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Aluna: Ana Tereza da Conceição Gonçalves de Lima | Matrícula: 201220911

Em uma análise dos textos apresentados, o Caso Lotus mostra a história de um


acidente marítimo em alto mar entre navios de bandeira francesa e turca, e que fora
solucionado pela Corte Permanente Internacional de Justiça (Haia) em 1927, por causa de um
acordo firmado entre as partes envolvidas.
O fato ocorreu em 02 de Agosto de 1926, onde um navio turco, denominado
Boz-Kout, colidiu com um navio francês que carregava correspondências, denominado lótus, e
que devido a essa colisão, o navio da turquia repartiu-se em dois, afundou e
consequentemente, ocasionou a morte de oito marinheiros da turquia. Com isso, no dia 03 de
Agosto de 1926, as investigações sobre o caso foram iniciadas pelas autoridades policiais da
Turquia, a fim de apurar a responsabilidade dos envolvidos no caso.
Nesse liame, no dia 05 de Agosto, as autoridades turcas intimaram o tenente Demons
para prestar depoimento, sendo este, o responsável pelo navio lótus. Depois da intimação, os
turcos detiveram o tenente, sem comunicar o Consulado-Geral da França. No entanto, o
comandante Hassan Bey também foi preso, e ambos foram indiciados por homicídio culposo.
Em consequência a isso, surge uma discussão sobre a fixação de competência de
quem seria o responsável para julgar o caso em comento, pois a questão estava voltada para
definir se a Turquia tinha competência para julgar cidadão francês por fato ocorrido em alto
mar, mesmo que as vítimas fossem de nacionalidade turca. Além disso, a França argumentou
que ambos os Estados envolvidos na lide, haviam ratificado a Convenção de Lausanne, em 24
de julho de 1923, que “as relações entre Turquia e as outras potências contratantes seriam
reguladas conforme os princípios de direito internacional”.
No entanto, o Tribunal decidiu o conflito através de um voto de desempate do relator,
em que considerou a Turquia competente para a resolução do conflito, conforme aduz a
legislação penal turca em seu art. 6, prolatando que se passa à bordo de navio em alto-mar
deve ser considerado território do Estado, cujo a bandeira o navio usa.
Por fim, cabe salientar que até o julgamento do presente caso, não havia regra
internacional específica para o caso, e por isso, as soluções eram dadas pelas normas de
direito processual penal internacional dos Estados, e é a partir disso que surge uma discussão
sobre o caso em uma perspectiva atual.
Desse modo, ao analisarmos o caso em comento, tem-se que o principal ponto a ser
debatido é sobre quem seria responsável por julgar a lide. Partido de uma análise dogmática, a
Teoria Monista, traz a ideia de uma unidade normativa, logo o direito internacional subordina
às leis internas dos Estados a aquilo que foi delimitado em uma ordem internacional, por isso,
partindo dessa análise, é evidente que a França, ao utilizar a Convenção de Lausanne como
fundamento, em que aduz que a Turquia é signatária, traz como consequência, a ideia de que a
lide deveria ser julgada conforme regras do direito internacional.
Por outro lado, se nessa mesma perspectiva, consideramos que a Turquia, ao julgar a
lide conforme regras de direito interno, mesmo tendo assinado o tratado de Lausanne, aduz
que a teoria dualista é a que melhor explica essa tomada de decisão pela Corte, visto que, o
país escolhe se submeter às regras estabelecidas pelo seu direito interno, tornando facultativa
a subordinação a uma jurisdição internacional.
A partir disso, nota-se que a problemática em questão é, que ao analisarmos a
decisão da época, tem-se a ideia de liberdade absoluta dos Estados para tomar suas decisões.
Apesar de no momento do fato não existirem legislações abrangentes sobre o conflito em
questão, foi a partir desse caso, em que surgiu uma necessidade de regulamentos mais
específicos que abordasse e abrangesse uma necessidade internacional. E é por isso, que há
um conflito evidente ao não delimitar o que vai prevalecer, se é a vontade dos Estados ou a
jurisdição internacional.
Por isso, levando em consideração a soberania dos Estados, em que determina uma
não subordinação a nenhum outro poder, além de possuir liberdade para gerir seus assuntos
internos, e partindo dessa perspectiva, seria facilmente possível que um Estado tomasse
decisões que afetasse diretamente assuntos internos de outro Estado, conforme foi visto nesse
caso, pois, apesar da Turquia ter sofrido a perda de seus tripulantes, essa acabou interferindo
na soberania da França, mesmo o fato tendo ocorrido em território internacional,
especialmente por ter aplicado a sua legislação interna, sob a justificativa de que não existiam
normas que regulassem de forma objetiva a questão, logo, não era proibido partir dessa
perspectiva.
Logo, é evidente que tal posicionamento é fruto do voluntarismo, haja vista que
caberia aos Estados aceitar seguir as normas internacionais conforme suas vontades, e caso
decidisse se submeter, isso limitaria sua soberania, e reduziria a regulamentação do direito
internacional a mera vontade do Estado. Por isso, a decisão torna-se inconsistente ao
analisarmos a nova abordagem trazida pelo direito internacional moderno, haja vista que,
quando o indivíduo passa a integrar esse direito, isso afasta a noção da vontade una dos
Estados para a formação da ordem jurídica internacional, o que torna as críticas ao caso lótus
relevante, partindo da perspectiva atual.
Por fim, tem-se que, a forma como foi resolvida o caso lotus corresponde a época no
qual este estava inserido, pois, com a ordem jurídica atual, a solução tomada parte de uma
perspectiva contrária ao que é visto atualmente, já que essa subordinação a vontade estatal não
é suficiente para atender as necessidades internacionais do presente, como também, não fora
no caso lótus, por isso, serviu como ponto primordial para a evolução do direito internacional
público.

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