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MAQUINAS ELÉCTRICAS
ROTATIVAS

Dizono Lusakueno
Objectivos da disciplina:
 Identificar os principais elementos constituintes das máquinas rotativas;
 Conhecer e compreender os tipos de máquinas eléctricas rotativas;
 Identificar, classificar e executar ensaios das seguintes máquinas: motores de
indução, motores síncrono, alternadores, motores de corrente contínua e
dínamos.

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Classificação

As máuinas rotativas são classificadas essencialmente quanto à sua função em:


 Motores eléctricos, cuja energia eléctrica é transformada em energia mecânica
geralmente rotativa;
 Geradores eléctricos, cuja energia mecânica de entrada é transformada em
energia eléctrica.

Em ambos os casos, as máquinas rotativas obedecem às leis do electromagnetismo, quer


em corrente contínua, quer em corrente alternada.

O princípio de funcionamento do motor é baseado na produção de uma força


electromagnética que se exerce sobre um condutor (ou espira) introduzido no seio de
um campo magnético, quando percorrido por uma corrente eléctrica. A lei de Laplace
diz que a força exercida sobre cada condutor é directamente proporcional ao valor da
indução magnética, ao valor da intensidade eléctrica e ao comprimento do condutor.

No caso do gerador, as leis de Lenz e de Faraday referem: sempre que um condutor ou


uma espira se desloca no seio de um campo magnético, de modo a que o fluxo
magnético sobre ele varie, dá lugar a uma força electromotriz induzida aos seus
terminais que tende a opor-se a causa que lhe deu origem.

As máquinas eléctricas rotativas são assim constiuidas essencialmente por dois circuitos
eléctricos acoplados magneticamente através de um circuito magnético. Um dos
circuitos encontra-se localizado na parte fixa, denominada por estator, e outro encontra-
se sobre o elemento móvel denominado rotor.

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As máquinas eléctricas de corrente alternada dividem-se em dois grandes grupos:
máquinas assíncronas e máquinas síncronas. Embora (nos motores monofásicos) ainda
falaremos de alguns motores que não são síncrono nem assíncrono, considerados como
motores especiais.

TEMA 1: MÁQUINAS ASSÍNCRONAS


As máquinas de corrente alternada assíncronas são equelas cuja velocidade de rotação N
é diferente da velocidade do campo magnético girante Ns (velocidade de sincronismo).
𝑁 ≠ 𝑁𝑠
A velocidade de rotação N é menor que a velocidade de sincronismo Ns quando
funciona como motor.
𝑁 < 𝑁𝑠
A velocidade de rotação N é maior que a velocidade de sincronismo Ns quando
funciona como gerador.
𝑁 > 𝑁𝑠
Neste tema estudaremos somente os motores assíncronos trifásicos e motores
assíncronos monofásicos.

1.1. Constituição do motor assíncrono


As diversas partes que constituem uma máquina eléctrica rotativa podem ser
classificadas de acordo com a função que desempenham:
 Os órgãos mecânicos que asseguram a posição relativa do estator e do rotor, a
transmissão da energia mecânica, a protecção das partes eléctricas e magnéticas
e a fixação da máquina. Os principais órgãos mecânicos são: a carcaça, o veio,
os enrolamentos, as tampas chumaceiras, o ventilador e a placa de borne.
 Os órgãos magnéticos constituidos por: circuito magnético do estator, fixo na
carcaça e em cujas cavas são colocados os enrolamentos eléctricos; e pelo
circuito magnético do rotor, suportado pelo veio.
 Os órgãos eléctricos são constituidos pelos enrolamentos do estator que
permitem a ligação em estrela ou em triângulo e pelos condutores do rotor (caso
rotor em gaiola) ou enrolamentos do rotor (caso rotor bobinado).

1.2. Motor assíncrono trifásico

1.2.1. Constituição e princípio de funcionamento

 O estator é composto por três enrolamentos dispostos a 120° (enrolamento


trifásico).
 Os enrolamentos do estator (armadura) são conectados a uma fonte de
alimentação CA trifásica (três tensões defasadas de 120° elétricos)
 O enrolamento trifásico pode ser conectado em Δ ou Y.
 O fluxo produzido nos enrolamentos do estator, e que atravessa o entreferro e o
rotor, é girante com a velocidade da freqüência da tensão de alimentação.

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 O campo girante do estator induz tensão no enrolamento do rotor, o qual não é
alimentado diretamente, energização ocorre apenas por indução.
 O rotor pode ser composto por três enrolamentos similares ao do estator (rotor
bobinado), ou pode ser composto por um conjunto de barras condutoras
conectadas em seus extremos por dois anéis (rotor tipo gaiola de esquilo).
 Se o enrolamento do rotor for curto-circuitado (circuito fechado), surgirão
correntes induzidas, que produzirão um campo magnético no rotor em oposição
ao campo do estator, resultando na produção de torque e no giro do rotor em
uma dada velocidade.
 Para existirem correntes induzidas no rotor, a velocidade mecânica do eixo
deverá ser sempre diferente da velocidade do campo girante, caso contrário, um
condutor sobre o rotor estaria sujeito a campo fixo, e não haveria correntes
induzidas. Daí a denominação de máquina assíncrona.

Fig.1.1 – elementos principais de um motor assíncrono.

Fig.1.2 – constituição do motor assíncrono trifásico: a) rotor bobinado; b) elementos do motor com rotor
em curto-circuito ou gaiola de esquilo; c) motor de indução com rotor em curto-circuito.

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1.2.2. Campo magnético girante, velocidade síncrona e velocidade do
motor e escorregamento

O motor assíncrono trifásico funciona com o princípio do campo girante produzido pelo
enrolamento do estator que contém um certo número de pares de pólos p.

Experiência
Suponhamos que três bobinas colocadas de forma que ficam deslocadas de 120º entre si.
Alimentamos as bobinas com as correntes trifásicas. As três fases são desfasadas entre
si de 120º.

O campo de indução magnética assim criado é um campo girante. A sua intensidade é


1,5 vezes que aquele produzido por uma bobina. A sua velocidade é igual a uma rotação
por período.

Representamos as três fases (U1, U2, U3). A indução de cada bobina é dirigida segundo
o seu eixo. O seu sentido é dirigido para o centro.
Obtemos para cada bobina um diagrama vectorial (B1, B2, B3). Adicionando os três
vectores, vê-se que o resultante é um vector girante. A sua intensidade é constante e
vale 1,5 vezes a intensidade máxima de cada composante. O resultante fez uma volta
completa em um periódo.

Fig. 1.3 – ligação de três enrolamentos de um sistema trifásico e diagrama temporal de um sistema
trifásico de campos magnéticos.

Por análise do diagrama temporal representado na figura 1.3, podemos vericar que os
campos magnéticos h1, h2 e h3 vão evoluindo sinusoidalmente no tempo, passando cada
um deles sucessivamente por um máximo (positivo e negativo), desfasados entre si de
120º ou 1/3 de período.

Atentamos agora, em particular, nos instantes t1, t2 e t3.

No instante t1, temos que h1 é máximo positivo enquanto h2 e h3 são negativos, iguais a
h1/2 (em módulo).
No instante t2, temos que h2 é máximo positivo e h1 e h3 são negativos, iguais a h2/2 (em
módulo).
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No instante t3, temos que h3 é máximo positivo e h2 e h1 são negativos, iguais a h3/2 (em
módulo).

Fazendo a representação vectorial dos três vectores h1, h2 e h3 produzidos por cada uma
das bobinas, nos três instantes t1, t2 e t3, obtemos os diagramas representados na figura
1.4.

Fig. 1.4 – Campo girante Ht provocado por um sistema trifásico de correntes, em três instantes
sucessivos.

Analisando o diagrama correspondente ao instante t1, visto que h1 é positivo, então o


vector h1 sai da bobina B1, para o centro da máquina; h2 e h3 são negativos, pelo que os
vectores correspondentes entram nas bobinas respectivas (vectores partindo do centro
para o interior das bobinas respectivas). O campo magnético total produzido pelas três
bobinas será Ht = h1+h2+h3. Se fizermos essa soma vectorial, obtemos o vector Ht
indicado na figura 1.4, sobreposto a h1 e maior que do que este (demonstra-se que é
igual a 3 h1/2).

Para os instantes t2 e t3, o raciocínio era semelhante e verificariamos que o campo


magnético total resultante seria sobreposto a h2 (para o intante t2) e sobreposto a h3 (para
o intante t3).

Podemos concluir que no instante t1, o vector Ht tem a direcção de h1 (na vertical); no
instante t2, deslocou-se 120º e no instante t3, deslocou-se 120º, e assim sucessivamente.
Isto é, o vector Ht é um vector girante que roda à mesma velocidade de variação da
corrente alternada que alimenta as bobinas do estator.

Observa-se também que quando se completa um ciclo da corrente alternada, de


frequência f, o campo girante perfazia uma volta completa de velocidade n, isto é, se f =
50 ciclo/segundo (ou Hz), então a velocidade de rotação seria Ns = 50 rotações /
segundo

Para város pares de pólos, a velocidade do campo girante (velocidade de sincronismo


𝑓 𝑓
Ns) é dada pela expressão: 𝑁𝑠 = 60 [𝑟𝑝𝑚] ou 𝑁𝑠 = [𝑟𝑝𝑠]
𝑝 𝑝
Em que:
Ns – Velocidade do campo girante (rot/min ou rot/seg)
f – Frequência em Hz

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p – Número de pares de pólos.

No rotor, constituido de gaiola de esquilo, o campo girante do estator cria correntes.


Segundo a lei de Lenz, as correntes, por seus efeitos, vão opor-se a causa que lhe deram
origem.

Os efeitos dessas correntes induzidas é de produzir um campo girante do rotor (com a


mesma velocidade que o campo girante do estator); a causa que o deu origem é a
variação do campo indutor em relação ao induzido.

O rotor vai movimentar-se para tentar igualar e anular assim a variação do campo
girante indutor. Portanto, não pode igualar completamente este campo por que a causa
de rotação do rotor iria desaparecer.

O rotor girará então com uma velocidade inferior a velocidade de sincronismo; seja N
esa velocidade.

𝑁𝑠−𝑁
Chamamos velocidade de escorregamento: 𝑁𝑔 = 𝑁𝑠 − 𝑁 e o escorremento: 𝑔 = 𝑁𝑠
 Em repouso: N = 0 e g = 1
 Na velocidade de sincronismo (nunca alcançada): N = Ns e g = 0
 Então, o escorregamento é um valor que varia entre 0 e 1

1.2.3. Tipos de rotores do motor assíncrono

O motor assíncrono pode ter dois tipos de rotores que são:


 Motor de rotor em gaiola de esquilo (rotor em curto circuito): o rotor é
constituido por um núcleo de chapas ferromagnéticas, isoladas entre si, sobre o
qual são colocadas barras de alumínio (condutores), dispostas paralelamente
entre si e unidas nas suas extremidades por dois condutores circulares, também
em alumínio. O núcleo de ferro é colocado no interior da gaiola.
Esse motor é geralmente construido para baixas potências.

a)
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b)
Fig. 1.5. a) Motor assíncrono de rotor em gaiola de esquilo (vista em projecção dos diversos elementos);
b) representação dos condutores do rotor formando a gaiola.

 Motor de rotor bobinado: difere do motor de rotor em gaiola de esquilo apenas


quanto ao rotor. O rotor desse motor é constituido por um núcleo ferromagnético
laminado, sobre o qual são alojadas as espiras que constituem o enrolamento
trifásico que é ligado em estrela. Ostrês enrolamentos do rotor são ligados a três
anéis colectores. Estes anéis ligam exteriormente a um reóstato de arranque
constituido por três resistências, ligadas também em estrela.

a)

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b)
Fig. 1.6. a) Motor assíncrono de rotor bobinado, desmontado (vista em projecção); b) representação
do seu rotor com anéis deslizantes
Um circuito exterior de reóstato trifásico (resistência) deve curto circuitar o rotor e tem
função de reduzir a corrente de arranque do motor. Portanto reduzindo a corrente do
rotor a partir do reóstato de arranque, reduz-se a corrente absorvida pelos enrolamentos
do estator do motor

Fig. 1.7. Ligação dos enrolamentos (E) do rotor bobinado a um reóstato de arranque (R) ligado
exteriormente.

Quando os cursores do reóstato estão na extremidade B, a resistência R é máxima e a


corrente induzida i é mínima – posição de arranque do motor. Quando o motor atinge
a velocidade nominal, os cursores devem estar na posição A (R = 0 → i máximo). Após
o arranque, o motor já pode funcionar, obviamente, à sua corrente nominal.

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1.2.4. Circuito equivalente do motor assíncrono

Como no transformador, o circuito equivalente do motor assíncrono será feito por fase,
isto é, todas as grandezas que intervém na sua construção serão as grandezas duma fase.

a) Suponhamos o circuito eléctrico do rotor aberto (motor em repouso)

Neste caso o motor assíncrono pode ser considerado como um transformador cujo
secundário está aberto (transformador em vazio).

No estator (primário), a variação do fluxo mágnético Ф cria uma força contra


electromotriz E1 igual e oposto a U1:
𝐸1 = 4,44 𝑛1 𝑓1 Ф

No rotor (secundário), a variação do fluxo cria uma força contra electromotriz E20:
𝐸20 = 4,44 𝑛2 𝑓1 Ф ; 𝑝𝑜𝑖𝑠 𝑓1 = 𝑓2
𝐸20
A relação = 𝑟𝑡 , é a relação de transformação do motor assíncrono.
𝐸1
Mas a corrente do primário passa nos enrolamentos do estator e cria uma queda de
tensão óhmica R1I1. Todo fluxo produzido pelo estator não atravessa o rotor por que
uma parte perde-se no ar; esse fluxo de fuga cria no estator uma queda de tensão
indutiva L1ω1I1, onde L1 é a indutância de fuga.

