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Portal Institucional do TRT-MG

Mãe consegue redução de carga horária sem


redução salarial para cuidar do filho com
autismo
publicado 06/05/2022 01:16, modificado 06/05/2022 17:13

(https://portal.trt3.jus.br/escola/institucional/centro-de-memoria/acervos/selo-tema-

relevante)

Uma auxiliar de apoio ao educando de uma escola municipal de Belo Horizonte conseguiu na
Justiça o direito à redução da jornada de trabalho, sem prejuízo salarial, para cuidar do filho com
autismo, de três anos de idade. A empregadora terá que reduzir a duração da jornada semanal da
profissional para 30 horas sem redução do salário ou compensação de horários. A decisão é dos
julgadores da Oitava Turma do TRT-MG, que mantiveram, sem divergência, a sentença proferida
pelo juízo da 47ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte.
A trabalhadora foi admitida em 21/10/2019 para exercer função com carga de trabalho semanal de
44 horas, das 7h às 16h48min, com uma hora de intervalo, de segunda a sexta-feira. Ela estava
lotada na unidade educacional do bairro Tirol, em Belo Horizonte.
Contou no processo que é mãe de três filhos: duas meninas, uma com 17 e a outra com 10 anos,
e um menino com apenas três anos. Explicou que, em julho de 2021, após consulta com um
neurologista e uma psiquiatra, foi constatado que o filho possui autismo.
Por esse motivo, explicou que a criança faz uso de medicamentos e precisa do auxílio da mãe
para realizar as atividades propostas para o desenvolvimento. Porém, alegou ser impossível
garantir esse apoio trabalhando 44 horas por semana. Então, ajuizou ação trabalhista pedindo a
redução da carga horária sem redução salarial.

Decisão
O juízo da 47ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte julgou parcialmente procedentes os pedidos da
empregada, concedendo a redução. Pela decisão, ela deverá cumprir jornada das 07h às
13h15min, com 15 minutos de intervalo para refeição e descanso, sem redução do salário ou
compensação de horários.

Recurso
A empresa interpôs recurso, alegando ser empresa pública estadual, integrante da administração
pública do estado de Minas Gerais. Segundo a defesa, é descabida, portanto, a aplicação do
artigo 98 da Lei 8112/1990, que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da
União, das autarquias e das fundações públicas federais, já que ela é regida pelas normas da CLT.
Argumentou ainda que a trabalhadora não fez prova de que o menor necessita de determinadas
terapias, de tratamentos e de acompanhante.
Porém, no exame do caso, os julgadores da Oitava Turma do TRT-MG deram razão à profissional.
Segundo o desembargador relator Marcelo Lamego Pertence, documentação anexada ao
processo atesta que a criança apresenta “quadro clínico compatível com CID 10 F84 (transtorno
global de desenvolvimento - espectro autista)” e “necessita do auxílio da mãe”.
O relatório fonoaudiológico, datado de 21/10/2021, aponta que o menino iniciou o tratamento
fonoaudiológico, por apresentar atraso de fala, com acompanhamento todas as quintas-feiras, das
17h30 às 18h. Já o parecer emitido pela psicóloga a serviço da Secretaria Municipal de Saúde de
Ibirité mostrou que a criança é acompanhada por equipe multidisciplinar (terapia ocupacional,
psicologia e psiquiatria) no Caps-1 e necessita de acompanhamento semanal com os
profissionais, sem previsão de alta. Informou ainda que “o acompanhamento da mãe é importante
para maior êxito no tratamento”.

Dever constitucional
Segundo o julgador, o pleito de redução de carga horária para tratamento de filho com
necessidades especiais não encontra expressa previsão na CLT ou nos instrumentos coletivos
aplicáveis ao caso. Porém, o magistrado destacou que, pelo artigo 227 da Constituição, constitui
dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem o
direito à vida, à saúde e à dignidade.
“Isso além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência ou discriminação, incumbindo ao
Estado a criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas com
deficiência física, sensorial ou mental, inclusive com a facilitação do acesso aos bens e serviços
coletivos”.
O magistrado reforçou ainda que a Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com
Deficiência (CIDPD), integrada ao ordenamento jurídico interno pelo Decreto 6949/2009, consigna
em seu preâmbulo que “a família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem o direito de
receber a proteção da sociedade e do Estado”. A norma diz também que “as pessoas com
deficiência e seus familiares devem receber a proteção e a assistência necessárias para tornar as
famílias capazes de contribuir para o exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com
deficiência”.
O julgador citou ainda o artigo 2º da Convenção Internacional, que define, como adaptação
razoável, as modificações e os ajustes necessários e adequados, que não acarretem ônus
desproporcional ou indevido, para assegurar que as pessoas com deficiência possam gozar ou
exercer, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais.

Igualdade de oportunidades
No âmbito interno, o julgador destacou a Lei 13146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência), que assegura também “que a pessoa com deficiência possa gozar ou exercer,
em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e
liberdades fundamentais”. Ele destacou também a Lei 12764/2012 (Política Nacional de Proteção
da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista), que estabelece que a pessoa com transtorno do
espectro autista é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais. A lei define,
como diretriz, “a atenção integral às necessidades de saúde da pessoa com transtorno do
espectro autista, objetivando o diagnóstico precoce, o atendimento multiprofissional e o acesso a
medicamentos e nutrientes”.

Analogia
Assim, diante desse panorama normativo, o magistrado entendeu aplicável ao caso a adaptação
razoável da jornada da trabalhadora, sem acarretar ônus desproporcional e indevido à empresa.
“Tudo para assegurar ao menor deficiente o tratamento necessário ao seu desenvolvimento e
cuidados com a saúde, o que exige o acompanhamento da genitora, aplicando-se analogicamente
ao caso o disposto no artigo 98, parágrafos 2º e 3º, da Lei 8212/1990, que estipula a concessão
de horário especial ao servidor da União”.
O julgador manteve então a condenação da empregadora, para reduzir a duração semanal de
trabalho de 44 para 30 horas, com trabalho de seis horas diárias, de segunda a sexta-feira. “A
profissional deverá cumprir o horário das 07h às 13h15, com 15 minutos de intervalo para refeição
e descanso, sem redução do salário ou compensação de horários, o que traduz adaptação
razoável da carga de trabalho regular, sem ônus desproporcional e indevido à empresa”, concluiu.
Cabe recurso da decisão.
Processo
PJe: 0010850-05.2021.5.03.0185
Acesse o processo do PJe digitando o número acima (https://portal.trt3.jus.br/internet/@@trt3-
case-search).
Visualizações: informação indisponível.

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