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O conceito de política vai ser analisado de 3 formas diferentes – de acordo com as 3 maneiras de dizer
“política” em inglês:
→ Introdução à Ciência Política, António José Fernandes; Porto Editora, 1995, pp. 11-20
A primeira noção que devemos ter em conta está relacionada com as duas palavras que compõe o nome
da disciplina:
Ciência: uma área do saber que para ter o rótulo de ciência precisa de ter 3 características (Jean-
Marie Denquin explica isso muito bem):
1. Ter um objeto de estudo que se analisa num conjunto de resultados – é necessário
sabermos o que se está a estudar.
2. Esse estudo tem de ser feito através de métodos e técnicas de investigação – existem
regras específicas que devem ser seguidas;
3. Desse trabalho deve-se obter um conjunto de resultados que se vão, com o estudo
continuado, transformando e aumentando. A observação constante permite-nos
estabelecer as ditas regras gerais e fazer certos tipos de afirmações gerais.
⚠️ Temos de saber distinguir as ciências sociais das ciências biológicas.
Exemplo: Análise da política através de uma metodologia científica – ontem (24 de
janeiro, noite de eleições) vimos dados/resultados da abstenção eleitoral. Os estudos e os
resultados obtidos em anos anteriores permitem-nos perspetivar resultados futuros.
Houve também uma constatação de factos, através da análise de estudos e resultados
das eleições anteriores, de que quem se recandidata à presidência, a não ser que existam
fatores excecionais, normalmente ganha.
❔ O que nos permite dizer que a Ciência Política é uma ciência? – o que se quer perguntar com
isto é: será que poderá haver um tratamento ou análise com base científica?
• Qualquer produção científica é um discurso feito por alguém: um investigador. Os
resultados desse investigador são obtidos através da observação. Um investigador é um ser
humano que faz uma análise e tem como base a sua perceção, transmitindo-a depois através
da linguagem humana.
• O que é analisado é algo empírico: é uma coisa real e não subjetiva. Este algo tem
determinadas características de acordo com as capacidades de determinado ser humano
num dado momento e espaço.
• Qualquer afirmação feita pode ser discutida, logo as reflexões científicas não podem estar
sujeitas ao magister dixit. Toda a investigação deve então ser publicitada para que seja
possível haver refutação e contra-argumentação.
• O discurso é inacabado e está em constante mudança, ou seja, hoje chegamos a uma
conclusão, mas daqui a uns tempos podemos chegar a outra. Popper diz “Quando o discurso
é feito de modo a não poder ser refutado, é acientífico.”. O conhecimento humano tem uma
base de relatividade, não há nada objetivo. Quando falamos de uma ciência social, a
conjuntura social ou o momento é essencial. Temos de entender que há comportamentos
plurais e existem determinados grupos que são maiores quantitativamente. Falamos de uma
sociedade plural onde temos partes que pensam de maneira diferente.
Exemplos:
- magister dixit (“o mestre disse”): expressão latina utilizada quando se procura construir
um argumento referindo-se a uma determinada autoridade como inquestionável –
antigamente considerava-se que o Sol girava em torno da Terra e esta teoria era defendida
pelo Igreja, pelo que quando Nicolau Copérnico apresentou a Teoria Heliocêntrica, que
defendia que o Sol era o centro e a Terra é que girava em torno do mesmo, esta não foi bem
aceite e ele foi mesmo julgado em tribunal.
- Vacinas: são necessárias várias etapas para a criação de uma vacina e são feitos vários
testes até que a mesma possa ser, dependendo dos resultados, aceite – qualquer decisão
deve ter um resultado documentado, deve ser empírico e deve ter uma evidência objetiva e
científica que nos permite fazer uma afirmação.
Política: etimologicamente a palavra vem de polis, a palavra grega que significa cidade onde os
seus cidadãos (polites) – o conceito de cidadão é fundamental – exerciam uma atividade pública
(politiké) – é então um grande agregado populacional que vivia de modo organizado num
determinado espaço geográfico. Estas cidades gregas caracterizavam-se essencialmente pela sua
autonomia e independência onde cara um era um centro político, militar e religioso. Estas
cidades (politeias) apareceram a partir do século VIII a.C. e entendia-se a política como a
participação dos cidadãos nas tarefas organizativas das comunidades tendo em vista o bem
comum. Insere-se aqui a noção de Aristóteles (384-324 a.C.) de que o homem é um animal
político (zoon politikon), participa na gestão da sua sociedade. Nesta altura, a noção de política
preocupava-se essencialmente com a definição dos fins e organização da sociedade e com a
dinâmica coletiva, estando ligada a um pensamento subjetivo e valorativo. A palavra política
tem então uma forte polissemia e Denquin considera que podem ser empregues 3 sentidos à
mesma:
1. Como sinónimo – O termo político pode ser utilizado numa questão de comodidade de
linguagem, usando-se como sinónimo do que se quer vincar. Neste caso pode usar-se
em duas situações:
→ Numa primeira situação utiliza-se com o significado de gestão, reportando-se o
termo político (política) a um domínio específico de problemas, cuja responsabilidade da
sua gestão cabe a responsáveis que os devem resolver. Por exemplo, quando se usa a
expressão “política educativa” significa que nos estamos a referir a uma determinada
atividade, na qual se colocam problemas específicos que os responsáveis dessa área
devem resolver.
→ Numa segunda situação, que é mais frequente, o termo político surge como
sinónimo de estratégia. Neste caso não se tem em vista a solução de um problema
concreto, mas os esforços utilizados assim como os objetivos pretendidos. Por exemplo,
quando se utiliza a expressão “política de empresa” quer-se vincar não só os meios que
se utilizam para atingir certos fins, mas também os objetivos orientadores da atividade
da empresa.
2. Como julgamento valorativo – O termo político também se usa para expressar um juízo
de valor, que tanto pode ser com um sentido pejorativo ou com um sentido elogioso, o
que significa que se exprime um julgamento sobre um determinado fenómeno. Por
exemplo, quando se diz “é um grande político”, quer vincar-se o mérito e/ou a
inteligência do interveniente, já quando se diz que “os políticos são todos iguais”
pretende-se deixar uma marca crítica, negativa e desprestigiante dos mesmos. Na
Ciência Política não nos interessa muito a opinião, não são feitos juízos de valor.
3. Como elemento classificativo – Por último, o termo político pode ainda empregar-se
como um adjetivo, referindo-se a um discurso, um programa ou a uma pessoa. Esta
palavra serve para distinguir e identificar por oposição (a contrario). Não se sabe
exatamente onde começa, mas sabe onde se encontra, isto é, identifica-se o que não é.
Todos conseguem identificar um discurso científico, moral ou artístico, conseguindo
distingui-lo de um discurso, de um programa ou de um homem. O pensamento comum
pode não ter a certeza do que positivamente é político, mas sabe o que não é. Esta
procura, do que é ou não político, torna-se importante e importar frisar que se alterou
ao longo dos tempos e em função da evolução das técnicas e das mentalidades.
Nota: Daqui se infere que o conceito de política viu a sua conotação alterar-se ao longo
dos tempos e no espaço, “adaptando-se a várias abordagens teóricas e enchendo-se de
diversos conteúdos empíricos” (Donatella Della Porta, Introdução à Ciência Política,
2003, p.14), apresentando-se, por isso mesmo, como algo problemático e incerto, já que
nenhuma particularidade da vida se pode subtrair à sua politização. As abordagens vão-
se adaptando às realidades, cada vez mais com uma dimensão empírica que vai mais ao
encontro da Ciência Política. Desde muito cedo, a.C. mesmo, que toda esta dinâmica de
gestão de comunidade e das perspetivas de dinâmicas das sociedades vêm da análise da
política. Esta quase totalidade de tudo ter uma dimensão política não significa que seja
tudo alvo de análise para a Ciência Política – esta tem um objetivo muito concreto,
analisar os “conteúdos empíricos” (como Donatella Della Porta diz e Denquin também
refere o mesmo).
Notas (Josep Vallès):
• Josep Vallès reforça a ideia não só de que a palavra “política” faz parte do léxico quotidiano,
quando se conversa em família, no trabalho e na comunicação social, mas também que é usada
com vários significados quando se está a descrever a conduta dos diversos profissionais. Renova
também a ideia que, comummente, pode ser utilizado com um sentido valorativo, quer com uma
carga positiva quer com uma carga negativa. A política, como objeto, pode ser algo que
congrega em torno de símbolos e causas comunitárias, tais como bandeiras e interligada a
conceitos de liberdade, justiça e segurança, entre outros. É um conceito que pode ser
contraditório com as consequências inerentes a isso.
• Opta por estender o conceito de política com o significado de “prática ou atividade coletiva que
uma comunidade leva a cabo”, tendo em vista “regular os conflitos entre grupos”.
• Segundo Vallès, deve ter-se em conta que as pessoas vivem em comunidade para melhor
defender os seus interesses individuais. A política tem como base a convivência comunitária
onde a conflitualidade social é uma característica. Por isso, o conceito de política reúne esta
necessidade de organização comunitária de modo a evitar ou regulamentar os conflitos. A
política surge como uma resposta coletiva contra as prepotências de certos grupos.
❔ Como é que se consegue a convivência/dinâmica coletiva? – A dinâmica coletiva é o
resultado da política e não vem apenas da vivência, mas também de outros conflitos anteriores.
A política visa também garantir a organização da comunidade e evitar conflitos. Do ponto de
vista da Ciência Política, o que nos interessa em termos de objeto de estudo é a regulação ou
ação comunitária tendo em vista a não ocorrência de conflitos.
• A definição deste autor tem subjacente a ideia de que é impossível o ser humano viver isolado.
A imprescindibilidade da vivência em sociedade levou as comunidades a organizarem-se,
devendo por isso encontrar os mecanismos que minimizem ou evitem os conflitos entre os
vários grupos e pessoas. A incerteza no devir futuro motivou a procura de segurança. Por este
motivo, Josep Vallès defende que “o que caracteriza a política é a intenção de resolver as
diferenças mediante uma decisão que obrigue todos os membros da comunidade. É este carácter
vinculativo ou forçoso da decisão que distingue a política dos outros acordos que se adotam em
função de uma relação de família, de amizade ou intercâmbio económico.” (p. ex.: quando se
impõe uma norma, esta tem de ser cumprida). Esta ideia está muito bem sintetizada no esquema
elaborado por este mesmo autor.
Nota: Quando se estuda a política deve ter-se em conta que existem dois fenómenos encadeados e
associados à mesma: o conflito e a cooperação. O conflito leva à necessidade de cooperação das
comunidades.
Nota: A Ciência Política é apenas uma área que estuda particularidades e realidades dessa política.
Ciência do Estado:
• “A Ciência Política tem sido, há já alguns séculos e com o consentimento geral, a ciência do
Estado.” – Marcel Prélot, 1974
• “O conhecimento descritivo, explicativo e prospetivo do Estado e dos fenómenos que com ele se
relacionem, quer por anterioridade, quer por simultaneidade, quer ainda por sobreposição.” –
Carro Martinez
• Numa corrente mais antiga, de um ponto de vista cronológico, diz-nos precisamente que o
objeto de estudo da Ciência Política era o Estado, a chamada ciência do Estado.
• No século XIX e parte do XX, defendia-se que o “o núcleo duro” do seu objeto de estudo era o
Estado bem como as questões a ele inerentes. Para esta especificidade contribuiu muito a Teoria
Geral do Estado elaborada pela dogmática alemã. Também a Sociologia dedicava um particular
enfoque sobre as origens do Estado. Por isso, muitos autores defendiam que a Ciência Política
era a ciência do Estado.
