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Para as mulheres por aí, assim como Ava (e eu), que

frequentemente apertam seus grandes sentimentos com força


no peito. Encontre as pessoas que permitem que você as deixe
sair, as que encontram suas emoções com amor e aceitação.

E para aquelas pessoas na minha vida – você sabe quem é.

Obrigado.
ISSO PODE PARECER difícil de acreditar, mas uma vez que você
tenha visto um jogador de futebol nu, você já viu todos eles.

Não, é sério.

A primeira vez que eu entrei em um vestiário - uma estagiária


de faculdade de rosto rosado - eu estava completa e totalmente
despreparada para a quantidade de bundas que eu encontraria. E
não foram nem mesmo as bundas ou a maneira descarada como
andavam por aí cem por cento nus, mas o fato de que eu estava em
pé em meio a homens que ganhavam milhões de dólares afiando
seus corpos em máquinas perfeitas de força e músculos.

Por favor, permita que sua imaginação vagueie da maneira que


a frase projetou.

Só uma vez eu me permiti uma olhada total nos abdomens. E


peitorais e bíceps. E... todo o resto. Nenhum deles viu minha baba ou
o jeito que meu queixo praticamente se desequilibrou, graças ao
fantasma sagrado de Vince Lombardi no paraíso do futebol, porque,
se eles tivessem notado minha reação daquela primeira vez, eu
nunca teria chegado tão longe.
Avançando seis anos, sendo gerente de relações públicas dos
Wolves1 de Washington, pude andar em um vestiário com três
dúzias de homens nus e nem piscar.

—Você me deve uma aquisição do Twitter, Robinson, — eu


disse ao nosso mais novo receptor. Quando ele sorriu, relaxando
preguiçosamente o peito largo, eu nem sequer pisquei. —Você
deveria começar quinze minutos atrás. Onde diabos você estava? As
pessoas estão fazendo perguntas e eu não quero perder nosso
público; caso contrário, sairemos dos Trending Topics.

Eu recebi algumas piscadas confusas antes que ele finalmente


decidisse puxar as cuecas boxer para cima.

—O treinador me fez correr algumas voltas extras. — Ele deu


de ombros, me mostrando as costas fortemente tatuadas antes de
puxar uma camiseta sobre seu corpo. —Eu não posso dizer
exatamente a ele que estou pronto para sair. Eu sou o cara novo.

Era o período de baixa temporada, mas isso não significava


merda nenhuma, pelas horas que todos trabalhávamos.

—Quanto tempo até você estar pronto para ir?

—Não sei. O treinador quer que eu vá falar com ele depois que
eu me vestir.

Estreitando os olhos para ele, uma das minhas armas mais


eficazes contra homens que eram maiores, mais fortes e muito mais

1O Wolves é lobo em português. Mas como é um clube de futebol mantive o nome desta forma. E este é o emblema.
intimidantes que os meus cinco, seis anos de time, tive a satisfação
de ver ele se mexer desconfortavelmente.

—Tudo bem, — eu disse depois de um longo silêncio. —Me dê


seu login no Twitter, e eu farei isso.

—O quê? — Ele gritou. —Você não pode fazer isso, pode?

Um dos jogadores veteranos, Dayvon, passou por nós, piscou


para mim e deu um tapa na parte de trás da cabeça de Robinson. —
Ela com certeza pode. — Ele riu baixinho quando Robinson - eu
ainda não conseguia me lembrar do seu primeiro nome - esfregou o
local em seu couro cabeludo que provavelmente estava machucado
pelos punhos do tamanho de presuntos de Dayvon.

Minha voz se acalmou, e eu me certifiquei de dar um tapinha


gentil em seu braço. —Eu prometo, não verifico os DMs ou respondo
a qualquer coisa, exceto a hashtag da aquisição, ok? Você pode
alterar sua senha assim que eu terminar.

Seus olhos escuros ainda estavam céticos, e eu exalei


pacientemente.

—Sem DMs2? — Ele disse depois de um segundo.

—Sem DMs, — eu assegurei a ele. E eu quis dizer isso. Tremor


interno. Não havia muito que eu odiasse sobre o meu trabalho, mas
ver acidentalmente propostas sendo enviadas de um lado para o
outro entre jogadores solteiros (ou não) e fãs, estava
definitivamente no topo da minha lista.

2DM" no Inglês. Abreviatura de mensagem direta: uma mensagem privada enviada em um site de mídia social, na qual apenas a
pessoa para a qual ela é enviada pode ver: Ela recebeu ameaças e abuso em seus DMs.
Robinson terminou de afivelar o cinto e se inclinou para perto.
—Robinson4MVP2017. Minha senha.

Eu sufoquei um sorriso. —Entendi. Não vai demorar mais de


vinte minutos, prometo. E se você tiver tempo para vir no final com
algumas coisas mais pessoais, então você pode fazer isso.

—Pode deixar, chefe, — ele respondeu.

—Passe pelo meu escritório se você terminar a sua reunião


cedo, — eu falei atrás dele quando ele passeou pela porta.

Minha mão deslizou para o bolso do meu vestido e encontrou


meu telefone. Tudo o que eu usava tinha bolsos porque meu celular
estava sempre, sempre a uma curta distância.

Como sempre.

Se a imprensa soubesse de uma história e eu precisasse emitir


uma declaração, a pior coisa que poderia acontecer era eu ser pega
dormindo, literal ou figurativamente, no trabalho. Polegares voando
sobre a tela, eu loguei como Robinson.

Ah-ha, Levi. Esse era o nome dele.

Rapidamente, eu respondi algumas das perguntas, colocando


aleatoriamente algumas frases que vi em seu Twitter, então não era
óbvio que uma mulher de vinte e oito anos estivesse respondendo
cada tweet.

@ levirobinson4real: Melhor parte de jogar para 4 Wolves


até agora? #AskAWolfWednesday
Para @cassidycowgirl: Subindo de nível com meus colegas de
equipe, aprender com os melhores. É legal por aqui.

EU MAL PERCEBIA O ambiente ao meu redor enquanto rolava e


digitava, parei para checar um e-mail recebido, então dei uma
resposta em texto sobre quando eu teria as análises do novo
website.

Alguém limpou a garganta.

Meus olhos se levantaram e vi três jogadores da defesa saindo


do chuveiro. Dois tinham toalhas congeladas em volta da cintura e
um deles estava completamente nu. Meus olhos nunca sequer
consideraram descer. Isso era o quão hardcore3 eu estava agora.

—Desculpa pessoal, tenho que trabalhar onde eu posso, certo?

Eu dei a eles um sorriso rápido e mexi meus dedos em uma


onda enquanto saía, o telefone ainda apertado na minha outra mão.
Havia uma sala de conferências aberta em frente ao vestiário, então
eu puxei uma cadeira com a ponta do meu calcanhar rosa brilhante
e me sentei indelicadamente.

Assim que sentei, estiquei os pés e gemi. Os sapatos estavam


com um salto quente, aumentando a minha altura média em uns 10
centímetros, mas, como um paraíso misericordioso e doce, eu queria
morrer no final do dia pela forma como eles faziam meus pés
doerem.

Depois de me permitir sessenta segundos para respirar e me


alongar, eu voei através dos tweets o melhor que pude, tendo
apenas tempo para responder mais de uma vez em alguns tópicos.
3É o nome atribuído a uma variação extrema de algo. A palavra significa literalmente miolo, ou centro, núcleo duro.
Quatorze novas DMs entraram enquanto eu fazia o meu trabalho
como Levi Robinson, mas que nojo, eu não tocaria naquilo nem com
uma vara de 3 metros.

Quando me senti à vontade para sair e deixar Levi cuidar do


resto, meu telefone começou a vibrar na minha mão.

—Oh, meu Deus, — eu murmurei quando vi o nome da minha


mãe piscando ameaçadoramente através da tela.

Eu sabia porque ela estava ligando. Ah, por mais certo que Tom
Brady seria o primeiro no corredor da fama depois de se aposentar,
eu sabia por que a mulher que me deu a luz estava ligando. Olhando
para o teto, suspirei pesadamente. Dramaticamente. Essa rajada de
ar veio de algum lugar nas profundezas da minha alma.

—Olá, mãe, — eu disse.

Ela fungou. —Eu esperava que fosse para o correio de voz.

Eu esfreguei meus lábios antes de responder. —Não. Você me


pegou em um bom momento. O que posso fazer por você?

Não, como vai você? Como está o papai? Não havia nada disso
em nossos telefonemas. Abigail Baker sempre ligava por um motivo.
Esse motivo seria revelado rapidamente, com pouca emoção,
embora fosse carregado com subtextos, independentemente de
como eu respondesse.

—Você não enviou seu RSVP4.

4RSVP é a abreviatura de Répondez S'il Vous Plaît, expressão francesa que significa "Responda por favor". O RSVP é utilizado
pela pessoa que deseja confirmar quem irá ao evento que ela vai realizar, desta maneira pede a confirmação para ter um melhor
planejamento do evento em geral.
Se houvesse um prêmio por estar certa, como um carro ou um
grande cheque de papel que nunca poderia ser descontado, eu
acabara de ganhar. Sentada na minha mesa estava o ridículo convite
da minha irmã mais velha, a ridícula renovação de votos de Ashley
para o seu nono aniversário de casamento.

Está certo. Nove anos. Não dez. Porque Ashley não podia fazer
as coisas do jeito que todo mundo fazia.

O papel pesado com letras gravadas em ouro rosa,


provavelmente custava mais do que o meu aluguel mensal, mas a
criança de ouro, sempre, sempre conseguia o que queria.

—Eu imaginei que minha presença fosse um favor, mãe. Irmã


da noiva e tudo mais. — Bem, ei! Ouça-me, sendo toda calma e tal.
Não cometa erros. Meus pais e minha irmã não davam a mínima
para mim desde que eu nunca, em mil anos, superasse Ashley. No
meu trabalho, em minha aparência, em meus relacionamentos ou
qualquer coisa. Eles não se importavam se eu participasse da
renovação dos votos, mas eu pareceria má se eu não estivesse lá.
Tias e tios notariam.

—É falta de educação não confirmar o RSVP.

Eu saudei com dois dedos, desejando desesperadamente que


ela pudesse ver. —Eu comprei um lindo vestido já. Você não tem
nada com o que se preocupar.

—É melhor não ser branco, — ela retrucou. —Envie na próxima


semana, Ava.

Clique.
Minha saudação de dois dedos se transformou em uma
saudação de um dedo apontada diretamente para o telefone, agora
desligado. Por uma fração de segundo, sorri quando imaginei chegar
à cerimônia usando um vestido branco imaculado. A pele

suave de alabastro de Ashley provavelmente se derreteria.

Infelizmente, meu vestido era de um marinho profundo com


bolsos, e complementava meu cabelo castanho escuro e tom de pele
morena. Vou ficar com calor, não se preocupe com isso, pensei
quando meu telefone tocou de novo. Oh, aleluia não são membros
da família desta vez. Apenas meu chefe.

—Ei, Reggie, tudo bem? — Eu olhei para fora da porta quando


alguns jogadores caminharam pelo corredor. —Eu ainda estou aqui
se você precisar me ver.

Eu ouvi alguns papéis embaralhando e o imaginei em sua mesa


sempre bagunçada. —Não, não, tudo bem. Acabei de lhe enviar um
e-mail. Precisamos organizar uma nota de imprensa sobre uma
aquisição que acabamos de fazer na defesa.

Eu me inclinei sobre a mesa e peguei um bloco de anotações e


uma caneta que alguém deixara para trás. —Manda. —

—Matthew Hawkins.

A caneta bateu na mesa e senti o ar sair violentamente dos


meus pulmões. —O quê?

—Sim, eu sei. — Em minha mente acelerada, eu podia ouvir a


voz dele aumentando, como quando ele sabia que estávamos
prestes a ter uma ótima notícia. —Eu não pude acreditar que
Cameron conseguiu que ele saísse da aposentadoria para um
contrato de dois anos. Mas com Rickson ferido, não tínhamos como
deixar um buraco na lista. Matthew assinou esta manhã. Realmente
secreto.

—Matthew Hawkins, — repeti instável.

—Eu sei. — O sorriso em sua voz me fez apertar meus olhos


fechados. —Você pode lidar com isso, certo? A imprensa estará
subindo em nossas pernas mais rápido do que podemos divulgar o
comunicado.

Com a mão trêmula, eu tirei meu cabelo do rosto. —Sim, claro.


— Eu balancei a cabeça, embora ele não pudesse me ver. —Claro, eu
posso lidar com isso.

—Boa. Vou mandar ele ao seu escritório amanhã de manhã,


depois de nos encontrarmos no escritório da frente.

Bolhas espetadas de riso histérico subiram pela minha


garganta. Se eu tivesse chocolate no bolso, teria enfiado na boca pela
falsa calma que poderia me trazer. —Mmmhmm. Parece bom.

—O e-mail tem sua biografia completa. Me deixe saber se você


precisar de mais alguma coisa antes de chegar à imprensa.

Eu quase ri alto.

Eu conhecia a biografia de Matthew.

Eu poderia recitar suas estatísticas desde a faculdade. Mais do


que apenas a sua altura (1,95m), a posição que ele jogou (ponta
defensivo), ou o número de sacks que ele tinha (setenta e nove,
apenas na NFL), eu sabia que ele era obcecado por manteiga de
amendoim, ele odiava cerveja, ele era alérgico a cachorros, mas
nunca admitiu isso porque queria muito um, e vira o filme Rudy, pelo
menos cinquenta vezes.

—Obrigado, Reggie, — eu disse em vez disso.

Eu sabia coisas sobre Matthew Hawkins que a imprensa nunca


saberia.

Como ele nunca me tratou como um fardo por cinco anos para
minha irmã perfeitamente brilhante, angelicamente linda e
horrivelmente egoísta. Como ele nem me tratou de forma diferente
quando, depois de quatro anos de namoro e seis meses de noivado,
ela o traiu com outro homem.

Eu conhecia Matthew Hawkins muito bem.

O ex-noivo da minha irmã e o homem por quem eu tive uma


queda ridícula no ensino médio simplesmente porque ele tinha sido
legal comigo.

E agora ele seria um dos homens no vestiário do outro lado do


corredor.
VIVER EM SEATTLE ERA ESTRANHO.

Não que eu pudesse julgar corretamente se eu gostava de viver


em uma cidade depois de menos de quarenta e oito horas, mas
parecia que meu cérebro ainda não havia seguido meu corpo.

Sentado no tapete de veludo na minha suíte máster enorme e


sem mobília, eu joguei uma bola de tênis do chão para a parede e
para trás, olhando para as luzes do horizonte de Seattle logo atrás
da sacada do lado de fora das janelas deslizantes de vidro.

Tudo dentro das paredes estava intocado e vazio, exceto pelas


caixas que eu não tinha começado a desempacotar ainda. Estava
quieto, exceto pelo baque, o baque, baque da bola, uma cadência
irregular que era tão reconfortante agora como quando eu comecei
a fazê-lo no meu minúsculo dormitório na faculdade. O movimento
estúpido de bater, bater, pegar e jogar me ajudava a pensar.

—O que estou fazendo aqui? — Eu disse em voz alta. Ninguém


respondeu. Eu poderia ter chamado um dos meus dois irmãos, mas
eles já estavam preocupados com o motivo de eu estar fazendo isso.
Meus pais também.

Uma das caixas etiquetada como frágil pelos carregadores,


continha memórias inestimáveis dos meus onze anos na NFL. Tudo
com o mesmo time. Nós estabelecemos recordes como um time, e eu
estabeleci recordes por conta própria. Os prêmios que ganhei foram
cuidadosamente embrulhados dentro da caixa, junto com camisas
assinadas de meus ídolos e companheiros de equipe. Apenas não o
prêmio.

O troféu que todos queriam.

Que era a razão pela qual eu estava aqui. Em uma cidade apenas
familiar pelas viagens curtas durante os jogos ao longo dos anos.

Baque, saltar, baque, saltar.

Mesmo sentado no chão do meu quarto, eu tinha uma visão


perfeita do Space Needle5. O topo esférico e a base comprida e curva
faziam parecer que alguém o havia trazido de outro planeta como
homenagem a alguma divindade estranha. Em toda a volta, blocos
de luzes colocados em prédios altos pareciam atarracados e simples
em comparação.

Mas, uma vez que o sol nascesse, eu veria a borda irregular das
montanhas atrás dele, um indicador claro de que eu não estava mais
no Kansas.

Ou Louisiana, mas isso não tem o mesmo toque.

Eu não estava acostumado a olhar para as montanhas ou


horizontes reluzentes quando eu acordava - a menos que estivesse
viajando. E mesmo assim, eu tinha uma tendência horrível a ignorar
isso, porque eu estava muito focado em qualquer jogo que eu
estivesse me preparando para jogar.

No silêncio, eu sabia que deveria explorar e conhecer esse lugar


que eu chamaria de lar pelos próximos dois anos. Mas em vez disso,
5O Obelisco Espacial é uma torre de 184 metros, edificada em Seattle. Foi construído em da Feira Mundial, para a Exposição do
século XXI, em 1962.
eu girei meu pulso uma última vez e, em seguida, peguei a bola
quando voltou para mim. Apoiando minha mão no colchão do rei da
Califórnia colocado no chão, fiquei de pé com um pequeno gemido.

—Cuidado, meu velho, — eu murmurei. Se eu fizesse muitos


sons assim, devido a uma leve pontada que eu ainda sentia após
minha cirurgia nas costas para consertar uma hérnia de disco, o
treinador Klein e o resto dos Washington Wolves não teriam
nenhum problema em me retirar do contrato e seguir em frente,
com alguém mais jovem e mais rápido, que não fez cirurgia nas
costas ou deslocou cotovelos ou teve braços quebrados.

Empurrando esses pensamentos para fora da minha cabeça


com as duas mãos, eu respirei fundo e abri a primeira caixa. Depois
da minha terceira visita ao armário, dobrando e empilhando as
camisas na longa fila de prateleiras brancas, ouvi meu telefone tocar
onde eu o deixara, no balcão da cozinha.

Correndo em direção ao som, eu atendi a chamada pouco antes


de minha caixa postal.

—Ei mãe, — eu disse enquanto apertava o botão para colocá-la


no viva voz.

—Olá docinho. Você está todo acomodado?

Eu olhei ao redor do meu apartamento e menti. —Sim.

Ela ficou quieta por um segundo e eu me preparei. O furacão


Eileen estava prestes a chegar ao continente.

—Tem certeza de que está fazendo a coisa certa?

Não. Fechei meus olhos antes de responder.


—Eu não estava pronto para parar, mãe. — Essa era a verdade.
Quando pensava no que queria fazer na minha vida sem futebol, não
conseguia ver nada. O futuro era algo enevoado, indefinível, sem o
cronograma de exercícios ou jogos para estudar, preparar e
empurrar meu corpo para a beira do abismo. —E eu não poderia
continuar jogando lá.

—Aqueles idiotas.

Eu bufei. —Meu contrato acabou. Eu não posso culpar a eles por


quererem se concentrar em alguém mais jovem e saudável do que
eu.

—Eles ainda são uns idiotas. — Ela limpou a garganta. —Seu


pai pressionou você para isso?

Sim. Isso era o que eu estava esperando. —Não, mãe.

—Porque ele nunca sabe quando parar com vocês, garotos. Ele
força muito e não leva em consideração seus sentimentos. Lembra
daquela vez no futebol do Pee Wee? Eu poderia ter matado ele.

Eu soltei uma respiração difícil. Sim, eu lembrei. Um garoto me


acertou no nariz e meu pai gritou na minha cara quando eu comecei
a chorar. Ele me disse para colocar minha bunda no campo, porque
os vencedores não desistiam por causa de um pouco de sangue.
Talvez minha mãe pudesse ter matado ele, mas ela sempre quis
matar meu pai. A verdade é que meu pai me ensinou a ter coragem.
Ele me ensinou a parar de dar desculpas se eu quisesse ser o melhor.
E se eu não estivesse com o objetivo de ser o melhor, então eu estava
perdendo meu tempo.
—Mãe, — eu interrompi quando ela continuava reclamando
sobre ele. Metade dos meus telefonemas com ela incluía esse mesmo
discurso. Metade dos meus telefonemas com meu pai envolvia algo
parecido. As alegrias de um divórcio feio de vinte anos atrás.

—Desculpe, — ela disse. —Eu só... Eu me preocupo. Você está


completamente sozinho aí.

—Eu também estava sozinho em Nova Orleans, — lembrei a ela.

—Não quando você era casado com Lexi.

—Mãe, — eu corrigi gentilmente, —você, de todas as pessoas,


sabe que você pode se casar e ainda se sentir sozinho.

Ela não discutiu, mas eu poderia dizer que ela queria.

—Mas você tinha amigos lá. Uma vida.

Não importava que eu estivesse em meus trinta e poucos anos.


Para ela, eu ainda era o primogênito dela, e ela ainda se preocupava
que eu não tivesse amigos. Meu sorriso foi lento, mas eu segurei
minha risada, porque eu sabia que ela estava falando sério, como um
ataque cardíaco.

—Eu vou ficar bem, mãe.

—Eu sei. — Ela suspirou.

Outra ligação tocou, e eu olhei para a tela. —Mãe, eu tenho


outra ligação. Eu te amo.

—Amo você também.


—Alô? — Eu disse uma vez que eu cliquei no número
desconhecido de Seattle.

—Matthew Hawkins? — uma voz feminina perguntou. Antes


que eu pudesse desligar, a cautela fez minhas sobrancelhas se
curvarem. Já aconteceram coisas mais loucas do que os fãs caçando
o número de telefone de um jogador. Eu respirei fundo, prestes a
perguntar quem estava ligando, mas ela falou imediatamente. —
Aqui é Alexandra Sutton.

Eu me endireitei. A dona dos Wolves, de Washington. —Claro.


Como vai você, senhorita Sutton?

—Me chame de Allie, por favor, — ela disse com um sorriso em


sua voz. —Você tem um minuto?

Levantando minhas sobrancelhas, olhei ao redor do


apartamento vazio. Tudo que eu tinha eram minutos. —Você está
me dando um tempo de desempacotar, então eu tenho todo o tempo
do mundo.

Ela riu no outro lado. Eu não sabia muito sobre ela, além de que
ela havia herdado a equipe inesperadamente depois da morte de seu
pai, menos de um ano antes. Isso, e que ela estava atualmente
envolvida com o veterano quarterback da equipe, Luke Pierson.

—Sinto muito por não ter visto você mais cedo no escritório. Eu
tive que pegar minha filha na escola. Cameron me disse que você
assinou seu contrato.

—Não precisa se desculpar, — eu assegurei a ela. —


Testemunhar minha assinatura não é nada tão importante.
—Bem, o treinador Klein e Cameron me asseguram que não é o
caso. Eles estão muito animados, assim como eu, que você tenha
decidido continuar sua incrível carreira aqui em Washington.

—Obrigado, — eu disse respeitosamente.

—Luke me disse que ele tem o orgulho de nunca ter sido


derrubado por você.

Foi a minha vez de rir. —Ele está certo sobre isso. Talvez eu
tenha minha chance no treino.

—Oh, você tem a minha permissão, — disse ela com humor


claro em sua voz. —Contanto que você não o machuque, eu acho que
isso fará bem a ele.

—Sim, senhora, — eu disse, um pouco do sotaque do sul


deslizando depois de onze anos vivendo e jogando em Nova Orleans.

—Por favor, se você me chamar assim, eu envelhecerei quinze


anos antes de poder piscar.

Passei a mão pela boca e tentei não rir. Allie Sutton era
conhecida tanto por sua aparência, quanto por ser uma grande dona
de equipe. Envelhecer quinze anos não a machucaria nem um pouco.

—Na verdade, — ela continuou, —alguns dos caras gostam de


me chamar de chefe, e soa bem. Mas, novamente, Allie está ótimo.

—Estou ansioso para conhecer você, Allie.

Ela cantarolou. —Não tenho certeza se vou estar no escritório


amanhã. Eu tenho que fazer malabarismos com algumas outras
reuniões, mas Luke e eu planejamos organizar uma reunião em uma
semana ou duas para alguns dos novos jogadores e equipe técnica.
Para dar a vocês a chance de relaxar um pouco fora do treino,
especialmente porque vocês estão se juntando a nós no período fora
de temporada.

Isso me fez levantar minhas sobrancelhas em surpresa. A


maioria das equipes e donos de equipe sabia que as adições tardias
à lista - sejam jogadores, treinadores ou coordenadores - eram
apenas parte do jogo. Lesões aconteciam a qualquer momento, no
campo ou fora dele, e dar uma festa para aqueles que se juntassem
depois não era a regra.

Mas eu realmente não conhecia ninguém da organização do


Wolves. Ninguém com quem eu joguei durante a faculdade estava
aqui, e ninguém tinha se transferido do meu antigo time antes de
mim. Nos últimos onze anos, eu havia sido um dos líderes - o cara
que os novos jogadores procuravam para pedir conselhos, boas-
vindas e aceitação.

Agora eu era o novato. O cara com o relógio correndo sobre sua


cabeça, praticamente gritando com cada tique-taque, esta é sua
última chance, não estrague tudo. Como se alguém me derrubasse
em uma superfície instável que se inclinava e girava, mesmo com o
menor movimento, e eu não tivesse nada para agarrar, nada para me
firmar.

O maníaco por controle em mim - aquele que gostava da


previsibilidade de onde eu estivera até então, conhecendo todo
mundo e sendo o responsável - odiava essa parte. Odiava a mudança.

Então uma recepção como essa era inesperada, mas boa.


Suspirei. —Isso parece ótimo, na verdade.
—Bom, — ela disse rapidamente. —Agora, é a minha vez de ler
para minha filha a história da hora de dormir, então, talvez eu tenha
a chance de te encontrar amanhã.

—Estou ansioso para isso. — E eu fiquei. Allie era uma


mudança dinâmica comparada ao meu último proprietário, que era
exatamente o tipo de homem que seu pai tinha sido. Rico em vida,
bem-sucedido nos negócios e com quase setenta anos, os dois
homens passavam o tempo expandindo continuamente seus
impérios.

