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Apontamentos de Ciência Política (João Cosme)

O conceito de política vai ser analisado de 3 formas diferentes – de acordo com as 3 maneiras de dizer
“política” em inglês:

i. “Polity” – relativamente à estrutura;


ii. “Politics” – relativamente à dinâmica ou ao processo;
iii. “Policy” – relativamente aos resultados.

Conceito de Ciência Política

Bibliografia importante para este tópico:

→ Introdução à Ciência Política, António José Fernandes; Porto Editora, 1995, pp. 11-20

→ Introduction à la Science Politique, Jean-Marie Denquin; pp. 12-15

A primeira noção que devemos ter em conta está relacionada com as duas palavras que compõe o nome
da disciplina:

 Ciência: uma área do saber que para ter o rótulo de ciência precisa de ter 3 características (Jean-
Marie Denquin explica isso muito bem):
1. Ter um objeto de estudo que se analisa num conjunto de resultados – é necessário
sabermos o que se está a estudar.
2. Esse estudo tem de ser feito através de métodos e técnicas de investigação – existem
regras específicas que devem ser seguidas;
3. Desse trabalho deve-se obter um conjunto de resultados que se vão, com o estudo
continuado, transformando e aumentando. A observação constante permite-nos
estabelecer as ditas regras gerais e fazer certos tipos de afirmações gerais.
⚠️ Temos de saber distinguir as ciências sociais das ciências biológicas.
Exemplo: Análise da política através de uma metodologia científica – ontem (24 de
janeiro, noite de eleições) vimos dados/resultados da abstenção eleitoral. Os estudos e os
resultados obtidos em anos anteriores permitem-nos perspetivar resultados futuros.
Houve também uma constatação de factos, através da análise de estudos e resultados
das eleições anteriores, de que quem se recandidata à presidência, a não ser que existam
fatores excecionais, normalmente ganha.
❔ O que nos permite dizer que a Ciência Política é uma ciência? – o que se quer perguntar com
isto é: será que poderá haver um tratamento ou análise com base científica?
• Qualquer produção científica é um discurso feito por alguém: um investigador. Os
resultados desse investigador são obtidos através da observação. Um investigador é um ser
humano que faz uma análise e tem como base a sua perceção, transmitindo-a depois através
da linguagem humana.
• O que é analisado é algo empírico: é uma coisa real e não subjetiva. Este algo tem
determinadas características de acordo com as capacidades de determinado ser humano
num dado momento e espaço.
• Qualquer afirmação feita pode ser discutida, logo as reflexões científicas não podem estar
sujeitas ao magister dixit. Toda a investigação deve então ser publicitada para que seja
possível haver refutação e contra-argumentação.
• O discurso é inacabado e está em constante mudança, ou seja, hoje chegamos a uma
conclusão, mas daqui a uns tempos podemos chegar a outra. Popper diz “Quando o discurso
é feito de modo a não poder ser refutado, é acientífico.”. O conhecimento humano tem uma
base de relatividade, não há nada objetivo. Quando falamos de uma ciência social, a
conjuntura social ou o momento é essencial. Temos de entender que há comportamentos
plurais e existem determinados grupos que são maiores quantitativamente. Falamos de uma
sociedade plural onde temos partes que pensam de maneira diferente.

Exemplos:

- magister dixit (“o mestre disse”): expressão latina utilizada quando se procura construir
um argumento referindo-se a uma determinada autoridade como inquestionável –
antigamente considerava-se que o Sol girava em torno da Terra e esta teoria era defendida
pelo Igreja, pelo que quando Nicolau Copérnico apresentou a Teoria Heliocêntrica, que
defendia que o Sol era o centro e a Terra é que girava em torno do mesmo, esta não foi bem
aceite e ele foi mesmo julgado em tribunal.

- Vacinas: são necessárias várias etapas para a criação de uma vacina e são feitos vários
testes até que a mesma possa ser, dependendo dos resultados, aceite – qualquer decisão
deve ter um resultado documentado, deve ser empírico e deve ter uma evidência objetiva e
científica que nos permite fazer uma afirmação.

Na Ciência Política estuda-se maioritariamente os comportamentos humanos e as leis


observadas estão fortemente condicionadas pela imprevisibilidade destes comportamentos. Todavia,
estas permitem prever traços tendenciais para as reações gregárias, que se perspetiva, que serão
tomadas por grupos com uma dimensão quantitativa significativa. Cada vez prevalece mais o princípio
da pluralidade nas nossas sociedades e a abordagem da Ciência Política é uma área que se desenvolve
principalmente onde existem as chamadas democracias liberais.

 Política: etimologicamente a palavra vem de polis, a palavra grega que significa cidade onde os
seus cidadãos (polites) – o conceito de cidadão é fundamental – exerciam uma atividade pública
(politiké) – é então um grande agregado populacional que vivia de modo organizado num
determinado espaço geográfico. Estas cidades gregas caracterizavam-se essencialmente pela sua
autonomia e independência onde cara um era um centro político, militar e religioso. Estas
cidades (politeias) apareceram a partir do século VIII a.C. e entendia-se a política como a
participação dos cidadãos nas tarefas organizativas das comunidades tendo em vista o bem
comum. Insere-se aqui a noção de Aristóteles (384-324 a.C.) de que o homem é um animal
político (zoon politikon), participa na gestão da sua sociedade. Nesta altura, a noção de política
preocupava-se essencialmente com a definição dos fins e organização da sociedade e com a
dinâmica coletiva, estando ligada a um pensamento subjetivo e valorativo. A palavra política
tem então uma forte polissemia e Denquin considera que podem ser empregues 3 sentidos à
mesma:
1. Como sinónimo – O termo político pode ser utilizado numa questão de comodidade de
linguagem, usando-se como sinónimo do que se quer vincar. Neste caso pode usar-se
em duas situações:
→ Numa primeira situação utiliza-se com o significado de gestão, reportando-se o
termo político (política) a um domínio específico de problemas, cuja responsabilidade da
sua gestão cabe a responsáveis que os devem resolver. Por exemplo, quando se usa a
expressão “política educativa” significa que nos estamos a referir a uma determinada
atividade, na qual se colocam problemas específicos que os responsáveis dessa área
devem resolver.
→ Numa segunda situação, que é mais frequente, o termo político surge como
sinónimo de estratégia. Neste caso não se tem em vista a solução de um problema
concreto, mas os esforços utilizados assim como os objetivos pretendidos. Por exemplo,
quando se utiliza a expressão “política de empresa” quer-se vincar não só os meios que
se utilizam para atingir certos fins, mas também os objetivos orientadores da atividade
da empresa.
2. Como julgamento valorativo – O termo político também se usa para expressar um juízo
de valor, que tanto pode ser com um sentido pejorativo ou com um sentido elogioso, o
que significa que se exprime um julgamento sobre um determinado fenómeno. Por
exemplo, quando se diz “é um grande político”, quer vincar-se o mérito e/ou a
inteligência do interveniente, já quando se diz que “os políticos são todos iguais”
pretende-se deixar uma marca crítica, negativa e desprestigiante dos mesmos. Na
Ciência Política não nos interessa muito a opinião, não são feitos juízos de valor.
3. Como elemento classificativo – Por último, o termo político pode ainda empregar-se
como um adjetivo, referindo-se a um discurso, um programa ou a uma pessoa. Esta
palavra serve para distinguir e identificar por oposição (a contrario). Não se sabe
exatamente onde começa, mas sabe onde se encontra, isto é, identifica-se o que não é.
Todos conseguem identificar um discurso científico, moral ou artístico, conseguindo
distingui-lo de um discurso, de um programa ou de um homem. O pensamento comum
pode não ter a certeza do que positivamente é político, mas sabe o que não é. Esta
procura, do que é ou não político, torna-se importante e importar frisar que se alterou
ao longo dos tempos e em função da evolução das técnicas e das mentalidades.
Nota: Daqui se infere que o conceito de política viu a sua conotação alterar-se ao longo
dos tempos e no espaço, “adaptando-se a várias abordagens teóricas e enchendo-se de
diversos conteúdos empíricos” (Donatella Della Porta, Introdução à Ciência Política,
2003, p.14), apresentando-se, por isso mesmo, como algo problemático e incerto, já que
nenhuma particularidade da vida se pode subtrair à sua politização. As abordagens vão-
se adaptando às realidades, cada vez mais com uma dimensão empírica que vai mais ao
encontro da Ciência Política. Desde muito cedo, a.C. mesmo, que toda esta dinâmica de
gestão de comunidade e das perspetivas de dinâmicas das sociedades vêm da análise da
política. Esta quase totalidade de tudo ter uma dimensão política não significa que seja
tudo alvo de análise para a Ciência Política – esta tem um objetivo muito concreto,
analisar os “conteúdos empíricos” (como Donatella Della Porta diz e Denquin também
refere o mesmo).
Notas (Josep Vallès):

• Josep Vallès reforça a ideia não só de que a palavra “política” faz parte do léxico quotidiano,
quando se conversa em família, no trabalho e na comunicação social, mas também que é usada
com vários significados quando se está a descrever a conduta dos diversos profissionais. Renova
também a ideia que, comummente, pode ser utilizado com um sentido valorativo, quer com uma
carga positiva quer com uma carga negativa. A política, como objeto, pode ser algo que
congrega em torno de símbolos e causas comunitárias, tais como bandeiras e interligada a
conceitos de liberdade, justiça e segurança, entre outros. É um conceito que pode ser
contraditório com as consequências inerentes a isso.
• Opta por estender o conceito de política com o significado de “prática ou atividade coletiva que
uma comunidade leva a cabo”, tendo em vista “regular os conflitos entre grupos”.
• Segundo Vallès, deve ter-se em conta que as pessoas vivem em comunidade para melhor
defender os seus interesses individuais. A política tem como base a convivência comunitária
onde a conflitualidade social é uma característica. Por isso, o conceito de política reúne esta
necessidade de organização comunitária de modo a evitar ou regulamentar os conflitos. A
política surge como uma resposta coletiva contra as prepotências de certos grupos.
❔ Como é que se consegue a convivência/dinâmica coletiva? – A dinâmica coletiva é o
resultado da política e não vem apenas da vivência, mas também de outros conflitos anteriores.
A política visa também garantir a organização da comunidade e evitar conflitos. Do ponto de
vista da Ciência Política, o que nos interessa em termos de objeto de estudo é a regulação ou
ação comunitária tendo em vista a não ocorrência de conflitos.
• A definição deste autor tem subjacente a ideia de que é impossível o ser humano viver isolado.
A imprescindibilidade da vivência em sociedade levou as comunidades a organizarem-se,
devendo por isso encontrar os mecanismos que minimizem ou evitem os conflitos entre os
vários grupos e pessoas. A incerteza no devir futuro motivou a procura de segurança. Por este
motivo, Josep Vallès defende que “o que caracteriza a política é a intenção de resolver as
diferenças mediante uma decisão que obrigue todos os membros da comunidade. É este carácter
vinculativo ou forçoso da decisão que distingue a política dos outros acordos que se adotam em
função de uma relação de família, de amizade ou intercâmbio económico.” (p. ex.: quando se
impõe uma norma, esta tem de ser cumprida). Esta ideia está muito bem sintetizada no esquema
elaborado por este mesmo autor.

(Josep M. Vallès, Ciência Política, Barcelona, 2006, p.19)


❔ O que é a política? – Se fizermos uma leitura do diagrama no sentido contrário percebemos que é: a
busca de segurança porque existem incerteza sobre o futuro devido ao risco de ocorrerem conflitos
devido às diferenças e desigualdades sociais que se realçam com a necessidade de se viver em
convivência social.

Nota: Quando se estuda a política deve ter-se em conta que existem dois fenómenos encadeados e
associados à mesma: o conflito e a cooperação. O conflito leva à necessidade de cooperação das
comunidades.

Objeto da Ciência Política

Nota: A Ciência Política é apenas uma área que estuda particularidades e realidades dessa política.

❔ Qual é o objeto de estudo desta disciplina?

Ciência do Estado:

• “A Ciência Política tem sido, há já alguns séculos e com o consentimento geral, a ciência do
Estado.” – Marcel Prélot, 1974
• “O conhecimento descritivo, explicativo e prospetivo do Estado e dos fenómenos que com ele se
relacionem, quer por anterioridade, quer por simultaneidade, quer ainda por sobreposição.” –
Carro Martinez
• Numa corrente mais antiga, de um ponto de vista cronológico, diz-nos precisamente que o
objeto de estudo da Ciência Política era o Estado, a chamada ciência do Estado.
• No século XIX e parte do XX, defendia-se que o “o núcleo duro” do seu objeto de estudo era o
Estado bem como as questões a ele inerentes. Para esta especificidade contribuiu muito a Teoria
Geral do Estado elaborada pela dogmática alemã. Também a Sociologia dedicava um particular
enfoque sobre as origens do Estado. Por isso, muitos autores defendiam que a Ciência Política
era a ciência do Estado.
• Segundo esta perspetiva o objeto fundamental da Ciência Política é o Estado, o que lhe confere
uma visão muito institucionalista, até mesmo com algum formalismo jurídico. Para ela, o seu
objeto seriam essencialmente as instituições bem como a legislação, então iríamos estudar as
instituições através dessas regras pelas quais elas se gerem. Isto significa que está muito
condicionada pelo Direito, o qual teve uma influência determinante nos estudos da Ciência
Política.

Ciência do Poder:
• “É política o estudo das relações de autoridade entre os indivíduos e os grupos, da hierarquia de
forças que se estabelecem no interior de todas as comunidades numerosas e complexas.” –
Raymond Aron, 1955
• “O objeto da Ciência Política não suscita grandes dificuldades: ciência da autoridade, dos
governantes, do Poder.” – Maurice Duverger, 1976
• Para outros estudiosos mais recentes, como o sociólogo Max Weber, e por influência da
Antropologia e da Sociologia, o objeto de estudo da Ciência Político é o Poder político.
↳ ❔ O que é o poder? – Segundo este autor “Toda a dominação se manifesta e funciona em
forma de governo. Todo o regime de governo necessita do domínio de alguma forma, pois para
o seu desempenho sempre se devem colocar nas mãos de alguém poderes imperativos”. Acaba
por não ser um só poder, mas sim vários poderes.
• Para além de Max Weber também temos Raymond Aron, Maurice Duverger e Adriano Moreira
como alguns dos representantes desta corrente. Raymond Aron tem uma visão mais sociológica
influenciada pela Sociologia Política que procura entender as relações de poder dentro das
comunidades. Maurice Duverger diz que a autoridade se refere a espaços de democracias
liberais e que não há uma sobreposição (um conceito muito importante), isto é, o poder não é
exercido todo por uma única instituição, mas esse poder é reconhecido (nas democracias
iliberais há uma sobreposição de poder, há alguém acima).
Nota: Quando falamos em autoridade do poder, falamos da repartição do poder – não há um
poder único.
• Entre 1920 e 1940, a Escola de Chicago, uma teoria americana, contribuiu de modo muito
significativo para a proeminência desta perspetiva, criticando a opinião alemã/europeia
anterior, a da Ciência do Estado.
- Raymond Aron, citado por António José Fernandes, ob. cit., p. 16, faz a seguinte afirmação: “é
política o estudo das relações de autoridade entre os indivíduos e os grupos, da hierarquia de
forças que se estabelecem no interior de todas as comunidades numerosas e complexas”.
- Maurice Duverger, citado por António José Fernandes, ob. cit., p. 16, faz a seguinte afirmação:
“o objeto da Ciência Política não suscita grandes dificuldades: ciência da autoridade, dos
governantes, do Poder”.
- Adriano Moreira, citado por António José Fernandes, ob. cit., p. 16, faz a seguinte afirmação:
“parece certo que o Poder é o objeto central da Ciência Política e que deve ser examinado com
um critério tridimensional: a sede do Poder, a forma ou imagem e a ideologia”. Este faz uma
análise mais completa, juntando as duas vertentes. A sede é onde está esse poder, a forma é
como fazem esse poder e a imagem é a justificação para se fazer esse poder.
• O Poder é a faculdade de mandar e a capacidade de se fazer obedecer. Um não pode existir sem
o outro. Devemos distinguir de autoridade natural, que usa a força bruta e impõe-se pela
coação. Se alguém tem a faculdade legítima de mandar, mas não consegue impor-se, então não
detém o poder. Não há um autoritarismo, há um reconhecimento por parte de quem segue e
obedece a esse poder.
“A política diz respeito à luta pelo Poder e à maneira de o exercer, governando.” (Diogo Freitas
do Amaral, Uma Introdução à Política, Bertrand, p. 51)

⚠️É importante não misturar os vários conceitos abordados.

