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10
POLÍTICAS
PÚBLICAS PARA
INCLUSÃO E
EDUCAÇÃO PELO
ESPORTE
Bernardo Luiz Brahim Cortez
Celina Sousa Gontijo
Copyright © 2021 Fundação Demócrito Rocha

FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)


Presidência Luciana Dummar
Direção Administrativo-Financeira André Avelino de Azevedo
Gerência Geral Marcos Tardin
Gerência Editorial e de Projetos Raymundo Netto
Gerência Canal FDR Chico Marinho
Gerência Marketing & Design Andrea Araujo
Análise de Projetos Aurelino Freitas e Fabrícia Góis
Edição de Mídias Isabel Vale

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)


Gerência Pedagógica Viviane Pereira
Coordenação de Cursos Marisa Ferreira
Design Educacional Joel Lima
Front End Isabela Marques

INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DO ESPORTE


Concepção e Coordenação Geral Valéria Xavier
Coordenação de Conteúdo Ricardo Catunda
Coordenação Editorial e Revisão Daniela Nogueira
Projeto Gráfico e Edição de Design Andrea Araujo
Design Miqueias Mesquita
Estagiária Design Kamilla Damasceno
Ilustração Guabiras
Analista de Projetos Juliana Montenegro
Análise de Marketing Digital Fábio Júnior Braga
Estratégia e Relacionamento Adryana Joca

Apoio Secretaria do Esporte e Juventude do Ceará | Lei de Incentivo ao Esporte do Ceará |


Conselhos Federal e Regionais de Educação Física | Universidade Estadual do Ceará
Patrocínio Enel
Realização Uane | FDR

Este fascículo é parte integrante do projeto Inclusão Social Através


do Esporte, viabilizado por meio da Lei Estadual de Incentivo
ao Esporte, Lei nº 15.700 de 20 de novembro de 2014, CAP nº 25.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

P967
Inclusão Social Através do Esporte / vários autores ; organizado por Ricardo Catunda ;
ilustrado por Guabiras. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2021.
192 p. : il. ; 26cm x 30cm. – (Inclusão Social Através do Esporte ; 12v.)
Inclui bibliografia e apêndice/anexo.
ISBN: 978-85-7529-972-2 (Coleção)
ISBN: 978-85-7529-978-4 (Fascículo 10)
1. Esporte. 2. Inclusão Social. 3. Políticas Públicas. 4. Educação Física. 5. Educação
Inclusiva. 6. Esporte Inclusivo. 7. Estratégias Pedagógicas. 8. Acessibilidade. 9. Esporte
Adaptado. I. Catunda, Ricardo. II. Guabiras. III. Título. IV. Série.
CDD 796.0456
2021-3267CDU 796:364 Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410 Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
Índice para catálogo sistemático: CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
Esporte : Inclusão Social 796.0456 Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
Esporte : Inclusão Social 796:364 fdr.org.br | fundacao@fdr.org.br
Sumário
Apresentação 148
1. Definições de políticas públicas 149
2. Tipos de políticas públicas 151
3. Definição de pessoa
com deficiência 152
4. Políticas públicas educacionais 154
de inclusão e legislação
5. Políticas públicas no
esporte e inclusão 157
Considerações finais 158
Referências 159
Apresentação

V
ivemos em sociedade e, para o seu pleno
desenvolvimento e funcionamento, pre-
cisamos garantir sua organização. Em
busca desse crescimento, surgem as leis
que, se cumpridas, pontuam aos cidadãos os seus
direitos e os seus deveres. Mediante esforços comuns,
focados nos pontos positivos de uma sociedade, redu-
zimos os efeitos negativos e chegamos à necessidade
de construção das chamadas políticas públicas.
Não temos uma unanimidade no conceito de polí-
tica pública. Isso se dá devido à dificuldade de enten-
dimento dos vários aspectos de quem as organiza
– entidades públicas, privadas ou governamentais.
As dificuldades passam pela conceituação, pelo fator
determinante da sua elaboração assim como pelos
métodos para sua implantação na sociedade.