—E se eu não chegar lá antes, sei que uma das primeiras


pessoas com quem eles querem que você se encontre é a nossa chefe
de Relações Públicas, para obter alguma informação. O nome dela é
Ava Baker, e acho que ela está esperando por você.

Minha cabeça se levantou. —Ava Baker? — Minha voz subiu em


choque.

Allie estava quieta. —Sim. Você a conhece?

Eu ri sob a minha respiração. —Eu poderia conhecer. Eu


conheci uma Ava Baker, mas ela estava no ensino médio na última
vez que a vi.

Na minha cabeça, tive uma visão de pernas desengonçadas e


grandes olhos verdes, uma garota curiosa e doce. Instantaneamente,
isso foi seguido por um sabor azedo na boca, metálico e amargo,
quando pensei na outra irmã Baker. A que eu fui noivo.

Talvez nem fosse ela. —A Ava que eu conhecia, teria que ter -
exalei alto - uns vinte e tantos anos, eu acho.
—Hmm, — Allie cantarolou baixinho. —Sem revelar
informações de RH, — disse ela em uma voz provocante, —eu diria
que a nossa Ava se encaixa nessa faixa etária geral. Mas eu acho que
você vai descobrir amanhã, não vai?

Eu sempre gostei de Ava. Se fosse ela, então Seattle ficaria um


pouco mais agradável.

Eu sorri em antecipação. —Eu acho que vou.


O guarda-roupa de TODAS AS MULHERES contém um certo número
de roupas. Um vestidinho preto que poderia servir para um coquetel
ou um funeral. Uma roupa de entrevista. Um vestido sexy para
quando você quer que seu encontro engula sua língua.

Mas, como eu soube naquela manhã, meu guarda-roupa não


tinha uma roupa que eu pudesse alcançar rapidamente no caso de
—o ex-noivo abandonado pela sua irmã, o homem por quem você
uma vez foi apaixonada, agora seria seu colega e estaria vendo você
pela primeira vez como uma mulher crescida.

Sim. Você entende o que estou dizendo?

Depois de muita deliberação, murmurando para meu reflexo


exasperado no espelho, tirando roupa após roupa e jogando cada
uma delas sem cerimônia no chão do lado de fora do meu armário,
decidi por uma vencedora.

Com o vestido champanhe amarrado na cintura e a minha


jaqueta tangerina, eu me senti brilhante e quente, e meus olhos
pareciam pedras preciosas. Era muito adulto, Ava profissional
superconfiante fodona. Depois de combinar com meus saltos altos
de camurça, que faziam minhas pernas parecerem mais compridas,
eu fui capaz de percorrer os corredores do escritório, sentindo que
não ia vomitar com a ideia de ver Matthew Hawkins pela primeira
vez em dez anos.
E vamos esclarecer isso. Eu nunca, jamais, me encontrei em
situações no trabalho que me fizessem sentir perto de vomitar. Eu
era conhecida por manter a calma. Eu era a única que estava
preparada para todas as eventualidades.

A defesa do Pittsburg Steeler não era mais forte que eu. Ava
Baker era a verdadeira cortina de ferro. Eu mantive todas essas
coisas trancadas.

Até hoje, aparentemente.

A última vez que o vi, eu tinha acabado de fazer dezoito anos. A


briga no quarto de minha irmã - ocupado apenas quando ela estava
em casa nos fins de semana em Stanford - foi tão alta que nossos
vizinhos provavelmente perceberam rapidamente que Ashley o
traiu, o culpou por isso e depois jogou o anel em seu rosto, antes de
dizer que ela poderia, finalmente, seguir em frente com alguém que
realmente se importasse com ela.

Eu realmente queria chutar sua bundinha ossuda.

—Saia da minha casa. Você é patético, — ela sussurrou para ele.

A visão de Matthew, tão grande, forte e bonito, vindo de seu


quarto com o rosto vermelho, olhos raivosos e irritados, era algo que
eu nunca tinha esquecido.

Eu pensei que ele passaria sem me ver - era o que a maioria dos
ocupantes da casa Baker fez - mas ele parou, então se agachou na
minha frente. Meus olhos lacrimejaram, então eu os pisquei, para
que ele não pensasse que eu estava sendo uma criança ridícula.
Mesmo que eu tivesse dezoito anos e fosse uma sênior no ensino
médio, para alguém como Matthew, eu era apenas uma criança.
—Ela é uma idiota, — eu sussurrei quando finalmente olhei
para o rosto dele.

Um sorriso lento e relutante apareceu em seus lábios e seus


olhos se aqueceram. Ele colocou uma de suas enormes mãos no topo
da minha cabeça e bagunçou meu cabelo.

—Não deixe que eles te te mantenham para baixo, ok? — ele


disse. Matthew olhou pelo corredor, para onde Ashley fechou a
porta atrás dele. Eu sabia o que ele queria dizer. Depois de estar com
Ashley por quatro anos, ele tinha visto o suficiente da nossa família
para saber que havia uma clara hierarquia de importância.

Ashley estava no topo, claro. Eu me sentia em algum lugar no


fundo, um acontecimento tardio, uma reflexão indesejável em todas
as facetas, desde a concepção. Meus pais não eram maus comigo, por
si só, mas era dolorosamente óbvio que eu não era Ashley. Eles
tinham sua criança perfeita. Então eu apareci e, embora tivesse
tentado desesperadamente quando era mais nova, eu não era nada
parecida com ela.

Matthew viu tudo isso.

—Se cuide, Slim6, — ele disse enquanto se levantava, usando o


apelido que tinha me dado na primeira vez que me viu, uma garota
magra de quatorze anos.

Olhando para ele através da névoa das minhas lágrimas, me


lembro de eu desejo querer ficar de pé e jogar meus braços ao redor
de seus ombros enormes para lhe dar um abraço e dizer a ele que
minha irmã era horrível e não o merecia. No entanto, eu estava tão

6 Slim é magra.
egoisticamente de coração partido porque ele não faria mais parte
da minha família agora, porque ele deixava as coisas melhores
apenas por estar por perto. Ele fez a minha vida melhor por ser
engraçado, carinhoso e paciente por ter tentado me conhecer.

—Se cuide também, — eu sussurrei em vez disso, apertando


meus braços em volta das minhas pernas. E ele foi embora.

—Ava, — uma voz estalou, e eu pisquei rapidamente. Olá, de


volta ao presente, e puta merda, eu poderia ter acabado de entrar
em um estado catatônico induzido pela memória, porque nem me
lembrava de ter destrancado meu escritório. Allie estava de pé na
porta, estalando os dedos. —Bem, estou preocupada, onde você
estava agora?

Eu respirei fundo, segurando as rédeas do meu estado


emocional com um aperto firme. —Fazendo uma pequena corrida
pela memória, suponho.

Ela cantarolou, estreitando os olhos para mim. —Posso


adivinhar sobre o que era?

Quando eu bufei, ela riu. Eu me recostei na cadeira e estendi


meus braços. —Certo. Vá em frente e tente adivinhar.

Allie franziu os lábios e olhou pensativamente para o teto. —


Você está pensando sobre quanto tempo passou desde a última vez
que você viu Matthew Hawkins, e está tentando se preparar
mentalmente para vê-lo novamente... — Ela parou e olhou para
minha roupa. —Que é também o motivo de você usar sapatos sexy
para trabalhar.
Meu queixo estava pendurado no nível daqueles sapatos sexy.
—C-como?

Ela sorriu. —Quando eu liguei para ele ontem à noite para dar
as boas-vindas à equipe, eu disse seu nome e, ooooh, ele se lembra
de você.

—O quê? — Eu assobiei, levantando e agarrando seus


antebraços. —Oh meu inferno, o que ele disse? Allie, você precisa
me contar tudo. — Sim, não estou orgulhosa. Basicamente, acabei de
abordar a chefe do meu chefe, a mulher que podia me demitir
piscando, mas eu também gostava genuinamente de Allie, e
havíamos formado uma amizade tranquila durante o último ano,
desde que herdara os Wolves.

Havia muitos homens ao nosso redor no trabalho. Muitos.


Homens. Era bom ter outra mulher na mesma faixa etária,
especialmente, uma que não fosse má, maliciosa ou horrível.

Eu cresci com maldade, maliciosa, mesquinha e horrível, o que


significava que eu tinha um radar para isso que não podia ser
enganado por quase ninguém no mundo. Meu radar de maldade,
maliciosa, mesquinha e horrível era espetacular.

Allie riu da minha teatralidade, um olhar de espanto cobrindo


seu lindo rosto. —Bem, eu vou ser amaldiçoada. Eu acredito que esta
é a primeira vez que eu vi Ava Baker minimamente irritada.

—Cale a boca, — eu murmurei, então fechei a porta do meu


escritório para que ninguém nos escutasse. No caminho de volta
para minha mesa, enfiei a mão na grande tigela de vidro que
continha meus preciosos chocolates Dove. Normalmente, tentava
me limitar a um pela manhã e um pela tarde. De alguma forma, três
encontraram o caminho para a minha mão.

O primeiro foi desembrulhado e estava na minha boca antes de


me sentar novamente. —Estou falando sério. — Ela se sentou em
frente à minha mesa e me deu um estudo completo.

—Você está nervosa agora. Isso é estranho.

Olhando para ela enquanto eu engolia o meu último chocolate


ao leite, tentei desesperadamente discordar. Mas eu não pude. Meu
estômago estava em nós emaranhados, e meu coração estava
batendo atrás das minhas costelas. Em algum lugar deste prédio,
Matthew Hawkins estava andando calmamente. Que idiota.

—Eu não estou, — eu comecei, então lambi meus lábios e a


encarei. Meus dedos tamborilaram na superfície da minha mesa e
seus olhos se suavizaram. —Ok, tudo bem, estou um pouco nervosa
em ver ele, mas não é o que você pensa.

Allie assentiu. —Como você o conheceu?

Uma enxurrada de palavras passou pela minha cabeça,


empurrando para sair da minha boca como se fosse uma corrida que
todos estavam tentando ganhar. Sobre a minha irmã e que puta ela
costumava ser, ainda era, na verdade. Palavras sobre como eu o
tinha olhado durante esses anos de formação, palavras sobre como
era esquisito imaginar que, se as coisas tivessem sido diferentes,
Matthew Hawkins seria meu cunhado agora.

—Ele e minha irmã namoraram durante toda a faculdade. —


Engoli. —Eles se conheceram no primeiro ano em Stanford. Ficaram
noivos no último ano. Como vivíamos muito perto do campus, ele...
ele estava muitas vezes em nossa casa.

Suas sobrancelhas levantaram levemente, mas ela ficou quieta.

—Não acabou bem, — eu disse depois de uma pausa. —A


última vez que o vi foi o dia em que se separaram. Eu tinha acabado
de fazer dezoito anos.

Allie cantarolou com simpatia. —E ele se divorciou há alguns


anos, certo?

Oh, mais palavras, clamando para sair. Não que eu soubesse


todos os detalhes, mas eu tinha treinado para ficar casualmente
interessada em Matthew ao longo dos anos. Então, quando ele se
casou com uma maldita modelo de maiô durante seu segundo ano
na NFL, eu posso ter olhado as fotos obsessivamente quando elas
apareceram online. E quando ela se divorciou dele após cinco anos,
logo depois da cirurgia nas costas que todo mundo achava que tinha
acabado com sua carreira, eu posso ter olhado esses artigos
compulsivamente também. Só não acabou com sua carreira porque
era Matthew.

—Sim, — eu disse. Allie, porém, deve ter lido nas entrelinhas,


porque sorriu com simpatia.

—Bem, assim que eu disse seu nome, ele ficou surpreso. Mas
acho que foi uma boa surpresa.

Eu coloquei minha língua na frente dos dentes e a analisei. —


Como você sabe disso?
Allie revirou os olhos. —Você pode apenas dizer. Parecia que...
era como se ele estivesse sorrindo, sabe?

Meu coração se apertou dolorosamente. Sim, eu sabia. Essa


pequena parte minha tinha se preocupado que Matthew não se
lembrasse de mim; que eu fosse uma parte muito insignificante de
sua vida, desde que eu era tão jovem quando ele e Ashley
terminaram.

Quando Allie falou novamente, seu tom era cuidadoso, seu


rosto suave. —Vai ficar tudo bem?

—O quê? — Eu perguntei.

—Para você trabalhar com ele? — Ahh. Ela estava no modo


chefe agora.

Mesmo quando senti uma leve pontada de defensividade por


ela ainda precisar perguntar, assenti decididamente. —
Absolutamente. A imprensa vai adorar essa história. Ninguém
achava que Matthew Hawkins jogaria para outro time, e com o quão
bem terminamos na última temporada e todo o trabalho que
fizemos para fortalecer nossa defesa, nós demos a ele a melhor
chance de ganhar um Super Bowl que ele já teve.

Seu sorriso foi instantâneo e real. —Você está certa. Luke está
feliz por termos assinado com ele. Ele não parou de tagarelar sobre
isso.

—Aposto. — Allie e Luke eram tão fofos que eu os odiaria se


não os amasse tanto juntos.
Houve uma batida na porta do meu escritório e meus olhos se
voltaram para os de Allie. Seu sorriso se alargou.

—Puta merda, — eu sussurrei e fiquei passando minhas mãos


pelo meu vestido.

—Você está ótima, — ela me assegurou com uma piscadela.

Você é uma cortina de aço. Uma cortina de aço, eu cantava na


minha cabeça, embora as palavras parecessem frágeis e
inconsequentes.

Allie me empurrou até a porta, onde através da pequena janela,


pude ver a inclinação de um ombro maciço em uma camisa azul-
claro e a curva arredondada de um bíceps lutando contra o material.
Tanto músculo. Havia tanto músculo naquela pequena janela.

Eu sabia que ele tinha ficado maior, mas quando Allie abriu a
porta do meu escritório, meus joelhos quase se dobraram para o
homem que vi ali parado.

Matthew Hawkins era uma fera. Por que, como, como ele tinha
ficado tão grande? Ele iria bater sua maldita cabeça apenas tentando
passar pela porta.

Ele se concentrou em mim instantaneamente, um sorriso


alargando seu rosto, enrugando a pele ao redor de seus brilhantes
olhos cor de avelã e formando covinhas profundas em ambos os
lados de seus lábios perfeitamente finos.

Meu estômago, emaranhado e zonzo como antes, ficou sem


peso em um instante, apenas pela força daquele sorriso. Eu sorri de
volta.
—Matthew, — Allie disse, e a conexão se rompeu. Ela estendeu
a mão e seu sorriso se transformou em algo mais profissional.
Menos pessoal, mas não menos potente. —É um prazer conhecer
você. Eu sou Allie.

Ele apertou a mão dela. —Acredite em mim, o prazer é todo


meu. É uma honra estar aqui.

Enquanto sua atenção estava voltada para ela, respirei


profundamente e canalizei a garota que podia atravessar um
vestiário de atletas nus e encarar uma sala de jornalistas raivosos
sem suar a camisa.

Allie olhou para mim e me deu um sorriso tranquilizador. —Eu


adoraria ficar e conversar, mas algo que não pode ser adiado está
esperando por mim no meu escritório.

Minha bunda. Que mentirosa. Oh, como eu a amava.

Com um movimento de seu cabelo loiro perfeitamente


despenteado e vestido rosa brilhante, Allie se foi.

Matthew se moveu para o lado para deixar ela sair do escritório


e, quando ele entrou pela porta, o espaço pareceu instantaneamente
menor.

Seu sorriso retornou. O meu também. Ele parecia tão bem. Tão.
Bem.

O cabelo loiro escuro, quase castanho em sua cabeça costumava


ser mais comprido, mas agora os lados eram curtos. A barba em seu
rosto ao longo de sua mandíbula era apenas uma barba completa.
A versão deste semideus em pé diante de mim, que eu tinha
visto dez anos atrás era quase um homem Matthew. Ele era grande,
mas não tão definido. Seu rosto estava mais magro e mais duro
agora com linhas que mostravam vida e algumas risadas.

Este era o homem Matthew.

—Eu não posso acreditar que é você, — disse ele, apoiando as


mãos nos quadris estreitos e dando um estudo completo que eu
senti sobre cada centímetro do meu corpo de vinte e oito anos de
idade. Ele balançou a cabeça em descrença.

—Oi, Matthew, — eu consegui. Veja! Eu soei seminormal. Yay.

Na minha cabeça, contei quatro segundos agonizantes e


intensos de silêncio, enquanto apenas olhávamos. Dez anos se
foram, puf, viraram nada naqueles quatro segundos. Talvez eu me
sentisse com dezoito de novo, em pé na frente dele, mas puta merda,
eu tinha sentido falta desse cara.

Ele estendeu os braços; sua voz um estrondo profundo quando


ele falou. —Venha pra cá.

Eu exalei uma risada e caminhei até ele, envolvendo meus


braços ao redor de sua cintura, suspirando trêmula quando seus
braços grossos e musculosos me abraçaram.

Engolida, eu me senti engolida pelo tamanho e pelo calor


absoluto dele.

Matthew colocou o queixo no topo da minha cabeça e riu como


se não pudesse acreditar que isso estava acontecendo. Junte-se ao
clube, cara. Fechei meus olhos e me permiti uma inspiração
profunda. Se esta era minha janela para ser extremamente
profissional e cheirar um dos jogadores, então eu estava tendo o
meu momento, droga.

Ele cheirava a bosque, sabão e homem limpo. Puta merda,


Matthew Hawkins cheirava bem. E parecia bem. Forte e sólido,
quente e firme. E ele estava me abraçando como se ele quisesse fazer
isso. Provavelmente porque ele queria.

—Eu senti sua falta, — eu disse em seu peito, baixando o escudo


de trabalho por apenas um segundo, apenas um pequeno estalo, só
para dizer as palavras, mesmo que fossem tão silenciosas que eu
esperava que ele não ouvisse.

Mas ele ouviu.

—Senti sua falta também, Slim, — ele disse de volta.

Eu estava tão oficialmente, além das expectativas, ferrada.


EU LEVANTEI minhas mãos até os ombros de Ava e a empurrei
para trás para que eu pudesse olhar para ela novamente.

—Droga, — eu disse em voz alta. Ela corou, batendo no meu


ombro, o que me fez rir. —Slim, você cresceu.

Ava revirou os olhos e gesticulou para um par de cadeiras


largas e cinzas em frente à sua mesa. Ficou claro que ela estava
acostumada a se sentar em frente a jogadores de futebol, porque
essas cadeiras acomodavam até mesmo os maiores.

Definitivamente, não era profissional encarar um membro da


linha de frente do meu novo time, então eu roubei outro rápido
olhar quando ela se sentou atrás de sua mesa e cruzou as pernas.

Droga, estava certo.

Não havia nada desengonçado sobre Ava. Nada em que ela


precisasse crescer mais. Aqueles olhos verde-claros, astutos e
inflexíveis, sentavam-se sobre maçãs do rosto salientes e lábios
rosados em forma de coração. Seu cabelo era enrolado e comprido,
e o tom escuro de marrom me lembrava canela e caramelo.

Em uma palavra, linda.

Ava Baker era uma mulher muito bonita.


—Matthew Hawkins, — ela disse com uma lenta sacudida de
cabeça, toda confiante, agora que uma mesa bem decorada nos
separava. —Você cresceu também.

Minha cabeça inclinou para trás enquanto eu ria de novo. Seu


sorriso era astuto e pequeno, muito Ava.

—Você ainda é uma merda no pôquer? — Eu perguntei a ela


com um sorriso.

Seus olhos se estreitaram com a brincadeira. —Eu tinha


dezesseis anos e nunca tinha jogado antes. Quão boa eu deveria ser?

Um fim de semana fora da temporada, eu estava na casa dos


Baker, e Ava me viu embaralhando cartas. Quando perguntei se ela
queria aprender a jogar, ela se arrastou para a mesa tão rápido que
quase tropeçou.

Ela era terrível. Seu rosto, pelo menos naquela época, entregava
tudo.

Não mais.

—Você aprendeu rápido o suficiente. Você não ganhou de mim


e de outros três caras por uns cem dólares uma vez?

—Cento e cinquenta, — ela corrigiu e colocou aquele sorriso


malicioso ainda mais em suas bochechas.

Eu cantarolei, lutando contra o desejo de rir. —Está certo.

—Fiquei surpreso ao ouvir seu nome ontem, — ela admitiu. Sua


cabeça inclinou para o lado enquanto ela me olhava seriamente. —
Você já não tinha ido ver o pôr do sol? A última vez que ouvi, eles
tinham erguido uma estátua sua em alguma praça da cidade, na baía.

Estreitando meus olhos com o sotaque sulista que ela infundiu


naquelas últimas palavras, usei a pausa para desamarrar minha
língua repentinamente desajeitada. Seu sorriso cresceu porque ela
sabia muito bem que ela tinha me perturbado com essa versão
adulta dela. Não havia sutilezas superficiais. Nós apenas pulamos de
cabeça nesta nova realidade.

De repente, eu tive um profundo apreço por ela, porque


revisitar esse passado não seria divertido para nenhum de nós.

Eu encolhi os ombros levemente. —Eu acho que foi tipo isso.


Eles me deram a chave da cidade e tudo mais.

Ela colocou os lábios entre os dentes para não rir. —Mas aqui
está você.

Eu assenti. —Aqui estou.

As piadas foram feitas porque o rosto dela se suavizou. —Não


que eu esteja reclamando, porque é bom ver você, e você está
prestes a tornar o meu trabalho realmente fácil com essa história.
Mas estou surpresa. Você não merece finalmente relaxar?

Relaxar? Eu pensei. Dê a um cara como eu tempo para relaxar,


e não fui bem. Sempre havia trabalho a ser feito. Algo que eu poderia
fazer melhor. Ser melhor. Alguma parte de mim que eu poderia
melhorar. Alguma causa pela qual eu poderia me jogar. Eu fiquei
entediado quando tentei ler. Os filmes eram previsíveis e a TV era
ainda pior.
A inatividade me deixou desconfortável na minha própria pele.
Alguma forma do velho ditado, mãos ociosas eram o playground do
diabo.

Desta vez, meu sorriso era irônico, um desconforto com que ela
estava perguntando. —Você está prestando atenção, Slim?

Ava ergueu as mãos e começou a contar coisas nos dedos


longos e finos, livres de joias. Nenhum anel de casamento.

—Cinco campeonatos de divisão. Três vezes MVP. Quatro vezes


jogador defensivo do ano. Homem do Ano. A maioria dos ataques em
uma única temporada do que qualquer jogador na história da NFL.

A cadeira rangeu quando eu mudei meu peso de lado. Ela não


continuou, mas o fato de ela estar prestando atenção era um
deslizamento de calor sob a minha pele, algo confortável e doce.

—Duas coisas que você não pode listar, — eu disse baixinho.

Ela assentiu devagar. —Campeão da Conferência, Campeão do


Super Bowl.

Por um instante, levantei minhas sobrancelhas em admissão. A


maioria dos novos jogadores não teria esse tipo de reunião com o
RP. Eles estariam passando por cima de pontos de discussão para as
entrevistas já marcadas para eles. Eu estava recebendo uma sessão
de aconselhamento da irmã mais nova da primeira mulher a criar
uma trinca na armadura.

A garota com quem eu assisti futebol durante as semanas de


folga.
A garota que eu ensinei a jogar pôquer e como fazer a espiral
perfeita.

—Esses são os dois que você não pode listar, — eu concordei


facilmente, tentando manter um sorriso no meu rosto, minha
atenção sobre ela e o assunto em questão.

A verdade é que eu poderia passar minha vida inteira na sala


de musculação, na sala de cinema, no campo de treino e em um jogo,
um jogador ainda poderia vir e arrancar a única coisa que eu mais
queria.

Provar que eu era o melhor.

Todo especialista argumentava que todas as coisas individuais


que eu havia alcançado não significavam nada sem o anel. Era difícil
abafar as vozes que diziam que, com cada lesão e cirurgia eu teria
um caminho ainda mais impossível para provar que estavam
erradas.

E eu queria, mais do que tudo que eu sempre quis, provar que


estavam errados.

Como se eu tivesse dito essas palavras em voz alta, Ava


assentiu.

—Bom, — ela disse decisivamente.

—Bom?

Ela se recostou na cadeira e enrolou um pedaço do cabelo


castanho, como xarope de bordo, em seus dedos, observando meu
rosto com cuidado. —Sim. O que quer que estivesse passando pela
sua cabeça agora? Eu quero que você mantenha isso lá para cada
pergunta, cada resposta, cada clique de cada foto para a próxima
semana.

Cruzei os braços sobre o peito e vi os olhos verde grama dela se


moverem, e depois voltarem a subir. —Por quê? — Eu perguntei a
ela.

Ava se inclinou para frente e bateu as unhas bem cuidadas na


parte superior laqueada de sua mesa, o clique quase musical. —
Porque eu quero que eles vejam esse fogo em seus olhos. Quero que
todos vejam que a razão pela qual você está aqui, com esse time
acima de qualquer outro, é porque somos os únicos que vencerão.
— Ela apontou para o meu rosto. —Isso. É isso aí. Eu quero que cada
um deles se sente e preste atenção aos Wolves, de Washington. Por
sua causa.

Quando eu pude respirar fundo, levantei meu queixo e dei a ela


um sorriso agradecido. —Puta merda, Ava.

Ela piscou. —O quê?

Eu apoiei meus antebraços em meus joelhos e me inclinei para


frente, como ela. —Você é muito, muito boa no seu trabalho, não é?

Ela riu baixinho e capturou meus olhos. —Sim, eu sou.

Nenhuma vergonha e nenhum artifício. Nenhuma falsa


humildade ou tentativa de ignorar meu elogio. Se sua família era
como costumava ser, Ava não estava acostumada a receber elogios,
e eu sempre odiei isso. E aqui estava ela, num trabalho de alta
pressão, com muito dinheiro em jogo e um nível de competitividade
que nunca diminuiria, totalmente confortável em suas próprias
habilidades.
A habilidade de vender a história exata que ela precisava.

—E você vai me enfiar bem no meio do circo da mídia por causa


disso.

—Você está certo. — Ava lambeu os lábios, visivelmente se


preparando para uma batalha, apertando os ombros. —Isso será um
problema?

