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Enfermagem em Obstetricia
Enfermagem em Obstetricia
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação................................................................................................................................... 4
Introdução...................................................................................................................................... 7
ABREVIAÇÕES...................................................................................................................................... 8
Unidade i
O CICLO GESTATÓRIO NORMAL............................................................................................................ 9
Capítulo 1
Modificações anatômicas e fisiológicas na gestação................................................. 9
CAPÍTULO 2
Anexos do embrião e do feto.......................................................................................... 18
CAPÍTULO 3
Assistência pré-natal.......................................................................................................... 24
Unidade iI
o PROCESSO DE PARTURIÇÃO............................................................................................................ 37
CAPÍTULO 1
Assistência à parturiente.................................................................................................... 37
Unidade iII
PERÍODO PUERPERAL.......................................................................................................................... 47
CAPÍTULO 1
Assistência à puérpera....................................................................................................... 47
CAPÍTULO 2
Aleitamento materno......................................................................................................... 52
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 59
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
Atenção
5
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
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Introdução
Nas últimas décadas, a atenção à saúde materna e fetal vem demonstrando maior organização e
qualidade na assistência prestada durante a gravidez, o parto e o período pós-parto.
Embora tenham ocorrido mudanças significativas nas atitudes dos profissionais, estruturação
e eficiência dos serviços oferecidos, ainda permanece o desafio de manter em funcionamento
programas de saúde voltados para a saúde reprodutiva e o atendimento multidisciplinar à mulher
no ciclo gravídico-puerperal.
Objetivos
»» Agregar conhecimentos ao profissional enfermeiro para prestar assistência
qualificada à mulher durante a gestação, o parto e o período pós-parto.
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ABREVIAÇÕES
AFU: altura de fundo uterino.
Hb: hemoglobina.
Ht: hematócrito.
Capítulo 1
Modificações anatômicas e fisiológicas
na gestação
“Comemorar a maternidade é criar as condições para que todas as mães possam ser
mães de verdade”.
(Gilberto Dimenstein)
Diversas alterações sistêmicas (gerais) e locais (no aparelho genital e mamas) ocorrem no organismo
materno durante o período gestacional. Tais mudanças, consideradas fisiológicas, decorrem
principalmente de fatores hormonais e mecânicos.
Modificações sistêmicas
Postura e deambulação
O aumento do volume abdominal, devido ao crescimento uterino, altera significativamente
o equilíbrio e centro de gravidade da gestante. Para compensar, todo o corpo joga-se para trás,
empinando o ventre e surgindo a lordose acentuada da coluna lombar. Essa é uma atitude
involuntária e bastante nítida estando a gestante em pé (REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
A grávida, ao andar com seus passos oscilantes e mais curtos, lembra a deambulação dos gansos e,
por isso, dizemos que apresenta a “marcha anserina”, característica de seus movimentos. Esse fato
decorre das modificações do posicionamento uterino, das mamas, do afrouxamento do ligamento
das articulações e do aumento de peso (NEME, 2000; REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
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UNIDADE I │ O CICLO GESTATÓRIO NORMAL
Figura 1. Centro de gravidade na gestante. As setas mostram a tendência do seu deslocamento, compensado
pela lordose.
Fonte: Imagem adaptada e disponível em: REZENDE, J. DE; MONTENEGRO, C. A. B. Obstetrícia Fundamental. 12ª ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan. 2011. 710 p.
Neme (2000) refere que a modificação do posicionamento da coluna é realizada por meio da
utilização de um complexo sistema muscular não adaptado para a execução dessa tarefa extra.
Principalmente quando usada de forma intensa e contínua, o cansaço de tal musculatura
acarretará lombalgia de intensidade variável, uma das principais queixas referidas pela gestante
no pré-natal.
Dica: para prevenir ou evitar que piore a lombalgia, oriente a gestante a utilizar um vestuário
adequado, evitar saltos altos e roupas apertadas. Manter o ganho de peso dentro do padrão esperado
(9 a 12 kg) também auxilia a prevenir o aparecimento das dores lombares, assim com o uso de sutiã
de alças largas, que promovam adequada sustentação das mamas.
Moreira et al. (2011) citam diversas pesquisas sobre atividades físicas, além de acupuntura
e fisioterapia, realizadas durante a gestação para amenizar o desconforto da lombalgia. São
recomendados exercícios aeróbicos leves (que ajudam no controle de peso) e exercícios aquáticos,
que diminuem o impacto sobre as articulações, além de causar um efeito de relaxamento pelas
propriedades da água. Os autores referem também estudos que observaram a influência positiva de
modalidades de exercícios como Pilates e Yoga, propiciando o reequilíbrio muscular, a melhora da
consciência corporal, da respiração e da sensação de bem-estar.
<http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2011/v39n5/a2505.pdf>
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O CICLO GESTATÓRIO NORMAL │ UNIDADE I
Sistema cardiovascular
A maior parte das modificações circulatórias ocorre no primeiro trimestre da gestação e, do ponto
de vista clínico, são muito importantes, especialmente pela sobrecarga que determinam na grávida
cardiopata (REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
A pressão venosa nos membros inferiores está aumentada em cerca de três vezes em virtude da
compressão uterina na veia cava inferior e nas veias pélvicas, dificultando a circulação e o retorno
venoso. Durante a gestação há tendência ao aparecimento de veias varicosas, edema em membros
inferiores, hemorroidas, hipotensão e lipotimia ortostática (REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
Fonte: Figuras adaptadas e disponíveis em: <www.zazou.com.br>. Acessado em: 17 out. 2012.
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UNIDADE I │ O CICLO GESTATÓRIO NORMAL
Ainda em relação às alterações sanguíneas esperadas com a gravidez, ocorre elevação dos fatores de
coagulação (fibrinogênio aumenta 50%, além dos fatores VII, VIII, IX e X). Essas modificações de
coagulação têm por objetivo assegurar o domínio das perdas hemorrágicas no sítio placentário, após
a dequitação. Os leucócitos (especialmente neutrófilos) estão elevados e o número de plaquetas fica
ligeiramente diminuído na gestação (NEME, 2000; REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
KALIL et al. (2008), citam que o aumento na incidência de fenômenos tromboembólicos está
significativamente relacionado ao elevado número de cesarianas. E ainda, que o TEP e a TVP
na gravidez e no puerpério são fatores determinantes para o aumento da morbimortalidade
materno-fetal.
<http://www.febrasgo.org.br/arquivos/femina/Femina2009/novembro/
Feminav37n11p611-8.pdf>
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O CICLO GESTATÓRIO NORMAL │ UNIDADE I
Sistema respiratório
Com o aumento da volemia e do débito cardíaco, ocorre também aumento do volume corrente, a fim
de permitir adequada oxigenação do sangue materno. A expiração torna-se mais completa e maior
a quantidade de ar a ser inspirado (200 ml). São consequências da hiperventilação: aumento da
pO2 no sangue materno, com melhor suprimento ao feto; diminuição da pCO2, tornando mais fácil
a eliminação pela placenta (NEME, 2000; REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
Sistema digestório
Já no primeiro trimestre, evidencia-se o aumento do apetite e da sede, persistindo durante toda a
gestação. Entretanto, também nos três primeiros meses são frequentes náuseas e vômitos, podendo
levar algumas gestantes à anorexia e à desidratação. O “enjoo matinal” é queixa bastante comum no
início da gravidez, mas a maioria das mulheres consegue passar essa fase sem maiores complicações.
