passagem do tempo.
Todos nós convivemos com fenômenos temporais: dia, noite, estações do
ano, crescimento, envelhecimento, etc. Várias civilizações estabeleceram uma
divisão adotando como base a observação dos ciclos da natureza. Muitos
calendários surgiram da observação dos astros por influência sobre suas plantações
e a necessidade de definir os templos de plantio, poda e colheita.
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UNIDADE 4 - PERIODIZAÇÃO DO TEMPO
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e políticos – que resultam dessas ações. Podem existir tantas divisões quantos
forem os recortes ou pontos de vistas: cultural, político, ideológico, etc. Para alguns
historiadores, o século XIX começa não em 1801, mas em 1789 (início da Revolução
Francesa), e termina não em 1900, mas em 1914 e encerrado em 1991, com o fim
da União Soviética. Isso porque essas delimitam u período em que os eventos
seguem algumas linhas mestras. Evidentemente não se trata de séculos no sentido
de tempo cronológico, mas de tempo histórico.
Não devemos dispensar a periodização, pois ela tem a função de facilitar o
estudo da história, mas devemos a todo instante lembrar que ela reflete uma dada
cultura (a do ocidente europeu) e que não consegue abranger a variedade de povos,
temas e culturas existentes. Em outros lugares do mundo, a história é escrita e
ensinada de acordo com critérios diversos.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=o9wzAKrFOI0
> Acesso em 20 de junho de 2014.
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UNIDADE 5 - DOCUMENTO HISTÓRICO
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Fonte: http://patriotismobrasileiro.blogspot.com/2011/02/liga-da-defesa-nacional.html
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UNIDADE 5 - DOCUMENTO HISTÓRICO
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podemos visualizar o passado e atingir nossa compreensão do passado somente
através dos olhos do presente” (CARR, p.60), porque o mesmo é feito de nossas
indagações internas, de inquietações de uma resposta que faz parte do mundo, do
presente de nossa sociedade vivida. A inquietação nasce de um presente
intermitente no interior do pesquisador e voa até um passado, porque, como diz
Mattoso, aquilo que “(...) me atrai, no passado, aquilo que me permite compreender
é viver o presente.” (Mattoso, 199, p.22). Nesse caminho, observamos que “o
historiador pertence não ao passado, mas ao presente” (CARR, 2002, p.61), porque
o homem é o historiador que vive nele e ele “(...) é parte da história” (CARR, 2002,
p.72). Uma parte significativa em que vive o mundo de uma cultura manifesta no
cotidiano das contradições e vivências.
Até agora, falamos de documentos, mas como entendê-los? Para Jacques Le
Goff, o sentido de documentar reside na sua função etimológica também de
ensinar1. Com isso, tecemos a ideia de que os documentos podem, ou tendem a nos
ensinar sobre seu tempo. Investigá-lo é estar atento em seus sinais e símbolos e
conseguir lê-lo como um rastro, pegadas, deixadas por uma sociedade.
Uma maneira de entender o documento é saber que ele é um meio de
conexão. Uma ligação presente na via do tempo entre gerações. De certa maneira,
nós estamos impedidos pelos caminhos da física de atingir o passado. Os “arquivos”
são instrumentos poderosos para a interpretação da história. São eles que nos
possibilitam, prioritariamente, certas ligações, conservadas com objetivo ideológico2.
Ao vermos um documento, devemos estar atentos para o fato de que nem todo
vestígio é produzido intencionalmente. Na exterioridade de uma documentação,
existe certa arbitrariedade inserida no registro e na sua conservação. Dessa forma,
podemos evidenciar a noção da geração de uma ruptura com a interpretação. O
historiador, revendo aspectos da temporalidade pertinente ao vestígio documental,
interroga-o em suas bases e parte para questões que tendem a nortear o sentido da
pesquisa. Contudo, detém-se em saber que existe um porquê de vestígios ali. O
rastro e os sinais deixados por ele são os efeitos da ação de um ser vivo. Com isso,
voltamos a olhar o documento como um enigma a ser enfrentado e decifrado.
1
Le Goff, Jacques. História e memória. 3aed. Trad. Bernardo Leitão. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1994
(1994:536).
2
(id:197). Le Goff, Jacques. História e memória. 3ª ed. Trad. Bernardo Leitão. Campinas, SP: Editora da
Unicamp, 1994
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UNIDADE 5 - DOCUMENTO HISTÓRICO
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Fazendo uma observação mais atenta para esse fato do documento histórico,
no crivo da historicidade e de sua autenticação e estatuto de verdade, podemos
entender que:
É no e pelo estilo que a metamorfose do subjetivo se realiza,
tornando-se parte necessária da objetividade com que o historiador
busca acercar-se da verdade histórica (ODALIA, 1994, p.75).
BUSCANDO CONHECIMENTO
É verdade que, onde se encontram fatos e ações, os próprios homens são
construtores e externadores de um mundo de relações. Nessas relações os fatos
fazem-se; constroem-se, numa dinâmica efetiva da vida.
Seguindo esse processo onde documentação, fato, verdade e interpretação, é
a base onde a história se arquiteta, nela, conjugam-se valores e, com isso, não
podemos deixar de estender o nosso olhar sobre a história cultural, que se constitui
na base da construção a que estamos nos referindo. Pois, notadamente, a “(...) a
interpretação (...) é o sangue vivo da história” (CARR, P.61), pois é um sangue
presente na composição de um olhar documental prenhe de valor. Para Ginzburg, a
história é um processo contínuo de interpretação onde “a reconstrução analítica (...)
tornou-se necessária, a fim de podermos reconstruir a fisionomia, parcialmente
obscurecida, de sua cultura e contexto social no qual ela se moldou” (Ginzburg,
1987, p.12).
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 5 - DOCUMENTO HISTÓRICO
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Assim sendo, pretendemos examinar os documentos, suas formas variadas
que se pautam em princípios da imagem, do som, da arquitetura, ou seja, da cultura
material ou imaterial, mas também, nos comportamentos culturais, em que as
representações simbólicas, acerca de tais princípios se escondem.
INDICAÇÕES
O link abaixo nos leva a leitura de um artigo científico que promove uma
análise do trabalho de pesquisa fundado em fontes documentais e as diferentes
possibilidades teóricas- filosóficas e metodológicas de utilização na pesquisa
histórica, ancorada na nova história.
Disponível em:
<http://www.abennacional.org.br/centrodememoria/here/n3vol1_reflexao.pdf>
Acesso em 01 de julho de 2014.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 6 - FONTES HISTÓRICAS
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Fonte: http://danizudo.blogspot.com/2010/06/illuminati-iluminismo.html
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UNIDADE 6 - FONTES HISTÓRICAS
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humanas ao longo do tempo. Registros escritos, como jornais, cartas, códigos de
leis, inquéritos policiais, livros, diários e inscrições (textos gravados em pedra ou
cerâmica), são os principais vestígios usados no ofício do historiador. No entanto,
não são as únicas. Utensílios domésticos, obras de arte, fotografias, roupas, relatos
orais e construções também são utilizados, pois contêm informações importantes
sobre a época ou a sociedade em que foram produzidas. esses materiais são
chamados de documentos ou fontes históricas.
Em suas investigações, o historiador age como um detetive: primeiro, reúne
as fontes que encontra, montando com elas uma espécie de quebra-cabeça. Depois,
conclui seu trabalho produzindo um relato histórico.
Podemos dizer que documentos são fontes, que podem ser classificadas de
diversas maneiras, tais como: fontes materiais, escritas, iconográficas e orais.
As fontes materiais podem também ser dadas como documentos figurados,
que constituem os vestígios materiais de todo e qualquer tipo de atividade humana.
As fontes arqueológicas, de um modo geral, os instrumentos de trabalho, os
monumentos, as moedas (numismática) entre muitas outras que também fazem
parte dessa materialidade. A riqueza e a diversidade das fontes materiais ou não
são muito importantes e incluem coisas diversas, a cuja conservação se dedica os
museus.
Existem as chamadas fontes escritas, que podem ser classificadas em
manuscritas e impressas. Há uma grande variedade de documentos escritos
dotados de informações passíveis de análise histórica, como por exemplo,
inquéritos, processos criminais, leis, jornais, revistas, folhetins, cartas pessoais,
cartas pessoais, cartões postais, livros, inscrições em pedras, etc. Para um trabalho
mais aprofundado das fontes escritas, há algumas ciências auxiliares que irão
trabalhar junto ao historiador como a Paleografia, a Filologia, a Epigrafia, a
Papirologia e a Diplomática. Estas e outras ciências que auxiliam a construção
histórica serão abordadas ao longo da unidade 8 desta disciplina.
As fontes com imagens, também ditas como iconográficas, representam
gravuras, fotografias, filmes e demais, podendo ser agrupas da seguinte maneira:
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UNIDADE 6 - FONTES HISTÓRICAS
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Fontes materiais: objetos (utensílios, vestimentas, ferramentas, móveis,
obras de arte, construções, etc.) produzidos por sociedades ao longo do
tempo.
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UNIDADE 6 - FONTES HISTÓRICAS
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Que atitude tomar, então, quando usamos tal documentação? Os arquivos
são públicos e as pessoas são responsáveis pelas suas atitudes no passado, já eu
parte integrante de sua história. Assim, podem ser citadas em pesquisas, desde que
estas se baseiem em vasta documentação e não apenas em suposições que podem
ser interpretadas como caluniosas.
Como afirmou Prochasson, sobre uma filha que autorizou a utilização do
arquivo pessoal de seu pai,
Ela me afirmou que tudo aquilo (investigação profunda do passado
do seu pai) lhe parecia natural e que, doravante, seu pai pertencia à
história. Ela homenageava assim a sua memória (PROCHASSON,
1998, p. 109).
BUSCANDO CONHECIMENTO
Onde encontrar as fontes históricas?
