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AVALIAÇÃO INFANTOJUVENIL:

EMOÇÕES , AFETOS E
COMPORTAMENTOS
O QUE SÃO EMOÇÕES

As emoções desempenham importante papel ao longo da


vida, estando no cerne de processos essenciais ao
desenvolvimento humano, como o estabelecimento de
vínculos sociais, bem-estar, saúde mental e física, e
adaptação às normas sociais, relacionando-se, assim,
tanto ao funcionamento adaptativo quanto não adaptativo
dos sujeitos (Baron�Cohen et al., 1999; Damásio, 1998).
Na visão fisiológica das
emoções, sistemas como
expressão facial, tônus muscular,
tom de voz, sistema nervoso
autônomo e sistema endócrino
são alterados (Ekman &
Davidson, 1994).

Na visão cognitiva, há alteração


na atenção, ativação de circuitos
de memória, influência na tomada
de decisão, e modificações
comportamentais (Harlé, Shenoy
& Paulus, 2013).
As emoções influenciam os processos cognitivos e
comportamentais (Gross & Thompson, 2007) e são de
grande ajuda em nosso cotidiano, pois podem dirigir a
atenção para as principais características do ambiente,
otimizar o consumo sensorial, adequar tomadas de decisão,
promover respostas comportamentais esperadas e
adaptadas, facilitar interações sociais, e melhorar o
armazenamento e recuperação da memória (Gross, 2013;
Wilker, Elbert & Kolassa, 2013).
EMOÇÕES PRIMARIAS

São consideradas integrantes


do sistema emocional do ser humano.

ALEGRIA MEDO

SURPRESA
RAIVA

TRISTEZA NOJO
Emoções autoconscientes e avaliativa

Surgem posteriormente às emoções primárias e


juntamente com o desenvolvimento da consciência,
ainda na infância, contribuindo para o crescimento da
autorregulação do comportamento.

Vergonha
Culpa

Orgulho
Para a criança conseguir controlar seu
comportamento ela precisa regular suas
emoções, especialmente as negativas, ou
seja, há conexão direta entre manifestação
comportamental e regulação emocional
(Eisenberg, Hofer, Sulik & Spinrad, 2014).
EMOÇÕES, AFETOS E
COMPORTAMENTOS NO
DESENVOLVIMENTO INFANTOJUVENIL

Na infância e na adolescência
ocorrem constantes e
importantes aquisições nas
diferentes áreas do
desenvolvimento humano:
neurológica, cognitiva, social
e afetiva.
As crianças de seis meses são
Aos dois meses Três e sete meses são capazes de diferenciar alegria
capazes de categorizar
expressa sua e tristeza em
algumas emoções e faces conhecidas, e com um ano
emoção com o sorriso distinguir faces conhecidas de idade já discriminam e utilizam
para pessoas (Nelson & de Haan, 1997). expressões faciais na
familiares. intenção de dirigir comportamentos
Aos cinco, atentam mais maternos.
para Com dois anos as crianças
Aos três meses é sorrisos do que expressões falam
neutras (Bazhenova, sistematicamente sobre emoções.
responsivo a
Stroganova, Doussard- Aos três, já sabem distinguir
expressões faciais Roosevelt, Posikera expressões faciais de alegria,
conhecidas & Porges, 2007). tristeza, raiva e medo, apontando
ou nomeando, com maior precisão
a de alegria.
O desenvolvimento emocional e comportamental,
portanto, percorre sistemas mais simples até aos
mais complexos e acompanha aquisições
dependentes da maturação neuronal,
aprendizagem social, processamento emocional,
cognição social, regulação emocional e
reconhecimento de faces.
O desenvolvimento do córtex pré-frontal desempenha
função fundamental na maturação das capacidades cognitivas
superiores, isto é, na habilidade em filtrar e excluir informações
desnecessárias e tomar decisões e ações adequadas tendo
em vista o controle cognitivo frente aos estímulos, bem como
nos processos emocionais (Damásio, 1998; Esslen et al.,
2004).
A (des)regulação emocional orienta o entendimento da etiologia, expressão
e curso de psicopatologias (Southam-Gerow & Kendall, 2002), como por
exemplo no transtorno de espectro autista (Leung, Vogan, Powell, Anagnostou
& Taylor, 2015).
Déficits na compreensão e no processamento emocional podem ocasionar
expressivas dificuldades interacionais. Assim, avaliar componentes da
emoção, como regulação emocional, reconhecimento facial de emoções, é
essencial para compreender as manifestações comportamentais e a
competência social da criança e adolescente, auxiliando no processo de
identificação de psicopatologia.
Emoções, afetos e comportamentos nas psicopatologias da
infância e adolescência

A habilidade de regulação emocional está diretamente ligada aos


comportamentos emitidos pela criança ou adolescente, pois, muitas
vezes, estes podem ser utilizados como estratégias para enfrentar as
emoções desagradáveis.
Pode-se considerar que a desregulação emocional está associada tanto
com os transtornos internalizantes como os externalizantes. No entanto,
o tipo de emoção que predomina pode indicar a classe de
comportamento que a criança ou o adolescente mais emite.
Já as crianças e adolescentes que experienciam predominantemente
emoções como tristeza, ansiedade, medo e culpa tendem a apresentar
comportamentos internalizantes, como o isolamento social (Einsenberg et al.,
2001).

