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UNIVERSIDADE CEUMA

CURSO DE NUTRIÇÃO
DIETOTERAPIA INFANTIL

Profª Ma. Ângela Souza Barroqueiro


(Mestre em Ciências da Saúde)
OBJETIVOS DA AULA

 Diferenciar Intolerância x Alergia alimentar;


 Reconhecer os principais alérgenos alimentares em crianças;
 Diferenciar entre os mecanismos fisiopatológicos os quadros
IgE mediados, IgE não mediados, mediados por células e
mistos nos diferentes órgãos;
 Discutir o diagnóstico de alergia alimentar e as limitações
técnicas a este diagnóstico;
 Rever o tratamento de alergia e intolerância alimentar.

Mahan; Escott-Stump; Raymond, 2012


DEFINIÇÃO

Reação Adversa ao Alimento (RAA)


Qualquer reação anormal relacionada a ingestão,
contato ou inalação de quaisquer alimentos,
derivados de alimentos ou aditivo alimentar:

Tóxica
Não tóxica ou Hipersensibilidade

Mahan; Escoot-Stumo; Raymond, 2012


REAÇÕES ADVERSAS A ALIMENTOS - RAA
Weffort e Lamounier, 2017
INTOLERÂNCIA A LACTOSE
A intolerância à lactose é a condição
dietética mais comum causadora da
diarreia!
INTOLERÂNCIA A LACTOSE - TIPO

Tem bases genéticas e se desenvolve à medida que o indivíduo envelhece


*Congênita: forma de intolerância primária, porém rara, que se manifesta desde
o nascimento.

Ocorre quando algum processo lesa a mucosa do intestino, provocando a


redução temporária da capacidade de digerir a lactose. A lista inclui doenças
infecto-parasitárias, doenças inflamatórias (Doença de Crohn) e doença celíaca,
entre outras.

Weffort e Lamounier, 2017


Weffort e Lamounier, 2017
TRATAMENTO

Fórmula sem lactose (SL)


• Proteína: quantidade adequada de proteína do leite de vaca ou soja
• Carboidratos: substituição da lactose por maltodextrina
• Lipídeos: sem modificação (fórmula infantil)
• Minerais e vitaminas: de acordo com o CODEX

Cuidados!!
• Ler rótulos e demais lista de ingredientes para identificar quantidade
de lactose ou traços
•Testar alimentos para observar a tolerância individual

Weffort e Lamounier, 2017


Alergia Alimentar - AA

 Ou Hipersensibilidade;
 Reação adversa imunológica ao alimento, geralmente a uma proteína
ou hapteno de alimentos (uma pequena molécula que pode provocar
uma resposta imune só quando ligada a uma proteína transportadora
de grande porte);

Weffort e Lamounier, 2017


Alergia Alimentar - Etiologia

Hereditariedade

Exposição a
Dieta Materna
Antígenos

Microbiota Alimentação
Gastrointestinal infantil precoce

Weffort e Lamounier, 2017


Etiologia AA – Hereditariedade

 Componente hereditário ainda não está


claramente definido;
 Atopia – predisposição genética para a
produção excessiva de anticorpos
imunoglobulina (Ig) e (alérgeno);
 Atópicos – identificados na infância e
confirmados por teste cutâneo de
hipersensibilidade imediata positiva.

Mahan; Escott-Stump; Raymond, 2012


Etiologia AA – Exposição a Antígenos
Alimentares
No sistema digestório – seguida de regulação
ou supressão imune (pré-requisito);
Falha na tolerância oral:
Indivíduo clínico e imunologicamente ao alimento
Quantidade de antígeno e os fatores
ambientais

Weffort e Lamounier, 2017


Etiologia AA – Dieta materna e
Alimentação infantil precoce
Durante a gravidez ou lactação ou na primeira
infância;
A sensibilização pós-parto pode ocorrer com
a exposição a alérgenos alimentares:
inalação, contato com a pele ou ingestão;
Mais provável....
 Exposição ambiental (pele ou ar) – sensibilização
inicial;
 Seguida de exposição contínua aos antígenos de
leite da mãe.

Weffort e Lamounier, 2017


Etiologia AA – Microbiota
Gastrointestinal
 Disbiose – influência na função imunológica
intestinal (Tecido linfoide associado ao
intestino - GALT);
 Hiperpermeabilidade intestinal e disbiose:
 Penetração de antígenos e a apresentação aos
linfóides do GALT e a sensibilização.

SBAI, 2012
Composição proteica dos alimentos
mais comumente responsabilizados
pela AA

Betalactoglobulina – 62 a 80%
Caseína – 60%
Lactoalbummina – 53%
Weffort e Lamounier, 2017
Albumina sérica bovina – 52%
Composição proteica dos alimentos mais
comumente responsabilizados pela AA
Alergia Alimentar - Fisiopatologia
 Sistema imune desencadeia mediadores
inflamatórios – alérgeno;
 Alérgeno – “ameaça”;
 Sensibilização – a partir da 1ª exposição ao
alérgeno (sem sintomas de reação);
 Exposição continua;
 Liberação de mediadores inflamatórios:
 Manifestações sistêmicas e local.