Conceções/perceções intermédias:
• “A Ciência Política, entendida como a ciência da observação, análise e explicação dos
fenómenos políticos, não se limita ao estudo do Estado e das suas relações com os outros grupos
humanos. Estuda também todas as forças internas que lutam pela aquisição e exercício do Poder
ou que procuram influenciá-lo para a satisfação dos seus interesses e as forças internacionais
que influenciam ou tentam influenciar o comportamento do conjunto de órgãos que numa
sociedade tem a capacidade para obrigar os outros a adotar um certo comportamento.” –
António José Fernandes, Ciência Política, p.18
• Não podemos ter apenas uma visão sobre o que é o objeto de estudo da Ciência Política, se é
simplesmente o estado ou o poder, porque existem mais coisas ligadas. Isto chama-nos à
atenção para as forças internacionais e para a existência de cada vez mais instituições
internacionais.
• Para Gustavo Ernesto Emmerich “é possível formular uma terceira definição da ciência política
mais atual e simultaneamente mais antiga, que por um lado vai ao encontro da realidade e das
aspirações de democracia no mundo atual e por outro recupera tanto a etimologia das palavras
como a origem da política e do pensamento político: a ciência política é a ciência da política, ou
seja, da atividade pública dos cidadãos, a ciência da república (res-coisa + publica-pública). Esta
definição alarga a abrangência do objeto e é conceptual para o estudo de todos os fenómenos
sociais. Porém, nisto diferencia-se da segunda que induz o estudo apenas das relações e mando e
obediência (o poder), mas também as relações que se estabelecem entre quem não tem nenhum
poder político efetivo (ou seja, entre muitos que não controlam os aparelhos coativos
característicos do poder político), e entre estes e os poderosos (o que abre o enfoque desde baixo
até acima, o que significa desde a cidadania até à soberania)”. – Citação traduzida feito por
Josep M. Vallès no seu livro de introdução à ciência política
• Esta nova visão assenta por um lado mais na atualidade e por outro no respeito pela etimologia
da palavra, isto é, pelo seu surgimento.
• Os símbolos de poderes alteram-se cada vez mais. A utilização de novos instrumentos
tecnológicos (como as redes sociais) é um foco de poder: parece que as pessoas não têm poder,
mas têm e muito e alcançam muitas pessoas. Contudo, estas novas formas de comunicação
dificultam o controlo de quem as utiliza e de como as utilizam.
• Nos dias de hoje, já não existe só aquele poder institucionalizado e dá-se particular ênfase:
1. Ao processo de tomada das decisões públicas;
2. Ao equilíbrio e à harmonia do sistema;
3. À capacidade de obter comportamentos (enfatizam-se os meios utilizados).
• Para estas novas perceções e teorias é superimportante o processo de tomada de decisões
públicas – há muitas decisões tomadas tendo em conta as novas realidades –, o equilíbrio e
harmonia do sistema e a capacidade de obter comportamentos. Os comportamentos pode ter
uma responsabilidade humanitária (podem afetar várias pessoas).

❔ Como é que a cidadania se pode tornar um poder? – Quando estamos a atuar em termos de cidadania
estamos a defender uma mensagem – a intervenção cívica é uma forma de poder. Não podemos ver o
poder como a mera bastonada na cabeça.

Ciência Política e Ciências afins – o objeto é a atividade política, mas tem abordagens com algumas
diferenças

 O estudo desta vivência política não pode ser perspetivado unidimensionalmente, mas é feita
numa multiplicidade de dimensões. Deste modo, este objeto é comum a várias áreas do saber,
distinguindo-se umas das outras da especificidade que é própria e inerente a cada uma das ditas
áreas. O objeto da Ciência Política é exclusivo da ciência política embora toque noutras áreas do
saber. Para traçarmos mais facilmente o objeto da Ciência Política, devemos ter em conta as
diferenças que se detetam em relação a outras ciências afins.
 A política é estudada por diversos ramos do saber colocando em cada um deles uma perspetiva e
um enfoque diferentes dos da Ciência Política. É a partir da junção de todas essas áreas que
estudam a atividade/dinâmica política que entendemos melhor a política.

Teoria Geral do Estado: - esta é uma das teorias mais antigas e em termos cronológicos e por
influência da teoria alemã, entendia-se que o objeto da Ciência Política era o Estado.

• Entendendo-se a Teoria Geral do Estado como “a exposição sistemática da ordem política


estadual. O Estado represente o elemento aglutinante e, de certo modo, o processo político
totalizante. A teoria significa a sistematização descritiva e explicativa da realidade política.
Como a interpretação ordenadora de toda a realidade política, a Teoria Geral do Estado é ainda
hoje considerada (sobretudo na Alemanha) como scientia regia de todo o direito público. Todos
os ramos do direito público (direito do estado, direito constitucional, direito administrativo)
seriam considerados como domínios da ordem pública estadual aos quais a Teoria Geral do
Estado viria conferir ordenação e sistematização”. (Joaquim José Gomes Canotilho, Direito
Constitucional, 190, pp. 56-57)

Direito Constitucional:

• Começamos precisamente por apresentar que o objeto de estudo do Direito Constitucional “é a


parcela da ordem jurídica que rege o próprio Estado enquanto comunidade e enquanto poder. É
o conjunto de normas (disposições e princípios) que recortam o contexto jurídico
correspondente à comunidade política como um todo e aí situam os indivíduos e os grupos uns
em face dos outros e frente ao Estado-poder e que, ao mesmo tempo, definem a titularidade do
poder, os modos de formação e manifestação da vontade política, os órgãos de que esta carece e
os atos em que se concretiza”. (Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo I, 2003,
p.11)
• Donde se pode inferir que, enquanto a Ciência Política estuda os factos políticos in se (em si), o
Direito Constitucional debruça-se sobre as normas que regem a atividade de que esses fatos
dimanam, ou seja as normas que enquadram e regulam a atividade política.

Notas:

• Ambos tocam na ideia da ciência do poder.


• É exatamente no Direito Constitucional que estão definidos os deveres e os direitos dos
cidadãos que simboliza o poder.
• Não há uma separação, mas sim uma complementaridade – tocam no mesmo tópico.
• Uma coisa é estudar os factos e outra são as normas que estão por detrás desses factos e que
enquadram essa mesma ação. Toca-se no mesmo problema, mas cada qual faz a sua
interpretação.
Sociologia Política:

• A Ciência Política teve uma grande influência da sociologia e adquiriu uma dimensão
sociológica com alguns autores, tais como Maurice Duverger (1917-2014), Marcel Prélot (1898-
1972) e Raymond Aron (1905-1983).
• Para Diogo Freitas do Amaral, “a Sociologia Política estuda as formas de sociedade em que a
política se desenrola, a influência das classes sociais na vida política, a representação das
diferentes classes nos partidos políticos existentes e nos órgãos de soberania, a origem social
dos governantes, a influência do dinheiro na vida política, as relações entre a economia e a
política, a força ou a influência política real das instituições ou grupos em princípio apolíticos –
tais como a Igreja, as Forças Armadas, o funcionalismo público –, a existência de organizações
não políticas admitidas a exercer a influência política, a orientação dos diferentes meios de
comunicação social, as sondagens de opinião pública, os métodos de propaganda política, as
técnicas de campanha eleitoral, o comportamento e a psicologia de massas”. (Diogo Freitas do
Amaral, História das Ideias Políticas, Vol. 1, 2008, pp. 31-32)
• Na sociologia dá-se especial atenção à relação que existe entre os fatos políticos e os sociais,
procura-se compreender as razões que explicam certos fatos políticos bem como as respetivas
respostas por parte da comunidade.
• Este conhecimento deve ser feito de uma forma interdisciplinar, um conceito que é muito
importante.

❔ Onde é que está a afinidade entre a Ciência Política e a Sociologia Política? – Na influência das
classes sociais na política, na influência do dinheiro, nas relações entre a economia e a política, no
papel das instituições e em todos os outros órgãos detalhados na citação acima.

Notas:

• Na sociologia faz-se uma análise contextualizada na sociedade.


• O amadorismo não funciona nos dias de hoje, tudo é cada vez mais profissionalizado e mais
técnico – exige mais conhecimentos.

Filosofia Política:

• Tem subjacente um espírito reflexivo, pois suscita numerosas interrogações referentes às razões
da sua realidade, à sua inteligibilidade, ao modo de o situar e de o explicar à luz de princípios
fundamentais. Tais como:
❔ O que é o poder?
❔ Que fins devem ser prosseguidos pelo Estado?
❔ Que valores devem ser considerados universais?
• A filosofia política está relacionada com uma discussão sobre comportamento.
• Devemos passar da ideia do “dever ser” para o “ser”, é a passagem para o Direito Constitucional.
Só assim ficamos com um conhecimento completo da política.
• Pode dizer-se que a Filosofia Política se centra essencialmente ao nível da Gnoseologia,
Ontologia e Axiologia dos factos políticos.
História das Instituições e Ideias Políticas:

• A História aparece como laboratório experimental, já que nas ciências sociais não se pode
utilizar o método experimental.
- História das Instituições: Reconstituição da evolução dos órgãos de poder político e dos fatores
que o originam.
- História das Ideias Políticas: Estuda em si próprias, como entidades com vida e destino pessoal,
as ideologias.
• A história e o passado são importantes para conhecermos realidades atuais e o mundo em que
vivemos. (p. ex.: só podemos conhecer realmente o parlamentarismo inglês se percebermos um
bocadinho da sua história)

Antropologia Política:

• A Antropologia estuda várias coisas, sendo uma delas a política.


• Estuda a organização e o poder nas sociedades primitivas (pré-estaduais):
- Fazendo uma reconstituição do passado;
- Através da observação e estudo das comunidades primitivas anda hoje existentes.

Ciência Política ou Ciências Políticas:

• A Ciência Política e as Ciências Políticas não são a mesma coisa e estas podem ser
explicadas através de dois conceitos: um amplo e outro restrito.

Conceito amplo – Engloba todos os conhecimentos (ramos do saber) que direta ou indiretamente,
seja qual for o método empregado, estudem e procurem a compreensão, explicação e fundamento
racional dos factos políticos, ordenados e sistematizados em função do seu objeto. Isto é, “os
fenómenos de poder que se produzam no estado ou fora dele” (Diogo Freitas do Amaral, Uma
Introdução à Política, p. 59). Corresponde às Ciências Políticas.

Conceito restrito – Disciplina que estuda as manifestações, as formas e as regularidades dos factos
políticos, em si mesmas ou através do comportamento dos indivíduos, mediante métodos de
observação. “Disciplina que estuda os problemas do poder na atualidade, através da observação dos
factos e da sua explicação racional, mediante conceitos, tipologias e leis ou tendências naturais”
(Diogo Freitas do Amaral, Uma Introdução à Política, p. 59). Corresponde à Ciência Política.

• A Ciência Política tem um objeto (que pode ser o estado, o poder ou até outro) que se estuda
através de metodologias, no âmbito da sociedade e que por isso não podem ser
experimentais como noutras ciências, e de regras. Os resultados são avaliados
estatisticamente. A melhor forma em termos de reflexão política, em determinados pontos,
são as eleições, onde são apresentados resultados percentuais objetivos. As sondagens
também entram para os métodos de observação.
A evolução histórica da Ciência Política

 Atualmente usa-se a expressão no singular, todavia nem sempre foi assim. Durante muito
tempo utilizou-se no plural (Jean-Marie Denquin, Introduction à la Science Politique, pp. 9-12).
 Basta lembrar que em 1871 Émile Boutmy criou a Escola Livre de Ciências Políticas. Esta mesma
escola foi nacionalizada em 1945 dando origem ao Instituto de Ciência Políticas.
 A utilização do singular ou do plural não pode ser entendida como uma mera questão
terminológica, mas como uma opção de cariz essencial. De facto, existe um conjunto de ciências
que ajudam a compreender a prática política. Todavia importa recorrer ao conceito de ciência, o
que nos leva a deparar com um conjunto de áreas do saber que se justapõem e onde cada qual
tem um objeto diferente.
 A ideia de Ciência Política começou nos finais do século XIX e inícios do século XX e foi aí que
se começou a dar um grande destaque ao conhecimento da ciência política. É sobretudo no
século XX que se dá um salto significativo.

França:

- Em 1871, Émile Boutmy fundou a École libre des sciences politiques (Escola Livre das
Ciências Políticas). Em 1945, esta escola foi integrada no recém-criado na Universidade de
Paris. Para o efeito, instituiu-se a Fondation Nationale des sciences politiques (Fundação
Nacional de Ciências Políticas), publicando-se sob a sua tutela um número muito
significativo de estudos. Posteriormente criaram-se institutos políticos em várias cidades
francesas como Strasbourg, Grenoble, Lyon, Toulouse, Bordeaux, Alger e Aix-Marseille.
- Em 1951, começou a publicar-se a Revue française de Science Politique (Revista Francesa de
Ciência Política), fruto da colaboração institucional da Fondation Nationale des sciences
politiques e da Association Française de Science Politique. O surgimento desta revista
especializada foi fundamental pois era nesta que se publicavam informações de qualidade.
- Mais tarde, em 1954, a Ciência Política foi inserida no programa de Direito Constitucional,
ganhando, assim, o estatuto de disciplina universitária.

Inglaterra:

- Em 1895, surge a fundação da London School of Economics and Political Science vincando-
se a interdependência entre a Ciência Económica e a Ciência Política.
- Em 1956, a London School of Economics and Political Science desenvolve vários estudos
nesta área. Os anglo-saxões estão muito ligados ao estudo dos autores políticos clássicos e
da história das ideias políticas.
- Foi maioritariamente nos anos 50 que ocorreu o desenvolvimento da área da ciência política
em termos académicos.
- As estruturas de grande qualidade a nível da administração pública levam a que se
consigam superar os problemas que surgem.
Inglaterra:

- 1836: Surge ligada a Passos Manuel (liberalismo) quando se dá uma reformulação na


Universidade de Coimbra ligada ao Direito Constitucional.
- 1901: Na Universidade de Coimbra é vincado o interesse aos cursos ligados ao Direito
Constitucional.
- 1910: Com a Implementação da República, especialmente a partir de 1911, a Ciência Política
é afastada dos cursos de direito.
- 1950: Na Universidade de Lisboa, Marcello Caetano retoma a matéria da Ciência Política
anexada ao Direito Constitucional.
- 1974: Com o 25 de abril, a Ciência Política dinamizou-se e isso teve duas consequências:
1. Aparece como disciplina autónoma.
2. Aparecem cursos específicos de Ciência Política.

Em termos gerais, mais do que europeus, a UNESCO teve um papel importante na estruturação de
planos de estudo relacionada com a política/ciência política em termos internacionais. Em 1948, a
UNESCO apresentou um plano de estudos organizado relacionado com a política e que deveria ser
utilizado no mundo todo.

i. Teoria política
- A teoria política
- A história das ideias
ii. As instituições políticas
- A constituição
- O governo central
- O governo regional e local
- A administração pública
- As funções económicas e sociais do governo
- As instituições políticas comparadas
iii. Partidos, grupos e opinião pública
- Os partidos políticos
- Os grupos e associações
- A participação no governo e na administração
- A opinião pública
iv. As Relações Internacionais
- A política internacional
- A organização internacional
- O direito internacional

Nova Lista com os temas que se deveriam estudar:

Em 1973/1974 a UNESCO elaborou uma nova lista dos temas, mas desta vez mais ampla.

 Relações Internacionais: Cooperação internacional, organizações internacionais, política


internacional, tratados e acordos internacionais, problemas das relações internacionais.
 Políticas Públicas: Política agrícola, política cultural, política comercial, política de
comunicações, política demográfica, política económica, política educativa, política do meio
ambiente, política externa, política sanitária, política industrial, política da informação,
planificação política, política científica e tecnológica, política social e política de transportes.
 Ideologias políticas: Filosofia política, teoria das ideologias.
 Instituições políticas: Poder executivo, poder judicial, poder legislativo, relações entre os
poderes.
 Vida política: Eleições, comportamento político, grupos políticos, liderança política, movimentos
políticos, partidos políticos.
 Sociologia política: Direitos humanos, línguas, minorias, raça, religião, conflitos sociais.
 Sistemas políticos: Área americana.
 Teoria política
 Administração pública: Gestão administrativa.
 Instituições centrais: Administração civil, serviços públicos, instituições regionais.
 Opinião pública: Informação, meios de comunicação de massas, imprensa, propaganda.

Nota: Foi, essencialmente, com a publicação da obra coletiva La Science politique contemporaine,
publicada em 1951, pela UNESCO, que a Ciência Política se autonomizou e afastou do Direito
Constitucional.

❔ É possível um conhecimento científico da realidade política? – Não importa só a identificação do


objeto de estudo. As questões metodológicas adquirem uma importância fundamental na aquisição da
dimensão da cientificidade da análise política. São as regras metodológicas que produzem as ruturas
essenciais entre o pensamento político e a Ciência Política. Estas regras são bastante importantes
porque basicamente distinguem a opinião política da Ciência Política e dá a característica de
cientificidade.