—Você sabe que não vai ser, — eu murmurei, tentando engolir


meu sorriso. —Mas, eu gosto de ver você pronta para lutar comigo.
Você é mais brava do que costumava ser, Slim.

Houve aquele rubor novamente. Apenas um toque de rosa no


topo das maçãs do rosto. —Eu não teria lutado com você.

Uma sobrancelha erguida.

Ela levantou uma de volta. —Porque não teria sido uma luta.
Nos meus anos aqui, posso contar em uma mão, o número de
jogadores que não fizeram todos os meios de comunicação que eu
pedi a eles.

Eu respirei fundo e pensei na lista, coisas que eu tinha ouvido e


visto ao longo dos meus anos no campeonato. Eu poderia lançar
alguns nomes e adivinhar. Luke Pierson, antes de seu
relacionamento com Allie Sutton, era conhecido por não querer
lidar com a mídia, assim como um dos capitães defensivos, Logan
Ward. Ward era um defensor de longa data, um dos líderes da
equipe, mas era notório por dar entrevistas, quase comicamente
desajeitadas, no vestiário porque se recusava a responder a várias
perguntas.
Ele havia sido transformado em memes e gifs que tinham sido
passados em meu antigo vestiário porque, na metade do tempo, nós
desejávamos que pudéssemos fazer a mesma coisa com jornalistas
intrometidos.

Eu nunca faria, no entanto. Aprendi desde cedo que a mídia


poderia ser uma ferramenta tão importante quanto assistir vídeos.
Os mantenha ao seu lado, e eles enviam qualquer mensagem que
você queira. Ava também sabia disso.

No meu silêncio, ela exalou. —Ouça, eu amo meu trabalho. Eu


amo esse time, dos jogadores aos treinadores, ao front office. Estou
aqui desde a faculdade, e nunca quis fazer mais nada.
Independentemente de como nos conhecemos antes, é irrelevante
para o que eu acho que você pode nos ajudar a alcançar em campo.
Não é um problema para mim e espero que não seja para você
também.

Essa era a sua versão de mergulhar o dedo do pé sem realmente


ter que dizer as palavras em voz alta. Meus olhos percorriam o
escritório dela, e não fiquei surpreso quando não encontrei fotos da
família dela decorando as paredes. Nenhuma selfie de irmãs
sorridentes em pequenos quadros fofos. Nenhum sinal deles.

E não era surpreendente, porque pessoas como os Bakers


realmente não mudam. A maioria das pessoas que não podiam ser
honestas consigo mesmas eram iguais. Esse era, certamente, o caso
com meus pais. Eles nunca mudariam como definiam a outra pessoa,
a menos que aprendessem a admitir suas próprias deficiências.
—Ava, — eu disse cuidadosamente, —eu espero que você não
esteja tomando o meu silêncio como algum tipo de falta de
cooperação.

Agora era sua vez de mudar de lugar na cadeia. —Bem, não


tenho certeza de como entender. — Ela piscou devagar, seus olhos
procurando os meus. —Eu realmente não conheço esse Matthew,
conheço? Pode ter havido um tempo em que eu poderia adivinhar
suas reações, como quando você era o cara me ensinando cartas e
me forçando a assistir Rudy, mas... faz dez anos desde que eu vi você.
Nós dois já passamos por muita coisa durante esse tempo.

Meu riso foi cínico até para meus ouvidos, e a julgar pelo olhar
em seus olhos, ela também achou. Eu queria perguntar a ela se ela
tinha se casado e se divorciado também, mas eu mordi a ponta da
minha língua, porque não era da minha conta. Ava parecia linda
demais para ser solteira, mas nessa indústria a beleza física era
comum. A média.

—Não, suponho que você não conheça essa versão de mim. —


Eu soltei um suspiro, lutando para sair da minha cabeça e
permanecer presente na conversa. Ela merecia minha atenção,
mesmo que ela fosse uma estranha antes de eu entrar neste
escritório. —Na verdade, vir para cá tem sido uma transição mais
difícil do que eu esperava. Mentalmente—, eu esclareci. —Uma vez
que eu realmente comece a trabalhar, eu acho que vai parecer mais
natural, mas esse lugar de espera... nesse meio tempo, onde eu ainda
não faço parte da equipe, está difícil de me acostumar.

Ela me deu um sorriso simpático. —Você já explorou Seattle?


Dei de ombros. —Na verdade, não. Eu estive desempacotando
nos últimos dias. Minha mobília finalmente chegou, então eu não
estou mais dormindo em um colchão no chão.

Sua risada era brilhante e fácil, seu sorriso largo e não afetado.
—Bem, se você quiser um guia turístico...

As palavras sumiram, e eu me encontrei relaxando novamente.


—Você pode recomendar um?

Ava revirou os olhos e puxou algo da gaveta de sua


escrivaninha antes de me entregar. Seu cartão de visitas. —Meu
número está aí.

Uma sobrancelha ergueu devagar enquanto eu esperava que


ela esclarecesse. Ela estreitou os olhos novamente, apenas fendas
verdes brincalhonas se mostrando entre os longos cílios, que eu
provavelmente não deveria ter notado.

—Caso você queira que eu mostre Seattle a você, — ela disse


depois de um longo período de silêncio.

Sorrindo, eu enfiei o cartão no bolso da minha calça. —Você


oferece isso para todos os novos jogadores?

Depois de um suspiro profundo e torturado, ela puxou a cadeira


contra a mesa. —Cale a boca. Agora vamos trabalhar.

—Sim, senhora, — eu disse com uma saudação que me rendeu


outro rubor e uma sacudida de cabeça. Depois que me acomodei de
volta no meu lugar, eu ri e levantei meu queixo para enorme tigela
no canto da mesa dela. —Ainda mantém chocolates ao alcance do
braço em todos os momentos?
—Como todas as pessoas inteligentes que gostam de ser felizes.

Eu sorri abertamente.

De repente, Washington parecia um lugar muito mais agradável


do que quando acordei naquela manhã.

—Ok, — ela disse, voltando ao modo de negócios. —Vamos


começar com a ESPN.
NA CRUEL luz do dia - também conhecido como fora do meu
escritório e da poderosa bolha de Matthew Hawkins que parecia
silenciar a realidade - eu gemia toda vez que pensava em como eu
tinha deslizado o meu cartão na minha mesa.

Meu número está aí, eu disse como uma completa tola.

Dez minutos em sua presença me reduziram a uma adolescente


desajeitada de novo. Dez minutos de Matthew Hawkins - nome
completo exigido porque seu corpo e aura eram tão grandes e
esmagadores que eu não poderia pensar nele com apenas um nome
- e eu estava a uma batida do coração de rir e girar meu cabelo.

Eu tinha entrado no modo de trabalho antes que isso pudesse


acontecer, porque era a única maneira concebível que eu poderia
me salvar naquele momento. O cara era um profissional em lidar
com a mídia, então suas duas primeiras entrevistas foram
impecáveis. Naturalmente, isso aliviou um pouco da minha
ansiedade sobre eu me fazendo de completa idiota.

Até que eu recebi a mensagem de texto dele.

Número desconhecido: Sua oferta ainda está na mesa?


Preciso de algo para fazer.

Meu sorriso foi tão rápido e grande como um relâmpago, mas


eu matei aquele mofo muito rápido. Modo profissional.
Eu: Posso perguntar quem é? Porque essa mensagem pode
ser interpretada de várias maneiras que eu não quero
contemplar.

Número desconhecido: Justo, Slim. Sua oferta para me


mostrar Seattle ainda está na mesa?

Número desconhecido: Tenha pena de mim, por favor. Eu


terminei de desempacotar, e se eu ficar aqui por mais tempo,
eu posso começar a reorganizar meus armários de cozinha.
Organizar em ordem alfabética meu rack de temperos ou algo
assim.

Com muito cuidado, como se pudesse explodir se eu o tocasse


errado, baixei meu telefone e respirei profundamente. Matthew
Hawkins não estava me convidando para sair, eu me lembrei com
firmeza. Ele era novo na cidade. Nós nos conhecíamos de antes.
Havia menos de um por cento de razão para o meu coração estar se
debatendo dentro do meu peito do jeito que estava.

Mas aquele menos de um por cento era alto. Ele estava


conhecendo os outros jogadores mesmo sendo a baixa temporada.
Certamente, ele conhecia um deles bem o suficiente para perguntar
se eles poderiam fazer isso. Mas ele procurou por mim.

No espelho pendurado acima da mesa da cozinha, tive um


vislumbre de mim mesma. Minhas bochechas estavam coradas e
meu lábio inferior estava preso entre os dentes. Olhos brilhantes e
gemidos cheios de ansiedade.

Não, não, não, isso não funcionaria.


Olhando ao redor da sala, procurei uma solução para o meu
próprio cérebro idiota. E lá, no canto da minha mesa, em cima de
uma pilha de notas, estava minha resposta. Eu peguei minha Canon
XA11 com uma ideia desenvolvida. E foi uma boa ideia.

Desta vez, meu sorriso foi lento, desdobrando-se como um


estrondo baixo de trovão.

Eu só usei meu novo brinquedo algumas vezes - em eventos da


equipe e em algumas funções de contato com a comunidade, onde
eu queria filmagens francas para usar nas redes sociais. Seria um
exagero para hoje, mas permitiria que eu o encontrasse sem
nenhum risco de rir ou de girar o cabelo. Eu poderia me adequar -
metaforicamente falando - a ser a Profissional Ava, RP Ava, e não a
Ava que fica nervosa ao ver Matthew.

Eu digitei minha resposta metodicamente, já me sentindo mais


firme na minha ideia. Sempre que eu conseguia controlar a narrativa
de como algo se desenrolava, eu me sentia oitocentas vezes melhor.
Eu senti como se estivesse atrás do volante.

Eu: Não comece com a prateleira de temperos ainda. Eu


tenho uma ideia, mas tenha certeza que você esteja vestindo
uma camiseta do Wolves.

Enquanto os pontos saltavam na tela, salvei seu número e


entrei em meus contatos.

Matthew Hawkins: Sim, senhora. Quer que eu te pegue?

—Sim, certo, amigo, — eu murmurei. —A próxima coisa que eu


sei, é que você estará abrindo a porta do meu carro e então teremos
um problema real em nossas mãos.
Eu: Onde você mora? Talvez eu pegue você.

Ele não respondeu de imediato, e eu mordi furiosamente meu


lábio inferior. Mais do que provável, Matthew morava em um dos
subúrbios ricos de Seattle, perto das principais instalações dos
Wolves, em alguma casa que pudesse acomodar sua imensa
estrutura. Pessoalmente, eu estava bem no coração da cidade. Eu
amava as vistas e a agitação da cidade. Eu amava o fluxo de pessoas
quando elas faziam seus trajetos cotidianos, chegando e voltando de
suas casas com feixes luminosos de flores do mercado ou peixe
fresco que havia sido pescado uma hora antes.

Meu apartamento não era enorme, mas não era minúsculo.


Tinha o suficiente para não precisar de um colega de quarto, exceto
pelo brilhante peixe beta roxo-azulado chamado Frankie, que fez
sua casa no balcão da minha cozinha. Matthew provavelmente tinha
um grande cachorro babando.

Eu me abstive ativamente de perseguir suas mídias sociais


além do último ano no Instagram, que parecia ser sua mídia
preferida. Falem sobre autocontrole pessoal. Eu deveria ganhar um
maldito prêmio por não mergulhar fundo, para ver se ele ainda tinha
fotos de sua ex postadas em seu feed, tudo em nome da procura por
um animal de estimação ou algo assim.

Quando ele estava com Ashley, ele sempre falava em ter um


pastor alemão.

Quando ele estava com Ashley...

Essa linha de raciocínio não serviria para nada, já que eu


passaria uma grande quantidade de horas com ele.
Controle a narrativa, eu me lembrei. Era o ponto alto do meu
trabalho. Se você controlasse a narrativa, poderia influenciar o
resultado. Esse tópico em particular ficaria guardado até novo aviso,
porque não havia nenhum resultado que me agradasse quando
pensava por muito tempo sobre o relacionamento deles.

Meu telefone tocou, e eu fiz minha melhor versão de pessoa


calma, guardando lentamente minha câmera em seu estojo preto. E
olhem para isso, andei devagar até o meu telefone e até me permiti
uma respiração profunda antes de olhar para a tela.

Matthew Hawkins: Eu estou naquele novo prédio em


Hawthorne.

Ok, então não é uma casa enorme nos subúrbios. Ele estava a
cerca de seis quarteirões de distância de onde eu morava, embora
os edifícios fossem muito maiores, mais brilhantes e mais bonitos
no espaço daqueles seis quarteirões. Era uma das coisas que eu
amava em morar na cidade. Você poderia atravessar a rua e
encontrar-se em uma cultura completamente diferente; alguma
linha imaginária que surgiu anos e anos atrás se manteve ao longo
do tempo.

Crescendo em um privilegiado bairro fechado no norte da


Califórnia, eu me sentia desinfetada e despida para algo limpo e
chato, em comparação. Saber que Matthew estava morando no
centro da cidade me deu uma pequena emoção, como se ele fosse
parte do mesmo clube que gostava do barulho, das multidões e das
ruas movimentadas.

Eu: Eu te encontro na esquina da Hawthorne e da Oitava,


em quinze minutos.
—Lá. — Eu balancei a cabeça decisivamente. —Nos
encontrarmos a meio caminho entre os nossos edifícios é super
profissional.

Meu telefone tocou novamente.

Matthew Hawkins: É um encontro.

—Oh, foda-se, Hawkins, — eu disse em voz baixa. Se não fosse


infantil responder com NÃO, NÃO É, eu teria feito isso. Apenas para
segurar os últimos pedaços da minha sanidade.

Passei os sete minutos seguintes sem ficar obcecada com o que


estava vestindo (shorts brancos e um top verde exército que talvez
fizesse meus olhos verdes parecerem ainda mais verdes), ou se
tinha maquiagem suficiente (rímel, um toque de blush e bom e velho
gloss), ou se o meu cabelo poderia receber algum amor (um topete
meio bagunçado, que dizia: eu não quero parecer que estou tentando
demais, mas isso também me levou quinze minutos e dez grampos
para conseguir).

Satisfeita que, se alguém tirasse uma foto, eu não pareceria uma


vagabunda, pendurei a bolsa da câmera no ombro e tranquei a porta
do meu apartamento atrás de mim. O elevador passou lentamente
para o quarto andar, e eu rezei para que este não fosse o dia em que
eu ficaria presa.

O dia estava lindo quando saí do pequeno saguão do meu


prédio, então tirei meus óculos de sol da bolsa e os coloque no rosto.
Pessoas que achavam que Seattle era toda chuva e tristeza,
claramente, nunca estiveram aqui. O verão nesta cidade era lindo,
brilhante, quente e cheio de coisas para fazer.
Hoje, Matthew ia fazer um curso intensivo sobre Seattle 101.

Eu corri por de uma faixa de pedestres antes que a luz ficasse


vermelha e o vi esperando por mim na esquina. Ele usava um chapéu
preto, e óculos aviador com lentes espelhadas cobriam seus olhos.
Um disfarce frágil se ele estava tentando ficar incógnito, mas
suponho que foi minha culpa já que eu pedi a ele para usar uma
camisa dos Wolves.

Sua estrutura maciça vestindo qualquer tipo de propaganda da


equipe era praticamente um convite para ser reconhecido. Seria
bom, no entanto. Eu tinha saído em público com um número
suficiente de jogadores para saber que a maioria dos fãs era
respeitosa e educada. Ainda assim, me fez sorrir ao ver ele enfiar a
cabeça no peito quando dois caras de terno passaram por ele,
sussurrando animadamente. Suas mãos estavam enfiadas nos
bolsos e seu peito se expandiu em uma respiração profunda.

Aquele peitoral.

Deveria haver um santuário em algum lugar para a parte


superior do corpo de Matthew Hawkins. Uma exposição em um
museu, com luzes brilhantes e cartazes, discutindo por que a curva
de seus ombros era perfeitamente proporcional aos arcos de
músculos debaixo de sua camisa, a curva de seu bíceps que se
estendia até os limites de sua camisa.

O suspiro saiu da minha boca antes que eu o pudesse parar.

—Droga, — eu sussurrei. Eu podia fazer isso. Eu era uma pro-


fis-si-o-nal.
Enquanto eu me lembrava disso, Matthew levantou a cabeça e
me viu.

Se eu pensava que deveria haver um santuário para a parte


superior do seu corpo, então me recusava a considerar o que deveria
ser erguido em homenagem ao sorriso que ele me deu.

—Slim, — ele disse com aquela voz baixa e profunda, e, meu


estômago se revirou como uma pequena ginasta traidora. —Você
está de turista hoje também?

—Hã? — Minha resposta suave foi apenas um som dos meus


lábios sem graça. Sério, foi como se eu me tornasse uma pessoa
diferente perto desse cara. Foi tão ridículo e precisava parar, para
ontem.

Ele apontou para a câmera e eu a toquei com uma risada. Nós


nos afastamos da rua e do fluxo de pessoas para que eu pudesse
abrir o estojo. Quando a tirei, vi o levantar das sobrancelhas atrás
dos óculos.

—Esse é um equipamento sério, — comentou ele.

Eu agarrei a câmera no meu peito brevemente, deixando


escapar um suspiro feminino. —É minha nova obsessão, e vamos
dar bom uso a ela hoje.

—Vamos?

Gesticulando para a rua, eu assenti. —Sim. Matthew Hawkins


conheça Seattle. Se estiver tudo bem para você, quero fotografar
algumas coisas para o Facebook e Instagram. Pensei que
poderíamos ir ao Mercado Pike’s e pedir para eles jogarem alguns
peixes sobre a sua cabeça ou algo assim.

Sua risada foi alta, e veio tão profundamente daquele peito


monstruoso que eu senti em algum lugar atrás das minhas costelas,
um eco de resposta que trouxe um sorriso aos meus lábios.

—Você é a chefe, — ele disse baixinho quando começamos a


caminhar lado a lado.

Nós simplesmente caminhamos os primeiros dois quarteirões,


um silêncio fácil entre nós, enquanto a cidade cantarolava no lugar
da conversa.

Matthew quebrou o silêncio primeiro. —Eu pesquisei você na


noite passada.

Foi quando eu tropecei.

A mão de Matthew disparou e agarrou meu cotovelo, grande,


quente e coberta de calos contra a minha pele, me estabilizando
facilmente enquanto eu tentava canalizar um pouco de Taylor Swift
para cobrir o meu constrangimento. Shake it off, sh-sh-sh-shake it off.

Assim que reuni minha compostura, dei a ele um pequeno


sorriso e sua mão soltou meu cotovelo.

—Achou alguma coisa interessante? — Eu perguntei, enquanto


esperávamos para atravessar a rua.

Seus óculos escondiam seus olhos, e sua boca não estava


entregando nada, mas o leve enrugamento na pele no topo de suas
bochechas me fez sentir como se ele estivesse tentando não sorrir
para mim.
—Se eu disser tudo o que encontrei, sobre o que falaríamos?

Eu ri. —Justo.

Seu ombro cutucou o meu quando o sinal da faixa de pedestres


se iluminou. —Você tira muitas fotos do seu peixe.

E asssim, desse jeito, me senti como uma criança desajeitada de


dezesseis anos de idade, observando as pessoas do outro lado do
corredor, na esquina ou pela porta da frente.

Isso me fez querer puxar o aço de volta no lugar, centímetro por


centímetro, mas eu lutei com aquela sensação de dor no estômago.

Se fosse qualquer um, menos ele, meu rosto não teria ficado
quente com a vergonha, como se eu tivesse sido pega fazendo algo
bobo. Minha vida era meu trabalho. Eu trabalhei duro por anos para
chegar onde eu estava agora. Para ser respeitada em minha posição,
eu tinha que ganhar a confiança das pessoas com quem trabalhava
e dos jogadores com quem interagia todos os dias. Isso não foi fácil,
especialmente com os sacrifícios que eu fiz pessoalmente - não sair
quando a maioria das mulheres da minha idade saía e não
desperdiçar meus fins de semana em encontros inúteis, já que eu
estava organizando eventos comunitários e assistindo aos jogos nas
linhas laterais do campo.

—Frankie é o peixe mais durão do quarteirão, — respondi


suavemente. —Além disso, ele é um colega de apartamento
cuidadoso. Nunca me faz ficar acordada à noite, não interrompe
quando estou reclamando do meu dia, não julga quando termino
uma garrafa de vinho numa terça à noite. Sobre quantos humanos
você poderia dizer isso? Nenhum que eu possa pensar.
Matthew sorriu, mas ficou claro que ele ouviu algo na minha
resposta, o que eu, provavelmente, não queria que ele ouvisse.

Podem ter sido as entrelinhas que eu tinha gritado, não há nada


de errado em não ter um namorado desde a faculdade, ok? Eu não
quero falar sobre isso.

—Não há nada de errado em tirar fotos do seu peixe, Slim.

Sim, ele ouviu isso.

—Eu sei disso. — Desta vez, minha resposta não foi suave. Ela
tinha uma ponta afiada. Sua mão tocou meu cotovelo de novo,
apenas uma leve pincelada de seus dedos, mas foi o suficiente para
parar nossa caminhada. Ele me encarou, tirando os óculos de sol do
rosto. Lá estavam eles. A força total daqueles olhos era potente, e eu
não conseguia olhar por muito tempo.

Havia algo no modo como seus cílios emolduravam seus olhos


amendoados e, de frente para o sol como ele estava, eu podia ver um
pouco de âmbar e amarelo nas bordas. Eu tinha visto aqueles olhos
parecerem ferozes, quase selvagens, nos dias de jogo, quando ele
estava prestes a atravessar a linha ofensiva para tentar derrubar o
quarterback adversário.

Eles não estavam selvagens agora. Ferozes? Talvez um pouco.

—Está tudo bem, — eu disse a ele, levantando a mão quando


ele começou a falar. —Me ignore.

Quando aqueles olhos se estreitaram um pouco, alguém


esbarrou em mim por trás, me forçando a dar um passo mais para
perto de Matthew na calçada. Ele se inclinou de modo que estava de
costas para o fluxo de pessoas, me mantendo fora do caminho.

É claro, ele entrou no fluxo de pessoas para me manter fora do


caminho quando eu estava ficando irritada, defensiva e cautelosa.

—Eu também descobri que você se formou na USC, conseguiu


seu mestrado no Arizona, enquanto trabalhava aqui, e naquele
vestiário você é respeitada como o inferno. Metade deles tem pavor
de você, na verdade.

Minha risada saiu como uma respiração suave, e eu olhei para


o prédio ao lado de nós. —Isso não é verdade.

Eu estava sendo modesta. Era totalmente verdade.

A julgar pelo sorriso no rosto de Matthew, ele sabia que eu


sabia disso. —Eu não sei por que você mudou de ideia sobre fazer
medicina, mas eu estou feliz que você tenha mudado.

Enquanto engolia, tentando descobrir como eu deveria dizer


que não tinha feito medicina porque eu, literalmente, não conseguia
tolerar ser comparada a Ashley e me achar um fracasso em mais um
aspecto da minha vida, ele me cutucou novamente.

—Estou orgulhoso de você, Slim. Não é fácil descobrir a coisa


que você nasceu para fazer.

Enquanto eu olhava para ele, percebi uma coisa. Matthew não


estava dizendo intencionalmente o tipo de coisa que faria uma
mulher com menos controle se apaixonar por ele. Ele estava apenas
sendo... Ele.
Graças ao bom Deus eu não era uma bagunça de emoções, porque
eu, certamente, não estava em risco, eu me lembrei com firmeza, sem
a menor preocupação de que eu estivesse mentalmente protestando
muito.

Ainda. Mesmo se eu não estivesse em risco, eu sabia o tipo de


homem com quem eu estava lidando. O tipo unicórnio.

Porque Ashley o traiu, eu nunca saberia. Se fosse possível para


mim perguntar a ela e obter uma resposta honesta, sem querer
arrancar todo o cabelo da cabeça dela, então talvez eu tivesse
perguntado isso. Por que sua esposa se divorciou dele depois de
cinco anos, eu nunca saberia. Mas claramente, ela também era louca.

Profissional, eu gritei na minha cabeça. Nada de olhos


encantados. Sem suspiros. Não ser uma menina doente de amor.

Então eu me forcei a engolir e endireitei meus ombros. —


Obrigado. Mas não pense que me elogiar vai te livrar de ter o peixe
jogado sobre sua cabeça.

Quando começamos a caminhar, segurei a câmera em minhas


mãos como se me protegesse da força de sua personalidade. Seus
passos eram duas vezes mais longos que os meus, mas ele ajustou
para que eu não precisasse correr para acompanhar.

—Não sonharia com isso, — disse ele.


H AVIA muito sobre jogar futebol que eu amava. Algumas coisas
não aconteciam no campo, mas a maioria delas acontecia. Quando
eu me enfileirava, os cravos se enterravam no chão, os dedos
pressionados contra a grama, adorava observar os olhos do
quarterback. Amava ver a sua linguagem corporal e ouvir as
palavras gritadas em ofensa. Porque a menor coisa poderia indicar
o que eles fariam quando a bola partisse do centro para as mãos
deles.

Essas pequenas revelações - combinadas com qualquer vídeo


que eu tenha assistido a semana toda - me ajudava a decidir para
onde girar ou se eu deveria cair sobre meu ombro e me jogar para
que o adversário não pudesse me empurrar para fora do caminho
do running back.

Até agora, Ava não tinha me dado nada para adivinhar seu
próximo passo. Seu rosto estava coberto demais com a câmera para
eu ver qualquer tipo de dica ou pista. Depois que ela me forçou a
tirar algumas fotos em frente à icônica placa fluorescente para o
meu Instagram, nós lentamente fizemos nosso caminho pelo
corredor coberto do Mercado Pike’s.

—Passamos anos vendo você se apaixonar pela Louisiana, —


ela disse quando chegamos cerca de uma hora antes. —Deixe seus
novos e antigos fãs verem Seattle através de seus olhos.
—Eu estou me apaixonando por Seattle hoje? — Eu provoquei.