• Segundo esta perspetiva o objeto fundamental da Ciência Política é o Estado, o que lhe confere
uma visão muito institucionalista, até mesmo com algum formalismo jurídico. Para ela, o seu
objeto seriam essencialmente as instituições bem como a legislação, então iríamos estudar as
instituições através dessas regras pelas quais elas se gerem. Isto significa que está muito
condicionada pelo Direito, o qual teve uma influência determinante nos estudos da Ciência
Política.
Ciência do Poder:
• “É política o estudo das relações de autoridade entre os indivíduos e os grupos, da hierarquia de
forças que se estabelecem no interior de todas as comunidades numerosas e complexas.” –
Raymond Aron, 1955
• “O objeto da Ciência Política não suscita grandes dificuldades: ciência da autoridade, dos
governantes, do Poder.” – Maurice Duverger, 1976
• Para outros estudiosos mais recentes, como o sociólogo Max Weber, e por influência da
Antropologia e da Sociologia, o objeto de estudo da Ciência Político é o Poder político.
↳ ❔ O que é o poder? – Segundo este autor “Toda a dominação se manifesta e funciona em
forma de governo. Todo o regime de governo necessita do domínio de alguma forma, pois para
o seu desempenho sempre se devem colocar nas mãos de alguém poderes imperativos”. Acaba
por não ser um só poder, mas sim vários poderes.
• Para além de Max Weber também temos Raymond Aron, Maurice Duverger e Adriano Moreira
como alguns dos representantes desta corrente. Raymond Aron tem uma visão mais sociológica
influenciada pela Sociologia Política que procura entender as relações de poder dentro das
comunidades. Maurice Duverger diz que a autoridade se refere a espaços de democracias
liberais e que não há uma sobreposição (um conceito muito importante), isto é, o poder não é
exercido todo por uma única instituição, mas esse poder é reconhecido (nas democracias
iliberais há uma sobreposição de poder, há alguém acima).
Nota: Quando falamos em autoridade do poder, falamos da repartição do poder – não há um
poder único.
• Entre 1920 e 1940, a Escola de Chicago, uma teoria americana, contribuiu de modo muito
significativo para a proeminência desta perspetiva, criticando a opinião alemã/europeia
anterior, a da Ciência do Estado.
- Raymond Aron, citado por António José Fernandes, ob. cit., p. 16, faz a seguinte afirmação: “é
política o estudo das relações de autoridade entre os indivíduos e os grupos, da hierarquia de
forças que se estabelecem no interior de todas as comunidades numerosas e complexas”.
- Maurice Duverger, citado por António José Fernandes, ob. cit., p. 16, faz a seguinte afirmação:
“o objeto da Ciência Política não suscita grandes dificuldades: ciência da autoridade, dos
governantes, do Poder”.
- Adriano Moreira, citado por António José Fernandes, ob. cit., p. 16, faz a seguinte afirmação:
“parece certo que o Poder é o objeto central da Ciência Política e que deve ser examinado com
um critério tridimensional: a sede do Poder, a forma ou imagem e a ideologia”. Este faz uma
análise mais completa, juntando as duas vertentes. A sede é onde está esse poder, a forma é
como fazem esse poder e a imagem é a justificação para se fazer esse poder.
• O Poder é a faculdade de mandar e a capacidade de se fazer obedecer. Um não pode existir sem
o outro. Devemos distinguir de autoridade natural, que usa a força bruta e impõe-se pela
coação. Se alguém tem a faculdade legítima de mandar, mas não consegue impor-se, então não
detém o poder. Não há um autoritarismo, há um reconhecimento por parte de quem segue e
obedece a esse poder.
“A política diz respeito à luta pelo Poder e à maneira de o exercer, governando.” (Diogo Freitas
do Amaral, Uma Introdução à Política, Bertrand, p. 51)
Conceções/perceções intermédias:
• “A Ciência Política, entendida como a ciência da observação, análise e explicação dos
fenómenos políticos, não se limita ao estudo do Estado e das suas relações com os outros grupos
humanos. Estuda também todas as forças internas que lutam pela aquisição e exercício do Poder
ou que procuram influenciá-lo para a satisfação dos seus interesses e as forças internacionais
que influenciam ou tentam influenciar o comportamento do conjunto de órgãos que numa
sociedade tem a capacidade para obrigar os outros a adotar um certo comportamento.” –
António José Fernandes, Ciência Política, p.18
• Não podemos ter apenas uma visão sobre o que é o objeto de estudo da Ciência Política, se é
simplesmente o estado ou o poder, porque existem mais coisas ligadas. Isto chama-nos à
atenção para as forças internacionais e para a existência de cada vez mais instituições
internacionais.
• Para Gustavo Ernesto Emmerich “é possível formular uma terceira definição da ciência política
mais atual e simultaneamente mais antiga, que por um lado vai ao encontro da realidade e das
aspirações de democracia no mundo atual e por outro recupera tanto a etimologia das palavras
como a origem da política e do pensamento político: a ciência política é a ciência da política, ou
seja, da atividade pública dos cidadãos, a ciência da república (res-coisa + publica-pública). Esta
definição alarga a abrangência do objeto e é conceptual para o estudo de todos os fenómenos
sociais. Porém, nisto diferencia-se da segunda que induz o estudo apenas das relações e mando e
obediência (o poder), mas também as relações que se estabelecem entre quem não tem nenhum
poder político efetivo (ou seja, entre muitos que não controlam os aparelhos coativos
característicos do poder político), e entre estes e os poderosos (o que abre o enfoque desde baixo
até acima, o que significa desde a cidadania até à soberania)”. – Citação traduzida feito por
Josep M. Vallès no seu livro de introdução à ciência política
• Esta nova visão assenta por um lado mais na atualidade e por outro no respeito pela etimologia
da palavra, isto é, pelo seu surgimento.
• Os símbolos de poderes alteram-se cada vez mais. A utilização de novos instrumentos
tecnológicos (como as redes sociais) é um foco de poder: parece que as pessoas não têm poder,
mas têm e muito e alcançam muitas pessoas. Contudo, estas novas formas de comunicação
dificultam o controlo de quem as utiliza e de como as utilizam.
• Nos dias de hoje, já não existe só aquele poder institucionalizado e dá-se particular ênfase:
1. Ao processo de tomada das decisões públicas;
2. Ao equilíbrio e à harmonia do sistema;
3. À capacidade de obter comportamentos (enfatizam-se os meios utilizados).
• Para estas novas perceções e teorias é superimportante o processo de tomada de decisões
públicas – há muitas decisões tomadas tendo em conta as novas realidades –, o equilíbrio e
harmonia do sistema e a capacidade de obter comportamentos. Os comportamentos pode ter
uma responsabilidade humanitária (podem afetar várias pessoas).
❔ Como é que a cidadania se pode tornar um poder? – Quando estamos a atuar em termos de cidadania
estamos a defender uma mensagem – a intervenção cívica é uma forma de poder. Não podemos ver o
poder como a mera bastonada na cabeça.
Ciência Política e Ciências afins – o objeto é a atividade política, mas tem abordagens com algumas
diferenças
O estudo desta vivência política não pode ser perspetivado unidimensionalmente, mas é feita
numa multiplicidade de dimensões. Deste modo, este objeto é comum a várias áreas do saber,
distinguindo-se umas das outras da especificidade que é própria e inerente a cada uma das ditas
áreas. O objeto da Ciência Política é exclusivo da ciência política embora toque noutras áreas do
saber. Para traçarmos mais facilmente o objeto da Ciência Política, devemos ter em conta as
diferenças que se detetam em relação a outras ciências afins.
A política é estudada por diversos ramos do saber colocando em cada um deles uma perspetiva e
um enfoque diferentes dos da Ciência Política. É a partir da junção de todas essas áreas que
estudam a atividade/dinâmica política que entendemos melhor a política.
Teoria Geral do Estado: - esta é uma das teorias mais antigas e em termos cronológicos e por
influência da teoria alemã, entendia-se que o objeto da Ciência Política era o Estado.
Direito Constitucional:
Notas:
• A Ciência Política teve uma grande influência da sociologia e adquiriu uma dimensão
sociológica com alguns autores, tais como Maurice Duverger (1917-2014), Marcel Prélot (1898-
1972) e Raymond Aron (1905-1983).
• Para Diogo Freitas do Amaral, “a Sociologia Política estuda as formas de sociedade em que a
política se desenrola, a influência das classes sociais na vida política, a representação das
diferentes classes nos partidos políticos existentes e nos órgãos de soberania, a origem social
dos governantes, a influência do dinheiro na vida política, as relações entre a economia e a
política, a força ou a influência política real das instituições ou grupos em princípio apolíticos –
tais como a Igreja, as Forças Armadas, o funcionalismo público –, a existência de organizações
não políticas admitidas a exercer a influência política, a orientação dos diferentes meios de
comunicação social, as sondagens de opinião pública, os métodos de propaganda política, as
técnicas de campanha eleitoral, o comportamento e a psicologia de massas”. (Diogo Freitas do
Amaral, História das Ideias Políticas, Vol. 1, 2008, pp. 31-32)
• Na sociologia dá-se especial atenção à relação que existe entre os fatos políticos e os sociais,
procura-se compreender as razões que explicam certos fatos políticos bem como as respetivas
respostas por parte da comunidade.
• Este conhecimento deve ser feito de uma forma interdisciplinar, um conceito que é muito
importante.
❔ Onde é que está a afinidade entre a Ciência Política e a Sociologia Política? – Na influência das
classes sociais na política, na influência do dinheiro, nas relações entre a economia e a política, no
papel das instituições e em todos os outros órgãos detalhados na citação acima.
Notas:
Filosofia Política:
• Tem subjacente um espírito reflexivo, pois suscita numerosas interrogações referentes às razões
da sua realidade, à sua inteligibilidade, ao modo de o situar e de o explicar à luz de princípios
fundamentais. Tais como:
❔ O que é o poder?
❔ Que fins devem ser prosseguidos pelo Estado?
❔ Que valores devem ser considerados universais?
• A filosofia política está relacionada com uma discussão sobre comportamento.
• Devemos passar da ideia do “dever ser” para o “ser”, é a passagem para o Direito Constitucional.
Só assim ficamos com um conhecimento completo da política.
• Pode dizer-se que a Filosofia Política se centra essencialmente ao nível da Gnoseologia,
Ontologia e Axiologia dos factos políticos.
História das Instituições e Ideias Políticas:
• A História aparece como laboratório experimental, já que nas ciências sociais não se pode
utilizar o método experimental.
- História das Instituições: Reconstituição da evolução dos órgãos de poder político e dos fatores
que o originam.
- História das Ideias Políticas: Estuda em si próprias, como entidades com vida e destino pessoal,
as ideologias.
• A história e o passado são importantes para conhecermos realidades atuais e o mundo em que
vivemos. (p. ex.: só podemos conhecer realmente o parlamentarismo inglês se percebermos um
bocadinho da sua história)
Antropologia Política:
• A Ciência Política e as Ciências Políticas não são a mesma coisa e estas podem ser
explicadas através de dois conceitos: um amplo e outro restrito.