As fontes históricas podem ser encontradas em acervos (pessoais, familiares,
ou empresariais), em entidades públicas (prefeituras, cartórios, etc.) ou mesmo
acidentalmente. Mas, na maior parte dos casos, os historiadores as procuram nos
arquivos históricos, locais especialmente preparados para guardar documentos.
Alguns desses arquivos são climatizados e esterilizados para melhor
preservar as fontes. Os documentos mais frágeis são fotografados em formato em
formato reduzido e armazenados em filmes, num processo chamado microfilmagem.
Essas fotos podem ser ampliadas em equipamentos especiais, evitando que os
pesquisadores entrem em contato direto com o documento.
INDICAÇÕES
Através do link indicado abaixo, assista ao vídeo do historiador Dr. João
Carlos de Souza (UFGD) sobre o trabalho com as fontes de pesquisa histórica.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=czdgazbrZUw> Acesso em 01 de
julho de 2014.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 7 - FATOS HISTÓRICOS
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
ESTUDANDO E REFLETINDO
O fato histórico, segundo Veyne
Para o historiador Paul Veyne, a história é uma narrativa de eventos; e
enquanto narrativa, como um romance, não faz reviver esses eventos. O que se
pode chamar de “o vivido”, na narrativa histórica, que brota das mãos do historiador
não é o “vivido” dos atores, mas sim, uma narração. Como um romance, a história
seleciona, simplifica, organiza “faz com que um século caiba numa página”. Vale
dizer que a síntese narrativa é tão espontânea quanto a memória de todos nós.
Especular acerca da disparidade que há entre a experiência “real”, vivida, e a
reflexão da narrativa histórica nos levaria à constatação que a batalha de
Estalingrado não foi a mesma coisa para um soldado raso e para um general russo.
Assim, é possível narrar essa batalha na primeira ou na terceira pessoa, referir-se a
ela como uma batalha, como uma vitória russa ou uma derrota alemã. Pode-se
também, desde o início, deixar transparecer o seu epílogo ou, nas palavras de
Veyne, “simular descobri-lo”. Essas especulações podem ocasionar divertidas
experiências estéticas, porém, para o historiador, trata-se de um limite.
Esse limite, quando é visível ao historiador, se dá no fato de que aquilo que
ele chama de evento é sempre apreendido de uma maneira incompleta e
lateralmente, por documentos ou testemunhos. Mesmo que ele testemunhasse a
tomada da chancelaria nazista pelos soldados russos, em 1945, ainda assim, seria
apenas uma perspectiva em declínio dos demais, que ali também estavam. A
história é, em essência, conhecimento por meio de documentos. Assim, a narração
histórica está além de todos os documentos, já que o documento, ele próprio, não é
o evento, a história, não é um documentário em fotomontagem e não mostra o
passado vivo, como se estivéssemos lá.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 7 - FATOS HISTÓRICOS
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
Mas, isto não quer dizer, necessariamente, que o evento é aquilo que jamais
é visto duas vezes. O que individualiza os eventos, segundo Veyne, é o fato de que
acontece num dado momento, o evento jamais se repetiria, mesmo que vivesse a
contar a mesma coisa. Ao ver-se diante de uma segunda passagem de um mesmo
eremita, “o historiador não diria ‘já conheço’, como faz o naturalista quando lhe
trazem um inseto que já possui” (VEYNE, 1996, p. 22). Isso não quer dizer, porém,
que o historiador não pense mediante conceitos, nem que a explicação histórica não
deva recorrer a modelos. Significa apenas que, como diz Veyne, a “alma do
historiador” é semelhante à do leitor das páginas policiais dos jornais; elas são
sempre iguais e interessantes, pois o cachorro esmagado hoje não é o mesmo de
ontem, “de uma maneira geral, porque hoje não é ontem.” (VEYNE, 1996, p. 22).
Contudo, como evitar que a história não se resuma a uma pintura cinzenta de
acontecimentos especiais? Qual vida seria mais importante, a vida de um soldado
raso ou a de um general russo na campanha final, em 1945? Como diz Paul Veyne,
“esse barulho de buzinas que vem, nesse momento, da avenida equivaleria a uma
guerra mundial”? Para a não completa diluição da história, ele argumenta que é
necessário haver uma escolha em história e, assim, evitar dispersão de
singularidades e uma indiferença em que tudo teria o mesmo valor.
Paul Veyne responde duplamente a este problema; primeiro, a história não
deve se interessar pela originalidade dos acontecimentos individuais, mas sim, por
sua especificidade; segundo, para usar sua expressão: “não existem tantos fatos
como grãos de areia”.
Os fatos, segundo ele, contêm uma organização natural dos fatos, que o
historiador deve encontrar, por exemplo: causas da guerra de 1914, impacto da
primeira e segunda guerra mundial na ideia de progresso, enfim, a objetividade das
explicações históricas acabaria, inexoravelmente, reduzindo-se, pois cada
historiador aprofundar-se-ia somente dentro do assunto escolhido. Esta forma de ver
os fatos históricos acaba atribuindo-lhes uma importância relativa, pois um
historiador da história militar da guerra de 1914 dará mais importância à batalha de
Verdun do que à gripe espanhola, no entanto, numa história demográfica isso seria
o inverso. Dessa forma, Veyne demonstra que os fatos não podem existir
isoladamente, existem somente enquanto ligações objetivas.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 7 - FATOS HISTÓRICOS
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
Uma verdade histórica expressa a síntese de fatos e ações de um mundo de
relações dinâmico, no qual os próprios homens são os construtores e externadores.
Os fatos da história são, aliás, fatos sobre indivíduos, mas não sobre
ações de indivíduos desempenhados em separado e não sobre os
motivos, reais ou imaginários, segundo os quais os próprios indivíduos
supõe ter agido. São fatos sobre as relações de indivíduos entre si em
sociedade e sobre as forcas sociais que, a partir das ações individuais,
produzem resultados que nem sempre concordam e, às vezes, se
opõem aos resultados que pretendiam (CARR , 1982, p. 87).
O que temos que ter em mente como historiador é que a interpretação se faz
importante, na trajetória de estudos de determinado tema, porque revela, em seu
interior, uma alma que vibra vida. Ela faz vir à tona as estruturas de um estudo
histórico rico de sua vertente. Podemos completar, ao afirmar que da escolha
própria que alguém pode fazer de determinado fato histórico, pleno de multifaces,
mas escorregadios em seus estudos, eles estão sujeitos a imprevisíveis
interpretações que escapam a nossos dizeres e olhares, mas sempre serão
"corretas", dependendo sempre da postura e olhar do historiador em relação ao seu
objeto de estudo. Neste sentido, é oportuno lembrar que
INDICAÇÕES
Para sedimentarmos o conceito fato histórico, o link abaixo contêm uma série
de fatos passíveis de análise histórica.
Disponível em: <http://www.abril.com.br/fatos-historicos/#metro-londres-20130118-
afp-663x427.jpg> Acesso em 01 de julho de 2014.
Além disso, acesse os seguintes links para ter um entendimento maior do
que foi estudado aqui.
Disponível em <http://all-historiografia.blogspot.com/2007/07/como-criar-um-fato-
histrico.html> Acesso em 02 de julho de 2014.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 8 - PESQUISA HISTÓRICA
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Nesta unidade, vamos descrever a importância da pesquisa histórica e seus
meandros. Desse modo, veremos como os historiadores procuraram solucionar os
desafios, quanto ao fazer história por meio de uma pesquisa. A busca pelas fontes e
fatos só é feita no intuito de procurar uma verdade histórica. E a pesquisa, é o
caminho.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Uma das observações iniciais a serem feitas diz respeito ao historiador, que
se propõe fazer uma pesquisa histórica. Neste caso, o primeiro aspecto reside na
opção por algo que inquieta seu pensamento, incomoda-o perante uma realidade.
Com isso, várias questões já rondam esse caminho da pesquisa e que vão começar,
com o andar da pesquisa, a denotarem sentido. Vale ressaltar que, como tratamos
nas unidades anteriores, essas questões são caracterizadas pela esfera do
particular, na qual cada fato histórico é possuidor de várias possibilidades
interpretativas. Com isso, cabe ao historiador, reconhecer-se como parte social de
um todo, analisar as múltiplas variáveis do fazer histórico, pois o mesmo faz história.
(BORGES, 1986, p. 58)
Fazer uma pesquisa historicamente situada, enfocando uma determinada
época, com seus fatos e seu contexto, caracteriza um trabalho condicionado,
inconscientemente, pela esfera do interesse próprio e do conhecimento que ali se
manifesta. A pesquisa é algo que está no âmago do indivíduo, nos seus desejos
internos de ver o seu tempo, mas revivendo e colhendo pela memória, as
condicionantes, para explicar o mundo em que vive atualmente. Esse é seu trabalho
intelectual de pesquisa histórica.
Quando se faz uma pesquisa histórica, não apenas se levantam dados, fatos,
colhem-se fontes, por exemplo, mas busca-se dar sentido ao que se encontra,
propõe-se, dando, dentro de uma linha de sentido, coerência ao que se quer formar
e interpretar pessoalmente, estabelecendo uma relação de suas configurações de
documentos. A história vem, com isso, buscar dar sentido e explicar uma relação
feita pela dimensão do tempo. Podemos notar que tanto fato, como interpretação,
soam ligados por uma linha de trabalho histórica.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 8 - PESQUISA HISTÓRICA
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
Ter uma documentação com fatos, não quer dizer que se tenha uma obra
histórica em si. Antes de qualquer coisa, é necessário definir uma linha interpretativa
para tal questionamento. O que não se pode fazer é uma pesquisa sem os eixos
básicos para essa interpretação do passado. As bases ali se fazem. Contudo, sem
fatos, documentos e uma boa interpretação, nada se faz, apenas, uma simples
narrativa sem base, ou uma construção ideológica pouco rigorosa de um
conhecimento científico.