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1
Definições de
políticas públicas

S
egundo Souza (2006), a política a política pública “é a soma das atividades
pública se faz necessária para dos governos, que diretamente ou através
atenuar e sanar problemáticas de delegação, e que influenciam a vida dos
comuns à sociedade de determi- cidadãos”. E Dye (1984) é mais direto em sua
nado Estado, sendo executada pelo governo, definição, afirmando que é “o que o governo
que representa, na maioria das vezes, a escolhe fazer ou não fazer”.
vontade soberana de um povo. Quando Os conceitos dos autores apresentados
colocadas em ação, as políticas públicas anteriormente são importantes, uma vez
são implementadas, ficando submetidas a que se consolidou a definição atual de políti-
sistemas de acompanhamento e avaliação cas públicas, com aponta Diniz (2019) no site
até a sua finalização. Centro de liderança Pública: As “políticas
Alguns autores discutem o tema e nos públicas estão diretamente associadas às
levam a construir os conceitos que temos questões políticas e governamentais que
hoje. Mead (1995) define como “o campo mediam a relação entre Estado e sociedade”.
de estudo da política em que o governo Lopes e Amaral (2008) ainda apresenta como
analisa as questões públicas”. Lynn (1980) definição de políticas públicas: “(...) um
nos apresenta como “conjunto de ações do conjunto de ações e decisões do governo,
governo que produzem efeitos específicos”. voltadas para a solução (ou não) de proble-
Peters (1986) segue a linha que defende que mas da sociedade (...).”

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Nesse sentido, é de suma importância
conceituar política pública. A evolução
norte-americana e a europeia afirmam que
o Estado tem um papel que impacta o pro-
cesso administrativo, regulando os aspectos
da vida em sociedade e enfatizando a busca
e a resolução de problemas. Os autores
que defendem essa tese argumentam que
elas ignoram a essência da política pública,
deixando de lado o embate em torno das
ideias e interesses.
Assim, Souza (2006) acredita que, “por
concentrarem o foco no papel dos gover-
nos, essas definições deixam de lado o seu
aspecto conflituoso e os limites que cercam
as decisões dos governos”.
É necessário o entendimento de que as
políticas públicas repercutem diretamente
na economia e principalmente na sociedade,
sendo fundamental entender a relação e
inter-relação entre Estado, política, eco-
nomia e sociedade.

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2
Tipos de políticas
públicas

E
xistem quatro tipos de políticas 4. Políticas públicas constitutivas:
públicas que impactam a socie- indicam que elas estabelecem
dade e, consequentemente, a as “regras do jogo”. São elas que
vida da população. São elas: dizem como, por quem e quando
as políticas públicas podem ser
1. Políticas públicas distributivas:
criadas. O conceito pode parecer
sua a principal função é distribuir
obscuro, mas quer saber uma
certos serviços, bens ou quantias a
que atinge a vida de todos nós? A
apenas uma parcela da população.
distribuição de responsabilidade
Um exemplo seria o direcionamento
entre municípios, estados e
de dinheiro público para áreas
Governo Federal. Na educação,
que sofrem com enchentes; na
por exemplo, municípios são
educação, seriam as cotas.
responsáveis pela Educação Infantil
2. Políticas públicas redistributivas: e Ensino Fundamental 1; estados,
sua principal função é redistribuir pelo Ensino Fundamental 2 e
bens, serviços ou recursos para uma Ensino Médio; e o Governo Federal,
parcela da população, retirando o pela Educação Superior.
dinheiro do orçamento de todos.
Um exemplo disso seria o sistema Diante das várias propostas de políticas
previdenciário; na educação, públicas em todas as esferas da sociedade,
seria a política de financiamento as mais divulgadas são no âmbito da saúde e
educacional, em que há um fundo da educação. Ainda com menor visibilidade,
no qual todos os municípios e existem as relacionadas ao esporte/lazer e
estados colocam dinheiro, mas que inclusão, entre outras.
depois é repartido conforme as Aqui pautamos com maior ênfase as
matrículas, e não de acordo com a políticas públicas educacionais e do esporte
contribuição de cada um. com o contexto de inclusão.
3. Políticas públicas regulatórias:
essas medidas estabelecem regras
para padrões de comportamento.
São bastante conhecidas, pois
tomam a forma de leis. Um exemplo
muito comum são as regulações
do trânsito; na educação, podemos
citar a lei que organiza a área,
como a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB).