Conceito amplo – Engloba todos os conhecimentos (ramos do saber) que direta ou indiretamente,
seja qual for o método empregado, estudem e procurem a compreensão, explicação e fundamento
racional dos factos políticos, ordenados e sistematizados em função do seu objeto. Isto é, “os
fenómenos de poder que se produzam no estado ou fora dele” (Diogo Freitas do Amaral, Uma
Introdução à Política, p. 59). Corresponde às Ciências Políticas.
Conceito restrito – Disciplina que estuda as manifestações, as formas e as regularidades dos factos
políticos, em si mesmas ou através do comportamento dos indivíduos, mediante métodos de
observação. “Disciplina que estuda os problemas do poder na atualidade, através da observação dos
factos e da sua explicação racional, mediante conceitos, tipologias e leis ou tendências naturais”
(Diogo Freitas do Amaral, Uma Introdução à Política, p. 59). Corresponde à Ciência Política.
• A Ciência Política tem um objeto (que pode ser o estado, o poder ou até outro) que se estuda
através de metodologias, no âmbito da sociedade e que por isso não podem ser
experimentais como noutras ciências, e de regras. Os resultados são avaliados
estatisticamente. A melhor forma em termos de reflexão política, em determinados pontos,
são as eleições, onde são apresentados resultados percentuais objetivos. As sondagens
também entram para os métodos de observação.
A evolução histórica da Ciência Política
Atualmente usa-se a expressão no singular, todavia nem sempre foi assim. Durante muito
tempo utilizou-se no plural (Jean-Marie Denquin, Introduction à la Science Politique, pp. 9-12).
Basta lembrar que em 1871 Émile Boutmy criou a Escola Livre de Ciências Políticas. Esta mesma
escola foi nacionalizada em 1945 dando origem ao Instituto de Ciência Políticas.
A utilização do singular ou do plural não pode ser entendida como uma mera questão
terminológica, mas como uma opção de cariz essencial. De facto, existe um conjunto de ciências
que ajudam a compreender a prática política. Todavia importa recorrer ao conceito de ciência, o
que nos leva a deparar com um conjunto de áreas do saber que se justapõem e onde cada qual
tem um objeto diferente.
A ideia de Ciência Política começou nos finais do século XIX e inícios do século XX e foi aí que
se começou a dar um grande destaque ao conhecimento da ciência política. É sobretudo no
século XX que se dá um salto significativo.
França:
- Em 1871, Émile Boutmy fundou a École libre des sciences politiques (Escola Livre das
Ciências Políticas). Em 1945, esta escola foi integrada no recém-criado na Universidade de
Paris. Para o efeito, instituiu-se a Fondation Nationale des sciences politiques (Fundação
Nacional de Ciências Políticas), publicando-se sob a sua tutela um número muito
significativo de estudos. Posteriormente criaram-se institutos políticos em várias cidades
francesas como Strasbourg, Grenoble, Lyon, Toulouse, Bordeaux, Alger e Aix-Marseille.
- Em 1951, começou a publicar-se a Revue française de Science Politique (Revista Francesa de
Ciência Política), fruto da colaboração institucional da Fondation Nationale des sciences
politiques e da Association Française de Science Politique. O surgimento desta revista
especializada foi fundamental pois era nesta que se publicavam informações de qualidade.
- Mais tarde, em 1954, a Ciência Política foi inserida no programa de Direito Constitucional,
ganhando, assim, o estatuto de disciplina universitária.
Inglaterra:
- Em 1895, surge a fundação da London School of Economics and Political Science vincando-
se a interdependência entre a Ciência Económica e a Ciência Política.
- Em 1956, a London School of Economics and Political Science desenvolve vários estudos
nesta área. Os anglo-saxões estão muito ligados ao estudo dos autores políticos clássicos e
da história das ideias políticas.
- Foi maioritariamente nos anos 50 que ocorreu o desenvolvimento da área da ciência política
em termos académicos.
- As estruturas de grande qualidade a nível da administração pública levam a que se
consigam superar os problemas que surgem.
Inglaterra:
Em termos gerais, mais do que europeus, a UNESCO teve um papel importante na estruturação de
planos de estudo relacionada com a política/ciência política em termos internacionais. Em 1948, a
UNESCO apresentou um plano de estudos organizado relacionado com a política e que deveria ser
utilizado no mundo todo.
i. Teoria política
- A teoria política
- A história das ideias
ii. As instituições políticas
- A constituição
- O governo central
- O governo regional e local
- A administração pública
- As funções económicas e sociais do governo
- As instituições políticas comparadas
iii. Partidos, grupos e opinião pública
- Os partidos políticos
- Os grupos e associações
- A participação no governo e na administração
- A opinião pública
iv. As Relações Internacionais
- A política internacional
- A organização internacional
- O direito internacional
Em 1973/1974 a UNESCO elaborou uma nova lista dos temas, mas desta vez mais ampla.
Nota: Foi, essencialmente, com a publicação da obra coletiva La Science politique contemporaine,
publicada em 1951, pela UNESCO, que a Ciência Política se autonomizou e afastou do Direito
Constitucional.
Uma área do saber distingue-se por um método e um conjunto de resultados e processos que
leva à distinção de outras disciplinas.
Há uma transformação e modificação do seu objeto inicial.
De acordo com Raymond Quivy e Luc van Campenhoudt (Manual de Investigação em Ciências
Sociais, p. 187), o termo método pode ser utilizado em:
- Sentido lato significando “dispositivo global de elucidação do real”; é uma afirmação
mais genérica no qual o método será um dispositivo (ou uma regra) para tentarmos perceber a
realidade social ao nível da política.
- Sentido restrito entendendo-se como “dispositivo específico de recolha ou de análise
das afirmações, destinado a testar hipóteses de investigação; é um dispositivo (ou uma regra)
que tem em conta a recolha do material de estudo que possa afirmar ou confirmar uma dada
análise.
Apesar da particularização dos temas, é possível concluir-se que a Ciência Política está voltada
para a observação e a análise dos fenómenos políticos, tendo em vista a obtenção de um
conhecimento geral, sistemático e suscetível de verificação.
A Ciência Política acaba por se distinguir das outras ciências sociais pois:
- Tem um objeto de estudo próprio: o poder político e a sua relação com diversas
instituições e agrupamentos, quer se manifeste a nível local, regional, nacional ou
internacional.
- A nível metodológico se aceita que a Ciência Política “não tem métodos próprios nem
técnica próprias, mas utiliza as das ciências sociais segundo objeto de estudo: método
histórico e análise de conteúdo para o estudo do documento, técnicas jurídicas para as
constituições e textos administrativos, (…), análise comparativa dos diversos tipos de
constituição, governos e notícias políticas, enfim todos os métodos de pesquisa e
técnicas da psicologia social (…). A ciência política tem contribuído, ao mesmo tempo
que a ciência económica, para multiplicar e aperfeiçoar as sondagens de opinião.”
(Roger Pinto e Madeleine Grawitiz, Méthodes des Sciences Sociales, Dalloz, Paris, 1969,
p. 267).
- Recorre a variados métodos de investigação social, constituindo, por isso, um ramo
autónomo do conhecimento.
A sociologia funciona como a ciência que estuda as transformações sociais do capitalismo. No século
XIX, Claude Henri (Conde de Saint-Simon, 1760-1825), L’Organisateur, considerou que à religião caberia
a função de assegurar a prática do princípio da fraternidade universal. August Comte (1798-1857)
introduziu o positivismo, a filosofia essencialmente como observação experimental dos factos. Também
Émile Durkeim (1858-1917), com División du travail social (1893) contribuiu para a observação das
relações sociais de poder.
Convém não esquecer que “a pesquisa factual e as teorias nunca podem ser completamente separadas.
Só podemos desenvolver explicações teóricas se as pudermos testar com base em pesquisas factuais. As
teorias são necessárias para nos ajudar a atribuir sentido a muitos factos com que nos deparamos. Ao
contrário do que pensa o senso comum, os factos não falam por si”. (Anthony Giddens, Sociologia, 9.ª
edição, 2013, p. 7)
- As teorias são todas importantes porque nos ajudam a compreender a questão – o tal modelo
explicativo. Nenhuma das teorias é dogmática e cada uma leva-nos a realçar uma determinada
particularidade.
- “Os factos não falam por si” – é o ser humano que, tendo em conta as leituras que faz, interpreta
melhor a realidade.
Notas:
• Nos EUA nas décadas de 1950 e 1960, com base na evidência empírica, a ciência pensava que, no
âmbito das ciências sociais, era possível conhecer cientificamente as ações humanas. Enfatiza-se
a política como um processo social, dando particular ênfase à tomada de decisões. Com esta
abordagem propõe-se explicar e perceber a razão pela qual certas medidas foram adotadas.
• Assim, os “approaches” são utilizados como uma estratégia de âmbito geral para investigar e
estudar os fenómenos políticos. Os “approaches” podem ser formulados e usados nos diferentes
níveis heurísticos e expositivos. Podem fornecer a estrutura ou tomar a forma de modelo ou
esquema conceptual ou ainda servir como impulso para o desenvolvimento das teorias políticas.
• Num plano interpretativo, deve entender-se como um sinal com uma dimensão muito mais
heurística do que interpretativa.
• Usa-se a maior parte das vezes para sugerir hipótese, devendo, no entanto, estimular a
formulação de teorias. Os “approaches” e os modelos procuram ajudar a compreender o mundo
tal como é.
Modelo – representação teórica de dados empíricos com que se pretende aumentar o conhecimento
através de um esclarecimento significativo entre as relações e as interações.
O Individualismo
Existem quatro perspetivas de análise (as duas primeiras com uma matriz individualista), que nos
mostram a dinâmica política:
Perspetiva Individualista:
❔ Como podem ser explicados/compreendidos os atos políticos?
→ Nesta perspetiva está bem vincado o indivíduo. Assim, tenho de conhecer o
indivíduo e isso consegue-se através da sua biografia, que nos dá a conhece os traços
característicos do mesmo como as suas ideias religiosas, morais, taras e manias, entre outras
coisas.
→ É o chefe ou líder que tem o papel preponderante, por isso tenho de esmiuçar a
pessoa que é o chefe.
→ As ações do decisor político estão condicionadas pela pessoa que o chefe é porque é
este que condiciona e influencia as decisões políticas. O chefe ou líder é que tem o papel
decisório.
→ A tendência pode ser vista numa lógica individual ou numa lógica de grupo quando
essa pessoa se insere num determinado grupo (banqueiros, religioso, entre outros), mas é uma
pessoa do topo. O que acontece é que o grupo e os valores do mesmo também têm influência na
identidade do líder. A personalidade e a identidade das pessoas que integram esse grupo são
muito parecidas então esses grupos tendem a ser grupos restritos cujas pessoas têm afinidades
próximas.
→ Todos os elementos do grupo agiriam da mesma forma que o líder porque têm
características muito próximas uns dos outros. O líder é alguém que se destaca neste grupo.
Perspetiva Racionalista:
→ Esta teoria, embora tenha uma dimensão individual, discorda totalmente e critica a
teoria anterior, a individualista. Em Portugal, Adriano Moreira é o grande defensor da teoria
racionalista.
→ Esta teoria pretende ser defensora do indivíduo, mas diz que este decide
emocionalmente. Enquanto a outra perspetiva valoriza muito a dimensão psicológica, esta
valoriza a racionalidade e a lógica do decisor. Este decisor é considerado como mais socializado.
→ Adriano Moreira diz que o homem vive em sociedade não porque goste, mas porque
tem vantagens. Este autor recorre a teóricos políticos do passado para demonstrar que a
racionalidade é um mecanismo fundamental na ação política.