Em vez de responder, ela levantou a Canon com facilidade, me


observando através da tela enquanto eu tirava fotos com o meu
telefone. Latas de flores em todas as cores e formas imagináveis;
peixes, polvos e camarões deitados em gelo compactado; carnes e
queijos atrás de caixas de vidro.

Ela soltou a câmera tempo suficiente para aprovar quais fotos


colocar no meu feed pessoal.

—Não, use aquela em que você está olhando pela rua, — ela
aconselhou, olhando brevemente por cima do meu ombro enquanto
eu passava pelo rolo da câmera. —A iluminação é melhor do que
quando você está olhando diretamente para a câmera.

Quando eu a saudei vivamente, ela bufou baixinho.

—E não se esqueça de colocar a hashtag, — acrescentou.

Eu dei a ela um olhar sarcástico, o que a fez olhar para mim


sobre a borda de seu pequeno escudo. —Eu não vou.

Assim que eu apertei o botão para postar, um menino se


aproximou de nós com um sorriso tímido no rosto e a grande mão
do pai no ombro. Ele parecia ainda mais nervoso que seu filho.

—Sr. Hawkins? — o garotinho perguntou, me mostrando uma


lacuna nos dentes da frente quando ele sorriu.

Eu me agachei e estendi minha mão para ele. —Bem, o Sr.


Hawkins é meu pai, mas você pode me chamar de Matthew, se
quiser.
Ele riu, deslizando a mão na minha.

—Eu acompanho você desde os seus dias em Stanford, — seu


pai disse com pressa, também me estendendo a mão. —Nós dois
somos grandes fãs.

—Qual o seu nome? — Eu perguntei enquanto estava de pé.

—Este é Malachi e eu sou Robert.

Ava estava filmando enquanto conversávamos, baixando a


câmera apenas o tempo suficiente para perguntar se eles queriam
que ela tirasse uma foto de nós três.

Robert enfiou o telefone nas mãos dela antes que as palavras


saíssem de sua boca. Eu observei seu rosto enquanto ela ajustava
sua postura para nos encaixar no quadro. Seu sorriso era de
divertimento, e seus olhos apenas se moveram para mim
brevemente antes de ela tirar algumas fotos.

Quando os dois continuaram andando pelo mercado, eu fiz uma


pergunta antes que ela pudesse levantar a câmera novamente.

—Você vem aqui com frequência?

Suas mãos congelaram no ato de tirar a alça da câmera, e a


natureza fútil da minha pergunta me fez rir. Ela também.

—Desculpe, — eu disse, gesticulando para ela andar na minha


frente. —Isso soou muito mais natural na minha cabeça.

—Se eu venho ao mercado Pike’s frequentemente? — Ela


esclareceu, seus olhos brilhando com humor.
—Sim. — Senti um forte orgulho porque, pela primeira vez
desde que chegamos, ela não estava escondendo o rosto de mim.
Claro, eu entendia que ela queria fazer o trabalho dela, mas imaginei
conversas um pouco mais recíprocas do que as que nós tivemos até
agora. —Você terá que me dar todas as dicas de viver no centro da
cidade.

Ela sorriu. —A cada duas semanas, provavelmente. Eu não amo


cozinhar, então não é por toda essa comida maravilhosa, — ela
admitiu com uma leve careta, —mas as flores são as melhores. E há
um lugar do outro lado da rua que faz um queijo coalho tão bom,
você vai chorar.

—Flores e queijo, né? Eu imaginei que você iria para chocolate,


não coalho.

Ava riu. —Oh, eu consigo encontrar isso em todo lugar que vou,
não se preocupe.

Uma lembrança me fez rir baixinho. Ela olhou para mim com o
canto do olho, e pelo jeito que ela mordeu o lábio, eu poderia dizer
que ela queria perguntar. Eu me inclinei para ela. —Eu me lembro
vagamente de alguém colocar uma barra Hershey king-size na
minha mochila uma vez, com uma nota que dizia que me ajudaria a
ser forte para o nosso jogo contra Cal.

Ava gemeu e cobriu o rosto com uma mão. —Eu não posso
acreditar que você se lembra disso.

—Quantos anos você tinha?

Ela soltou um suspiro lento e balançou a cabeça. —Talvez


quinze.
—Tão pensativa, — eu provoquei, a cutucando com o meu
ombro novamente. —Nós vencemos Cal naquele ano também.
Talvez tenhamos perdido no meu primeiro ano porque alguém não
me deu uma barra de chocolate.

—Eu peguei dinheiro da carteira do meu pai para comprar


aquilo pra você, — ela disse. Eu estava rindo, mas depois de um
segundo seu rosto se suavizou. —Ele não percebeu. Nenhuma
surpresa nisso, suponho.

Uma carranca puxou os cantos dos meus lábios quando fomos


forçados a nos separar, porque uma grande família caminhava pelo
mercado. Não, não era surpresa. Sempre que eu estive lá durante
esses anos, às vezes, parecia que eu era o único que prestava atenção
nela.

Eu parei de andar para entregar a um vendedor um pouco de


dinheiro por um pequeno buquê de flores vermelhas e laranjas que
chamou minha atenção. A pequena mulher asiática atrás do balcão
as embrulhou habilmente em papel branco e as entregou para mim
com um sorriso e um aceno de cabeça.

—O quê? — Eu perguntei quando Ava me deu um olhar curioso.

Sua boca se abriu e depois fechou. Ela balançou a cabeça


enquanto eu colocava as flores debaixo do meu braço. —Nada, —
ela disse finalmente. —Apenas... observando.

—Você costumava fazer muito isso.

As sobrancelhas escuras de Ava se ergueram brevemente


concordando, e seu sorriso era irônico. —Eu suponho que sim.
Quando minhas lembranças de Ava como uma adolescente um
pouco desajeitada, pairando sobre os cantos da sala se
contrapuseram com a mulher na minha frente, isso criou uma
realidade confusa. Me lembrei dela sendo curiosa e quieta, doce e
reservada - provavelmente por necessidade. Ashley sempre era a
que estava no centro das atenções, não deixando espaço para mais
ninguém.

Mesmo agora, embora ela dirigisse tanto dentro da organização


Wolves, Ava ficava à margem e não no centro do palco. Eu me
perguntava o quanto de sua educação influenciou isso.

De qualquer forma, quase parecia um desafio ver como era essa


Ava quando ela não se escondia mais atrás de seu trabalho.

Ela era o quarterback, sua câmera era sua linha de frente, e eu


não sabia em que direção ela iria se mover. Para um homem como
eu, competitivo até a medula, era um desafio que não podia ignorar.

—Você realmente vai fazer com que eles joguem peixe na


minha cabeça? — Eu perguntei quando o rosto dela deixou claro que
ela não queria insistir em suas habilidades de observação. Era algo
em sua mandíbula, percebi. Quando eu não estava insistindo em
nada relacionado ao passado, ela relaxou um pouco.

—Oh, vamos lá, — disse ela, me cutucando com o ombro. —É


uma tradição de Seattle. Eles são famosos por isso.

Cautelosamente, observei homens vestindo aventais e grandes


luvas de borracha jogarem peixes sobre as cabeças de duas garotas
risonhas. —Sim, mas eu tenho 1,95, — eu respondi, dando a ela uma
olhada lateral. —Se eu ficar com o rosto cheio de salmão, você me
deve muito, Baker.

Ava inclinou a cabeça para trás e riu.

Ela estava preparando sua câmera para pegar cada segundo


horrível, conversando ao mesmo tempo com um dos caras atrás do
balcão, que me garantiu que eram profissionais, quando o telefone
de Ava tocou.

Com um dedo levantado, ela se moveu para o lado e atendeu. —


Ava Baker.

Ela me deu um olhar que eu não entendi.

—Uh-huh— Com uma torção do seu pulso fino, ela olhou


fixamente para o relógio. —Sim, nós podemos fazer isso. Estou
filmando com Hawkins agora, então não há problema. — Ela
assentiu. —Absolutamente. Obrigado por pensar em nós.

Ela desligou a chamada e balançou a cabeça para os caras do


peixe, que gemeram dramaticamente.

—Vamos ter que interromper o seu dia de turismo, — disse ela.

Ava enfiou o celular de volta na bolsa da câmera e me deu um


pequeno sorriso. Eu não sabia se estava decepcionado ou não.

—Cansada de mim já?

Ela soltou uma risada. —Não pesque elogios; não é atraente. —


Ela se moveu para o lado para que as pessoas pudessem passar por
nós. O trocadilho, considerando onde estávamos, me fez rir.
—Era da SportsCenter, — explicou ela. —Eles mandaram
alguém sair para uma transmissão hoje à noite, e eles querem fazer
uma pequena entrevista com você e Logan Ward via satélite. Eles
estão destacando as defesas agora, e com a atenção que você
conseguiu com a NFL Network, eles mesmos querem fazer um. —
Ela olhou para o relógio novamente. —Mas nós precisamos que você
tome banho, faça a barba, troque de roupas e volte ao escritório em
duas horas. Você pode fazer isso?

Esfreguei meu queixo e seus olhos acompanharam o


movimento. —A barba também?

Seus olhos se estreitaram e eu ri.

—Sim, eu posso lidar com isso.

Ela exalou, claramente aliviada. —Bom. Você é a parte fácil, no


entanto. Vamos pegar um Uber para economizar tempo. Vou ligar
para o Logan no caminho. Essa será a parte difícil.

—Mesmo?

Ava cantarolou. —Lembra que você disse que metade dos caras
ficavam apavorados comigo?

Eu assenti.

—Ele não é um deles.

Seu rosto estava suave quando ela dizia isso, sem nenhum sinal
de raiva ou aborrecimento, mas a firmeza em seus olhos foi o
suficiente para que eu pegasse as flores embrulhadas debaixo do
meu braço e as estendesse para ela.
—Aqui, — eu disse a ela.

Seu rosto ficou vazio quando ela as pegou de mim, sua boca
abrindo e fechando novamente. —Você não comprou isso para mim,
— ela disse, mas seus lábios se contorceram em um sorriso
indiferente.

Não?

Dei de ombros. —Você vai gostar mais delas do que eu. Além
disso, sei que você vai chegar em casa e comer chocolate. Você pode
também adicionar outra indulgência no final do dia.

As bochechas de Ava se fecharam levemente, mas ela manteve


o rosto longe de mim.

Talvez tenha sido um impulso estranho dar a ela as flores, mas


não pareceu errado. E eu acreditava em seguir esses instintos.

Isso a fez sorrir, e isso me fez sentir bem. Isso foi o suficiente.

O Uber parou em frente a nós no meio-fio, os olhos do motorista


saltando de sua cabeça quando ele me viu abrir a porta para Ava. Eu
sorri educadamente, esperando suas longas pernas bronzeadas
desaparecerem antes que eu tentasse entrar atrás dela sem bater a
cabeça na borda da porta. Meu cinto de segurança se encaixou e
ainda não havíamos nos movido. Quando olhei para cima, o
motorista olhava descaradamente pelo retrovisor.

Ava suspirou. —Você pode tirar uma selfie com ele e ganhar um
autógrafo se chegarmos lá em menos de dez minutos.

—Combinado, — ele respondeu, e os pneus gritaram quando


decolamos.
—EU ODEIO USAR GRAVATAS .

Isso vindo de Logan Ward, uma hora e cinquenta minutos


depois de Ava receber o telefonema.

Estávamos sentados em uma sala grande, cercados por luzes e


pessoas usando fones de ouvido, segurando pranchetas e pincéis de
maquiagem, com duas enormes câmeras apontando em nossa
direção. Ele se mexeu desconfortavelmente em seu assento, sem
gravata à vista. Eu tirei a mão da minha e olhei para ele.

Antes que eu pudesse falar, Ava apareceu da escuridão criada


por todas as luzes brilhantes apontadas para nós. —Eu sei que você
odeia gravatas, Logan. Todo mundo na equipe sabe que você odeia
gravatas.

—Nem todo mundo, — ele resmungou, estreitando os olhos


para os meus.

A maioria dos jogadores foi acolhedora. A maioria dos caras me


procurou no prédio para dizer oi ou me enviou uma mensagem me
dando as boas-vindas ao time, mas não Logan. Eu tinha sido o
capitão de todos, menos no meu ano de novato em meu antigo time.
O aperto de mão superficial e o sucinto —bem-vindo a Washington,
— que ele me deu no meu primeiro dia não me caiu bem. E aqui
estávamos nós, fazendo uma entrevista que Ava, educadamente,
exigiu de nós, embora aquelas três palavras fossem tudo o que ele
tivesse falado comigo.
Talvez ele não tivesse medo de Ava, mas ainda assim ele
apareceu.

Seu telefonema pra ele foi rápido e sua voz feroz.

Ward, eu não me importo se você está sangrando na sala de


emergência agora. Diga a eles para costurar sua bunda, porque você
estará vestindo boas roupas, no estúdio, em duas horas. Você me
entendeu?

O que quer que ele tenha dito a fez fechar os olhos e respirar
devagar por dez segundos, então ela disse que estava tudo bem e
desligou. Quando eu deixaria de notar o quão diferente ela estava?
Como ela estava mudada?

De pé na minha frente, afastando minha mão do nó da minha


gravata, Ava era a única coisa brilhante em toda a sala. Tanto Logan
quanto eu, estávamos usando cores escuras. A sala era toda em tons
de preto, branco e prateado enquanto esperávamos que o
entrevistador aparecesse no vídeo.

Seu vestido era de um rosa avermelhado vívido que


provavelmente tinha um nome chique, e seus saltos eram altos e
amarelos. Provavelmente não deveria ter parecido bom, mas
combinou. Enquanto ela estendia a mão para consertar o nó da
minha gravata e se inclinava para trás para estudá-la com um olhar
crítico, eu ainda lutava para conciliar esta Ava com a Ava que eu
conhecera há muito tempo. Aquela Ava usava camisetas e shorts
jeans. Esta Ava era elegante e polida, todos os sólidos toques de cor
e sensualidade sutil que faziam minha pele parecer dois tamanhos
menores.
Especialmente quando ela levantou o rosto para mim e a luz ao
redor de nós fez com que o verde de seus olhos parecesse
exatamente o mesmo tom da grama recém cortada. Era da mesma
cor de um campo de futebol, um dos únicos lugares em que
realmente me sentia em casa.

Minhas sobrancelhas puxaram como se o fato de eu ter notado


fosse estranho. Ela puxou mais uma vez o nó da minha gravata e
assentiu.

—Obrigado, — eu disse a ela com uma voz áspera quando ela


recuou.

—Não pode aparecer com uma gravata torta em frente à


câmera. — Seu olhar para Logan foi carregado de aborrecimento, e
eu tentei não sorrir.

—Isso seria horrível, — ele murmurou. —Por que estou aqui


mesmo?

Meus olhos se moveram entre eles, e eu lutei contra o instinto


de bater na parte de trás de sua cabeça como teria feito com meus
ex-companheiros de equipe. Mas os olhos de Ava se estreitaram, e
eu sentei de volta na minha cadeira.

Ava soltou um suspiro lento e controlado. —Lembra quando o


cara da KIRO perguntou se você planejava se aposentar este ano e,
em vez de responder, você ficou olhando para ele por trinta
segundos antes de ir embora?

—Sim, — Logan respondeu com cautela.


—E eu tive que passar trinta minutos livrando a sua cara
porque isso começou uma campanha no Twitter sobre como o
escritório deveria forçá-lo a se aposentar, já que você havia sido um
idiota furioso com o repórter esportivo mais amado de Seattle?

Logan limpou a garganta.

—Aquele incidente agradável à parte, — ela continuou, —você


está aqui porque você é um dos capitães, e se você desistir de outra
entrevista, eu já planejei quarenta e sete novas maneiras de
descartar seu corpo, Ward.

Minha risada foi instantânea, especialmente quando Logan


simplesmente soltou um suspiro lento e controlado.
Aparentemente, isso não era novidade entre eles. Eu tinha que me
lembrar que Ava estava lidando com Logan e homens como ele há
anos. Era impossível estar perto de jogadores e seus egos por tanto
tempo sem desenvolver uma pele grossa. Ela chamou minha atenção
e piscou. Aparentemente, a pele de Ava era como o Teflon.

Outra coisa que era nova.

Ao longo dos anos que passei com Ashley, toda vez que eu via
seus pais lançando algum comentário impensado na direção de Ava
sobre como ela não se encaixava ou como ela era diferente de sua
irmã, havia uma ferida visível em seus olhos e uma tristeza em sua
boca.

Esta Ava parecia impenetrável, e eu adicionei à lista de coisas


que eu imaginava sobre ela. Quando aquele escudo caiu? Deve ter
sido algum tempo depois que Ashley e eu terminamos.
Uma assistente se aproximou de nós e começou a fazer algumas
perguntas a Logan, então Ava direcionou sua atenção totalmente em
minha direção.

Aqueles olhos. Isso me levaria o dia todo, mas eu continuava


querendo pensar em nomes para o tom de verde que eles tinham.

—Precisa de alguma coisa? Eu posso imaginar que isso não vai


demorar muito. Eles só precisam preencher cerca de cinco minutos,
então acho que eles só farão duas perguntas para vocês. Nada muito
específico. Nada que você não tenha dito antes.

Eu balancei a cabeça. —Vai ficar tudo bem.

Ava me deu um sorriso e uma lenta sacudida de cabeça. —Se


todos os membros da equipe facilitassem tanto o meu trabalho,
Matthew Hawkins. Você faz parecer que eu realmente sei o que
estou fazendo.

—Você está pescando elogios, Slim? — Eu provoquei.

Ela não respondeu, apenas levantou uma sobrancelha escura.

As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse as


deter. —Eu tenho que te dizer, estou tendo dificuldade em me
acostumar com esta versão de você.

Seu corpo inteiro congelou, tão sutilmente que eu poderia não


ter notado se não estivesse prestando muita atenção.

—Qual versão? — ela sussurrou. —Eu ainda sou eu.

—Você ainda é você, — eu assegurei a ela, olhando para Logan


para ter certeza de que ele não estava escutando. Eu balancei a
cabeça ligeiramente quando as palavras não vieram tão facilmente
quanto eu queria. —Você tem o mesmo humor, a mesma
inteligência...

Quando minha voz sumiu, ela curvou os lábios em um sorriso


perplexo. —Parece que alguém não sabe o que dizer.

Eu ri. —Eu só gostaria de não ter dito isso aqui, — eu disse a


ela, gesticulando ao redor da sala. Eu respirei fundo e segurei seu
olhar. —Ava adulta foi uma surpresa agradável, só isso.

Seus olhos assumiram um brilho; o tipo de brilho alegre e feliz


que fazia coisas estranhas em seu rosto. Sua pele se iluminou como
uma lâmpada em algum lugar em seu corpo que eu não pude ver.

Eu queria dizer mais. Eu queria contar a ela mais sobre o que


eu vi nela apenas para manter esse brilho. Ava deveria ficar assim o
tempo todo. E assim que abri a boca para dizer isso a ela, o telefone
caiu de sua mão, e os nosso olhares se dirigiram para ele
naturalmente.

Persianas de ferro descendo sobre o rosto não poderiam ter um


efeito mais instantâneo. Ela encarou a tela apenas o tempo
suficiente para que eu visse as primeiras palavras do texto.

Ashley: Eu não posso acreditar em você...

Se eu pudesse igualar o pulso instantâneo de silêncio entre nós


a alguma coisa, teria sido aquela filmagem antiga de uma bomba
nuclear explodindo. A nuvem de fumaça subia pelo céu, se
multiplicando cada vez mais até obscurecer tudo ao redor.
Mesmo que ela tenha virado o telefone antes que eu pudesse
ver qualquer outra coisa, ela não tirou os olhos das palavras. Não
importava o que vinha depois das poucas palavras que vi. Talvez
Ashley estivesse sendo legal. Eu não posso acreditar que você não
me ligou esta semana. Ou eu não posso acreditar que você não me
disse que você cortou seu cabelo. Eu não posso acreditar que você
ainda não assistiu a esse show. Havia um milhão de coisas que
poderiam ter sido.

Mas eu conhecia Ashley ou eu costumava conhecer. O tipo de


pessoa egoísta que ela era não desapareceria magicamente. E
mesmo que eu imaginasse, o olhar no rosto de Ava me dizia tudo que
eu precisava saber.

O Teflon que eu imaginava não era uma armadura perfeita em


volta dela. Se houvesse até o menor buraco, o mais ínfimo furo,
então sua irmã teria acesso direto a ele. Porque esse olhar em seus
olhos era exatamente o que eu tinha visto tantos anos atrás. Ashley
sabia exatamente o que dizer para fazer sua irmã se sentir pequena.
Sentir-se menos.

Não pela primeira vez, eu gostaria de nunca ter chamado


Ashley Baker para aquele primeiro encontro. A criança burra da
faculdade que eu era naquela época tinha negligenciado muitas
coisas sobre ela porque ela era linda, inteligente e popular. Porque
a riqueza de sua família era deslumbrante. Porque ela fazia eu me
sentir interessante. Até que nada disso fosse suficiente. Até que a
feiura por baixo de sua beleza começasse a se mostrar mais e mais.

Talvez eu tenha sofrido por um tempo por causa de Ashley, mas


a pessoa que estava em pé na minha frente a suportou por toda a
vida.
—Ava, — eu disse baixinho, levantando a mão para tocá-la.

Ela recuou. Logan se mexeu em seu assento, olhando para a


minha mão.

Ava limpou a garganta. Rosto branco, luz interna agora fria e


escura, seus lábios em uma versão oca de um sorriso. —Joguem bem
rapazes. Eles terão o feed de vídeo pronto para ser lançado em dois
minutos. Logan, eu sei que você odeia responder perguntas, mas por
favor finja que quer estar aqui, ok?

Eu dei a ele um olhar duro. Logan não olhou para mim nenhuma
vez, mas ele deve ter visto o suficiente no rosto cuidadosamente
vazio de Ava, já que ele simplesmente assentiu. Nenhuma resposta
esperta, nenhum suspiro sofrido. Apenas um aceno de cabeça.

Meus ombros relaxaram, e eu tive que respirar através da


súbita onda quente de proteção que eu sentia em relação a Ava.
Ficou claro que ela não precisava de um protetor com nenhum dos
caras da equipe, mas isso não negava o quão instantâneo, quão
visceral era.

Mas mesmo que eu quisesse insistir nisso, eu não podia.


Recebemos uma contagem regressiva e a transmissão de vídeo para
o estúdio do Sport Center, em Nova York, preencheu a tela à nossa
frente. Logan e eu sorrimos, respondendo perguntas facilmente
como se fôssemos amigos. Como se os quinze minutos anteriores
não tivessem acontecido.

Quando a câmera se desligou, esperei o mais pacientemente


possível que um assistente pegasse o microfone e me soltasse dos
fios de que precisavam para o som. Uma vez que eu estava livre, eu
me levantei do meu assento tão rápido que o equipamento caiu, mas
era tarde demais.

Ava já tinha ido embora.

Meu instinto, o que eu escutei sem hesitação antes, fazia minha


mente girar. Talvez ela estivesse acostumada a observar, ficar ao
lado e dirigir o que acontecia nos holofotes - e talvez ela fosse assim
sem a influência de sua família -, mas eu ainda gostava de Ava e
gostava de passar tempo com ela.

Foi o suficiente para eu querer aprender mais sobre a pessoa


que ela era agora. Fora da equipe, fora de sua família.

Eu queria descobrir isso. E eu sabia exatamente como fazer


isso.
VAMOS esclarecer uma coisa. Eu não sou covarde. Seja qual for a
palavra que possa vir à minha mente quando me lembro de que me
refugiei no corredor depois daquela entrevista - merda de galinha,
gata assustada, covarde, etc. - não se aplica a mim. OK? OK.

Eu só... não senti vontade de ter essa conversa com Matthew


ainda. Aquela em que falamos da ironia de que minha irmã - sua ex-
noiva infiel - conseguiu entrar em um momento nosso. Porque
aquela conversa que ele iniciou há três dias foi, sem dúvida, um
momento.

Naqueles três dias, revivi suas palavras pelo menos oitenta mil
vezes. Entre minhas aulas vigorosas de kickboxing, onde eu não
imaginava o rosto de Ashley na bolsa, entre o trabalho interminável
em que me meti, e entre as bocadinhas de sorvete Ben e Jerry,
enquanto eu assistia as coisas menos românticas que pudesse
encontrar na Netflix (verdadeiros documentários de crime, se você
quer saber).

Até aquele texto intempestivo de Ashley, aquele em que ela não


podia acreditar que eu não tinha enviado meu RSVP - mesmo que
isso não importasse porque ela e eu sabíamos que eu iria sozinha e
eu estava adiando apenas para irritá-los - Matthew estava me
olhando sério e pensativo. O tipo de olhar quando você sabe que ele
está tentando te entender, como quando um homem tenta entender
uma mulher que ele achou interessante. Esse tipo de olhar.
Até aquela maldita mensagem de texto.

Ele tentou me ligar uma vez, mas eu deixei a chamada ir para o


correio de voz, então enviei a ele uma mensagem rápida dizendo que
ele foi muito bem na entrevista, mas eu tinha muito trabalho a fazer,
e que eu o veria por aí. Porque era Matthew, ele não me pressionou
sobre a minha saída muito não-covarde, minha mensagem não
muito corajosa e minha ausência nos últimos três dias.

Ausência que estava chegando a um fim muito abrupto, já que


eu dirigia para a casa de Allie e Luke no lago Washington para um
churrasco de —Bem-vindo ao Time. — Como ela queria que alguns
dos funcionários antigos do front office participassem, eu não tive
muita escolha.

Não que eu fosse escapar, porque não sou nenhuma covarde.

Quando peguei a saída para a casa deles, tentei acalmar os


nervos esvoaçantes no meu estômago com uma respiração lenta e
firme, mas acabou sendo uma tentativa desperdiçada.

Assim que deixei o ar sair e senti a confusão na minha cabeça,


meu telefone tocou, o Bluetooth no meu carro me assustou
enquanto o som ecoava por todos os alto-falantes. E, claro, era
minha mãe, cujo timming era tão estranho quanto o de Ashley.

Meu polegar pairou sobre o botão no meu volante que enviaria


a ligação para o correio de voz. Mas eu não era covarde, ok?