Todo processo de interpretação dos fatos, ao qual se liga uma pesquisa
histórica coerente, necessita de uma teoria. Entender uma teoria é compreender
toda uma concepção formada de conceitos, que embasarão, em termos de visão e
sentido, a realidade que se quer analisar. Pode-se contar uma história de diversas
maneiras e, pelas teorias a serem aplicadas, vários caminhos são possíveis, para a
interpretação de um mesmo fato.
O que vive, em termos de pesquisa, são as teorias explicando, a maneira de
se encarar o mundo e como essa realidade pode ser vista e interpretada.
A história, desde Heródoto e Tucídides, procura sair da dimensão mitológica
do sentido dos deuses, para encarar uma visão mais racional da construção do fazer
histórico.
Para a chamada Nova História, toda atividade humana tem um sentido
histórico, tudo tem uma história, ou seja, tudo possui um princípio reconstruído e
relacionado à dimensão do passado. Na dimensão de “história total”, passa-se por
Fernand Braudel até a dimensão dos historiadores da École des Annales, oriundos
da criação da Revista Annales d’Histoire Economique et Sociale, idealizada e
editada por Lucien Febvre e Marc Bloch.
A chamada terceira geração dos Annales, década de 60, em que o historiar
estende-se, amplia-se em dimensão da documentação. A partir dela, o historiador
se detém em fazer uma nova interpretação dos documentos; uma nova análise. O
documento, agora, pode ser considerado tudo. Desde um vestígio arqueológico até
um documento também oficial; de uma simples caneta, a um vaso. Tudo, em termos
documentais, passa a ser observado e escrito com novos olhares. Nasce, com isso,
a história da sexualidade, a econômica, a iconográfica, a do amor, a do medo, a da
loucura, a das mulheres entre outras. Uma nova dimensão historiográfica nasce e se
torna em migalhas, conforme Dosse, 1991.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 8 - PESQUISA HISTÓRICA
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Wagner Montanhini
Uma nova historiografia nasce e com ela o sentido de esclarecer o contexto
social vivido por um povo, com sua mentalidade e comportamento. Dessa forma, o
conhecimento histórico, quando bem praticado em sua dimensão social, tende a
fornecer um contexto de real significado cultural e mental de uma sociedade. A
história, quando estudada seriamente em sua dimensão cultural, traz junto de si os
reais significados das esferas sociais. Ao se desenvolver uma pesquisa histórica,
estamos, automaticamente, construindo e resgatando a memória de um povo. Fazer
uma análise crítica e coerente em sua interpretação dos fatos é papel do
pesquisador.
O que queremos com isso é apresentar a você a pesquisa histórica, em sua
dimensão de método, com vistas à construção das duas etapas que a formarão. Ou
seja, fazer história é construir uma pesquisa com novo modo de buscar o
conhecimento e refletir a histórica com as inquietações que nos fornecem o
presente.
BUSCANDO CONHECIMENTO
As Etapas da Pesquisa Histórica
Procuramos, aqui, delinear alguns passos a serem seguidos para a realização
de um projeto de pesquisa histórica. Devemos, sempre, alertar o pesquisador para
que busque sempre seguir uma coerente organização do projeto e conduzir a
pesquisa, segundo o estabelecido na estrutura do projeto. Uma questão deve ser
considerada: toda pesquisa histórica tem de partir de um bom e elaborado projeto,
pois ele é o “esqueleto” de uma pesquisa, uma vez propiciar a visão coerente dos
passos a serem dados a serem caminhados ao longo da uma pesquisa.
No entanto, cabe ressaltar que todo projeto de pesquisa deve ser visto como
flexível pelo pesquisador ao longo da pesquisa e em relação ao objeto investigado.
Esse guia é uma etapa para a formalização da pesquisa numa amplitude maior.
Os passos norteadores de um projeto de pesquisa.
Para que um historiador desenvolva bem seu trabalho deve ter em mente os
seguintes pensares e questionamentos relativos a um projeto de pesquisa.
Uma das primeiras coisas e dizer é: o quê? Por quê? Em seguida, “Para
quem? Onde? Como? Com quê? Quanto tempo? O que será pesquisado? Por que a
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 8 - PESQUISA HISTÓRICA
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pesquisa é necessária? Como será pesquisado? Em que período? Que fontes? Há
documentos”?
As etapas de um processo de projeto de pesquisa:
a) Escolha de um tema,
b) Coleta de informações preliminares,
c) Levantamento bibliográfico,
d) Delimitação do problema
e) Justificativa
f) Objetivos
g) Levantamento das hipóteses,
h) Referencial teórico
i) Coleta dos dados/análise/interpretação
j) Cronograma.
K) Entrega
INDICAÇÕES
Segue o link com normas para a elaboração de um projeto de pesquisa,
segundo as normas ABNT.
Disponível em:
<http://unar.info/ead/file.php/1/Nivelamento/Orientacoes_Para_Realizacao_do_TCC.
pdf> Acesso em 02 de julho de 2014.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 9 - CIÊNCIAS AUXILIARES
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
ESTUDANDO E REFLETINDO
Entende-se por ciências auxiliares da História aquelas que, de formas
variadas, contribuem para a evolução da mesma através do estudo e/ou análise de
uma das suas partes constituintes, podendo ser fontes consideradas oficiais ou
subjetivas (quando transmitidas por terceiros).
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 9 - CIÊNCIAS AUXILIARES
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
que envolve a interpretação da fonte de informação), a filologia, a heurística (procura
das fontes históricas), a literatura, a paleografia (estudo da escrita), a diplomática
(estudo de documentos oficiais), a genealogia, a heráldica, a bibliografia, a crítica
textual (método nascido no século XIX que tenta restaurar a autenticidade dos
textos), a cronologia (adaptada às diferentes ciências, civilizações e zonas
geográficas), a antropologia, a fotografia, a arquitetura, a sigilografia (estudo de
selos), a numismática (estudo das moedas), a epigrafia (escrita sobre pedra) e a
arqueologia, não excluindo a análise de espetros por meio de laser e a holografia,
sendo estas duas técnicas essencialmente vocacionadas para a reconstrução dos
materiais e formas.
Particularizando e ilustrando o contributo de algumas destas ciências,
observamos que a paleografia, termo que designa o estudo da escrita clássica (ou
antiga) e medieval, se centra essencialmente em suportes como o velino, o
pergaminho, o papiro, o papel, a madeira, o barro, o metal e a tela. Dados como o
dito suporte, que variou e evoluiu ao longo dos tempos (o papel apareceu na Europa
apenas no século XV, importado da China, por exemplo), a datação da escrita, que
esteve sujeita aos fatores que acabámos de mencionar e as abreviaturas são
elementos que permitem determinar a origem e a data de fatura.
A sigilografia estuda os selos, que se revestiram de grande importância ao
terem funcionado como assinaturas e certificados de autenticidade de documentos
legais, bem como elemento físico que garantia o sigilo do conteúdo, uma vez que
era evidente a sua quebra. Deve-se considerar neste âmbito a matriz onde está
relevado o motivo e a superfície mole (cera e resina com pigmentos) que recebe
este mesmo motivo, tendo ambas variado ao longo da História no que refere-se aos
materiais (na Idade Média europeia era costume usar prata ou uma liga metálica
similar ao bronze, assim como ouro, marfim e chumbo, enquanto que na centúria de
seiscentos se popularizou o aço), forma (redonda, amendoada ou em losango, na
época medieval) e motivos.
Estes últimos são de extrema utilidade, pois fornecem informação de como
seriam determinados edifícios, cidades, qual a divisa e a heráldica usada e por
quem, se o proprietário pertencia à Igreja ou não e o gosto da época, entre muitos
outros elementos.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 9 - CIÊNCIAS AUXILIARES
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
No século XX a bibliografia ou descrição de livros revestiu-se de uma importância
bastante grande, uma vez que, sendo uma ciência sistematizadora, permitia a
organização da informação - que, entretanto se tornara avassaladora, devido à
grande e heterogénea massa de publicações - para que fosse levada a cabo uma
consulta rápida, objetiva e eficaz. Dentro desta ciência podem-se identificar a
bibliografia descritiva (centrada na identificação e descrição dos livros e do seu
assunto) e a bibliografia crítica (que se dedica à análise aprofundada do livro no
contexto histórico-literário).
A filologia histórica, colocada em prática pelo humanista italiano Della Valla
(XV), preconizava o estudo dos textos antigos usando apenas fontes
contemporâneas dos escritos e limpando interpretações menos corretas que foram
sendo feitas e alterou a intenção do autor, algumas das quais subsistiram até ao
tempo presente.
A genealogia, que estuda a história das famílias, possui uma óbvia
importância ao descobrir retrospectivamente o trilho geracional dos seres humanos,
uma vez que a ancestralidade sempre pressupôs uma mais valia que ditava a
posição de cada homem no seu meio social. Lembremos que o povo romano
"fabricava" antepassados gregos, civilização venerada e considerada perfeita em
quase todos os sentidos, e que a dinastia merovíngia é ainda - principalmente para
os Franceses - um tema inesgotável por assentar na presumível ascendência de
Maria Madalena e Jesus Cristo.
A arqueologia, que estuda os vestígios físicos do passado do Homem e
feitos por ele, tem a incumbência de descrevê-los e classifica-los, situando-os no
tempo. Não devem ainda ser esquecidos o folclore, a toponímia e as tradições de
costumes, orais e musicais, que, apesar de não incluídas nos limites das ciências,
são um contributo de relevo para o estudo da História.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 9 - CIÊNCIAS AUXILIARES
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
BUSCANDO CONHECIMENTO
Segue abaixo um link que apresenta uma síntese das principais ciências
auxiliares da História.
Disponível em:
<https://docs.google.com/document/d/1yepwy4NjU5QYvHxNEGLuxK8HsQNgS8V1H
m12dYrZHEQ/edit?pli=1> Acesso em 03 de julho de 2014.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 10 - MEMÓRIA SOCIAL
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Discutir o conceito memória, problematizar a relevância da memória social
para a construção do conhecimento histórico.