→ Segundo Thomas Hobbes, o que o decisor faz é sempre do seu interesse e quando o
faz, fá-lo sempre com o menor custo possível.
→ Nesta teoria defende-se que a dimensão individual é menor e dá-se especial atenção
às necessidades da sociedade. Contudo, o decisor continua a ter um papel importante.
Modelo da racionalidade/razoabilidade
Na análise da racionalidade, quem está a analisar de ter uma ótica globalizante, isto é, não se
podem omitir as influências das teorias anteriores. Mas deve dar-se atenção ao binómio:
O decisor está condicionado pelo ambiente da decisão, ou seja, pela realidade e pelo contexto
em que vive e onde necessita de tomar uma decisão. Tendo em conta a realidade em que se
encontra e os objetivos que pretende alcançar, o decisor deve analisar o que precisa de fazer e o
que consegue efetivamente realizar. Valoriza-se muito o contexto envolvente e menos a emoção
do decisor, que praticamente não tem cabimento nesta teoria. A decisão é sempre mais pensada,
olha sempre:
O decisor pensa (racionalidade), mas as decisões recaem sobre uma comunidade constituída por
pessoas que também pensam. Estamos perante um decisor e um objeto de decisão que têm a
mesma dimensão de racionalidade. Este modelo é mais do que o modelo de racionalidade, é o
modelo de razoabilidade porque a racionabilidade por vezes implica adaptações ou mutação
(podendo até haver recuos estratégicos) nos processos de decisão. A razoabilidade significa ter
em conta as características do outro lado do decisor.
Este modelo (da razoabilidade) diz que as pessoas a que as medidas se destinam não têm todas a
mesma racionalidade, isto é não pensam todas de igual forma. Também o espaço ou a
conjuntura em que se integram são diferentes, p. ex. os políticos não vão para o interior de um
país falar em abrir escolas quando a maioria da população é idosa, porque isso não será o maior
interesse da população daquela região. As necessidades das pessoas são diferentes de região
para região, logo a racionalidade é diferente. O decisor tem de saber olhar para aqueles a quem
se destina o objeto da decisão.
Tudo isto faz parte da racionalidade. Esta teoria determinou a necessidade de um plano de
execução, uma estratégia, onde se define o momento e as formas de atuação porque nada pode
ser deixado ao acaso. O único acaso é o não conhecimento da reação daqueles em quem recai a
decisão, porque não é possível prever os comportamentos dessas pessoas. Tudo é planeado.
Perspetiva Funcionalista:
→ Esta teoria tem uma matriz mais institucional em vez de individualista como nas
anteriores. A teoria funcionalista não esquece as anteriores, mas tem como base a Biologia, que
nos diz que os corpos humanos são constituídos por órgãos diferentes, cada um com uma
função específica e que interagem entre si permitindo que os corpos vivam bem e em sintonia.
Quando falta um desses órgãos, o corpo não funciona tão bem e os outros órgãos tentam
diminuir essa falta. É uma analogia que pode ser feita com as instituições visto que nestas
existem várias pessoas que desempenham funções diferentes, todas elas importantes de igual
forma.
→ Este modelo diz que deve-se ter em consideração e devem-se avaliar as funções das
pessoas ou das instituições.
❔ Qual é a lógica subjacente neste modelo? – As pessoas, logo também os decisores,
estão muito dependentes ou condicionados pelas funções inerentes da instituição onde estão
inseridos e onde trabalham ou prestam os seus serviços.
→ Para que a sociedade viva bem e em harmonia, os vários órgãos devem interagir
entre sim e cumprir as suas devidas funções, sem ultrapassar as mesmas ou tentar desempenhar
outras funções que não lhes cabe a eles.
→ Merton (1949) vai pela primeira vez adotar este modelo das Ciências Sociais à
Ciência Política. O autor diz que devemos ter em conta que dentro do todo há órgãos e que ele
próprios atuam ou agem em função das suas tarefas. Há um aproveitamento ou a utilização de
uma questão metodológica agora feita na Ciência Política
→ A teoria funcionalista vai pegar nas instituições e vai ver qual o papel de cada uma
delas, tendo também presente a racionalidade. Todas as análises devem ser vistas de forma
conjunta, nenhuma deve ser ignorada, devendo ter-se uma visão de forma global e não
exclusiva.
→ As instituições não podem ser dissociadas das suas funções, cada uma delas tem um
papel fundamental. A comunidade olha para as mesmas com expectativas e faz exigências.
→ O interesse público está acima de tudo.
❔ Como é que alimentam (justificam) essas decisões e as tornam aceitáveis? – Através de uma
boa justificação, daí ser tão importante a legitimação.
Talcott Parsons (1902-1979) era da opinião de que se o sistema social pretender subsistir deverá
desempenhar quatro funções básicas (as apresentadas do quadro):
1. Ser capaz de se adaptar ao seu ambiente e juntar recursos suficientes para o fazer.
2. Delinear e implementar objetivos e mecanismos para os alcançar.
3. Estar integrado e ter os vários subsistemas coordenados de modo efetivo.
4. Ter maneiras de se preservar e de transmitir os seus valores e cultura às novas gerações.
Merton faz uma distinção entre as funções das instituições, alegando que estas podem ser:
• Manifestas: são as funções que são bem visíveis ou são as principais. P. ex.: A
Assembleia desempenha a função legislativa, os tribunais a função jurisdicional e o
governo a função executiva.
• Latentes: são as que são menos visíveis e que por vezes nem condizem com as funções
das instituições, são funções laterais. No entanto, em alguns casos são estas funções que
não permitem o desaparecimento da instituição ou do órgão. P. ex.: O papel dos partidos
políticos para com os seus militantes, ajudá-los a manter uma certa estabilidade.
“Qualquer órgão que deixe de ter funções desaparece.” (Merton) – Certos partidos ou
instituições não desaparecem porque começam a desempenhar funções que são também
importantes, as funções latentes ou laterais.
- Segundo Merton, um só elemento pode desempenhar várias funções, assim como vários
elementos podem exercer a mesma função. P. ex.: O exército pode desempenhar funções
de Governo.
- Merton extraiu daqui uma lei tendencial segundo a qual uma estrutura que desempenha
uma função, mesmo sendo latente, não pode ser eliminada antes que outra assuma a
mesma função. Ou seja, uma estrutura só pode ser eliminada se não desempenhar
mesmo nenhuma função e caso se pretenda eliminá-la, seja por que razão for, deve-se
primeira atribuir a função, ou as funções, que desempenha a outra estrutura.
- Gabriel Almond (1963) sublinhou o princípio do equivalente funcional ao dizer que uma
estrutura pode, no desempenho de uma função latente, ter uma função tribunícia (papel
de tribuna). P. ex.: O Partido Comunista nos EUA já não consegue eleger senadores,
todavia não desapareceu porque encontrou outro tipo de funções, mas que são
equivalentes, como a causa da raça negra, dos desempregados e entre outros.
- A função tribunícia abrange assim os estratos sociais mais desfavorecidos e sem
representação institucionalizada.
- As funções encontradas, mesmo não sendo funções de poder, são equivalentes
pertenceriam a outra instituição.
Perspetiva Sistémica:
→ Definição de sistema: “Um sistema será qualquer organização complexa que recolhe
e transmite informação, gera atividades e controla resultados e tem a sua autonomia.
Porém, está vinculada em torno da realidade envolvente [ao ambiente envolvente] do
qual receber informações e sobre o qual também atua”. (Josep M. Vallès, Ciencia
Politica: Una introducción, 5.ª ed., Barcelona, 2006, p.48) – Palavras/expressões chave:
organização complexa; gera atividades e controla resultados; tem a sua autonomia; está
vinculada à realidade envolvente.
→ Este modelo tem origem na Biologia também, mais precisamente na célula que
também está interligada com a realidade envolvente recebendo informação da mesma e
atuando sobre ela.
→ Foi David Easton (1954) que aplicou esta teoria sistémica pela primeira vez à Ciência
Política.
Retroação da Sociedade: Um decisor político atua propondo ações e aplicando normas (outputs)
consoantes os pedidos feitos e os apoios que lhe são dados (inputs) pela sociedade. A sociedade
recebe outputs e vai responder, há um movimento de apuração dos outputs que poderão depois
gerar mais inputs, ou seja, mais pedidos ou apoios por parte da sociedade.
↳ Meio Ambiente = há uma sociedade própria (temos de saber quais as suas características)
↳ Pedidos = ou exigências/discordâncias
↳ Apoios = acordos
Adaptação e Integração
Ou seja, é necessária a justificação para cativar a simpatia para certos fenómenos e dar às
pessoas certas causas a valorizar para garantir a atração e a adesão. Muitas vezes a aplicação de
medidas tem por trás a defesa de certos valores adequados às medidas apresentadas, e o bem-
estar é um dos valores mais importantes. É por isso que um governador deve ter a capacidade
de persuadir as pessoas, que acabará por indicar o seu sucesso ou insucesso.
Estes sistemas não estão nem são fechados, eles fazem parte de todo e vão-se complementando
uns aos outros.
Realização de Objetivos
O sistema tem de ter metas/objetivos e tem de procurar as formas mais adequadas para as
atingir. Deve escolher um meio adequado de forma a atingir os objetivos.
Alimentação
Este conceito consiste na produção de uma teoria justificativa. Isto é, devem existir perspetivas
culturais que criem na sociedade uma opinião favorável que justifique aquele sistema.
A maioria destas perspetivas são feitas através das perspetivas da sociedade. Tentam justificar
as suas medidas através de certos padrões. Qualquer medida tomada deve ter em conta o alvo a
atingir e tendo em conta esse alvo, criar uma teoria.
Distorção
Neste caso, o sistema deixa de satisfazer as funções que lhe estão assinaladas.
Esquema do Sistema Político de Easton
Exigências: (demands)
- A sua dimensão deve ser vista em duas vertentes: a dimensão quantitativa e a dimensão
qualitativa.
- O volume das exigências aconselha o uso dos conceitos de carga e sobrecarga do sistema para
exprimir a medida em que pode responder ou resistir à exigência. A sobrecarga pode resultar de
uma quantidade excessiva ou da qualidade das exigências.