A náusea está relacionada ao aumento de hormônios na gestação (HCG, progesterona e estrogênios),
e geralmente melhora ao final do primeiro trimestre.
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UNIDADE I │ O CICLO GESTATÓRIO NORMAL
Algumas orientações podem amenizar muitas dessas queixas relacionadas ao trato gastrintestinal
e devem ser oferecidas a todas as gestantes, como, por exemplo: evitar alimentos de difícil digestão
(gorduras, frituras e alimentos muito condimentados), alimentar-se a cada duas horas (nunca ficar
muito tempo sem comer), ingerir muita água, carboidratos secos para combater as náuseas e realizar
atividade física leve para estimular os movimentos peristálticos.
Sistema urinário
As grávidas estão mais suscetíveis a desenvolver infecções urinárias devido à hipotonicidade e
hipomotilidade dos ureteres e pelves renais, que se dilatam por ações hormonais (prostaciclinas).
Como consequência, ocorrem estase e eliminação incompleta da urina, fenômeno relacionado à
diminuição dessa tonicidade e peristaltismo das fibras musculares lisas do sistema excretor. O
aumento da volemia materna associado à diminuição da resistência vascular ocasiona aumento de
30% a 50% na taxa de filtração glomerular e no fluxo plasmático renal. Esse aumento na filtração
glomerular significa que maior quantidade de substância (solutos do plasma) atravesse o glomérulo,
o que explica a frequente excreção de aminoácidos na urina – glicosúria que ocorre na gestação
normal (NEME, 2000; REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
<http://www.febrasgo.org.br/arquivos/femina/Femina2009/marco/Femina-
v37n3-p165.pdf>
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O CICLO GESTATÓRIO NORMAL │ UNIDADE I
Uma dica simples para prevenir o aparecimento do melasma é orientar a gestante para limitar
exposição ao sol e utilizar com frequência proteção contra os raios solares (chapéu e protetor solar
com FPS mínimo de 30).
O comportamento das glândulas sebáceas não é tão previsível e algumas grávidas podem ficar com
a pele mais bonita e outras, apresentar problema de acne.
É comum ocorrer crescimento mais intenso dos cabelos e queda após o parto (eflúvio telógeno), mas
não há necessidade de tratamento, pois os fios voltarão a crescer posteriormente. A hipertricose
pode ocorrer acompanhando a linha nigra, mas deve sofrer regressão espontânea no período de 6
a 12 meses após o parto. As unhas também podem sofrer alterações com a gravidez, tornando-se
mais frágeis e propensas a descolamentos. (Em: <http://www.dermatologia.net/neo/base/artigos/
gravidez_pele.htm>. Acesso em: 15 nov. 2012).
Vulva e vagina
NEME (2000) refere que as paredes vaginais ficam aumentadas (hipertrofia da musculatura lisa
vaginal) e perdem sua rugosidade característica. O aumento da vascularização promove mudança
na tonalidade das paredes vaginais para o arroxeado (sinal de Kluge). O fluxo vaginal encontra-se
aumentado, assim como os bacilos de Döderlein. Estes, por sua vez, ao promoverem a glicogenólise,
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UNIDADE I │ O CICLO GESTATÓRIO NORMAL
liberam ácido lático, responsável pela acidez vaginal, com pH entre 3,8 e 5,4 (isso exerce um papel
protetor contra a proliferação bacteriana). A vulva também exibe sinais de hipertrofia, podendo manter
os pequenos lábios entreabertos. A vascularização aumentada também proporciona um tom violáceo
à mucosa vulvar (sinal de Jacquemier). O períneo torna-se mais hiperpigmentado (escurecido).
Útero
Figura 4. Organismo materno com 40 semanas de gestação.
O útero sofre numerosas modificações na consistência, forma, volume, capacidade, posição, peso
e na espessura. Todo o órgão está amolecido, especialmente na região do istmo (sinal de Hegar)
e do colo (sinal de Goodell) em decorrência da embebição gravídica. Fora da gravidez, o útero
tem capacidade menor que 10 ml, comprimento de 7 cm, largura de 4,5 cm e espessura de 2,5
cm. Ao final da gestação, sua capacidade aumenta para, mais ou menos, 5.000 ml, ou mesmo
10.000 ml em situações especiais (a exemplo das gestações múltiplas e polidrâmnio). O útero pesa
aproximadamente 70 g e chega ao termo pesando aproximadamente 1.100 g. As fibras musculares
do miométrio sofrem hipertrofia e hiperplasia, sendo esse aumento de massa muscular uterina
mais evidente na região do corpo e istmo. Nos primeiros dois meses de gestação, o útero é órgão
exclusivamente pélvico; com 12 semanas torna-se perceptível ao palpar o abdome e, com 20
semanas, encontra-se aproximadamente na altura da cicatriz umbilical. Assim como a vagina e a
vulva, o útero recebe intenso fluxo sanguíneo, adquirindo tom vinhoso. As glândulas hipertrofiadas
na cérvice uterina secretam um muco espesso, opaco, que oblitera o canal cervical, recebendo o
nome de tampão mucoso ou rolha de Schroeder, o qual exerce importante função de proteção ovular.
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O CICLO GESTATÓRIO NORMAL │ UNIDADE I
Em relação à posição, geralmente o colo uterino está posteriorizado e apresenta-se longo durante
toda a gravidez, ficando a sua anteriorização e encurtamento (esvaecimento) restrito à fase final da
gestação, como prenúncio do trabalho de parto (NEME, 2000; REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
Mamas
Por influências hormonais, a glândula mamária aumenta de volume e, tão logo se estabeleça a
amenorreia gestacional, a gestante com frequência apresenta queixa de hipersensibilidade mamária,
geralmente diminuindo até a 10ª semana. O aumento de vascularização nos seios pode ser visto sob
a pele, formando a característica rede venosa de Haller. Ocorre hiperpigmentação das aréolas e dos
mamilos e estes também aumentam o tamanho. Algumas mulheres desenvolvem aréola externa
secundária (sinal de Hunter). Ainda na aréola, ocorre hipertrofia das glândulas sebáceas, tornando-
se salientes e denominadas tubérculos de Montgomery. A partir da 20ª semana pode surgir secreção
mamária incolor (à expressão ou espontaneamente), a qual recebe o nome de colostro (NEME, 2000).
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CAPÍTULO 2
Anexos do embrião e do feto
Fonte: Figura disponível em: < http://yalemedicalgroup.org >. Acessado em: 15 nov. 2012.
A duração média da gravidez, calculada a partir do primeiro dia da última menstruação (DUM), é
geralmente de 280 dias, 40 semanas ou 10 meses lunares (NEME, 2000).
Neme (2000) também refere que, independente das discordâncias entre embriologistas e obstetras,
os termos adotados para designar os diferentes estágios de desenvolvimento do concepto são:
»» Ovo (ou óvulo fecundado): é o produto da concepção, assim chamado por duas
semanas.
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O CICLO GESTATÓRIO NORMAL │ UNIDADE I
<http://youtu.be/duMT_YcekDI>
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UNIDADE I │ O CICLO GESTATÓRIO NORMAL
Entende-se por anexos embrionários e fetais tudo que envolve diretamente o embrião e o feto, e que
se origina das células iniciais do ovo. Na figura ao lado, mostrando a imagem de um embrião com
aproximadamente seis semanas, já observamos a formação dos anexos: placenta, cordão umbilical,
membranas amnióticas e líquido amniótico (LA).