Fig. 1.8. Circuito equivalente do motor assíncrono com circuito eléctrico do rotor aberto.

b) O rotor está em curto-circuito

O rotor, accionado pelo campo magnético girante corta as linhas do fluxo à velocidade:
𝑁𝑠 − 𝑁 = 𝑔𝑁𝑠 ,
e a frequência das correntes rotóricas torna:
𝑓2 = 𝑔𝑓1

A f.e.m rotórica será:


𝐸2 = 4,44 𝑛2 𝑓2 Ф
ou 𝐸2 = 4,44 𝑛2 𝑔 𝑓1 Ф
então 𝐸2 = 𝑔 𝐸20 ou 𝐸2 = 𝑟𝑡 𝐸1 𝑔

O rotor estando fechado a si mesmo (em circuito fechado), uma corrente I2 circula na
gaiola de esquilo, e cria na resistência rotórica uma queda de tensão óhmica R2 I2.

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por outro lado, não todo fluxo produzido pela corrente do rotor que atravessa os
enrolamentos do estator. Ao fluxo de fuga corresponde uma indutância de fuga L2 que
vai criar uma queda de tensão indutiva L2 ω2 I2.

Chegamos ao seguinte circuito equivalente

Fig. 1.9. Circuito equivalente do motor assíncrono com circuito eléctrico do rotor fechado.

Do circuito, vê-se que:


𝑔 𝐸20
𝐼2 =
√𝑅22 + (𝐿2 𝜔2 )2

Portanto, 𝐿2 𝜔2 = 𝐿2 𝜔1 𝑔 = 𝑋2 𝑔 (suponhando L2ω1 = X2)

Onde, dividindo o numerador e o denominador, ambos, por g, temos:


𝐸20
𝐼2 =
2
√(𝑅2 ) + 𝑋22
𝑔
Podemos agora, como nos transformadores, reduzir as grandezas do secundário ao
primário. Por isso:
Vamos dividir as tensões do secundário por rt;
Vamos multiplicar as correntes secundárias por rt;
Vamos dividir as impedâncias secundárias por rt2.
Seja:
𝐸20
𝐸2′ = = 𝐸1
𝑟𝑡
𝐼2′ = 𝑟𝑡 𝐼2
𝑅2 𝑋2
𝑅2′ = 2 𝑒 𝑋2′ = 2
𝑔 𝑟𝑡 𝑟𝑡
Para completar o circuito equivalente, deve-se ter em conta as perdas no ferro que
dependem da indutância e então da tensão. Estão representadas pela resistência em
paralelo na entrada, atravessada pela componente activa da corrente em vazio (fig. 1.7).

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Fig. 1.10. Redução das grandezas do secundário ao primário.

A resistência duma fase do rotor é R2, e reduzido ao primário:


𝑅2
𝑟𝑡2
𝑅2
Representamos a resistência como duas resistências em série:
𝑔 𝑟𝑡2
𝑅2
 A primeira: é a resistência rotórica reduzida au primário (estator); é o
𝑟𝑡2
responsavel das perdas por efeito de Joule no rotor.
𝑅2 𝑅2 𝑅2 1−𝑔
 A segunda: 𝑅2′ = − = ( ) representa a resistência de carga; a
𝑔 𝑟𝑡2 𝑟𝑡2 𝑟𝑡2 𝑔
potência dissipada nessa resistência é a potência útil do motor.

Agora é mais conveniente representar o circuito equivalente da seguinte forma (fig. 1.8)

Fig. 1.11. Redução das grandezas do secundário ao primário com a representação da resistência de carga.

O rotor recebe uma potência Pr:


𝑅2 2 2 𝑅2 𝐼22
𝑃𝑟 =
𝑟 𝐼 =
𝑔 𝑟𝑡2 𝑡 2 𝑔
As perdas por efeito de Joule no rotor são pjr:
𝑅2
𝑝𝑗𝑟 = 2 𝑟𝑡2 𝐼22 = 𝑅2 𝐼22 = 𝑔 𝑃𝑟
𝑟𝑡
A potência útil vale:
𝑅2 1 − 𝑔 1−𝑔 2
𝑃𝑢 = 2 ( ) 𝑟𝑡2 𝐼22 = 𝑅2 ( ) 𝐼2
𝑟𝑡 𝑔 𝑔
O rendimento do rotor ηr, a relação:

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𝑃𝑢
𝜂𝑟 =
𝑃𝑟
1−𝑔
𝑅2 ( 𝑔 ) 𝐼22
𝜂𝑟 = = 1−𝑔
𝑅2 𝐼22
𝑔

1.2.5. Binário motor e potência mecânica


A partir da lei de Laplace, estudada no electromagnetismo, podemos expressar a força F
aplicada a cada condutor da espira por:
𝐹 = 𝐵 𝑖 𝑙 (com sen𝛼 = 1)
Sabe-se, da física e do electromagnetismo, que o momento do binário M é dada por:
𝑀=𝐹𝑑=𝐵𝑖𝑙𝑑
Em que d é a distância entre os pontos de aplicação das duas forças
Como um motor absorve potência eléctrica (P ) da rede e transforma-a em potência
mecânica (Pm), então a potência eléctrica é a potência absorvida (Pa) e a potência
mecânica é a potência útil (Pu).
Na figura 1.2.11, representam-se as duas forças F, de sentidos contrários, aplicadas aos
condutores da espira (numa vista de frente).

Fig. 1.2.12. Trabalho produzido por um binário motor

Por definição, a potência é o trabalho produzido por unidade de tempo:


𝑊
𝑃= 𝑒 𝑊=𝐹𝑙
𝑡
O trabalho produzido por um binário de duas forças quando provoca a rotação da espira
𝑑
de um ângulo 𝜶 é: 𝑊 = 2 𝐹 𝑙, como 𝑙 = 𝑟 𝛼 = 𝛼 2 , então: 𝑊 = 𝐹 𝑑 𝛼 = 𝑀 𝛼

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𝑊 𝑀𝛼 𝛼
Como: 𝑃 = , 𝑒𝑛𝑡ã𝑜: 𝑃 = = 𝑀𝜔 (𝑝𝑜𝑖𝑠 𝜔 = )
𝑡 𝑡 𝑡
𝑁
Visto que 𝜔 = 2 𝜋 , obtemos:
60

𝑁
𝑃𝑚 = 2𝜋 𝑀
60
Como existe as perdas de binário motor devido ao atrito do rotor e as perdas no ferro,
nem toda potência produzida é utilizada. A potência que o motor fornece à carga é a
potência útil (Pu) dada por:
𝑁
𝑃𝑢 = 2𝜋 𝑀
60 𝑢
Em que: 𝜔 – velocidade angular (radiano por segundo);
𝛼 – ângulo descrito num tempo genérico t;
Pm – potência mecânica do motor (watts);
M – binário motor total (newton.metro);
N – velocidade de rotação (rotação por minuto)

1.2.6. Perdas e rendimentos


O rendimento do motor eléctrico é sempre inferior a 100 %, em virtude da existência de
perdas diversas
A potência útil Pu de uma máquina é dada por: 𝑃𝑢 = 𝑃𝑎 − 𝑝𝑡 , onde pt designa as perdas
totais.
As potências perdidas do motor são:
 Perdas por efeito de Joule no estator – pje;
 Perdas no ferro do estator – pfe;
 Perdas mecânicas (devido ao atrito do rotor) – pm;
 Perdas por efeito de Joule do rotor – pjr;
 Perdas no ferro do rotor – pfr;

Assim, as perdas totais (pt) serão: 𝑝𝑡 = 𝑝𝑗𝑒 + 𝑝𝑓𝑒 + 𝑝𝑚 + 𝑝𝑗𝑟 + 𝑝𝑓𝑟

Define-se a potência transmitida ao rotor (Pr) pela expressão:


𝑃𝑟 = 𝑃𝑎 − 𝑝𝑗𝑒 − 𝑝𝑓𝑒
E a potência útil pode ser obtida por: 𝑃𝑢 = 𝑃𝑟 − 𝑝𝑗𝑟 − 𝑝𝑡𝑟 − 𝑝𝑚

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 As perdas por efeito de Joule no estator de um motor trifásico podem ser
calculadas por
𝑝𝑗𝑒 = 3 𝑅 𝐼 2 , em que R é a resistência de cada enrolamento e I é a intensidade de
corrente que percorre cada enrolamento.
 As perdas no ferro do estator pfe e as perdas mecânicas pm são praticamente
independentes do regime de carga, isto é, são praticamente constantes quando o
motor está em vazio ou em carga. Com efeito, estas perdas dependem apenas da
tensão aplicada ao motor, a qual é constante (Un) nos ensaios em vazio e em
carga. Diz-se, por isso, a soma pfe + pm constitui as perdas constantes do motor:
𝑝𝑓𝑒 + 𝑝𝑚 = 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠

 As perdas no ferro do rotor são geralmente desprezáveis, pois variam


directamente com a frequência fr das correntes induzidas no rotor. Ora, esta
frequência fr tem um valor muito baixo.
 As perdas por efeito de Joule no rotor variam ligeiramente com a velocidade do
motor e demonstra-se que podem ser calculadas pela expressão seguinte:
𝑝𝑗𝑟 = 𝑔 𝑃𝑟 𝑐𝑜𝑚 𝑃𝑟 = 𝑃𝑎 − 𝑝𝑗𝑒 − 𝑝𝑓𝑒

O rendimento do motor será obtido pela expressão:


𝑃𝑢 𝑃𝑎 − 𝑝𝑡 𝑃𝑢
𝜂= 𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑗𝑎 𝜂 = 𝑜𝑢 𝑎𝑖𝑛𝑑𝑎 𝜂 =
𝑃𝑎 𝑃𝑎 𝑃𝑢 + 𝑝𝑡
Visto que tanto o estator como o rotor apresentam perdas, então o rendimento 𝜼 de um
motor assíncrono pode também ser calculado, aproximadamente, pelo produto de duas
parcelas “o rendimento do estator 𝜼𝒆 e o rendimento do rotor 𝜼𝒓 ”
𝜂𝑡 = 𝜂𝑒 × 𝜂𝑟
O rendimento do estator é dado por:
𝑃𝑎 − 𝑝𝑡𝑒
𝜂𝑒 =
𝑃𝑎
Onde 𝑝𝑡𝑒 = 𝑝𝑗𝑒 + 𝑝𝑓𝑒 + 𝑝𝑚 é a soma das perdas totais do estator

O rendimento do rotor pode ser calculado pela expressão:

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𝜂𝑟 = 1 − 𝑔

1.2.7. Arranque do motor assíncrono. Ponto de funcionamento


Quando se liga um motor à rede, ele só arranca se o binário motor, resultante das forças
electromagnéticas aplicadas às espiras do rotor, for superior ao binário resistente
(exercido pela carga accionada + atritos). Se o binário motor for inferior ao binário
resistente, evidentemente que o motor não arranca, continuando o motor parado.
Depois de iniciada a marcha, a velocidade do motor aumenta progressivamente, ao
mesmo tempo que a corrente (que é elevada no instante de arranque Ia) começa a
diminuir, enquanto o binário motor vai aumentando, até estabilizar num dado valor.
Com efeito, o motor estabiliza a sua velocidade quando o binário motor iguala o binário
resistente.

Fig. 1.2.13. Binário motor e resistente: M – binário motor; Mr’e Mr’’ – binários resistentes; Ma – binário
de arranque; A e B – pontos de funcionament; n’ e n’’ – velocidades de rotação nos pontos A e B.

Na figura 1.2.13 representamos a evolução do binário motor e do binário resistente (da


carga accionada) até ao ponto de funcionamento do motor, para cargas accionadas
(pontos A ou B, respectivamente). A cada carga correspondente, evidentemente, uma
velocidade (n’ ou n’’), um valor de binário motor e ainda um dado valor de corrente
absorvida In.

Na figura 1.2.14 representa-se a evolução da corrente absorvida pelo motor, desde o


valor máximo (corrente de arranque Ia) até ao valor nominal In para carga nominal. A
corrente de arranque Ia dos motores é bastante elevada, podendo nalguns casos atingir
6 × 𝐼𝑛 ou mesmo mais.

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Fig. 1.2.14. Corrente absorvida pelo motor, desde o arranque até à velocidade nominal.

Se observamos com mais atenção a curva do binário motor, iremos concluir


rapidamente que o motor não pode funcionar em qualquer ponto da curva. Há pontos de
curva 58onde o funcionamento é instável e outro onde o funcionamento é estável.

Se o motor estiver a funcionar num ponto que se encontra na parte ascendente da curva
(de Ma até Mmax) e se por qualquer motivo, o binário resistente aumentar, então o motor
perde velocidade e diminuirá também o binário motor que, por sua vez, implica nova
perda de velocidade do motor, e assim sucessivamente, até que o motor pára
completamente. Por esta razão se diz que todos os pontos do troço ascendente (de Ma a
Mmax), são pontos instáveis.

Se o motor estiver a funcionar num ponto que se encontra na parte descendente da curva
(de Mmax até ponto A ou B, dependentemente da carga), já o mesmo não acontece. Se
por qualquer motivo, aumentar o binário resistente, não há dúvida que o motor perde
velocidade. Mas neste caso, por observação gráfico, concluiremos que menor
velocidade implica maior binário motor, isto é, o binário motor aumenta, compensando
a perda de velocidade, e o motor nunca pára, diz-se, por isso, que os pontos que se
encontram no troço descendente são pontos estáveis. O motor só pára quando N e M
diminuem simultaneamente, isto é, na zona instável de funcionamento do binário. A
𝑵
expressão da potência mêcanica do motor 𝑷𝒎 = 𝟐𝝅 𝟔𝟎 𝑴 também nos permite explicar
estes factos.
Define-se coeficiente de estabilidade C do motor como o quociente entre o binário
𝑴𝒎𝒂𝒙
motor máximo Mmax e o binário motor nominal Mn, isto é 𝑪 = . Este valor deve
𝑴𝒏
ser próximo de 2, para garantir uma boa margem de estabilidade do motor, de forma a
que ele continue a trabalhar, mesmo quando o binário resistente aumenta quase para o
dobro.