- O sistema político analisa-se num conjunto de ações que procuram o ajuste constante entre
exigências do ambiente e a capacidade de resposta do sistema. Isto realiza-se através das
seguintes funções:
Apoios: (support)
Karl Deutsch
O Estado e a Sociedade
Conceitos - Estado
o Estado é um dos conceitos relevantes da Ciência Política e alguns autores chegam a identificá-lo
como o objeto desta ciência. Nos tempos mais recentes, o significante Estado foi utilizado
frequentemente pois o número de Estados aumentou ao longo do século XX, resultantes da
descolonização bem como da “implosão” dos Balcãs, da secessão da URSS e do desejo de alguns
povos que aspiram a ter o seu Estado.
o Começamos, precisamente, pela procura de um conceito para o significante Estado. No que toca
à etimologia, a palavra portuguesa estado é igual a outras línguas europeias – todas elas têm
origem no vocábulo latino status. No Direito Romano, o Estado não existia com o significado
dos dias de hoje, o que existia era uma personalidade jurídica (caput) não de um sujeito, mas de
uma comunidade ou de um grupo de pessoas, que tinham um conjunto de direitos e obrigações
na referência às pessoas e instituições envolventes. Pode dizer-se que existiam vários graus:
status libertatis, o que significava que o indivíduo era livre; status civitatis, queria dizer que era
um indivíduo livre e cidadão e por isso tinha direitos e deveres civis; e, status familiae o que lhe
outorgava para além o direito de ser livre e cidadão, «sui iuris».
o Na baixa latinidade começou a utilizar-se a expressão status reipublicae, onde Ulpiano é um
exemplo. Também se encontra a expressão status romanus. Todavia, importa frisar que a
palavra status nunca adquiriu o significado de sociedade política ou de forma política ou de
instituições políticas.
o Segundo Marcello Caetano, a “primeira noção – ainda sem rigor técnico – que se colhe do
Estado é a de um povo fixado num território, de que é senhor, e que dentro das fronteiras desse
território institui, por autoridade própria, órgãos que elaborem as leis necessárias à vida coletiva
e imponham a respetiva execução”.
o Diogo Freitas do Amaral julga aceitável a definição anterior, porém, apresenta algumas notas de
discordância. Segundo este autor, em vez de povo deveria falar-se em comunidade. Discorda
também da expressão “elaboração e execução de leis”, já que na sua opinião deveria dizer-se
“poder político”. “O Estado é a comunidade constituída por um povo que, a fim de realizar os
seus ideias de segurança, justiça e bem-estar, se assenhoreia de um território e nele institui, por
autoridade própria, o poder de dirigir os destinos nacionais e de impor as normas necessárias à
vida coletiva”. (Diogo Freitas do Amaral, “Estado”, in Polis. Enciclopédia Verbo da Sociedade e
do Estado. Vol II – Antropologia, Direito, Economia, Ciência Política. Lisboa, Verbo, 1984. P.
1128)
o O povo ou a comunidade é então um conjunto de pessoas (é um grupo de pessoas), que tem
uma certa consciência comunitária onde estão criados uma série de elos que faz com que as
pessoas reconheçam que pertencem a uma determinada comunidade.
o A observação dos grandes movimentos do passado bem como dos textos antigos remetem para
a organização da política no passado, tanto ou mais do que para conceções artísticas.
o Deparamo-nos com alguns detalhes: personagens, instituições, episódios, conflitos, normas,
entre outros.
o Com base nesta realidade, podemos avançar com alguns modelos. Por exemplo, distingue-se os
elementos específicos do Império egípcio dos da Polis grega.
As características do Estado têm mudado ao longo do tempo e vamos observar, para os dias de hoje,
uma grande evolução gradual dos elementos do Estado.
Nota: As expressões “estado antigo” e “estado medieval” devem ser colocados entre aspas ou devemos
pelo menos ter a noção de que Estado não tinha o mesmo significado.
Nota 2: Nesta época, o elemento autoridade dependia da função religiosa e/ou da linhagem. A
autoridade política era um prolongamento da autoridade familiar ou uma extensão da função religiosa.
o O Estado moderno surgiu na Europa sob as ruínas do feudalismo. Teve por base o
desenvolvimento da economia mercantil e a libertação das sociedades civis do domínio da
Igreja.
o A realeza tornou-se o órgão político “natural”. É a Coroa e não o Rei que se torna titular do
poder.
↳ Ex.: Quando Luís XIV pronuncia a seguinte frase “O Estado sou eu” e não “eu sou o Estado”
está a exprimir a coincidência entre a pessoal Real e a instituição Estado → institucionalização
do Estado.
o O Estado Moderno é uma instituição social dotada de um poder racional separado da pessoa dos
governantes e consentidos pelos governados.
o O Estado deve exercer o poder de forma racional → a favor da comunidade.
o A autoridade é o Estado = institucionalização do poder.
o Com esta institucionalização a legitimação do poder/autoridade altera-se.
o O fundamento deste poder não é pessoal – o poder não é aceite porque é determinada pessoa
que o detém.
o O Estado é uma realidade europeia pós-renascentista. Costuma dividir-se a formação do Estado
Moderno em duas etapas:
- 1.ª Fase: Mediação – séculos XV, XVI e XVII.
- 2.ª Fase: Maturação – séculos XVIII e XIX.
Sinais de Mudança
- Os primeiros sinais de questionamento do Estado Absoluto podem ser encontrados na
independência dos Países Baixos, bem como na guerra civil inglesa. Também a Reforma
Protestante que defendia a autonomia da consciência individual, assim como os homens de
negócios não queriam ver as suas atividades condicionadas pelo poder político. Todavia, seriam
as revoluções Americana (1776) e Francesa (1789) que deram forma ao Estado liberal.
- Aqui a relação política não se estabelece entre um soberano todo-poderoso e um súbdito.
Agora, quem surge perante o poder político é um cidadão, sujeito de direitos e disposto a
intervir na vida política. Agora, o indivíduo proprietário só depende dos direitos fundamentais
que ele próprio também deve respeitar, tais como o direito à vida e à integridade física ou a
liberdade de consciência e de propriedade.
- A partir do período liberal, a legitimação do Estado Moderno decorre das eleições → do voto
popular.
Legitimação popular
- No Estado Contemporâneo (o atual), que entronca no Estado Moderno, as instituições de
poder são legitimadas pelo voto e estão condicionadas pelo período de duração do voto.
- A existência do Estado pressupõe a organização política de um povo (ou comunidade) que
controla um território com o objetivo de assegurar o bem-estar social da coletividade.
Portugal - 1822
- A Constituição Portuguesa de 1822, no seu artigo 9.º, dizia que “A lei é igual para todos. Não
se devem portanto tolerar privilégios do foro nas causas cíveis ou crimes”.
- Por sua vez, o artigo 13.º exarava que “Os ofícios públicos não são propriedade de pessoas
alguma”.
- No artigo 21.º estava escrito que “Todos os Portugueses são cidadãos e gozam desta
qualidade”.
- O artigo 27.º explicitava que “A Nação é livre e independente e não pode ser património de
ninguém. A ela somente pertence fazer pelos seus Deputados juntos em Cortes a sua
Constituição, ou Lei Fundamental, sem dependência de sanção do Rei”.
Soberania
- “A soberania é a coisa ou a qualidade que dota a entidade estatal de um poder originário, não
dependente, nem interna nem externamente de outra autoridade, conferindo-lhe um direito
indiscutível de usar – a violência”. (Vallès: 166)
Nota: A violência, nas democracias liberais, não deve/pode ser de qualquer forma, tem de ser
legitimada – tem de ter em conta a pluralidade das necessidades da comunidade.
No período moderno a soberania assenta no Estado.
- Um Estado soberano tem de ter poder de querer e poder de executar esse querer → poder de
comandar. É também aquele que num determinado território tem a autoridade máxima, em
termos técnicos significa que:
1. Internamente – não pode haver nenhum poder que se lhe sobreponha.
2. Externamente/a nível externo – tem de ser parte entre as partes, não está subordinado,
mas sim em posição se equivalência. Isto é, é um Estado igual aos outros Estados.
Bodin definiu soberania como “um poder que não tem igual na ordem interna nem superior na
ordem externa”. Para aferir da soberania externa de um Estado é necessário ter em conta:
↳ Direito de reclamação internacional – usar certos meios para fazer valer dos direitos, como:
pedidos de inquérito, recurso à arbitragem e jurisdição internacional.
→ Para um Estado ser soberano externamente tem que, conjuntamente, agregar estas quatro
características, caso contrário, não é soberano, i.e.: têm uma soberania limitada.
Nota: Só falta aqui a moeda, mas neste contexto a mesma ainda não tinha um papel tão
importante na política.
Categoria de Estados
Unitário:
→ Centralizado: a totalidade das funções políticas (incluindo as legislativas) estão
concentradas no Estado. Pode haver, no entanto, uma descentralização meramente
administrativa, como é o caso de quando se atribuem competências às autarquias (ex.:
recolha de lixo). Mas o Estado não prescindiu do poder de fiscalização (ex.: o
Luxemburgo é um Estado centralizado).
→ Descentralizado/Regional: existem regiões que exercem (tal como o Estado central)
funções político-legislativas, das quais podem emanar atos com força de lei em
determinadas matérias. Ex.: Espanha e até Portugal no caso da Madeira e Açores.
(Filipa Urbano Calão et alii, Introdução do Direito Público, 2011, pp. 153-155)
⚠️ Descentralização ≠ Desconcentração – são conceitos diferentes.
↳ Descentralização: quando existe uma transferência da capacidade decisória (o
Estado transfere capacidade decisória), o exemplo máximo são os Estados Federados.
↳ Desconcentração: o poder central apenas delega/transfere, por motivos de
interesse, competências (sob determinadas condições) para o poder regional, que em
qualquer momento pode retirar. Isto significa que o poder central pode ou não ratificar
um ato do poder regional.
É a descentralização ou desconcentração que explica a diferença entre Estado Unitário e
um Estado Descentralizado.
Estados Federais e Estados Compostos: Um Estado Federal é “a união de Estados-
membros num só Estado Central que se rege por normas Constitucionais comuns a
todos os membros”. Em regra, os Estados Federais tiveram como origem uma
confederação. As confederações são associações de Estados, não possuem poderes
soberanos já que estes permanecem nas mãos dos Estados-membros. Estas resultam, em
regra, de acordos internacionais que não podem ser revistos sem unanimidade. Há três
teorias para a relação entre o Estado Federal e os Estados Federados:
1. Teoria do Estado Federal dos dois elementos – segundo esta teoria o caso
americano tinha sua vivência dois elementos: o Estado Federal/Federado e os
Estados Federados que são parte do todo e estão a ele submetidos. Entre Estado
Federal e Estados Federados existe uma forte relação porque o primeiro integra
os outros, o que significa que os órgãos do Estado Federal têm legitimidade para
atuar sobre os Estados Federados. Os órgãos dos Estados Federados são
englobados/integrados pelos órgãos do Estado Federal. Esta teoria defende a
primazia da Federação sobre os Estados Federados.
2. Teoria do Estado Federal dos três elementos – esta teoria explicativa tinha como
modelo a República Federal Alemã. O que dizia era que existem três elementos
ou três dimensões que hierarquicamente se apresentam:
→ Presidente da República Federal e o Tribunal Constitucional são órgãos da
República Federal.
→ O Estado Federal.
→ Os Estados Federados.
Os Estados Federados e a Federação formam uma República Federal. Segundo
esta teoria, o Estado Federado tinha quase a mesma capacidade do Estado
Federal, o que havia era um 3.º elemento formado por duas instituições ou dois
órgãos que dirimiam (anulavam ou impediam) disputas entre o Estado Federal e
os Estados Federados, a saber: o Presidente da República Federal e o Tribunal
Constitucional que não são órgãos da Federação, mas sim da República Federal,
ou seja, estavam noutra dimensão.
3. Teoria dos Estados partes – a Federação e os Estados Federados são elementos
de igual categoria de um conjunto que, em si mesmo, carece de qualidade
estatal, logo os órgãos da Federação não podem atuar sobre os Estados
Federados. Isto é, ambos têm a mesma categoria.
Estado Federal e Estado Regional: As regiões são criadas e podem ser extintas pelo
estado central já os estados federados não podem ser. Os Estados Federais são
bicamerais: nos EUA, os Estados Federados estão representados no Senado, enquanto na
Alemanha estão no Bundesrat (Conselho Federal).
Neutralidade
- É um conceito militar.
- É um estatuto jurídico que confere aos seus titulares direitos (podem manter trocas comerciais
com as partes envolvidas num conflito) e obrigações (não podem prestar ajuda militar a
nenhum deles).