Placenta
A placenta humana inicia o seu desenvolvimento no sexto dia após a concepção, logo que o blastócito
inicia a invasão do endométrio (momento da implantação), mas somente no começo do 5º mês
pode ser considerada definitivamente formada, tendo adquirido morfologia e estrutura completas
(NEME, 2000; REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
A placenta apresenta uma face (ou lado) fetal, em contato com a cavidade amniótica e o cordão
umbilical, e uma face materna que no órgão delivrado notam-se 15 a 30 cotilédones. Geralmente, a
placenta está implantada no fundo do útero, mas pode apresentar-se inserida em localização mais
baixa (placenta prévia).
Rezende e Montenegro (2011) referem que a placenta tem três funções principais, todas essenciais
para a manutenção da gravidez e o desenvolvimento normal do embrião:
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O CICLO GESTATÓRIO NORMAL │ UNIDADE I
Fonte: Figura disponível em: < http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency >. Acessado em: 20 nov. 2012.
Cordão umbilical
Estrutura que liga o feto à placenta.
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UNIDADE I │ O CICLO GESTATÓRIO NORMAL
frouxos (falsos nós) e circulares de cordão umbilical, em volta do pescoço ou do tronco do feto. Os
nós verdadeiros são raros (REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
Ainda sobre a estrutura do cordão umbilical, Neme (2000) refere que o formato espiralado e
o espessamento endotelial contribuem significativamente para o cordão resistir às pressões
intrauterinas e trações fetais.
<http://youtu.be/atS9RrN3vn0>
<http://youtu.be/n_xnX-pExPY>
<http://revistas.pucsp.br/index.php/RFCMS/article/view/3898/pdf>
<http://sare.anhanguera.com/index.php/rensc/article/view/2264/1108>
<http://200.18.15.27/bitstream/handle/1/1065/Anne%20Mary%20Destro.
pdf?sequence=1>
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O CICLO GESTATÓRIO NORMAL │ UNIDADE I
No interior da bolsa amniótica, o feto flutua no líquido suspenso pelo cordão umbilical, o que lhe
permite crescimento e desenvolvimento livre de aderências. O sistema amniótico também o protege
contra traumatismos, “amortecendo” contra choques mecânicos e movimentos bruscos. Kobayashi
(2005) cita também outras importantes funções do líquido amniótico, como prevenção da compressão
do cordão umbilical e propriedades bacteriostáticas, protegendo o feto contra infecções.
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CAPÍTULO 3
Assistência pré-natal
De acordo com o Decreto no 94.406/1987, que regulamenta a Lei do Exercício da Enfermagem, o pré-
natal classificado como baixo risco pode ser realizado pelo enfermeiro. A este profissional também
incumbe, como membro da equipe de saúde, assistência obstétrica em situação de emergência e o
parto sem distocia (portal Cofen http://novo.portalcofen.gov.br, acessado em 15 de outubro de 2012).
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O CICLO GESTATÓRIO NORMAL │ UNIDADE I
É importante acolher a mulher e o seu acompanhante, não oferecendo obstáculos à sua participação
no pré-natal, trabalho de parto, parto e pós-parto. Vários estudos já demonstraram que as gestantes
que tiveram a presença de um acompanhante sentiram-se mais seguras e confiantes, além de
ter reduzido o uso de medicações para alívio da dor, duração do trabalho de parto e o número
de cesáreas. A equipe envolvida no pré-natal, ao entrar em contato com uma mulher gestante, na
unidade de saúde ou na comunidade, deve buscar compreender os significados da gestação e ouvir
a história daquela mulher e sua família, pois o contexto de cada gestação é determinante para o seu
desenvolvimento. O acolhimento expressa-se em atitudes, como os profissionais se apresentando,
chamando os(as) usuários(as) do serviço pelo nome, informando sobre condutas e procedimentos a
serem realizados, escutando e valorizando o que é dito pelas pessoas, garantindo a privacidade e a
confidencialidade, entre outras atitudes (BRASIL, 2006).
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_11.pdf>
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/parto.pdf>
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_puerperio_2006.pdf>
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UNIDADE I │ O CICLO GESTATÓRIO NORMAL
Na primeira consulta, quando realizada anamnese, exame físico geral e obstétrico, já é possível
identificar as gestantes que apresentam “fatores de risco” e encaminhá-las a um serviço especializado
para um acompanhamento adequado (pré-natal de alto risco), com maior número de consultas e
vigilância materno-fetal. Entretanto, é importante destacar que os riscos podem surgir a qualquer
momento na gestação e devem, portanto, ser pesquisados a cada consulta.
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_puerperio_2006.pdf
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_gestacao_alto_
risco.pdf>
Após acolhimento no serviço de saúde, nessa primeira consulta, a grávida receberá o cartão da
gestante, orientações sobre vacinas e pedido com solicitação dos exames de rotina. Deverá ser realizada
anamnese com levantamento dos antecedentes pessoais, familiares, ginecológicos e obstétricos, além
das informações sobre a gestação atual. O exame físico geral deverá ser completo, seguido pelo exame
obstétrico e ginecológico. As anotações deverão ser efetuadas no prontuário e no cartão da gestante e
em cada consulta deve-se reavaliar o risco obstétrico e perinatal (BRASIL, 2006).
»» Dispaurenia?
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O CICLO GESTATÓRIO NORMAL │ UNIDADE I
Gestação atual
»» Qual a data da última menstruação (DUM)? (anotar certeza ou dúvida).
»» Hábitos alimentares.
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UNIDADE I │ O CICLO GESTATÓRIO NORMAL
»» Uso de medicamentos.
O cálculo da DPP é feito considerando-se a duração média da gestação normal (280 dias ou 40
semanas a partir da DUM).
Exemplos:
Atenção: nos casos em que o número de dias encontrado for maior do que o número
de dias do mês, passar os dias excedentes para o mês seguinte, adicionando 1 ao
final do cálculo do mês.
Exemplo:
A estimativa da Idade Gestacional (IG) é feita a partir da DUM, utilizando-se a medida da altura do
fundo uterino (AFU) e pelo toque vaginal, além da informação sobre o início dos movimentos fetais
(geralmente percebidos pela mulher com 16-20 semanas). Quando não é possível determinar a IG
clinicamente, deve-se solicitar a ultrassonografia obstétrica o mais precoce possível.
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O CICLO GESTATÓRIO NORMAL │ UNIDADE I
Quando a DUM é desconhecida, mas se conhece o mês em que ela ocorreu, devemos questionar se
foi no início, meio ou fim do mês e considerar, respectivamente, como data da última menstruação
os dias 5, 15 e 25.
Quando a data e o mês da DUM são desconhecidos, a idade gestacional e a data provável do parto
serão estimadas pela medida da AFU, toque vaginal e informação da gestante sobre a percepção do
início dos movimentos fetais.
Exame obstétrico
Lembre-se de que o útero é palpável na altura da sínfise púbica com aproximadamente 12 semanas;
na 16a semana, o fundo uterino encontra-se entre a sínfise púbica e a cicatriz umbilical; na 20a
semana, o fundo do útero encontra-se na altura da cicatriz umbilical e, a partir daí, existe relação
direta entre as semanas da gestação e a medida da altura uterina (BRASIL, 2006).