Metodologia (o professor considera este aspeto bastante importante)

 Uma área do saber distingue-se por um método e um conjunto de resultados e processos que
leva à distinção de outras disciplinas.
 Há uma transformação e modificação do seu objeto inicial.
 De acordo com Raymond Quivy e Luc van Campenhoudt (Manual de Investigação em Ciências
Sociais, p. 187), o termo método pode ser utilizado em:
- Sentido lato significando “dispositivo global de elucidação do real”; é uma afirmação
mais genérica no qual o método será um dispositivo (ou uma regra) para tentarmos perceber a
realidade social ao nível da política.
- Sentido restrito entendendo-se como “dispositivo específico de recolha ou de análise
das afirmações, destinado a testar hipóteses de investigação; é um dispositivo (ou uma regra)
que tem em conta a recolha do material de estudo que possa afirmar ou confirmar uma dada
análise.
 Apesar da particularização dos temas, é possível concluir-se que a Ciência Política está voltada
para a observação e a análise dos fenómenos políticos, tendo em vista a obtenção de um
conhecimento geral, sistemático e suscetível de verificação.
 A Ciência Política acaba por se distinguir das outras ciências sociais pois:
- Tem um objeto de estudo próprio: o poder político e a sua relação com diversas
instituições e agrupamentos, quer se manifeste a nível local, regional, nacional ou
internacional.
- A nível metodológico se aceita que a Ciência Política “não tem métodos próprios nem
técnica próprias, mas utiliza as das ciências sociais segundo objeto de estudo: método
histórico e análise de conteúdo para o estudo do documento, técnicas jurídicas para as
constituições e textos administrativos, (…), análise comparativa dos diversos tipos de
constituição, governos e notícias políticas, enfim todos os métodos de pesquisa e
técnicas da psicologia social (…). A ciência política tem contribuído, ao mesmo tempo
que a ciência económica, para multiplicar e aperfeiçoar as sondagens de opinião.”
(Roger Pinto e Madeleine Grawitiz, Méthodes des Sciences Sociales, Dalloz, Paris, 1969,
p. 267).
- Recorre a variados métodos de investigação social, constituindo, por isso, um ramo
autónomo do conhecimento.

O papel da economia e da sociologia

A sociologia funciona como a ciência que estuda as transformações sociais do capitalismo. No século
XIX, Claude Henri (Conde de Saint-Simon, 1760-1825), L’Organisateur, considerou que à religião caberia
a função de assegurar a prática do princípio da fraternidade universal. August Comte (1798-1857)
introduziu o positivismo, a filosofia essencialmente como observação experimental dos factos. Também
Émile Durkeim (1858-1917), com División du travail social (1893) contribuiu para a observação das
relações sociais de poder.

A economia contribui para a Ciência Política com os seus métodos estatísticos.

Métodos ou Perspetivas de Análise (perspetiva individualista; perspetiva racionalista; perspetiva


funcionalista; perspetiva sistémica)

Convém não esquecer que “a pesquisa factual e as teorias nunca podem ser completamente separadas.
Só podemos desenvolver explicações teóricas se as pudermos testar com base em pesquisas factuais. As
teorias são necessárias para nos ajudar a atribuir sentido a muitos factos com que nos deparamos. Ao
contrário do que pensa o senso comum, os factos não falam por si”. (Anthony Giddens, Sociologia, 9.ª
edição, 2013, p. 7)

- As teorias são todas importantes porque nos ajudam a compreender a questão – o tal modelo
explicativo. Nenhuma das teorias é dogmática e cada uma leva-nos a realçar uma determinada
particularidade.

- “Os factos não falam por si” – é o ser humano que, tendo em conta as leituras que faz, interpreta
melhor a realidade.

Notas:

• Nos EUA nas décadas de 1950 e 1960, com base na evidência empírica, a ciência pensava que, no
âmbito das ciências sociais, era possível conhecer cientificamente as ações humanas. Enfatiza-se
a política como um processo social, dando particular ênfase à tomada de decisões. Com esta
abordagem propõe-se explicar e perceber a razão pela qual certas medidas foram adotadas.
• Assim, os “approaches” são utilizados como uma estratégia de âmbito geral para investigar e
estudar os fenómenos políticos. Os “approaches” podem ser formulados e usados nos diferentes
níveis heurísticos e expositivos. Podem fornecer a estrutura ou tomar a forma de modelo ou
esquema conceptual ou ainda servir como impulso para o desenvolvimento das teorias políticas.
• Num plano interpretativo, deve entender-se como um sinal com uma dimensão muito mais
heurística do que interpretativa.
• Usa-se a maior parte das vezes para sugerir hipótese, devendo, no entanto, estimular a
formulação de teorias. Os “approaches” e os modelos procuram ajudar a compreender o mundo
tal como é.

Modelo – representação teórica de dados empíricos com que se pretende aumentar o conhecimento
através de um esclarecimento significativo entre as relações e as interações.

O Individualismo

 As perspetivas de abordagem são devidas à sociologia, essencialmente por influência de Weber


e Durkeim.
 No seu manual As Regras do Método Sociológico (1895), Durkeim frisa a importância dos factos
sociais que entende como “a maneira de agir, de pensar e sentir, exteriores ao indivíduo”.
Acrescenta ainda que o facto social “reconhece-se no poder de coerção externo que este exerce
ou é suscetível de exercer sobre o indivíduo”. O fator social está no exterior do homem.
 Isto depois vai refletir-se noutros métodos.
 Por sua vez, Max Weber nega o papel dos determinismos sociais, discordando assim com a
perspetiva de Durkeim, pelo que em coerência lógica nega que os factos políticos sejam
devedores dos determinismos sociais relacionando com o todo social. Assim, tendo por base a
sociologia weberiana relativiza-se significativamente o determinismo das estruturas sociais,
relevando as lógicas da ação individual nos acontecimentos.
 O Individualismo, no sentido metodológico, significa que “para explicar um fenómeno social, é
necessário descobrir as causas individuais, ou seja, compreender as razões que levam os atores
sociais a fazer o que fizeram ou acreditarem naquilo em que acreditam”.
 Isto é num sentido metodológico, ou seja, nem ético nem moral.
 O individualismo metodológico não implica “que se conceba o ator social como que suspenso
numa espécie de vazio social. Ele pressupõe, pelo contrário, que o ator foi socializado, que está
em relação com outros atores que, tal como ele próprio, ocupam papéis sociais, têm convicções,
etc. De um modo geral, o individualismo metodológico reconhece indiscutivelmente que o ator
social se move dentro de um contexto que se lhe impõe em larga medida”. (Raymond Bourdon,
Tratado de Sociologia, Edições ASA, Lisboa, 1995, p. 27)
 “De acordo com o princípio do individualismo metodológico, um fenómeno social deve ser
interpretado, na medida do possível, como o efeito de ações, de convicções, de comportamentos
individuais. Mas para que a explicação seja completa, é também necessário pôr em evidência o
porquê – o sentido – dessas ações ou dessas convicções”. (Raymond Bourdon, Tratado de
Sociologia, Edições ASA, Lisboa, 1995, p. 29) – Se conhecermos a identidade política do decisor
mais facilmente entendemos as medidas políticas implementadas.
 Alan C. Isaak começa a apresentação deste modelo com uma frase de Van Dyke, “the basic point
about political phenomena is that they consist of or result from actions of human beings”.
 Tem como postulado que a dinâmica política tem por base a ação humana, onde predomina a
ação do indivíduo nessa mesma ação. Isto é, enfatiza a ação do indivíduo como ator político.
Dito isto, o analista político não pode descurar o comportamento do ser humano quer ao nível
individual propriamente dito, quer na sua dimensão macro, ou seja, integrado em grupos mais
amplos, isto é, institucional. (Alan C. Isaak, Scope and Methods of Political Science. An
Introduction to the methodology of political inquiry, 1985, p. 193)

Existem quatro perspetivas de análise (as duas primeiras com uma matriz individualista), que nos
mostram a dinâmica política:

 Perspetiva Individualista:
❔ Como podem ser explicados/compreendidos os atos políticos?
→ Nesta perspetiva está bem vincado o indivíduo. Assim, tenho de conhecer o
indivíduo e isso consegue-se através da sua biografia, que nos dá a conhece os traços
característicos do mesmo como as suas ideias religiosas, morais, taras e manias, entre outras
coisas.
→ É o chefe ou líder que tem o papel preponderante, por isso tenho de esmiuçar a
pessoa que é o chefe.
→ As ações do decisor político estão condicionadas pela pessoa que o chefe é porque é
este que condiciona e influencia as decisões políticas. O chefe ou líder é que tem o papel
decisório.
→ A tendência pode ser vista numa lógica individual ou numa lógica de grupo quando
essa pessoa se insere num determinado grupo (banqueiros, religioso, entre outros), mas é uma
pessoa do topo. O que acontece é que o grupo e os valores do mesmo também têm influência na
identidade do líder. A personalidade e a identidade das pessoas que integram esse grupo são
muito parecidas então esses grupos tendem a ser grupos restritos cujas pessoas têm afinidades
próximas.
→ Todos os elementos do grupo agiriam da mesma forma que o líder porque têm
características muito próximas uns dos outros. O líder é alguém que se destaca neste grupo.
 Perspetiva Racionalista:

→ Esta teoria, embora tenha uma dimensão individual, discorda totalmente e critica a
teoria anterior, a individualista. Em Portugal, Adriano Moreira é o grande defensor da teoria
racionalista.

→ Esta teoria pretende ser defensora do indivíduo, mas diz que este decide
emocionalmente. Enquanto a outra perspetiva valoriza muito a dimensão psicológica, esta
valoriza a racionalidade e a lógica do decisor. Este decisor é considerado como mais socializado.

→ Adriano Moreira diz que o homem vive em sociedade não porque goste, mas porque
tem vantagens. Este autor recorre a teóricos políticos do passado para demonstrar que a
racionalidade é um mecanismo fundamental na ação política.
→ Segundo Thomas Hobbes, o que o decisor faz é sempre do seu interesse e quando o
faz, fá-lo sempre com o menor custo possível.

→ Jeremy Bentham diz que a decisão política é o resultado de um cálculo utilitário.


Decide-se tendo em vista interesses, mas a marca individualista ainda está presente embora de
forma menos clara.

→ Nesta teoria defende-se que a dimensão individual é menor e dá-se especial atenção
às necessidades da sociedade. Contudo, o decisor continua a ter um papel importante.

Modelo da racionalidade/razoabilidade

Na análise da racionalidade, quem está a analisar de ter uma ótica globalizante, isto é, não se
podem omitir as influências das teorias anteriores. Mas deve dar-se atenção ao binómio:

O decisor está condicionado pelo ambiente da decisão, ou seja, pela realidade e pelo contexto
em que vive e onde necessita de tomar uma decisão. Tendo em conta a realidade em que se
encontra e os objetivos que pretende alcançar, o decisor deve analisar o que precisa de fazer e o
que consegue efetivamente realizar. Valoriza-se muito o contexto envolvente e menos a emoção
do decisor, que praticamente não tem cabimento nesta teoria. A decisão é sempre mais pensada,
olha sempre:

O decisor pensa (racionalidade), mas as decisões recaem sobre uma comunidade constituída por
pessoas que também pensam. Estamos perante um decisor e um objeto de decisão que têm a
mesma dimensão de racionalidade. Este modelo é mais do que o modelo de racionalidade, é o
modelo de razoabilidade porque a racionabilidade por vezes implica adaptações ou mutação
(podendo até haver recuos estratégicos) nos processos de decisão. A razoabilidade significa ter
em conta as características do outro lado do decisor.
Este modelo (da razoabilidade) diz que as pessoas a que as medidas se destinam não têm todas a
mesma racionalidade, isto é não pensam todas de igual forma. Também o espaço ou a
conjuntura em que se integram são diferentes, p. ex. os políticos não vão para o interior de um
país falar em abrir escolas quando a maioria da população é idosa, porque isso não será o maior
interesse da população daquela região. As necessidades das pessoas são diferentes de região
para região, logo a racionalidade é diferente. O decisor tem de saber olhar para aqueles a quem
se destina o objeto da decisão.

Resumindo, no processo de tomada de uma decisão é importante ter em conta 3 aspetos:

1. A conjuntura ou o contexto em que se está.


2. Os alvos das decisões têm conceções diferentes, logo têm necessidades diferentes.
3. O ato político é um jogo no qual ninguém quer perder e adota-se uma cópia da teoria
dos jogos. É feita uma análise prévia para que se possam criar teorias e hipóteses de
como o adversário pode agir, propiciando à tomada de uma melhor decisão.
❔ Neste jogo, quem são os atores ou jogadores? – De um lado estão os decisores e do
outro os alvos das decisões. O decisor quer que as decisões sejam pacificamente aceites
e para isso necessita de recursos, que serão os meios a usar e que têm uma grande
importância. Exemplo: Os partidos que fazem pouca publicidade ou investem pouco no
marketing político não ganham eleições.

Tudo isto faz parte da racionalidade. Esta teoria determinou a necessidade de um plano de
execução, uma estratégia, onde se define o momento e as formas de atuação porque nada pode
ser deixado ao acaso. O único acaso é o não conhecimento da reação daqueles em quem recai a
decisão, porque não é possível prever os comportamentos dessas pessoas. Tudo é planeado.

 Perspetiva Funcionalista:
→ Esta teoria tem uma matriz mais institucional em vez de individualista como nas
anteriores. A teoria funcionalista não esquece as anteriores, mas tem como base a Biologia, que
nos diz que os corpos humanos são constituídos por órgãos diferentes, cada um com uma
função específica e que interagem entre si permitindo que os corpos vivam bem e em sintonia.
Quando falta um desses órgãos, o corpo não funciona tão bem e os outros órgãos tentam
diminuir essa falta. É uma analogia que pode ser feita com as instituições visto que nestas
existem várias pessoas que desempenham funções diferentes, todas elas importantes de igual
forma.
→ Este modelo diz que deve-se ter em consideração e devem-se avaliar as funções das
pessoas ou das instituições.
❔ Qual é a lógica subjacente neste modelo? – As pessoas, logo também os decisores,
estão muito dependentes ou condicionados pelas funções inerentes da instituição onde estão
inseridos e onde trabalham ou prestam os seus serviços.
→ Para que a sociedade viva bem e em harmonia, os vários órgãos devem interagir
entre sim e cumprir as suas devidas funções, sem ultrapassar as mesmas ou tentar desempenhar
outras funções que não lhes cabe a eles.
→ Merton (1949) vai pela primeira vez adotar este modelo das Ciências Sociais à
Ciência Política. O autor diz que devemos ter em conta que dentro do todo há órgãos e que ele
próprios atuam ou agem em função das suas tarefas. Há um aproveitamento ou a utilização de
uma questão metodológica agora feita na Ciência Política
→ A teoria funcionalista vai pegar nas instituições e vai ver qual o papel de cada uma
delas, tendo também presente a racionalidade. Todas as análises devem ser vistas de forma
conjunta, nenhuma deve ser ignorada, devendo ter-se uma visão de forma global e não
exclusiva.
→ As instituições não podem ser dissociadas das suas funções, cada uma delas tem um
papel fundamental. A comunidade olha para as mesmas com expectativas e faz exigências.
→ O interesse público está acima de tudo.

Contributo de Parsons: o quadro AGIL

As instituições políticas relacionam-se externamente e têm lógicas de dinâmica internas. Do


ponto de vista externo, adaptam-se e pretendem realizar objetivos; do ponto de vista interno,
têm de se saber integrar no contexto e alimentar, no sentido de justificar, essa intervenção que
fazem. Estas palavras (presentes no quadro) são transferidas e utilizadas na análise política.

❔ Como é que alimentam (justificam) essas decisões e as tornam aceitáveis? – Através de uma
boa justificação, daí ser tão importante a legitimação.

Talcott Parsons (1902-1979) era da opinião de que se o sistema social pretender subsistir deverá
desempenhar quatro funções básicas (as apresentadas do quadro):

1. Ser capaz de se adaptar ao seu ambiente e juntar recursos suficientes para o fazer.
2. Delinear e implementar objetivos e mecanismos para os alcançar.
3. Estar integrado e ter os vários subsistemas coordenados de modo efetivo.
4. Ter maneiras de se preservar e de transmitir os seus valores e cultura às novas gerações.

Resumindo, Parsons via:

- O subsistema económico como tendo uma função de adaptação;

- O subsistema político a estabelecer os objetivos da sociedade e os meios para os atingir;

- O subsistema comunitário a fazer o trabalho de integração;


- O subsistema da educação (educativo) a transmitir a cultura e os valores.

Merton e as funções das instituições

Merton faz uma distinção entre as funções das instituições, alegando que estas podem ser:

• Manifestas: são as funções que são bem visíveis ou são as principais. P. ex.: A
Assembleia desempenha a função legislativa, os tribunais a função jurisdicional e o
governo a função executiva.
• Latentes: são as que são menos visíveis e que por vezes nem condizem com as funções
das instituições, são funções laterais. No entanto, em alguns casos são estas funções que
não permitem o desaparecimento da instituição ou do órgão. P. ex.: O papel dos partidos
políticos para com os seus militantes, ajudá-los a manter uma certa estabilidade.

“Qualquer órgão que deixe de ter funções desaparece.” (Merton) – Certos partidos ou
instituições não desaparecem porque começam a desempenhar funções que são também
importantes, as funções latentes ou laterais.