Neutralismo
- É um conceito diplomático.
- O neutralismo não aliena o direito de fazer guerra.
- Um Estado neutral não pretende abster-se dos problemas internacionais, antes orienta a sua
atividade em prol da paz mundial.
- Um país pode dizer que diplomaticamente não apoia uma parte ou outra envolvidas num
conflito, o que não significa que tenha prescindido do seu direito de jus bélico.
Importa distinguir que uma coisa é o estudo das potencialidades do poder político e outra coisa é os
sistemas de divisão do poder. Assim, Aristóteles distinguia três potencialidades de soberania:
• Deliberação.
• Comando.
• Judicativa.
• Poder legislativo.
• Poder de governo.
• Poder do príncipe.
Deste modo, as funções do Estado são uma coisa e a sua atribuição aos vários órgãos ou instituições é
outra. Por isso, a divisão do poder é requisito da delimitação do poder.
Separação do poder
↳ Aceitação do papel político das corporações, dos senhores locais e das ordens.
Assim:
1. Nas magistraturas romanas e na organização estamental falta uma ideia de especialização
orgânico-funcional ou de distribuição de diversas faculdades, ou de distribuição de diversas
faculdades consideradas por mais de um centro subjetivo de poder.
2. Em ambas falta a conexão com a ideia de direitos fundamentais, porque não conheciam a
liberdade política, já que o estado estamental apenas cuidou de assegurar diante do rei,
imunidades e privilégios.
3. A separação de poderes revelar-se-ia a projeção organizadora do Estado de Direito que só
existe com o constitucionalismo moderno.
Segundo este autor, “a única maneira de limitar o poder, consiste em criar outro poder que o
limite; a única maneira de limitar o poder é dividi-lo em diversos poderes que se condicionam,
que se limitem reciprocamente”.
“A liberdade política num cidadão ou de um cidadão é essa tranquilidade de espírito que provem
da opinião que cada um tem da sua segurança; e para que haja ou para que tenha essa liberdade
é preciso que o governo seja tal, que o cidadão não possa temer qualquer coisa de outro
cidadão.” – faz a apologia do governo misto.
Decompõe o poder em três funções, que deveriam ser conferidas a órgãos distintos. Distingue,
ainda, em cada poder uma faculdade de estatuir (statuer: ordenar, por estatutos) e impedir
(empêcher: anular).
O poder legislativo deve ter um poder positivo de estatuir leis, mas também um poder negativo
de impedir que outros órgãos façam algo que ponham em causa os interesses gerais. O poder
executivo tinha estas duas faculdades. Só o poder judicial não tinha essas duas faculdades.
O estado liberal procurou evitar a concentração das funções em poucas mãos como acontecera no
estado absoluto. Foi neste sentido que Locke (1632-1704) e Montesquieu (1689-1755) difundiram a
divisão dos poderes.
↳ Deveria atribuir o poder a mais do que uma instituição. Esta separação, ou melhor esta
procura de equilíbrio entre poderes passa por etapas diferentes. Assim, numa primeira fase, o
objetivo era criar contra-poderes ao poder do monarca hereditário. Procurava-se o equilíbrio de
poderes e funções entre o rei e o parlamento. O rei tinha a capacidade de execução e arbitragem
judicial já que nomeava governos e juízes; e o parlamento tinha a capacidade de legislar, onde
apenas estavam representados os grupos sociais dominantes.
Este foi o modelo da Constituição dos EUA de 1787. O presidente eleito fazia por vezes o papel de
monarca, exercendo funções executivas, e o congresso tinha a faculdade legislativa. Era o sistema de
“checks and balances” (controlos e equilíbrios).
Tal como já se disse, a separação do poder vem dos séculos XVII e XVIII, associada à filosofia política
iluminista e liberal. Deste modo, no século XX as teorias jurídicas e políticas chamam a atenção para
outros aspetos da divisão do poder, tais como:
Deve ter-se em conta, por um lado as normas que regulam as relações e situação específica dos vários
“órgãos de soberania”; por outro lado, o facto da realidade não se conformar frequentemente com o
modelo normativamente delineado.
Conceitos:
- Segundo Jorge Miranda, “forma de governo é a forma de uma comunidade política organizar o seu
poder ou estabelecer a diferenciação entre governantes e governados de harmonia com certos princípios
político-constitucionais. Mais circunscrito, sistema de governo é o sistema de órgãos de função política,
apenas se reporta à organização interna do governo e aos poderes e estatutos dos governantes”.
- Para o problema da repartição horizontal de poderes e a sua articulação pode reservar-se o conceito de
sistema de governo, se se averiguar qual é a efetiva sede do poder. E a forma de governo, se se discutir
como está organizada jurídico-constitucionalmente a repartição dos poderes e a sua articulação.
- O estudo das formas de governo situa-se assim mais ao nível do direito constitucional. O sistema de
governo sobretudo ao nível da ciência política. As abordagens são as mesmas, mas com nuances ou do
direito constitucional ou da ciência política.
Os regimes presidenciais têm o seu presidente eleito pelo povo. Embora os EUA protagonizem a
exceção a este princípio, este modelo nasceu precisamente com a Independência dos EUA.
Todavia, o Presidente é eleito por um colégio que foi anteriormente sufragado pelo povo. Esta
especificidade americana tem de ser relacionada com o momento em que foi criada. No século
XVIII, as comunicações nos EUA eram muito difíceis e morosas, pelo que era praticamente
impossível realizar-se um sufrágio em todo o espaço americano, pelo que a solução encontrada
foi a mais pragmática, cabendo aos eleitos de cada Estado federado deslocar-se até à capital do
Estado federal e aí elegerem um Presidente da República americana. Contudo, também está
condicionado já que não é eleito diretamente pelo povo.
O Presidente é o 1.º titular do poder executivo, a quem compete nomear e dirigir o governo e
não pode ser demitido pelo Parlamento.
Caracteriza-se pelo sistema dos “checks and balances”.
Não há um sistema presidencial, mas sim sistemas presidenciais, como é o caso da América
Latina – está relacionado com as realidades de cada espaço, então não há um padrão único.
Sistemas de governo: Misto
Nota: Interligar este modelo em termos práticos com os tipos de Estado em relação com a soberania.
Traços:
1. Executivo composto por 7 membros, designado Conselho Federal, eleito pela Assembleia
Federal, por um período de 4 anos. Cada um dos membros do Diretório chefia um Departamento
Federal, algo equiparado a um superministério.
2. A chefia do Estado é exercida rotativamente por um dos membros do Diretório.
3. O Diretório não pode ser demitido pela Assembleia.
4. A Assembleia Federal não pode ser demitida pelo Diretório.
A eleição
- Período Liberal – passa a haver uma nova forma de acesso ao poder. No entanto, só alguns votavam
em função do seu rendimento e só podia ser eleito quem estava num patamar ainda superior → “Elites
ao Poder”. Há a ideia de representação, isto é, “eu pretendo que as minhas ideias estejam representadas
por alguém que eu elejo”.
Sufrágio direito e individual: O voto é pessoal – sou “eu” que vou diretamente fazer uma
escolha. O sufrágio/escolha está organizado por colégios eleitorais que podem ser de duas
dimensões:
• Colégios simples – ex. das Assembleias de voto de per si e que são uma parcela que vai
fazer parte do todo.
• Colégios complexos – é o somatório do conjunto de todas as assembleias de voto que,
essas sim, determinam o resultado do voto. São estes resultados que são tidos em conta
na eleição propriamente dita. Ex.: os deputados são eleitos por colégios distritais que
mais não são do que o somatório dos colégios simples das freguesias do distrito.
O sufrágio direto e individual traduz-se num colégio eleitoral homogéneo que engloba a massa
dos eleitores, mas é repartido por colégios simples e colégios complexos.
Com o Constitucionalismo quem está no Governo representa as pessoas, a lógica da representação pode
ser:
Maioritária (ex. norte-americano, inglês): Nos diversos círculos eleitorais, apenas são eleitos os
membros do partido que tiver a maioria, os outros partidos não elegem ninguém. Por exemplo,
numa região é o partido X que elege, mas noutra pode ser o partido Y – a consequência são os
sistemas bipartidários. Pode acontecer que saia vencedor um candidato no qual não votou a
maioria dos eleitores, como também permite que um partido com menos votos tenha a maioria
no Parlamento porque venceu em mais círculos eleitorais. Este sistema propicia uma maior
estabilidade governamental.
Proporcional (ex. português): A representação proporcional leva à constituição de uma imagem
do eleitorado na qual tomam assento todos os partidos de maior expressão do país. As pessoas
são escolhidas na proporção dos votos que cada partido tiver (𝑥 votos = 𝑦 deputados). Este
sistema, no entanto, devido à grande fragmentação partidária dificulta a formação de Governos
duradouros, não permitindo, por isso, uma grande estabilidade governamental.
Os sistemas eleitorais
Uninominais – voto na pessoa. É eleito um deputado por colégio → o sistema será sempre de
representação maioritária. Considera-se eleito o candidato com mais votos.
Plurinominais – voto no partido. São eleitos vários deputados por colégio → aqui já tem de se
escolher se a representação é maioritária ou proporcional.
4. Oferecer legitimidade.
- Legitimar o sistema político, o sistema de partidos e o governo.
- Estabelecer uma comunicação política mediante a interação entre a opinião pública e o poder
político.
- Formar no eleitorado uma cultura política.
Gerar participação
Esta é a 1.ª grande função das eleições. As eleições são uma forma de levar a comunidade a participar na
resolução de um determinado problema. Quando se está perante um impasse a sociedade é chamada a
participar.
Atualmente a participação política da sociedade não se esgota com as eleições. Hoje os grupos de
interesse e pressão têm cada vez mais poder.
A representação que escolhemos está diretamente relacionada com a seleção que fazemos de
determinadas políticas, ou seja, quando voto não estou apenas a selecionar pessoas, mas também
políticas estratégicas relacionadas com temas essenciais.
Produzir representação
Para sabermos o que significa produzir representação temos que refletir sobre os seguintes tópicos:
• Titularidade.
• Representação.
Quem é o titular do poder nos sistemas democráticos → a sociedade ou povo. (no sentido que lhe é
atribuído no pós-Revolução Francesa)
Através das eleições, a sociedade que detém o poder, entrega a alguém a sua representação no
desempenho das funções inerentes ao poder.
“Eu, titular, entrego o meu poder a alguém que me represente, ao escolhê-lo estou a vinculá-lo à
execução do programa apresentado em função do qual eu escolhi. Esse alguém deve agir em sintonia
com a maioria.”
A diferença entre uma democracia e uma ditadura reside na espontaneidade dos representantes, ou seja,
na liberdade de escolha e na duração temporal dessa mesma representatividade. Numa democracia pode
apelar-se à rotatividade dos representantes.
Propiciar governo
• Direto.
• Indireto (caso Americano).
A alterabilidade das elites que governam é algo proporcionado pelas eleições. Os governantes são
representantes dos eleitores.
O Governo deve estar vinculado ao seu universo eleitoral e ao programa que foi sufragado, deve, por
isso, pôr em prática políticas públicas específicas (saúde, ensino, investimento, etc) que devem ser
consonantes com o desejo manifestado pela comunidade, no ato eleitoral (ao votarmos queremos
creditar uma política).