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3
Definição de pessoa
com deficiência

A
s políticas públicas de inclusão A Organização das Nações Unidas (ONU)
social são medidas compensa- estima que existem cerca de 800 milhões de
tórias, na tentativa de equilibrar pessoas com deficiência em todo o mundo
o acesso de parte da sociedade e que a grande maioria vive em países em
historicamente excluída aos bens sociais, desenvolvimento. A estimativa é de que
levando-se em consideração o princípio da grande parte é estigmatizada; são os mais
igualdade, seja ele na escolarização, seja na pobres, têm os níveis mais baixos de esco-
inserção no mercado de trabalho. laridade e há uma clara violação dos seus
Destacam-se, neste momento, as políti- direitos humanos universais.
cas públicas de inclusão social dos deficien- Definir deficiência ainda é muito compli-
tes que têm como norte integrar a parcela cado e complexo, relativo e subjetivo, uma
da sociedade historicamente excluídas. vez que o que nos caracteriza como seres
Hoje temos em nosso País, em todas as humanos são as nossas diferenças, como
esferas, federal, estadual e municipal, as afirma Bernardes et al. (2009).
políticas públicas para o esporte e inclusão Guedes e Barbosa (2020) definem “pes-
social por meio dele. Elas são pensadas para soas com deficiência como aquelas que pos-
demandas muito pequenas e fragmentadas, suem limitações ou incapacidade de ordem
sazonais, com foco em eventos esportivos física, auditiva, visual, mental ou múltipla,
e treinamentos da parcela que pratica o que comprometam o desempenho de suas
esporte de rendimento. atividades”. Bernardes et al. (2009) afirma
Apesar desse contexto, a cada dia fica que “as pessoas com deficiências consti-
mais explícito que uma das melhores opções tuem um grupo heterogêneo que reúne,
de inclusão é o esporte. em uma mesma categoria, indivíduos com
vários tipos de deficiência e, por conse-
guinte, diferentes necessidades”.

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Os discursos sobre os direitos das pes-
soas com deficiência no Brasil começaram
na década de 1960, com a reivindicação do
direito e da convivência social. Começou-
-se a dar voz a essa parcela da população,
contribuindo para que o Estado assumisse a
responsabilidade em desenvolver políticas
públicas destinadas a atender as demandas
dessa população. A história das pessoas
com deficiência no Brasil evoluiu no século
XIX, com a educação especial de cegos e
de surdos em internatos, como na Europa.
Segundo Figueira, “Se até aqui a pessoa
com deficiência caminhou em silêncio, exclu-
ída ou segregada em entidades, a partir de
1981, Ano Internacional da Pessoa Deficiente,
promulgado pela ONU, passou a se organizar
politicamente” (FIGUEIRA, 2008). Em depoi-
mento, Sassaki conta que “pela primeira vez
surgiu a palavra pessoa para conferir digni-
dade e identidade ao conjunto das pessoas
deficientes”. (LANNA JÚNIOR, 2010)

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4 Saiba mais
Políticas públicas
Art. 217. É dever do Estado
fomentar práticas desportivas
formais e não-formais, como

educacionais de inclusão direito de cada um, observados:


• A autonomia das entidades

e legislação desportivas dirigentes


e associações, quanto

A
a sua organização e
s políticas de educação são Vale ressaltar que as políticas públicas funcionamento;
garantidas pela Constituição educacionais tratam das propostas sobre a • A destinação de recursos
Federal e por outras leis, como a educação em seus vários contextos. Tratam públicos para a promoção
Lei de Diretrizes e Bases da Edu- de programas ou ações que são criados pelos prioritária do desporto
cação Nacional (LDB/LDBEN Lei nº 9.394/96). governos para colocar em prática medidas educacional e, em
A LDB estabelece as principais regras do que garantam o acesso à educação para casos específicos, para
sistema educacional brasileiro e se aplica todos, além de assegurar o processo avalia- a do desporto de alto
a toda rede de ensino, público ou privado. tivo dos estudantes em busca da melhoria rendimento;
A garantia de acesso à educação de qua- da qualidade da educação no País. Assim • O tratamento diferenciado
lidade vem da Constituição Federal, que sendo, pode-se dizer que são as medidas para o desporto profissional
aborda, em seu Art. 205, que a educação, sistematizadas tomadas pelos governantes e o não-profissional;
direito de todos e dever do Estado e da em relação ao ensino e à educação do Brasil. • A proteção e o incentivo às
família, será promovida e incentivada com O cidadão brasileiro tem na Constituição manifestações desportivas
a colaboração da sociedade, visando ao a primeira legislação que, mesmo de forma de criação nacional (BRASIL,
pleno desenvolvimento da pessoa, seu sucinta, garante oferecimento pelo Estado a 1988, p. 60).
preparo para o exercício da cidadania e obrigação de incentivar a prática esportiva
sua qualificação para o trabalho. de acordo com o artigo 217.