Princípio do equivalente funcional

- Segundo Merton, um só elemento pode desempenhar várias funções, assim como vários
elementos podem exercer a mesma função. P. ex.: O exército pode desempenhar funções
de Governo.
- Merton extraiu daqui uma lei tendencial segundo a qual uma estrutura que desempenha
uma função, mesmo sendo latente, não pode ser eliminada antes que outra assuma a
mesma função. Ou seja, uma estrutura só pode ser eliminada se não desempenhar
mesmo nenhuma função e caso se pretenda eliminá-la, seja por que razão for, deve-se
primeira atribuir a função, ou as funções, que desempenha a outra estrutura.
- Gabriel Almond (1963) sublinhou o princípio do equivalente funcional ao dizer que uma
estrutura pode, no desempenho de uma função latente, ter uma função tribunícia (papel
de tribuna). P. ex.: O Partido Comunista nos EUA já não consegue eleger senadores,
todavia não desapareceu porque encontrou outro tipo de funções, mas que são
equivalentes, como a causa da raça negra, dos desempregados e entre outros.
- A função tribunícia abrange assim os estratos sociais mais desfavorecidos e sem
representação institucionalizada.
- As funções encontradas, mesmo não sendo funções de poder, são equivalentes
pertenceriam a outra instituição.

Em síntese, “a essência da perspetiva funcionalista consiste em institucionalizar o fenómeno


político considerando o poder como um conjunto diferenciado de modelos de conduta de
agentes, onde cada um desempenha uma função e onde todas [as funções] estão interligadas”.

 Perspetiva Sistémica:
→ Definição de sistema: “Um sistema será qualquer organização complexa que recolhe
e transmite informação, gera atividades e controla resultados e tem a sua autonomia.
Porém, está vinculada em torno da realidade envolvente [ao ambiente envolvente] do
qual receber informações e sobre o qual também atua”. (Josep M. Vallès, Ciencia
Politica: Una introducción, 5.ª ed., Barcelona, 2006, p.48) – Palavras/expressões chave:
organização complexa; gera atividades e controla resultados; tem a sua autonomia; está
vinculada à realidade envolvente.
→ Este modelo tem origem na Biologia também, mais precisamente na célula que
também está interligada com a realidade envolvente recebendo informação da mesma e
atuando sobre ela.
→ Foi David Easton (1954) que aplicou esta teoria sistémica pela primeira vez à Ciência
Política.

Contributo de David Easton

Retroação da Sociedade: Um decisor político atua propondo ações e aplicando normas (outputs)
consoantes os pedidos feitos e os apoios que lhe são dados (inputs) pela sociedade. A sociedade
recebe outputs e vai responder, há um movimento de apuração dos outputs que poderão depois
gerar mais inputs, ou seja, mais pedidos ou apoios por parte da sociedade.

Esta perspetiva tem aspetos inovadores:

↳ Meio Ambiente = há uma sociedade própria (temos de saber quais as suas características)

↳ Inputs = a sociedade também se manifesta no Sistema Político

↳ Outputs = o sistema político expele medidas para a sociedade

↳ Pedidos = ou exigências/discordâncias

↳ Apoios = acordos
Adaptação e Integração

Os conceitos de integração e adaptação estão muito interligados. A adaptação consiste na


necessidade que um sistema tem de, continua e atentamente, se adequar à realidade (p. ex.: as
ditaduras caem por não se adaptarem à realidade da sociedade). A integração presume que deve
haver a perceção das dificuldades que ameaçam aquele sistema e que se consegue minimizar o
impacto das ameaças através da alimentação (da justificação).

Ou seja, é necessária a justificação para cativar a simpatia para certos fenómenos e dar às
pessoas certas causas a valorizar para garantir a atração e a adesão. Muitas vezes a aplicação de
medidas tem por trás a defesa de certos valores adequados às medidas apresentadas, e o bem-
estar é um dos valores mais importantes. É por isso que um governador deve ter a capacidade
de persuadir as pessoas, que acabará por indicar o seu sucesso ou insucesso.

Estes sistemas não estão nem são fechados, eles fazem parte de todo e vão-se complementando
uns aos outros.

Realização de Objetivos

O sistema tem de ter metas/objetivos e tem de procurar as formas mais adequadas para as
atingir. Deve escolher um meio adequado de forma a atingir os objetivos.

Alimentação

Este conceito consiste na produção de uma teoria justificativa. Isto é, devem existir perspetivas
culturais que criem na sociedade uma opinião favorável que justifique aquele sistema.

Qualquer sistema político tem a necessidade de produzir “ideias” → a alimentação é a maneira


de “alimentar”, ou seja, justificar, essas ideias.

A maioria destas perspetivas são feitas através das perspetivas da sociedade. Tentam justificar
as suas medidas através de certos padrões. Qualquer medida tomada deve ter em conta o alvo a
atingir e tendo em conta esse alvo, criar uma teoria.

Distorção

Ocorre uma alteração do significado da informação.

Neste caso, o sistema deixa de satisfazer as funções que lhe estão assinaladas.
Esquema do Sistema Político de Easton

Exigências: (demands)

- A sua dimensão deve ser vista em duas vertentes: a dimensão quantitativa e a dimensão
qualitativa.

- O volume das exigências aconselha o uso dos conceitos de carga e sobrecarga do sistema para
exprimir a medida em que pode responder ou resistir à exigência. A sobrecarga pode resultar de
uma quantidade excessiva ou da qualidade das exigências.

- O sistema político analisa-se num conjunto de ações que procuram o ajuste constante entre
exigências do ambiente e a capacidade de resposta do sistema. Isto realiza-se através das
seguintes funções:

1. Expressão das exigências: grupos de pressão, partidos, media, etc.


2. Depuração das exigências: antecipação, regulação cultural – toca no conteúdo das
exigências – e forma – greve, ação direta (p. ex.: ponte-camiões).
3. Agregação das exigências: fazê-las convergir para os Programas dos Partidos.

Apoios: (support)

- São uma forma da sociedade se manifestar e podem ter direções contraditórias.

- Sociedade global: patriotismo.

- Regime: manutenção da sede do Poder.


- Suporte dos órgãos: personalidades que exercem funções de autoridade.

Karl Deutsch

 Este é cronologicamente o mais recente e, como absorveu um pouco dos modelos


anteriores, o mais completo.
 A sua proposta enquadra-se na teoria da comunicação e da cibernética.
 A comunicação é algo bastante interessante.
 As decisões, o controlo e as comunicações têm um papel central na Ciência Política.
 É algo como estudar a pilotagem do sistema.
 Para ele, um sistema é, em permanência e sem interrupção, teatro de uma corrente de
comunicações, as quais o sistema tem de estar preparado para interpretar e dar
resposta.
 O comportamento do sistema político é variável e depende, no que respeita à
informação circulante, de 4 fatores:
- Peso (load): a dimensão; determina se entra em sobrecarga ou não; frequência e
grandeza das mudanças que exigem resposta.
- Atraso (lag): o comportamento do sistema político deve ser atempado para que não se
acumulem situações; tempo decorrente entre o aparecimento, a decisão e a transmissão
e execução desta (decisão).
- Ganho (gain): modificação dos comportamentos face às decisões.
- Avanço (lead): diferença entre a posição do objeto na data da receção da informação e
a posição estimada no momento da execução. P. ex.: quando um caçador está a tentar
caçar uma ave, este tem de prever o movimento da ave e disparar no momento certo.

Sistematização de Lapierre (1980)


Este é um modelo mais atual e mais complexo. É uma verdadeira representação do que é hoje a
perspetiva sistémica, ajudando-nos a perceber as dinâmicas políticas.

O Estado e a Sociedade

A política pode ser perspetiva em termos da/o:

 Estrutura (polity): quando centramos a nossa atenção na maneira como a comunidade se


organiza. Isto é, procuramos identificar as instituições e as normas por que se regem os
comportamentos políticos. Assim, interessa conhecer os factos que explicam o aparecimento
dos parlamentos, os métodos para designar os titulares do poder, e a análise do Estado e das
organizações políticas internacionais.
Nota: Esta tripla distinção nem sempre é fácil, pois as línguas latinas usam a palavra política de
maneira diferente.
 Processo (politics).
 Resultado (policy).

Conceitos - Estado

o Estado é um dos conceitos relevantes da Ciência Política e alguns autores chegam a identificá-lo
como o objeto desta ciência. Nos tempos mais recentes, o significante Estado foi utilizado
frequentemente pois o número de Estados aumentou ao longo do século XX, resultantes da
descolonização bem como da “implosão” dos Balcãs, da secessão da URSS e do desejo de alguns
povos que aspiram a ter o seu Estado.
o Começamos, precisamente, pela procura de um conceito para o significante Estado. No que toca
à etimologia, a palavra portuguesa estado é igual a outras línguas europeias – todas elas têm
origem no vocábulo latino status. No Direito Romano, o Estado não existia com o significado
dos dias de hoje, o que existia era uma personalidade jurídica (caput) não de um sujeito, mas de
uma comunidade ou de um grupo de pessoas, que tinham um conjunto de direitos e obrigações
na referência às pessoas e instituições envolventes. Pode dizer-se que existiam vários graus:
status libertatis, o que significava que o indivíduo era livre; status civitatis, queria dizer que era
um indivíduo livre e cidadão e por isso tinha direitos e deveres civis; e, status familiae o que lhe
outorgava para além o direito de ser livre e cidadão, «sui iuris».
o Na baixa latinidade começou a utilizar-se a expressão status reipublicae, onde Ulpiano é um
exemplo. Também se encontra a expressão status romanus. Todavia, importa frisar que a
palavra status nunca adquiriu o significado de sociedade política ou de forma política ou de
instituições políticas.

Alguns autores que têm escrito sobre a Teoria Geral do Estado:

o Segundo Marcello Caetano, a “primeira noção – ainda sem rigor técnico – que se colhe do
Estado é a de um povo fixado num território, de que é senhor, e que dentro das fronteiras desse
território institui, por autoridade própria, órgãos que elaborem as leis necessárias à vida coletiva
e imponham a respetiva execução”.
o Diogo Freitas do Amaral julga aceitável a definição anterior, porém, apresenta algumas notas de
discordância. Segundo este autor, em vez de povo deveria falar-se em comunidade. Discorda
também da expressão “elaboração e execução de leis”, já que na sua opinião deveria dizer-se
“poder político”. “O Estado é a comunidade constituída por um povo que, a fim de realizar os
seus ideias de segurança, justiça e bem-estar, se assenhoreia de um território e nele institui, por
autoridade própria, o poder de dirigir os destinos nacionais e de impor as normas necessárias à
vida coletiva”. (Diogo Freitas do Amaral, “Estado”, in Polis. Enciclopédia Verbo da Sociedade e
do Estado. Vol II – Antropologia, Direito, Economia, Ciência Política. Lisboa, Verbo, 1984. P.
1128)
o O povo ou a comunidade é então um conjunto de pessoas (é um grupo de pessoas), que tem
uma certa consciência comunitária onde estão criados uma série de elos que faz com que as
pessoas reconheçam que pertencem a uma determinada comunidade.

A Política antes do Estado

o A observação dos grandes movimentos do passado bem como dos textos antigos remetem para
a organização da política no passado, tanto ou mais do que para conceções artísticas.
o Deparamo-nos com alguns detalhes: personagens, instituições, episódios, conflitos, normas,
entre outros.
o Com base nesta realidade, podemos avançar com alguns modelos. Por exemplo, distingue-se os
elementos específicos do Império egípcio dos da Polis grega.

As características do Estado têm mudado ao longo do tempo e vamos observar, para os dias de hoje,
uma grande evolução gradual dos elementos do Estado.

Nota: As expressões “estado antigo” e “estado medieval” devem ser colocados entre aspas ou devemos
pelo menos ter a noção de que Estado não tinha o mesmo significado.

“Estado” Antigo/na Época Antiga

o O poder tem um caráter personalizado/pessoal. A sua legitimação assenta em duas vertentes:


mágico-religiosa.
↳ Ex. 1: O papel dos Faraós obedece a uma hierarquia.
↳ Ex. 2: O poder dos feiticeiros assenta muito nesta lógica.
↳ Ex. 3: O clã nas tribos – o elemento autoridade está relacionado com a linhagem.

Nota 1: A legitimação é o reconhecimento ou a aceitação desse poder por parte da comunidade.

Nota 2: Nesta época, o elemento autoridade dependia da função religiosa e/ou da linhagem. A
autoridade política era um prolongamento da autoridade familiar ou uma extensão da função religiosa.

“Estado” Medieval/na Época Medieval

o O poder tinha um caráter fortemente personalizado que assenta na vertente:


- da defesa e da proteção (através do uso de armas).
- económica (é o Sr. Feudal que domina).
o Há uma grande evolução, embora gradual, dos elementos ligados ao Estado que vi dar origem à
institucionalização do poder (1.ª fase = realeza).
o A dimensão no poder também é personalizada.
“Estado” Moderno/Contemporâneo

o O Estado moderno surgiu na Europa sob as ruínas do feudalismo. Teve por base o
desenvolvimento da economia mercantil e a libertação das sociedades civis do domínio da
Igreja.
o A realeza tornou-se o órgão político “natural”. É a Coroa e não o Rei que se torna titular do
poder.
↳ Ex.: Quando Luís XIV pronuncia a seguinte frase “O Estado sou eu” e não “eu sou o Estado”
está a exprimir a coincidência entre a pessoal Real e a instituição Estado → institucionalização
do Estado.
o O Estado Moderno é uma instituição social dotada de um poder racional separado da pessoa dos
governantes e consentidos pelos governados.
o O Estado deve exercer o poder de forma racional → a favor da comunidade.
o A autoridade é o Estado = institucionalização do poder.
o Com esta institucionalização a legitimação do poder/autoridade altera-se.
o O fundamento deste poder não é pessoal – o poder não é aceite porque é determinada pessoa
que o detém.
o O Estado é uma realidade europeia pós-renascentista. Costuma dividir-se a formação do Estado
Moderno em duas etapas:
- 1.ª Fase: Mediação – séculos XV, XVI e XVII.
- 2.ª Fase: Maturação – séculos XVIII e XIX.

Sinais de Mudança
- Os primeiros sinais de questionamento do Estado Absoluto podem ser encontrados na
independência dos Países Baixos, bem como na guerra civil inglesa. Também a Reforma
Protestante que defendia a autonomia da consciência individual, assim como os homens de
negócios não queriam ver as suas atividades condicionadas pelo poder político. Todavia, seriam
as revoluções Americana (1776) e Francesa (1789) que deram forma ao Estado liberal.
- Aqui a relação política não se estabelece entre um soberano todo-poderoso e um súbdito.
Agora, quem surge perante o poder político é um cidadão, sujeito de direitos e disposto a
intervir na vida política. Agora, o indivíduo proprietário só depende dos direitos fundamentais
que ele próprio também deve respeitar, tais como o direito à vida e à integridade física ou a
liberdade de consciência e de propriedade.
- A partir do período liberal, a legitimação do Estado Moderno decorre das eleições → do voto
popular.

Legitimação popular
- No Estado Contemporâneo (o atual), que entronca no Estado Moderno, as instituições de
poder são legitimadas pelo voto e estão condicionadas pelo período de duração do voto.
- A existência do Estado pressupõe a organização política de um povo (ou comunidade) que
controla um território com o objetivo de assegurar o bem-estar social da coletividade.

Portugal - 1822
- A Constituição Portuguesa de 1822, no seu artigo 9.º, dizia que “A lei é igual para todos. Não
se devem portanto tolerar privilégios do foro nas causas cíveis ou crimes”.
- Por sua vez, o artigo 13.º exarava que “Os ofícios públicos não são propriedade de pessoas
alguma”.
- No artigo 21.º estava escrito que “Todos os Portugueses são cidadãos e gozam desta
qualidade”.
- O artigo 27.º explicitava que “A Nação é livre e independente e não pode ser património de
ninguém. A ela somente pertence fazer pelos seus Deputados juntos em Cortes a sua
Constituição, ou Lei Fundamental, sem dependência de sanção do Rei”.