Fonte: Figura disponível em: < http://medical-dictionary.thefreedictionary.com/fundus+of+uterus >.Acessado em: 23 nov. 2012.
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UNIDADE I │ O CICLO GESTATÓRIO NORMAL
Obs.: Rezende e Montenegro (2011) descrevem as manobras acima como “Manobras de Leopold-
Zweifel”
Neme (2000) detalha os quatro tempos da técnica palpatória recomendada pela escola alemã:
»» 1o tempo: palpação do fundo uterino (para ter uma ideia da altura e a apresentação
fetal que o ocupa – polo cefálico ou pélvico);
A situação fetal pode ser longitudinal, transversa ou oblíqua. Longitudinal é a mais comum, com o
feto em apresentação (porção fetal que se insinua na pelve) cefálica. A apresentação pélvica (“modo
de nádegas”) pode ser classificada em completa e incompleta. Na situação transversa, a apresentação
é chamada de córmica ou acromial (“de ombro”).
30
O CICLO GESTATÓRIO NORMAL │ UNIDADE I
Fonte: Figura disponível em: <http://www.abenfosp.com.br/mt/manual_ses.pdf>. Atenção à gestante e à puérpera no SUS – SP:
manual técnico do pré-natal
As manobras de palpação obstétrica e medida da altura do fundo uterino têm como objetivos:
identificar o crescimento fetal, diagnosticar os desvios de normalidade (acima ou abaixo do
esperado em relação à idade gestacional) e identificar a situação e a apresentação fetais (NEME,
2000; BRASIL, 2006; REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
Obs.: ainda em relação à palpação obstétrica, além da medida da altura uterina, é feita também
a verificação da circunferência abdominal, com a fita métrica posicionada ao nível da cicatriz
31
UNIDADE I │ O CICLO GESTATÓRIO NORMAL
umbilical. Na gestação a termo, essa medida corresponde a 90-92 cm. Na palpação abdominal,
também são observadas a consistência e a regularidade da superfície uterina, visando identificar,
respectivamente, as contrações uterinas (falsas – “Braxton-Hicks”, e verdadeiras do trabalho de
parto – dinâmica uterina), presença de nódulos e saliências (REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
Após a palpação abdominal, o próximo passo do exame obstétrico é a verificação dos batimentos
cardiofetais (BCF) – ausculta fetal.
Com o estetoscópio de Pinard (feito de madeira, alumínio ou plástico), é possível detectar o BCF em
torno de 20-22 semanas de gestação. Hoje em dia, este equipamento foi substituído pela ausculta
fetal realizada com o sonar-doppler (detector fetal), possível a partir de 10-12 semanas. O doppler
permite identificar também o pulso do cordão umbilical ou de qualquer outro grande vaso fetal
(NEME, 2000; REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
A frequência normal dos batimentos fetais oscila entre 120 e 160 bpm (em média 140). O BCF é
mais facilmente detectado no chamado foco máximo da ausculta (ou de escuta), ponto que varia
conforme a apresentação (NEME, 2000).
Fonte: Figura adaptada e disponível em: REZENDE, J. DE; MONTENEGRO, C. A. B. Obstetrícia Fundamental. 12a ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan. 2011. 710 p.
Obs. 1: alguns fatores podem prejudicar a detecção do BCF, especialmente quando utilizado o
estetoscópio de Pinard, como, por exemplo, o excesso de líquido amniótico (hidrâmnio), contração
32
O CICLO GESTATÓRIO NORMAL │ UNIDADE I
uterina, variedade de posição e atitude fetal, maior espessura da parede abdominal (tecido adiposo),
entre outros.
Obs. 2: na dúvida quanto ao pulso detectado, se ele é fetal ou materno, preconiza-se contar as
pulsações da paciente.
Exame ginecológico
A assistência pré-natal proporciona uma excelente oportunidade para realizarmos um check-up da
saúde geral e reprodutiva de muitas mulheres. Um exemplo bastante claro disso é a realização da
colpocitologia oncótica (exame preventivo do câncer cérvico-uterino, o Papanicolau), pois muitas
pacientes chegam ao serviço de saúde com atrasos na realização do exame e algumas, inclusive,
nunca o fizeram.
Novais e Laganá (2009) citam que a gestação gera desequilíbrio na flora vaginal, favorecendo o
aparecimento tanto do Papiloma Vírus Humano, do inglês Human Papilloma Virus (HPV), quanto
de outros agentes infecciosos. Embora a incidência do câncer de colo do útero não seja alterada
pela gestação, este tipo de câncer tem alta incidência de detecção na gravidez, uma vez que estas
mulheres buscam o serviço de saúde para a realização do pré-natal.
O exame especular por si só faz parte do exame ginecológico e deve ser feito durante a primeira
consulta de pré-natal. Como referido por Neme (2000), o especular permite observar as paredes
vaginais, os fundos de sacos vaginais e, principalmente, o colo uterino (sua forma, posição, dimensões,
coloração, aspecto do orifício externo, permeabilidade (entreaberto ou fechado) e eventuais lesões).
Serve também para a prática da colposcopia e colher a citologia oncótica.
Obs.: o Papanicolau pode ser feito em qualquer trimestre, embora sem a coleta endocervical,
seguindo as recomendações vigentes (BRASIL, 2006).
<http://youtu.be/95-t3FeiAXk>
33
UNIDADE I │ O CICLO GESTATÓRIO NORMAL
O toque vaginal pode ser uni ou bidigital, este último de preferência durante a gestação por fornecer
melhor obtenção dos dados obstétricos. Durante o parto, pode-se, ainda, praticar o toque manual,
mas sua execução far-se-á preferencialmente com a paciente anestesiada. Posicionar adequadamente
a mulher na mesa ginecológica (ou na cama) e informar sobre o exame a ser realizado ajudará a
mantê-la relaxada, o que facilita a execução do procedimento (NEME, 2000).
Rezende e Montenegro (2011) referem que é de boa técnica fazer o toque vaginal com a bexiga e o reto
esvaziados e que durante a gestação, o toque combinado permite avaliar o volume uterino, quando
o órgão ainda não se encontra acessível à palpação abdominal, sendo útil, portanto, ao diagnóstico
da gravidez. Nas proximidades do parto e no trabalho de parto, é possível avaliar as condições do
colo, relações entre a apresentação e a bacia (insinuação, proporcionalidade), características do
trajeto ósseo, acompanhar a dilatação cervical, a progressão fetal e precisar o tipo de apresentação,
de posição e suas variedades.
Fonte: Figura disponível em: REZENDE, J. DE; MONTENEGRO, C. A. B. Obstetrícia Fundamental. 12a ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan. 2011. 710 p.
»» Sorologia anti-HIV: este exame deverá ser oferecido a toda gestante. Realizar
aconselhamento pré e pós-teste.
34
O CICLO GESTATÓRIO NORMAL │ UNIDADE I
»» Sorologia para sífilis (VDRL): se for negativo, repetir a cada trimestre. Resultado
positivo necessita de confirmação com o FTA-ABS. Nos casos positivos, tratar a
mulher e o parceiro para evitar a evolução da doença e a sífilis congênita. Orientar
sobre os cuidados preventivos.