1.2.8. placa de terminais do motor. Conveções


Os terminais dos enrolamentos do motor devem ser convenientemente identificados, de
modo a podermos efectuar as ligações entre os enrolamentos e a ligação com a rede, de
uma forma correcta, evitando assim ligações erradas quepossam, inclusivamente, pôr
em perigo os próprios enrolamentos.

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Assim, convencionou-se representar os terminais dos três enrolamentos através das
seguintes letras:
 U, V, W ou U1, V1, W1 – terminais de ligação à rede trifásica
 X, Y, Z ou W2, U2, V2, – terminais opostos, respectivamente, de cada um dos
enrolamentos
O motor trifásico pode apresentar, na sua placa de terminais, os seis terminais ou apenas
três. Se o motor já tem as ligações dos enrolamentos efectuadas interiormente (e
normalmente a ligação é feita em triângulo), então a placa apresenta apenas três
terminais (os três terminais de alimentação U,V,W) – note que neste caso não pode ser
feito o arranque estrela-triângulo, mas podem ser feitos outros tipos de arranque. Se o
motor não tem as ligações efectuada interiormente, então aparece na placa os seis
terminais, os quas podem ser ligados exteriormente,entre si, em estrela ou em triângulo.

A ligação em estrela consiste em ligar, entre si (shuntar), as três saídas (X, Y, Z ou W2,
U2, V2) dos enrolamentos. Na figura 1.2.15 (a) representa-se este shunt, utilizando duas
placas de cobre.

A ligação em triângulo consiste em ligar a saída de um enrolamento com a entrada de


outro enrolamento seguinte, e assim successivamente. Na figura 1.2.15 (b) faz-se cada
uma destas ligações, utilizando três placas de cobre que são ligadas na vertical (U com
Z, V com X e Wcom Y ou seja U1 com W2, V1 com U2 e W1 com V2)

Fig. 1.2.15 – (a) Ligação em estrela dos enrolamentos de um motor trfásico (esquema eléctrico de ligação
e placa de terminais); (b) ligação em triângulo dos enrolamentos de um motor trifásico (esquema eléctrico
de ligação e placa de terminais).

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1.2.9. inversão do sentido de rotação de um motor trifásico

A inversão do sentido de rotação de qualquer motor trifásico é sempre feita trocando


entre si duas das três fases de alimentação do motor, isto é, se o motor roda à direita, por
exemplo, quando é alimentado pela seguinte sequência de fases (R, S, T), em relação
aos terminais U, V, W, respectivamente, então rodará à esquerda (em sentido contrário)
se trocarmos as fases R com S ou R com T ou ainda S com T, isto é, trocar, entre si,
apenas duas fases.

Fig. 1.2.16 – Inversão de sentido de rotação de um motor trifásico: a) rotação direita (sentido horário); b)
rotação esquerda (sentido anti horário).
1.2.9. Ensaios do motor trifásico de rotor em gaiola

A análise do funcionamento de um motor assíncrono trifásico é feita através da


realização detrês ensaios: em vazio, em curto-circuito e em carga. Os três ensaios são
efectuados através da montagem correspondente ao esquema indicado na figura 1.2.16.

Fig. 1.2.16 – Esquema eléctrico de um motor assíncrono trifásico, para realização dos ensaios.

a. Ensaio em vazio

Um motor funciona em vazio quando, sendo alimentado pela rede à tensão nominal e
encontrando-se o rotor a girar sem accionar qualquer carga.

20
O ensaio em vazio do motor consiste em aplicar-lhe a tensão nominal, fazendo o rotor
atingir o ponto de funcionamento em vazio, e proceder de seguida às leituras dos
aparelhos indicados no esquema da figura 1.2.16:
Uc – tensão composta (ou seja entre fases);
IL – corrente na linha;
Pa = P1 + P2 – potência trifásica absorvida, pelo método de Aron.

Além destes valores, podemos medir ainda a velocidade N do motor em vazio, com um
taquímetro. Não esquecer que a velocidade do campo girante ou de sincronismo Ns é,
de uma forma geral, para frequência de 50 Hz, submúltiplo de 3000 r.p.m.. Daí
calculamos o escorregamento cujo valor é muito baixo porque o binário resistente é
nulo havendo apenas o peso do próprio rotor e o atrito devido à resistência do ar ao
movimento do rotor. Deste modo, o motor roda, em vazio, a uma velocidade muito
próxima da velocidade de sincronismo.

O factor de potência do motor em vazio também é bastante baixo, visto este comportar-
se como um circuito quase indutivo puro. Valores usuais do factor de potência em vazio
são 0,1 a 0,2. E pode ser calculado pela expressão:

𝑃1 + 𝑃2
𝑐𝑜𝑠𝜑0 =
√3 𝑈𝑐 𝐼𝐿
Toda absorvida no ensaio em vazio (P0) é é transformada em perdas, no motor. Temos,
portanto: P0 = P1 + P2 = pje + pFe + pm
Pois, para ensaio em vazio as perdas no ferro pFe e as perdas por efeito de Joule no rotor
pjr são desprezáveis.

As perdas por efeito de Joule no estator pje podem ser calculadas por:
𝑝𝑗𝑒 = 3 𝑅 𝐼𝑅2
Em que: R – resistência de cada enrolamento do estator, IR – corrente em cada
enrolamento.

Note que se os enrolamentos estiverem ligados em estrela, será IR = IL; se os


𝐈𝐋
enrolamentos estiverem ligados em triângulo, será IR =
√𝟑

As perdas constantes serão: 𝑝𝑐𝑜𝑛𝑠 = 𝑝𝐹𝑒 + 𝑝𝑚 = 𝑃0 − 𝑝𝑗𝑒 = 𝑃1 + 𝑃2 − 3 𝑅 𝐼𝑅2

Frequentemente, nos cálculos, considera-se 𝒑𝑭𝒆 ≈ 𝒑𝒎 , pois os seus valores são, de


facto, muito semelhantes, o que permite simplificar as operações a efectuar.

b. Ensaio em curto-circuito ou com o rotor bloqueiado

Este ensaio é efectuado aplicando ao motor a sua tensão nominal, estando o rotor
bloqeiado, isto é, o veio é impedido de rodar.

Consequentemente:

21
 A corrente absorvida pelo motor à rede, lida pelo amperímetro A, é bastante
elevada e igual à corrente de arranque Ia do motor. Este valor pode atingir, cerca
de 6 × In ou mais. Por esta razão, o ensaio deve ser feito muito rapidamente.
 As perdas mecânicas pm, neste ensaio são nulas.
 A potência absorvida trifásica Pa lida pelos dois wattímetros, segundo o método
de Aron, será igual à soma das perdas no ferro do estator e por efeito de Joule no
estator (desprezando novamente as perdas no rotor):
𝑃𝑎 = 𝑝𝑗𝑒 + 𝑝𝐹𝑒
2
Como 𝑝𝑗𝑒 = 3 𝑅 𝐼𝑅 , então:
𝑝𝐹𝑒 = 𝑃𝑎 − 𝑝𝑗𝑒
 Calculando pFe, podemos calcular as perdas mecânicas que existem no ensaio
em vazio ou em carga, através da seguinte expressão, já conhecida:
𝑝𝑐𝑜𝑛𝑠 = 𝑝𝑚 + 𝑝𝐹𝑒 ⟺ 𝑝𝑚 = 𝑝𝑐𝑜𝑛𝑠 − 𝑝𝐹𝑒
Note que as perdas constantes já foram calculadas no ensaio em vazio.

O factor de potência é sempre baixo e será calculado pela expressão:


𝑃1 + 𝑃2
𝑐𝑜𝑠𝜑𝑐𝑐 =
√3 𝑈𝑐 𝐼𝐿

c. Ensaio em carga

O ensaio em carga de um motor é efectuado aplicando ao motor a sua tensão nominal,


com o seu veio a accionar uma determinada carga. Consuante a potência útil pedida pela
carga.

Visto que, em ensaios laboratoriais, não é fácil arranjar uma carga variável para o
motor, adopta-se geralmente a seguinte solução que consiste em ligar um dínamo ao
motor, unido os seus veios. Dínamo esse que irá alimentar um conjunto de resistências
R, ligadas em paralelo. Assim, a potência mecânica útil do motor é transformada, pelo
dínamo, em potência eléctrica que alimenta as cargas R. Ficamos, portanto, com o
motor em carga. A carga será maior ou menor consoante o número de resistências a
alimentar.

Fig. 1.2.17 – Ensaio em carga de um motor trifásico

Após o arranque do motor, quando a sua velocidade estabilizar e depois de se excitar o


dínamo, ligam-se as cargas R de forma a que o motor fique em carga. Nassa situação
iremos ler as seguintes grandezas:
 A corrente nominal absorvida pelo motor, através do amperímetro.

22
 A tensão nominal aplicada ao motor, através do voltímetro.
 A potência eléctrica trifásica absorvida Pa = P1 + P2, pelo método de Aron.
Com um taquímetro, medimos a velocidade N do motor, em carga nominal, e
calculamos o escorregamento g.

A potência absorvida trifásica Pa é a soma da potência útil com as perdas:


𝑃𝑎 = 𝑃𝑢 + 𝑝𝑡
𝑝𝑡 = 𝑝𝑐𝑜𝑛𝑠 + 𝑝𝑣𝑎𝑟 = 𝑝𝑐𝑜𝑛𝑠 + 𝑝𝑗𝑒 + 𝑝𝐹𝑒
Onde:
𝑝𝑗𝑒 = 3 𝑅 𝐼𝑅2 𝑒 𝑝𝑗𝑟 = 𝑔 𝑃𝑟
Calculamos então a potência útil:
𝑃𝑢 = 𝑃𝑎 − 𝑝𝑡
O rendimento é:
𝑃𝑢
𝜂=
𝑃𝑎
Os três ensaios, em conjunto, permitem calcular todas as grandezas necessárias à
compreensão total do funcionamento do motor, em qualquer regime de funcionamento.

Exercícios de aplicação

1. Completa a tabela, para f = 50 Hz:


p Ns (r.p.m) N (r.p.m) g (%)
2 1400
750 3
1000 950
6 490
4 4

2. Um motor de 6 pólos, 50 Hz, tem uma velocidade a plena carga de 950 r.p.m..
Calcular:
a) A velocidade do campo girante (em r.p.m);
b) O escorregamento a plena carga.
R: a) 1000 r.p.m b) 5%.

3. O escorregamento a plena carga de um motor de 12 pólos, 50 Hzé de 5%.


Calcular:
a) A velocidade de sincronismo;
b) A velocidade a plena carga.
R: a) 500 r.p.m. b) 475 r.p.m..

23
4. Um motor de indução tetrapolar funciona a uma frequência de 50 Hz tendo a
plena carga um escorregamento de 5%. Calcular a frequência das correntes do
rotor
a) No momento de arranque;
b) Aplena carga.
R: a) 50 Hz b) 2,5 Hz.

5. Num motor de indução trifásico de seis pólos, calcular:


a) A velocidade do campo magnético do estator se for ligado a uma rede
respectivamente de 50, 60 e 400 Hz;
b) Com um escorregamento em carga de 3%, qual será a velocidade do rotor para
cada uma das frequências dadas?
c) Para as velocidades obtidas, quais seriam as frequências das correntes do rotor?
R: a) 1000, 1200, 8000 r.p.m b) 970, 1164, 7760 r.p.m c) 1,5 ; 1,8; 12 Hz.

6. Um motor trifásico de rotor bobinado de oito pólos, 60 Hz, 208 V, tem o estator
ligado em triângulo e o rotor em estrela. Os enrolamentos do rotor têm por fase,
60% do número de espiras dos enrolamentos do estator. Calcular a frequência e
a tensão do rotor obtida através dos anéis colectores para as seguintes situações:
a) Rotor em repouso;
b) Plena carga com um escorregamento de 90 %
R: a) 215,9 V; 60 Hz b) 19,4 V; 5,4 Hz.

7. Um motor assíncrono trifásico apresenta na sua chapa de características as


seguintes indicações: 380 V, 50 Hz, 7,5 kW, 1435 r.p.m., cos φ = 0,81, η =
83,5%. Calcular a intensidade de corrente nominal absorvida.
R: 16,8 A

8. Um motor trifásico absorve 10 A, a plena carga, sob 380 V – 50 Hz. Sabendo


que o factor de potência do motor é de 0,73 e que a sua potência útil é de 4 kW,
calcule:
a) A potência activa absorvida pelo motor;
b) O rendimento do motor;
c) A totalidade das suas perdas.
R: a) 4804,7 W b) 83,3% c) 804,7 W

9. Pretende-se demonstrar que as perdas por efeito de Joule nos enrolamentos do


estator de um motor trifásico, ligado em estrela ou em triângulo, podem também
𝟑
ser obtidas pela expressão geral 𝒑𝒋𝒆 = 𝟐 𝑹𝒂 𝑰𝟐𝑳 , em que Ra é a resistência medida
entre dois quaisquer terminais de alimentação (duas fases) do motor e IL é a
corrente na linha de alimentação.