—Oi, mamãe, — eu disse em uma voz alegre, tão obviamente


falsa que até eu me encolhi ao ouvi-la.

—Ava, você está nos ignorando.


Nos ignorando? Ótimo. Eu estava sendo rotulada por equipe. E
com certeza, eu estava no fundo.

—Mãe, ela simplesmente não entende o tipo de estresse que


um evento dessa magnitude implica. Nós não podemos culpá-la.

Ao som da voz de Ashley, suave como seda, gutural como uma


operadora de sexo por telefone, blá, blá, blá, eu cerrei meus dentes.
—Oi, Ashley.

—Oh, você se lembra que você tem uma irmã.

—Não poderia te esquecer, mesmo que eu quisesse, — eu


murmurei.

—O que foi isso? — minha mãe perguntou.

—Nada, — eu disse. —Estou a cinco minutos de um


compromisso de trabalho. O que houve?

Ashley riu baixinho. Ela era médica, seguindo os passos do meu


pai se tornando uma anestesista, por isso dizer que eles não
respeitavam o meu trabalho ou que minha carreira como Relações
Públicas, em geral, era como dizer que matemática não era muito
divertida. Resumindo - subavaliação maciça.

Minha mãe suspirou como se eu tivesse de alguma forma a


incomodado colocando um limite de tempo na conversa. —Suponho
que seu cartão de RSVP está perdido no correio, e mesmo que sua
irmã pense que devemos contar apenas você como um, eu serei
generosa e planejarei que você tenha um acompanhante.

Eu esfreguei minha testa. Tão generosa. O único


relacionamento sério que tive na faculdade não era ninguém que
eles tivessem conhecido, porque eu não o odiava. Minha família
geralmente operava sob a crença de que eu era celibatária ou gay.
Eu não tinha certeza, mas eu realmente não me importava.

—Tudo bem, — eu disse cansada. —Qual é o próximo assunto?

A voz de Ashley ficou mais alta, então ela deve ter se


aproximado do telefone. —Apenas se certifique de não usar branco,
marfim, creme ou qualquer variação perto da cor do meu vestido.

—Hmm, eu tenho um vestido preto que vai ficar perfeito.

—Ou preto, — Ashley estalou. —Eu não quero minha irmã


aparecendo como se ela estivesse indo para um funeral.

Eu sorri abertamente.

—Embora, — ela continuou, —preto emagreça, então talvez


seja uma boa escolha para você.

Meu sorriso murchou.

—Ashley, — minha mãe interrompeu. Mesmo quando eu


segurei o puuuta que eu queria dizer, senti minhas sobrancelhas
levantarem com a improvável defesa de minha mãe. —Não deixe ela
te provocar. Você é melhor que isso.

E não importa.

—Entendi, — eu disse em voz alta. —Sem branco, casca de ovo,


creme, cru, marfim e nada de preto. Algo mais?

—Eu acho que é isso, Ava, — minha mãe disse. Ashley


murmurou algo no fundo, e meu sorriso retornou brevemente
quando a fiz murmurar. Normalmente, minha irmã só falava quando
tinha certeza de que todos na sala podiam ouvir as preciosas pepitas
de ouro saindo entre seus lábios perfeitos.

—OK, tchau então. — Meu polegar apertou o botão para


terminar a ligação antes que eles pudessem desligar primeiro. Meu
coração ainda estava martelando quando eu virei o volante do meu
carro para a rua sem saída onde a enorme casa de Luke e Allie estava
localizada. Eles costumavam ser vizinhos, mas quando eles ficaram
noivos, contrataram alguns arquitetos para conectar suas duas
casas, reformando completamente o exterior, então era uma
enorme casa perfeita.

Ele adicionou arbustos altos que obscureciam uma cerca de


segurança preta de ferro que cercava a casa cinza e branca. O portão
estava aberto, mas um dos seguranças dos Wolves estava encostado
nele, se certificando de que todos que aparecessem fossem
convidados.

—Senhorita Baker, — ele cumprimentou com um aceno de


cabeça.

—Ei, Charlie. — Desesperadamente, tentei esticar meus lábios


em um sorriso normal, mas não deve ter funcionado porque ele me
deu um olhar confuso. —Eles começaram sem mim?

—Tenho certeza de que eles nem sonham com isso, — ele me


assegurou.

Enquanto eu caminhava para o quintal e descia alguns degraus


de lajotas, alisei a frente do meu vestido de verão fúcsia. Eu odiava,
odiava que um comentário ridículo de Ashley pudesse azedar meu
humor tão rapidamente.

Preto emagrece.

Que idiota. Ela só disse isso porque eu era um pouco menor do


que ela, o que nunca deixava de irritá-la. Qualquer chance que ela
tivesse, Ashley fazia comentários sobre o meu peso, como se
magicamente conjurasse 2 quilos extras em mim.

Não, definitivamente não imaginaria seu rosto no saco da


próxima vez que eu praticasse meus chutes.

Quando eu virei a esquina, o riso e a conversa fácil flutuaram


logo acima da música que tocava nos alto-falantes montados
embaixo do deque do segundo andar que corria ao longo da parte
de trás da casa. O cheiro de carne defumada fez minha boca salivar
e eu inalei avidamente. Foi apenas o suficiente para quebrar o
estrangulamento estúpido que Ashley deixou no meu cérebro.

Allie estava de pé ao lado de um dos nossos novos


coordenadores ofensivos quando me aproximei, e ela sorriu para se
desculpar.

Seus olhos não perdiam nada, examinando meu rosto com


preocupação óbvia. —Você está bem?

Eu acenei. —Eu vou ficar bem. Nada que alguma carne


defumada não consiga consertar.

Falando em olhos que não perdiam nada, eu fiz uma varredura


rápida no quintal. Nada de Matthew ainda. Allie pigarreou
conscientemente. —Ele não está aqui ainda, mas eu sei que ele está
planejando vir.

—Tenho certeza de que não sei a quem você está se referindo,


— respondi friamente.

Allie ficou quieta por um momento, depois assentiu. —Não,


está bem. Nós podemos jogar este jogo se você quiser.

Sua amiga Paige, que se tornara frequentadora regular dos


jogos com Allie, em seu camarote, se aproximou de nós com um
largo sorriso no rosto e um copo gigante de vinho em suas mãos.

—Ooh, que jogo? — ela perguntou.

Parada na frente dessas duas mulheres, ambas mais bonitas do


que era justo, deveria ter me feito sentir pior depois do que minha
irmã disse. Mas isso não aconteceu. Ambas eram muito simpáticas e
gentis, o que quase tornava a aparência delas ainda mais injusta.
Paige era uma modelo legítima. Tipo New York Fashion Week,
modelo de capa de revistas.

Não que você pudesse perceber agora. Seu cabelo vermelho


estava em um coque bagunçado, e seu rosto estava livre de qualquer
maquiagem. Não que ela precisasse de maquiagem. Ugh. Eu
realmente queria odiar ela por isso.

Allie levantou o queixo em minha direção na pergunta de Paige.


—O jogo onde Ava finge que não tem um tesão gigante por Matthew
Hawkins.

—Ohhhh, esse jogo.

Eu olhei para Allie.


Paige estremeceu. —Não posso culpar você. Eles fizeram um
perfil sobre ele na NFL Network no outro dia, e seus braços... — Sua
voz sumiu, seus olhos assumindo uma qualidade sonhadora que me
fez sentir um baque violento. Eu sabia o tamanho de seus braços. Eu
toquei seus braços. Eu senti aqueles braços em volta do meu corpo.

Eu estava a um instante de lembrar a Srta. Modelo linda disso


quando Allie começou a rir.

—Oh meu Deus, seu rosto, Ava. — Ela enxugou os olhos. —Você
parece estar pronta para esfaquear alguém.

—Eu não.

Paige sorriu para mim por cima do copo de vinho. —Você, com
certeza, está. Eu devo continuar ou você está pronta para eu parar?

Eu funguei arrogantemente, e as duas se dissolveram em


risadinhas.

Seus risinhos histéricos estavam começando a chamar atenção,


então eu bati no braço de Allie. —Ok, já é suficiente, — eu assobiei.
—Bem. Vocês idiotas querem que eu admita isso?

Ela assentiu com sinceridade. —Sim, por favor.

Paige saltou sobre as pontas dos pés. —Oh, nós amamos um


bom romance de escritório, não é, Allie?

Claro, ela estava se referindo à história de amor de Allie com


Luke Pierson, nosso quarterback veterano.

—Não há romance quando é unilateral, — eu os lembrei. —Ele


não olha para mim desse jeito.
—Você tem certeza disso? — Paige murmurou, seus olhos
presos no meu ombro.

—Ava. — Maldito seja ele e sua voz. Eu senti em todos os


lugares. Minha pele. Meus lábios. Em cada fio de cabelo que subia
em meus braços. Bem entre as minhas pernas. Sua voz era sua
própria força da natureza, por chorar em voz alta.

Não fazia sentido. Eu fiquei dez anos sem ouvir aquela voz dizer
meu nome. Dez anos. Quase quatro mil dias. E agora, depois de
apenas três dias sem ouvir ele, meu corpo estava reagindo como se
ele tivesse ligado um gerador ao meu sistema nervoso. Foi uma
reação tão estranhamente poderosa que eu parei antes de me virar
para olhar para ele, com medo do que ele poderia ver no meu rosto.

Allie estava olhando para nós, e Paige estava sorrindo para mim
com uma intenção tão perversa que temi o que poderia sair de sua
boca em seguida.

Assim que me virei para olhá-lo, uma de suas mãos segurou


meu cotovelo. Meus olhos se fecharam e soltei um suspiro lento.

—Ei, Matthew, — eu disse.

Seu rosto estava afiado de preocupação. Eu podia ver no


conjunto de sua mandíbula e no olhar em seus olhos. Se você não o
conhecesse, provavelmente confundiria com intensidade ou alguma
outra palavra que não estivesse certa.

Ele percebeu. Ele notou minha saída muito covarde. Ele notou
minha mensagem de texto medrosa. Ele notou tudo.
E eu sabia que ele sabia que eu tinha percebido isso. O que fez
sentido na minha cabeça, eu garanto.

Paige limpou a garganta. Alto.

Matthew piscou para as mulheres atrás de mim e sorriu


educadamente. —Allie, obrigado por me convidar.

—Claro. — Ela gesticulou para Paige. —Esta é minha amiga,


Paige Adams. Ela não faz parte do time, mas não consigo me livrar
dela.

Enquanto ele apertava a mão dela, eu não pude deixar de notar


que ele ainda tinha que soltar a mão que segurava meu cotovelo.

—Espero não ter estar interrompendo, — disse ele, se


aproximando apenas um centímetro ou dois de mim.

Eu não conseguia olhar para o rosto dele. Eu simplesmente não


consegui. Aqui não.

Na minha cabeça, eu estava bem ciente de que eu poderia


controlar a conversa durante todo o dia, mas tentar controlar o que
quer que eu estivesse sentindo quando estava com ele era um
assunto completamente diferente.

De qualquer forma, eu mentalmente peguei as rédeas e me dei


um empurrão firme de volta à sanidade.

—Nem um pouco, — insistiu Paige. —Nós estávamos prestes a


convidar Ava para tomar algumas bebidas amanhã à noite.

—Estávamos? — Allie perguntou. Paige deu a ela um olhar


carregado. —Oh, sim, nós estávamos.
Foi distração suficiente, e Deus as abençoe por fazerem isso.
Olhando para Matthew, eu encontrei seus olhos bem no meu rosto.

Estamos bem?

Eu podia ler alto e claro. Talvez as palavras não fossem


exatamente as que ele estava pensando, mas sorri para ele como se
estivessem de qualquer maneira.

Estamos bem.

Seu rosto relaxou e ele assentiu levemente. —Você mora no


centro também, Paige? — Ele perguntou, uma vez que ele voltou sua
atenção em sua direção.

Antes que ela pudesse responder, Luke foi até nós e apertou a
mão de Matthew, equilibrando cuidadosamente um prato cheio de
carne defumada. —Eu não posso esperar para ouvir a resposta a
esta pergunta. — Ele olhou significativamente para Paige. —Vá em
frente, Paige, diga a Matthew onde você mora.

Como um apresentador de game show, Paige usou a mão


segurando seu copo de vinho para gesticular para a enorme casa
atrás de nós. —Mas por que eu me mudaria para o centro da cidade
quando você tem oitenta quartos extras, todos prontos para serem
usados?

Allie sufocou uma risada e Matthew sorriu amplamente. A


expressão descontente de Luke me fez morder o meu próprio
sorriso.

—Oitenta é um exagero, — disse ele.


Paige apontou para ele. —Eu moro na metade que era da Allie,
então cabe a ela me expulsar. — Ela olhou para Matthew e para mim,
revirando seus lindos olhos. —Ele finge que odeia, mas você não
verá ele reclamando quando ele rouba minhas receitas de smoothie,
ou eles têm uma babá grátis para Faith.

Luke suspirou. —Matthew, se sinta livre para comer o quanto


quiser enquanto estiver aqui, porque qualquer sobra hoje vai
apenas consolidar o desejo de Paige de ficar sob o meu teto por
muito mais tempo.

—É verdade, — disse Paige. —Falando nisso, estou pronta para


comer. Alguém mais?

Allie levantou a mão, se inclinando para dar um beijo no rosto


de Luke. Ele piscou para ela enquanto ela se afastava. —Matthew, e
você? — Luke perguntou.

Ele coçou a nuca. —Ahh, em um minuto. Eu realmente preciso


ter uma palavra com Ava bem rápido.

Se Luke ficou surpreso, ele disfarçou bem. —Sem problemas.


Eu vou deixar você para isso.

—Apenas me certificando de que ela me dará uma aprovação


na entrevista que fiz há alguns dias, — ele esclareceu
desnecessariamente. Eu sabia que Luke não se importava se
Matthew queria comparar listas de compras ou me propor
casamento em seu quintal.

Quando estávamos sozinhos - ou o mais perto que poderíamos


estar com outras trinta pessoas andando pelo quintal -, Matthew me
deu um pequeno sorriso. —Você saiu correndo de lá bem rápido no
outro dia.

—Eu saí? — Meu tom falso e inocente o fez sorrir.

—Era Frankie, — eu disse com um suspiro. —Se ele não comer


por um certo tempo, ele fica muito irritado e, acredite, você não quer
ver isso.

—Um Frankie irritado? — Matthew perguntou. —Não, eu


provavelmente não quero ver.

Eu mordi meus lábios, mas perdi a batalha quando vi o jeito que


seus olhos brilhavam com humor. Eu empurrei seu ombro e ele riu
alto.

—O que você queria falar comigo? — Eu perguntei.

—Os seus planos com Paige e Allie estão confirmados?

Eu olhei para ele especulativamente. Inferno, não, eles não


estavam, mas eu não estava deixando ele saber disso ainda. —Por
quê?

Matthew olhou em volta de nós, colocando as mãos nos bolsos


de seu short caqui antes de me responder. —Tem um lugar que eu
preciso que minha guia oficial me mostre.

—Não é a guia de turismo que deveria planejar o que vemos?

Seus olhos se aqueceram. —Você vai adorar, não se preocupe.


Eu cruzei meus braços. —Talvez você não deva soar tão
confiante sobre o que eu vou amar ou não. Você ainda está se
acostumando com essa versão de mim, lembra?

—Talvez eu não devesse, — concordou Matthew, com os olhos


fixos nos meus. —Mas eu não acho que você vai recusar.

Eu vou contar um segredo. Normalmente, eu acho a arrogância


incrivelmente pouco atraente. Mas o encarando do jeito que eu
estava e o ouvindo dizer isso, eu não recusaria, então comecei a
refazer minha definição do que eu achava ou não atraente, mesmo
que essa tenha sido minha opinião por uma eternidade desde que
eu estive nessa posição com um homem.

Pretensioso? Não.

Sexy como a confiança do inferno? Sim, por favor.

—Ok, — eu disse a ele em voz baixa. —Amanhã então.

Ele sorriu, uma covinha aparecendo rapidamente em sua


bochecha esquerda. —Amanhã então.

E lá foi ele, como se ele não tivesse acabado de derrubar toda a


trajetória do meu dia com uma breve conversa.

Eu estava tão ocupada revirando a nossa conversa na minha


cabeça que não ouvi Paige se aproximar.

—Menina, — disse Paige, em seguida, assobiou baixinho. —Não


há nada unilateral sobre isso.
Eu pressionei a mão sobre o meu estômago, e pude sentir as
batidas do meu coração como se tivesse caído umas pedras dentro
do meu corpo.

—Cale a boca, — eu disse a ela com calor zero. —Onde você


conseguiu esse vinho?
—EU VOU te CORTAR se você tentar. Sério.

Eu estava rindo tanto que eu tive que segurar minhas mãos nos
meus joelhos. Ava se inclinou contra a parede de tijolos do prédio
que acabamos de deixar, me esperando, completamente sem graça.

—Você realmente não vai dividir? — Eu perguntei quando eu


poderia falar de novo, olhando para o seu bem mais precioso e
tentando descobrir a probabilidade de eu conseguir arrancar ele de
suas mãos.

Bem grande, considerando quantos sacks eu consegui no ano


passado. Além disso, eu era quase 30 centímetros mais alto que ela.

Ava me deu um olhar tão frio, tão mortalmente sério quando


ela agarrou a barra de chocolate contra o peito que eu acho que
minhas bolas murcharam um pouco. —Claro que não, eu não vou
dividir. Essa é a melhor coisa que eu já coloquei na minha boca.

Ela fez...

Eu congelei. Ela congelou.

Seus lábios rolaram entre os dentes e suas bochechas coraram


por um instante, rosa brilhante.

Minha boca se abriu e ela levantou a mão para me silenciar.


—Eu vou te dar um pequeno pedaço deste chocolate se você
prometer esquecer o que eu acabei de dizer.

Empurrando minha língua para o lado da minha bochecha para


que eu não a perdesse novamente, eu balancei a cabeça lentamente.
—Acordo comercial.

Ava se achatou completamente contra o tijolo vermelho e


branco de Theo Chocolate Factory. Com dedos cuidadosos, ela
desfez o embrulho azul. Dentro do papel dobrado, vi as bordas do
primeiro pedaço.

Como a mulher descreveu isso de novo? Crosta de biscoito


caseiro, caramelo com infusão de baunilha e uma nuvem de
marshmallow coberta de chocolate escuro com um floreio de
chocolate ao leite defumado com madeira de amieiro.

Também conhecida como a melhor coisa que já esteve dentro


da boca de Ava.

Muito devagar e muito deliberadamente, Ava puxou um dos


três pedaços do embrulho e presenteou para mim.

—Uma mordida, — disse ela.

—Eu não ganho tudo? — Usando minha melhor expressão


ofendida, eu me inclinei contra o prédio ao lado dela, a parte
superior de seus ombros mal alcançando o meio dos meus bíceps.

Seus olhos se estreitaram ligeiramente e eu não consegui parar


meu sorriso. —Uma mordida.

Ela colocou o chocolate na minha mão. Tomando o tempo para


estudá-lo com cuidado, não pude deixar de me maravilhar com o
fato de que eu estava fazendo isso, em primeiro lugar. Não comendo
o chocolate. Eu tinha tanto carinho quanto o próximo garoto, e doces
eram uma das minhas poucas indulgências no período de fora de
temporada.

Fiquei maravilhado com o fato de que passei o tempo


atormentando meu cérebro para encontrar algo que eu pudesse
fazer por ela. Para mostrar a ela que eu ainda a conhecia, mesmo que
eu quisesse conhecer a versão adulta dela ao mesmo tempo.

Fiquei maravilhado por aqueles poucos dias em que ela se


tornou escassa, algo mais do que futebol e se preparação para a
temporada estava em minha mente. Eu ainda fazia meus exercícios,
ainda me preparava tanto quanto sempre fazia, mas me vi prestando
atenção em outras coisas ao meu redor.

Havia tantas coisas para fazermos em Seattle, mas quando


tentei encontrar algo que Ava adorasse, que ela soubesse que era
sobre ela, essa era a escolha óbvia. E o olhar de alegria em seu rosto
quando estacionei meu carro na frente do prédio quadrado de
tijolos, valeu a pena.

Ava estava quieta, visivelmente nervosa quando a peguei do


lado de fora do prédio dela. Talvez eu a tenha chocado com a minha
oferta, mas a partir do momento em que chegamos, o sorriso dela
me disse que eu tinha escolhido corretamente.

Eu liguei antes, então fizemos uma visita privada à fábrica.


Enquanto desfrutamos de amostras, nós os ajudamos a temperar o
chocolate derretido em placas de mármore gigantes. Com cada coisa
diferente que ela viu, com cada confecção ela que tentou, ela relaxou
mais e mais.
Eu estava vendo vislumbres da Ava por trás do duro exterior, o
lado dela aperfeiçoado por anos de necessidade. Não havia câmera
escondendo seu rosto, nenhuma barreira de trabalho erguida entre
nós e eu estava me divertindo. Ela também estava. Mesmo que ela
realmente não quisesse compartilhar seu Big Daddy, um nome
infeliz, dado o que ela acabara de dizer.

Uma mordida, ela me disse. Eu o levantei para a minha boca e


ela observou atentamente, seus lábios rosados inclinados para cima
nas bordas.

—Você sabe o que eles dizem sobre grandes caras.

Seus lábios se curvaram ainda mais. —O quê?

Eu me inclinei mais perto até que nossas cabeças estavam


quase se tocando. —Nós damos mordidas muito grandes.

Eu coloquei a coisa toda na minha boca e mastiguei


vigorosamente, gemendo irritantemente enquanto ela me bateu no
estômago.

—Oh, seu idiota, — ela chorou.

Eu ri com a boca cheia, pegando a mão dela antes que ela


pudesse me bater de novo.

—Melhor coisa que eu já coloquei na minha boca, — eu disse


sério.

Aquele rubor estava de volta, mesmo quando ela revirou os


belos olhos verdes.

—Eu não posso acreditar que confiei em você.


Quando chupei meu polegar para pegar o último pedaço de
chocolate, ela me observou com uma expressão adoravelmente
irritada em seu rosto.

—Seu erro, — eu disse a ela facilmente. —Eu não como coisas


assim durante a temporada, então se você vai oferecer, eu estou
aceitando.

Ava bufou.

Quando ela se desencostou da parede do prédio, eu fiz o


mesmo, combinando com seu passo com facilidade enquanto
vagávamos pela rua em forma de estrada. Era um dia nublado e um
pouco mais frio do que eu tinha experimentado desde que havia me
mudado para cá. Respirei profundamente o ar que cheirava
vagamente a sal e oceano da Salmon Bay atrás do prédio e a
chocolate de dentro. —Isso foi incrível.

Eu disse sobre a experiência, mas Ava fez beicinho, claramente


pensando em seu chocolate perdido.

—Eu sei, — disse ela sombriamente. —Agora eu só tenho dois


pedaços e minha alma está triste.

Sem pensar nisso, eu ri e envolvi meu braço em volta dos seus


ombros enquanto caminhávamos. —Você vai sobreviver, Slim.

Ava inclinou seu corpo para o meu, então meu braço se


acomodou mais confortavelmente ao redor dela, e era impossível
não notar o quão perfeitamente ela se encaixava ali, então eu deixei
meu braço bem onde estava. Uma velhinha sorriu para nós quando
passamos por ela, seus olhos maiores do que o normal por trás das
grossas lentes de seus óculos de aros rosados. Eu sorri de volta.
Não era frequente eu ter sorrisos de estranhos que não estavam
conectados a mim no campo de futebol. Eram como pequenas e
inesperadas pausas na minha vida normal.

Por onze anos, eu fui Matthew Hawkins. Treze, se você


considerar os anos em que minha carreira na faculdade realmente
começou a decolar. Quando eu era casado com Lexi, éramos
reconhecidos em todo lugar. Mesmo que fosse tanto por sua carreira
de modelo quanto pela minha, ela adorava essa parte. Eu nem tanto.
Mesmo quando Ava e eu saímos naquele primeiro dia, eu ainda
estava nesse papel. Fazendo essa parte do meu trabalho.

Isso foi maravilhosamente e estranhamente normal.

Ava se afastou de mim quando uma garotinha de bicicleta se


recusou a desviar de seu caminho. —Desculpe, — ela gritou por
cima do ombro enquanto passava por nós.

Soltei meu braço ao lado do meu corpo. —Onde estamos indo?

Ava encolheu os ombros. —Eu não sei. Eu pensei que nós


poderíamos apenas andar um pouco. — Ela olhou para mim
rapidamente. —A menos que você precise voltar.

Voltar para o quê? Eu queria dizer. Eu não tinha nada esperando


por mim no meu apartamento. Eu poderia ter provocado Ava por
postar fotos de seu peixe, mas pelo menos ela tinha um peixe.
Normalmente, isso não me incomodaria. Se eu não estivesse
trabalhando ou assistindo um filme ou estudando o próximo jogo,
eu estava dormindo. O foco obstinado que eu tinha na minha
carreira era algo que Lexi odiava, mas as coisas que ela queria fazer
para me distrair eram todas as coisas que eu odiava. Sair para boates
barulhentas ou grandes festas com pessoas famosas. Lexi era uma
menina doce, mas ela queria mais flashes em sua vida do que eu
poderia dar a ela.

Flashes eram rápidos e brilhantes e tinham a capacidade de te


impressionar por um momento, mas não havia substância nisso. Os
flashes eram questão de sorte, não habilidade ou preparação. Eu não
queria flashes na minha carreira, e eu não queria isso na minha vida
pessoal também. Mas eu aceitei esse desejo dela e ignorei o fato de
que eu tinha uma vida pessoal.

E hoje eu não queria mais fazer isso.

Por um tempo, eu permiti que a deslumbrante demonstração


de riqueza, festas e beleza me cegassem. Nos anos desde que Lexi e
eu nos divorciamos, tive que encarar a dura verdade de quanto meu
ego tinha impulsionado minhas escolhas de relacionamento pobres.
Na faculdade, Ashley parecia a definição perfeita do que eu pensava
que estava procurando. Durante meus primeiros anos na NFL, era
impossível não sentir a pressão do estilo de vida e o que se esperava
de nós, e isso alimentou a parte de mim que Ashley havia
machucado. Meu orgulho.

