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holanda-no-brasil-colonia

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 240, 01 de Março | 2011

Prática pedagógica

A França e a Holanda no
Brasil Colônia
Para compreender as invasões francesas e holandesas
que ocorreram no território brasileiro no período
colonial, os alunos precisam conhecer o panorama
geopolítico da época
Bianca Bibiano
Fernanda Salla

Entre os séculos 16 e 17, os holandeses e


franceses invadiram a nossa praia. Ou melhor,
a praia dos portugueses, que eram os
colonizadores do Brasil - e tentaram fincar
raízes por aqui. Quando o assunto é esse, é
quase certo que alguns alunos questionem se
a situação de nosso país hoje seria melhor se
o território tivesse sido colonizado por eles.
Não existe resposta definitiva para a questão,
mas, quando especulações como essa
surgirem, convide os alunos a conhecer as
Cronologia das invasões francesas e
holandesas O mapa e a linha do tempo motivações que fizeram esses europeus
mostram os fatos que marcaram a também aportar por aqui e seus objetivos.
presença da França e da Holanda, com
Assim, eles vão poder pensar melhor sobre
caráter exploratório, no território que
era possessão dos portugueses essas outras colonizações (veja imagem
ampliada).
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Para começar o trabalho, situe a garotada


sobre o panorama político e geográfico. Em
1580, o império português foi incorporado à Espanha, inaugurando a União
Ibérica. Isso incomodou a França e a Holanda, que, para enfraquecer os
ibéricos, passaram a investir cada vez mais em invasões. "Eram tentativas de
contestar a situação considerada ilegítima pelo restante da Europa", explica
Célia Camargo, professora da Universidade Estadual Paulista "Julio de
Mesquita Filho" (Unesp), campus de Assis.

Outra questão que vale ser enfocada: diferentemente do que ocorreu na


colonização dos Estados Unidos, entre os séculos 16 e 17, quando os
europeus tinham o intuito de povoar o território para fugir das perseguições
políticas e religiosas, a presença de portugueses, holandeses e franceses no
Brasil tinha metas puramente exploratórias. Assim, os jovens vão perceber
que, seja lá quem for o colonizador, é importante analisar o objetivo da
colonização.

Além de tudo isso, é fundamental deixar bem claro que as características das
explorações realizadas por franceses e holandeses diferiam muito quando
comparadas à dos portugueses. Eles acreditavam que era preciso estruturar
as colônias e desenvolvê-las para só então retirar delas o que quisessem. Era
uma visão menos predatória, mas não menos exploratória. "Os benefícios
que franceses e holandeses trouxeram à colônia se davam em função do
interesse mercantil", diz Rafael Marquese, professor da Universidade de São
Paulo (USP).

Pergunta do aluno

Por que Portugal não investia para evitar invasões ao Brasil?


Segundo Carlos Matos, editor de livros didáticos, no início, Portugal extraía pau-
brasil e só queria os lucros. No mais, explorava outros pontos no mundo e não
tinha dinheiro para outros investimentos. Tempos depois, passa a proteger um
pouco mais o território: o comércio de especiarias com as Índias começa a sofrer
forte concorrência de outros europeus e decai. Outro motivo foi a invasão
holandesa no nordeste por causa do comércio açucareiro.

Divergências religiosas marcam as incursões da França

Os franceses foram os primeiros a buscar um espaço permanente por aqui.


Chegaram entre 1554 e 1555 e, inicialmente, ocuparam o Rio de Janeiro. Sem
precisar travar conflitos com os portugueses, o grupo se instalou na então
ilha de Serigipe (atual ilha de Villegagnon), na baía de Guanabara. O ponto
alto da presença deles ocorreu durante a permanência do oficial Nicolas
Durand de Villegagnon (1510-1571), que comandou cerca de 600 pessoas na
construção do Forte Coligny, um espaço para garantir o aparato militar à
ocupação. Além do intuito comercial, as terras férteis da região também
atraíram os franceses, que ali estabeleceram a chamada França Antártica.

A incursão ao litoral do sudeste foi fortemente afetada por disputas religiosas


e debates teológicos. "Havia uma divisão entre os franceses, que se iniciou na
Europa. De um lado, católicos e, do outro, os protestantes", diz o historiador
Julio Bandeira. Apesar dos debates internos, os franceses continuaram a
chegar e ocupar outras ilhas na Guanabara.

Diante dessa situação, Portugal solicitou ao então governador geral do Brasil,


Mem de Sá (1500-1572), que retomasse o controle. Em 1567, suas tropas
derrotaram a linha de frente francesa. Villegagnon (que era tido como traidor
ora da reforma protestante, ora da Igreja Católica) retornou à França antes,
evitando assim ser preso pelos portugueses.

Em meados de 1612, uma nova invasão nas regiões norte e nordeste, se


estendeu até a região amazônica (ainda desconhecida em parte pelos
portugueses) e, principalmente à capitania do Maranhão. Na região, foi
fundada a França Equinocial, que perdurou até 1615, quando os franceses
foram derrotados por grupos portugueses.

Incentivos às artes marcam a permanência holandesa

A investida da Holanda, que começou em 1624, numa tentativa abortada de


conquistar o litoral de Salvador, vingou em 1630. Recife e Olinda foram
tomados com o objetivo de estabelecer um entreposto de comercialização de
açúcar. A campanha atingiu as capitanias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande
do Norte. Os holandeses aqui se fixaram e passaram a dominar a produção
açucareira (leia a sequência didática).

Sob o comando de Maurício de Nassau (1604-1679), as terras foram


colonizadas com incentivo às artes e à tolerância religiosa. Esse ponto merece
atenção. "Pode parecer que Nassau investiu no Brasil, mas só reproduziu o
estilo de vida europeu", diz Heloísa Gesteira, docente da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

O fim da União Ibérica, em 1640, e a Insurreição Pernambucana, em 1645,


com revoltas da população local contra os impostos e a administração de
engenhos, serviram de estopim para a saída do grupo. Na Batalha dos
Guararapes, em 1648, os portugueses, unidos aos revoltosos, destituíram o
espaço dos holandeses. E, a exemplo de Villegagnon, Nassau saiu de fininho,
em 1559, deixando o Brasil sem presenciar esses eventos.

Reportagem sugerida por 2 leitores: Douglas Lima Dantas, Manaus, AM, e Maria Kaciana Machado Mota, Fortaleza,
CE

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CONTATOS
Célia Camargo
Heloísa Gesteira
Lucas de Oliveira

INTERNET
Download do artigo O Recife Holandês: História Natural e Colonizacão Neerlandesa, de Heloisa Gesteira

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