10. Um motor assíncrono trifásico absorve, em vazio, uma corrente de 8,7 A sob 50
Hz e uma potência de 370 W. A plena carga, absorve 12,9 A e 4030 W, sendo a

24
velocidade de 1420 r.p.m.. A resistência medida entre duas fases do motor é de 1
Ω. Sabendo que as perdas no ferro do estator são de 120 W, calcule:

a) O rendimento do rotor
b) O valor das perdas constantes
c) O valor das perdas mecânicas
d) O valor das perdas variáveis, em carga, no estator
e) O valor das perdas totais do estator
f) O rendimento do estator
g) As perdas por efeito de Joule no rotor
h) O rendimento industrial (total)
i) A potência útil fornecida e o binário útil.
R: a) 94,7% b) 257 W c) 137 W d) 250 W e)507 W f) 87,4% g) 194 W
h) 82,6% i) 3329 W e 22,4 N.m.

11. Um motor trifásico, com dois pares de pólos, alimentado a 380 V – 50 Hz,
absorve 1750 W a plena carga. Sabendo que o factor de potência do motor é de
0,75, que a sua potência útil é de1500 W e que a velocidade é de 1430 r.p.m.,
calcule:
a) A intensidade de corrente absorvida pelo motor
b) A potência reactiva absorvida pelo motor
c) O rendimento do motor
d) A totalidade das perdas
e) O escorregamento.
R: a) 3,55 A; b) 1543 VAr; c) 85,7%; d) 250 W; e) 4,7%

12. Um motor assíncrono trifásico de 380 V – 50 Hz absorve uma corrente de 52 A,


com um factor de potência de 0,86. O escorregamento é de 4%. Os enrolamentos
estatóricos estão ligados em estrela e cada um deles tem uma resistência de
0,1 Ω. As perdas no ferro do estator são de 400 W e as perdas mecânicas são de
420 W. Calcule:
a) A velocidade e o rendimento do rotor, sabendo que o motor tem 6 pólos
b) As perdas por efeito de Joule no estator
c) A potência absorvida pelo motor
d) A potência total transmitida ao rotor
e) As perdas por efeito de Joule no rotor
f) A potência útil
g) O rendimento total do motor
h) O rendimento do estator
i) O binário útil
R: a) 960 r.p.m.; 96%; b) 811,2 W; c)29434 W; d) 28222,8 W; e) 1128,9 W;
f) 26674 W; g) 90,6%; h) 94,4%; i) 265,3 N.m

13. Um motor assíncrono trifásico de 380 V – 50 Hz absorve uma corrente 15 A,


com cos φ = 0,8. A sua velocidade de rotação é de 1425 r.p.m. e o rendimento
total de motor é de 87%. Calcule:
a) A velocidade de sincronismo
25
b) O número de pares de pólos
c) O escorregamento
d) O rendimento do rotor
e) A potência absorvida
f) A potência útil
g) O rendimento do estator (aproximado)
R: a) 1500 r.p.m.; b) 2; c) 5%; d) 95%; e) 7920 W; f) 6890,4 W; g) 91,6%

14. Um motor assíncrono trifásico, alimentado a 380 V, potência útil de 22 kW,


velocidade a plena carga de 405 r.p.m., tem o estator ligado em trângulo. A
frequência é de 50 Hz e o número de pólos é 14. Sabe-se que o rendimento total
do motor é de 85% e o factor de potência de 0,8. A resistência medida entre
terminais é de 0,395 Ω e as perdas no ferro do estator são de 350 W. Calcule:
a) O escorregamento
b) O binário útil
c) As perdas por efeito de Joule no estator
d) A potência total transmitida ao rotor (Pr)
e) As perdas por efeito de Joule no rotor
f) O rendimento do rotor
g) Asperdas mecânicas
R: a) 5,6%; b) 519 N.m; c) 1432 W; d) 23850 W; e) 1335,6 W; f) 94,5 %;
g) 514,4 W

15. A chapa de características de um motor assíncrono trifásico tem as seguintes


indicações: 5 kW, 380 V, 11 A, 50 Hz, 2870 r.p.m., cos φ = 0,8. Calcule:
a) A potência absorvida
b) O rendimento do rotor
c) O escorregamento
d) O rendimento do rotor
e) O rendimento do estator (aproximado)
R: a) 5792 W; b) 86,3 %; c) 4,3 %; d) 95,7 %; e) 90,2 %

16. Um particular compra um grupo elevador de água (electro bomba), no qual o


catálogo indica:
Motor assíncrono trifásico 550 W útil
220 / 380 V
2800 r.p.m.
O débito da bomba por 24 m é: 2,3 m3 / hora (caudal)

A tarefa é:
a) a tensão medida entre a fase e neutro é de 125 V, qual a tensão entre duas
fases?
b) Representa a ligação das placas de cobre na placa de terminais; como são
colocados (representados) os enrolamentos?
c) Qual é o escorregamento do motor, seu número de pólos?
d) Calcular, segundo as previsões do construtor o rendimento do conjunto
hidraulico (bomba e canalisação).
26
e) Com o grupo no lugar, relevou-se 215 V nos terminais do motor, uma
intensidade de 2,25 A por fase, e um consumo de 115 Wh em 10 minutos no
contador.
Calcular a potência eléctrica absorvida e o factor de potência.
R: a) 216,5 V; c) 6,67 ; 2; d) 28 %; e) 690 W ; 0,82

1.2.10. Ensaios de M.A.T. no laboratório

a. Ensaio em vazio

Objectivos:
 Determinar a potência de perdas no ferro e por atrito;
 Determinar o escorregamento em vazio

Material necessário:

 Motor assíncrono trifásico com terminais acessíveis;


 Wattímetros monofásicos de bancada (método de Aron);
 Taquímetro;
 Contactor;
 Botões de pressão;
 Multímetro;
 Voltímetro e amperímetro de bancada;
 Condutores.

Procedimento:
Considera-se que o motor está em vazio quando se encontra a rodar sem qualquer carga,
isto é, sem fornecer no veio qualquer potência mecânica útil.
1. Registe as características do motor assíncrono trifásico;
2. Com o Ohmímetro mede e registe o valor da resistência de cada enrolamento
estatórico;
3. Monte o circuito eléctrico da figura 1.2.18;
4. Proceda ao arranque do motor e registe os valores dos aparelhos de medida
quando o motor atingir a sua velocidade nominal;
5. Utilize o taquímetro e registe valor da velocidade no veio;
6. Determine:
 O escorregamento g;
 As potencias absorvidas pelo motor P0 e Q0;
 As perdas do cobre no estator pje;
 As perdas constantes pcons;
 As perdas no ferro pFe e as perdas mecânicas pm, assumindo que pFe = pm.

Conclusões:
Faça uma análise dos dados obtidos.

27
Fig. 1.2.18 – Ensaio em vazio do motor trifásico de indução.

b. Ensaio em carga

Objectivos:
 Determinar a potência de perdas por efeito joule do rotor;
 Determinar os rendimentos do motor.

Material necessário:

 Motor assíncrono trifásico com terminais acessíveis;


 Gerador D-C de excitação shunt;
 Reóstato;
 Lâmpadas incadescentes;
 Wattímetros monofásicos de bancada (método de Aron);
 Taquímetro;
 Contactor;
 Botões de pressão;
 Multímetro;
 Voltímetros e amperímetros de bancada;
 Condutores.

Procedimento:
Considera-se que o motor está em vazio quando se encontra a rodar sem qualquer carga,
isto é, sem fornecer no veio qualquer potência mecânica útil.
7. Registe as características do motor assíncrono trifásico;
8. Com o Ohmímetro mede e registe o valor da resistência de cada enrolamento
estatórico;
9. Monte o circuito eléctrico da figura 1.2.19;
10. Proceda ao arranque do motor e registe os valores dos aparelhos de medida
quando o motor atingir a sua velocidade nominal;
11. Utilize o taquímetro e registe valor da velocidade no veio;
12. Determine:

28
 As potencias absorvidas pelo motor Pa e Qa;
 As perdas do cobre no estator pje;
 As perdas por efeito de joule no rotor pjr;
 Factor de potência;
 Os rendimentos do estator, do rotor e total.

Conclusões:
Faça uma análise dos dados obtidos.

Fig. 1.2.19 – Ensaio em carga do motor trifásico de indução

29
1.2.11. Tipos de arranque do motor trifásico de rotor em gaiola

Nem todos os motores podem arrancar quando ligados directamente à rede. Com efeito,
para motores de potência mais elevada, o arranque directo poderia trazer inconvenientes
diversos, não só para o motor como para as instalações eléctricas e a rede em geral.

Assim, o arranque do motor assíncrono pode ser efectuado por diversos processos,
consoante o valor da potência do motor, o valor do arranque exigível, o valor máximo
permetido para a corrente de arranque, etc...

Temos, portanto, os seguintes tipos de arranque do motor assíncrono de rotor em gaiola:


 Arranque directo;
 Arranque estrela-triângulo;
 Arranque por resistências estatóricas;
 Arranque por autotransformador.

a) Arranque directo

Neste tipo de arranque, o motor em gaiola é ligado directamente à rede, à sua tensão
nominal. Diz-se que o arranque é feito a um só tempo, tal como se representa na
figura 1.2.20.

Fig. 1.2.20 – arranque directo do motor trifásico de indução: a) circuito de ligação do motor; b) evolução
do binário no arranque; c) evolução da corrente absorvida no arranque.

Neste caso, o motor absorve da rede, no arranque, uma corrente Ia que pode atingir 5 a
10 vezes a corrente nominal (ex: 6 × In). O binário de arranque atinge quase 2 vezes o
binário nominal.

Este é o processo ideal (mais barato e mais rápido), desde que a intensidade Ia não
ponha em perigo os enrolamentos do motor, desde que o arranque seja rápido e ainda
que o binário de arranque seja superior ao binário resistente. De acordo com o artigo
431 do R.S.I.U.E.E., o arranque dos motores só pode ser feito directamente à rede se a
potência útil do motor não ultrapassar 4 kW (Pu ≤ 4 kW). Se ultrapassar esse valor,
devem utilizar-se outros tipos de arranque, de forma a reduzir o valor da corrente de
arranque, que provocaria elevadas quedas de tensão na rede se todos os motores
arrancassem directamente.
30
b) Arranque estrela-triângulo

De acordo com o artigo 431 do R.S.I.U.E.E., para motores com potência útil no
intervalo 4 𝑘𝑊 < 𝑃𝑢 ≤ 11𝑘𝑊, o arranque deve ser estrela-triângulo. Esse arranque tem
como objectivo reduzir a corrente de arranque, por aplicação inicial (1º tempo) de uma
tensão inferior à nominal, isto é, arrancar em estrela (1ºtempo) um motor que deve
funcionar normalmente em triângulo (2º tempo).

O arranque estrela-triangulo consiste em arrancar o motor com os enrolamentos ligados


em estrela (1º tempo) e, quando o motor aproximar a sua velocidade nominal, os
enrolamentos passam a ser ligados em triângulo (2º tempo).

Fig. 1.2.21 – arranque estrela-triângulo do motor trifásico de indução: a) circuito de ligação do motor; b)
evolução do binário no arranque; c) evolução da corrente absorvida no arranque.

𝐼
Deste modo, limita-se bastante o valor da corrente de arranque, 𝐼𝑌 = 3∆ . Quanto ao
binário motor, sendo proporcional ao quadrado da tensão aplicada aos enrolamentos,
1
será igual 3 do binário que se verificaria se o arranque fosse directo (isto é, se o
arranque fosse directamente feito em triângulo).

Esse tipo de arranque só é possível com um motor funcionando normalmente em


triângulo.

Arranque em estrela: Arranque em triângulo:


𝑈𝑓 𝑈𝑐 √3𝑈𝑐 √3𝑈𝑐
𝐼𝑌 = = = 𝐼∆ = √3𝐼𝑓 =
𝑍 √3𝑍 3𝑍 𝑍
𝐼∆
Então: 𝐼𝑌 = 3

31
c) Arranque por resistências estatóricas
Este tipo de arranque consiste em ligar três resistências (grupo de resistências) em série
com os enrolamentos do estator do motor, tal como se sugere na figura 1.2.22.

Fig. 1.2.22 – Arranque por resistências estatóricas (a 2 tempos) de M.A.T.

O motor arranca com as resistências R ligadas, o que provoca uma queda de tensão na
alimentação do motor e, portanto, uma corrente absorvida inferior à corrente de
arranque directo (1º tempo). Quando o motor está próximo da sua velocidade nominal,
as resistências são curto-circuitadas através dos contactos K accionados, geralmente, por
um contactor (2º tempo), ficando, o motor, funcionar normalmente.
A desvantagem desse tipo de arranque consiste no elevado consumo de energia que se
verifica nas resistências. Em contrapartida, tem a grande vantagem de permetir um
arranque mais suave, se quisermos retirar as resistências progressivamente, utilizando
vários conjuntos de resistências que serâo curto-circuitadas de modo progressivo.
Assim, pode adaptar-se o motor a qualquer tipo de binário resistente.

Fig. 1.2.23 – Característica: a) da intensidade; b) do binário motor, no arranque por resistências


estatóricas.
d) Arranque por autotransformador
Neste caso, o motor é alimentado inicialmente com uma tensão reduzida, por intermédio
de um auto-transformador trifásico redutor de tensão, o qual é colocado fora de circuito
logo que o processo de arranque tenha terminado.

Fig. 1.2.24 – Esquema de ligação para o arranque por autotransformador do M.A.T.

Observando a figura 1.2.24, o arranque efectua-se em três tempos:


1º tempo – Fechamos K1 e K3, mantendo K2 aberto. Deste modo, fica aplicada ao
motor,através do autotransformador, uma tensão inferior a tensão nominal .
2º tempo – Abrimos K3, mantendo K1 e K2 nas suas posições anteriores. O motor fica
em série com parte das bobinas do autotransformador que deixa induzir tensão nos seus
enrolamentos (devido ao facto de K3 estar desligado). A tensão nos terminais do motor
tem valor próximo da tensão nominal, pois a queda de tensão nos enrolamentos do
autotransformador é muito baixa.
3º tempo – Fechamos K2, mantendo K1 e K3 nas suas posições anteriores, isto é, K1
ligado e K3 desligado. Portanto, curto-circuitamos completamente o autotransformador.
Neste tipo de arranque, não há cortes na alimentação do motor e o autotransformador
consume pouca energia, o que cons
tituem as vantagens. Por outro lado, o autotransformador é bastante muito caro que as
resistências. E é um arranque geralmente utilizado para motores com potência muito
elevada.