Quando estou a propiciar um Governo estou também a escolher uma oposição cuja função é,
essencialmente, fiscalizar a consonância da atuação do Governo em relação ao que foi o seu programa
eleitoral.
O Governo, teoricamente, está condicionado à execução das políticas públicas de acordo as prioridades
– o controlo desta execução é também tarefa da oposição.
Oferecer legitimidade
A governação deve estar conforme com os desejos, objetivos e anseios da comunidade. Os atos do poder
devem estar de acordo com os valores da população, quando isso acontece reconhecemos legitimidade
aos representantes para executarem o poder. Ou seja, a legitimidade do exercício do poder por aquelas
pessoas advém da aceitação da sociedade.
A legitimidade nem sempre se obteve por esta via. Durante muito tempo, nas monarquias a realeza
legitimava tudo, não se contestava.
Nos regimes democráticos, no período pós-eleições ninguém contesta a legitimidade daquele governo,
uma vez que foi nele que foram depositadas todas as expectativas e anseios.
❔ Como se afere a legitimidade do governo no período pós-eleições? Como se pode dizer se o Governo
está a atuar de modo legítimo ou ilegítimo?
• Objetiva – através dos métodos quantitativos como por exemplo as sondagens (através
das mesmas sabemos qual a % da população que concorda, ou não, com a atuação do
governo).
• Subjetiva – através da análise dos media: TV, Imprensa. (ex. assessores de imprensa dos
governos – conhecem bem as suas manobras e sabem usar as técnicas do meio
comunicacional)
Xavier Torrens diz que: “através das sondagens conseguimos medir a eficácia da atuação da
administração pública”.
Voto
Nalguns países é obrigatório, noutros não. É um direito ao qual corresponde uma obrigação/dever.
Sufrágio
Dois conceitos:
Para ser eleito acrescentam-se alguns requisitos (ex.: para ser eleito Presidente da República é
obrigatório ter mais de 35 anos e é necessário que o indivíduo em causa tenha exercitado o seu dever
cívico – tenha votado). Existe ainda outra incapacidade: a mesma pessoa pode candidatar-se a vários
cargos, mas não pode, de maneira alguma, desempenhar a tempo inteiro dois cargos. Tem de,
obrigatoriamente, optar por um.
Fórmula eleitoral
É o cálculo matemático mediante o qual se distribuem os mandatos, em função dos votos do eleitorado.
Há uma grande variabilidade de fórmulas eleitorais, distribuídas em dois grupos: maioritárias e
proporcionais.
Nota: Proporcionais são mais modernas, surgiram ligadas à extensão dos sufrágios e à democratização
dos sistemas políticas. Existem na maioria dos países da UE. Enquanto as maioritárias estão ligadas às
democracias mais antigas.
Fórmulas maioritárias
Fórmulas proporcionais
• Fórmulas de Resto Maior: também conhecida por fórmula de restos mais elevados.
- Calcula-se uma quota.
- Cada partido terá tantos mandatos conforme o número de quotas que tenha ganho.
• Fórmulas de Média Mais Elevada: também conhecida por fórmula de média maior ou de
divisor comum.
- Consiste em dividir o número de votos das diversas listas por uma série sucessiva de
números.
• Voto Único Transferível: Irlanda e Malta; esta fórmula é parecida à do voto alternativo
só que aqui estabelece-se um valor (proporção) para ser eleito.
- Adota a forma de candidatura unipessoal, aplicando-se também em circunscrições
plurinominais.
- Cada eleitor vota num candidato, e pode também assinalar a ordem de preferência no
que diz respeito aos outros candidatos. Para se realizar a distribuição dos mandatos
utiliza-se a Fórmula de Droop (resto maior). Todos os que obtêm o referido coeficiente
são eleitos.
- Se, depois desta distribuição, ficarem por atribuir mandatos, procede-se à distribuição
dos votos sobrantes dos candidatos já eleitos para os candidatos assinalados em 2.º
lugar.
O Método d’Hondt é o que mais se aproxima do sistema maioritário, ou seja, com este
método é mais fácil atingir a maioria. Não beneficia os pequenos partidos, logo quem
acaba por ser beneficiado são os maiores.
O Método Sainte-Lague beneficia os pequenos partidos sendo por isso mais difícil
atingir as maiorias absolutas.
O sistema proporcional cresceu em meados do século XX, e foi escolhido em Portugal em 1974 para
suceder ao sistema maioritário.
Até ao séc. XX, o sistema maioritário era o mais utilizado. Nas democracias mais antigas (UK, EUA,
França) este método mantém-se.
A lógica dos sistemas proporcionais valoriza a equidade → pressupõe que todos devem estar
representados. O critério de justiça e equidade está mais presente uma vez que as minorias têm maior
possibilidade de se fazerem representar.
Nos sistemas maioritários o eleitor limita-se a exercer o seu direito de voto. Nos sistemas proporcionais
é reconhecida uma maior dignidade ao eleitor para além de também se lhe reconhecer o direito de
escolha/eleger. (dito por Jorge Miranda)
Em 1951, Maurice Duverger, politólogo francês diz que os sistemas políticos e os sistemas eleitorais têm
relações de causa/efeito a três níveis:
10 anos mais tarde, Douglas Rae (inglês) vêm dizer que Duverger tem razão, mas que conjuntivamente
às suas regras, e apenas para as complementar, devem ser acrescentados dois princípios:
1. Regra geral, todos os sistemas eleitorais (uns mais que outros) beneficiam os grandes partidos e
penalizam os pequenos.
2. Consoante a dimensão dos círculos eleitorais, os partidos mais pequenos podem ser, ou não,
beneficiados. Pois que:
- Se o círculo é pequeno a hipótese de elegerem representantes é reduzida.
- Se o círculo é grande a hipótese de elegerem representantes é maior.
Ou seja, a probabilidade de serem eleitos aumenta à medida que o círculo eleitoral aumenta.
A escolha do próprio traçado das circunscrições eleitorais não é inocente – essa escolha ajuda a eleger
os candidatos num determinado sentido. A escolha é estratégica uma vez que pode condicionar os
resultados eleitorais.
• Quanto maior for a circunscrição (em termos humanos) mais fácil é um representante de um
pequeno partido ser eleito.
• Quanto menor (com poucos eleitores) for a circunscrição mais difícil é um representante de um
pequeno partido ser eleito.
↳ Ex.: Na Madeira existiam vários círculos eleitorais, agora só existe um – os votos são todos
somados e depois convertidos em mandatos –, o que permitiu que um partido pequeno (PND) e
com pouca expressão tenha conseguido eleger um deputado regional, o que dificilmente
aconteceria nos círculos eleitorais mais pequenos.
Caso português
Até 1859 e de 1895 a 1896 – vigorou a representação maioritária com sufrágio plurinominal.
De 1859 a 1884 – sufrágio uninominal.
De 1884 a 1901 – sistema misto de colégios uninominal e plurinominais.
De 1901 a 1910 – sufrágio plurinominal com listas incompletas.
O processo é uma organização sistemática de uma dinâmica. Significa isto que devemos entender a ação
política numa lógica sistematizada e organizada, ou seja, perceber que na política não há acasos, tudo
está planeado.
• Um cidadão que vota, um periodista que opina ou um político que decide → são indivíduos
equipados com atitudes, valores e orientações ideológicas.
↳ É este “equipamento” que os capacita e orienta quando se lhes reclama uma reação política.
↳ Estas atitudes políticas não acompanham o sujeito desde o seu nascimento. Não são inatas,
mas são assumidas e incorporadas ao longo da sua existência. Cada sujeito político tem uma
série de limites e oportunidades.
↳ Não se toma consciência política de forma súbita e completa. Cada um de nós vai construindo
e modificando a ideia global de política.
↳ Nela temos em conta imagens, crenças, predisposições, ideias, entre outras coisas, que nos
levam a situar na cena política e a desempenhar determinado papel.
Socialização política
Ideia geral de política como atividades, alguns significados: confusão, serviço, liberdade,
competência.
Perceção do próprio papel do sujeito no cenário político: decisivo, secundário, marginal,
insignificante → traduzindo-se numa atitude de interesse, simpatia, antipatia, entre outros.
Identificação com alguns grupos: classe, religioso, étnico.
Ligação a alguns patamares. Dimensão originária que a política dá, como esquerda, progressista,
conservador, laico.
Como já se disse, o processo político desenrola-se ao longo da vida, não de modo repentino e total, mas
parcial e por etapas.
Socialização Primária: Desenvolve-se desde a infância até à entrada na vida ativa. Nesta fase
recebem-se crenças, atitudes políticas básicas, tais como:
1. Consciência de autoridade.
2. Identificação com um coletivo mais amplo que a família, aldeia, vila, cidade, estado.
3. Gradual consciencialização das diferenças ideológicas e partidárias: assume-se o “nós” e
os “outros”.
4. Consciência genérica dos resultados que nos concede o sistema político: proteção,
segurança, serviços pessoas, entre outros.
o Na expressão de disputas.
o Na definição da questão que é objeto do conflito.
o Na elaboração e negociação de propostas de intervenção.
o Na mobilização de apoios para cada uma das propostas.
o Na adoção e aplicação de uma delas.
- Emissor;
- Recetor;
- Mensagem;
- Canais de transmissão e retroalimentação.
O emissor:
A mensagem:
O canal:
• O canal mais simples é o contacto pessoal, direto. Porém, quando se torna um exercício de
massas são os meios de comunicação social.
• Entende-se que é a forma de atingir um maior número de recetores.
• Ao longo da história recorreu-se aos diversos meios.
• Século XIX: imprensa sobretudo diária. Depois, o telégrafo e o telefone → favoreceram a
comunicação instantânea, em temos real.
• Século XX: desde os anos 20, a rádio; fins da década de 50, a televisão; década de 90, a internet
→ levaram para a globalização da informação
• Caminhou-se para aquilo que MacLuhan apelidou de “aldeia global”. Porém, continuam a existir
desigualdades entre as diversas zonas. P. ex.: em Tóquio existem mais linhas de telefone do que
em todo o continente africano.
No processo de comunicação, a retroação pode ser realizada através do modelo telégrafo ou do modelo
orquestra.
- A comunicação política pode conceber-se como uma relação entre indivíduos. Cada um
participa nela com filtros de predisposições, seleciona e interpreta as fonte e retém também
seletivamente as mensagens. Cada um atende preferencialmente a alguns emissores.
- Porém, a comunicação também se desenvolve em grupo. Neste contexto, alguns atores
selecionam, interpretam, reelaboram e reemitem estas mensagens para os seus círculos e
contactos.
- Assim, o fluxo da comunicação desenvolve-se em duas etapas:
1. Do emissor para o líder de opinião.
2. Do líder de opinião para o contexto (grupo) em que este se encontra.
- Podem também desenvolver-se num âmbito mais amplo. Por exemplo, um articulista de um
jornal ou o condutor de um programa de rádio e/ou televisão tem o seu raio de influência
bastante alargado.
- O papel dos chamados líderes de opinião é reconhecido pelos emissores das mensagens, porque
sabem que eles têm capacidades para multiplicar a difusão das mesmas.
↳ P. ex.: uma associação de moradores que chama a TV. Ou, ainda, um líder político que em
campanha eleitoral se reúne com os dirigentes sindicais e/ou entidades patronais.
- Nestes casos, os emissores procuram ampliar a eficácia das suas mensagens. Assim, qualquer
análise do processo de comunicação deve ter em conta os intercâmbios individuais e de grupo.