»» Sorologia para rubéola. Se for negativa, tomar cuidado para evitar exposição
desnecessária ao vírus. Vacinar imediatamente no pós-parto.
»» Glicemia em jejum.
»» Parasitológico de fezes.
<http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v31n3/a08v31n3.pdf>
<http://www.scielo.br/pdf/ean/v13n1/v13n1a20.pdf>
Faça uma análise do caso clínico apresentado abaixo e responda aos questionamentos
solicitados.
A.M.S, 37 anos, parda, brasileira, procedente de Rio Branco (AC), solteira, trabalha como
doméstica. Comparece para primeira consulta de pré-natal em Unidade Básica de
35
UNIDADE I │ O CICLO GESTATÓRIO NORMAL
Saúde. É G4P2(1PN; 1PC)A1 e relata DUM em 15/6/2012. Informa que há um ano e dois
meses, “o bebê estava sofrendo e precisou ser tirado rápido por cesariana”, nascendo
com 38 semanas de gestação e pesando 2.400 g. A criança foi a óbito com cinco dias
de vida. O outro filho, nascido de parto normal há três anos, pesou 2.580 g, está vivo
e é saudável. Relata, ainda, que sofreu um aborto espontâneo aos 16 anos de idade. A
paciente refere tabagismo (10 cigarros /dia), nega ingestão de bebida alcoólica e uso
de drogas ilícitas. Nega antecedentes pessoais patológicos e informa antecedentes
familiares de mãe hipertensa e pai já falecido (não sabe a causa).
Ao exame:
Peso: 77 kg
PA: 130/90 mmHg
FC: 82 bpm
BCF: 130 bpm e movimentação fetal presente
AFU: 20 cm
36
o PROCESSO DE Unidade iI
PARTURIÇÃO
CAPÍTULO 1
Assistência à parturiente
De acordo com Neme (2000), deve-se a Osiander a introdução do vocábulo obstetrícia, palavra
que deriva do latim, do verbo obstare, significando permanecer ao lado da parturiente.
37
UNIDADE II │ o PROCESSO DE PARTURIÇÃO
Alguns autores chamam de “fase latente” ao final do pré-parto ou ao início do trabalho, quando
as contrações uterinas, embora rítmicas, não determinam a dilatação progressiva do colo, embora
tenham se acentuado as modificações cervicais (esvaecimento e dilatação) (NEME, 2000; REZENDE;
MONTENEGRO, 2011).
Obs.: o apagamento e a dilatação cervical são produzidos pelas contrações uterinas e pelas
modificações bioquímicas do colo no final da gravidez. O apagamento é a redução do comprimento
do canal cervical. Quando o colo está 100% apagado, o orifício cervical externo confunde-se com o
interno. Como ressaltado anteriormente, geralmente a primípara completa o apagamento antes de
iniciar a dilatação e, na multípara, os processos de apagamento e de dilatação cervical costumam
ocorrer simultaneamente (FESCINA et. al., 2010).
Rezende e Montenegro (2011) descrevem que nem sempre é fácil determinar quando a gestante
torna-se uma parturiente (mulher em trabalho de parto), mas podemos considerar os seguintes
elementos (que isoladamente não possuem valor absoluto e, sim, em conjunto):
»» Colo apagado, nas primíparas, e dilatado 2 cm; nas multíparas, colo semiapagado
e com 3 cm de dilatação.
A dilatação cervical é medida em centímetros (0 a 10) e, de forma indireta, por meio do toque vaginal,
tornando a medida muito subjetiva e podendo variar de um examinador para outro. A duração
média da fase ativa do trabalho de parto é em torno de 6 horas para primigestas (com velocidade de
dilatação de 1,0 a 1,2 cm/h) e, em multíparas, duração de 2,5 a 3 horas (com velocidade de dilatação
de 1,5 cm/h). Assim como o período latente, o início da fase ativa é difícil de ser determinado com
precisão. A duração do parto em nulíparas normais não deve ultrapassar 12 horas, e 8 horas para as
multíparas. (NEME, 2000).
38
o PROCESSO DE PARTURIÇÃO │ UNIDADE II
O período de dilatação termina quando o útero (com a cérvice totalmente dilatada) e a vagina formam
uma cavidade única (canal de parto), por onde o feto deverá passar. Lembramos que durante o
primeiro e o segundo períodos clínicos do parto, ocorre também a descida fetal, a qual pode ser
verificada a altura em que se encontra no canal do parto pelo exame de toque vaginal.
Obs.: na maioria das vezes, a ruptura espontânea da bolsa (amniorrexe) ocorre no final do
período de dilatação. Em alguns casos e, após criteriosa avaliação, pode ser indicado realizar a
amniotomia (ruptura artificial das membranas amnióticas), para acelerar o trabalho de parto ou
avaliar as características do líquido amniótico. É importante esclarecer que este procedimento
não é obrigatório quando a parturiente recebe analgesia de parto e o ideal é que a ruptura das
membranas ocorra naturalmente.
Quando a ruptura da bolsa ocorre em pelo menos uma hora antes do início
do trabalho de parto, é classificada como Ruptura Prematura de Membranas
Amnióticas (Roprema) ou apenas Ruptura Prematura de Membranas Ovulares
(RPM). Se após a ruptura das membranas, demorar mais de 24 horas para ocorrer o
parto, é considerado um período prolongado, e isso está associado a maior índice de
infecção ovular, fetal/neonatal e prematuridade (FESCINA et. al., 2010).
Durante todo o trabalho de parto, o enfermeiro deverá acompanhar a evolução da dinâmica uterina
(D.U), o BCF, os sinais vitais da parturiente (especialmente a PA), a dilatação e as perdas vaginais
(tampão, sangue e líquido amniótico). A verificação da DU, BCF e PA são procedimentos realizados
a cada hora. Conforme progride a fase ativa do trabalho de parto, o controle do BCF é reduzido para
cada 30 minutos. É recomendado que o exame de toque vaginal seja feito o mínimo possível, sempre
respeitando a execução da técnica, privacidade, conforto e higiene da parturiente.
<http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v31n10/08.pdf>
<http://www.actamedicaportuguesa.com/pdf/2008-21/3/229-240.pdf>
Todos os dados obtidos no exame da parturiente deverão ser registrados no prontuário, inclusive
com o preenchimento correto do partograma, instrumento impresso que facilita a comunicação e
o acompanhamento do trabalho de parto, com o seu uso recomendado pela OMS e o Ministério da
Saúde (ROCHA et. al., 2009).
39
UNIDADE II │ o PROCESSO DE PARTURIÇÃO
O partograma é um gráfico que representa o trabalho de parto e permite acompanhar a sua evolução,
documentar, diagnosticar alterações e indicar a tomada de condutas apropriadas para corrigir estes
desvios, evitando, ainda, as intervenções desnecessárias (BRASIL, 2001).
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_13.pdf>
<http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43n4/a20v43n4.pdf>
A duração desse período é variável, de acordo com vários fatores como a paridade materna,
volume da apresentação fetal, intensidade da contração uterina, posição materna etc. Há uma
tendência em se admitir 30 minutos de período expulsivo para multíparas e 60 minutos para
primíparas (NEME, 2000).