Fig. 1.2.25 – Evolução: a) da corrente absorvida; b) do binário motor, no arranque por autotransformador.

33
1.2.12. Arranque do motor trífasico de rotor bobinado

O motor trifásico de rotor bobinado é um motor que tem um método de arranque


próprio, o qual não existe, evidentemente, no motor de rotor em gaiola.

O motor de rotor bobinado é constituido essencialmente para cargas de elevado binário


resistente e de grande inércia (massa pesada), pelo que a potência deste motor é
geralmente elevada (> 15 kW). Com este motor, podemos ter arranques suaves e
progressivos, consoante as necessidades impostas pela carga. Este tipo de arranque é
possível graças à utilização de resistências rotóricas, as quais são ligadas em série,
exteriormente, com os enrolamentos do rotor.

Existem, essencialmente, dois tipos de arranque rotórico:


 Utilizando um reóstato de arranque, com uma regulação contínua, tal como se
sugere na figura 1.2.26a.
 Utilizando vários conjuntos de resistências, as quais vão sendo progressivamente
curto-circuitadas, em vários tempos (regulação descontínua), tal como se sugere
na figura 1.2.26b.

(a) (b)

Fig. 1.2.26 – Arranque do motor trifásico de rotor bobinado: a) por reóstato trifásico (regulação contínua);
b) por dois conjuntos de resistências (regulação descontínua).

a) Regulação contínua:
No caso da figura 1.2.26a, os enrolamentos do rotor são ligados exteriormente a um
reóstato de arranque constituido por três resistências Rv, as quais estão ligadas entre si
em estrela, através do cursor rotativo C. Estas resistências são ligadas em série com os
enrolamentos do rotor Er (uma resistência por cada fase do rotor), através de três
escovas que se apoiam em três anéis de cobre (a) rotativos. No arranque, as resistências
devem estar todas intercaladas no circuito, isto é, o cursor C deve estar na posição A de
arranque; deste modo, a corrente no rotor é menor e, portanto, também do estator.
Progressivamente, vamos rodando o cursor até que as resistências fiquem
completamente fora do circuito (posição F), o que acontece quando o motor atinge a sua
velocidade nominal. Esta regulação contínua permite um arranque bastante suave,
adaptado portanto às características de cada motor.

34
b) Regulação descontínua
No caso da figura 1.2.26b, no instante de arranque todas as resistâncias (R1 e R2) estão
intercaladas no circuito. À medida que o motor vai ganhando velocidade, vamos
retirando progressivamente cada conjunto de resistências, curto-circuitando-as, ao ligar
os contactos K (primeiro os K1 e depois alguns segundos os contactos K2). Quando o
motor se encontrar próximo da velocidade nominal, todas as resistências devem estar
fora de circuito. Esta é a regulação descontínua da velocidade.

O arranque rotórico pode ser feito de uma forma automática, sem intervenção humana
durante o processo, seja utilizando dispositivos electrónicos que curto-circuitam as
resistências, seja utilizando contactos eléctricos centrífugos que, ao rodarem, fecham
quando a velocidade do motor atinge um determinado valor.

(a) (b)
Fig. 1.2.27 – Evolução: a) da corrente absorvida; b) do binário do motor de rotor bobinado, num arranque
rotórico a três tempos.

Vantagens: regulação possível da ponta de corrente e do binário de arranque, o reostáto


permite uma certa regulação de velocidade.

Inconvenientes: É um motor mais complexo, portanto mais caro do que motor de rotor
em gaiola, menos robusta do que o motor de rotor em gaiola por causa da presença de
escovas e enrolamentos do rotor.

35
Características resumidas de diversos processos de arranque

Processo Directo Estrela- Resistências autotransfor Rotor


de arranque triângulo estatóricas mador bobinado
Corrente de 4 a 8 In Id / 3 ± 0,75 Id 0,4 a 0,7 Id <2,5 In
arranque 1,3 a 2,6In ± 4,5 In 1,7 a 4 In
Binário de 0,6 a 2Mu Md /3 ± 0,56 cd 0,4 a 0,7 Id <2,5 Mu
arranque 0,2 a 0,5Mu 0,6 a 0,85 Mu 0,4 a 0,85 Mu
Vantagens Motor de rotor em gaiola económico e robusto Muito boa
Arrancador Arrancador Possibilidade Boa relação relação
simples; económico; de regulação binário / binário /
Económico Boa relação dos valores (da corrente, corrente,
; binário / corrente) Possibilidade Possibilid
Binário de corrente durante o de regulação ade de
arranque arranque; Sem dos valores (da regulação
elevado corte da corrente) dos
alimentação durante o valores
durante o arranque; Sem durante o
arranque; corte da arranque;
Forte redução alimentação Sem corte
das pontas de durante o da
corrente arranque alimentaç
transitórias ão
durante o
arranque
Corrente de Binário de Fraca redução Necessita de Motor
Inconvenient arranque arranque da ponta de um auto mais
es muito fraco; Não corrente de transformador complexa
elevada; pode ser arranque; caro e pesado; e mais
Arranque regulado; Necessita de Apresenta caro;
brutal Corte da resistências riscos em Necessita
alimentação volumosas; redes com de
na mudança Consumo de perturbações resistênci
estrela- energia as;
triângulo; importante nas Menos
Motor com 6 resistências robusta
terminais

Tempo de 2a3 3a7 7 a 12 7 a 12 2,5 a 5


arranque segundos segundos segundos segundos segundos
Aplicações Máquinas Máquinas Máquinas de Máquinas de Máquinas
pequenas, com grande inércia elevada com
mesmo arranque em sem problemas potência ou arranque
com vazio; especiais de inércia nos em carga;
arranque a Ventiladores binário e de casos em que a Arranque
plena carga e bombas corrente no redução da progressi
centrífugas arranque ponta de vo;
de potência corrente é um Máquinas
limitada critério com
importante inércia
elevada

36
1.2.13. Regulação de velocidade dos motores assíncronos trifásicos

A regulação de velocidade dos motores assíncronos trifásicos de rotor em gaiola pode se


efectuar por:
 Variação de tensão de alimentação (método pouco usado);
 Variação de frequência estatórica;
 Por acção sobre o número de pólos do motor.

Para motor assíncrono trifásico de rotor bobinado, a regulação de velocidade é possível,


variando a resistência do reótato de arranque. Pode ser feito ainda a regulação em
cascata, acopulando mecanicamente um segundo motor e alimentá-lo através da tensão
induzida .os anéis colectores do primeiro, funcionando este como conversor de
frequência.

a) Por variação de frequência

Como já vimos anteriormente, a velocidade de sincronismo dos motores assíncronos é


directamente proporcional à frequência da corrente de alimentação e inversamente
proporcional ao número de pólos que constituem o estator (Ns = 60 f / p).
A variação de frequência é realizado por um aparelho electrónico chamado conversor
de frequência.

Conversor de frequência:
Este sistema de regulação de velocidade consiste num dispositivo estático electrónico,
dando lugar à variação da velocidade de sincronismo através da variação da frequência,
assegurando às máquinas uma rotação regular e sem estições.

No entanto, se a frequência de alimentação variar, mantendo constante a tensão, o


respectivo fluxo magnético máximo variará (U = 4,44.N.f.Фmáx). Dado que o motor é
dimensionado para as suas condições nominais de funcionamento para um valor de
fluxo determinado, ao variar a frequência de alimentação, a tensão de alimentação deve
veriar proporcionalmente, para que o fluxo permaneça constante. A alimentação deve
realizar-se mediante um conversor de frequência e tensão, de modo a conservar uma
relação U / f constante.

Este dispositivo consiste assim de um rectificador que converte a tensão alternada da


rede em tensão contínua através de uma ponte rectificadora e dos condensadores de
filtragem. Esta tensão contínua é então modulada por uma ponte onduladora de
transistores, para dar lugar a uma sucessão de impulsos de largura variável. A regulação
da largura dos impulsos e a sua repetição permitem ajustar a alimentação do motor em
tensão e frequência, mantendo constante o binário.

O variador tem ainda uma série de outra vantagens, tais como:


 A sua utilização como arrancador para a aceleração e paragem progressivas;
 A frequência de saída poder ser superior à frequência de entrada;
 O motor funcionar nos dois sentidos de marcha, com possibilidade de travagem;

37
 A integração da protecção térmica e contra curto-circuitos do motor.

Fig.1.2.28 – esquema de princípio de um conversor de frequência

Fig.1.2.29 – Curva binário / velocidade em arranque com conversor de frequência.

b) Por variação de número de pólos

Como a velocidade de sincronismo é inversamente proporcional ao número de pólos, é


possível obter um motor de duas ou mais velocidades, criando no estator combinações
de enrolamentos correspondentes a diferentes pares de pólos.

Motor com enrolamentos estatóricos separados

Neste caso, o motor tem em geral dois enrolamentos estatóricos electricamente


independentes (1U, 1V, 1W – pequena velocidade e 2U, 2V, 2W – grande velocidade).
Grande velocidade é igual ao dobro da pequena velocidade.

38
Também é possível realizar motores de três ou quatro velocidades em combinação com
a ligação Dahlander.

Motor com ligação Dahlander ou com comutação de pólos

É uma solução mais elegante encontrada, comparando com o caso anterior. Este
consiste em uso de um enrolamento único, por meio de mudança de conexão
(comutação de pólos) permite a marcha a duas velocidades diferentes. Essa solução
permite obter uma máquina menos volumosa do que o motor de enrolamentos
separados.

Princípio de funcionamento

Consideremos um enrolamento monofásico com duas bobinas:


Ligamos essas duas bobinas em série, como representado na figura 1.2.29a. O sentido
da corrente nas duas bobinas cria quatro pólos. Há neste caso duas vezes mais pólos do
que as bobinas
Agora, alimentamos as mesmas bobinas em paralelo (figura 1.2.29b). o sentido da
corrente nas duas bobinas cria somente dois pólos. O número de pólos corresponde ao
número de bobinas.

Fig. 1.2.29 – Enrolamento monofásico com duas bobinas: a) ligação em série, formando quatro pólos; b)
ligação em paralelo, formando dois pólos.

O menor número de pólos corresponde à grande velocidade e é obtida por ligação


paralelo das bobinas.
O maior número de pólos corresponde à pequena velocidade e que é obtida por ligação
em série das bobinas.

O mesmo princípio é aplicado nos enrolamentos trifásicos. Pode se ligar os


enrolamentos em triângulo ou em estrela o que vai fornecer induções diferentes, então
binários diferentes e potências diferentes.
A ligação mais usada (chamada de binário constante) é do tipo:
 Triângulo (série) à pequena velocidade;
 Estrela (paralelo) à grande velocidade

39
Os binários nominais são praticamente iguais.
A relação des potências triângulo / estrela varia de 1 / 1,3 a 1 / 1,8.
O rendimento e o factor de potência são melhores na grande velocidade.
A corrente absorvida, depende da potência, do rendimento e do factor de potência e não
varia da mesma forma com a potência útil.

(a)

(b)
Fig.1.2.30 – Ligação Dahlander: a) tipo constante, b) tipo ventilador.

40
1.3. Motor assíncrono monofásico
Em muitas instalações industriais e sobretudo domésticas, onde não existe instalação
trifásica, é utilizado o motor assíncrono monofásico, ligado entre fase e neutro.

Para potências iguais, é mais volumoso do que um motor trifásico, assim como o
rendimento e o factor de potência são muito mais baixos, no entanto, para pequenas
potências tem aplicação considerável em electrodomésticos e outros aparelhos.

O motor monofásico é, portanto, utilizado para fornecer potências reduzidas, como


sejam em: aspiradores, máquinas de lavar, frigoríficos, batideiras, ventoinhas, etc..

1.3.1. princípio de funcionamento

O motor tem uma constituição interna semelhante à do trifásico de gaiola, com


diferença de que o estator tem apenas um enrolamento, alimentado por uma fase da
rede. Quanto ao rotor, é constituido por uma gaiola de esquilo.

Ao alimentar o enrolamento do estator, o campo magnético criado por uma corrente


alternada monofásica pode ser decomposto, de acordo com teorema de Leblanc, em dois
campos magnéticos girantes, rodando em sentidos contrários. Isto quer dizer que, à
partida, este motor está disponível para rodar em qualquer dos esntidos. Isto é, se
dermos ao veio um impulso num dos sentidos, ele ganha velocidade e fica a funcionar
nesse sentido; se dermos um impulso em sentido contrário, ele rodará em sentído
contrário.

É evidente que não existe mais a construção de motores a lançar que funcionavam
através de impulsos manuais, por meio de uma correia ou uma corda. Com efeito, este
impulso é produzido, electricamente, por vários processos. Entre outros:
 Motor monofásico de fase auxiliar capacitiva;
 Motor de indução de espira em curto-circuito;
 Motor monofásico de fase auxiliar indutivo ou resistivo.

a) Motor monofásico de fase auxiliar capacitiva (ou fase dividida capacitiva)

Um dos processos de produzir o impulso que o motor assíncrono monofásico precisa,


para começar a rodar, consiste em colocar, no estator do motor, um segundo
enrolamento, chamado enrolamento auxiliar, o qual irá criar um segundo campo
magnético perpendicular (desfasagem de 90º) ao campo magnético do enrolamento
principal. O enrolamento auxiliar tem, por isso, um condensador ligado em série para
provocar uma desfasagem α, inferior a 90º, suficiente para originar a rotação do rotor
num dos sentidos. Com efeito, este segundo campo magnético vai somar-se a um dos
dois campos girantes, reforçando-o, e fazendo com que o binário resultante, no
arranque, seja maior num sentido do que no outro. A alimentação do enrolamento
auxiliar e principal deve ser feita pela mesma fase.