ESTUDANDO E REFLETINDO
O que é memória social? - não recebe jamais uma resposta única: a
memória comporta diversos sentidos, conforme a disciplina ou o pensador que dela
se ocupe. Estes diferentes significados aparecem também em noções correlatas,
fazendo com que as concepções de memória individual e memória coletiva
apresentem variações em diferentes saberes.
A própria distinção entre memória individual, coletiva e social se torna um
problema. É verdade que a disciplina memória social foi constituída por Halbwachs
para distinguir-se da esfera da memória individual. Contudo, essa diferenciação
pode ser colocada em xeque por outros autores. Visando problematizar, propomos
a distinção entre memória coletiva e social, para em seguida problematizarmos a
esfera da memória individual.
A memória consiste numa base sobre a qual se inscrevem os vínculos entre
atos - sejam estes de animais, homens ou máquinas - reservará o termo memória
coletiva para as sociedades humanas, aplicando-o indistintamente a qualquer uma
delas. Já o historiador Jacques Le Goff (1990) prefere reservar a designação de
memória coletiva para os povos sem escrita, aplicando o termo memória social às
sociedades onde a escrita já tenha se instalado. Nesse caso, a possibilidade de
construir uma história permitiria distinguir memória coletiva e social: esta última teria
como testemunhas os documentos escritos, inexistentes entre os povos de cultura
exclusivamente oral.
Nas sociedades sem escrita, a memória coletiva origina-se como um cantar
mítico da tradição ou expressando o prestígio dos grupos dominantes; e ainda um
último estaria ligado ao saber técnico, transmitido por fórmulas práticas mescladas à
magia religiosa.
O aparecimento da escrita será um dos fatores fundamentais na
transformação da memória coletiva. A escrita permite que a pedra e o mármore dos
templos, das tumbas e dos monumentos comemorativos funcionem como suporte de
inscrições epigráficas, produzindo-se deste modo uma sobrecarga de memória. A
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 10 - MEMÓRIA SOCIAL
Thiago Thomaz Garcia
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ostentação dos monumentos soma-se à publicidade das inscrições, apostando-se
num poder maior de perpetuação da lembrança. Por outro lado, surgem também os
documentos, escritos num suporte especialmente destinado a este fim (de início
osso, pele, folhas de palmeira, e, finalmente, papiro, pergaminho e papel).
Fornecendo aos homens um processo de marcação, memorização e registro e, por
outro lado, assegurando a passagem da esfera auditiva à esfera visual, esses
documentos escritos conferem um suporte material à memória, ampliando-a,
transformando-a, e estabelecendo a fronteira onde, segundo Le Goff, a memória
coletiva torna-se memória social.
Entretanto, o critério tradicional de distinção entre memória coletiva e
memória social, fundamentado na ausência ou presença da escrita, será posto em
questão por alguns historiadores.
Ainda no campo da história, a imbricação entre a memória social e coletiva
será também valorizada por Pierre Nora. Definindo a memória coletiva como “o que
fica do passado no vivido dos grupos, ou o que os grupos fizeram do passado”
(NORA, 1978, p. 112), Nora observa que os traços reconhecidos e difundidos da
memória histórica, veiculados pela mídia, são elaborados por diversos grupos,
constituindo memórias coletivas que, por sua vez, pressionam a história. O grande
projeto de Nora, por ele apresentado em Les lieux de la mémoire, foi o de reescrever
a história da França a partir do estudo dos lugares de memória social – edifícios,
símbolos nacionais, comemorações, manuais, autobiografias, entre outros – que são
reprocessados pela memória coletiva.
É, entretanto, na distinção entre memória individual e memória social ou
coletiva que encontramos os pontos de vista mais antagônicos entre diversos
pensadores e diversas disciplinas.
Baseado em textos que gozam de bastante reconhecimento, Jacques Le
Goff afirma que o conceito de memória nos remete, em primeiro lugar, a um
fenômeno individual e psicológico, que possibilitaria ao homem a atualização de
impressões ou informações passadas (cf. LE GOFF, 1990). Esta concepção de
memória é tradicionalmente aceita pela psicologia, mesmo por aqueles que atribuem
um caráter social à transmissão da memória individual.
Pensadores do campo social, como Edgard Morin, admitem que certos
aspectos da memória individual podem, esclarecer problemas da memória social e
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 10 - MEMÓRIA SOCIAL
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
coletiva. Entretanto, em um texto de 1938, um dos fundadores da Escola
dos Analles, Lucien Febvre, já havia questionado a oposição entre indivíduo e
sociedade. “O indivíduo é sempre o que permitem que ele seja”, escreve Febvre,
“tanto sua época quanto seu meio social” (FEBVRE, 1938, p. 34) O meio social
penetraria antecipadamente o indivíduo, determinando seus hábitos, seus modos de
pensar, agir e querer. Sem dúvida, esta determinação maciça do social sobre o
indivíduo deixaria a este último pouco espaço de criação.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 10 - MEMÓRIA SOCIAL
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
ser criada e recriada, a partir dos novos sentidos que a todo tempo se produzem
tanto para os sujeitos individuais quanto para os coletivos – já que todos eles são
sujeitos sociais. Os vários significados da palavra memória, que poderia ser seu
ponto falho, é justamente a sua riqueza.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Acesse o link a seguir para conhecer a proposta da Escola dos Annales e a
“História Nova”.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 11 - PATRIMÔNIO HISTÓRICO/CULTURAL
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
ESTUDANDO E REFLETINDO
O patrimônio histórico deve definir as dimensões múltiplas da cultura como
imagens de um passado vivo: acontecimentos e coisas que merecem ser
preservados porque são coletivamente significativas em sua diversidade. Este
patrimônio histórico deve parecer uma “imagem congelada” do passado, paralisada
em museus cheios de objetos que atestam que há uma herança coletiva.
Alguns objetos tornam-se exóticos e podem ser transformados em peças
mais "úteis", ou seja, que tenham algum significado dentro do sistema simbólico das
pessoas que os encontraram. Assim, uma lâmina de machado polida pode "tornar-se
mais interessante" virando um boneco de brinquedo ou um peso para papel, uma
ponta de flecha ou uma moeda antiga "tem alguma utilidade" como pingente, um
vasilhame cerâmico arqueológico Tupi-guarani pode aparecer como vaso de plantas
ornamentais, e uma máquina de costura do início do século XXI vira fetiche
decorativo na sala de estar.
Cunha (1992) nesse sentido destaca que o confronto e o debate de ideias
constituem o melhor caminho para tentar cultivar a esperança de uma sociedade em
que o "moderno" não negue o passado, e o exercício da cidadania baseie-se em
uma memória capaz de afirmar a diversidade e o conflito como dimensões
constitutivas da história.
O que é um museu?
O museu ainda é, em grande medida, entendido como um lugar no qual se
“depositam” objetos antigos e, por isso, ambientes formais e desprovidos de
atrativos para a maioria da população. Para superar essa visão equivocada é
importante destacarmos que o museu é uma instituição muito antiga (como
estudaremos na unidade 2) e, como todas as demais instituições, assimila e
expressa as condições sociais nas quais é produzido. Ou seja, é resultado de ação
social e cultural.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 11 - PATRIMÔNIO HISTÓRICO/CULTURAL
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
Como sua finalidade é ser depositário do patrimônio cultural (material e
imaterial) das sociedades, carrega em si um grande potencial para os estudos na
área da história. Por essa razão, tem aumentado o interesse por seu estudo como
ambiente de aprendizagens.
Com a ajuda de um importante historiador francês, Pierre Bourdieu, é possível
afirmar que os museus são espaços fundamentais para a compreensão histórica,
uma vez que contêm verdadeiras riquezas culturais que revelam aspectos
imprescindíveis para o entendimento de diferentes sociedades em épocas distintas.
Ao mesmo tempo, carregam em si uma contradição muito grande, uma vez
que não conseguem, na grande maioria dos casos, estar plenamente disponíveis
para as diferentes classes sociais.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 11 - PATRIMÔNIO HISTÓRICO/CULTURAL
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
Para o Ministério da Cultura, por meio do IPHAM (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional), museu define-se como:
(...) uma instituição com personalidade jurídica, com ou sem fins lucrativos, ou
vinculada a outra instituição com personalidade jurídica própria, aberta ao público, a
serviço da sociedade e de seu desenvolvimento e que apresenta as seguintes
características:
I - o trabalho permanente com o patrimônio cultural, incluindo nessa designação o
natural, tangível, intangível, digital, genético e paisagístico;
II - a presença de acervos e exposições colocados ao serviço da sociedade com o
objetivo de propiciar a ampliação do campo de possibilidades para construção
identitária, a percepção crítica da realidade, a produção de conhecimentos e
oportunidades de lazer;
III - o desenvolvimento de programas, projetos e ações que utilizem o patrimônio
cultural como recurso educacional, turístico e de inclusão social;
IV - a vocação para a comunicação, a exposição, a documentação, a investigação, a
interpretação e a preservação de manifestações e bens culturais e naturais;
V - a democratização do acesso, uso e produção de bens culturais de modo a
contribuir para a promoção da dignidade da pessoa humana;
VI - a constituição de espaços de relação e mediação cultural com orientações
políticas, culturais e científicas diferenciadas entre si.
Assim, são considerados museus, independentemente de sua denominação,
as instituições ou processos museológicos que apresentem as características acima
indicadas e cumpram as funções museológicas (COSTA, 2006. P. 07 e 08).
Podemos depreender desse documento que o museu deve ser o lugar social
valorizado pela sua capacidade de realizar mediações culturais e, por essa razão, é
de fundamental importância o estudo da museologia, ou seja, a ciência da
organização dos museus.
BUSCANDO CONHECIMENTO
O link abaixo indicado apresenta o artigo científico-acadêmico “MUSEUS E
PATRIMÔNIO HISTÓRICO”. Além de agregar informações importantes acerca do
conteúdo discutido ao longo desta unidade, você pode, ao final da leitura, elaborar
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 11 - PATRIMÔNIO HISTÓRICO/CULTURAL
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
uma síntese comentada e utilizá-la para compor suas horas de atividades
complementares.