• As tecnologias de informação e comunicação (TIC) desenvolveram-se nos finais do séc. XX. Esta
ocorrência teve consequências ao nível da comunicação política. A WWW (internet) facilitou o
desenvolvimento duma rede permanente e a multilateralidade, pois:
o Os partidos e organizações sociais têm a sua página web, assim como blogs individuais,
páginas de jornais, etc.
o As mensagens com impacto político que são produzidas pelos atores financeiras,
industriais, etc.
O acesso a estes novos meios não está à disposição de todos. Existe assim uma divisão entre os que têm
a capacidade de acesso e os que não têm → existe uma desigualdade digital.
O impacto da comunicação de massas converteu-se em tema de reflexão a partir de 1920, pois percebeu-
se o papel das novas tecnologias (ainda principiantes) como o cinema e a rádio na propaganda política
dos acontecimentos próximos: como a 1.ª Guerra Mundial, Revolução Bolchevique Russa de 1917, a
implantação do nazismo na Alemanha nos anos 20/30 do séc. XX
→ A opinião equivale a uma tradução verbal de uma atitude num dado momento. Com a
manifestação verbal torna-se percetível uma predisposição anterior.
→ Opinião pública remete-nos para um fenómeno coletivo. Quando falamos de opinião pública
referimo-nos a uma determinada distribuição das opiniões individuais no seio da comunidade que adota
uma determinada inclinação perante as mensagens recebidas dos meios de comunicação.
→ Portanto, opinião pública não equivale a opinião unânime de uma comunidade. A opinião
pública revela um caráter segmentado e daí a necessidade de se analisar detalhadamente.
Deve, portanto, distinguir-se:
Cultura política: descreve a pauta estável de atitudes básicas que duram no tempo.
Opinião pública: é a reação do sistema de atitudes face a elementos circunstanciais da política –
propostas, personagens, etc.
É através da análise das suas variações que se observa se as mensagens reforçam ou alteram os estados
de opinião anteriores. É por isso que se dá muita importância aos estudos de opinião.
Inquéritos e sondagens
Inquérito: estudos de opinião sobre temas de maior envergadura, p. ex. o que pensa uma
comunidade sobre a imigração.
Sondagem: prospeção breve sobre assuntos da atualidade, p. ex. intenção de voto.
o Caso se reconheça a importância da opinião pública é necessário averiguar: onde e como que se
expressa essa opinião pública?
↳ Nas democracias é, sobretudo, no momento das eleições.
o Durante o último século e meio a imprensa e os audiovisuais ajudaram nesta tarefa. Oferece-se
a tribuna a personagens relevantes da sociedade.
o Assim, conjugava-se a ação de periodistas, intelectuais e professores (opinion makers). Era o
chamado olfato político.
o Presumia-se conjuntamente que os políticos sabiam recolher, analisar e avaliar os indícios que
recolhiam nos seus frequentes contactos com os grupos e indivíduos.
o Neste sentido, a opinião pública não é mais do que uma reconstrução fabricada por um setor da
sociedade.
o Designa-se também por opinião publicada.
o Deve distinguir-se de opinião pública: o que é que verdadeiramente pensam os homens e as
mulheres de uma comunidade política?
- Para resolver este dilema, há vários anos que se recorre a inquéritos e sondagens de opinião.
São instrumentos centrais de comunicação política que existem nas democracias liberais.
- Pretende-se, assim, averiguar as orientações dos cidadãos sobre determinadas questões.
Na década de 30 (séc. XX) George Gallup estendeu à política o uso das sondagens de opinião que já
vinha exercendo sobre os produtos comerciais. A partir de 1960, estes estudos começam a generalizar-
se. Na atualidade, a combinação de sondagens e inquéritos, com a imprensa, TV e outros, converteu-se
numa das armas da comunicação política mais utilizada.
Os estudos de opinião oferecem aos cidadãos anónimos a oportunidade de expressarem também as suas
convicções e expectativas.
Atores políticos
A dinâmica/relação política pode ser feita de várias maneiras e dois níveis diferentes:
Nível individual: a ação política pode ser feita a vários níveis, p. ex. votar a favor ou contra,
abstenção e discussões em família → são formas de manifestação política individual.
Nível de grupo: a ação política de grupos tem também uma forte gestão individual, pois cada
vez mais a ação política individual tem influência dentro de um grupo.
Quer seja a nível individual ou de grupo, a ação política prende-se, regra geral, com a gestão de
conflitos → o que está em causa é a gestão da própria sociedade e a sua dinâmica.
A ação política não tem nada de amadorismo ou de acaso. Logo, a de qualidade é difícil a nível
individual e como tal, cada vez mais tem de ser inserida num grupo → porque por si só tem pouca
força.
O sucesso/peso da ação política é completamente diferente se for feita a nível individual ou de grupo.
❔ A nível da participação individual, qual a razão pela qual uns participam e outros não?
• Tendo em conta estudos empíricos, nomeadamente inquéritos, existem vários fatores que
condicionam positiva ou negativamente a participação política, a saber:
- Idade (juventude);
- Sexo/género (mais homens que mulheres);
- Instrução;
- Posição profissional (destaque para sindicalistas);
- Fatores pessoais (aparência).
Classificação das atividades políticas individuais convencionais
A forma de ação política ao nível dos grupos é a que tem mais impacto e importância. Neste âmbito
destacam-se:
- Partido políticos
- Grupos de pressão.
• Há quem diga que são conceitos diferentes, mas há também quem considere que são
coincidentes. Portanto importa distinguir, em termos conceptuais, grupos de pressão e grupos
de interesse.
• Para a formação/existência de qualquer grupo destes é necessário que exista consciência de
grupo, isto é, exista um denominador comum → algo que os una. É fundamental que os
elementos do grupo tenham noção que têm interesses comuns, isto é, precisamente o que
acontece com os partidos.
• A verdade é que existem aspetos comuns entre eles, ou seja, existem elementos unificadores,
como p. ex. a religião, a profissão ou a região de origem.
Em 1963 Jacqueline de Celis escreveu que: “Um grupo de pressão é sempre um grupo de interesses, mas
um grupo de interesses nem sempre é um grupo de pressão.” (Sindicato = grupo de pressão)
Hoje, a maior parte dos autores consideram que a grande diferença entre os dois grupos reside nos
objetivos:
Grupos de pressão: associações que exercem pressão sobre o Poder Público. Pretendem, com as
ações que intentam, que os seus objetivos sejam atingidos, nem que para isso a Lei tenha de ser
derrogada/tenham que mudar o quadro legal. Todos são de interesse.
Grupos de interesses: atuam na esfera da vida privada. Pretendem fazer valer a sua
perspetiva/atingir os seus objetivos, mas dentro da norma legal vigente/não exigem a alteração
do quadro legal. Nem todos são de pressão.
Nos EUA, a atuação dos grupos de pressão é chamada de lobby (hall de entrada).
Fazer lobbying – esta era uma ação que se fazia frequentemente nos corredores dos parlamentos. É a
atividade de influência, ostensiva ou velada, por meio da qual um grupo organizado, por meio de um
intermediário, procura interferir diretamente nas decisões do poder público, em especial do poder
legislativo, em favor de causas ou objetivos.
o É toda a ação realizada junto de uma autoridade para influir sobre as suas decisões através de
métodos apropriados. P. ex. pode ir desde as manifestações até ao “cafezinho/jantarinho”, etc.
Não há pluralidade de atores políticos. Os principais grupos de pressão dos regimes monistas são os
movimentos estudantis, aliás são praticamente os únicos.
Estes grupos devem ter denominadores comuns, ou seja, estes grupos têm motivos de agregação
diferentes.
Os partidos políticos diferem dos grupos de pressão e de interesse porque são organizações regulares e
permanentes. No entanto, a característica mais vincada que os difere é o facto dos partidos políticos
lutarem pela aquisição, manutenção e exercício do poder político. → não se limitam a influenciar o
poder, querem conquistá-lo.
Amplo: antigamente (final séc. XIX), os partidos políticos eram um conjunto de pessoas que se
juntavam para tentarem atingir o Poder, ou seja, reuniam as duas primeiras características
(associação e intervenção) mas faltavam aqui dois elementos essenciais – a militância e um
programa que tivesse como objetivo o interesse geral. Normalmente estes partidos assentavam
numa figura conhecida e com prestígio (é por isso que as pessoas votam neles). Estes partidos
não crescem porque não conseguem angariar militantes e por isso definham.
↳ Ex. destes partidos é o Partido Nacional Republicano, também chamado de Partido Sidonista:
foi um partido político português do tempo da I República, centrado em torno do seu líder
Sidónio Pais.
Restrito ou particular: um partido político é uma associação de pessoas que têm em vista uma
intervenção (neste sentido é um autêntico grupo de pressão), mas que adquire duas
características que os diferem dos grupos de pressão – têm um programa eleitoral e devem
contar com apoio popular, cada vez maior. Então, um partido político deve corresponder a estas
quatro características: associação, intervenção, programa eleitoral e apoio popular (militância).
Atualmente, dada a especificidade programática, alguns partidos concentram o seu eleitorado
em algumas regiões do país (sul ou norte). Para além destes os partidos regionalistas (Bascos e
Catalães) e depois os partidos com nome nacional, mas como autonomia estatuária (regiões
autónomas).
Políticas públicas
Tal como já frisámos, a política é encarada em três dimensões: organização, atividade e resultado.
A incorporação de uma certa dose de coação e de obrigatoriedade é uma característica importante das
decisões que classificamos de políticas públicas.
Trata-se de determinações que têm um caráter impositivo sobre a comunidade e que derivam da
autoridade que tem legitimidade política.
3.ª Implantação.
O processo arranca a partir de uma situação problemática que provoca um certo grau de tensão ou
controvérsia. Um problema coletivo é sempre uma construção social, não é um dado objetivo.
Importante é a conversão do problema em merecedor da atenção política.
Atores do processo
2. Modelo triangular – identificam-se três atores coletivos principais que formam um “triângulo de
ferro”.
a. O(s) grupo(s) de interesse(s) mais afetados pela problemática.
b. Os representantes parlamentares mais estritamente vinculados ao assunto.
c. Os membros da burocracia (experts – especialistas) que mais conhecem sobre o assunto.
3. Modelo da rede de atores – diferenças em relação aos anteriores: um número mais amplo de
atores e a existência de relações multilaterais. A existência de atores múltiplos e relações
recíprocas constitui uma policy network ou policy community.
↳ No exemplo da política de transportes, os atores seriam: políticos, burocratas especializados,
grupos de interesses (construtores), meios de comunicação, especialistas, etc.
A noção de comunidade ou rede revela uma dupla faceta:
- Formal: relações institucionais.
- Informal: relações pessoais.
- Em regra, no debate sobre as políticas pretende-se fazer uma avaliação. Porém, como se disse,
existe um intercâmbio entre os vários atores políticos. Pois há:
o Avaliação subjetiva – ex. Cimeira de África/EU.
o Avaliação objetiva – indicadores.
▪ Output – ações desenvolvidas
▪ Outcomes – impacto das ações sobre a vida social (p. ex. taxa de mortalidade
infantil).
↳ Deve perceber-se que as políticas públicas são matérias, por natureza, sujeitas a controvérsias.
Estilos e ideologias
As políticas públicas também estão condicionadas pela natureza ideológica dos decisores (partidos no
governo) e do próprio líder, quando este deseja impor a sua figura ou tem já uma afirmação efetiva.