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No mesmo artigo, a Constituição relata e
enfatiza a existência de uma justiça adminis-
trativa específica para a temática e completa
a explanação sobre o assunto, expondo-o
também como lazer:
1º O Poder Judiciário só admitirá ações
relativas à disciplina e às competi-
ções desportivas após esgotarem-se
as instâncias da justiça desportiva,
regulada em lei.
2º A justiça desportiva terá o prazo
máximo de sessenta dias, contados
da instauração do processo, para
proferir decisão final.
3º O Poder Público incentivará o lazer,
como forma de promoção social
(BRASIL, 1988, p. 60).
Vale ressaltar o projeto de formatação
das Diretrizes para a Educação Especial na
Educação Básica, que é um dos referenciais
para a elaboração das políticas da Educação
Especial, como pode ser observado nos
Artigos 58, 59 e 60 do Capítulo V da LDBEN.
No âmbito escolar, veja o que informa o
Art. 208 da Constituição Federal, que trata
da Ordem Social:
“III - Atendimento educacional
especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino;
IV - SS 1º O acesso no ensino
obrigatório e gratuito é direito
público e subjetivo.
V - Acesso aos níveis mais elevados
do ensino, da pesquisa e da
criação artística, segundo a
capacidade de cada um;”

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Cabe salientar também, no Art. 227, Na Lei 9394/96, LDBEN, deve-se ater ao “Todas as crianças, de ambos os sexos,
a criação de programas de prevenção e Art. 4º Inciso III, que retrata o atendimento têm direito fundamental à educação e que
atendimento especializado para os por- educacional especializado. O Art. 58 cita: a a ela deve ser dada a oportunidade de obter
tadores de deficiência física, sensorial ou “educação especial, para efeitos desta lei, e manter nível aceitável de conhecimento.”
mental, assim como a integração social dos a modalidade de educação escolar, ofe- “Cada criança tem características, inte-
adolescentes com deficiência mediante o recida preferencialmente na rede regular resses, capacidades e necessidades de
treinamento acerca da sobrevivência e dos de ensino, para educandos portadores de aprendizagem que lhe são próprias.”
bens e serviços. necessidades especiais”. “Os sistemas educativos devem ser pro-
Além disso, há a Lei nº 10.172/2001, que O Art. 59 aborda como deve ser asse- jetados e os programas aplicados de modo
aprova o Plano Nacional de Educação e gurado o sistema de ensino assegurado que tenha em vista toda gama dessas dife-
dá outras providências, estabelecendo os aos educandos, como: currículos, métodos, rentes características e necessidades.”
20 objetivos e metas para a educação das técnicas, recursos educativos e organizações “As pessoas com necessidades educa-
pessoas com necessidades especiais. específicas com acesso igualitário. cionais especiais devem ter acesso às esco-
A Lei nº 853/1989 dispõe sobre o apoio às O Decreto nº 3.298/1999 regulamenta las comuns que deverão integrá-las numa
pessoas com deficiências e a sua integração a Lei nº 7.853/1989 sobre a Política Nacio- pedagogia centralizada na criança, capaz
social, assegurando o pleno exercício de nal para Integração da Pessoa Portadora de atender a essas necessidades.”
seus direitos individuais e sociais. de Deficiência, consolidando as normas e Destaca-se a Lei nº 13.146, de 6 de julho
O Estatuto da Criança e do Adolescente, dando outras providências. de 2015, que institui a Lei Brasileira da Pes-
Lei nº 8069/1990 no parágrafo 1 do Art. 2º, O Ministério da Educação e Cultura (MEC), soa com Deficiência, também conhecida
informa que as crianças e os adolescentes por meio da Portaria 679/1999, dispõe sobre como Estatuto da Pessoa com Deficiência.
devem receber atendimento especializado. os requisitos de acessibilidade à pessoa com
É reforçado pelo Art. 5º que essa população deficiência para instituir, instruir, autorizar
não pode ser negligenciada, discriminada, e reconhecer os cursos e o credenciamento
sofrer violência, crueldade, opressão ou das instituições de ensino. Não se pode
qualquer outra forma de discriminação. esquecer dos princípios básicos de acessi-
bilidade e mobilidade reduzida, como está
descrito na Lei nº 10.098/2000.
De acordo com a Declaração Mundial de
Educação para Todos e a Declaração de Sala-
manca, o Brasil optou por adotar um sistema
educacional inclusivo conforme os trechos:

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5
Políticas públicas no esporte e inclusão

O
esporte como um fenômeno interfere diretamente sobre os aspectos psi- No Brasil, há uma orientação de controle
social é praticado por todos, cológicos e de inclusão pela prática regular do setor esportivo pelo Estado, que tem o
independentemente da classe de qualquer que seja a modalidade esportiva. esporte como instrumento de ação política
social e da idade. A transforma- Desenvolve em seu praticante a capacidade no plano internacional, por intermédio do
ção da concepção do esporte vem passando de ganhos na área cognitiva e de raciocínio, esporte competitivo. Além disso, a prática
por alterações, ou seja, antes era visto apenas sendo excelente para que diminua a ocorrên- esportiva é promotora de saúde, melho-
com lazer e competição. Hoje, sabe-se que cia de depressão e outras patologias. rando assim a qualidade de vida da popula-
há influência do esporte no desenvolvimento Na esfera social, fica explícito que os pra- ção, compensando os problemas advindos
econômico, social, político e na saúde. ticantes de esportes se tornam cidadãos mais da modernização, ou seja, possibilitando
O enfoque do esporte na saúde é dado engajados em atividades sociais, desenvol- um completo estado de bem-estar social.
pelas transformações fisiológicas propor- vendo valores éticos e morais mediante a
cionadas pela prática de movimentos, em interação social. O esporte também possibi-
que é possível desenvolver e promover uma lita, por meio de sua filosofia e prática, que
melhora na qualidade de vida. Além disso, haja uma redução dos níveis de violência,
pela valorização e respeito ao cumprimento
de regras esportivas que podem e devem ser
transferidas para o meio social.

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Outro documento importante que vem
normatizando o esporte no Brasil nas últi-
mas duas décadas é a Lei Pelé (Lei nº 9.615,
de 24 de março de 1998). Ela surge na pers-
pectiva de desenvolver propostas e ações
que contemplem o desenvolvimento do
esporte em todas as suas manifestações:
- Participação ocorre de modo voluntá-
rio, compreendendo as modalidades des-
portivas praticadas com a finalidade de
contribuir para a integração dos praticantes
na plenitude da vida social, na promoção
da saúde e educação e na preservação do
meio ambiente;
- Educacional, praticado nos sistemas de
ensino e em formas assistemáticas de edu-
cação, evitando-se a seletividade, a hiper-
competitividade de seus praticantes, com
a finalidade de alcançar o desenvolvimento
integral do indivíduo e a sua formação para
o exercício da cidadania e a prática do lazer.
Hoje ele se subdivide em esporte escolar e
esporte educacional.
- Rendimento, que é praticado segundo
normas gerais desta Lei e regras de prática
desportiva, nacionais e internacionais, com
a finalidade de obter resultados e integrar
pessoas e comunidades do País e estas com
as de outras nações.
Por meio das várias ações e legislações
direcionadas aos esportes existentes no Bra-
sil, é notória a preocupação dos entes federa-
tivos (federal, estadual e/ou municipal) com
a promoção de políticas públicas desportivas
para o desenvolvimento e a participação
das pessoas com deficiência em esportes de
participação, educacional ou competitivo.