Com a dilatação total, a apresentação fetal desce, apoiando-se no assoalho perineal e tracionando
os músculos elevadores do ânus. Durante as contrações uterinas na fase expulsiva, o ânus distende-
se, provocando na parturiente sensação de defecção e “necessidade de fazer força para baixo”. A
força contrátil da parede abdominal, do diafragma e a oclusão da glote tornam os “puxos” (esforços
expulsivos maternos) mais efetivos, auxiliando na expulsão do feto. Isso exige uma participação
materna ativa, sem a qual se prolonga o desprendimento fetal (NEME, 2000; BRASIL, 2001).
O feto é o “móvel” ou “objeto”, que percorre o “trajeto” (bacia), impulsionado pelo “motor”
(contrações uterinas).
40
o PROCESSO DE PARTURIÇÃO │ UNIDADE II
se desde o início do trabalho de parto até a expulsão total do feto. Na sequência, ocorre a rotação
interna da cabeça e a insinuação simultânea das espáduas. Terminado o movimento de rotação
interna, o desprendimento dá-se por movimento de deflexão da cabeça, seguido por sua rotação
externa, rotação interna das espáduas e desprendimento delas.
Figura 19. O mecanismo do parto em OEA. A & B. O movimento de restituição da cabeça ou rotação externa. C
& D. Respectivamente, o desprendimento do ombro anterior e do posterior.
Fonte: Figura disponível em: REZENDE, J. DE; MONTENEGRO, C. A. B. Obstetrícia Fundamental. 12a ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan. 2011. 710 p.
41
UNIDADE II │ o PROCESSO DE PARTURIÇÃO
Figura 21. Assistência ao desprendimento dos ombros. A. libertação do ombro anterior e B. Do ombro posterior.
Desnecessário acentuar que as trações devem ser delicadas para não traumatizar o nascituro.
Fonte: Figura disponível em: REZENDE, J. DE; MONTENEGRO, C. A. B. Obstetrícia Fundamental. 12a ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan. 2011. 710 p.
42
o PROCESSO DE PARTURIÇÃO │ UNIDADE II
Pode ser necessário efetuar a episiotomia, feita com tesoura ou bisturi, e, geralmente a incisão é
médio-lateral ou lateral. (Obs.: a episiotomia e episiorrafia são competência do enfermeiro obstetra
e do médico). A episiotomia não deve ser procedimento de rotina e, sim, realizada após avaliação
dos critérios para seu emprego durante o parto. Conforme publicado pela OMS (1996), em algumas
situações, a episiotomia está indicada, como, por exemplo: sinais de sofrimento fetal, progressão
insuficiente do parto e ameaça de laceração de terceiro grau. O profissional deve ser habilitado para
suturar lacerações e episiotomias de modo adequado, devendo receber treinamento para isso.
Por vezes, para auxiliar a expulsão fetal, um ajudante qualificado realiza a manobra de Kristeller,
mas este procedimento não é inofensivo. Desarranja a contratilidade uterina, produz hipertonia e
repercute de forma perigosa sobre o feto (REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
Além das complicações citadas, a manobra de Kristeller está associada à ruptura uterina, lacerações
perineais, fraturas e danos cerebrais ao feto (MURRAY; HUELSMANN, 2009).
A OMS (1996) classifica a pressão no fundo uterino no período expulsivo como “prática em relação
à qual não existem evidências suficientes para apoiar uma recomendação clara e que devem ser
utilizadas com cautela até que mais pesquisas esclareçam a questão (categoria C)”.
O recém-nascido apresentando boa vitalidade (ativo e reativo) deverá ter o cordão umbilical
clampeado tardiamente (após parar de pulsar – aproximadamente três minutos após o nascimento),
seu corpo secado e colocado de bruços sobre o abdome da mãe, coberto com pano seco e quente.
O aleitamento materno deverá ser iniciado precocemente, ainda na sala de parto. Isso favorece o
vínculo, a nutrição da criança e a prevenção de hemorragias na puérpera (BRASIL, 2011).
43
UNIDADE II │ o PROCESSO DE PARTURIÇÃO
<http://youtu.be/N5s_sKAiQZ4>
44
o PROCESSO DE PARTURIÇÃO │ UNIDADE II
Placenta: <http://youtu.be/Mmx0iCWemZU>
No sítio placentário (onde a placenta estava inserida), após o descolamento forma-se uma ferida
viva, com os seus vasos abertos, dando saída a certa quantidade de sangue, até que se fechem,
pelo mecanismo descrito por Pinard (ligaduras vivas), consequente à retração uterina (REZENDE;
MONTENEGRO, 2011).
Nessa primeira hora após a saída da placenta, período crítico para o aparecimento de hemorragia
puerperal e choque, o enfermeiro deverá estar apto a avaliar a altura e a consistência firme e
permanente do útero (o que Pinard chamou de “globo de segurança”).
J.B.S, 31 anos, branca, brasileira, procedente de Ribeirão Preto (SP), casada, trabalha
como comerciante. Comparece ao pronto-socorro acompanhada do marido,
referindo que “a bolsa rompeu” há meia hora e está “sentindo contrações”. É G., P2 (2PN)
45
UNIDADE II │ o PROCESSO DE PARTURIÇÃO
A0 e relata DUM em 7/3/2012. Refere que no último parto, há dois anos, apresentou
hemorragia quando já estava no quarto e que o filho nasceu com 39 semanas de
gestação, boas condições e pesou 4.070 g. Nega patologias ou complicações em
gestação atual.
46
PERÍODO Unidade iII
PUERPERAL
CAPÍTULO 1
Assistência à puérpera
O puerpério tem início com a expulsão total da placenta e das membranas ovulares, mas em relação
ao término do período, existem várias definições. Segundo Neme (2000), para alguns autores o final
do puerpério levaria de oito meses a um ano para a mulher retornar ao estado pré-gravídico. Para
outros, o término natural da lactação ou o retorno das menstruações marcaria o final do puerpério.
»» Puerpério mediato: vai do final da fase imediata até o 10o dia, quando a regressão
dos órgãos genitais é evidente, os lóquios são escassos e a lactação (se não impedida),
está plenamente instalada.
47
UNIDADE III │ PERÍODO PUERPERAL
»» Puerpério tardio: segue do 11o dia até o reinício dos ciclos menstruais nas
mulheres que não amamentam e até a 6a -8a semana nas lactantes.
A hemorragia puerperal é uma das principais causas de mortalidade materna, mas pode ser evitada
mediante rigorosa assistência à dequitação e quarto período do parto (BRASIL, 2001).
Grande parte das hemorragias puerperais é atribuída à atonia uterina devido à exaustão
miometrial. O parto prolongado é o fator de risco mais importante para que as fibras do miométrio
tornem-se incapazes de realizar o miotamponamento.
Na maioria das vezes não se observa sangramento abrupto e profuso e, sim, perdas sanguíneas
moderadas e persistentes. Conforme visto no capítulo anterior, é de grande importância a avaliação
da contração uterina no pós-parto imediato e a quantidade de lóquios eliminada. Se o útero
apresentar consistência amolecida ou volume maior que esperado (por acúmulo de sangue), deve
ser realizada massagem uterina para estimular sua retração e eliminação de coágulos pela vagina.