Lexi acalmou isso por um tempo, até que a superficialidade não


conseguiu suportar o peso da vida real.

Eu não queria baixar minha cabeça e continuar avançando. Eu


não queria correr para casa, para um apartamento escuro, onde a
única coisa que me esperava era uma grande cama vazia. Eu queria
andar por esta rua tranquila, em uma noite nublada e explorar a
cidade com Ava.
—Vamos andar, — eu disse a ela.

Ela escondeu o sorriso satisfeito virando a cabeça, mas eu vi o


canto de sua boca e isso me fez sorrir.

Passamos por algumas lojas, Ava apontando itens engraçados


de novidades por trás das vitrines de vidro impecáveis. Um garoto
se aproximou de nós para uma selfie, e depois que eu tirei uma com
ele, fiz questão de assinar seu chapéu também. Quando viramos a
esquina, Ava olhou em ambas as direções antes de seguir para o
norte. O primeiro edifício pelo qual passamos era um prédio cinza e
pequeno, com um deck amplo e vazio, exceto por uma mesa de
piquenique e algumas mesas. Ava subiu as escadas e eu segui a
música do Arctic Monkeys vindo pela porta aberta.

—Então, se você tem permissão para comer, ocasionalmente,


um pedaço de chocolate de outra pessoa durante o período fora de
temporada, — ela disse, —você se permite tomar uma bebida ou
duas?

Eu olhei para dentro da porta, que estava aberta já que o ar


estava leve. Era um lugar pequeno, com globo de luzes antiquado
pendurado sobre o bar e uma mesa de jantar básica ocupando o
resto do espaço. Pisos de madeira se estendiam pelo comprimento
da sala e, atrás do balcão, havia três fileiras simples de garrafas
empilhadas ao acaso, uma ao lado da outra. Telhas de cobre cobriam
os tetos e, com capacidade, para, talvez, cinquenta pessoas.

Não era como nenhum bar em que eu já estive, e com Ava


parada ali, uma linda mulher me pedindo para tomar uma bebida ou
duas com ela, eu sabia que estava exatamente onde eu precisava
estar.
Eu estendi meu braço em direção à porta. —Depois de você.

O barman, com uma barba magnífica e moderninha e os


suspensórios mais legais que eu já vi, não olhou para mim duas
vezes quando eu pedi dois drinks old-fashioned e alguns bolinhos
de carne de porco e vegetais. Ou ele não era um fã de futebol, ou ele
não dava a mínima para quem entrava em seu bar. De qualquer
maneira, eu me adaptei muito bem.

Com movimentos hábeis, ele misturou nossas bebidas e as


deslizou na minha direção.

—Vou levar os bolinhos assim que ficarem prontos, se vocês


quiserem escolher um lugar, — ele disse, batendo no bar antes de
voltar para a cozinha.

Ava entrou por uma abertura quadrada, com cortinas verdes


pesadas indo para uma área que eu não tinha visto quando olhei
pela primeira vez. Havia cerca de quatro mesas vazias, e ela escolheu
a que estava escondida no canto, nos garantindo maior privacidade.

Entreguei a ela o copo baixo e ela sorriu para mim.

—Eu espero que um old-fashioned esteja ok, — eu disse a ela,


sentando no banco em frente a ela. A mesa era pequena, então
quando eu apoiei meus cotovelos, eu quase ocupei a coisa toda.

Em vez de responder, Ava tomou um gole lento e cantarolou


apreciando. Então ela estremeceu. —Oh, isso é delicioso.

—Melhor que o chocolate?

Ela tomou outro gole de sua bebida. —Eu não estou pronta para
falar sobre o chocolate com você, traidor.
—Você vai me perdoar, em algum momento.

Ava riu, mas não discutiu.

Me sentindo mais leve do que em meses, tomei alguns goles da


minha bebida. O silêncio confortável - impulsionado pela boa
música, pela privacidade que eu não tinha como certa e pelo calor
do álcool - me deixou com um tipo estranho de leveza.

—Qual é a pior parte de estar em um novo time? — Ava


perguntou, largando o copo vazio. Ela se recostou na cadeira,
pedindo mais dois ao barman, depois me deu toda a sua atenção
mais uma vez.

Levantei minhas sobrancelhas com sua pergunta. Me sentei


pesadamente, sustentando seu olhar firmemente, enquanto
pensava em como responder.

—Eu me defini como parte daquela cidade, daquela


comunidade por tanto tempo. Eu nunca imaginei jogar com outra
camisa, então eu nunca pensei que seria o cara novo novamente, o
cara que tinha que provar a si mesmo. — Eu engoli em seco. —Me
senti muito fora do eixo nos primeiros dias.

Ela assentiu. —O que mudou?

Uma garçonete entregou nossas bebidas, e Ava sorriu para ela.


Nós dois bebemos em silêncio.

—O que mudou? — Eu repeti, saboreando as palavras antes de


responder. Talvez a bebida estivesse soltando minha língua, porque
eu raramente bebia, e já sentia a agradável sensação na minha
cabeça. —Eu acho que foi você.
A surpresa a deixou de boca aberta os olhos arregalados. —Eu?

—Você. — Eu sorri. —Isso surpreende você?

Ela pensou rapidamente sobre a resposta, e eu observei o rubor


tomando seu pescoço e o rosto. —Bem, sim. Não é como se eu tivesse
feito muito.

—Você está de brincadeira? — Eu balancei a cabeça. —Slim, eu


não acho que você saiba como é raro estar perto de alguém que não
exige que você use uma máscara ou mantenha a fachada que o resto
do mundo quer ver. Você é a única pessoa aqui que me permite isso.

Ficou claro que ela não tinha nenhuma ideia sobre como
responder a isso, e honestamente, eu também não.

—Estou feliz por poder ajudar, — ela respondeu, calma e


sincera.

Ava se recompôs com outro grande gole e eu fiz o mesmo.

Isolados como nós estávamos, depois de uma tarde agradável,


eu dei a ela um longo olhar e decidi ver se ela me permitiria puxar
um pouco a cortina. Havia coisas que eu queria saber, queria
descobrir, e sua natureza independente me deixava mais
determinado a fazer com que ela se abrisse um pouco.

—Posso te perguntar uma coisa pessoal?

Ela inalou devagar, os olhos arregalados. —Eu deveria ficar


nervosa?

Eu balancei a cabeça. —Não. Estamos apenas conversando.


Você sabe que pode me perguntar qualquer coisa também.
Os dedos de Ava bateram nervosamente na mesa, e porque eu
não consegui me conter, eu coloquei minha mão em cima deles. Ela
me deu um sorriso envergonhado e os manteve imóveis.

—Minha história de relacionamento é praticamente, —


comecei, depois parei com uma careta, —registro público. Mas estou
curioso sobre uma coisa. E você? Como você ainda está...?

Seu sorriso de resposta foi torto. —Ainda solteira? Talvez eu


seja impossível de aguentar. Ou maluca ou as duas coisas.

—Vamos lá, — eu disse, me inclinando na cadeira. Minhas mãos


saíram das dela quando eu o fiz, e ela olhou para elas por um minuto
antes de responder. —Somos todos um pouco impossíveis e
malucos às vezes. Não há histórias picantes de ex-namorados para
compartilhar enquanto bebemos whiskey?

As sobrancelhas de Ava se curvaram brevemente. —Na


verdade não. Não desde a faculdade. Eu fico tão ocupada com o
trabalho e eu o adoro. Foi... o suficiente.

O suficiente. Que palavra segura e invulnerável para uma


mulher tão inteligente, bonita e interessante usar. Que ninguém a
conheceu e sentiu o mesmo desejo de descobrir as partes que ela
não mostrou ao mundo parecia inacreditável. Parecia...

—Isso parece impossível, — eu disse baixinho, e mesmo que eu


não tivesse a intenção de dizer isso em voz alta, ela me ouviu. Suas
bochechas coraram e ela desviou o olhar rapidamente.

Uma explosão de riso do outro quarto cortou o momento de


silêncio e nossos olhos se encontraram. Ela também sentiu o corte
de um momento inesperadamente pesado, a transição para uma
conversa normal.

A partir daí, foi fácil. Risos vieram do nosso próprio canto,


trocamos histórias de coisas que ela tinha visto e feito em seu
trabalho, e eu contei a ela histórias dos meus anos em Nova Orleans.
Em um momento, ela colocou a mão sobre a boca para que não
vomitasse sua bebida sobre a nossa pequena mesa, ocupada pelos
meus braços enquanto eu me inclinava na direção dela. Aqueles
olhos se fecharam e, como eu estava terminando meu terceiro
drinque, tive que lutar contra o desejo de me aproximar e usar meus
dedos grandes e desajeitados para abri-los novamente, para poder
ver a cor brilhante contra seus longos e escuros cílios.

Ava baixou a mão e respirou fundo. —E quanto tempo demorou


para tirar o glitter do seu carro?

Meus olhos viram seus lábios se movendo, mas eu não pude


ouvir o que ela disse por causa do barulho dentro da minha própria
cabeça. Então eu estava analisando a forma de seus lábios enquanto
eles formavam as palavras. Então eles formaram um sorriso doce, e
percebi que estava olhando para a boca de Ava Baker.

—Desculpe, — eu murmurei e senti minhas bochechas


esquentarem. —Está ficando barulhento aqui.

Ela cantarolou, mas não respondeu. Provavelmente, porque


não estava barulhento. Provavelmente, porque eu estava um pouco
agitado, e eu estava olhando para sua boca, tentando decidir de que
tom de rosa seus lábios me lembravam.
E o nariz dela. Era reto e pequeno e tinha uma pequena
inclinação no final.

Além disso, havia aquela sarda que ela tinha na bochecha


direita. Como eu nunca havia percebido isso antes?

—Matthew? — Ela disse, claramente se divertindo, mas


também claramente envergonhada por minha leitura atenta.

Me recostei e fiz mais uma análise lenta do rosto dela, com


olhos que pareciam lúcidos e um cérebro que parecia confuso.

Mas a imprecisão do meu cérebro, feliz, sem peso e contente


nesse pequeno momento que estávamos desfrutando, não se
compara à minha língua idiota e lenta. Porque em vez de dizer a ela
o quão bonita eu a achava, eu me ouvi dizer algo completamente
diferente.

—Você não se parece em nada com sua irmã.


SE MATTHEW tivesse levantado seus grandes punhos e me
socado no estômago, ele não teria me surpreendido mais.

Ouvi a rajada de ar deixar minha boca como um soco, pesado, e


ele se recostou, o rosto se transformando em alguma expressão
dolorida e horrível quando percebeu o que disse. Percebendo como
isso soou.

—Ava, — ele disse rapidamente, piscando rapidamente e se


inclinando no meio da mesa. —Q-que... não é isso o que eu quis dizer.
Eu sou tão burro. Eu sinto muito.

Eu tentei sorrir, mas meu rosto estava tão quente e espinhoso,


minha pele gelada, que meus músculos travaram no momento que
em que ele disse isso e me impediram de fazê-lo.

Ele pôs suas mãos sobre as minhas, que ainda estavam


congeladas na mesa. As mãos dele estavam mais do que quentes. As
mãos de Matthew nas minhas faziam parecer que alguém havia
envolvido o sol sobre um bloco de gelo. Basicamente, não tive a
menor chance.

—Está tudo bem, Matthew. — Eu aspirei. —Eu passei a minha


vida inteira sabendo que a beleza transcendente de Ashley,
praticamente, ofusca todos ao seu redor. Ashley é o que aconteceria
se Blake Lively e Margot Robbie tivessem um bebê e Charlize Theron
jogasse um pouco de seu DNA ali, só para ter certeza de que ela era
o ser mais angelical que já andou na Terra.

Ohhhhh! A amargura não foi tão ausente do meu tom como eu


pensei que seria. As palavras soaram afiadas. Como se alguém
derramasse xarope sobre gelo, o resultado era algo duro, rachado e
desconfortável. Algo impossível de ingerir.

Para sua sorte, Matthew não olhou para mim com pena
naqueles quentes olhos castanhos. Se ele tivesse olhado para mim
com pena, minha saída teria sido tão rápida que eu deixaria marcas
no barzinho.

Ele lambeu o lábio inferior antes de falar novamente, pesando


suas palavras com cuidado desta vez. Talvez ele devesse ter feito
isso cerca de quatro minutos atrás.

Suas mãos apertaram meus punhos cerrados. E o que


aconteceu com o gelo sob o calor implacável do sol? Derrete, como
uma pequena vadia que nunca deu as mãos antes. Meu dedo
indicador se emaranhou com o dele, e ele exalou devagar.

—Eu sou um idiota, — ele começou. Eu ri baixinho, mas não


argumentei porque as palavras dele ainda ardiam como pequenas
urtigas. —E eu não vou fazer sair fumaça da sua bunda, negando que
sua irmã era uma mulher bonita.

Uma das minhas sobrancelhas apareceu. —Era?

Seus ombros montanhosos se levantaram em um encolher


casual que desmentia a intensa expressão em seu rosto. —Eu não a
vejo há dez anos. Talvez ela seja feia agora.
Desta vez, eu ri alto. A dor no meu peito começou a diminuir,
batida por batida do meu coração.

—Ela não é feia, — eu disse a ele.

—Não importa se ela é ou não é. — Seus olhos perfuraram os


meus. Não, a dor tinha desaparecido, mas em seu lugar estava essa
bola quente de emoção pela maneira como ele olhava para mim.
Matthew Hawkins estava olhando para mim como se estivesse
decorando cada parte do meu rosto. Não catalogando como antes,
mas o gravando em sua memória. —O que eu quis dizer, é que você
é incrivelmente linda, Ava. Não tem nada a ver com quem você é
parente, ou como eu te conheci há vários anos atrás. Estou feliz por
estar sentado em sua frente agora.

Bem, merda. Aquela bola quente de emoção? Esse era meu


coração, derretendo em uma bagunça pegajosa até a sola dos meus
sapatos super fofos. O homem me levou a uma fábrica de chocolate,
o que já era ruim o suficiente. Agora, eu estava com o coração todo
alegre, sentada na frente dele enquanto ele me dizia uma merda
dessas. O que ele esperava? Eu era apenas humana. Uma mulher
humana que tinha uma paixão furiosa por ele há anos.

Esta foi uma receita para um desastre absoluto que só poderia


terminar com constrangimento de esmagar a alma, da minha parte.

—Eu não vou chorar, — eu disse. O que era estranho porque o


pensamento nem sequer passou pela minha cabeça até que eu
pisquei e meus olhos começaram a coçar e ficar quentes. Seus lábios
formaram sorriso. —Mas se eu estivesse sóbria, e até mesmo
levemente de TPM, estaria chorando.
—Você só chora quando está sóbria? — Por alguma razão, ele
parecia encantado com esse pouquinho de informação.

Eu balancei a cabeça seriamente. —Sim. Eu sou uma bêbada


muito feliz na maioria das vezes. — Então inclinei a cabeça para o
lado enquanto pensava nessa declaração. —A menos que você me
dê vinho tinto. O vinho tinto me deixa muito, muito emotiva.

—Anotado, — ele disse com uma gravidade que me fez rir.

Ótimo, agora eu estava rindo, e seus dedos ainda estavam


tocando os meus, e acho que precisávamos sair dali antes que eu
tivesse o impulso de provar sua pele com a minha língua. Em todos
os lugares.

—Provavelmente eu nunca te darei vinho tinto então, —


continuou Matthew, enquanto eu imaginava o sabor do tendão do
seu pescoço.

—Não? — Eu perguntei depois que eu pisquei saindo da minha


fantasia. Ele teria gosto de sexo. E força. E um homem que poderia
fazer um supino sem suar, e eu realmente precisava pensar em outra
coisa. Estava ficando quente aqui?

Ele apertou minhas mãos antes de soltar e sentar de novo em


sua cadeira. —Não. Por que eu iria querer fazer alguma coisa que
pudesse fazer você chorar? Isso partiria meu coração.

Eu fiquei de pé rapidamente e ele piscou para mim surpreso. —


Nós precisamos ir.

Matthew respondeu devagar. —Ok. Você está se sentindo bem?


Com a mão trêmula, eu tirei o cabelo do meu rosto e assenti. —
Sim, apenas essas bebidas me pegaram, eu acho.

Ele riu, jogando algum dinheiro sobre a mesa enquanto se


levantava. —Eu também. Eu não bebia tanto há anos.

Erro número um - eu fiquei muito perto dele quando saíamos


do bar, então quando eu o cutuquei com meu ombro, isso me fez
parecer um filhote contra seu enorme peito.

Erro número dois - eu esqueci meus passos no final do deck.

Erro número três - usando saltos.

Meu tornozelo vacilou quando demos o primeiro passo, e meu


outro pé caiu desajeitadamente. Eu ofeguei quando senti o estalar
do meu calcanhar quando ele atingiu o pavimento em um ângulo
estranho.

O braço de Matthew me agarrou pela cintura antes que eu


caísse de cara na calçada.

—Filho da puta, — eu gemi enquanto mancava no concreto.

—Você está bem?

Eu olhei para os meus pés, um ainda arqueado sete centímetros


maior do que o outro. Minha pobre sandália Jessica Simpson Eveena.
Você era o tom perfeito de amarelo fluorescente. Você não fez nada
para merecer isso.

Matthew começou a rir e eu gemi quando percebi que tinha dito


em voz alta. Seu braço envolveu meus ombros, uma vez que eu
estava aninhada em seu lado. Meus lábios formaram um beicinho
ridículo, e ele estalou a língua.

—Vai ficar tudo bem. Eles eram realmente caros ou algo assim?

—Não, mas o custo não é o ponto. O ponto é que eu os amava.


O ponto é que agora eu tenho que ser essa pessoa, mancando para
casa como uma garota de faculdade bêbada que não sabe a hora de
parar de beber.

Na luz que se desvanecia ao nosso redor, o céu se tornando azul


escuro enquanto o sol desaparecia, Matthew sorriu para mim de um
jeito que me fez sentir como uma barra de chocolate derretida.

—Que tal eu prometer levar você para casa em segurança?


Nada de mancar.

Eu estreitei meus olhos para cima, para seu rosto bonito.


Quando ele ficou tão alto?

Ah sim, quando eu quebrei meu maldito sapato.

—Você não pode dirigir, — eu disse a ele acusadoramente.

—Eu sei.

Então ele levantou o braço e gritou: —Ei, bem aqui.

Um táxi de minivan amarelo brilhante parou no meio-fio a


cerca de doze metros de nós. —Está tão longe, — eu sussurrei,
minha cabeça viajando e meu tornozelo latejando, e toda a lateral do
meu corpo pressionado perfeitamente contra a dele. Quando meu
braço passou pela cintura dele?
Nem me importei quando, por baixo das minhas mãos, pude
sentir seus músculos. Todos os músculos. Então, muitos deles.
Quentes, instáveis, fortes músculos de Matthew.

—Aqui vamos nós, — ele disse, seu único aviso quando ele
mergulhou, colocando um braço debaixo dos meus joelhos e um
atrás das minhas costas para me pegar em seus braços como se eu
fosse um maldito saco de grãos.

—Matthew, — eu gritei entre risadas ofegantes. Mas eu


reclamei? Claro que não.

Meus braços envolveram o pescoço dele imediatamente. Eu


posso até ter balançado meus pés em um ritmo feliz quando ele nos
levou até o táxi que estava esperando.

—Assim é melhor? — Ele perguntou, seu rosto a poucos


centímetros do meu. Encontrando seus olhos, eu podia sentir o
cheiro da doçura de sua respiração. A luz amarela do topo do táxi fez
seu rosto esculpido parecer mais duro e mais intenso que o normal.

O ar estava espesso ao nosso redor enquanto eu assentia. Seus


olhos caíram para minha boca e eu lambi meus lábios.

—Obrigado, — eu sussurrei.

Ele não desviou o olhar enquanto abria a porta do táxi. Uma vez
que estava aberta o suficiente para ele entrar, eu esperava que ele
me colocasse no chão, mas ele simplesmente... não o fez. Uma
demonstração de sua força e do controle que ele tinha sobre seu
corpo incrível, Matthew entrou no táxi e se acomodou na primeira
cadeira do carro.
—Para onde? — O taxista perguntou em um tom entediado.

Eu falei meu endereço, interrompendo brevemente o estranho


e vibrante contato visual que estava rolando.

Quando o táxi arrancou, tive que respirar fundo e admitir que


estava sentada no colo de Matthew Hawkins, com os seus braços ao
meu redor, imóveis e inflexíveis.

—Você poderia ter me colocado no chão, — eu disse baixinho,


inclinando minha boca em direção a sua orelha, como se fosse um
segredo que eu não queria que ninguém mais ouvisse.

Seus olhos ardiam dourados no interior escurecido da cabine.


—Eu poderia.

Me movendo levemente para que eu pudesse vê-lo melhor,


respirei fundo e deixei meus dedos passearem pela parte de trás de
sua cabeça. Sob a minha pele, seu cabelo curto parecia macio,
enquanto eu arrastava as pontas dos dedos para cima e para baixo
em padrões lentos.

O braço que antes estava sob meus joelhos estava em meu colo
agora, e sua mão se abriu ao longo da extensão da minha coxa nua.

Não havia mais sol e gelo. Nenhuma separação entre o que ele
era e o que eu era, nenhuma linha divisória entre nós.

Era só calor. O que quer que estivesse nele penetrou em mim,


em minhas veias, através de cada pulsação de sangue do meu corpo.
Movimentos minúsculos que poderiam ser ignorados em quase
qualquer outra situação. Não havia música. Sem palavras. O
motorista não contava porque estava focado em outra coisa.
Éramos só ele e eu, no silêncio doce e longo.

Seus dedos se curvaram em minha pele enquanto sua mão se


movia lentamente na direção do meu joelho e para trás. Sua
respiração acelerou, eu podia sentir em meus lábios abertos.

Minhas costas arqueando contra seu peito, meus seios roçando


a frente de sua camisa enquanto ele se movia com suas profundas
inspirações, breves exalações.

Meus dedos pressionando mais contra a curva de seu crânio


como se eu pudesse forçar ele para mais perto de mim. Mas ele se
manteve firme, seus olhos queimando nos meus com algum
pensamento não dito.

Há uma linha e estamos prestes a atravessá-la.

Isso foi o que eu vi na cara dele. Não foi realmente uma


pergunta. Não devemos?

A inevitabilidade disso foi facilitada pelo doce deslizamento de


álcool em nossas veias. Mas eu não estava bêbada. E nem ele.

E eu sabia o que queria. Era hora de ver se ele queria o mesmo.

—Matthew, — eu sussurrei, aproximando minha boca da dele


e apertando meus braços ao redor de seu pescoço. Seus braços se
apertaram em volta de mim.

Mais perto.

Mais perto.
Meus lábios roçaram os dele quando falei novamente. Meu
corpo inteiro estava palpitando de necessidade. —Se qualquer parte
de você não quer me beijar agora, então—

Ele me calou, esmagando seus lábios nos meus. Uma inclinação


de sua cabeça e um gemido profundo de seu peito, me fizeram abrir
os lábios para que eu pudesse tocar sua língua com a minha. Ele
varreu a minha boca, molhado e ainda fresco do gelo em sua bebida,
dominando o beijo antes que eu pudesse tomar fôlego.

Seus lábios eram firmes e, puta merda, esse homem sabia


beijar. Sua grande mão agarrou a curva da minha bunda enquanto
eu me pressionava mais e mais contra seu peito. Se houvesse espaço
na cadeira, eu estaria sentada em seu colo como se fosse meu
trabalho.

Isso era mais, muito mais do que qualquer coisa que eu pudesse
imaginar.

Chupando, dando beijos mordidos. Bebendo docemente dos


meus lábios, antes de apertar meus botões novamente e puxar meu
lábio inferior entre os dentes, tirando um gemido de mim que soava
desesperado.

Matthew Hawkins poderia beijar.

Ele estava me beijando.

E ele pensou que era impossível que eu fosse solteira.

Eu lambi na borda de seus dentes, gemendo quando ele chupou


a ponta da minha língua em sua boca. Minhas unhas cravaram em
sua cabeça, e ele grunhiu na minha boca, se afastando para que ele
pudesse chupar meu pescoço.

—Você tem um gosto tão bom, — ele murmurou contra o meu


pulso.

Com uma ferocidade que me surpreendeu, agarrei as laterais


do seu rosto com as duas mãos e encontrei sua boca novamente.
Apenas o som de sua voz tão, tão profunda dizendo aquilo, me fez
sentir frenética e nervosa, uma drogada procurando um alívio, um
breve golpe para acalmar meus nervos.

Eu trabalhei meus lábios contra os dele enquanto meus quadris


balançavam. Uma de suas grandes mãos deslizou pelas minhas
costas, emaranhou no meu cabelo, e segurou os fios em um punho
apertado. O som que emiti, na paixão mal contida naquele aperto,
ecoou pela van.

—Sem sexo, — o taxista gritou, virando em nossa direção. —É


sério. Eu vou te deixar aqui se você não puder manter suas calças
fechadas.

Contra minha boca, Matthew sorriu. Eu lambi a linha do lábio


inferior dele, e ele soprou o ar para fora do nariz.

—Você não está facilitando isso, — ele sussurrou.

Agora foi a minha vez de sorrir. Ugh, as sessões de pegação de


táxi eram as melhores. —Então— - limpei minha garganta
delicadamente - —estou dificultando?

Ele me fez cócegas, e eu comecei a rir, parando apenas quando


ele deslizou a mão para o lado para segurar meu peito com uma mão
enorme. Sua palma o cobriu e se moveu em círculos lentos e
provocantes. Arqueando minhas costas com aquela carícia, eu
queria que fosse mais, mais forte e com menos roupas.

—Aham, — o taxista pigarreou irritantemente, e eu me afastei.


Construções familiares me fizeram sair de qualquer estupor
causado pelas mãos e lábios de Matthew no meu corpo.

Antes que ele pudesse se mexer, porque – olá -, eu estava em


seu colo, peguei minha bolsa e dei dinheiro para o motorista. Ele
suspirou quando me inclinei para frente, para abrir a porta e tentar
pular fora. A mão de Matthew ficou nas minhas costas quando eu saí,
seu grande corpo logo atrás.