Temos 3 elementos essências para a existência do Estado:


• Território: Toda a coletividade que se constitui em Estado está fixada num determinado
território. Ou seja, não há Estado sem território/sem espaço. Só pela fixação a um
território é que a comunidade pode aspirar a constituir um Estado. O território é, pois,
um elemento imprescindível do Estado e é o espaço no qual os órgãos de Estado têm a
faculdade de impor a sua autoridade. Um Estado pressupõe a existência de um território
(polis) habitado onde existe uma autoridade (Governo).
Do território faz também parte:
- o espaço aéreo.
- o subsolo (minas, poços de petróleo, etc).
- as águas territoriais (até 3 milhas).
As exceções são:
- o território das embaixadas que é pertença do próprio país.
- as bases militares (as bases militares americanas são território americano).
• Povo (comunidade): Não há Estado sem povo. O povo é um conjunto orgânico ligado ao
Estado por vínculos específicos de nacionalidade (estão no país ou no estrangeiro).
Existe uma matriz cultural comum, livremente aceitam e querem integrar-se num
determinado território, reconhecendo os órgãos de poder. Estas pessoas constituem a
Sociedade Política para a prossecução de interesses comuns e que se regem por leis
próprias sob a direção de um mesmo poder soberano.
- Apátrida: não estão ligados a qualquer Estado.
- População: soma de um vasto n.º de indivíduos atomisticamente considerados
(cidadãos residentes, estrangeiros, apátridas e população flutuante: turistas e visitantes).
- Nacionalidade: é o vínculo jurídico a uma Sociedade Política/Estado. Ser-se nacional
de um Estado é estar sujeito às regras de conduta por ele definidos (pressupõe direitos e
obrigações).
↳ Ex.: Um imigrante/estrangeiro que se encontra em Portugal não faz parte do elemento
Estado.
- Consciência Nacional: a pessoa deve ter a noção de que faz parte de um determinado
Estado e que é algo necessário para que se integre na Comunidade.
A evolução histórica caracteriza-se pela passagem do modelo “diversos poderes políticos
para a mesma área cultural” para a fórmula de “um poder político para duas ou mais áreas
culturais” e após a Revolução Francesa a tendência é para fazer coincidir o Poder Político
com uma área cultural.
(esquema presente no livro de António José Fernandes)
• Aparelho do poder (exercício de governo = autoridade): Para que se verifique a
existência de Estado é necessário, que, para além do território e do povo, exista um
aparelho do poder (órgãos do Estado) que exerça o poder político. A interligação entre
as instituições do aparelho do poder define o Sistema Político do Estado, do sistema de
governo.
⚠️ Não se pode confundir Poder Político com soberania ou Poder Soberano. Nem todo
o poder do Estado é soberano e nem todos os órgãos do Estado são soberanos.

Soberania
- “A soberania é a coisa ou a qualidade que dota a entidade estatal de um poder originário, não
dependente, nem interna nem externamente de outra autoridade, conferindo-lhe um direito
indiscutível de usar – a violência”. (Vallès: 166)
Nota: A violência, nas democracias liberais, não deve/pode ser de qualquer forma, tem de ser
legitimada – tem de ter em conta a pluralidade das necessidades da comunidade.
No período moderno a soberania assenta no Estado.

- Um Estado soberano tem de ter poder de querer e poder de executar esse querer → poder de
comandar. É também aquele que num determinado território tem a autoridade máxima, em
termos técnicos significa que:
1. Internamente – não pode haver nenhum poder que se lhe sobreponha.
2. Externamente/a nível externo – tem de ser parte entre as partes, não está subordinado,
mas sim em posição se equivalência. Isto é, é um Estado igual aos outros Estados.

Bodin definiu soberania como “um poder que não tem igual na ordem interna nem superior na
ordem externa”. Para aferir da soberania externa de um Estado é necessário ter em conta:

↳ Jus belli – direito de fazer guerra, ou seja, capacidade decisória bélica.

↳ Jus legationis – representação diplomática, ou seja, a possibilidade de enviar representantes


diplomáticos para outro país.

↳ Jus tractum – a competência para assinar tratados internacionais.

↳ Direito de reclamação internacional – usar certos meios para fazer valer dos direitos, como:
pedidos de inquérito, recurso à arbitragem e jurisdição internacional.

→ Para um Estado ser soberano externamente tem que, conjuntamente, agregar estas quatro
características, caso contrário, não é soberano, i.e.: têm uma soberania limitada.
Nota: Só falta aqui a moeda, mas neste contexto a mesma ainda não tinha um papel tão
importante na política.

Categoria de Estados

 Unitário:
→ Centralizado: a totalidade das funções políticas (incluindo as legislativas) estão
concentradas no Estado. Pode haver, no entanto, uma descentralização meramente
administrativa, como é o caso de quando se atribuem competências às autarquias (ex.:
recolha de lixo). Mas o Estado não prescindiu do poder de fiscalização (ex.: o
Luxemburgo é um Estado centralizado).
→ Descentralizado/Regional: existem regiões que exercem (tal como o Estado central)
funções político-legislativas, das quais podem emanar atos com força de lei em
determinadas matérias. Ex.: Espanha e até Portugal no caso da Madeira e Açores.
(Filipa Urbano Calão et alii, Introdução do Direito Público, 2011, pp. 153-155)
⚠️ Descentralização ≠ Desconcentração – são conceitos diferentes.
↳ Descentralização: quando existe uma transferência da capacidade decisória (o
Estado transfere capacidade decisória), o exemplo máximo são os Estados Federados.
↳ Desconcentração: o poder central apenas delega/transfere, por motivos de
interesse, competências (sob determinadas condições) para o poder regional, que em
qualquer momento pode retirar. Isto significa que o poder central pode ou não ratificar
um ato do poder regional.
É a descentralização ou desconcentração que explica a diferença entre Estado Unitário e
um Estado Descentralizado.
 Estados Federais e Estados Compostos: Um Estado Federal é “a união de Estados-
membros num só Estado Central que se rege por normas Constitucionais comuns a
todos os membros”. Em regra, os Estados Federais tiveram como origem uma
confederação. As confederações são associações de Estados, não possuem poderes
soberanos já que estes permanecem nas mãos dos Estados-membros. Estas resultam, em
regra, de acordos internacionais que não podem ser revistos sem unanimidade. Há três
teorias para a relação entre o Estado Federal e os Estados Federados:
1. Teoria do Estado Federal dos dois elementos – segundo esta teoria o caso
americano tinha sua vivência dois elementos: o Estado Federal/Federado e os
Estados Federados que são parte do todo e estão a ele submetidos. Entre Estado
Federal e Estados Federados existe uma forte relação porque o primeiro integra
os outros, o que significa que os órgãos do Estado Federal têm legitimidade para
atuar sobre os Estados Federados. Os órgãos dos Estados Federados são
englobados/integrados pelos órgãos do Estado Federal. Esta teoria defende a
primazia da Federação sobre os Estados Federados.
2. Teoria do Estado Federal dos três elementos – esta teoria explicativa tinha como
modelo a República Federal Alemã. O que dizia era que existem três elementos
ou três dimensões que hierarquicamente se apresentam:
→ Presidente da República Federal e o Tribunal Constitucional são órgãos da
República Federal.
→ O Estado Federal.
→ Os Estados Federados.
Os Estados Federados e a Federação formam uma República Federal. Segundo
esta teoria, o Estado Federado tinha quase a mesma capacidade do Estado
Federal, o que havia era um 3.º elemento formado por duas instituições ou dois
órgãos que dirimiam (anulavam ou impediam) disputas entre o Estado Federal e
os Estados Federados, a saber: o Presidente da República Federal e o Tribunal
Constitucional que não são órgãos da Federação, mas sim da República Federal,
ou seja, estavam noutra dimensão.
3. Teoria dos Estados partes – a Federação e os Estados Federados são elementos
de igual categoria de um conjunto que, em si mesmo, carece de qualidade
estatal, logo os órgãos da Federação não podem atuar sobre os Estados
Federados. Isto é, ambos têm a mesma categoria.
 Estado Federal e Estado Regional: As regiões são criadas e podem ser extintas pelo
estado central já os estados federados não podem ser. Os Estados Federais são
bicamerais: nos EUA, os Estados Federados estão representados no Senado, enquanto na
Alemanha estão no Bundesrat (Conselho Federal).

Neutralidade

- É um conceito militar.

- É a recusa de exercer o direito de fazer guerra – um país que prescinde do direito de


intervenção militar, mas não de defesa.

- É um estatuto jurídico que confere aos seus titulares direitos (podem manter trocas comerciais
com as partes envolvidas num conflito) e obrigações (não podem prestar ajuda militar a
nenhum deles).

Os Estados neutralizados (com estatuto de neutralidade permanente) não gozam das


prerrogativas de soberania externa, logo são semi-soberanos.

Neutralismo

- É um conceito diplomático.
- O neutralismo não aliena o direito de fazer guerra.

- Um Estado neutral não pretende abster-se dos problemas internacionais, antes orienta a sua
atividade em prol da paz mundial.

- Um país pode dizer que diplomaticamente não apoia uma parte ou outra envolvidas num
conflito, o que não significa que tenha prescindido do seu direito de jus bélico.

O Estado não participa, apenas tem uma atitude de opinião.

Os Estados neutrais são Estados Soberanos.

Relações entre Instituições

O estado estruturou-se em torno de um conjunto de instituições que desempenhavam funções


diversas. Porém, as sociedades complexificaram-se. Para solucionar os conflitos, recorreram a
vários recursos e surgiram novas instituições, assentes também em fatores técnicos e
organizativos.

Divisão do poder em geral

Importa distinguir que uma coisa é o estudo das potencialidades do poder político e outra coisa é os
sistemas de divisão do poder. Assim, Aristóteles distinguia três potencialidades de soberania:

• Deliberação.
• Comando.
• Judicativa.

E também Hegel distingue:

• Poder legislativo.
• Poder de governo.
• Poder do príncipe.

Deste modo, as funções do Estado são uma coisa e a sua atribuição aos vários órgãos ou instituições é
outra. Por isso, a divisão do poder é requisito da delimitação do poder.

Separação do poder

O Estado estamental assentava num dualismo de princípios:

↳ Aceitação do papel político das corporações, dos senhores locais e das ordens.

↳ Princípio da unidade ou de decisão central através do rei.

Assim:
1. Nas magistraturas romanas e na organização estamental falta uma ideia de especialização
orgânico-funcional ou de distribuição de diversas faculdades, ou de distribuição de diversas
faculdades consideradas por mais de um centro subjetivo de poder.
2. Em ambas falta a conexão com a ideia de direitos fundamentais, porque não conheciam a
liberdade política, já que o estado estamental apenas cuidou de assegurar diante do rei,
imunidades e privilégios.
3. A separação de poderes revelar-se-ia a projeção organizadora do Estado de Direito que só
existe com o constitucionalismo moderno.

Locke – Tratado sobre o Governo

Haveria um poder legislativo, um poder federativo (respeitante às relações internacionais) e a


prerrogativa (função governamental). Não se defende ainda a completa divisão do poder, já que
o poder primordial do Estado era o poder legislativo.

Montesquieu – De l’Esprit des Lois (1748)

Segundo este autor, “a única maneira de limitar o poder, consiste em criar outro poder que o
limite; a única maneira de limitar o poder é dividi-lo em diversos poderes que se condicionam,
que se limitem reciprocamente”.

A constituição inglesa defendia que deveria haver três poderes:

• Legislativo: fazer leis, corrigi-las ou revogá-las.


• Executivo das coisas: fazer a paz ou a guerra.
• Executivo dos que dependem do direito civil: punir os crimes e julgar os litígios.

“A liberdade política num cidadão ou de um cidadão é essa tranquilidade de espírito que provem
da opinião que cada um tem da sua segurança; e para que haja ou para que tenha essa liberdade
é preciso que o governo seja tal, que o cidadão não possa temer qualquer coisa de outro
cidadão.” – faz a apologia do governo misto.

Decompõe o poder em três funções, que deveriam ser conferidas a órgãos distintos. Distingue,
ainda, em cada poder uma faculdade de estatuir (statuer: ordenar, por estatutos) e impedir
(empêcher: anular).

O poder legislativo deve ter um poder positivo de estatuir leis, mas também um poder negativo
de impedir que outros órgãos façam algo que ponham em causa os interesses gerais. O poder
executivo tinha estas duas faculdades. Só o poder judicial não tinha essas duas faculdades.

O estado liberal procurou evitar a concentração das funções em poucas mãos como acontecera no
estado absoluto. Foi neste sentido que Locke (1632-1704) e Montesquieu (1689-1755) difundiram a
divisão dos poderes.

↳ Deveria atribuir o poder a mais do que uma instituição. Esta separação, ou melhor esta
procura de equilíbrio entre poderes passa por etapas diferentes. Assim, numa primeira fase, o
objetivo era criar contra-poderes ao poder do monarca hereditário. Procurava-se o equilíbrio de
poderes e funções entre o rei e o parlamento. O rei tinha a capacidade de execução e arbitragem
judicial já que nomeava governos e juízes; e o parlamento tinha a capacidade de legislar, onde
apenas estavam representados os grupos sociais dominantes.

Este foi o modelo da Constituição dos EUA de 1787. O presidente eleito fazia por vezes o papel de
monarca, exercendo funções executivas, e o congresso tinha a faculdade legislativa. Era o sistema de
“checks and balances” (controlos e equilíbrios).

Este modelo alterou-se com a gradual extensão do direito de voto.

Tal como já se disse, a separação do poder vem dos séculos XVII e XVIII, associada à filosofia política
iluminista e liberal. Deste modo, no século XX as teorias jurídicas e políticas chamam a atenção para
outros aspetos da divisão do poder, tais como:

1. Divisão territorial do poder: federalismo, regionalismo, etc.


2. Divisão funcional do poder: descentralização administrativa.
3. Divisão pessoal: incompatibilidade entre cargos públicos.
4. Divisão temporal: fixação de tempo para o exercício dos cargos e limitação à renovação dos
mandatos.
5. Divisão económica: existência de setores de propriedade dos meios de produção (público,
privado e cooperativo).

Formas e sistemas de governo

Deve ter-se em conta, por um lado as normas que regulam as relações e situação específica dos vários
“órgãos de soberania”; por outro lado, o facto da realidade não se conformar frequentemente com o
modelo normativamente delineado.

Por forma de Estado entendemos simultaneamente o modo de designação de titulares de órgãos de


soberania (monarquia, república, democracia representativa) e a repartição de poderes e articulação
entre eles, quer a nível horizontal (presidencialismo, parlamentarismo, sistemas mistos) quer a nível
vertical (Estados unitários, federais).

As democracias liberais, a fim de porem fim ao absolutismo, utilizaram a estratégia de divisão de


poderes, que se acentuou, e acentua, mais ao longo do século XX e XXI.

Conceitos:

- Segundo Jorge Miranda, “forma de governo é a forma de uma comunidade política organizar o seu
poder ou estabelecer a diferenciação entre governantes e governados de harmonia com certos princípios
político-constitucionais. Mais circunscrito, sistema de governo é o sistema de órgãos de função política,
apenas se reporta à organização interna do governo e aos poderes e estatutos dos governantes”.

- Para o problema da repartição horizontal de poderes e a sua articulação pode reservar-se o conceito de
sistema de governo, se se averiguar qual é a efetiva sede do poder. E a forma de governo, se se discutir
como está organizada jurídico-constitucionalmente a repartição dos poderes e a sua articulação.
- O estudo das formas de governo situa-se assim mais ao nível do direito constitucional. O sistema de
governo sobretudo ao nível da ciência política. As abordagens são as mesmas, mas com nuances ou do
direito constitucional ou da ciência política.

Sistemas de governo: Parlamentar

 No Parlamentarismo está subjacente a ideia de sujeição do executivo à fiscalização do


Parlamento. Caso da Revolução de 1688, em Inglaterra, que segundo João Soares Carvalho, “a
ação dos Comuns, muitas vezes combinada com a dos Lordes, ampliou os poderes do
parlamento e diminuiu os poderes do Soberano, sendo notável a viragem que se operou depois
da Revolução de 1688. Como resultado dessa ação, o Act of Settlement, de 1700-1701, declara
expressamente que ‘as leis de Inglaterra são património do seu povo; e todos os reis e rainhas
que subirem ao trono deste reino devam administrar o seu governo de acordo com as ditas leis;
e todos os seus oficiais e ministros deverão servi-los de acordo com as mesmas’”. (João Soares
Carvalho, Antecedentes da História Parlamentar Britânica, Livros Horizonte, Lisboa, 1989, pp.
117-118)
 Apagamento do Chefe de Estado em relação ao Parlamento, mas é a mais alta autoridade do país
e ao mesmo tempo politicamente irresponsável. A primeira figura formal do Estado ou é um
monarca, ou não é eleito diretamente, logo o governo não responde perante ele.
 Condicionamento da nomeação do Primeiro-Ministro e do Governo pela composição
parlamentar.
 Responsabilidade do Primeiro-Ministro e do seu gabinete perante o Parlamento.
 Praticamente o chefe de Estado não tem capacidade de dissolver o Parlamento.
 Ao chefe de Estado cabe a tarefa formal de nomear o Primeiro-Ministro, mas de facto é a
competência dos partidos com assento parlamentar. Diríamos que é um “Estado de partidos”.
 Convém distinguir (notar) que pode haver um parlamentarismo puro ou um governo
parlamentar racionalizado ou mitigado. A distinção tem por base a censura construtiva.
Exemplos: casos da Alemanha e Espanha.
 Regra geral existem duas câmaras para impedir o excesso de poder.