Ressaltamos novamente que após a expulsão da placenta (dequitação), deverá ser realizada a
revisão da mesma, dos anexos (membranas e cordão umbilical) e do canal de parto, para avaliar
a integridade e presença de restos placentários na cavidade uterina. A identificação de lacerações,
tocotraumatismos e retenção de restos placentários permite uma intervenção precoce reduzindo o
risco de complicações. Métodos adicionais, medicamentosos ou cirúrgicos podem ser empregados
no controle da hemorragia, como administração profilática de ocitocina, ergometrina, ligadura de
artérias hipogástricas e, como último recurso, a realização de histerectomia. Esse procedimento
deve ficar restrito aos casos em que os métodos conservadores mostrem-se ineficazes para controlar
o sangramento, numa tentativa heroica de preservar a vida materna.
Neme (2000) destaca que as puérperas deverão permanecer acamadas e sob maior vigilância
no puerpério imediato, pois neste período são mais frequentes as complicações hemorrágicas
48
PERÍODO PUERPERAL │ UNIDADE III
e os óbitos maternos. É comum que muitas puérperas estejam exaustas, sonolentas e durmam
profundamente. Na posição de decúbito dorsal horizontal, em casos de atonia uterina, o sangue
armazena-se intraútero e nos fundos de sacos vaginais. Assim, a puérpera pode entrar em choque e
ir a óbito, sem queixa e dormindo.
Os calafrios surgem com frequência, ainda na sala de parto, sala de recuperação ou já no aconchego
do leito. Neme (2000) refere que tal ocorrência tem sido atribuída a estímulos nervosos (liberação
de catecolaminas), resfriamento corporal agravado pela restrição alimentar e invasão sanguínea por
germes (bacteremia) e produtos tóxicos advindos da fenda placentária.
Cabe ressaltar que tal bacteremia é transitória, fisiológica e não significa início de processo infeccioso.
Não é incomum ocorrer certa elevação da temperatura corporal (até 37,9ºC), nas primeiras 24 a 72
horas pós-parto, mas o normal é a ausência de febre. Alguns autores justificam essa hipertermia
pela existência no canal de parto de pequenas soluções de continuidade, por meio das quais germes
e produtos tóxicos locais invadem a circulação materna nas primeiras 72 horas do pós-parto, sem a
instalação de quadro infeccioso evidente (NEME, 2000).
A chamada “febre do leite” (apojadura no 3o dia) seria fisiológica para alguns autores,
enquanto outros consideram essa febre resultante da ascensão de germes vaginas
à cavidade uterina.
Todas as modificações ocorridas no organismo materno durante a gestação agora vão aos poucos
retornando às condições pré-gravídicas. Sistemas cardiovascular, respiratório, digestivo, endócrino,
osteoarticular, tegumentar e neuropsíquico passam por alterações anatômicas e fisiológicas
esperadas na fase puerperal.
Após o parto, o útero involui rapidamente e, em geral, a altura uterina reduz 1 cm por dia até o terceiro
dia pós-parto e depois 0,5 cm até o 12º dia, quando o fundo do corpo uterino encontra-se na borda
superior da sínfise púbica. O fenômeno de involução e recuperação sofre influência de algumas
condições, tornando-se mais lento nos casos de grandes distensões durante a gestação (polidrâmnio,
gemelar), após cesárea, nas puérperas que não amamentam e quando se instala infecção (endometrite).
Por outro lado, a involução é mais rápida em puérperas lactantes, grandes multíparas e naquelas
mulheres que se mobilizam e fazem atividade física precocemente (NEME, 2000).
49
UNIDADE III │ PERÍODO PUERPERAL
<http://www.scielo.org.co/pdf/iee/v29n1/v29n1a05.pdf>
Deve-se suspeitar de TVP se a puérpera apresentar dor (espontânea ou quando realizada a manobra
de Homans e Bandeira, descrita logo abaixo), edema unilateral e taquicardia com febre baixa.
Barros et. al. (2002) citam o exame físico no puerpério como parte da consulta realizada pelo
enfermeiro e a avaliação dos membros inferiores com inspeção e palpação identifica a presença
de edema, varizes e alterações tromboembólicas. Para detecção de problemas tromboembólicos
realizam-se as manobras de Homans e Bandeira. Com a puérpera em decúbito dorsal horizontal
e membros inferiores afastados, o examinador deve erguer primeiro uma das pernas da paciente,
flexionando o pé sobre a perna (dorsiflexão do tornozelo). Na existência de dor ao longo da perna
(massa muscular da panturrilha) e/ou coxa, diz-se que o resultado é positivo. Complementa-se a
pesquisa com a manobra de Bandeira que consiste na palpação da panturrilha e na confirmação da
dor no ponto referido na manobra anterior.
<http://www.elsevier.es/sites/default/files/elsevier/eop/S0870-2551(12)00069-8.
pdf>
<http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2009/v37n11/a004.pdf>
50
PERÍODO PUERPERAL │ UNIDADE III
O exame físico geral e obstétrico envolve a aferição dos sinais vitais, verificação de edema, inspeção
de mamas, períneo e incisão da cesárea, avaliação dos lóquios e palpação do abdome. Qualquer
anormalidade encontrada deve ser imediatamente comunicada e resolvida pela equipe.
A ferida cirúrgica deve ser observada quanto à presença de sinais flogísticos (dor, calor, rubor e
edema) e secreções (sangue ou pus). Lembre-se de que a deiscência de sutura é algo bastante comum
decorrente da infecção no local dos pontos.
Algumas orientações quanto à higiene do períneo devem ser reforçadas, como, por exemplo: lavar
a região com água e sabão neutro, especialmente após as eliminações, secar bem e realizar a troca
frequente dos absorventes. É contraindicado passar qualquer produto na episiorrafia ou na incisão
da cesárea, realizar duchas vaginais levantar pesos.
51
CAPÍTULO 2
Aleitamento materno
Figura adaptada e disponível em: KING, F. Savage. Como ajudar as mães a amamentar / F. Savage King; Tradução de Zuleika
Thomson e Orides Navarro Gordon. – 4 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
Rezende e Montenegro (2011) referem que a fisiologia mamária está intimamente ligada à esfera
neuroendócrina, podendo ser dividida em três processos:
52
PERÍODO PUERPERAL │ UNIDADE III
A unidade funcional da mama é o ácino, ou alvéolo mamário, forrado por uma camada de células
epiteliais secretoras de leite. Cada ácino está envolvido por células mioepiteliais e encorpada rede
capilar. O desenvolvimento da glândula mamária inicia-se na puberdade e termina com o climatério.
Na gravidez, por ação de diversos hormônios (estrogênio, progesterona, prolactina, lactogênio
placentário humano, hormônio de crescimento, entre outros), o crescimento da mama é acelerado
(REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
Fonte: Figura adaptada e disponível em: KING, F. Savage. Como ajudar as mães a amamentar / F. Savage King; Tradução de Zuleika
Thomson e Orides Navarro Gordon. – 4a ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
A prolactina mantém a secreção láctea e a ocitocina age nas células mioepiteliais e musculares,
situadas, respectivamente, ao redor dos ácinos e dos canais intralobulares, determinando a contração
deles com a consequente ejeção láctea. Boas condições emocionais, além de outros fatores, são
indispensáveis para a lactopoese (REZENDE; MONTENEGRO, 2011).