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Considerações finais

O
esporte como agente promotor Muito se evoluiu com as leis vigentes,
e de transformação social vem mas muito mais ainda é preciso para que
se mostrando muito eficaz na essa parcela da população possa conti-
integração de pessoas com nuar sendo beneficiada em igualdades de
deficiência para a vida e principalmente condições para a prática esportiva com
para a saúde. As ações propostas junto incentivos e principalmente apoio para os
com a legislação vigente permitem que eventos e a manutenção dos atletas que tão
todos tenham acesso e condições neces- bem representam o País nas competições.
sárias para a prática esportiva – cada um Espera-se que este pequeno trabalho
dentro de suas possibilidades e objetivos, sirva como um pontapé inicial para que
promovendo, assim, uma melhor qualidade novos estudos e questionamentos sejam
de vida dessa população. realizados para o crescimento do esporte
para pessoas com deficiência e que haja
uma constante evolução na sua prática.

Referências
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INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DO ESPORTE | 159


Celina Sousa Gontijo
É licenciada e bacharel em Educação Física
pela Universidade Federal de Minas Gerais
(1995), pós-graduada em Educação Física Escolar
(Universidade Gama Filho, 2007) e pós-graduada
em Gestão do Trabalho Pedagógico (Supervisão,
orientação, inspeção e ADM – Instituto Alfa, 2016).
É professora de Educação Física efetiva do Governo

Autores do Estado de Minas Gerais desde 2002 e coordenadora


do Núcleo de Desenvolvimento do Esporte Escolar da
Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais desde
Bernardo Luiz Brahim Cortez 2008. É interlocutora dos Jogos Escolares de Minas Gerais
Tem Licenciatura e Bacharelado em Educação Física desde 2008, representante da Secretaria de Estado de
pela Universidade Federal de Viçosa (1995). É bacharel Educação de Minas Gerais no Programa Minas 2016 -
em Fisioterapia pelo UniAraxa (2008) e especialista pela Programa de Legado Olímpico e Paralímpico do Governo
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de de MG (2015 e 2016) e interlocutora da parceria com o
Minas Gerais (Nescon/UFMG, 2019). É especialista em Instituto Península/ Programa Impulsiona e Secretaria
Fisioterapia Respiratória (Grupo Ibra, 2021), especialista de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE, de 2018
em Fisioterapia em Geriatria e Gerontologia (Grupo Ibra, a 2020). É interlocutora da parceria com o Instituto
2021) e especialista em Treinamento Esportivo com ênfase Superação e Secretaria de Estado de Educação de Minas
em Voleibol (Uniclar, 1998). É professor de Educação Física Gerais (SEE) desde 2018 e tutora de Educação a Distância
da Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais – SEE do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(1996 – 2021) e fisioterapeuta na Apae de Araxá/MG no (FNDE, desde 2017). É revisora da Proposta Curricular de
Projeto Idosos desde 2019. É sócio-proprietário da Empresa Minas Gerais (CBC 2015), membro do Conselho Estadual
Bernardo Luiz Brahim Cortez ME desde 2011, conselheiro do Desporto desde 2007 e conselheira do Conselho
do Conselho Regional de Educação Física (Cref 6/MG) e Regional de Educação Física (Cref 6/MG), no qual também
presidente da Comissão de Ética do Cref 6/MG. participa da Comissão de Educação Física Escolar.

Ilustrador
Guabiras
Carlos Henrique Santos da Costa é cartunista e jornalista por formação.
Trabalhou no O POVO (Fortaleza/CE) de 1998 a 2019. Colaborou para
a revista MAD (SP) de 2003 a 2016. Publicou em 2003 uma história em
quadrinhos no jornal Extra, de Nova York (EUA). Ganhou em 2015, junto
com a equipe de arte do O POVO, o prêmio Esso de Jornalismo na
categoria Criação Gráfica. Em 2016, o Prêmio Ângelo Agostini de “Melhor
Cartunista” e dois Troféus HQ MIX em parcerias. Participou de projetos
como Tarja Preta (RJ), Escape (SP), Gibi Quântico (SP) e Marcatti 40 (SP).

APOIO PATROCÍNIO REALIZAÇÃO

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