Sistemas de governo: Presidencial

 Os regimes presidenciais têm o seu presidente eleito pelo povo. Embora os EUA protagonizem a
exceção a este princípio, este modelo nasceu precisamente com a Independência dos EUA.
Todavia, o Presidente é eleito por um colégio que foi anteriormente sufragado pelo povo. Esta
especificidade americana tem de ser relacionada com o momento em que foi criada. No século
XVIII, as comunicações nos EUA eram muito difíceis e morosas, pelo que era praticamente
impossível realizar-se um sufrágio em todo o espaço americano, pelo que a solução encontrada
foi a mais pragmática, cabendo aos eleitos de cada Estado federado deslocar-se até à capital do
Estado federal e aí elegerem um Presidente da República americana. Contudo, também está
condicionado já que não é eleito diretamente pelo povo.
 O Presidente é o 1.º titular do poder executivo, a quem compete nomear e dirigir o governo e
não pode ser demitido pelo Parlamento.
 Caracteriza-se pelo sistema dos “checks and balances”.
 Não há um sistema presidencial, mas sim sistemas presidenciais, como é o caso da América
Latina – está relacionado com as realidades de cada espaço, então não há um padrão único.
Sistemas de governo: Misto

 A sua origem deveu-se à incapacidade do sistema parlamentar que se projeta o sistema


semipresidencial. Foi precursor deste sistema a Constituição de Weimar (1919).
 Consoantes as especificidades, assim também pode ser conhecido como semipresidencial ou
semiparlamentar.
 O Presidente é eleito, direta ou indiretamente.
 O governo só se mantém com a confiança do Parlamento.
 Há várias diferenças nos sistemas mistos, porém há sempre a “coabitação política”.

Sistemas de governo: Diretorial

Nota: Interligar este modelo em termos práticos com os tipos de Estado em relação com a soberania.

 Também conhecido por sistema de Assembleia.


 O governo é um órgão coletivo, no qual o Presidente do Conselho é escolhido rotativamente
pelos membros da Assembleia. Donde se conclui que:
- O governo é uma espécie de Comissão de Assembleia.
- O governo responde perante a Assembleia.
- Os membros do governo são eleitos perante a Assembleia.
- Os membros do governo podem ser demitidos pela Assembleia.
- A política geral do executivo é estabelecida pela Assembleia.
 Deve o seu nome à Constituição Francesa de 1795.
 Existe na Confederação Helvética através da Constituição de 1848, revista em 1874 e 1999.

Traços:

1. Executivo composto por 7 membros, designado Conselho Federal, eleito pela Assembleia
Federal, por um período de 4 anos. Cada um dos membros do Diretório chefia um Departamento
Federal, algo equiparado a um superministério.
2. A chefia do Estado é exercida rotativamente por um dos membros do Diretório.
3. O Diretório não pode ser demitido pela Assembleia.
4. A Assembleia Federal não pode ser demitida pelo Diretório.

A eleição

 Aparece como ideia e ganha forma no constitucionalismo moderno.


 O voto aparece como uma estratégia cada vez mais alargada de chegar ao poder.
 Forma que os diversos grupos com más condições materiais e, que viam o acesso ao poder
condicionado, conseguirem eleger quem os representasse.
 O voto inicialmente não era universal estava condicionado a critérios limitadores.
↳ P. ex.: sexo, cor da pele, raça, rendimento – as pessoas só podiam votar em função destes
critérios e só era eleito quem atingia determinado patamar, ou seja, “as elites”.
 Em Portugal, as primeiras eleições ocorreram em 1911, mas só os homens podiam votar. Só em
1974 o voto foi alargado às mulheres.
Idade Média – Cortes

- Período Liberal – passa a haver uma nova forma de acesso ao poder. No entanto, só alguns votavam
em função do seu rendimento e só podia ser eleito quem estava num patamar ainda superior → “Elites
ao Poder”. Há a ideia de representação, isto é, “eu pretendo que as minhas ideias estejam representadas
por alguém que eu elejo”.

- Há uma abertura em termos de grupo – a Nobreza perde a sua identidade.

- Quem está no poder deve representar a sociedade.

- Nova forma de aceder à Sociedade (com o voto).

Tipos de sufrágio (voto)

 Sufrágio direito e individual: O voto é pessoal – sou “eu” que vou diretamente fazer uma
escolha. O sufrágio/escolha está organizado por colégios eleitorais que podem ser de duas
dimensões:
• Colégios simples – ex. das Assembleias de voto de per si e que são uma parcela que vai
fazer parte do todo.
• Colégios complexos – é o somatório do conjunto de todas as assembleias de voto que,
essas sim, determinam o resultado do voto. São estes resultados que são tidos em conta
na eleição propriamente dita. Ex.: os deputados são eleitos por colégios distritais que
mais não são do que o somatório dos colégios simples das freguesias do distrito.

O sufrágio direto e individual traduz-se num colégio eleitoral homogéneo que engloba a massa
dos eleitores, mas é repartido por colégios simples e colégios complexos.

(retirado do livro do Jorge Miranda)


 Sufrágio indireto e orgânico: Envolve sucessivos colégios eleitorais e cada um deles é
preparatório dos seguintes, ou seja, designa os eleitores do colégio imediatamente superiores. É
uma votação onde se elege quem posteriormente vai eleger um determinado representante, o
caso americano é o exemplo mais visível: os diferentes Estados (Texas, Califórnia, Arkansas, e
os restantes) escolhem os seus representantes que, por sua vez, vão escolher o Presidente da
República. Outro caso pode ser o da escolha para um determinado órgão que depois vai escolher
o representante, p ex. o Presidente da Assembleia da República é indicado pelos deputados que
foram eleitos através de sufrágio. Podemos dizer que são eleições em duas etapas.
 Sufrágio único e plural: Neste caso, atribui-se ao voto uma determinada expressão ou
percentagem (1 voto = 𝑥 %). Os clubes de futebol são o melhor exemplo para este tipo de
sufrágio, quando são feitas eleições os votos dos sócios mais antigos têm uma percentagem
maior face aos outros e de acordo com o tempo a que são sócios.

Com o Constitucionalismo quem está no Governo representa as pessoas, a lógica da representação pode
ser:

 Maioritária (ex. norte-americano, inglês): Nos diversos círculos eleitorais, apenas são eleitos os
membros do partido que tiver a maioria, os outros partidos não elegem ninguém. Por exemplo,
numa região é o partido X que elege, mas noutra pode ser o partido Y – a consequência são os
sistemas bipartidários. Pode acontecer que saia vencedor um candidato no qual não votou a
maioria dos eleitores, como também permite que um partido com menos votos tenha a maioria
no Parlamento porque venceu em mais círculos eleitorais. Este sistema propicia uma maior
estabilidade governamental.
 Proporcional (ex. português): A representação proporcional leva à constituição de uma imagem
do eleitorado na qual tomam assento todos os partidos de maior expressão do país. As pessoas
são escolhidas na proporção dos votos que cada partido tiver (𝑥 votos = 𝑦 deputados). Este
sistema, no entanto, devido à grande fragmentação partidária dificulta a formação de Governos
duradouros, não permitindo, por isso, uma grande estabilidade governamental.

Os sistemas eleitorais

Os círculos eleitorais podem ser:

 Uninominais – voto na pessoa. É eleito um deputado por colégio → o sistema será sempre de
representação maioritária. Considera-se eleito o candidato com mais votos.
 Plurinominais – voto no partido. São eleitos vários deputados por colégio → aqui já tem de se
escolher se a representação é maioritária ou proporcional.

Funções dos sistemas eleitorais

1. Expressar em votos (gerar participação) a preferência política do eleitorado.


- Eleger um programa político.
- Exercer influência política.
2. Produzir representação.
- Selecionar as elites políticas e eleger os líderes.
- Aprovar um mandato representativo.
- Refletir o pluralismo da sociedade no seio das instituições políticas.
3. Propiciar governo.
- Criar apoio político que sustente o governo.
- Criar uma oposição parlamentar que controle a ação do governo.
- Estabelecer a orientação geral das políticas públicas.

4. Oferecer legitimidade.
- Legitimar o sistema político, o sistema de partidos e o governo.
- Estabelecer uma comunicação política mediante a interação entre a opinião pública e o poder
político.
- Formar no eleitorado uma cultura política.

Nota: Sabemos que o sufrágio é a essência do sistema eleitoral democrático.

Gerar participação

Esta é a 1.ª grande função das eleições. As eleições são uma forma de levar a comunidade a participar na
resolução de um determinado problema. Quando se está perante um impasse a sociedade é chamada a
participar.

Atualmente a participação política da sociedade não se esgota com as eleições. Hoje os grupos de
interesse e pressão têm cada vez mais poder.

A chamada democracia participativa é uma forma de participação (ex. referendos).

A representação que escolhemos está diretamente relacionada com a seleção que fazemos de
determinadas políticas, ou seja, quando voto não estou apenas a selecionar pessoas, mas também
políticas estratégicas relacionadas com temas essenciais.

Produzir representação

Para sabermos o que significa produzir representação temos que refletir sobre os seguintes tópicos:

• Titularidade.
• Representação.

Quem é o titular do poder nos sistemas democráticos → a sociedade ou povo. (no sentido que lhe é
atribuído no pós-Revolução Francesa)

Através das eleições, a sociedade que detém o poder, entrega a alguém a sua representação no
desempenho das funções inerentes ao poder.

“Eu, titular, entrego o meu poder a alguém que me represente, ao escolhê-lo estou a vinculá-lo à
execução do programa apresentado em função do qual eu escolhi. Esse alguém deve agir em sintonia
com a maioria.”
A diferença entre uma democracia e uma ditadura reside na espontaneidade dos representantes, ou seja,
na liberdade de escolha e na duração temporal dessa mesma representatividade. Numa democracia pode
apelar-se à rotatividade dos representantes.

Propiciar governo

Ou seja, colocar alguém no governo através do voto, que pode ser:

• Direto.
• Indireto (caso Americano).

A alterabilidade das elites que governam é algo proporcionado pelas eleições. Os governantes são
representantes dos eleitores.

O Governo deve estar vinculado ao seu universo eleitoral e ao programa que foi sufragado, deve, por
isso, pôr em prática políticas públicas específicas (saúde, ensino, investimento, etc) que devem ser
consonantes com o desejo manifestado pela comunidade, no ato eleitoral (ao votarmos queremos
creditar uma política).

Quando estou a propiciar um Governo estou também a escolher uma oposição cuja função é,
essencialmente, fiscalizar a consonância da atuação do Governo em relação ao que foi o seu programa
eleitoral.

O Governo, teoricamente, está condicionado à execução das políticas públicas de acordo as prioridades
– o controlo desta execução é também tarefa da oposição.

Oferecer legitimidade

Legitimidade não é a mesma coisa de legalidade.

A governação deve estar conforme com os desejos, objetivos e anseios da comunidade. Os atos do poder
devem estar de acordo com os valores da população, quando isso acontece reconhecemos legitimidade
aos representantes para executarem o poder. Ou seja, a legitimidade do exercício do poder por aquelas
pessoas advém da aceitação da sociedade.

A legitimidade nem sempre se obteve por esta via. Durante muito tempo, nas monarquias a realeza
legitimava tudo, não se contestava.

Nos regimes democráticos, no período pós-eleições ninguém contesta a legitimidade daquele governo,
uma vez que foi nele que foram depositadas todas as expectativas e anseios.

❔ Como se afere a legitimidade do governo no período pós-eleições? Como se pode dizer se o Governo
está a atuar de modo legítimo ou ilegítimo?

Podemos fazer o controlo de forma:

• Objetiva – através dos métodos quantitativos como por exemplo as sondagens (através
das mesmas sabemos qual a % da população que concorda, ou não, com a atuação do
governo).
• Subjetiva – através da análise dos media: TV, Imprensa. (ex. assessores de imprensa dos
governos – conhecem bem as suas manobras e sabem usar as técnicas do meio
comunicacional)

Xavier Torrens diz que: “através das sondagens conseguimos medir a eficácia da atuação da
administração pública”.

Características do sufrágio democrático

 Universal – é a capacidade de todos os cidadãos poderem votar. Existem, no entanto: requisitos;


idade (maioridade); nacionalidade/cidadania; incapacidade (hoje não existem critérios de
incapacidade, mas já existiram (p. ex. os deficientes mentais) para poder exercer o direito do
voto); requisitos de exceção.
↳ Ex.: Na eleição do Presidente da República, no caso português, só podem ser eleitos indivíduos
com mais de 35 anos.
 Livre – a liberdade do voto é dada através: dos princípios constitucionais (expressos na
Constituição) e do pluralismo político.
 Igual – antes dos regimes democráticos a mesma pessoa podia votar mais que uma vez, agora
cada pessoa vale um voto. Esse privilégio era condicionado por algumas especificidades como o
rendimento ou a residência. Isto feria o princípio da igualdade.
↳ Ex. 1: Na Grã-Bretanha, até 1948, a mesma pessoa podia votar mais que uma vez bastava para
tanto possuir propriedades em diferentes regiões para aí poder votar.
↳ Ex. 2: Na Bélgica, até 1919, o número de votos a que a pessoa tinha direito era proporcional à
sua base fiscal.
 Direto – significa que entre o momento do voto e até ao momento de o depositar na urna não
existem intermediários. Não há a possibilidade de o voto ser delegado.
 Secreto – significa que não tenho obrigação de comunicar a minha escolha a ninguém. Garante
que as pessoas sejam inteiramente livres para fazer a sua escolha.

Eleitorado e processo eleitoral

Eleitor → Todos os que têm direito de voto.

Votante → São os que efetivamente exercem o seu direito de voto.

Voto

Nalguns países é obrigatório, noutros não. É um direito ao qual corresponde uma obrigação/dever.

Sufrágio

Dois conceitos:

• Ativo – é a exercitação do direito de voto (é a realização do ato).


• Passivo – consequências do voto que incidem em determinadas pessoas (os eleitos).
No sufrágio ativo existem incapacidades (nas democracias atuais regra geral não existem) ou requisitos
que determinam esse direito são chamados requisitos positivos (características necessárias para poder
exercer esse direito).

Praticamente todos os indivíduos podem votar desde que tenham: idade/nacionalidade/domicílio (é


necessário estar recenseado num determinado colégio eleitoral).

Para ser eleito acrescentam-se alguns requisitos (ex.: para ser eleito Presidente da República é
obrigatório ter mais de 35 anos e é necessário que o indivíduo em causa tenha exercitado o seu dever
cívico – tenha votado). Existe ainda outra incapacidade: a mesma pessoa pode candidatar-se a vários
cargos, mas não pode, de maneira alguma, desempenhar a tempo inteiro dois cargos. Tem de,
obrigatoriamente, optar por um.

Fórmula eleitoral

É o cálculo matemático mediante o qual se distribuem os mandatos, em função dos votos do eleitorado.
Há uma grande variabilidade de fórmulas eleitorais, distribuídas em dois grupos: maioritárias e
proporcionais.
Nota: Proporcionais são mais modernas, surgiram ligadas à extensão dos sufrágios e à democratização
dos sistemas políticas. Existem na maioria dos países da UE. Enquanto as maioritárias estão ligadas às
democracias mais antigas.

Fórmulas maioritárias

• De Maioria Relativa: utilizado nos países anglófonos.


- Princípio do First past the post – 1.º cruza a meta.
- O Partido que obtém mais voto na circunscrição, ganha todos os deputados.
- Esta fórmula aplica-se tanto a circunscrições uninominais como plurinominais.
• De Maioria Absoluta: utilizado em França.
- Pode ser a duas voltas, como em França, ou em votações sucessivas.
- Também pode aplicar-se a circunscrições uninominais ou plurinominais.
• Voto Alternativo: utilizado na Austrália (desde 1919).
- Cada eleitor dispõe de um voto no qual enumera, por ordem, a sua preferência pelos
candidatos numa circunscrição uninominal
- Se nenhum candidato tiver a maioria das preferências, elimina-se o que tiver
menos preferência. Seguindo-se a observação entre os candidatos, no nº de votos
na qual aparecem no 2º lugar.

Fórmulas proporcionais

• Fórmulas de Resto Maior: também conhecida por fórmula de restos mais elevados.
- Calcula-se uma quota.
- Cada partido terá tantos mandatos conforme o número de quotas que tenha ganho.
• Fórmulas de Média Mais Elevada: também conhecida por fórmula de média maior ou de
divisor comum.
- Consiste em dividir o número de votos das diversas listas por uma série sucessiva de
números.
• Voto Único Transferível: Irlanda e Malta; esta fórmula é parecida à do voto alternativo
só que aqui estabelece-se um valor (proporção) para ser eleito.
- Adota a forma de candidatura unipessoal, aplicando-se também em circunscrições
plurinominais.
- Cada eleitor vota num candidato, e pode também assinalar a ordem de preferência no
que diz respeito aos outros candidatos. Para se realizar a distribuição dos mandatos
utiliza-se a Fórmula de Droop (resto maior). Todos os que obtêm o referido coeficiente
são eleitos.
- Se, depois desta distribuição, ficarem por atribuir mandatos, procede-se à distribuição
dos votos sobrantes dos candidatos já eleitos para os candidatos assinalados em 2.º
lugar.