Mesmo que as pessoas ainda andassem pelas ruas, estava


escuro o suficiente na frente do meu prédio, ninguém olhou para
Matthew duas vezes. Eu dei um passo mancando e ele foi me pegar
de novo.

Eu estendi a mão. —Não se atreva.

Matthew levantou lentamente uma sobrancelha. —Você não


quer que eu carregue você como eu fiz antes?

—De jeito nenhum.

Ele encolheu os ombros. Em seguida, se abaixou rapidamente


para me levantar por cima do ombro, no estilo bombeiro. Eu gritei
de tanto rir quando ele entrou no meu prédio, parando apenas
quando o segundo conjunto de portas não abriu.

—Não vai funcionar sem o meu cartão ou alguém subindo, —


eu disse entre risadinhas. Ele me bateu na bunda, então eu belisquei
a dele. Meu Deus, o traseiro daquele homem deveria estar em um
museu. Vasculhando minha bolsa da melhor maneira que pude
enquanto estava pendurada de cabeça para baixo, eu me segurei
nele para passar meu cartão na frente do scanner. A luz ficou verde
e Matthew abriu a porta.

Uma vez que estávamos no elevador, me contorci para descer.

—Qual andar? — Ele perguntou, apertando o braço atrás das


minhas coxas.

—Eu não consigo lembrar, — eu disse a ele. —Todo o sangue


está indo para a minha cabeça.

Ele suspirou, me virando para o painel. Eu soquei o quatro e o


elevador subiu.

Evidentemente, eu estava muito enferrujada em toda a coisa de


namoro, mas qual era a expectativa quando vocês dois estavam
animados, já tinham feito as línguas se enrolarem, e ele estava
carregando você por cima do ombro até o seu apartamento?

Para mim? Eu traduzi isso como estando muito, muito feliz por
estar usando sutiã e calcinha bonitos.

A campainha tocou no quarto andar e eu dei um tapinha nas


suas costas. —Sério, eu posso andar agora, seu grande macaco.

Quando ele me inclinou sobre os meus pés, o corredor girou


perigosamente, e foi assim que me peguei agarrando seus bíceps
enquanto esperava minha cabeça se endireitar.

Então eu apertei, sentindo os músculos tensos sob meus dedos.


Tão grande. Tão, tão grande.
Abri os olhos e minhas mãos deslizaram por seus bíceps e por
cima das rochas que formavam seus peitorais. Seu sorriso se desfez,
seu rosto ficou tenso com o calor enquanto eu sustentava seu olhar.

Sua mão subiu para o meu rosto para tirar meu cabelo da minha
testa.

—Você me diz o que acontece a seguir, Slim.

Meus olhos se fecharam quando ele usou meu apelido, algo que
de repente parecia precioso, secreto e nosso. Sim, havia álcool em
nossa corrente sanguínea, talvez apenas o suficiente para não
questionarmos o que estava acontecendo entre nós.

Tudo que eu sabia era que eu o queria. E se esta fosse a nossa


única noite, então eu não queria desperdiçá-la.

Minha mão desceu de seu peito para a fivela prateada do seu


cinto por baixo de camisa, e eu enrosquei meus dedos atrás do metal
duro.

Comecei a andar em direção ao meu apartamento, com a mão


enganchada naquele cinto, e talvez eu meio que tenha esbarrado na
dureza quase inacreditável por baixo dele.

OK, tudo bem. Foi de propósito. Mas com sua inalação brusca,
eu sorri.

Eu me atrapalhei com a chave enquanto ele enterrava o nariz


no meu cabelo, envolvendo seus braços nos meus quadris e me
puxando de volta contra ele.

Antes de nos deixar entrar no meu apartamento, eu me virei e


pressionei minhas costas contra a porta, olhando para ele com os
olhos arregalados e um coração que ele provavelmente poderia
quebrar com as palavras erradas.

—Se você não quer entrar, — eu disse a ele baixinho, —você


precisa dizer isso agora. Eu não vou ficar puta, e não vou usar isso
contra você.

Matthew levantou uma mão para envolver a parte de trás do


meu pescoço, então se inclinou para pressionar um profundo,
penetrante beijo em minha boca. Eu fiquei na ponta dos pés para
conseguir mais, mais dele; minhas mãos incapazes de tocar o
suficiente do que eu queria.

Sua pele na minha.

O peso dele sobre meu corpo.

Para saber como era o gosto dele nos lugares que o mundo não
podia ver.

Era isso que eu queria.

E prendi a respiração enquanto esperava que ele respondesse,


para ver se ele queria o mesmo.

Quando ele se afastou, ele olhou nos meus olhos. —Eu quero
entrar.

Meus lábios se curvaram em um sorriso satisfeito. —Boa


resposta.

Atrás de mim, girei a maçaneta. Nós nos viramos, meu


apartamento um borrão quando ele se inclinou para me levantar,
me pressionando contra o interior da porta desta vez. Minhas
pernas se separaram da força de suas mãos e as envolvi em torno de
seus estreitos quadris.

Ele era tão forte. Sem mais esforço do que eu abrindo a porta,
ele me segurou contra a madeira dura enquanto sua língua se
entrelaçava com a minha. Eu corri minhas mãos sobre seu peito,
sentindo seu coração martelar debaixo da palma da minha mão,
meus dedos abertos.

Em seus braços, com as mãos em mim e seus lábios se movendo


sobre os meus, senti a lenta construção do prazer cobrir cada
centímetro de mim. Isso me transformou em uma massa de ossos,
sangue e pele que se retorciam e choramingavam. Uma criatura que
precisava mais de tudo que ele estava me dando.

Mais da sua pele. Seus lábios. Sua boca. Suas mãos. Seu corpo.

Eu o empurrei para trás e respirei fundo. Os lábios de Matthew


estavam vermelhos dos meus beijos, e eu senti um sorriso
espalhado pelo meu rosto corado.

—O quê? — Ele perguntou, tão ofegante quanto eu.

—Quarto. Cama.

—Certo.

Ele se endireitou e caminhou pelo único corredor do meu


pequeno apartamento. Uma mão ficou firme na minha bunda, e a
outra deslizou pela minha espinha enquanto ele me carregava com
facilidade.

—Lugar legal.
Eu prendi a ponta da minha língua entre os dentes enquanto
sorria para ele, e seus olhos acompanharam o movimento com calor
e fogo. —Você não está nem olhando.

—Eu sei.

Meu quarto estava quase todo escuro, e rapidamente me


perguntei se seria óbvio se eu dissesse a ele para esperar para que
eu pudesse ligar o interruptor de luz.

Eu não queria sombras. Eu não queria apenas um vislumbre da


obra-prima que era o seu corpo. Eu queria Technicolor. Eu queria
saber como as minhas mãos ficariam contra a sua pele em detalhes
gritantes.

E em algum lugar no fundo da minha mente, na parte mais


vaidosa e egoísta de mim, eu queria que Matthew quisesse o mesmo.
Eu queria que ele olhasse para mim enquanto se movia entre as
minhas pernas e via cada centímetro de mim.

Ele parou e procurou atrás dele, e com um breve movimento


iluminou o quarto com uma luz forte e brilhante, eu imaginei se eu
tinha falado aquilo em voz alta.

Isso era impossível, porque meus lábios estavam ocupados


lambendo, sugando, beijando ao longo de sua mandíbula dura,
esculpida em granito.

—Eu quero ver você, — ele sussurrou contra a minha pele, e eu


tremi mesmo que seu calor fosse praticamente incendiário. —Eu
quero ver muito mais.
Matthew me jogou na cama e eu ri quando balancei. Seu sorriso
de resposta era doce e infantil, e isso fez meu coração revirar no meu
peito. Porque quando ele olhou para a minha boca sorridente, seu
sorriso se tornou predatório assim que ele tirou a camisa e a jogou
no chão.

—Eu poderia assistir isso em um loop todos os dias e nunca


ficar entediada, — eu disse e, em seguida, coloquei a mão na boca
quando a mão dele parou sobre a fivela do cinto.

Seus dentes brilhavam brancos em sua boca quando ele riu, e


aquelas mãos enormes voltaram a trabalhar em seu cinto. Bom
menino.

Eu estreitei meus olhos, não querendo ser a única causadora de


caos induzido por pele e palavras atrapalhadas. Me sentei, tirei
minhas sandálias e, lentamente, fiquei de joelhos na cama.

As mãos de Matthew pararam no zíper quando cruzei os braços


e gradualmente puxei minha camisa sobre a cabeça.

O pomo de Adão dele balançou lentamente enquanto engolia.


Seus olhos ardiam, nunca oscilando do sutiã de renda nude cobrindo
meu peito. Nunca minhas garotas taça B me causaram tanto orgulho,
mas Matthew olhou diretamente para elas e lambeu seus lábios, um
movimento lento e quase indecente quando ele terminou de abrir
suas calças.

Quando minhas mãos foram para o meu short, ele balançou a


cabeça.

—O quê? — Eu perguntei.
—Eu farei o resto se você não se importar. — Sua voz deveria
ter vindo com uma etiqueta de aviso. Quando chegou a esse timbre,
um sinal de néon deve piscar sobre sua cabeça. Prossiga com
cuidado. Calcinhas podem entrar em combustão espontânea.

Ele pairou acima de mim, braços grossos segurando os dois


lados da minha cabeça, as calças abertas. Desesperadamente, eu
tentei não ficar de boca aberta com tudo o que ele era, e ele era
muito.

Eu nunca tinha sido olhada desse jeito antes, do jeito que


Matthew estava olhando para mim.

Como se ele quisesse me comer viva.

A maneira como ele se segurou acima de mim, uma grande


quantidade de espaço entre seu peito e o meu, fez todas as curvas e
linhas sobre seu peito, braços e ombros aparecerem em acentuado
relevo. Quase parecia impossível que um corpo pudesse ter tanta
força.

—Você está se exibindo? — Eu sussurrei, acenando com a


cabeça para o sua pseudo- flexão sobre o meu corpo.

Ele balançou a cabeça, abaixando seu corpo sobre o meu com


uma lentidão dolorida e provocante. Quando seu peito tocou o meu,
eu suspirei, envolvendo meus braços nos seus ombros para que eu
pudesse escorregar meus lábios nos dele. Ele subiu de novo, e eu
choraminguei.

—Agora eu vou me exibir, — ele disse com um sorriso


malicioso. Ele apoiou seu peso em um braço e usou o outro para
explorar o espaço de pele entre a parte de baixo do meu sutiã até a
cintura meu short. Ele virou os dedos e os empurrou para baixo,
entre as minhas pernas; sua mão presa entre a minha pele e a renda
da minha calcinha.

Lentamente, docemente, ele explorou, me fazendo contorcer e


me deixando impaciente com seus dedos grossos. Primeiro um,
depois dois. Eu agarrei seu pescoço até ele abaixar novamente, mas
em vez de tomar minha boca do jeito que eu queria, ele chupou a
renda do meu sutiã sobre o meu peito até que a renda estivesse
molhada e completamente transparente.

Com uma profunda sensação de alívio, finalmente percebi que


isso não era um engano induzido por álcool. Era cheio de luxúria,
pela maneira como ele deslizou seus dedos, lábios e língua sobre
mim e dentro de mim. Minhas mãos se espalharam sobre suas
costas, minhas unhas arranharam seus músculos, até que ele sibilou
contra o meu peito.

Nos viramos e eu montei em seu colo enquanto tirava meu


sutiã.

Nenhum de nós parecia desesperado para apressar as coisas, o


que acrescentou um significado que eu não esperava.

Quando rolei meus quadris sobre sua dureza, ele empurrou


meu cabelo para fora do meu rosto para que ele pudesse encontrar
meus lábios com um beijo penetrante, quase punitivo. Suas mãos
agarraram minha cintura, deslizando para cobrir meus seios com
suas mãos grandes e quentes. Seus polegares fizeram círculos
apertados, e eu tive que me afastar de sua boca para respirar,
através da onda que isso fez com o meu corpo.
—Matthew, — eu gemi, e ele nos virou novamente, se sentando
brevemente entre as minhas pernas para me livrar do meu shorts e
se livrar do dele. Ele congelou quando se acomodou entre as minhas
pernas, que imediatamente se apertaram em torno de suas coxas
para que ele não achasse que estava indo a algum lugar.

Ele fechou os olhos quando eu fiz isso. —Você tem... Eu não


tenho nenhuma comigo.

Demorou um segundo para eu descobrir o que aquelas palavras


significavam, porque, hey, fazia um tempo desde que eu dividira a
cama com alguém, quanto mais com alguém que eu quisesse que me
visse sem calcinha.

Eu olhei para ele, esperando que ele abrisse os olhos.


Lambendo meus lábios, eu pulei do penhasco proverbial com o que
eu disse em seguida.

—Eu faço controle de natalidade, — eu sussurrei. —Já faz


bastante tempo para mim.

Sua mão segurou a lateral do meu rosto, o polegar roçando a


borda inferior do meu lábio. —Pra mim também.

Eu engoli enquanto observava ele pensar. Eu sabia. Eu tinha


certeza. Por medo de forçar ele de um jeito ou de outro, fiquei
perfeitamente imóvel sob sua estrutura maciça. Ele me ofuscava, em
todos os sentidos possíveis. Na verdade, eu não tinha certeza se ele
não iria me quebrar. Ou minha cama. Qualquer um dos dois.

Mas puta merda, esse era um risco que eu estava disposta a


correr.
No momento em que ele tomou sua decisão, não mais do que
uma respiração depois, vi a mudança em seus brilhantes e ardentes
olhos âmbar. Ele usou a mão para empurrar minha perna em
direção ao meu peito, e com um deslize suave e longo, ele empurrou
para dentro.

O sopro de ar que saiu da minha boca foi parte suspiro, parte eu


nunca vou sentir nada tão bom quanto isso, e parte refrão de aleluia
na minha cabeça.

Até ele fazer isso de novo com a testa apoiada na minha.

Seus braços envolveram fortemente as minhas costas, e minhas


pernas se fecharam ao redor de suas costas, meus tornozelos
travados com firmeza.

Eu não estava indo a lugar nenhum, pessoal.

Ele me beijou profundamente enquanto se movia, e minha


língua deslizou escorregadia contra a dele enquanto eu me movia no
mesmo ritmo. Empurrando quando ele puxava, rolando quando ele
voltava. Suas costas ficaram úmidas de suor, meu peito fez o mesmo.

Senti o calor da pressão deslizar pela minha espinha, em meus


quadris e até nos dedos dos pés quando eles se curvaram contra os
lençóis emaranhados. Jogando a cabeça para trás, apoiei as mãos na
cabeceira da cama enquanto exorcizávamos o que estivesse
construído entre nós.

Ele fez um movimento firme, o rápido estalar de seus quadris,


e eu quebrei, onda após onda de alívio doce, como uma explosão de
luz.
Matthew me agarrou com uma força contundente, suas mãos
em volta dos meus ombros, enquanto ele seguia, meu nome em seus
lábios enquanto ele o fazia.

Seu grande corpo caiu contra mim, sua respiração batendo no


meu pescoço como se ele tivesse acabado de correr uma maratona.
Meus braços o envolveram com força, e corri meus dedos ao longo
da linha impossivelmente macia de seu cabelo, onde encontrei a
pele de seu pescoço.

Depois de um minuto, ele levantou a cabeça e olhou para mim.

Fique, desejei fervorosamente na minha cabeça, mas estava


com medo de perguntar em voz alta. Talvez fosse isso. Talvez essa
fosse a minha vez de saber como ele se sentia. Eu não conseguia ler
o que estava em seus olhos enquanto eles se moviam pelo meu rosto.

—Você tem espaço suficiente nesta cama para mim esta


noite—? Ele finalmente perguntou.

Eu sorri. —Sim.

Ele se deitou de lado com um gemido profundo, me arrastando


de modo que minha cabeça estivesse em seu peito e minhas pernas
entrelaçadas com as dele. —Boa.

Sorri para a pele salgada de suor sobre o coração dele,


pressionando um pequeno beijo ali. Bom, era uma palavra para isso.
Resumidamente, eu saí da cama para me limpar e pegar as duas
garrafas de água. Ele estava cochilando quando eu voltei para o meu
quarto nua, mas seus olhos se abriram apenas o suficiente para me
observar.
Seus lábios se curvaram um pouco quando eu deslizei de volta
sob o lençol que cobria sua cintura.

Fiquei tentada a arrastá-lo para baixo com o dedo mindinho, só


para ter certeza de que não tinha imaginado o que estava lá
embaixo, porque ele era proporcional. Mas ele parecia tão cansado,
tão satisfeito, que eu não pude quebrar o clima. Eu me aninhei ao
seu lado e suspirei.

—Boa noite, Slim, — ele sussurrou contra o topo da minha


cabeça, dando um beijo doce no meu cabelo.

Eu fiquei lá por pelo menos uma hora enquanto ele respirava


profundamente, a mão dele em volta do meu quadril nu. Esperando
que ele ainda estivesse lá de manhã, eu pesava as possibilidades que
poderiam surgir com o sol. Hoje à noite, pensei enquanto tocava sua
pele quente e macia, hoje à noite ele estava aqui comigo.
DESDE MEU DIVORCIO eu pude contar em uma mão as vezes que eu
tinha acordado na cama com uma mulher. Nesta manhã em
particular, quando eu abri meus olhos para ver Ava esparramada ao
meu lado, seu cabelo, um desastre absoluto de emaranhados, e seus
braços jogados em minha direção, eu quase comecei a rir em voz
alta.

Eu não tinha encontros de uma noite só.

Eu certamente não teria um encontro de uma noite só com


alguém que, eu não apenas respeitava, mas genuinamente gostava,
e alguém com quem eu também trabalhava.

A possibilidade de constrangimento, de mágoa, era alta com


Ava.

Mas quando virei para o lado para vê-la dormir, já sabia que
arriscaria, simplesmente, porque era muito bom estar com ela.
Porque eu queria saber mais.

Não era o meu orgulho me guiando ou algum falso objetivo pelo


qual eu estava me esforçando, ignorando sinais de aviso de onde as
coisas poderiam dar errado. Isso era algo em que eu podia confiar,
esse instinto de me aprofundar mais nela, no que eu sentia quando
estava perto dela.
Uma vez na noite, eu acordei com suas mãos acariciando meu
estômago. Tudo depois foi um borrão lento e preguiçoso. Eu a virei
de lado, envolvendo meu peito contra suas costas, em seguida,
levantei sua perna sobre a minha e empurrei para dentro dela.
Nenhum de nós falou uma palavra. Apenas pequenos movimentos
por causa da nossa posição, sua boca encontrando a minha quando
ela olhava por cima do ombro, minhas mãos deslizando para baixo
do estômago e entre as pernas.

Não foi demorado. Não fiquei suado.

Foi perfeito. Tudo o que eu sabia era, que acordar com as mãos
dela em mim, era bom. Era tudo que eu precisava saber agora.

Ava respirou fundo e enfiou o rosto no travesseiro. Ela não


acordou, voltando à sua respiração rítmica quase instantaneamente.

Cuidadosamente, eu deslizei da cama sem acordá-la e encontrei


minha cueca boxer no chão. Eu a vesti enquanto caminhava pelo
corredor, finalmente conseguindo dar uma olhada em seu
apartamento.

Era pequeno e arrumado, com piso de madeira e tons frios em


sua pintura e mobília. Tão brilhante quanto suas roupas eram no
trabalho, seu estilo de decoração parecia ser o oposto. Tudo estava
quase branco e cinza, com toques de lavanda e azul-claro em
travesseiros, cobertores e pufes em frente ao longo sofá cinza em
frente a televisão.

Depois de usar o banheiro, encontrei a cozinha dela e vasculhei


os armários até encontrar o café. A máquina dela era bem básica,
então eu comecei a preparar enquanto tentava descobrir como essa
manhã seria quando ela acordasse. Como eu queria que isso
acontecesse.

Nós trabalhávamos juntos, o que complicava as coisas. Um mau


sinal, com certeza. Especialmente para duas pessoas que nunca
misturaram negócios com prazer.

Nós fizemos sexo duas vezes. Aquilo foi um bom sinal. Ela não
parecia ser do tipo sexo casual, mais do que eu. Principalmente,
porque tínhamos história.

Eu tive que engolir esse pensamento. Ava e eu tínhamos


história. Algo que evitamos ativamente falar até agora e com boas
razões.

Minhas mãos se apoiaram no balcão enquanto o café pingava


quente e perfumado na jarra. Então, e se fosse há dez anos? Eu dormi
com as duas garotas Baker, e isso fez uma pedra afundar no meu
intestino. Eu não gostava de como isso me fez sentir na defensiva
sobre o que tinha acontecido com Ava na noite passada.

Eu deixei meu relacionamento com Ashley pra trás. Essa porta


estava bem fechada. Porque eu tinha a opinião infalível de que se eu
não tivesse conhecido Ava quando ela era uma menina magricela e
doce de quatorze anos, eu teria sido absolutamente atraído por Ava
Baker, Gerente Sênior de Relações Públicas dos Wolves de
Washington.

Eu a teria visto e pensado que ela era linda. Eu teria falado com
ela e pensado que ela era inteligente e engraçada. Afiada como a
ponta de uma faca e confiante como o inferno. Ela tinha que ficar
com mais cinquenta jogadores de futebol o tempo todo.
Esse foi o ponto principal. Eu teria querido ela
independentemente. Talvez não tivesse acontecido tão rápido.
Talvez eu a tivesse convidado para sair depois de conhecê-la por
alguns meses.

Mas sabendo que era o suficiente para eu estar disposto a


tentar, se ela quisesse o mesmo.

Eu me virei e encostei no balcão enquanto o café era preparado.


Em sua pequena mesa de jantar, vi um flash azul profundo em um
grande tanque de vidro redondo.

Sorrindo, eu me abaixei e tive meu primeiro vislumbre do peixe


Frankie. Ele era bonito, com tons iridescentes de azul e roxo,
enquanto se enrolava em torno de uma planta verde brilhante, que
crescia em torno de um pote de barro que ela colocara no fundo do
tanque.

—Se os peixes pudessem falar, né? — Eu perguntei a ele. —


Você provavelmente ouve todas as coisas boas dela.

Ao lado do tanque, eu vi um recipiente de comida de peixe,


então eu abri e coloquei uma pitada na superfície da água.
Imediatamente, ele disparou em um redemoinho de longas
barbatanas ondulantes e começou a bicar na comida.

Eu o observei comer enquanto servia duas canecas de café. Ele


era uma pequena pista interessante sobre sua personalidade.

Ela tinha um animal de estimação, mesmo que fosse apenas um


passo acima de ter uma pedra de estimação, tanto quanto a
companhia que ele oferecia. Mas seu aquário era imaculado, grande
para apenas um peixe, e ficava em um lugar bem no meio de sua
cozinha.

Eu queria saber mais. Cada pista me fez querer desembrulhar a


próxima e saboreá-la como um pedaço de um de seus chocolates, até
passar para a próxima. Sem pressa, sem expectativa.

Enquanto eu caminhava de volta pelo corredor, eu só precisava


que esperar que ela me deixasse descobrir. Descobri-la.

Antes de chegar à porta, ouvi o rangido da cama e um suspiro


profundo. Eu sorri.

Mas meu sorriso se desfez quando eu a vislumbrei. Ela estava


sentada na cama com o lençol dobrado sob os braços e uma carranca
cobrindo o rosto adormecido, olhando para onde eu estava
dormindo apenas quinze minutos antes.

Fazer cara feia não era uma coisa boa.

Mas quando notei a carranca, notei seus ombros caídos


também.

Limpei a garganta e ela pulou, segurando a mão no lençol


enrolado cobrindo seu corpo.

—Puta merda, — ela respirou, rindo nervosamente enquanto


eu entrava no quarto. —Você me assustou.

—Desculpa. — Eu levantei as canecas. —Achei que poderíamos


querer isso.
Ava colocou um pouco de cabelo bagunçado atrás da orelha,
seus olhos verdes seguindo rapidamente pelo meu peito nu e depois
para longe como se ela tivesse sido pega fazendo algo errado.

—Obrigado. — Ela aceitou a caneca quando eu a entreguei a ela,


e eu tomei um gole cautelosamente da minha enquanto me sentava
no final da cama.

—Você dormiu bem? — Eu perguntei.

—Somo loucos por fazer isso? — Ela perguntou ao mesmo


tempo.

Nós dois congelamos

Meu coração se agitou desconfortavelmente, e eu esperei que


meu rosto estivesse sereno quando eu olhei para ela sobre a borda
da caneca de café. —Eu não sei. Nós somos?

Ava passou a mão pelo cabelo emaranhado, jogando as mechas


onduladas sobre o ombro nu e liso. —Eu sei que eu não senti que
fosse louco. — Ela olhou para mim por baixo de seus cílios,
verificando minha reação.

—Não foi, — eu concordei facilmente. —Foi incrível.

Suas bochechas ficaram rosadas e eu a vi morder um sorriso


antes que ele se espalhasse.

O que eu queria fazer era largar o café, subir nela e saborear


cada centímetro de seu corpo novamente. Mais de uma vez. Pela cor
que cobria as maçãs do rosto, Ava parecia estar pensando a mesma
coisa, mas não verbalizou. Nem eu.
Quando ela não disse mais nada, limpei a garganta e me levantei
para colocar o café na cômoda. —Mas nós trabalhamos juntos.

Ela assentiu devagar. —Nós trabalhamos.

Outro gole de café. Eu queria que ela também o deixasse de


lado. Eu queria... Eu não tinha mais certeza se o que eu queria não
era completamente egoísta.

—E— - ela lambeu os lábios, finalmente colocando a caneca na


mesinha de cabeceira - —você estava...

Então ela levantou a mão.

—O quê? — Eu perguntei.

—Eu preciso vestir roupas para isso. — Ela franziu o nariz. —


Você pode, talvez, pegar a camisa no chão para mim?

Eu sorri, me abaixando para pegar a camisa enrugada que ela


vestia no dia anterior. Em vez de jogar para ela, caminhei até a cama,
totalmente ciente de que seus olhos estavam deslizando sobre meu
peito e meu estômago e pela frente da minha cueca boxer, que, em
breve, não seria capaz de esconder como eu me sinto em relação a
ela.