53
UNIDADE III │ PERÍODO PUERPERAL
Fonte: Figura adaptada e disponível em: KING, F. Savage. Como ajudar as mães a amamentar / F. Savage King; Tradução de Zuleika
Thomson e Orides Navarro Gordon. – 4a ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
Conforme citado por Neme (2000), nos primeiros dias pós-parto a glândula mamária secreta
colostro, seguido por uma a duas semanas de leite de transição, para então iniciar a produção do
chamado leite maduro. A manutenção da produção láctea depende, diretamente, da secreção de
prolactina (produzida na hipófise anterior) a qual, para permanecer elevada, é de vital importância
a sucção da mama pelo recém-nascido. Já a ocitocina (secretada pela porção posterior da hipófise),
é o hormônio que promove o estímulo fisiológico para ativação das células mioepiteliais e está
intimamente relacionado à resposta reflexa da estimulação da aréola e do mamilo durante a sucção.
Os estímulos dolorosos e estresse psicológico atuam por meio da liberação de catecolaminas,
antagonizando o reflexo de ejeção.
O ideal é que o aleitamento materno seja iniciado o mais precocemente possível, logo após a
expulsão fetal e antes mesmo que ocorra a dequitação. A sucção imediata do seio estimula a
produção de ocitocina que favorece a expulsão da placenta, em virtude da contração uterina. Neme
(2000) refere que nos primeiros 30 minutos pós-parto, a puérpera e o recém-nascido estão muito
ativos e espertos, momento de máxima estimulação e favorecimento para a lactação. A oferta do
primeiro leite (colostro) é importante do ponto de vista imunológico e para estimular os primeiros
movimentos peristálticos eficazes, e consequentemente a maior eliminação de mecônio.
54
PERÍODO PUERPERAL │ UNIDADE III
Inúmeras são as vantagens da amamentação, não somente para a mulher e o bebê, mas, também, do
ponto de vista social e econômico.
A respeito dos benefícios da amamentação para a saúde da mulher, Rea (2004) destaca retorno
ao peso pré-gestacional mais precocemente, involução uterina mais rápida e menor sangramento
uterino (consequentemente, menos anemia), maior espaçamento intergestacional, menor risco
para apresentar doenças como câncer de mama, ovário, artrite reumatoide e certas fraturas ósseas,
por osteoporose.
http://www.scielo.br/pdf/csp/v24s2/09.pdf
Para prevenir tais ocorrências, recomenda-se que os seios sejam “preparados” para o aleitamento
durante toda a gestação, com o banho de sol (até 10h00min e após 16h00min) por 10 minutos, com
as mamas expostas e bem ventiladas (isso aumenta a epitelização e a resistência local). A gestante
e posteriormente puérpera deverá ser orientada a não passar nada nos mamilos e aréolas. No pós-
parto, se já estiverem feridos, permite-se apenas que passe o próprio leite, deixando secar ao sol.
A higiene das mamas é feita com o banho diário, tendo o cuidado de não lavar demasiadamente a
aréola e mamilo e, principalmente, evitar o uso de sabão nestas áreas, pois isso produz ressecamento
e tira a oleosidade e proteção natural da região.
É importante frisar que as escoriações e fissuras são decorrentes da pega incorreta feita pelo bebê,
quando ele não pega parte suficientemente boa da mama (abocanhando a aréola) e suga apenas
o mamilo. Portanto, o primeiro passo para evitar tais problemas é amamentar corretamente,
corrigindo desde o início qualquer posição ou pega inadequada da criança. Quando as mamas estão
ingurgitadas (túrgidas, distendidas e dolorosas), o bebê não consegue abocanhar a aréola de maneira
eficaz, sugando apenas o mamilo. Isso ocasionará traumatismos e dor na região. A orientação para
evitar o ingurgitamento mamário é simples e deve ser ensinada a toda nutriz. O bebê deverá sugar
e esvaziar adequadamente um seio a cada mamada e, não, intercalando ambos os seios durante a
mamada. Isso faz com que a mama seja corretamente esvaziada, além do que a criança receberá
55
UNIDADE III │ PERÍODO PUERPERAL
todos os nutrientes necessários com o leite anterior (mais rico em água) e o leite posterior (mais
rico em gordura). É fundamental que, se a mama estiver muito cheia, seja ordenhada manualmente
antes que se coloque a criança ao seio. Dessa forma, a aréola estará flexível e permitirá que o bebê
efetue a pega corretamente. O uso de sutiã com alças largas produz uma boa sustentação das mamas
e deve ser recomendado para evitar a retenção de leite por “acotovelamento” dos canais galactóforos
e consequente falta de esvaziamento da mama. A amamentação feita com uma técnica adequada
não dói e produz desconfortos. Se a puérpera queixa-se de dor quando a criança suga, algo está
errado e deverá ser prontamente investigado e corrigido.
Uma causa frequente do desmame ocorre quando a mãe alega que “o bebê chora muito”, “meu
leite não está sustentando”, enfim, frases relacionadas ao conhecimento errôneo de “leite fraco”.
Oriente-a que o leite materno contém todos os nutrientes necessários para o crescimento adequado
da criança e deve ser oferecido, exclusivamente, até o sexto mês de vida, sem a necessidade de
outros complementos, como água, chás e leite de vaca.
Antigamente, era recomendado que fossem feitos “exercícios” com os mamilos, com
o objetivo de deixa-los mais protrusos. Tal técnica, conhecida como “exercícios de
Hoffman”, não é recomendada atualmente na prática do aleitamento materno.
<http://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/3259.pdf>
Com a mama ingurgitada (estase láctea) e o mamilo ferido (escoriado ou fissurado), abrem-se
“portas de infecção” para microrganismos adentrarem a glândula mamária por meio de soluções
de continuidade, favorecendo o aparecimento da mastite puerperal. Essa patologia geralmente é
unilateral, mas pode acometer as duas mamas simultânea e/ou consecutivamente.
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PERÍODO PUERPERAL │ UNIDADE III
O enfermeiro deverá fazer uma avaliação frequente da mama comprometida e do estado geral da
puérpera, além de ordenhar manualmente a mama em caso de ingurgitamento, auxiliar na técnica
de amamentação, acompanhar a evolução do quadro e realizar curativos se houver necessidade.
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Para (não) finalizar
A gestação, o parto e o puerpério são períodos de grandes transformações na vida de uma mulher,
um casal, uma família. O nascimento de uma criança não deve ser visto apenas como processo
fisiológico de parir, mas compreendido em sua totalidade, com as crenças, valores e culturas que
traz consigo.
Compreender essa individualidade significa entender que cada nascimento é único e especial, devendo
ser respeitadas as decisões da mulher e o ritmo natural do seu corpo, evitando as intervenções e
cesáreas desnecessárias, assim como as condutas mecanizadas no parto. A mulher tem o direito
de vivenciar o seu parto humanizado, assim como de ter ao lado um profissional qualificado que
ampare e proporcione, com segurança, a chegada do bebê.
O enfermeiro é peça fundamental na assistência obstétrica, a começar no pré-natal, com seu papel
educativo, de orientação e preparo da gestante para o parto.
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REFERÊNCIAS
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guia para a prática assistencial. 1. ed. São Paulo: Roca, 2002.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher.
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Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica da Mulher. – Brasília: Ministério da Saúde, 2001. 199 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher.
Humanização do parto – Humanização no Pré-natal e nascimento. Brasília: Ministério da
Saúde, 2002.
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Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno. – Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
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KING, F. Savage. Como ajudar as mães a amamentar / F. Savage King; Tradução de Zuleika
Thomson e Orides Navarro Gordon. – 4. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
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Referências
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Janeiro. Koogan, 1998.
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