O Método d’Hondt é o que mais se aproxima do sistema maioritário, ou seja, com este
método é mais fácil atingir a maioria. Não beneficia os pequenos partidos, logo quem
acaba por ser beneficiado são os maiores.
O Método Sainte-Lague beneficia os pequenos partidos sendo por isso mais difícil
atingir as maiorias absolutas.

Relação entre representação maioritária ou representação proporcional

O sistema proporcional cresceu em meados do século XX, e foi escolhido em Portugal em 1974 para
suceder ao sistema maioritário.

Até ao séc. XX, o sistema maioritário era o mais utilizado. Nas democracias mais antigas (UK, EUA,
França) este método mantém-se.

A escolha da representação maioritária facilita a existência de maiorias governamentais → o valor que


está subjacente a este sistema eleitoral é a estabilidade governamental.

A lógica dos sistemas proporcionais valoriza a equidade → pressupõe que todos devem estar
representados. O critério de justiça e equidade está mais presente uma vez que as minorias têm maior
possibilidade de se fazerem representar.

Nos sistemas maioritários o eleitor limita-se a exercer o seu direito de voto. Nos sistemas proporcionais
é reconhecida uma maior dignidade ao eleitor para além de também se lhe reconhecer o direito de
escolha/eleger. (dito por Jorge Miranda)

A escolha tem a ver com o contexto sociopolítico do país.

Em 1951, Maurice Duverger, politólogo francês diz que os sistemas políticos e os sistemas eleitorais têm
relações de causa/efeito a três níveis:

1. A representação proporcional provoca a existência do multipartidarismo, ou seja, de vários


partidos e independentes - quer isto dizer que não podem fazer coligações.
2. A representação maioritária a uma volta provoca a existência do dualismo partidário rígido - ou
um ou outro partido.
3. A representação maioritária a duas voltas provoca um multipartidarismo temperado e com
alianças – na 1.ª volta temos vários partidos e na 2.ª volta temos partidos coligados.

10 anos mais tarde, Douglas Rae (inglês) vêm dizer que Duverger tem razão, mas que conjuntivamente
às suas regras, e apenas para as complementar, devem ser acrescentados dois princípios:

1. Regra geral, todos os sistemas eleitorais (uns mais que outros) beneficiam os grandes partidos e
penalizam os pequenos.
2. Consoante a dimensão dos círculos eleitorais, os partidos mais pequenos podem ser, ou não,
beneficiados. Pois que:
- Se o círculo é pequeno a hipótese de elegerem representantes é reduzida.
- Se o círculo é grande a hipótese de elegerem representantes é maior.
Ou seja, a probabilidade de serem eleitos aumenta à medida que o círculo eleitoral aumenta.

Gerrymandering (o conceito subjacente a esta palavra é muito importante)

A escolha do próprio traçado das circunscrições eleitorais não é inocente – essa escolha ajuda a eleger
os candidatos num determinado sentido. A escolha é estratégica uma vez que pode condicionar os
resultados eleitorais.

Ainda relacionado com a circunscrição:

• Quanto maior for a circunscrição (em termos humanos) mais fácil é um representante de um
pequeno partido ser eleito.
• Quanto menor (com poucos eleitores) for a circunscrição mais difícil é um representante de um
pequeno partido ser eleito.

↳ Ex.: Na Madeira existiam vários círculos eleitorais, agora só existe um – os votos são todos
somados e depois convertidos em mandatos –, o que permitiu que um partido pequeno (PND) e
com pouca expressão tenha conseguido eleger um deputado regional, o que dificilmente
aconteceria nos círculos eleitorais mais pequenos.

Nota: Qualquer adequação dos círculos eleitorais vai prejudicar os pequenos.

Caso português

O sistema eleitoral já oscilou entre várias hipóteses:

 Até 1859 e de 1895 a 1896 – vigorou a representação maioritária com sufrágio plurinominal.
 De 1859 a 1884 – sufrágio uninominal.
 De 1884 a 1901 – sistema misto de colégios uninominal e plurinominais.
 De 1901 a 1910 – sufrágio plurinominal com listas incompletas.

Com a Constituição de 1911 o sufrágio foi misto.


O Partido Republicano pretendia que em todos os círculos eleitorais fossem eleitos representantes de
outros partidos, por isso, o sistema eleitoral que vigorava não era único no país:

• Nos grandes centros (Lisboa e Porto) vigorava o método proporcional.


• Nas outras regiões, onde o republicanismo tinha menos apoiantes, vigoravam os círculos
plurinominais incompletos – permitia aos pequenos partidos eleger representantes, protegendo
as minorias. Ex.: a região elegia 5 representantes, mas os partidos só podiam apresentar 4
candidatos. Isto permitia que mesmo que os 4 fossem eleitos pelo mesmo partido, um seria
sempre eleito por um partido mais pequeno.

Finalmente, a Constituição de 1976 consagrou o princípio da representação proporcional com caráter


geral.

A política como processo (contexto). A socialização política.

PROCESSO = Pró + cedere → caminhar de maneira organizada num determinado sentido.

O processo é uma organização sistemática de uma dinâmica. Significa isto que devemos entender a ação
política numa lógica sistematizada e organizada, ou seja, perceber que na política não há acasos, tudo
está planeado.

Há uma altitude de sobreposição de normas.

O sujeito político e respetiva circunstância. → este sujeito é integrado no espaço.

• Um cidadão que vota, um periodista que opina ou um político que decide → são indivíduos
equipados com atitudes, valores e orientações ideológicas.
↳ É este “equipamento” que os capacita e orienta quando se lhes reclama uma reação política.
↳ Estas atitudes políticas não acompanham o sujeito desde o seu nascimento. Não são inatas,
mas são assumidas e incorporadas ao longo da sua existência. Cada sujeito político tem uma
série de limites e oportunidades.
↳ Não se toma consciência política de forma súbita e completa. Cada um de nós vai construindo
e modificando a ideia global de política.
↳ Nela temos em conta imagens, crenças, predisposições, ideias, entre outras coisas, que nos
levam a situar na cena política e a desempenhar determinado papel.

Socialização política

• É o processo de aquisição e transformação de crenças, atitudes, valores e ideologias que cada


indivíduo experimenta ao longo da sua vida.
• O sujeito interioriza elementos do seu envolvimento e constrói a sua própria personalidade
política.
• Socialização política ≠ aprendizagem política.
↳ processo informal, ↳ o oposto.
fragmentário, difuso,
pouco consciente.
Elemento básicos adquiridos com a socialização política

 Ideia geral de política como atividades, alguns significados: confusão, serviço, liberdade,
competência.
 Perceção do próprio papel do sujeito no cenário político: decisivo, secundário, marginal,
insignificante → traduzindo-se numa atitude de interesse, simpatia, antipatia, entre outros.
 Identificação com alguns grupos: classe, religioso, étnico.
 Ligação a alguns patamares. Dimensão originária que a política dá, como esquerda, progressista,
conservador, laico.

Etapas da socialização política

Como já se disse, o processo político desenrola-se ao longo da vida, não de modo repentino e total, mas
parcial e por etapas.

 Socialização Primária: Desenvolve-se desde a infância até à entrada na vida ativa. Nesta fase
recebem-se crenças, atitudes políticas básicas, tais como:
1. Consciência de autoridade.
2. Identificação com um coletivo mais amplo que a família, aldeia, vila, cidade, estado.
3. Gradual consciencialização das diferenças ideológicas e partidárias: assume-se o “nós” e
os “outros”.
4. Consciência genérica dos resultados que nos concede o sistema político: proteção,
segurança, serviços pessoas, entre outros.

Mais à frente aparecem outros elementos:

1. Tomada de posição face aos líderes políticos, temas e partidos;


2. Distinção entre papéis institucionais e as pessoas que os desempenhas.
3. Adoção de atitudes de interesse ou desinteresse.
 Socialização Secundária: também classificada como [re]socialização (acontece já na idade
adulta), onde as experiências pessoas ou coletivas contribuem para confirmar ou retificar os
conteúdos adquiridos durante a socialização primária. Quando as novas experiências são
consonantes com as da socialização primária, ocorre uma sedimentação dos valores adquiridos.
Pelo contrário, quando existe uma completa oposição, dão-se modificações substantivas. Entre
as experiências da idade adulta merecem destaque: mudança da situação familiar e experiências
históricas. Não existe uniformidade de opiniões sobre o impacto superior da socialização
(primária ou secundária).

A comunicação política e opinião pública

Política e comunicação: uma relação inevitável

“A inflação baixou nos últimos meses.”

“O governo aprovou as linhas básicas de uma nova política educativa.”


- Torna-se imperioso perceber que os cidadãos têm uma experiência políticas indireta, que lhes
chega através da comunicação.
- Importa perceber que a política, como qualquer ato social, quando se quer reivindicar, persuadir
ou mobilizar necessita de comunicação → os antigos associavam a política à retórica (arte de
persuadir).
- Karl Deutsch identificou o sistema político como um sistema de comunicação.

❔ Que entendemos por comunicação política?

Intercâmbio de mensagens que acompanha a tomada de decisões vinculativas sobre conflitos de


interesse coletivo.

Comunicação está presente:

o Na expressão de disputas.
o Na definição da questão que é objeto do conflito.
o Na elaboração e negociação de propostas de intervenção.
o Na mobilização de apoios para cada uma das propostas.
o Na adoção e aplicação de uma delas.

Processo de comunicação e suas componentes

O processo ideal de comunicação política deve incorporar como elementos:

- Emissor;
- Recetor;
- Mensagem;
- Canais de transmissão e retroalimentação.

O emissor:

• Seleciona o conteúdo e formato da mensagem, o destinatário da mesma e o canal de


transmissão.
↳ P. ex.: um político para ganhar apoios para determinada proposta política, pode fazê-lo no
Parlamento entrevista na rádio ou TV, anúncio comercial, entre outros.
• Podem ser emissores, os cidadãos a título individual, grupos organizados e/ou os seus
representantes ou titulares de autoridade pública.
• Pode fazê-lo por carta, visita às autoridades, atos reivindicativos, petição, entre outros.
O recetor:

• Em teoria é o destinatário principal. Porém, a mensagem alcança sempre outros recetores.


↳ P. ex.: quando um líder se dirige aos seus seguidores, as palavras são sempre recebidas
(percebidas) pelos seus adversários.

A mensagem:

• Contém informação em sentido amplo: dados, opiniões, argumentos, sentimentos, valorações,


críticas, entre outros.
• Importa frisar que o conteúdo da mensagem tem muito de interpretação por parte do recetor.
Daí, p. ex., o apelo ao patriotismo, antifascismo, etc.
• Dão assim a entender que paira um determinado perigo sobre os recetores.
• Estas mensagens podem ser expressas através da palavra ou do gesto.
• Importante também a mensagem da imagem, p. ex. o hino ou outro tipo de imagens.

O canal:

• O canal mais simples é o contacto pessoal, direto. Porém, quando se torna um exercício de
massas são os meios de comunicação social.
• Entende-se que é a forma de atingir um maior número de recetores.
• Ao longo da história recorreu-se aos diversos meios.
• Século XIX: imprensa sobretudo diária. Depois, o telégrafo e o telefone → favoreceram a
comunicação instantânea, em temos real.
• Século XX: desde os anos 20, a rádio; fins da década de 50, a televisão; década de 90, a internet
→ levaram para a globalização da informação
• Caminhou-se para aquilo que MacLuhan apelidou de “aldeia global”. Porém, continuam a existir
desigualdades entre as diversas zonas. P. ex.: em Tóquio existem mais linhas de telefone do que
em todo o continente africano.

No processo de comunicação, a retroação pode ser realizada através do modelo telégrafo ou do modelo
orquestra.

 Modelo telégrafo: A comunicação concebe-se numa relação linear. Os emissores elaboram e


emitem a mensagem que é recebida e decifrada pelo recetor. Existem, por conseguinte, “ruídos
ambientais”. A comunicação é entendida como um exercício bilateral.
 Modelo orquestra: A relação é mais complexa. Nela intervém uma multiplicidade de atores que
emitem mensagem simultâneas que são acessíveis em tempo real e são reinterpretadas pelos
recetores que podem intervir de novo. A comunicação assemelha-se a um concerto de uma
orquestra. Pode até dizer-se que é parecido a um conjunto de jazz em que cada instrumentista
tem a sua abordagem e replica aos outros instrumentos. Existem, por conseguinte, diversos
atores e vários canais de comunicação.
Comunicação individual e Comunicação de massas

- A comunicação política pode conceber-se como uma relação entre indivíduos. Cada um
participa nela com filtros de predisposições, seleciona e interpreta as fonte e retém também
seletivamente as mensagens. Cada um atende preferencialmente a alguns emissores.
- Porém, a comunicação também se desenvolve em grupo. Neste contexto, alguns atores
selecionam, interpretam, reelaboram e reemitem estas mensagens para os seus círculos e
contactos.
- Assim, o fluxo da comunicação desenvolve-se em duas etapas:
1. Do emissor para o líder de opinião.
2. Do líder de opinião para o contexto (grupo) em que este se encontra.
- Podem também desenvolver-se num âmbito mais amplo. Por exemplo, um articulista de um
jornal ou o condutor de um programa de rádio e/ou televisão tem o seu raio de influência
bastante alargado.
- O papel dos chamados líderes de opinião é reconhecido pelos emissores das mensagens, porque
sabem que eles têm capacidades para multiplicar a difusão das mesmas.
↳ P. ex.: uma associação de moradores que chama a TV. Ou, ainda, um líder político que em
campanha eleitoral se reúne com os dirigentes sindicais e/ou entidades patronais.
- Nestes casos, os emissores procuram ampliar a eficácia das suas mensagens. Assim, qualquer
análise do processo de comunicação deve ter em conta os intercâmbios individuais e de grupo.

Novas tecnologias e comunicação em rede

• As tecnologias de informação e comunicação (TIC) desenvolveram-se nos finais do séc. XX. Esta
ocorrência teve consequências ao nível da comunicação política. A WWW (internet) facilitou o
desenvolvimento duma rede permanente e a multilateralidade, pois:
o Os partidos e organizações sociais têm a sua página web, assim como blogs individuais,
páginas de jornais, etc.
o As mensagens com impacto político que são produzidas pelos atores financeiras,
industriais, etc.

❔ Qual a importância efetiva desta rede? Condiciona ou liberta?

O acesso a estes novos meios não está à disposição de todos. Existe assim uma divisão entre os que têm
a capacidade de acesso e os que não têm → existe uma desigualdade digital.

Os efeitos da comunicação de massas (3 visões)

O impacto da comunicação de massas converteu-se em tema de reflexão a partir de 1920, pois percebeu-
se o papel das novas tecnologias (ainda principiantes) como o cinema e a rádio na propaganda política
dos acontecimentos próximos: como a 1.ª Guerra Mundial, Revolução Bolchevique Russa de 1917, a
implantação do nazismo na Alemanha nos anos 20/30 do séc. XX

1. O papel do emissor é fundamental, as massas são um elemento passivo. Precisamente em 1939,


Tchakotine publicou um livro com o título “A violação das massas”. Nele alertava para o perigo
dos demagogos usarem a comunicação a seu favor.
2. Depois criticou-se esta ideia dizendo que o recetor não é passivo. Defende-se, então, que o
recetor tem uma palavra, pois busca o que quer → é cúmplice da comunicação. A comunicação
limita-se a fortalecer as atitudes e opiniões prévias do sujeito.
3. Atualmente, com o desenvolvimento do audiovisual, passou-se do conteúdo para a forma de
transmissão desse conteúdo. O importante não é a mensagem, mas o meio de a transmitir. Por
esta razão, deve ter-se em conta as variáveis do processo de comunicação, como a visualização,
espetacularidade, brevidade e personagem. Com a televisão condiciona-se a forma do perceber e
compreender a política. É um combate entre personagens telegénicas. Quem não cumpre as
condições impostas pela comunicação social é marginalizado.

Espetacularização da Política e a fixação da agenda

• Os meios audiovisuais alteraram o panorama da comunicação política. Limitaram


progressivamente o papel da imprensa escrita.
• A própria imprensa adotou a forma de agir, valorizando a espetacularidade, a personalização e a
simplificação. A omnipresença dos meios de comunicação – rádio e TV – aumenta essa aptidão
para configurar o cenário político. Daqui a teoria da agenda-setting ou da ordem do dia.
• São os meios de comunicação que muitas vezes fixam as prioridades da atenção dos políticos
selecionando questões e insistindo sobre elas.
↳ P. ex.: quando há alguns anos atrás se interrompeu a entrevista de Santana Lopes para
noticiar a chegada de José Mourinho ao aeroporto da Portela, vindo de Londres onde se sagrara
campeão inglês pelo Chelsea.
• Porém, nem sempre o público se ajusta. O caso Mónica Levinsky marcou a agenda política entre
1998 e 1999, com os meios de comunicação a valorizarem negativamente a relação e a opinião
pública a distinguir o erotismo e a atividade política do Presidente Clinton.
• Nas sociedades atuais, os meios de comunicação têm uma intervenção bastante intensa na
política → diríamos até de primeiro plano. Logo, os atores políticos, na sua qualidade de
emissores-recetores, têm de perceber esta realidade.