As crianças e adolescentes que apresentam ansiedade social/fobia social


podem possuir dificuldades em compreender as emoções como resultado de
déficits na interação social (McClure & Nowicki, 2001).

Ressalta-se, ainda que apesar de algumas crianças e adolescentes serem


mais propícios a emitirem determinados comportamentos e sentirem
predominantemente algumas emoções, sabe-se que aquelas com problemas
externalizantes também apresentam sintomas internalizantes e vice-versa e
que, em muitos casos, as duas classes de sintomas estão relacionadas.
Independentemente de a criança ou
adolescente possuir problemas de
comportamento internalizantes ou
externalizantes, ao longo do tempo, há
uma tendência em manter os padrões
comportamentais desadaptativos em
decorrência da desregulação na
compreensão das emoções, uma vez que
as relações entre cognição – emoção –
comportamento formam-se de modo
inapropriado, mantendo, assim,
dificuldades sociais significativas e
padrões duradouros de emoções
negativas (Fine et al., 2003)
A interpretação que a criança ou adolescente associa ao evento está
relacionada com o tipo e a valência da emoção que, por sua vez,
acarreta em diferentes formas de se comportar.
A avaliação das emoções é importante para diferenciar o
desenvolvimento típico atípico, a fim de identificar
psicopatologias e realizar diagnósticos diferenciais.

Por exemplo, a criança pode manifestar irritabilidade


(comportamento) e esta pode estar associada tanto a
transtornos externalizantes (ex.: transtorno de conduta)
como internalizantes (ex.: depressão), o que marca a
diferença entre um e outro são as emoções subjacentes
a esta manifestação comportamental.
O processo de avaliação das emoções, afetos e
comportamentos na infância e adolescência
Atualmente, estão à disposição do clínico diversos instrumentos para a avaliação
das emoções e dos comportamentos na infância e adolescência, desde as
técnicas projetivas, testes psicométricos, até escalas. Os instrumentos precisam
ser cuidadosamente escolhidos, uma vez que não são todos que possuem
aprovação pelo Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) do
Conselho Federal de Psicologia (CFP).

O clínico pode fazer uso de instrumentos ecológicos e tarefas ecológicas, tanto


para avaliação como para posterior intervenção (Chaytor & Schmitter-
Edgecombe, 2003). As tarefas ecológicas objetivam verificar o funcionamento do
paciente em situações semelhantes à sua vida cotidiana.
Para a escolha do método de avaliação e a construção de um plano que
mais se adeque à criança ou adolescente deve-se levar em consideração a
etapa do desenvolvimento em que ele(a) se encontra. Crianças muito
pequenas têm mais dificuldade de verbalizar as suas emoções,
pensamentos e comportamentos e, por isso, o clínico deve utilizar
técnicas mais observacionais do comportamento (ex.: jogos e
brincadeiras estruturadas), tarefas ecológicas para a avaliação das
emoções e também técnicas projetivas (ex.: Teste de A percepção Infantil,
CAT, Bellak & Bellak, 1991). A partir da alfabetização já se pode utilizar
escalas de autorrelato que possuam evidências de validade para o
contexto brasileiro e para a faixa etária em questão (ex.: Escala de Stress
Infantil, ESI, Lucarelli & Lipp, 2005).
Na entrevista com a família, deve-se investigar o desenvolvimento motor
e emocional da criança ou adolescente, a forma como o avaliando
socializa com os pais e os irmãos como os pais lidam com as emoções e
os comportamentos apresentados e quando os sintomas referentes à
queixa iniciaram (Cunha, 2005; Schelini, Gomes & Wescheler, 2006).
É preciso verificar a concordância entre as respostas dos informantes aos
questionários, a fim de constatar os comportamentos relatados pela família e
escola, pois muitas vezes o relato por terceiros dos comportamentos das crianças
e adolescentes são enviesados. Exemplo disso são os estudos com o instrumento
Child Behavior Checklist – CBCL (Tabela 1) que investigam a concordância das
respostas entre os informantes parentais e indicam que a concordância fornecidas
por pais e mães é de baixa a moderada (Achenbach, McConaugh & Howell, 1987;
Borsa & Nunes, 2008; Kerr, Lunkenheimer & Olson, 2007).
Pesquisas indicam que crianças possuem maior precisão no reconhecimento de
faces adultas em comparação com rostos de outras idades (Cassia, 2011;
Cassia, Pisacane & Gava, 2012; Marusak, Carré & Thomason, 2013). Assim, ao
se realizar tarefas de reconhecimento de faces, como identificação em faces de
outras pessoas (bebês, crianças, adolescentes, adultos) com crianças é preciso
levar em consideração este dado para evitar resultados falsos positivos ou falsos
negativos. Igualmente, é necessário atentar que as emoções básicas como
alegria, medo, tristeza, raiva, nojo, surpresa são identificadas de forma mais
acurada do que as emoções mais complexas como surpresa, vergonha, culpa.
A avaliação das emoções Somado a isso,
exige necessariamente a sabe-se que é preciso integrar os
instrumentos padronizados com
integração de diferentes
tarefas mais complexas,
métodos,
que reflitam o dia a dia da criança
instrumentos e níveis de
e adolescente e possam se
análise para o
assemelhar aos seus
entendimento da desempenhos reais (Chan,
experiência emocional e Shum, Toulopoulou & Chen,
comportamental associada 2008; Renison et al., 2012;
(Salomon, 2002). Zimmermann et al., 2014).

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