Disponível em <http://web.unifil.br/docs/semana_educacao/1/completos/03.pdf>
Acesso em 02 de julho de 2014.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 12 - HISTÓRIA E IDENTIDADE
Thiago Thomaz Garcia
Wagner Montanhini
ESTUDANDO E REFLETINDO
Narrar história é, antes de tudo, questão de identidade. É possível ver de
que modo as pessoas e mesmo toda uma nação se enxergam a partir da forma
como redigem e transmitem suas histórias. O que os povos dizem sobre o seu
passado nos revela como gostam de ser lembrados e muito do próprio momento em
que nasce a narrativa. Podemos lembrar e dizer coisas a respeito do passado, mas
os motivos, as emoções e os porquês se localizam sempre no momento atual em
que as versões da narrativa histórica são criadas e transmitidas.
Nesse sentido, o poder da história encontrada nos livros didáticos e
ensinada nas escolas é grande, mesmo que imperceptível. As narrativas contadas
muitas e muitas vezes pelos professores acabam se tornando verdades didáticas
estanques e inabaláveis, como dogmas de explicação histórica. Poucas vezes
repensadas, podem se transformar em memória. Entretanto, não devemos esquecer
que tal memória carrega consigo uma mensagem confeccionada, modificada,
construída a partir de um ponto de vista, sendo, muitas vezes, vinculada a um
projeto maior que engloba a própria ideia de povo e nação financiados e liderados
pelo Estado.
É importante refletir e ser realista: as pessoas em geral terão o seu
conhecimento histórico, até o fim de suas vidas, formado pelo que aprendem na
escola e nos livros a que têm acesso durante sua infância ou adolescência, quando
são estudantes. O conteúdo escolar, normalmente, é o princpal responsável pela
noção de história que os indivíduos possuem, pois raras vezes os repertórios
pessoais de conhecimento sobre o passado serão acrescidos posteriormente por
informações advindas de filmes, revistas ou documentários. Dificilmente os
conteúdos serão revisitados. Desse modo, as aulas de História assumem importante
papel na medida em que dizem, por exemplo, o que é “ser brasileiro”, o que é “ser
negro”, “europeu”, “indígena” ou “mulher”, e ajudam, assim, a definir quem cada um
é, de onde veio e, algumas vezes, até o que pode vir a ser.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 12 - HISTÓRIA E IDENTIDADE
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O modo como isso é feito de ser repensado. Se for com tons de verdade
absoluta, terá o poder de sufocar qualquer análise crítica. E isso é um equívoco, pois
sabemos que a História não é o que, de fato, se viveu, mas sim o que se conta
sobre o vivido e, principalmente, o modo escolhido para se contar.
A identidade nacional, por exemplo, é uma construção histórica na medida
em que é a escrita da história que traz sentido e significados específicos a uma
sociedade que se imagina, que pensa sobre a si mesma: o jeito que ela foi, como ela
é e, principalmente, o que ela será. Assim, existe uma grande responsabilidade em
ser professor de História, na medida em que ele acaba trabalhando, em sala, com as
imagens que os alunos têm em si mesmos, de suas comunidades, de seu país e do
mundo em que vivem.
No caso do Brasil, já foram inúmeras as maneiras escolhidas para se narrar
a história e, portanto, múltiplos os olhares criados sobre a própria ideia de “Brasil”.
Olhares e visões que mudam e que, certamente, também carregam a sua própria
história. Imagens criadas sobre os povos, sobre as culturas, a nação e o Estado.
No nosso país, em certos momentos, o próprio Estado atuou no sentido de
difundir as imagens que mais lhe interessavam. A exemplo da Igreja na Idade Média,
o Estado também cuidou dos seus “santos”, elaborando ou elegendo narrativas
hagiográficas a respeito dos heróis da nacionalidade e de seus feitos exemplares a
serviço do Brasil.
O Brasil independente, da primeira metade do século XlX, nascia com a
necessidade de resposta para a pergunta “quem somos nós?”. Era preciso criar uma
identidade separada de Portugal, já que o Brasil surgia no cenário internacional
desvinculado da antiga metrópole. A busca de autonomia política aparecia na forma
de reconhecimentos diplomáticos de independência, por parte dos outros países, e
também na forma de projetos políticos criados dentro do Brasil para os rumos da
nação recém-nascida.
No século XX, as reformas de Francisco Campos na década de 1930 e a Lei
de Diretrizes e Bases de 1961 trouxeram mudanças significativas na maneira de se
narrar e, consequentemente, ensinar a história do Brasil. Os manuais escolares
passaram a ter o aluno como público-alvo, ou seja, passaram a ser produzidos para
os estudantes, e não somente para os professores. Nas décadas de 1960 e 1970,
surgiram algumas inovações. Entre elas, o combate ao excesso da memorização no
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 12 - HISTÓRIA E IDENTIDADE
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ensino de história e a tentativa pioneira de se ensinar uma história entre Brasil e
América Latina.
Com o tempo, o ensino de História foi ficando menos direcionado e passou a
incorporar inúmeras mudanças na maneira de se narrar história e nos discursos
construídos sobre os acontecimentos. Entretanto, certas questões estiveram sempre
presentes como eixos vertebrais do processo de construção das imagens da nação:
“qual a nossa origem”? Perguntas comuns, de difíceis respostas, que muitas vezes
se vincularam a fortes projetos políticos.
A história ensinada pode simplesmente servir a tais projetos, ou não. Pois
ela pode, por outro lado, ser o espelho mágico a nos auxiliar quando procuramos
entender quem, de fato, somo e de onde viemos. Dependendo da maneira como é
tratada em sala de aula, a História nos ajuda a criar um rosto, a partir das dúvidas e
inquietudes lançadas sobre o tempo.
A História ocupa assim um papel central para nossa contemporaneidade,
pois é através dela que encontraremos as imagens e referências para as ações no
presente como forma de preparar o futuro. Veículo, por assim dizer central, neste
papel de transmissão assentado no valor do escrito. História e Tradição articulam-se
intimamente embora sejam duas formas distintas de conceber o passado
integrando-o às experiências presentes. Neste sentido ela pode, segundo ainda Paul
Valéry, justificar aquilo que os homens desejarem, pois não faltarão exemplos para
as mais diferentes situações que se apresentarem.
No entanto, é bom lembrar: a cada novo olhar são criadas e recriadas novas
Histórias que tentam dar conta de refletir o rosto que, então, lentamente ali se forma
e que se deforma sem parar em direção ao futuro. Novos olhares, novas Histórias,
um novo rosto.
BUSCANDO CONHECIMENTO
O artigo “USOS DA HISTÓRIA: REFLETINDO SOBRE IDENTIDADE E
SENTIDO” indicado através do link abaixo propõe uma reflexão sobre a história e
sua relação com a organização intelectual da memória afetiva do passado – parte
constitutiva do processo de identidade – no contexto brasileiro dos 500 anos e na
conjuntura internacional da globalização e das profundas mudanças culturais dos
finais do séc. XX.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 12 - HISTÓRIA E IDENTIDADE
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Disponível em:
<http://www2.ufpel.edu.br/ich/ndh/downloads/Volume_06_Manoel_Luiz_Salgado_Gu
imaraes.pdf> Acesso em 02 de julho de 2014.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 13 - A HISTÓRIA POSITIVISTA
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ESTUDANDO E REFLETINDO
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 13 - A HISTÓRIA POSITIVISTA
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Industrial. Observa-se uma preocupação com assuntos de ordem política e social,
porém resgatando uma sociedade “abstrata”, pois se centrava na figura dos grandes
líderes nacionais, estes sim, responsáveis pelas transformações estruturais de sua
Nação. Os diversos grupos sociais estavam esquecidos, ou “à margem” do
desenrolar histórico. O historiador positivista:
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 13 - A HISTÓRIA POSITIVISTA
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Para Comte, a civilização europeia industrial do século XIX seria o auge do
progresso técnico e científico conhecido e já estabelecido pela humanidade. Não por
acaso, Comte pensou numa ciência que introduzisse ideias positivas em franca
oposição com as ideias negativas iluministas revolucionárias que foram postas em
prática pela Revolução Francesa. Sendo assim, vejamos algumas acepções do
termo “positivo”:
Vejamos o fragmento de texto de Comte: “O verdadeiro espírito positivo
consiste em ver para prever”. (COMTE, apud LÖWY, 2006). Em outras palavras, o
método positivo consiste em observar (ver), para descobrir as leis invariáveis que
regem os fenômenos sociais e daí (prever). Mas o que garante a objetividade e,
nessa esteira, a cientificidade da pesquisa sociológica? Justamente, o fato de que,
enquanto ciência natural da sociedade, a física social deve ser livre e neutra de
julgamentos de valor. Por isso, Comte afirma “sem admirar nem maldizer os fatos
políticos, vendo-os 19 como em qualquer outra ciência, como simples temas de
observações”. (COMTE, apud LÖWY, 2006). Isso supõe uma separação radical
entre sujeito, isto é, aquele que, na relação cognitiva, conhece e o objeto (aquilo que
se dá a conhecer) a ponto de o sujeito poder não ser condicionado nem
contaminado por ideias pré-concebidas o que, portanto, lhe asseguraria a
objetividade necessária, segundo Comte, à pesquisa científica.
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UNIDADE 13 - A HISTÓRIA POSITIVISTA
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Comte foi o primeiro cientista social ao propor uma análise sistemática e empírica à
realidade. Fonte: http://www.estudopratico.com.br/positivismo-conceito-e-resumo-de-suas-
caracteristicas/ Acesso em 03 de julho de 2014.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Segue abaixo link de uma síntese sobre correntes de pensamento para a
construção histórica.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 14 - HISTÓRIA NOVA – ESCOLA DOS ANNALES
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ESTUDANDO E REFLETINDO
Ao criar a Escola dos Annales, Febvre e Bloch, não se preocuparam em criar
um paradigma, mas sim propor um novo campo de atuação para a história,
conjuntamente com as ciências sociais, buscando a interdisciplinaridade, a fim de
retirar-lhe do isolamento, dando-lhe um caráter revolucionário e realizando uma
mudança considerável no conhecimento histórico. Os defensores dos Annales, na
verdade, quiseram propor uma nova concepção de ciência histórica ao rejeitar a
“história normal ou historiografia tradicional”, provocando então, a ideia de progresso
para a história e estabelecendo um novo olhar e um novo pensar histórico.