41
Fig. 1.3.1 – a) Motor assíncrono monofásico com enrolamento auxiliar capacitivo; b) e c) Diagramas
vectorias resultantes, originando rotação à esquerda e à direita, respectivamente.

Em b), o campo Ha vai somar-se com a componente H’p de Hp, ficando assim a
resultante maior do que o outro campo girante (H”p); o rotor roda, portanto, no sentido
indicado em b).

Em c), passa-se exactamente o contrário, pois Ha soma-se agora com H”p e o motor
rodará em sentido contrário.

Para inverter o sentido de rotação do motor, evidentemente que basta trocar a


alimentação do enrolamento auxiliar, isto é, a fase com o neutro, invertendo assim o
sentido do campo Ha.

Após o arranque, o enrolamento de arranque (auxiliar) pode ser desligado por um


interruptor centrífugo. Em alguns tipos de motores podem-se encontrar dois
condensadores, um de maior capacidade para o arranque e outro de menor capacidade,
dimensionado para melhorar o factor de potência e, consequentemente, o binário motor.

Fig. 1.3.2 – Motor assíncrono monofásico com enrolamento auxiliar capacitivo com condensador para
melhorar o factor de potência.

42
Uso de um motor assíncrono trifásico como monofásico (numa rede monofásica)

Podemos ainda alimentar em monofásico um motor assíncrono trifásico. Se o motor


funciona em estrela.
Por exemplo, numa rede de 380 V, ligamos como representado na figura 1.3.3.:

O condensador é de 80 µF por kW e a tensão aos seus terminais é Uc = 1,15 Un;


A potência em monofásico vale 3 / 4 da potência em trifásico.

Fig. 3.1.3 – Motor assíncrono trifásico ligado em monofásico

b) Motor de indução de espira em curto-circuito

São motores de indução muito pequenos (micromotores) que são utilizados para
accionar pequenos mecanismos. O estator é constituido por um circuito magnético
percorrido pelo fluxo alternado produzido pela corrente alternada que alimenta a bobina
B. Nas duas extremidades polares do núcleo existem duas espiras (b) curto-circuitadas
(espiras de Frager) que provocam o aparecimento de dois fluxos desfasados entre si, de
tal forma que originam um campo magnético girante, predominante num dos sentidos
de rotação. As espiras de Frager têm aqui a função do enrolamento auxiliar do motor de
fase dividida.

O rotor, constituído por material ferromagnético, vai acompanhando, por indução


magnética, o campo girante produzido pelo estator, a uma velocidade inferior à de
sincronismo, evidentemente.

Fig. 1.3.4 – Motor de indução de espira em curto-circuito

43
c. Motor monofásico de fase auxiliar indutivo ou resistivo

Podemos conseguir a desfasagem entre as correntes inserindo, em série com o


enrolamento auxiliar, uma indutancia (bobina) ou uma resistência, ou simplesmente,
tornar o enrolamento auxiliar mais resistivo do que o enrolamento principal (por uma
bobina de fio mais fino)

Fig. 1.3.5 – motor com enrolamento auxiliar indutivo ou resistivo

Nestes dois casos, a corrente no enrolamento auxiliar está desfasada com relação à
corrente no enrolamento principal (α ˂ 90º), suficiente para que se produza um binário
de arranque.
Depois do arranque do motor, o enrolamento auxiliar pode ser desligado.

Geralmente, usa-se um relé de arranque para desligar automaticamente a fase auxiliar


depois do arranque do motor, figura 1.3.6.

Fig. 1.3.6 – relé de arranque

 Ao ligar o motor, o enrolamento auxiliar (A) não está alimentado. O motor não
arranca, absorvendo uma corrente muito elevada.

44
 O relé de sobre intensdade (R) fecha-se e o enrolamento auxiliar fica sob tensão.
O motor arranca.
 Depois do arranque, a corrente absorvida atinge o seu valor nominal,
insuficiente para a excitação do relé. O contacto (C) abre-se. Só fica o
enrolamento principal em serviço (ligado).

1.4. Motores especiais


Considera-se motores especiais, aqueles motores que funcionam em corrente alternada,
ou em alternada e contínua, simultaneamente, cujo princípio de funcionamento é
diferente dos motoresassíncronos. Isto é, o seu funcionamento não se baseia na criação
de um campo girante que arrasta o rotor do motor.

Existem diferentes processos de pôr em funcionamento um motor alimentado a corrente


alternada. Vejamos, sucassivamente, oscasos mais encontrados no mercado.

1.4.1. Motor série monofásico (ou motor universal)

É o motor série que se estuda em corrente contínua, em que a alimentação do indutor


(estator) e do induzido (rotor), ligados em série. É, por isso, um motor de corrente
alternada com colector.

Fig. 1.4.1 – motor série universal

Em corrente contínua, ao aplicar uma tensão U a um receptor de f.c.e.m. E’, obtemos a


seguinte expressão:
𝑬 = 𝑬 ′ + 𝒓′ 𝑰
Mas, em corrente alternada, e com o mesmo receptor, temos uma expressão
ligeiramente diferente:
⃗ = ⃗⃗⃗
⃗𝑼 𝑬′ + ⃗⃗⃗⃗⃗
𝒓′ 𝑰 + ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝑿𝑳 𝑰
Onde: U é a tensão nos terminais do motor, E’ é a força contraelectromotriz induzida no
rotor, r é a resistência interna do motor, I é a corrente eléctrica e XL é a reactância
indutiva.
O facto de este motor ser alimentado em corrente alternada tem as seguintes
consequências:
O núcleo do estator deve ser laminado, para reduzir as perdas no ferro.

45
Há necessidade de controlar a frequência, pois a reactância (𝑋𝐿 = 2 𝜋 𝑓 𝐿) varia de
forma directamente proporcional com a frequência, assim como as perdas no ferro.

Verifica-se por isso que o núcleo do estator tem sempre tendência de aquecer mais em
corrente alternada do que em contínua, devido ao aumento considerável das perdas no
ferro; o binário motor é mais fraco do que em corrente contínua, o rendimento também é
baixo e é mais volumoso

Esse motor tem aplicação em alguma aparelhagem electrodoméstica, como sejam:


berbequins, moinhos de café, aspiradores, máquinas de costurar etc.

Características:
Tem as mesmas características em corrente contínua e alternada:
 Binário de arranque elevado;
 Risco de embalar-se em vazio;
 Corrente de arranque: 2 a 3,5 vezes a corrente nominal;
 Binário de arranque: 1,2 a 2 vezes o binário nominal;
 Velocidade: pode chegar até 18000 rotações por minuto;
 Potencia: de 20 W a 2000 W

1.4.2. Motor de repulsão

O motor de repulsão é constituido por um enrolamento monofásico estatórico,


alimentado pela tensão da rede. O induzido (no rotor) é semelhante ao do motor de
corrente contínua, tendo no entanto as escovas curto-circuitadas entre si, através de um
condutor de fraca resistência.

1.4.2 – Representação esquemática do motor de repulsão

As correntes induzidas no rotor pelo campo magnético alternado do estator vão criar, no
rotor, pólos manéticos induzidos que vão ser repelidos pelos pólos indutores, daí o
nome de motor de repulsão. O binário assím como a velocidade podem ser regulados
pela posição das escovas em relação ao campo do estator (ângulo α). Quer na
perpendicular quer a zero graus, o binário é nulo, atingindo normalmente o valor
máximo para α = 25º.

46
O sentido de rotação é dado pelo mesmo sentido de deslocação das escovas.

1.4.3. Motores passo-a-passo

O motor passo-a-passo é um motor que, tal como o nome sugere, se movimenta por
impulsos ou passos

Existem, essencialmente, dois tipos destes motores: o de iman (rotórico) permanente e


o de relutância variável.

a) Motor passo-a-passo de íman permanente

O estator é ferromagnético e contém três bobinas (B1, B2 e B3), deslocadas de 120º,


alimentadas em corrente contínua, em regime de impulsos curtos.

A alimentação das bobinas é individual, podendo ter nas suas extremidades qualquer
das polaridades N ou S, e é feita de forma a que haja diferentes sequências de
polaridades previamente estudadas. O rotor é constituido por um íman permanente com
um número de parde pólos (um N e um S, dois N e dois S, etc.), alternadamente norte e
sul. No caso presente na figura 1.4.3, o rotor tem quatro pólos (dois N e dois S).

Fig. 1.4.3 – Motor passo-a-passo de íman permanente

Funcionamento:

Partindo da posição em que se encontra o rotor na figura 1.4.3, se alimentarmos a


bobina B1 de forma a termos um pólo S na sua extremidade, então o rotor vai rodar de
um ângulo de 30º, ficando o pólo N1 em frente do pólo S da bobina B1. Se agora
alimentarmos a bobina B2, com um novo impulso de corrente de forma a termos um
pólo N na sua extremidade, então o rotor rodará mais 30º no mesmo sentido, ficando o
pólo S1 em frente do pólo N da bobina B2. Se alimentarmos agora a bobina B3 com um
pólo S, o rotor rodará mais 30º no mesmo sentido, ficando N2 em frente da bobina B3. O
rotor rodou, potanto, de 90º, por impulsos. E a rotação continuaria se repetissemos o
ciclo anterior, trocando as polaridades iniciais de B1, B2, e B3 obviamente.

47
É evidente que outras combinações podem ser obtidas para a rotação do motor,
nomeadamente: mais ou menos velocidade na sequência dos impulsos; rotação num ou
noutro sentido; alternâncias no sentido de rotação, com intervalos diferenciados; etc...

O comando deste motor pode ser feito manualmente, por impulsos curtos em botões de
pressão, ou automaticamente, segundo um programa previamente elaborado,
comandado por computador.

b) Motor passo-a-passo de relutância variável

A constituição deste motor difere da do anterior apenas quanto ao rotor é de material


ferromagnético.

Fig. 1.4.4 – Motor passo-a-passode relutância variável

Quando se alimenta qualquer das bobinas, ficando com pólo N ou pólo S, o rotor roda
de forma a que a sua extremidade mais próxima fique em frente dessa bobina. Para a
posição indicadana figura 1.4.4, se alimentamos B1 (com pólos N ou S), a extremidade
A do rotor aproxima-se de B1, por que se em A, por influência magnética, um pólo de
nome contrário que é atraido. Se, pelo contrário, tivessemos alimentado B2, então seria
C atraido.

Temos a seguinte diferença com o motor anterior:

O estator deste motor pode alimentar-se quer em corrente contínua quer em corrente
alternada, porque o funcionamento é idêntico.
O rotor roda sempre por atracção magnética e nunca por repulsão, como poderá
acontecer com o motor passo-a-passo de íman permanente, se trocarmos as polaridades
no estator.
Se aumentarmos o número de dentes (A, B, C, D, E, F...) no rotor, teremos passos mais
curtos e, portanto, com mais combinações de sequências.
O programa de computador para comandar os dois motores é, obviamente, diferente.

48
PROBLEMAS

1. Um motor assíncrono monofásico de 5 CV é alimentado por uma tensão


nominal de 220 V. Sendo o factor de potência de 0,8 e o rendimento de 85 %,
calcule:
a) A potência activa absorvida;
b) A intensidade absorvida;
c) A potência aparente;
d) A potência reactiva.

2. Um motor monofásico de 2 CV tem um rendimento de 85 %. Sendo a tensão


nominal de 220 V e o factor de potência de 0,75, calcule:
A potência activa absorvida;
A intensidade da corrente;
A totalidade das perdas;
As componentes activa e reactiva da corrente;
As potências reactiva e aparente.

3. Um motor assíncrono trifásico de 5 CV, por falta de uma rede trifásca, deve ser
alimentado por uma rede monofásica cuja tensão é de 220 V.
Represente o seu esquema eléctrico de ligação;
Calcule o valor do condensador que será usado no circuito;
Qual será a sua potência quando alimentado pela rede monofásica.

49
2. MÁQUINA SÍNCRONA
A máquina síncrona é uma máquina eléctrica cujo rotor gira à velocidade de
sincronismo (n = ns). Como ns = 60 f / p é uma velocidade constante dependentemente
da frequência, então esta máquina roda com uma velocidade constante para uma
determinada frequência.

Teoricamente (considerando que as máquinas são leves e que se despreza o atrito), para
que o rotor girar, os enrolamentos do rotor tem que ser alimentados com uma corrente
contínua a partir de uma pequena fonte de energia. Deste modo, o rotor fica, à partida,
com os seus próprio pôlos magnéticos e independente dos pólos magnéticos do estator.
Sendo assim, quando o estator está alimentado, o campo magnético girante produzido
vai arrastar, à mesma velocidade, o campo próprio do rotor. Isto é o campo magnético
girante do estator tem o mesmo número de pares de pólos magnético com o do rotor;
com acção do do campo girante, o seu pólo N atrai, magneticamente, o pólo S’ do rotor,
em quanto o pólo S atrai o pólo N’, provocando assim a rotação do rotor que irá, por
isso, rodar à mesma velocidade do campo girante (sincronismo).

Fig. 2.1 a) – Sincronismo provocado pela acção magnética entre pólos do estator e rotor.

Praticamente, é sempre necessário fornecer energia mecânica ao veio do rotor da


máquina síncrona para que atinja rapidamente a velocidade do sincronismo (se não, o
rotor sendo pesado nunca arrancaria).
A máquina síncrona, tal como a generalidade das máquinas rotativas, funciona como
gerador (alternador) ou como motor (motor síncrono). Diz-se, por isso, é uma máquina
reversível.