Weffort e Lamounier, 2017


Alergia Alimentar - Resumo
Fatores de risco
Hereditariedade
Alérgenos alimentares comuns:
História de atopia
ricos em proteína, geralmente
Exposição ao antígeno
de origem vegetal ou marinha
Permeabilidade GI
Reações Quantidade de antígeno
Alérgicas apresentado
Fatores ambientais, como estresse
ou toxinas
Desequilíbrio da microbiota

IgE- Mediada Mista, IgE – mediada e não IgE- Mediada por células:
Hipersensibilidade mediada: Hipersensibilidade Fatal (Raro)
Hipersensibilidade tardia
Liberação de mediadores inflamatórios

Sintomas GI, cutâneos, respiratórios e


sistêmicos, anafilaxia

Tratamento Clínico Tratamento Nutricional


Reações IgE mediada - AA
 Método de exposição: inalação, contato com a pele e a
ingestão;
 Sintomas: cutâneo, gastrointestinal ou respiratório;
 Qualquer alimento é capaz de provocar reação IgE-
mediada depois de se tornar sensível ao alimento;
 Principais reações:
 Anafilaxia induzida por alimento;
 Síndrome de alergia oral (SAO) ou Síndrome Pólen-
Alimento (SAPA):
 Sensibilização primária pelo Polén*
 Profilinas e Alergia ao látex – “Reatividade cruzada”
 Hipersensibilidade gastrointestinal imediata;
 Anafilaxia induzida por exercício com dependência
alimentar*.
Mahan; Escott-Stump; Raymond, 2012
REATIVIDADE CRUZADA ENTRE ALÉRGENOS
AA IgE- mediada: Reações sistêmicas ou
síndrome anafilática

 Anafilaxia induzida por alimentos:


 instalação abrupta;
 Envolvimento multisistêmico;
 Potencialmente fatal;
 Sintomas: dificuldade respiratória, dor abdominal,
náuseas, vômitos, cianose, arritimia, hipotensão arterial e
outros
 Qualquer alimento pode desencadear, maiores riscos:
amendoim, castanha crustáceos, leite e ovo.

Weffort e Lamounier, 2017


AA – Reações IgE não mediada ou
mistas
 Continua sendo investigada na hipersensibilidade
alimentar;
 Complexos antígeno-anticorpo não IgE atuam em
doenças ligadas à alimentação inflamatória;
 Colite, enterite com sangramento, distúrbios de má
absorção, ulceração e outros..

Weffort e Lamounier, 2017


AA – Reações IgE não mediada ou mistas

 Pode desenvolver dentro de minutos a 2


horas após ingestão do alimento agressor;
 Envolve esofagite eosinofílica
AA – Reações Mediadas por Células

 Age em resposta a vírus, fungos, células tumorais


e outra células estranhas pela produção de
linfócitos T “controlador” (Cel. T helper)
 Síndrome da Enterocolite Induzida por Proteína
Alimentar (SEIPA):
 Comum em crianças em fórmulas (leite de vaca ou soja);
 Sua confirmação é desafiadora – Similar a outras
doenças GI;
 Substituir por fórmula com caseína extensivamente
hidrolisada ou fórmula elementar;
 É transitória
Weffort e Lamounier, 2017
Sinais e Sintomas relacionados com
alergia alimentar
Alteração Mediada por IgE Mecanismo misto Não mediada
por IgE
Sistêmica Choque anafilático,
anafilaxia induzida por
exercício dependente de
alimento
Cutânea Urticária, angioedema, Dermatite atópica e Dermatite
urticária aguda de de contato herpetiforme
contato, rubor
Gastrointest. SÃO, Alergia Esofagite Proctocolite,
Alérgico Gastrotintest. eosinolifílica e Enterocolite
induzida gastroenterite
Respiratória Rinoconjuntivite aguda Asma Hemossiderose
pulmonar

Sicherer e Sampson, 2014


AA: Diagnóstico Anamnese e Exame Físico

 Anamnese: início dos sintomas, características e


reprodutibilidade:
Reações agudas x reações crônicas
 Detalhes da dieta/ diário de sintomas
Alimentos suspeitos
Ingredientes escondidos
 Exame Físico: Avaliação da gravidade da doença
 Avaliação da melhor abordagem
Alergia ou intolerância?
IgE mediado ou não IgE mediado?