No século XIX, momento crucial no sentido de definir o papel do historiador e
por consequência da história enquanto ciência foi possível verificar e ampliar o
conceito de método das ciências naturais para investigar e verificar a verdade
histórica dos fatos. Outra importante preocupação do século XIX foi com relação à
fidelidade das informações retiradas dos documentos considerados até esse
período, como verdade absoluta e inquestionável, não sendo papel do historiador
questioná-lo e muito menos inferir sobre a sua interpretação.
Os historicistas que nos darão as primeiras lacunas para uma flexibilidade
maior diante do documento afirmavam que o objeto do cientista natural é
imensamente diferente do cientista social – natureza e cultura. Para a ciência da
cultura teríamos elementos novos que somariam aos métodos da ciência natural,
ampliando-os e os tornando viáveis para a análise histórica. Os elementos de que
estamos falando, estariam fora dos campos possíveis de comprovação através da
lógica formal – seria eleger elementos que nos trouxessem aspectos da vida dos
sujeitos históricos, do cotidiano e ainda do imaginário. A intuição, a compreensão e a
empatia seriam elementos que poderiam trazer essas novas variáveis, para que
fossem incorporados ao pesquisador da história.
O historiador em sua análise, a partir do pensamento historicista perderia
inúmeras regras, reveria as antigas noções sobre instrumental teórico e a
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 14 - HISTÓRIA NOVA – ESCOLA DOS ANNALES
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documentação, utilizando a partir de então, sua própria intervenção nas análises,
criando uma sensibilidade desenvolvida por inferências, comparações e
quantificações, sendo a principal arma a manipulação das fontes. Para estimular a
excitabilidade, segundo a concepção historicista, o historiador pode utilizar-se de
técnicas: a crítica documental, algumas regras de interpretação e conceitos de
psicologia para conhecer os estados mentais dos sujeitos históricos.
A historiografia tradicional tratou a história como uma história linear, uma
história onde os eventos ou fatos se sucediam eminentemente atrelado aos grandes
personagens. O tempo nessa compreensão historiográfica tradicional representa
uma simples cronologia medida de forma positiva, separando totalmente homem,
natureza e mentalidades. Torna-se importante debater algumas concepções sobre o
tempo, suas atividades, ritmos e frequências.
Com o movimento da história nova, vários historiadores deixaram grandes
contribuições, muitas delas revolucionárias e transformadoras. Na concepção de
Fernand Braudel, o tempo teria três ritmos, entre eles teria uma enorme diferença,
tornando-se impossível fazer tábula raza da história.
Segundo as considerações de José Carlos Reis, sobre o tempo, pode-se afirmar que
o tempo está dividido em quatro instâncias essenciais, interdependentes e
específicas, distribuídas em “níveis temporais”.
As duas concepções de tempo demonstram que para construirmos um
saber histórico, ou uma ciência da história, teremos que utilizar caminhos que
passem necessariamente por uma análise não-linear, não-cronológica, que busque
a compreensão da multiplicidade, da coletividade, para desmistificar o imaginário
suspenso e flutuante, que abriram novos problemas para entendermos as
sociedades em sua particularidade e em abordagens diversas.
Jacques Le Goff, evidencia alguns dos fenômenos que assinalam a
emergência de um novo campo do saber:
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 14 - HISTÓRIA NOVA – ESCOLA DOS ANNALES
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A renovação – seja em nível da problemática, seja em nível do ensino, ou dos
dois, de ciências tradicionais, mutação essa que se manifesta, em geral,
como “novo” ou “moderno”.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 14 - HISTÓRIA NOVA – ESCOLA DOS ANNALES
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BUSCANDO CONHECIMENTO
O vídeo indicado abaixo aborda os principais conceitos de história, a relação
da história com tempo, memória e narrativa e as principais concepções históricas:
positivismo, marxismo, annales e nova história.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fNIZkaYzTeU> Acesso em 03 de
julho de 2014.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 15 - HISTÓRIA INTEGRADA
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 15 - HISTÓRIA INTEGRADA
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que os livros didáticos trazem a História do Brasil a partir do momento em que a
Europa toma conhecimento do “novo” continente. A História do Brasil não começa
com o passado indígena – como no caso da História ensinada nas escolas do
México, que se inicia no passado pré-colombiano, com os mexicas (astecas) – mas,
sim, com a chegada dos portugueses. Além disso, mais agravante, os livros de
História reservam um lugar secundário para a História do Brasil, restrito a cerca de
um quarto do total de páginas das coleções. Assim, ocorre de fato uma diminuição e
uma diluição dos conteúdos, tanto de História do Brasil como de História Geral.
Neste pretenso modelo vigente de História Integrada, o Brasil é tido como
dependente dos fatos e acontecimentos da Europa. Assim, o Brasil nasce por
iniciativa dos portugueses do século XVl, o pau-brasil e o açúcar são filhos do
mercantilismo da Europa, a inconfidência mineira deve créditos ao iluminismo, a
Independência do Brasil foi fruto das cortes de Lisboa e da pressão inglesa, que
também acabou com a escravidão no Brasil. Até mesmo o conflito norte-americano
contra os russos, já na Guerra Fria, fabrica a renúncia de Jânio Quadros, e os
Estados Unidos são os responsáveis pela ditadura militar, e assim por diante.
Sabemos mais sobre os jacobinos do que sobre os escravos quilombolas e este é o
ponto central combatido pelos defensores de uma História verdadeiramente
Integrada.
Na contramão de uma História Integrada, ensina-se aos alunos a teoria da
eterna dependência, em que as determinações externas são mais importantes do
que as internas, e o Brasil não é o agente de sua própria história, mas espectador.
Com isso fortalece-se a ideia de que tensões e contradições internas desempenham
um papel secundário na construção da nação. O Brasil torna-se, assim, apenas o
resultado da História Geral.
A historiadora Circe Bittencourt,
docente da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP) e da
Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP), alertou que esse tipo de
narrativa privilegia o modelo ideológico
anglo-saxão, que seria, então, responsável
pelo desenvolvimento econômico dos
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 15 - HISTÓRIA INTEGRADA
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estados Unidos e da Inglaterra. Ao mesmo tempo esse tipo de narrativa descarta
outros modelos de sociedade, atribuindo “menos qualidade”, por exemplo, aos
portugueses e aos espanhóis, vistos como responsáveis pela colonização de países
que hoje se encontram em difícil situação financeira. Paralelamente, cria-se entre os
estudantes uma postura antilusitana, e os portugueses são vistos como o que houve
de pior no Novo Mundo. Além disso, transmite-se uma versão em que o Brasil é
menos, atrasado e dependente. Isso acaba por gerar, diz Bittencourt, “um imobilismo
político, uma vez que estaríamos todos na rede de um poder maior e diante de um
destino inexorável: o destino de ser dependentes”.
Fonte:< http://revistaescola.abril.com.br/formacao/circe-bittencourt-bom-livro-didatico-aquele-usado-
bom-professor-780314.shtml> Acesso em 04 de julho de 2014.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 15 - HISTÓRIA INTEGRADA
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Segue o link com uma entrevista publicada na revista NOVA ESCOLA
Edição 269, Fevereiro 2014. Título original: "O bom livro didático é aquele usado por
um bom professor" com a historiadora Circe Bittencourt.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 16 - HISTÓRIA LOCAL
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 16 - HISTÓRIA LOCAL
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fazem com que ele entenda que a história é uma continuidade de fatos, que o lugar
onde se vive não se encontra isolado das relações com as outras regiões na
constituição de múltiplas identidades.
O estudo sobre a memória se universalizou em um período em que, como
nunca, o passado está distante do presente, quando as pessoas não mais
identificam sua herança pela perda dos antigos moldes de relacionamento social e a
desintegração dos antigos laços entre as gerações.
Para Gaddis (2003), “o estabelecimento da identidade requer o
reconhecimento de nossa relativa insignificância no grande esquema das coisas”.
A construção de identidades pessoais e sociais está relacionada à memória,
já que individual e coletivamente ela permite que cada geração estabeleça vínculos
com as gerações anteriores. Os sujeitos, assim como as sociedades, buscam
preservar o passado como um norte que serve de direção para enfrentar as
incertezas do presente e, possivelmente, do futuro.
O estudo, bem como, o ensino da história local apresenta-se como um ponto
de partida para a aprendizagem histórica, através da possibilidade de trabalho com a
realidade mais próxima das relações sociais.
Nessa perspectiva, o ensino-aprendizagem da História Local configura-se
como um espaço-tempo de pensamento crítico acerca da realidade social e base de
referência para o processo de construção das identidades destes sujeitos e de seus
grupos a que pertencem.
O ensino de História Local ganha significado e importância, exatamente pela
possibilidade de introduzir a formação de um raciocínio de história que contemple
não só indivíduo, mas a coletividade, apresentado as relações sociais que ali se
estabelecem dentro da própria realidade.
A História Local possibilita a compreensão do entorno, identificando passado
e presente nos vários espaços de convivência. Essa temática permite que o
historiador parta das histórias individuais e dos grupos, promovendo o local a
contextos mais amplos.
Com a abordagem da História Local passa-se gradualmente a observar e
perceber o significado de outras matérias construídas no passado; a compreender
que as realidades históricas de determinada localidade e de seus habitantes no
tempo desde que não se relacionem de modo isolado do mundo, mas como parte do
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 16 - HISTÓRIA LOCAL
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processo histórico em que populações locais constroem suas identidades culturais e
sociais; que estas identidades são diversas, mas todas merecem respeito.