50
Fig. 2.1 b) – Alternador síncrono com excitatriz

2.1. Alternador
O alternador, ou gerador de corrente alternada, transforma energia mecânica (que lhe é
fornecida por um motor) em energia eléctrica de corrente alternada que vai fornecer a
uma carga ou a uma rede eléctrica.

2.1.1. Constituição e princípio de funcionamento do alternador

Para um alternador, tanto induzido como indutor podem ser móveis ou fixos. Mas
geralmente, o induzido é fixo e indutor é móvel. Só em pequenos alternadores é que a
situação é contrária. Com efeito, sendo as correntes no induzido bastante mais elevadas
que no indutor. Se o induzido fosse móvel isso originaria que os anéis que vão recolher
a corrente fossem de grande secção o que provocaria também o aparecimento de faíscas
bastante elevadas.

O alternador é constituido pelo estator e pelo rotor. O estator é formado por um


conjunto de chapas magnéticas empilhadas, e isoladas entre si, onde são colocados os
enrolamentos que fornecem corrente eléctrica ao exterior. O rotor é constituido também
por um núcleo ferromagnético, com um enrolamento à sua volta, que é alimentado por
uma fonte de corrente contínua (geralmente um dínamo, acoplado ao veio do alternador,
que tem o nome de excitatriz). A tensão da excitatriz é fornecida ao indutor móvel a
través de duas escovas que deslizam sobre dois anéis colectores ligados ao enrolamento
do indutor do alternador. No caso do induzido móvel, então a alimentação feita pelo

51
alternador ao circuito de carga teria de ser feita através de duas ou três escovas sobre
dois ou três anéis, ligados aos enrolamentos, consoante o alternador é monofásico ou
trifásico, respectivamente.

Fig. 2.2 – União de veios entre um alternador e a sua excitatriz

Fig. 2.3 – Constituição e princípio de funcionamento do alternador: a) com indutor fixo e induzido móvel,
b) com indutor móvel e induzido fixo.

Alternador com indutor fixo: O indutor fixo produz um campo magnético de valor
constante. Cada terminal da espira é ligado ao seu anel, sobre os que a se apoiam as
escovas de grafite, para recolher a tensão induzida. Põe-se a espira a rodar com
velocidade constante, cortando assim as linhas de força do campo. A variação do fluxo
atravéis da espira produz nesta uma f.e.m. variável (alternada sinusoidal) que fica
aplicada entre os dois anéis e portanto entre as duas escovas do rotor. Esta tensão que é
aplicada ao circuito de carga

Alternador com indutor móvel: A espira é alimentada por uma tensão constante,
através das escovas apoiadas sobre os dois anéis, servindo assim de indutor. Dá-se
movimento de rotação à espira. Deste modo, o campo magnético produzido pela
corrente da espira, embora de valor constante, vai atravessando diferentemente (no
tempo) as bobinas fixas do estator. Isto é as bobinas do estator vão ser atravessadas por
um fluxo magnético variável no tempo, que produz nelas uma f.e.m. induzida variável
(alternada sinusoidal). Nestas condições é o estator que alimenta a carga. É este
alternador que vamos estudar.

52
Fig. 2.4 – Diagrama em blocos das transformações energéticas num alternador.

2.1.2. Classificação dos alternadores

Os alternadores podem ser classificados quanto: ao número de fases, ao número de


pólos indutores e ao tipo de rotor.

Quanto ao número de fases, os alternadores ser monofásicos (constituido um único


circuito com fase e neutro) ou polifásicos (bifásico, trifásico, etc.).

Quanto ao número de pólos indutores de rotor, os alternadores podem ter dois, quatro,
seis ou mais pólos (bipolar, tetrapoar, hexapolar ou genericamente multipolar).

Quanto ao tipo de rotor, os alternadores podem ser de rotor de pólos salientes e de rotor
de pólos lisos (ou rotor cilíndrico)

2.1.3. Funcionamento do alternador monofásico bipolar

O estator deste alternador é representado por duas bobinas ligadas em série e


diametralmente opostas. O rotor é representado, simbolicamente, por um íman, portanto
com dois pólos magnéticos (bipolar).

Fig. 2.5 – princípio de funcionamento do alternador bipolar.

Quando se provoca a rotação do rotor (com ajuda de um motor), um fluxo magnético


variável no tempo atravessa as bobinas. Assim, quando o íman está na posição vertical,
o fluxo através das bobinas é máxima. Quando o íman está na posição horizontal, o
fluxo através das bobinas é praticamente nulo. Quando o íman está novamente na
posiçaõ vertical, mas na posição invertida em relação à inicial, o fluxo é máximo, mas
negativo. Estando novamente, o fluxo, na posição horizontal, o fluxo através das

53
bobinas é outra vez praticamente nulo. Ao completar-se uma volta (um ciclo), o fluxo é
novamente máximo positivo.

Fig. 2.5 – Produção de um fluxo alternado sinusoidal, por etapas, num alternador monofásico bipolar

Portanto, o fluxo através das bobinas variou de uma forma alternada, o que provoca nos
terminais do induzido uma força electromotriz também alternada, dada pela expressão:
∆Φ
𝐸 = −𝑁
Δ𝑡
Verifica-se também que p = 1 e f = n, isto é, o rotor com um par de pólo produziu um
f.e.m. com uma frequência f igual a velocidade N do rotor. Podemos portanto concluir
que: 𝑓[𝐻𝑧] = 𝑝 × 𝑛[𝑟. 𝑝. 𝑠]

2.1.4. Alternador trifásico

O alternador trifásico difere do monofásico pelo facto de apresentar no estator três


enrolamentos independentes e deslocados entre si, no estator, de 120º, como tal
sugerido na figura 2.6.

54
Fig. 2.6 – Representação trifásica de alternador trifásico

O rotor do alternador trifásico é igual ao do monofásico. Quando o rotor inicia o seu


movimento, só passando 120º (1 / 3 de volta) é que o mesmo pólo se encontra em frente
do enrolamento seguinte, passado mais 120º, ele ficará em frente do terceiro
enrolamento e, decorridos mais 120º, volta na posição inicial, em frente do primeiro
enrolamento. Assim os fluxos magnéticos e as forças electromotrizes respectivas, em
cada um dos enrolamentos, estarão também desfasados de 120º ou 1 / 3 de período.

Fig. 2.7 – Representação temporal de um sistema trifásico de forças electromotrizes.

2.1.4.1 Associação de fases do alternador trifásico

Sendo o alternador trifásico constituído por três fases independentes e desfasadas de


120º, ele apresenta evidentemente 6 terminais. As três fases do alternador podem,
evedentemente, alimentar separadamente três cargas diferentes ( embora que não seja
mais aconselhável)

55
Fig. 2.7 – alimentação trifásica com circuitos independentes

Podemos associar as fases do alternador em estrela ou em triângulo. Na figura 2.8


representam-se as ligações em estrela (sem neutro e com neutro) e em triângulo,
respectivamente, com as placas de terminais respectivas.

Como qualquer sistema trifásico, a tensão composta Uc para um alternador também é:


𝑈𝑐 = √3 × 𝑈𝑠

56
Fig. 2.8 – Ligações de alternador: (a) ligação em estrela dos enrolamentos e respectiva placa de terminais;
(b) ligação em estrela, com neutro, dos enrolamentos e respectiva placa de terminais e (c) ligação em
triângulo dos enrolamentos e respectiva placa de terminais.

57
2.1.4.2. Expressão da força electromotriz

A força electromotriz induzida em cada enrolamento de um alternador é dada pela


expressão:
𝐸 =𝐾𝑝𝑛𝑁Φ
Em que: E – força electromotriz induzida em cada fase (Volts); K – coeficiente de kapp
(varia entre 1,9 e 2,6 dependentemente do tipo do alternador); p – números de pares de
pólos; n – velocidade de rotação do rotor (r.p.s); N – número de condutores por fase;
Φ – fluxo útil por pólo (webers).
𝑛
𝐸=𝐾𝑝 𝑁Φ
60
Neste caso a velocidade de rotação (n) expressa-se em rotações por minuto (r.p.m.)

No geral, sem ter em conta a influência de certos factores, a força electromotriz pode ser
determinada pela expressão (teórica):
𝐸 = 2,22 𝑝 𝑛 𝑁 Φ ;
K = 2,22 (valor teórico)
Para obtermos o valor real da f.e.m. temos de corrigir aquela expressão por dois
factores:
O factor de distribuição Kd refere-se à distribuição dos condutores de um enrolamento
por diversas cavas do estator e o desfasamento entre as f.e.m. induzidas nos vários
condutores que o constituem. O valor eficaz da f.e.m. resultante será assim o módulo da
soma vectorial das f.e.m. dos condutores, pelo que na realidade este coeficiente terá de
ser inferior a 1.
O factor de forma Kf refere-se à forma do fluxo no entreferro do alternador real, não ser
rigorosamente uma sinusoide. Deste modo, a f.e.m. induzida também não será
rigorosamente sinusoidal.

O valor real da f.e.m. induzida é dado portanto pela expressão:


𝐸 = 2,22 𝐾𝑑 𝐾𝑓 𝑝 𝑛 𝑁 Φ
A constante 𝐾 = 2,22 𝐾𝑑 𝐾𝑓 , designada por coeficiente de Kapp, sendo um valor
característico da construção da máquina.

2.1.4.3. Regulação da força electromotriz e da frequência

A regulação da f.e.m. (E) obtém-se variando a velocidade (n) ou o fluxo (Φ). A variação
da velocidade do rotor é feita variando a velocidade do motor (ou turbina, no caso das
centrais eléctricas) que acciona o alternador. E a variação do fluxo é feita variando a
corrente fornecida pela excitatriz, que alimenta os enrolamentos do rotor. Ver a figura
2.15.

Quanto à regulação da frequência (f), ela é feita obviamente por regulação da


velocidade do rotor (atrvés do motor de accionamento). Sabendo que: f = p n.

58
2.1.4.4. Curvas características do alternador

No alternador, as principais curvas características que definem o seu funcionamento são


as seguintes:
Característica em vazio E(i)
Característica em curto-circuito I(i)
Característica em carga U(I)

Característica em vazio (ou interna) E(i) do alternador – esta característica é obtida,


realizando o ensaio em vazio (em circuito aberto) do alternador, tal como se sugere na
figura 2.9

Fig. 2.9 – esquema eléctrico para realizar o ensaio em vazio do alternador

No circuito indutor (circuito de excitação), ligamos um amperímetro (A) para medir a


corrente de excitação (i) do alternador. Aos terminais de duas fases do alternador
trifásico, ligamos um voltímetro (V) que mede a sua f.e.m. E (tensão em vazio).
Primeiramente, leva-se o rotor até à sua velocidade nominal, por accionamento do
motor M. De seguida, por regulação do reóstato Rc, vamos aumentando
progressivamente a corrente de excitação até que o voltímetro indique o valor da f.e.m.
nominal do alternador (valor indicado na chapa de características do alternador). E no
mesmo tempo, aprovamos anotar diverso pares de valores de i e de E, possibilitando-
nos traçar a curva característica em vazio E(i) representada na figura 2.10.

Fig. 2.10 – Característica em vazio do alternador

Característica em curto-circuito I(i) – Esta característica é obtida com a ajuda do


esquema eléctrico representado na figura 2.11. Neste caso, os terminais do induzido do
alternador estão curto-circuitados entre si. Numa das fases, liga-se um amperímetro A2

59
para medir a corrente I na linha. No circuito indutor, liga-se um amperímetro A1 para
medir a corrente indutor i.

Fig. 2.11 – esquema de ligações para efectuar o ensaio em curto-circuito do alternador

Primeiramente, leva-se o rotor até à sua velocidade nominal, por accionamento do


motor. De seguida, por regulação do reóstato Rc, vamos aumentando lentamente a
corrente de excitação e registando as leituras dos dois amperímetros até que a corrente I
atinja cerca de 2 × In (note que este ensaio deve ser rápido, principalmente quando I >
In).
Com os valores obtidos por leitura dos amperímetros, traçamos a característica em
curto-circuito simétrico do alternador.

Fig. 2.12 – Característica em curto-circuito do alternador

Característica em carga (ou externa) U(I) do alternador – O traçado da característica


em carga do alternador é feito através do ensaio em carga. A característica em carga
representa a variaçaõ da tensão U aplicada à carga com a corrente I debitada à mesma,
mantendo constante a corrente de excitação i, a velocidade n e o factor de potência da
carga.

Fig. 2.13 – Esquema de ligações para o ensaio em carga do alternador

60
Primeiramente, leva-se o alternador até à sua velocidade nominal. Depois, regula-se a
excitação do alternador de modo que o voltímetro V indique a f.e.m. nominal En
(correspondente a I = 0). De seguida, liga-se o interruptor K, com as cargas genéricas Z
todas intercaladas no circuito. Registamos este primeiro par de valores de U e de I
indicados pelos aparelhos de medida.
Vamos variando, progressivamente, os cursores das cargas Z, de modo que a corrente vá
aumentando até à corrente nominal In, registando diversos pares de valores de U e de I.
Desta maneira, obtemos o diagrama U(I) para o factor de potência de carga considerada.
Para outras cargas, com diferentes factores de potência, faríamos ensaios semelhantes, o
que nos permitiria obter as curvas representadas na figura 2.14.

Fig. 2.14 – Características em carga do alternador, para diferentes cargas (capacitiva, resistiva e indutiva)

Analisando a figura 2.14, podemos concluir que:


 Para cargas indutivas, a queda de tensão no alternador é mais elevada.
 Para cargas resistivas, a queda de tensão é a menos elevada.
 Para cargas capacitivas, há uma zona de valores em que a tensão em carga U é
maior que a f.e.m. E do alternador.

2.1.4.5. Arranque do alternador

Para arrancar o alternador, primeiramente, acciona-se o motor (de corrente contínua M),
com o veio acoplado ao do alternador, regula-se a sua velocidade por regulação dos seus
reóstatos de arranque e de excitação, até que as três máquinas representadas sejam
conduzidas à velocidade (n) tal que corresponda à frequência (f = p n).