Mahan; Escott-Stump; Raymond, 2012


Exames utilizados na avaliação das reações
adversas aos alimentos
 Testes cutâneos:
 Teste cutâneo de hipersensibilidade imediata
 Teste de contato;
 Teste sublingual;
 Exames sanguíneos:
 RAST (avalia a sensibilização IgE mediada)
 ALCAT (medida indireta de mediadores inflamatórios)
 Provocação alimentar:
 Teste Simples Cego: alimento suspeito é disfarçado e
fornecido por via oral
 Teste oral aberto: via oral sem disfarce em doses graduais
 Dieta de eliminação alimentar: alimentos suspeitos são
eliminados da dieta por tempo definido Weffort e Lamounier, 2017
Diagnóstico da Hipesensibilidade a
Alimentos por mecanismos IgE mediados

TESTES CUTÂNEOS
 Prick (teste de puntura ): reprodutível, sensível e não irritante;
 Prick to prick: Utilização do alimento cru ou cozido. Especialmente
recomendado para frutos e verduras (os extratos comercialmente
preparados são geralmente inadequados pela labilidade dos
alérgenos, alimentos frescos devem ser utilizados neste teste;

Mahan; Escott-Stump; Raymond, 2012


Diagnóstico da hipersensibiliade a
alimentos por mecanismos IgE mediados
1.- Testes de puntura são utilizados para +
detecção dos alimentos suspeitos;
2.- São considerados positivos testes em
que o alérgeno desencadeia a formação
de um halo 3 mm em relação ao controle
negativo;
3.- O Valor Preditivo Negativo Positivo
(VPN) é de > 95 % (testes cutâneos
negativos praticamente afastam as
reações IgE-mediadas)
Diâmetro  3 mm

Mahan; Escott-Stump; Raymond, 2012


TRATAMENTO

SOLÉ et al., 2010.


TRATAMENTO CLÍNICO E
NUTRICIONAL

 Diário alimentar e de sintomas:


 Período de 7 a 14 dias;
 Hora/quantidade/tipo/ingredientes (TODOS SE
POSSÍVEL);
 Momento de aparecimento dos sintomas/ consumo de
suplementos e medicamento antes e após o início dos
sintomas;
 Local onde ocorreu a reação;

Mahan; Escott-Stump; Raymond, 2012


TRATAMENTO CLÍNICO E
NUTRICIONAL

 Dietas de eliminação de alimentos:


 Ferramenta útil;
 Alimentos suspeitos são eliminados da dieta por um
período determinado (4 a 12 semanas) - Reintrodução -
Provocação alimentar;
 Todas as formas do alimento suspeito (cozido, crus e
derivados proteicos) são eliminados;
 Dieta é personalizada;
 Pode ser utilizado fórmulas elementares, alimentos
clínicos ou fórmulas hipoalergênicas (suporte
nutricional);
Mahan; Escott-Stump; Raymond, 2012
ALTERNATIVAS DIETÉTICAS PARA
SUBSTITUIÇÃO DE LEITE DE VACA

Mahan; Escott-Stump; Raymond, 2012


ALIMENTOS ESCONDIDOS
Alguns alimentos (alérgenos) podem ser mascarados e
ingeridos de maneira desavisada em alguns destes
procedimentos
 Temperos: mostarda, pimenta, gergelim
 Legumes e castanhas: amendoim e castanha
 Leite de vaca(suplementos protéicos): caseína, caseinatos
 Vacinas
 Instrumentos de cozinha, alérgenos voláteis
 Alimentos transgênicos que contém novas proteínas
 Outros alérgenos:
 Ácaros de estocagem em farinha (massas, pizzas)

LEIA RÓTULOS EM ALIMENTOS


INDUSTRIALIZADOS!!
TRATAMENTO EM SITUAÇÕES DE
EMERGÊNCIA

 Adrenalina: droga de escolha nos casos de


anafilaxia
 Disponibilizar adrenalina auto injetável;
 Treinamento de pacientes: indicação/técnica;
 Antihistamínicos: terapêutica complementar
 Plano de Emergência por escrito
 Escolas, cônjuges, cuidadores, irmãos mais
velhos/amigos;
 Placas de identificação

Weffort e Lamounier, 2017


Adequação Nutricional

 Monitoramento regular;
 Realização de uma avaliação contínua do
crescimento, estado nutricional e registros
alimentares do paciente;
 Pode ocorrer desnutrição e déficit de
crescimento nas crianças;
 Pode ser necessário a suplementação de
vitaminas e minerais.

Weffort e Lamounier, 2017


Referência

KRAUSE: Alimentos, nutrição e


dietoterapia. Rio de janeiro: Elsevier,
2012.
WEFFORT e LAMOUNIER. Nutrição em
pediatria: da neonatologia à adolescência.
2ª ed. Barueri: Manole, 2017.
Para as próximas aulas....
WEFFORT e LAMOUNIER. Nutrição em
pediatria: da neonatologia à adolescência. 2ª
ed. Barueri: Manole, 2017:
- Cap 9: Erros inatos do metabolismo
- Cap 11: Distúrbios do apetite
KRAUSE: Alimentos, nutrição e dietoterapia. Rio de
janeiro: Elsevier, 2012:
- Cap 23: Nutrição nos transtornos
alimentares
- Cap 44: Distúrbios genéticos metabólicos
ATIVIDADE DE REVISÃO
 1) Pontue os tipos de reações adversas aos
alimentos mediada e não mediada
 2)quais são os fatores causais da intolerância
alimentar?
 3)Qual a diferença entre deficiência congênita e
ontogênica?
 4) Quais seriam as 5 possíveis causas para a alergia
alimentar?
 5)Quais são as opções de tratamento nutricional na
alergia alimentar?

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