A História Local possibilita romper com a periodização clássica que consagra
a ideia de evolução e de progresso, sequência de eventos vitoriosos de
determinados sujeitos, o que acaba por fomentar a existência de hierarquias de
valores entre as sociedades humanas.
Vários historiadores defendem que o cotidiano não era apenas o lugar das
pessoas comuns, mas também poderia ser considerado lugar de resistência e
mudanças, exercendo papel central no acontecer histórico estabelecendo
articulações com as grandes estruturas de poder, políticas e econômicas. Seu
estudo possibilita que as tensões e lutas do dia a dia possam emergir, dando voz a
atores tradicionalmente excluídos e marginalizados, o que permitiria uma maior
compreensão das estruturas sociais e suas transformações.
O ponto de partida para perceber esse vínculo é “analisar as relações entre
história de vida e história, compreendendo-se como sujeito da história”. As
expectativas estabelecem as articulações entre a vida dos alunos (experiência) e a
compreensão de contextos históricos diversos (perspectiva histórica).
BUSCANDO CONHECIMENTO
Disponível em <http://meuartigo.brasilescola.com/historia/ensino-historia-memoria-
historia-local.htm> Acesso em 06 de julho de 2014.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 17 - HISTÓRIA ORAL
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 17 - HISTÓRIA ORAL
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As entrevistas de história oral são tomadas como fontes para a
compreensão do passado, ao lado de documentos escritos, imagens e outros tipos
de registro. Caracterizam-se por serem produzidas a partir de um estímulo, pois o
pesquisador procura o entrevistado e lhe faz perguntas, geralmente depois de
consumado o fato ou a conjuntura que se quer investigar.
As formas de praticar a história oral variam conforme o objetivo das
pesquisas e dos pesquisadores. Muitas instituições incluem entre suas diretrizes a
preservação e a divulgação dos acervos de entrevistas produzidas, preocupação
que nem sempre faz parte dos projetos de pesquisa em história oral. O tratamento
das entrevistas e sua passagem da forma oral para a escrita também tendem a ser
diversos, conforme as orientações de cada programa ou pesquisa. Além disso, com
as novas tecnologias digitais, as possibilidades de gravação em vídeo e de difusão
por meio eletrônico, multiplicaram-se as modalidades de emprego da história oral.
Além disso, faz parte de todo um conjunto de documentos de tipo biográfico,
ao lado de memórias e autobiografias, que permitem compreender como indivíduos
experimentaram e interpretam acontecimentos, situações e modos de vida de um
grupo ou da sociedade em geral. Isso torna o estudo da história mais concreto e
próximo, facilitando a apreensão do passado pelas gerações futuras e a
compreensão das experiências vividas por outros.
O trabalho com a metodologia de história oral compreende também, todo um
conjunto de atividades anteriores e posteriores à gravação dos depoimentos. Exige,
antes, a pesquisa e o levantamento de dados para a preparação dos roteiros das
entrevistas. Quando a pesquisa é feita por uma instituição que visa a constituir um
acervo de depoimentos aberto ao público, é necessário cuidar da duplicação das
gravações, da conservação e do tratamento do material gravado.
Percebe-se logo a importância da história oral no trecho a seguir da obra de
Paul Thompson:
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 17 - HISTÓRIA ORAL
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pode ser a memória de muitos, possibilitando a evidência dos
fatos coletivos (THOMPSON, 1992: 17).
A fonte oral acaba por acrescentar novas perspectivas ao historiador, que
muitas vezes, necessita de fontes variadas, não apenas das tradicionais fontes
escritas. De acordo com Alberti,
BUSCANDO CONHECIMENTO
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UNIDADE 17 - HISTÓRIA ORAL
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Adquira mais informações navegando nos sites de instituições brasileiras
especializadas em pesquisa utilizando-se da história oral como principal ferramenta
de pesquisa.
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UNIDADE 18 - NOVA HISTÓRIA: HISTÓRIA DAS MENTALIDADES
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UNIDADE 18 - NOVA HISTÓRIA: HISTÓRIA DAS MENTALIDADES
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sexualidade) tornaram-se voga e produziram sucessos editoriais (RAMINELLI, 1992,
p.1).
A história das mentalidades é uma possibilidade única para as diversas
classes que representam uma sociedade. Para os críticos desse movimento, não
pode haver uma única mentalidade, enquanto existirem organizações duais como
trabalhadores e empresários, escravos e senhores. Isso não é possível para alguns,
pois em uma determinada sociedade, são várias classes, com diversos fantasmas
mentais, com muitas visões de mundo.
Um dos pioneiros dos novos olhares para a história, mesmo sendo filósofo, é
Michel de Foucault. Com ele, a pesquisa histórica tem uma nova tendência em seu
entendimento. Para ele, não se pode falar em tempo histórico cronológico, num
receituário positivista de linearidade, mas o que costuma ser dito em seus escritos
de descontinuidade. Mas o que seria isso? Podemos dizer que a história, para
Foucault, não é propriamente um ato básico de retorno, mas de certa ruptura,
fazendo-se ao longo do tempo.
Para Foucault, a pesquisa histórica se dá como representação, já que
levamos em conta o trabalho com as palavras. Uma função artesanal de trabalhar a
historicidade das palavras que se pautam no mundo, permeado das coisas e seus
pressupostos das práticas discursivas. Nelas estão os objetos que fazem parte do
mundo e ligados a um ou vários sujeitos. Enfim, uma nova historiografia numa noção
crítica da razão histórica. É isso que Foucault defende em seus postulados, uma
produção histórica do conhecimento, a partir da qual podemos visualizar as
representações discursivas de um passado e todo um uso que dele é parte, hoje, de
nosso convívio e o que fazemos dele.
Para um historiador, a palavra investigar é a peça chave do manual de um
curioso. Mas, primeiramente, vamos abordar uma série de questões para discernir
sobre o significado do termo: "investigar".
O que é importante para o historiador em sua vida cotidiana de trabalho?
Essa indagação nos remete ao fundamento científico de uma prática e a como
pensar a questão da cientificidade dentro de uma tese.
Uma referência que sempre resulta atrativo e proveitoso é recorrer ao que
chamamos de paradigma do "investigador”. Um de seus pontos básicos de pesquisa
parte do princípio do paradigma indiciário Neste, o foco de interesse está na forma
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 18 - NOVA HISTÓRIA: HISTÓRIA DAS MENTALIDADES
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de operar de determinadas práticas ou disciplinas, como, por exemplo, na crítica da
arte para atribuir autorias disputadas (Morelli); ou no método detetivesco, para achar
provas (Sherlock Holmes); ou na psicanálise, para detectar os sintomas da psique
profunda (Freud). Com isso, estamos observando que os três exemplos são ligados
à prática médica, peça chave para o paradigma indiciário.
A micro-história é o centro da atenção para Ginzburg. Para ele, é tal análise
que tende a se sustentar, quando documentos excepcionais são vistos, estudados e
levados para um objeto excepcional de acordo com um olhar analítico ou
interpretativo. A sua observação se faz quando “a reconstrução analítica (...) tornou-
se necessária, a fim de podermos reconstruir a fisionomia, parcialmente
obscurecida, de sua cultura e contexto social no qual ela se moldou” (Ginzburg, 198,
p.12).
A história cultural está presente como parte de um rico método em Ginzburg.
Ele observa que qualquer vestígio de uma realidade cultural necessita de um critério
crível de verificação que permite evitar que exageremos, portanto, Ginzburg
enfrenta-se com a documentação “heterogênea”, frente a qual propõe novos
instrumentos de análise, apropriando-se de um modelo inferencial, a abdução.
É neste ponto que a micro-história “cultural” de Ginzburg se separa da
história das mentalidades. Todavia, devemos frisar que a mentalidade se refere ao
que existe de menos individual e deixa claro que se liga a um contexto social de que
faz depender a compreensão global, geral, dos casos estudados. A cultura que
Ginzburg estuda, ao contrário, é singular, mas desprende-se de um contexto de
mentalidade.
A base de sua proposta metodológica de trabalho sustenta-se numa forma
discursiva baseada no relato. Seu êxito prende-se, entre outras coisas, à forma
narrativa, dando base em que se confronta a saturação da “história científica”. Carlo
Ginzburg defende seu método, compelindo que a história é uma disciplina baseada
no procedimento da argumentação. Sua força, neste caso, reside na convicção e no
argumento de que é a presença física no lugar dos fatos, ao modo do historiador
clássico grego, é uma testemunha direta do que acontecia.
O problema do investigador da idade moderna recente e da idade média é a
ausência de uma documentação suficiente. A opinião metodológica de Ginzburg
adquire sentido aqui, pois uma das fontes escassas outorga maior valor à
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documentação nominal que fala da cultura das classes populares. O problema é
como remontar-se desde informação secundária até uma realidade mais complexa.
Se a história é dotada de múltiplas facetas, a solução é desenvolver mais habilmente
esse paradigma dos vários indícios que permitem ler os rastros mudos, formando
uma sequência narrativa.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 19 - HISTÓRIA CULTURAL
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ESTUDANDO E REFLETINDO
A história cultural aponta para uma antropologia social, cujo sentido busca
compreender, historicamente, como determinados fenômenos culturais de uma
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UNIDADE 19 - HISTÓRIA CULTURAL
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formação social específica se construíram, foram aceitos ou impostos. Nesse
processo de compreensão, é mister considerar se a produção e a assimilação dos
fenômenos ocorreram de forma consciente ou não, se foram consideradas as
múltiplas relações que estão presentes na produção das estruturas sociais . Para
Duby
Quando falamos em história cultural, estamos dizendo que é “algo que tem a
ver muito mais com uma ideia plural de cultura do que propriamente com a sua
idealização genérica” (Falcon, 2004, p.81). Podemos dizer que, nos últimos anos, a
história cultural e social tem abandonado os espaços das chamadas “grandes
narrativas” ou os esquemas estruturalistas, sejam o de inspiração marxista ou de
“longue durée”, da escola dos Annales, a favor de estudos mais focalizados, ou a
“micro-história”, no que enfatizam a contingência e autonomia das formas culturais.