Espetacularização da Política e a fixação da agenda

❔ Como se relaciona a opinião de um cidadão ou de um político com as suas atitudes ou predisposições


políticas?

→ A opinião equivale a uma tradução verbal de uma atitude num dado momento. Com a
manifestação verbal torna-se percetível uma predisposição anterior.

❔ Porém o que denominamos opinião pública?

→ Opinião pública remete-nos para um fenómeno coletivo. Quando falamos de opinião pública
referimo-nos a uma determinada distribuição das opiniões individuais no seio da comunidade que adota
uma determinada inclinação perante as mensagens recebidas dos meios de comunicação.

→ Portanto, opinião pública não equivale a opinião unânime de uma comunidade. A opinião
pública revela um caráter segmentado e daí a necessidade de se analisar detalhadamente.
Deve, portanto, distinguir-se:

 Cultura política: descreve a pauta estável de atitudes básicas que duram no tempo.
 Opinião pública: é a reação do sistema de atitudes face a elementos circunstanciais da política –
propostas, personagens, etc.

Daí a opinião pública ser um fenómeno que muda.

É através da análise das suas variações que se observa se as mensagens reforçam ou alteram os estados
de opinião anteriores. É por isso que se dá muita importância aos estudos de opinião.

Inquéritos e sondagens

 Inquérito: estudos de opinião sobre temas de maior envergadura, p. ex. o que pensa uma
comunidade sobre a imigração.
 Sondagem: prospeção breve sobre assuntos da atualidade, p. ex. intenção de voto.

❔ Que trazem de novo ao conhecimento da opinião pública?

o Caso se reconheça a importância da opinião pública é necessário averiguar: onde e como que se
expressa essa opinião pública?
↳ Nas democracias é, sobretudo, no momento das eleições.

❔ E como se afere nos intervalos entre dois momentos eleitorais?

o Durante o último século e meio a imprensa e os audiovisuais ajudaram nesta tarefa. Oferece-se
a tribuna a personagens relevantes da sociedade.
o Assim, conjugava-se a ação de periodistas, intelectuais e professores (opinion makers). Era o
chamado olfato político.
o Presumia-se conjuntamente que os políticos sabiam recolher, analisar e avaliar os indícios que
recolhiam nos seus frequentes contactos com os grupos e indivíduos.
o Neste sentido, a opinião pública não é mais do que uma reconstrução fabricada por um setor da
sociedade.
o Designa-se também por opinião publicada.
o Deve distinguir-se de opinião pública: o que é que verdadeiramente pensam os homens e as
mulheres de uma comunidade política?
- Para resolver este dilema, há vários anos que se recorre a inquéritos e sondagens de opinião.
São instrumentos centrais de comunicação política que existem nas democracias liberais.
- Pretende-se, assim, averiguar as orientações dos cidadãos sobre determinadas questões.

Na década de 30 (séc. XX) George Gallup estendeu à política o uso das sondagens de opinião que já
vinha exercendo sobre os produtos comerciais. A partir de 1960, estes estudos começam a generalizar-
se. Na atualidade, a combinação de sondagens e inquéritos, com a imprensa, TV e outros, converteu-se
numa das armas da comunicação política mais utilizada.

Importante: se as sondagens respeitarem os requisitos básicos, podem obter resultados fiáveis.

Problema: a amostra ser estatisticamente representativa.


Convém frisar que o recurso aos inquéritos e sondagens compensam a voz excessiva de alguns setores
ou grupos com maior expressão pública.

Os estudos de opinião oferecem aos cidadãos anónimos a oportunidade de expressarem também as suas
convicções e expectativas.

Atores políticos

A dinâmica/relação política pode ser feita de várias maneiras e dois níveis diferentes:

 Nível individual: a ação política pode ser feita a vários níveis, p. ex. votar a favor ou contra,
abstenção e discussões em família → são formas de manifestação política individual.
 Nível de grupo: a ação política de grupos tem também uma forte gestão individual, pois cada
vez mais a ação política individual tem influência dentro de um grupo.

Quer seja a nível individual ou de grupo, a ação política prende-se, regra geral, com a gestão de
conflitos → o que está em causa é a gestão da própria sociedade e a sua dinâmica.

A ação política individual e de grupo está condicionada pela formação pessoal.

A ação política não tem nada de amadorismo ou de acaso. Logo, a de qualidade é difícil a nível
individual e como tal, cada vez mais tem de ser inserida num grupo → porque por si só tem pouca
força.

O sucesso/peso da ação política é completamente diferente se for feita a nível individual ou de grupo.

❔ A nível da participação individual, qual a razão pela qual uns participam e outros não?

• Tendo em conta estudos empíricos, nomeadamente inquéritos, existem vários fatores que
condicionam positiva ou negativamente a participação política, a saber:
- Idade (juventude);
- Sexo/género (mais homens que mulheres);
- Instrução;
- Posição profissional (destaque para sindicalistas);
- Fatores pessoais (aparência).
Classificação das atividades políticas individuais convencionais

Atividade política de grupos

A forma de ação política ao nível dos grupos é a que tem mais impacto e importância. Neste âmbito
destacam-se:

- Partido políticos
- Grupos de pressão.

❔ Grupos de pressão e grupos de interesse: são a mesma coisa?

• Há quem diga que são conceitos diferentes, mas há também quem considere que são
coincidentes. Portanto importa distinguir, em termos conceptuais, grupos de pressão e grupos
de interesse.
• Para a formação/existência de qualquer grupo destes é necessário que exista consciência de
grupo, isto é, exista um denominador comum → algo que os una. É fundamental que os
elementos do grupo tenham noção que têm interesses comuns, isto é, precisamente o que
acontece com os partidos.
• A verdade é que existem aspetos comuns entre eles, ou seja, existem elementos unificadores,
como p. ex. a religião, a profissão ou a região de origem.

Em 1963 Jacqueline de Celis escreveu que: “Um grupo de pressão é sempre um grupo de interesses, mas
um grupo de interesses nem sempre é um grupo de pressão.” (Sindicato = grupo de pressão)
Hoje, a maior parte dos autores consideram que a grande diferença entre os dois grupos reside nos
objetivos:

 Grupos de pressão: associações que exercem pressão sobre o Poder Público. Pretendem, com as
ações que intentam, que os seus objetivos sejam atingidos, nem que para isso a Lei tenha de ser
derrogada/tenham que mudar o quadro legal. Todos são de interesse.
 Grupos de interesses: atuam na esfera da vida privada. Pretendem fazer valer a sua
perspetiva/atingir os seus objetivos, mas dentro da norma legal vigente/não exigem a alteração
do quadro legal. Nem todos são de pressão.

Nos EUA, a atuação dos grupos de pressão é chamada de lobby (hall de entrada).

Fazer lobbying – esta era uma ação que se fazia frequentemente nos corredores dos parlamentos. É a
atividade de influência, ostensiva ou velada, por meio da qual um grupo organizado, por meio de um
intermediário, procura interferir diretamente nas decisões do poder público, em especial do poder
legislativo, em favor de causas ou objetivos.

• Técnica cada vez mais utilizada pelos grupos de pressão.


• Lobbys, por vezes, confundem-se com grupos de pressão porque estes também se movimentam
nos corredores. No entanto, os grupos de pressão usam outras técnicas para além desta.

❔ O que é uma ação de pressão?

o É toda a ação realizada junto de uma autoridade para influir sobre as suas decisões através de
métodos apropriados. P. ex. pode ir desde as manifestações até ao “cafezinho/jantarinho”, etc.

As ações dos grupos de pressão são diferentes consoantes os regimes:

• Regimes democráticos – pluripartidários.


• Regimes monistas/totalitaristas – regimes de um único partido.

Não há pluralidade de atores políticos. Os principais grupos de pressão dos regimes monistas são os
movimentos estudantis, aliás são praticamente os únicos.

Estes grupos devem ter denominadores comuns, ou seja, estes grupos têm motivos de agregação
diferentes.

- Juvenis (ser jovem).


- Feministas (ser mulher).
- Anti-apartheid (cor de pele).
- Situação económica (ex. CAP – agricultura, CIP – indústria).
- Preocupações comuns como p. ex. religião, ecologia.
Partidos políticos

Os partidos políticos diferem dos grupos de pressão e de interesse porque são organizações regulares e
permanentes. No entanto, a característica mais vincada que os difere é o facto dos partidos políticos
lutarem pela aquisição, manutenção e exercício do poder político. → não se limitam a influenciar o
poder, querem conquistá-lo.

Existem dois conceitos para definir partido político:

 Amplo: antigamente (final séc. XIX), os partidos políticos eram um conjunto de pessoas que se
juntavam para tentarem atingir o Poder, ou seja, reuniam as duas primeiras características
(associação e intervenção) mas faltavam aqui dois elementos essenciais – a militância e um
programa que tivesse como objetivo o interesse geral. Normalmente estes partidos assentavam
numa figura conhecida e com prestígio (é por isso que as pessoas votam neles). Estes partidos
não crescem porque não conseguem angariar militantes e por isso definham.
↳ Ex. destes partidos é o Partido Nacional Republicano, também chamado de Partido Sidonista:
foi um partido político português do tempo da I República, centrado em torno do seu líder
Sidónio Pais.
 Restrito ou particular: um partido político é uma associação de pessoas que têm em vista uma
intervenção (neste sentido é um autêntico grupo de pressão), mas que adquire duas
características que os diferem dos grupos de pressão – têm um programa eleitoral e devem
contar com apoio popular, cada vez maior. Então, um partido político deve corresponder a estas
quatro características: associação, intervenção, programa eleitoral e apoio popular (militância).
Atualmente, dada a especificidade programática, alguns partidos concentram o seu eleitorado
em algumas regiões do país (sul ou norte). Para além destes os partidos regionalistas (Bascos e
Catalães) e depois os partidos com nome nacional, mas como autonomia estatuária (regiões
autónomas).

Políticas públicas

Tal como já frisámos, a política é encarada em três dimensões: organização, atividade e resultado.

Na ação política entrecruzam-se uma multiplicidade de interventores, pretende-se produzir resoluções e


não-decisões. Neste caso, procura-se paralisar algumas decisões. Por sua vez, nas decisões existe uma
dimensão vinculativa, procurando-se obter certos resultados.

A combinação das decisões e não-decisões constitui o amago das políticas públicas.

❔ O que é a política pública?

o Na perspetiva sistémica, o resultado da atividade política será um output.


o De forma mais sistemática, pode definir-se como um conjunto de inter-relacionado de decisões
e não-decisões que tem como foco uma determinada área de conflito ou tensão social.
o Trata-se das decisões adaptadas formalmente no marco das instituições públicas → confere-se-
lhes a capacidade de obrigar.
Numa dimensão mais geral, entende-se por política monetária. Porém, entendendo-a numa dimensão
mais específica, relaciona-se com as políticas setoriais. Uma especificidade importante é que as políticas
públicas tratam essencialmente do bem-estar das comunidades. Têm em vista a coesão das sociedades
complexas.

Políticas públicas e coação

A incorporação de uma certa dose de coação e de obrigatoriedade é uma característica importante das
decisões que classificamos de políticas públicas.

Trata-se de determinações que têm um caráter impositivo sobre a comunidade e que derivam da
autoridade que tem legitimidade política.

A componente coativa manifesta-se:

o Diretamente obrigando-se a uma conduta.


- Políticas Regulativas. (a limitação ou coerção (reprimir) exerce-se sobre os indivíduos)
- Políticas Redistributivas. (a limitação ou coerção (reprimir) exerce-se sobre toda a
comunidade)
o Indiretamente não se obriga a adotar uma conduta precisa.
- Políticas Distributivas – concessão de subsídios. (a limitação ou coerção (reprimir) exerce-se
sobre os indivíduos)
- Políticas Institucionais – regras a que devem submeter-se as atividades públicas. (a limitação
ou coerção (reprimir) exerce-se sobre toda a comunidade)

Processo: Formação da Agenda

1.º Os grupos de interesse e partidos.

2.º Parlamento examina.

3.º O executivo toma a responsabilidade.

4.º As administrações e tribunais.

5.º Valorização das consequências.


↳ Quatro etapas no processo de elaboração e aplicação das Políticas Públicas

1.ª Iniciação: construção do problema.

2.ª Elaboração: formulam-se alternativas.

3.ª Implantação.

4.ª Avaliação e sucessão.

→ Em cada uma destas etapas colocam-se várias questões.

O processo arranca a partir de uma situação problemática que provoca um certo grau de tensão ou
controvérsia. Um problema coletivo é sempre uma construção social, não é um dado objetivo.
Importante é a conversão do problema em merecedor da atenção política.

❔ Quais os fatores que favorecem a incorporação de um problema na agenda política?

a. Emergência imprevista – catástrofe.


b. Dimensão da população implicada.
c. Capacidade organizativa dos implicados e a sua proximidade aos centros institucionais, ex.
ligação aos media e aos partidos políticos.
d. Impacto dos recursos emocionais (ideia de solidariedade).

Elaboração e seleção de políticas

❔ Como se elaboram os projetos de políticas públicas?

o 1.º Modelo: Processo de racionalidade máxima.


Resultado: seleção da proposta que oferece resultados mais satisfatórios ao menor custo
possível.
o 2.º Modelo: Processo de racionalidade limitada.
Aceita-se que a definição do problema é imperfeita e que é impossível que o cálculo seja
inatacável. Admite-se que em nenhum caso será possível satisfazer todos os interessados. Por
isso, é necessário negociais com as partes os efeitos aceitáveis. Deseja-se chegar a resultados
razoáveis.
o 3.º Modelo: Processo de negociações permanentes – incremental ou compromissório.
Não se pode falar em racionalidade na adequação entre os meios e os fins. Não há uma
coincidência entre os meios e os fins. Os atores vão manobrando em função do momento e com
visões parciais. Vão-se formando acordos momentâneos.
É conhecido pela arte do muddling through – desenredar-se, desenrascar-se.
o 4.º Modelo: Apenas existe relação entre fins e meios.
Isto porque os fins são ambíguos ou confusos para a parte dos atores e os instrumentos são
discutíveis para os participantes.
A adoção de uma política acaba por ser o mero resultado de uma coincidência causal entre os
problemas que buscam solução e os participantes que procuram uma solução.
Este modelo também é conhecido por garbage can – coisas sem valor, detritos.

Atores do processo

1. Modelo linear – segundo esta proposta, os grupos de interesse e partidos canalizariam as


procuras e delimitavam as questões → incorporavam-nas na agenda → o parlamento discutia-
as e os governos executavam-nas.

2. Modelo triangular – identificam-se três atores coletivos principais que formam um “triângulo de
ferro”.
a. O(s) grupo(s) de interesse(s) mais afetados pela problemática.
b. Os representantes parlamentares mais estritamente vinculados ao assunto.
c. Os membros da burocracia (experts – especialistas) que mais conhecem sobre o assunto.
3. Modelo da rede de atores – diferenças em relação aos anteriores: um número mais amplo de
atores e a existência de relações multilaterais. A existência de atores múltiplos e relações
recíprocas constitui uma policy network ou policy community.
↳ No exemplo da política de transportes, os atores seriam: políticos, burocratas especializados,
grupos de interesses (construtores), meios de comunicação, especialistas, etc.
A noção de comunidade ou rede revela uma dupla faceta:
- Formal: relações institucionais.
- Informal: relações pessoais.

Implantação das políticas

- Depois de aprovada uma determinada política, passa-se à fase de implantação (ou


implementação).
- Em regra, as administrações aplicam sem grande contestação as decisões sobre as políticas
públicas.
- Outra coisa é o cumprimento dos objetivos que estão subjacentes a essa política e à sua própria
execução. Pois:
o Falta de dotação.
o Não terem em conta os seus verdadeiros operadores (médicos, professores…).
o Ciclo económico.
o Opinião.
o Ambiente.
- Uma implantação deve ser feita da base para o topo (bottom-up) e não de cima para baixo (top-
down).
- O executor deve saber adaptá-la a cada momento, p. ex. no caso da segurança dos cidadãos deve
ter em conta os agentes locais.

Avaliação das políticas

- Em regra, no debate sobre as políticas pretende-se fazer uma avaliação. Porém, como se disse,
existe um intercâmbio entre os vários atores políticos. Pois há:
o Avaliação subjetiva – ex. Cimeira de África/EU.
o Avaliação objetiva – indicadores.
▪ Output – ações desenvolvidas
▪ Outcomes – impacto das ações sobre a vida social (p. ex. taxa de mortalidade
infantil).

❔ A quem compete avaliar?

↳ Deve perceber-se que as políticas públicas são matérias, por natureza, sujeitas a controvérsias.

Estilos e ideologias

As políticas públicas também estão condicionadas pela natureza ideológica dos decisores (partidos no
governo) e do próprio líder, quando este deseja impor a sua figura ou tem já uma afirmação efetiva.

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