Por regulação do reótato Rc do dínamo (G), excitatriz, regula-se a excitação do dínamo,


isto é, a sua indução magnética e portanto, a f.e.m. aos seus terminais. Esta f.e.m. terá o
valor necessário e suficiente de modo que o fluxo no rotor produza a f.e.m. (no estator)
𝐸 = 𝐾 𝑝 𝑛 𝑁 Φ. O reóstato R representado permite efectuar regulações finas (pequenos
ajustes) da excitação e, obviamente, do fluxo magnético.
Quando o alternador atinge a sua velocidade nominal, a frequência nominal e ainda a
sua força electromotriz nominal, lidas pelo frequencimétro (f) e pelo voltímetro (V),
respectivamente, então pode-se ligar (o alternador) a um circuito de carga (figura 2.15).

61
Fig. 2.15 – Esquema de ligações para arranque de um alternador.

2.1.4.6. Diagrama de carga do alternador ou diagrama de Behn-Eschenburg

O método de Behn-Eschenburg relaciona vectorialmente a f.e.m. (E) com a tensão (U)


em carga e ainda as quedas de tensão internas (R I) e (Xs I).

Fig. 2.16 – Alternador em carga: a) Esquema eléctrico equivalente; b) Diagrama vectorial, com carga
indutiva (ou diagrama de Behn-Eschenburg).

Aplicando as leis de malhas ao circuito da figura, obtém-se:

𝐸⃗ = 𝑈
⃗ + ⃗⃗⃗⃗⃗
𝑅 𝐼 + ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝑋𝑠 𝐼 ⟺ 𝐸⃗ = 𝑈
⃗ + ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝑍𝑠 𝐼

Em que: ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝑍𝑠 𝐼 = ⃗⃗⃗⃗⃗
𝑅 𝐼 + ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝑋𝑠 𝐼 𝑒 𝑍 = √𝑅 2 + 𝑋𝑠2
Sendo ⃗⃗⃗⃗⃗
𝑅 𝐼 uma queda de tensão resistiva e ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝑋𝑠 𝐼 uma queda de tensão indutiva, estes
vectores são perpendiculares entre si. Daí que possamos definir uma nova ⃗⃗⃗⃗⃗
𝑍 𝐼 que é a
soma vectorial: ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝑍𝑠 𝐼 = ⃗⃗⃗⃗⃗
𝑅 𝐼 + ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝑋𝑠 𝐼
Xs e Zs são respectivamente, reactância síncrona e impedância síncrona.

62
Os valores de E, U e I são medidos nos ensaios em vazio e em carga, respectivamente, o
valor da resistência (R) dos enrolamentos é medido com Ohmímetro. Para obter o valor
de Z, vamos construir no mesmo gráfico as características em vazio e em curto-circuito.

Fig. 2.17 – Caractéristicas em vazio e em curto-circuito, para a determinação de


Z = En / Icc (i = constante)

No ensaio em curto-circuito temos U = 0 e, portanto:

𝐸
𝐸⃗ = 𝑈
⃗ + ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝑍 𝐼𝑐𝑐 ⟺ 𝐸⃗ = 0 + ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝑍 𝐼𝑐𝑐 ⟺ 𝐸⃗ = ⃗⃗⃗⃗⃗
𝑍𝐼 ⟺𝑍=
𝐼𝑐𝑐

Calculando Z, podemos obter X pela expressão 𝑋 = √𝑍 2 − 𝑅 2 e assim construimos o


diagrama de carga do alternador. Este diagrama permite-nos relacionar, para cada
regime de carga, a variação da queda de tensão e a relação entre U e E.

A queda de tensão do alternador(ou de qualquer gerador) é dada por:


Δ𝑈 = 𝐸 − 𝑈
A queda de tensão, em percentagem da força electromotriz (E), vem dada por:
𝐸−𝑈
Δ𝑈% = × 100
𝐸

2.1.4.7. Potências activa, reactiva e aparente.

Um alternador monofásico fornece as seguintes potências eléctricas monofásicas:


𝑃 = 𝑈 𝐼 𝑐𝑜𝑠𝜑
𝑄 = 𝑈 𝐼 𝑠𝑒𝑛𝜑
𝑆=𝑈𝐼
2
Com 𝑆 = √𝑃 + 𝑄 2

Um alternador trifásico fornece-nos as seguintes potências trifásicas:


𝑃 = √3 𝑈 𝐼 𝑐𝑜𝑠𝜑
𝑄 = √3 𝑈 𝐼 𝑠𝑒𝑛𝜑
𝑆 = √3 𝑈 𝐼
2
Com 𝑆 = √𝑃 + 𝑄 2

63
Onde: P, Q e S são respectivamente potências activa, reactiva e aparente

2.1.4.8. Rendimento do alternador

O alternador apresenta os seguintes tipos de perdas: perdas no ferro do estator, perdas


por efeito de joule no estator e no rotor e as perdas mecânicas. As perdas no ferro do
rotor são nulas porque o alternador trabalha à velocidade do sincronismo.

Como o alternador transforma, a potência mecânica Pm (Pa) que lhe é fornecida por um
motor, em potência eléctrica Pe (Pu), então o rendimento do alternador será:
𝑃𝑢 𝑃𝑒
𝜂= ⟺ 𝜂=
𝑃𝑎 𝑃𝑚
Com 𝑝 = 𝑃𝑚 − 𝑃𝑒
Em que: Pe – potência eléctrica (activa) fornecida (Pu) pelo alternador; Pm – potência
mecânica absorvida (Pa) no veio do alternador; p – potência total de perdas do
alternador.

2.1.4.8. Paralelo do alternador com a rede eléctrica (paralelo de alternadores)

Para fornecer a potência que é pedida, em cada momento, pelo conjunto dos
consumidores, as centrais eléctricas devem ligar ou desligar grupos turbina-alternador,
em função das suas necessidades. A potência total fornecida por uma rede eléctrica é a
soma das potências fornecidas por cada um dos alternadores ligados.

A ligação em paralelo de um alternador com a rede eléctrica obedece as seguintes


condições:
1. Igualdade de tensões – O alternador e a rede devem ter os mesmos valores
eficazes de tensão. Isso deve ser verificado a partir dos voltímetros V1 e V2
ligados no circuito do alternador e na rede respectivamente. Se U1 não for igual
a U2, ajusta-se U1, por regulação do circuito de excitação do alternador, até que
se verifique a igualdade de tensões.
2. Ordenação de fase – As fases do alternador e da rede devem ser ligadas
correctamente, isto é, a sequência de fases deve ser igual (liga-se a fase R com
R’, liga-se S com S’ e T com T’). Para a sua verificação, liga-se as três
lâmpadas indicadas no esquema. Se as lâmpadas acenderem e apagarem todas
em simulâneo, então a ordem ou a sequência das fases está correcta. Se não,
então será necessário trocar duas fases quaisquer (num dos lados) e, deste
modo, a sequência de fases ficará correcta.
3. Igualdade de frequências – O alternador e a rede devem ter a mesma
frequência. Esta situação é verificada nos dois frequencímetros f1 e f2 ligados,
respectivamente, no circuito do alternador e da rede. Caso as frequências forem
diferentes, ajusta-se a frequência f1, por regulação da velocidade do motor, até
que se verifica f1 = f2.
4. Concordância de fases – No momento de efectuar o paralelo, as tensões
homónimas do alternador e da rede devem estar em fase entre si, isto é, devem
passar simultaneamente pelos máximos ou pelos zeros (R em fase com R’, S em
fase com S’ e T em fase com T’). A sobreposição das curvas das fases verifica-
64
se a partir das três lâmpadas indicadas no esquema. Se as lâmpadas apagam-se
todas em simulâneo. Isto quer dizer que os potenciais eléctricos nos terminais
do alternador e da rede são iguais (UL = UR – UR’ = 0 por exemplo). É
exactamente neste instante que deve-se efectuar o paralelo, ligando o interruptor
K o qual vai curto-circuitar as lâmpadas que ficam fora.
Alguns laboratórios estão equipados com um aparelho denominado sincronoscópio que
nos indica a igualdade de frequências bem como a concordância de fases, através de um
ponteiro que roda num sentido ou noutro. O procedimento é idêntico, por actuação na
velocidade do alternador, efectuando-se o paralelo quando o ponteiro estabilizar na
posição vertical.

Fig. 2.18 – esquema de ligação para efectuar paralelo de alternador com a rede.

2.1.4.9. Arrefecimento do alternador

O arrefecimento do alternador é um problema muito importante nos grandes


alternadores. Portanto, para aumentar a potência do alternador, usa-se vários métodos. O
método mais eficaz e mais usado é de aumento da densidade de corrente eléctrica (A /
mm2). Neste caso, as perdas por efeito de joule aumentam, consequentemente o
aquecimento. Daí surge a necessidade de arrefecimento energético e que os isolantes
não degradam.

Os métodos métodos mais usados para o arrefecimento do alternador são:


 Arrefecimento por ar (Pu ≤ 50 MW)
65
 Arrefecimento por hidrogénio
 Uso de condutores ocos (para um bom contacto entre o cobre do estator e o
fluido refrigerante)

2.1.4.10. Protecção do alternador

As protecções dos alternadores mais usadas são:


 Protecção contra sobreintensidade
 Protecção diferencial
 Protecção contra aterramento do estator
 Protecção contra curto-circuito dos enrolamentos do estator
 Procção contra o aterramento do rotor
 Protecção contra sobretensão

Exercícios

1. Um alternador trifásico com 12 pólos e 2 ranhuras por pólos e por fase. Cada
ranhura contém 4 condutores activos. O fluxo por pólo é 0,018 Weber e o
coeficiente de Kapp é igual 2,12. A frequência da f.e.m. produzida é de 60 Hz.
a) Qual é a a velocidade de rotação do grupo?
b) Os condutores activos duma fase encotram-se montados em série, qual é a f.e.m
por fase? Os três enrolamentos estão ligados em estrela, determine a tensão entre
fases.

2. Um alternador monofásico hexapolar com um fluxo magnético por pólo de 0,05


Wb e 180 condutores distribuidos no induzido deverá gerar f.e.m. a 50 Hz.
Calcular:
a) A velocidade de rotação;
b) O valor da f.e.m. teórica;
c) O valor da f.e.m. real, se Kd = 0,9 e Kf = 1,05;
d) O coeficiente de Kapp.

3. Um alternador trifásico, ligado em estrela, tem uma tensão composta Uc = 380


V, debitando uma corrente de 50 A, com um factor de potência de 0,8, à
frequência de 50 Hz.
a) Calcule as potências aparente, activa e reactiva;
b) Calcule a tensão por enrolamento;
c) Admitindo que a queda de tensão interna (em relação à tensão em vazio)
verificada em cada enrolamento foi de 5 %, calcule: 1) a força electromotriz por
enrolamento; 2) a força electromotriz composta.
d) Calcule o rendimento do alternador, sabendo que a totalidade das perdas é de
1600 W.

4. Um alternador trifásico com 200 condutores por fase, alimenta um circuito a 50


Hz. Sabendo que roda a 500 r.p.m. e que o fluxo magnético é de 0,016 Wb,
calcule:

66
a) O número de pólos
b) A força electromotriz teórica, por fase
c) A força electromotriz real, admitindo que o coeficiente de Kapp é de 2,4

5. Dado um alternador de quatro pólos de 50 Hz, qual o efeito sobre o valor da


f.e.m., quando for accionado a uma velocidade de 1000 rpm.

6. Um alternador trifásico, com uma tensão por fase de 220 V, fornece uma
intensidade de 35 A com um factor de potência de 0,8 a uma dada instalação.
a) Preencha a tabela calculando as diversas potências trifásicas fornecidas pelo
alternador, considerando a ligação em estrela ou em triângulo do mesmo.
b) Compare os resultados e conclua.

Ligação do Uc (V) P (KW) Q (Kvar) S (KVA)


alternador
Estrela
Triângulo

7. Um alternador trifásico em estrela deve fornecer uma tensão entre fases de 380
V a uma carga trifásica equilibrada, com um factor de potência igual a 0,8
indutivo. A corrente na linha é de 40 A.cada enrolamento de fase do estator tem
R = 0,2 Ω e Xs = 2 Ω.
a) Calcule pelo diagrama vectorial, a f.e.m. induzida num enrolamento;
b) Calcule as perdas por efeito de joule no estator;
c) O rotor do alternador e da sua excitatriz, são accionados por um motor de
corrente contínua que absorve uma intensidade de 100 A a uma tensão de 260 V
com um rendimento de 88 % para esta carga. Calcule o rendimento do alternador
e do grupo motor-alternador para essa situação de carga.

8. Um alternador, ligado em estrela, cuja frequência é de 50 Hz, tem 170


condutores no seu estator. O fluxo magnético é de 0,012 Wb. Calcule:
a) A f.e.m teórica, por enrolamento;
b) A f.e.m real, por enrolamento, se k = 2,3
c) A f.e.m composta;
d) A queda de tensão (composta), em percentagem, se Uc = 380 V.

9. Um alternador, ligado em triângulo, com uma tensão composta Uc = 5 kV (50


Hz), fornece uma corrente de 100 A, com um factor de potência de 0,85.
Calcule:
a) As potências activa, reactiva e aparente;
b) O rendimento do alternador, se as perdas forem de 37 kW;
c) A f.e.m se a queda de tensão composta for de 6 %;
d) O coeficiente de Kapp, se Ф = 0,1 Wb e N= 425 condutores.

67
10. Um alternador trifásico, ligado em triângulo, fornece uma potência activa de 20
kW, com um factor de potência de 0,82.a corrente fornecida é de 37 A. Sabendo
que a quedadetensão é de 4,5 %, calcule a f.e.m do alternador.

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