Roger Chartier, talvez, seja o historiador, mais citado entre nós, a dispor de
um modelo específico de história cultural. Roger Chartier lançou, no número de
comemoração dos sessenta anos da revista Annales, um artigo em que defendia a
investigação das representações como caminho para a renovação da história das
mentalidades ou da História Cultural, como preferiu denominar (Chartier,1991).
Ao mencionar este viés historiográfico como aquele que teria por objetivo
“identificar o modo como em diversos lugares e momentos uma determinada
realidade social é construída, pensada, dada a ler” (1991, p.16/17), propõe uma
abordagem peculiar do campo social que tomaria forma pelo viés do cultural. Dessa
maneira, podemos nos inteirar que o cultural seria visto como o terreno de união
entre os diversos sistemas simbólicos de uma sociedade historicamente identificada,
cujos produtos e práticas sociais seriam encarados como sistemas de signos, ou de
representações, a partir dos quais se poderiam compreender tanto os aspectos
comunicacionais dos fatos tomados como objetos de atenção, no sentido de
repertórios culturais dominados e postos em funcionamento efetivo, em graus
variáveis, por formações sociais afins, quanto à formação dos aspectos de
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dominação consensual histórica, simbolicamente construída e aceita como
verdadeira e, consequentemente, naturalizada.
A chave para podermos entender a cultura é estarmos dispostos a
compreender, a partir dos bens culturais, como determinadas formações sociais, em
suas práticas efetivas, forneceram suas identidades e suas diferenças, tanto de uma
forma deliberada e ostensiva quanto de uma maneira não consciente. É nesse
sentido que Chartier aponta que
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UNIDADE 19 - HISTÓRIA CULTURAL
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Como os historiadores da cultura dizem, é demasiado complexo fixar regras
de comportamento para o conjunto de uma comunidade. Deve-se reconhecer que é
por demais importante submeter investigações coletivas ao filtro da relatividade das
circunstâncias concretas e pessoais. Um dos pressupostos tradicionais dos
historiadores era a inocência da fonte, ou seja, o historiador deveria localizar fontes,
explicá-las, analisá-las, pois essas fontes vinham dadas de uma forma inocente, no
sentido de que, em si mesmas, não eram o fruto de uma criação.
Possivelmente, a mudança mais importante na historiografia e que marca a
história cultural nos últimos anos se localiza precisamente na consideração das
próprias fontes como fatos criativos, uma vez que são também o fruto de uma
construção. Nesse sentido, o meio, a mensagem e a própria difusão podem ser
considerados construções humanas. Portanto, ao se estudar um arquivo, uma carta,
ou a ordem de uma biblioteca, não os considerou apenas dados, mas elementos a
serem analisados organicamente, no contexto em que foram produzidos. O estar
dentro da história cultural é ser parte integrante daquilo que se entende como a mais
Nova História.
BUSCANDO CONHECIMENTO
O que essas abordagens têm em comum é a sua preocupação com o
mundo da experiência comum (mais do que a sociedade por si só) como o seu ponto
de partida, juntamente com uma tentativa de encarar a vida cotidiana como
problemática, no sentido demonstrar que o comportamento ou os valores, que são
tacitamente aceitos em uma sociedade, são rejeitados como intrinsecamente
absurdos em outra. Os historiadores, assim como os antropólogos sociais, tentam
agora por a nu as regras latentes da vida cotidiana (...) e mostrar a seus leitores
como ser um pai ou uma filha, um juiz ou um santo, em uma determinada cultura.
Neste ponto, a história social e cultura parecem estar se dissolvendo uma na outra.
Alguns profissionais definem-se como “novos” historiadores culturais, outros como
historiadores “socioculturais”. Seja como for, o impacto do relativismo cultural sobre
o escrito histórico parece inevitável.
BURKE, P. Abertura: a nova história, seu passado e seu futuro. In: A escrita da História – Novas
perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992, p.23-24.
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS
UNIDADE 20 - HISTORIOGRAFIA NO BRASIL
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ESTUDANDO E REFLETINDO
FONTE: http://monitoriahistoriacsa.blogspot.com/2011/04/marquesa-imperatriz-parte-1.html
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UNIDADE 20 - HISTORIOGRAFIA NO BRASIL
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Os historiadores europeus,
ESTADO: O Estado é uma instituição que
em meio a inúmeras nações
cria parâmetro e administra uma nação,
transnacionais, disputas e guerras, politicamente organizada pela existência
de uma lei máxima – constituição e dirigida
muitas de cunho étnico, viam a por um governo.
necessidade de diferenciar a
NAÇÃO: é a sociedade que compartilha um
noção de Estado e de Nação. destino comum e logra ou tem condições
Diferentemente, os historiadores de dotar‐se de um estado tendo como
principais objetivos a segurança ou
brasileiros, ao não diferenciarem autonomia nacional e o desenvolvimento
os conceitos de Estado e Nação, econômico (Bresser Pereira).
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UNIDADE 20 - HISTORIOGRAFIA NO BRASIL
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Escrever a história brasileira, no contexto de atuação de um Estado
iluminado, esclarecido e civilizador, constituía-se o empenho, para o qual se
concentram os esforços do Instituto Histórico. Assim, torna-se claro a preocupação
de tais historiadores em enfatizar as “raízes” europeias – ou raízes “civilizadas” - e a
importância dada por estes historiadores à presença do homem branco, enquanto
agente da civilização, este, o responsável pelo processo civilizatório da nação.
Nessa perspectiva, somente o homem branco poderia ser genuinamente brasileiro.
Vale dizer que esse argumento criou uma acirrada disputa entre os historiadores do
século XIX com a literatura daquele período, pois a última, veiculava a imagem do
indígena como portador de uma certa “brasilidade”. A leitura da história
compreendida por esta primeira produção historiográfica tinha como projeto inserir a
ideia de civilização e progresso à gênese da identidade brasileira, para Guimarães,
“a Nação, cujo retrato o instituto se propõe traçar, deve, portanto, surgir como
desdobramento nos trópicos, de uma civilização branca e europeia.”
A afirmação de uma influência francesa, na constituição do IHGB, foi
motivada, segundo Guimarães, pela necessidade do IGHB de atrelar-se a
instituições de pesquisa históricas francesas, em busca de uma legitimidade
metodológica. Afirma o autor que o Institut Historique de Paris fornecia os
parâmetros de trabalho historiográfico do IHGB. Além disso, a presença francesa
corroborava e legitimava a tese de que o Brasil e seus homens brancos teriam o
papel civilizador no Novo Mundo.
Além disso, o projeto de constituição de uma identidade nacional permeava
o temor das classes dirigentes brasileiras, em repetir, no Brasil, aquilo que havia
acontecido nas repúblicas vizinhas que se desmembraram em disputas sangrentas.
Os políticos, comprometidos com o processo de consolidação de uma monarquia
constitucional num Estado forte centralizado, concordavam que era preciso criar na
população laços efetivos que propiciasse coesão cultural suficiente para afastar os
famigerados separatistas. Assim, pode-se afirmar que o apoio concebido ao IGHB
pelo o Estado demonstra que as elites que governam o país reconheceram a história
como um meio indispensável, para forjar esta desejosa nacionalidade.
Não é de se espantar que o Instituto Histórico tenha sido inaugurado e
sediado no Rio de Janeiro, capital do Império, a partir do qual seriam fundados
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UNIDADE 20 - HISTORIOGRAFIA NO BRASIL
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outros institutos nas províncias, diretamente subordinados aos princípios formulados
na capital do Império, onde deveriam somar-se todos os conhecimentos do Brasil.
Porém, aproximando-se da posição dos literatos que defendiam a apreensão
de símbolos nativos da América, para engendrarem tais símbolos numa
“essencialidade brasileira”. Para Von Martius, os indígenas mereciam um estudo
cuidadoso, pois poderiam fornecer uma gama de mitos para a constituição da
nacionalidade. O branco, para Von Martius, logicamente, ainda deveria ser alvo
prioritário, pois o mesmo carregava consigo a bandeira da civilização; o negro, no
entanto, não tinha um papel preponderante, pois o negro neste momento era visto
como um símbolo do passado.
O meio, pelo qual o empreendimento de constituição da história da Nação é
produzido e tornado público, é a revista trimestral publicada pelo IHGB. Os principais
temas tornam claro quais eram os objetivos dos historiadores, destacando-se, neste
momento: a problemática indígena, as viagens científicas pelo território brasileiro e o
debate da história regional.
Segundo Guimarães (1988), o debate acerca da problemática indígena gira
em torno da busca da integração física do território brasileiro e a discussão relativa
às origens da Nação. Portanto, explicitar a origem do indígena era essencial, tanto
pela questão de produzir um saber que se erigisse como memória e assim ser
integrado à memória coletiva da nação, estes estudos também obedeciam aos
interesses do Estado brasileiro que pretendia estender o seu controle aos mais
longínquos povoados do território.
A jovem monarquia que ansiava construir a sua identidade, a partir da
construção de uma memória também entendia que inserir as populações indígenas
fronteiriças em sua esfera cultural significava não só a inserção, muitas vezes de
forma arbitrária, desses povoados a uma memória oficial, mas também um controle
estatal mais preciso sobre o espaço físico da “nação”. O que também explica o foco
privilegiado dado pelo IGHB, no mesmo período, dirigido aos relatos de viagens e
exploração através do território brasileiro. Essa situação nos leva a crer que a
Monarquia tinha plena consciência que para a constituição da identidade nacional de
uma Nação é igualmente importante estabelecer a sua imagem física, e claro,
integrando a esta imagem os elementos - entre outros -, continentalidade e riquezas
naturais inumeráveis, que tornaria o Brasil o eterno país do futuro.
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Século XX: Uma Nova Onda De Grandes Historiadores
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