Ela pegou da minha mão estendida e engoliu audivelmente.


Aproveitando sua dica, me inclinei para pegar meu short e vesti-lo.
Quando terminei de puxar o zíper, tive um vislumbre de cabelo
castanho, um seio e depois bum, ela estava vestida, puxando a
camisa para baixo sobre a cintura.

Eu me perguntei o que ela estava prestes a dizer. E você estava...


Noivo da sua irmã?

Apenas ficando por aqui por dois anos, com base no meu
contrato?

Divorciado?

Poderia ter sido qualquer coisa.

Mas eu tive o bom senso, depois desses períodos de tempo com


ela, que não era nenhuma dessas coisas. Ava tinha sua guarda
erguida, alta e apertada, como um boxeador protegendo seu rosto
em todos os momentos.

—Se você está preocupado com a equipe, — eu disse, —posso


manter minha boca fechada.

Ela inclinou a cabeça. —Preocupada com a equipe?

Dei de ombros. —Os caras falando merda.

Ava sorriu um pouco. —Na verdade, eu estaria mais


preocupado com eles falando merda de você. Eu estou aqui há mais
tempo, você sabe. Você pode não ganhar pontos de colega de equipe
se eles souberem que você me deixou no esquecimento depois de
apenas duas semanas. Ninguém mais conseguiu marcar um
encontro comigo.

Alguém tentou?

Eu literalmente mordi a ponta da minha língua para que a


pergunta não saísse. Não era da minha conta, embora eu sentisse um
rápido brilho de inveja pintar meu cérebro.
Suas palavras alcançaram meus pensamentos de homem das
cavernas e eu ri sob a minha respiração. Se eles soubessem que você
me deixou no esquecimento. Malditamente certo. Eu acho que meu
peito realmente estufou.

Ela deve ter percebido porque se dissolveu em gargalhadas.

—Oh meu Deus, você deveria ver seu rosto. — Ela jogou um
travesseiro e eu peguei. —Seu arrogante.

—Você quer que eu te elogie também? — Uma sobrancelha


ergueu na minha testa. —Porque eu poderia pensar em algumas
palavras para descrever a noite passada.

Ava esfregou os lábios, mas não me impediu. Seus olhos


dançaram de tanto rir quando eu caminhei em direção a ela na cama.

—Quente. Apertada. Perfeita.

Eu parei, me inclinando para apoiar meus punhos nos lados de


suas pernas, ainda cobertas pelo lençol amarrotado. Seu rosto
estava quase completamente rosa. Eu queria chupar seus lábios,
primeiro o topo em forma de coração, depois a parte de baixo, mais
cheia.

—Ok, então, — ela sussurrou, inclinando o queixo para cima.


Apenas uma fração de centímetros. Não foi um convite flagrante,
mas eu tomei como um, mergulhando para saborear seu lábio
superior.

Um sopro de ar de seu nariz atingiu meu rosto, e sua língua


varreu meu lábio inferior.
—Deliciosa, — acrescentei quando me afastei. —Mas eu farei o
que você quiser agora, não importa quantas palavras eu possa usar
para o que aconteceu entre nós.

A indecisão cruzou seu rosto finamente inclinado, causando a


mais leve ruga em sua testa normalmente lisa. Incapaz de resistir,
eu desenhei meu polegar ao longo da linha até que desapareceu.

—Eu acho, — ela começou devagar, —vamos pensar pelos


próximos dias. Pense no que isso... pode significar. Ou o que
queremos que signifique antes de avançarmos.

A decepção parecia muito com um jogo que você perde no


último minuto enquanto está sentado do lado de fora. Fora do meu
controle e nada que eu pudesse ter feito poderia mudar o resultado.

Pressionar Ava não era algo que eu sequer pensasse em fazer


agora. Talvez ela só quisesse ver como era comigo. Veja se a atração
óbvia entre nós aumentaria rapidamente e depois desapareceria.

Eu me levantei e segurei seu queixo com o polegar, esfregando


suavemente a pequena covinha que ela tinha ali. —Tudo bem. Eu
posso fazer isso.

Ela não sorriu como eu esperava. Ava simplesmente observou


meu rosto e, com o rosto sem maquiagem, a fazendo parecer mais
jovem, tive um breve vislumbre dela quando era adolescente. Era
como ver um fantasma, e eu recuei antes que eu pudesse ser sugado
para o turbilhão Ashley / Ava / Matthew novamente.

Talvez pensar não fosse uma coisa ruim. Pensar era algo que eu
poderia fazer.
—Você quer que eu prepare o café da manhã? — Eu perguntei
com um sorriso casual. Ou pelo menos eu esperava que fosse casual.
—Eu não mexi muito em seus armários, mas posso fazer uma
omelete média.

Ela riu e abaixou a cabeça. —Você não precisa fazer isso.

Está bem então. Claro que não precisava. Mas isso não
significava que eu não quisesse.

Eu coloquei minha camiseta. —Frankie pode atestar minhas


habilidades culinárias. Ele devorou aqueles flocos bem rápido.

Seu sorriso foi maior desta vez. —Você conheceu meu famoso
animal de estimação, hein?

—Ele é bonito. Nem todos os homens podem vestir esse tom de


azul.

Ava revirou os olhos, mas ainda riu. —Obrigado.

A palavra - precedida por uma pausa leve e carregada - pesava


em importância. Também foi importante o jeito que ela sustentou
meu olhar quando disse isso. Eu não tinha certeza do que ela estava
agradecendo, mas me arrisquei, me inclinei e a beijei no topo da
cabeça.

—A qualquer hora, Slim. — Eu enfiei meu celular na minha


calça e levantei minha mão. —Eu vou embora.

Ela gesticulou desajeitadamente para o colo. —Bom, porque eu


não estou usando calcinha.

Eu ainda estava rindo quando saí pela porta.


Sim, tudo sobre isso foi bom. Foi o suficiente para eu saber que
não precisaria pensar muito. Eu já queria mais.
—O QUE POSSO trazer para vocês beberem, senhoras?

Allie e Paige imediatamente responderam, prosecco para uma


e gim e tônica para a outra.

Suspirei e olhei para a garçonete sorridente com olhos de


cachorrinho. —Apenas água por agora, por favor.

—Que nojo, — Paige murmurou enquanto a garçonete se


afastava.

—O que é nojento sobre água?

Ela ergueu as sobrancelhas como se eu fosse idiota. —É a noite


das garotas. Você não bebe água na noite das garotas.

Allie reprimiu um sorriso, mas não disse nada. Um grupo de


universitários arrogantes desacelerou para um ritmo obviamente
lento enquanto passavam pela nossa mesa, um deles fazendo um
biquinho para Paige.

Eu revirei meus olhos.

Claro, que eles fariam isso. Eu estava sentada em uma mesa


com duas das mulheres mais bonitas do mundo.
Paige deu a ele um olhar avaliador, curvando o dedo para atraí-
lo para mais perto. Allie levantou uma sobrancelha perfeitamente
bem cuidada.

O garoto engoliu, sua coragem vacilou quando ela realmente


respondeu. Não podia culpá-lo.

—H-Hey, — ele disse quando estava na nossa mesa. Suave.


Muito suave.

—Qual o seu nome? — Paige perguntou, os olhos grandes e


redondos em seu rosto de porcelana. Sua expressão era sincera, mas
eu a conhecia bem o suficiente para saber que este pobre menino
estava prestes a ter suas bolas encolhidas, como se um balde de gelo
estivesse em suas calças.

Seus amigos assobiaram e pularam, Allie suspirou baixinho, e


eu observei com meu queixo apoiado na minha mão.

—Uh, é, uh Cade.

—Uh-Cade? Ou apenas Cade?

Deus o abençoe, ele estufou o peito e ficou alto. —Cade.

Paige estendeu a mão e ele sacudiu. Suavemente, timidamente,


como um gatinho. Ela franziu os lábios quando ele deixou cair de
volta para o lado dele. Eu podia sentir uma risada borbulhando na
minha garganta, mas eu engoli tudo. Sim, a noite das garotas era uma
boa ideia. A distração perfeita quando depois de passar o dia todo
limpando meu apartamento obsessivamente e depois de
praticamente empurrar Matthew para fora da porta.
—Cade, — disse ela, se inclinando para frente sobre a mesa.
Seus olhos correram para o peito e depois de volta para o rosto dela.
—Eu poderia ser casada, poderia ser gay, ou poderia ser solteira,
mas tão anti-homem, que apenas aquele seu gesto indesejado
poderia me provocar uma fúria homicida, e você não saberia até que
fosse tarde demais.

Ele olhou para mim e eu encolhi um ombro. Seus olhos se


moveram nervosamente de volta para Paige. —OK?

—Eu vou lhe dar um conselho, — ela sussurrou. —Se você acha
uma mulher atraente e está interessado em conhecê-la, apenas
caminhe como um homem que sabe o que quer. Diga a ela seu nome
e pergunte o dela. Não mande beijinhos e suponha que isso fará
qualquer coisa, exceto fazer você parecer um idiota que ainda
espera que seus pelos do peito cresçam.

Pobre Cade. A cor sumiu de seu rosto, exceto por duas manchas
vermelhas brilhantes em seu rosto de bebê.

—Entendi, — ele disse e se virou para voltar para seus amigos


rindo.

Paige limpou a garganta. —Espere. — Ela fez sinal para nossa


garçonete, que se apressou. Ele arrastou para o lado para permitir-
lhe algum espaço. —Eu gostaria de pagar para o Cade sua próxima
rodada, porque ele vai levar isso como uma valiosa lição de vida, que
o ajudará imensamente em seu futuro.

—Claro, — ela disse, dando a Cade um olhar de pena.

—Obrigado, — ele murmurou e seguiu a garçonete de volta


para seus amigos, que agora estavam rindo de alegria.
—Eu odeio garotos universitários, — disse Paige em voz baixa.

—Aww, ele teve a coragem de vir aqui, — Allie disse a ela. —


Isso tem que contar para alguma coisa.

—Além disso, — interrompi, —nem todos os garotos da


faculdade são idiotas.

Naturalmente, como durante todo o dia, minha mente voltou


para Matthew. Matthew na minha cama. Matthew me trazendo café
vestindo cuecas boxer pretas. Glória, glória, aleluia, eu me lembraria
dessa imagem enquanto eu desse meus últimos suspiros na terra.
Depois para quando eu o conheci, educado e gentil e entendendo a
merda dos meus pais quando a maioria dos caras não prestava
atenção em mim. Não, Matthew não era esse tipo de universitário.

Ele foi o cara que se certificou de que eu tivesse uma camiseta


dos Hawkins para usar quando ele jogou em seu penúltimo ano em
Stanford, e toda a nossa família compareceu porque seus pais não
conseguiriam ir.

Ele foi o cara que me perguntou como era a escola.

Se eu queria brincar de pega-pega no quintal.

—E ela está de volta ao espaço sideral, — Allie disse, estalando


os dedos na frente do meu rosto.

Suspirei antes de tomar um longo gole da minha água.

—Desculpa.

Paige me deu um olhar curioso. —Nossa, o que aconteceu entre


você e Hawkins?
Eu engasguei com um pedaço de gelo, tossindo
desagradavelmente até que as pessoas atrás dela se viraram para
ver se eu estava bem. Eu acenei para eles.

Allie riu. —Eu amo isto. A única vez que vi essa mulher
remotamente esgotada foi no dia em que ele apareceu. Até Matthew
Hawkins caminhar pelo corredor até o escritório dela, ela era a
imperturbável. — Ela enxugou uma lágrima falsa de seu olho, e eu
mostrei para ela meu dedo do meio. —É a coisa mais linda que eu já
vi.

—Eu não estou esgotada, — argumentei, limpando um pedaço


de gelo do lado do meu rosto como uma mulher absolutamente
esgotada.

Ela deu um tapinha na minha mão da maneira mais


condescendente possível. —Hmm, okay.

—Então o que é que esse cara tem? — Paige perguntou. —Além


do óbvio.

Com dedos inquietos, comecei a rasgar um guardanapo


enquanto meus pensamentos giravam furiosamente em minha
cabeça. Sem fazer contato visual, eu dei a elas um breve resumo do
que aconteceu ontem. Elas perguntaram sobre a fábrica de
chocolate, depois caíram em silêncio quando lhes contei sobre as
bebidas e a corrida de táxi de volta para minha casa. Allie apenas
gritou uma vez, quando eu murmurei algo assim, e então nós tivemos
duas rodadas épicas de sexo na minha cama, fim.

—Então qual é o problema? — Paige perguntou.


Suspirei pesadamente, pegando os pedaços de papel branco e
formando uma pequena montanha ao lado da minha água. —Eu nem
sei o que aconteceu. Eu nem sei mais como fazer isso. — Deixando
cair minha cabeça em minhas mãos, mal podia olhar para elas
enquanto lutava para definir qual era o meu problema. —Em um
minuto, estou adormecendo, rezando para que ele ainda esteja lá de
manhã, porque eu queria que ele estivesse lá de manhã. Mas quando
ele me trouxe café, comecei a pensar em quão insano devemos ser
para sequer pensar em tentar isso. O que quer que seja isso.

—Ava, querida, não acho que seja insano, — Allie disse


gentilmente.

—Será? — Minhas sobrancelhas se ergueram enquanto eu


levantava meus dedos para contar todas as razões. —Eu nunca
cruzei essa linha com um dos jogadores, e ele só está aqui há
algumas semanas. Ele tem um contrato de curto prazo e uma vida
em Nova Orleans que ele construiu durante uma década. Ele estava
noivo da minha irmã, por favor, a irmã que eu não suporto, então o
que eu devo fazer quando eu chegar na casa dos meus pais no Natal?
Surpresa! Aqui está aquele cara que uma vez ia se casar com sua
filha favorita até que ela o traiu, e agora eu estou transando com ele.
Você pode, por favor, passar o purê de batatas? — Eu bati na mesa,
e elas pularam. —Exceto pelo fato de que não temos purê de batatas
no Natal, porque o céu proíbe Ashley de colocar um único grama de
carboidratos em seu corpo para que ela não inche. Sim, vamos
imaginar essa reunião de família feliz.

Como lindas imagens gêmeas na minha frente, suas bocas se


abriram e seus olhos estavam arregalados em seus rostos. Então eu
ri um pouco.
Eu afundei minha cabeça em minhas mãos novamente e olhei
sem piscar para a superfície preta da mesa. —Por alguma razão, eu
poderia ignorar todas essas coisas até que ele voltasse para o meu
quarto. E eu não queria deixar nada disso chegar a mim, mas aqui
estou eu. Não com ele, porque nós dois combinamos de pensar sobre
o que queremos fazer a seguir.

—Eu sinto muito, Ava, — disse Allie. —Nada disso é fácil.

Paige bufou. —Claro que é.

Eu levantei minha cabeça, estreitando meus olhos para ela. —


Como assim?

—Primeiro, você não está colocando a carroça na frente dos


bois? Você passou uma noite com ele. O Natal é daqui há seis meses,
e daí que ele tem uma história com sua família? Sua família parece
um monte de idiotas. Por que você basearia sua felicidade na vida
deles? Por que você está pensando tanto nisso? Você gosta dele. Ele
gosta de você. O sexo foi bom. Eu digo para continuarem fazendo
enquanto for e enquanto vocês ainda gostam um do outro. Fim.

Ela fez isso parecer tão fácil. Parcialmente porque aqueles eram
todos pensamentos completamente racionais. Eles soaram simples.

—O fim, — repeti lentamente, observando uma linha de


condensação escorrer pelo lado do meu copo. —É meu trabalho
pensar demais, sabe? É meu trabalho considerar todos os ângulos
de como as coisas podem dar errado ou soar mal para o público,
quem quer que seja. É difícil desligar isso na minha vida pessoal. Não
que eu tenha praticado muito desde a faculdade, — eu murmurei. —
O que também faz parte do problema.
—Você acha que Matthew vai pensar demais nisso também? —
Allie perguntou.

Tudo o que eu pude fazer foi encolher os ombros. —Ele poderia.


Eu o conheço, mas não desse jeito. Eu não sei realmente como
Matthew é em um relacionamento.

—E ele não sabe como é Ava em um relacionamento, —


apontou Allie.

—Verdade. — Tomei um gole da minha água. —Eu não sei mais


como é um relacionamento com Ava. Ela não mostrou seu rosto por
alguns anos.

—Então vocês não podem apenas... levar isso de um jeito


casual? Se estiver funcionando continuem vendo um ao outro, mas
não coloque toda a pressão da família sobre isso imediatamente,
antes mesmo de saber se a Ava e o Matthew fazem sentido juntos.
— Paige disse.

Colocar em Matthew qualquer rótulo de casual pareceu


estranho no começo, mas talvez eu estivesse olhando para isso do
jeito errado. Não havia qualquer razão para ter uma grande
conversa séria sobre seu passado com Ashley, ou minha família,
porque eles não eram um problema no momento. Eles só se
tornariam um problema se eu deixasse, e eu não tinha intenção de
deixar isso acontecer.

Paige se inclinou para frente. —Eu estou basicamente dizendo


para você evitar o drama agora. Você está tornando isso muito mais
difícil do que precisa ser.
Ela não estava errada. Eu ri quando percebi sua expressão de
satisfação. —Você tem um monte de conselhos, para alguém sem
namorado.

—Bem, merda, — disse Paige. Ela caiu em sua cadeira e me deu


um olhar simpático. —É provavelmente por isso que eu sou solteira.

Allie bufou. —Você é solteira porque come homens vivos e a


maioria deles fica assustado assim que você abre a boca.

Ela sorriu, impenitente e incrivelmente assustadora. —


Verdade.

Virando-se para mim, Allie sorriu. —Ouça, apenas fale com ele.
Ele parece ser um cara razoável, e ele está claramente sentindo o
mesmo que você.

Pela primeira vez a noite toda, senti aquelas vibrações felizes.


As vibrações que senti quando ele me abraçou no meu escritório. As
vibrações que eu senti quando ele comeu meu chocolate e sorriu
para mim. As vibrações que senti quando ele deslizou a sua grande
mão na minha perna e tocou sua língua na minha com zero
hesitação.

Não havia razão para tornar isso mais difícil do que era.

Eu tamborilei meus dedos na mesa e olhei para elas. —


Senhoras, eu adoro vocês, mas vou quebrar uma regra principal e
abandonar a noite das garotas.

Paige fez beicinho, mas eu sabia que ela não estava falando
sério. Allie se sacudiu animadamente em sua cadeira. —Você está
indo para a casa dele?
Eu olhei para minha roupa. Casual, fofo, mas um traje de noite
das garotas. —Eu vou me trocar primeiro. — Então dei a elas um
olhar afiado. —Eu estou usando calcinhas confortáveis.

—Ahh, — ambas disseram compreendendo.

—Boa sorte, — Allie disse depois que eu dei um beijo em cada


uma e pulei da cadeira.

Quando voltei ao meu apartamento, voei pelo lobby e entrei na


minha casa, vinte minutos haviam se passado. Meu telefone
permaneceu em silêncio, mas também não mandei uma mensagem
para ele. Meu plano estava todo centrado em torno dele estar em
casa, pensando coisas sexys e excitantes sobre mim, e isso me fez
parar antes de tirar minha camisa.

E se a sua decisão foi tomada antes mesmo de ele chegar em sua


casa? Pode ter sido fácil para ele. Eh, isso foi divertido, mas é muito
complicado para uma temporada complicada da minha vida.

Eu afundei na borda da minha cama. Eu não estava acostumada


a tantas inseguranças gritando na minha cabeça. Droga, Matthew
Hawkins e sua perfeição.

Não, pensei com um sorriso. Ele não era perfeito. Ninguém era.
Esta era a minha chance de descobrir quais eram suas falhas.

Peguei meu celular e mandei uma mensagem de texto.

Eu: Você está em casa?

Quase instantaneamente, três pequenos pontos cinzentos


apareceram na tela. Eu tentei não sorrir. Sim. Muitas palpitações.
Matthew Hawkins: Eu não estou. Você está?

Como uma flor morrendo, eu murchei. Ainda bem que eu não


tinha me despido. Com um suspiro, respondi de volta que estava.

Matthew Hawkins: Bom. Estou prestes a bater na sua porta.

Eu gritei, olhando freneticamente para o meu armário, depois


para minha calcinha confortável debaixo dos meus jeans. Houve
uma batida firme na minha porta. Como um general prestes a ir para
a batalha, levantei e marchei para a porta. Apenas parando para
respirar com força e alisar meu rabo de cavalo, abri a porta para
encontrá-lo apoiando um ombro no batente da porta.

Ele estava tão bem. Tão bonito. Vestindo calça jeans escura
sobre as pernas grossas e compridas e uma camiseta branca dos
Wolves sobre o peito largo, ele estava muito sedutor e eu queria
lamber ele da cabeça aos pés. Duas vezes. E em seu rosto estava um
sorriso feliz. Destinado a mim.

Imitando sua postura, inclinei meu ombro contra o lado oposto


da porta. —Oi.

—Posso entrar?

Eu mordi meus lábios e recuei. Antes que ele dissesse uma


palavra, eu inalei profundamente enquanto ele passava. Seu cheiro
era tão potente que eu não tinha certeza se minha calcinha
confortável já não estava completamente desintegrada.

Eu me inclinei contra a porta fechada. Matthew se inclinou


contra o encosto do meu sofá, e nós sorrimos um para o outro como
tolos.
—Você já pensou? — ele perguntou.

Eu balancei a cabeça lentamente. —Você?

A tensão crepitou e estalou em pequenas explosões que


disparavam enquanto seus olhos percorriam o meu corpo. Isso não
foi uma pequena vibração. Ele estava me incinerando sem colocar
um único dedo na minha pele.

—Eu pensei. — Ele abriu os braços e segurou o sofá.

Nenhum de nós se mexeu.

—E? — Eu perguntei, minha voz rouca de atendente de tele


sexo. Seus olhos escureceram, se transformando em uma quente cor
âmbar que eu ainda não tinha visto. Gostei de seus olhos assim. Eu
sempre pensaria neles como os olhos sexuais de Matthew.

—Eu sei que existem razões pelas quais poderíamos deixar a


noite passada pra lá, — disse ele. Eu lambi meus lábios, de repente,
insegura do que poderia sair da sua boca em seguida. Ele inalou
profundamente, seu peito esticando o algodão de sua camisa. —Mas
para mim, elas não são boas o suficiente. Eu quero mais, Ava.

Muito antes de chegar ao meu rosto, senti o sorriso na minha


barriga. Era lá que todos os bons sorrisos começavam porque
aqueciam todo o meu corpo antes que fossem para os meus lábios.

—É mesmo? — Eu perguntei, andando lentamente em sua


direção. Eu vi os nós dos dedos em suas mãos ficarem brancos
quando ele agarrou o sofá.

—Sim.
—Bom. — Eu me enfiei entre suas coxas e passei minhas mãos
em seu peito. Ainda assim, ele não me tocou. —Porque eu vim para
casa me trocar, e depois eu iria até a sua casa para dizer que estava
pensando a mesma coisa.

Ele não sorriu, mas a pele ao redor de seus olhos enrugou como
fazia quando ele estava feliz. Talvez seu sorriso estivesse
começando em sua barriga também.

Finalmente, suas grandes mãos envolveram meus quadris e me


puxaram contra ele. Ele já estava duro. E eu estava muito pronta
com apenas alguns segundos de suas mãos no meu corpo.

Ele deslizou a mão do meu quadril, subiu pelas minhas costas e


para baixo novamente, brincando com a borda da minha camisa até
que senti seus dedos roçarem minha pele. Era para ser
reconfortante, mas estava me incitando o suficiente para que eu
fechasse meus olhos contra o súbito clarão de calor. Como eu tinha
vivido toda a minha vida sem me sentir assim? Um deslizar de suas
mãos e eu estava pronta para queimar minhas roupas apenas para
sentir mais dele.

Agarrando seus braços, eu os puxei ao meu redor ainda mais


apertado, não lhe dando escolha a não ser me envolver em um
abraço esmagador. Eu empurrei meu nariz em seu pescoço e
respirei nele. Suas mãos deslizaram por baixo das minhas calças até
que ele estava segurando minha bunda com as duas mãos.

Contorcendo meus quadris ainda mais perto dele, comecei a


pensar em todos os lugares em que poderíamos começar. O sofá
comigo no topo. A mesa da cozinha com ele por trás. Oh! A parede.
Sim. Eu gostei dessa ideia.
Então eu engasguei e me afastei. Suas mãos permaneceram em
minha carne, mas seu rosto estava preocupado.

—O que foi?

Eu cobri meu rosto com uma mão e ri. —Desculpe, isso foi uma
reação exagerada. — Eu olhei para ele através dos vãos dos meus
dedos. —Eu só... Eu estou usando uma calcinha confortável. Eu
pretendia trocar antes de te ver.

Ele tentou evitar um sorriso, começou a mover as mãos para


que os nós dos seus dedos roçassem a roupa ofensiva. —Ah é?

Eu balancei a cabeça miseravelmente.

—O tipo de algodão grande que cobre você do seu umbigo para


baixo?

Eu bati no peito dele. —Cale-se.

Sua risada explodindo valeu a minha vergonha, mesmo quando


eu deixei cair minha testa contra seu ombro.

—Você é o pior, — eu disse contra sua camisa. Ele não era, no


entanto.

Matthew ainda estava sorrindo quando ele beijou o lado do


meu pescoço e mordiscou meu queixo.

—Slim, — ele murmurou. —Olhe para mim.

Eu me afastei e olhei para ele através dos meus cílios.

—Eu não posso esperar para ver você. — Ele roçou seus lábios
contra os meus e eu derreti, entrelaçando meus braços ao redor de
seu pescoço enquanto ele inclinava a cabeça e aprofundava o beijo.
Minha língua envolveu a dele, e suas mãos me seguraram com força
até que eu estava me contorcendo contra ele pedindo por alívio. Ele
se afastou e arrastou o nariz contra o meu. —Mesmo que demore a
noite toda para tirá-la.

Eu caí na gargalhada quando ele me balançou em seus braços e


nos levou para o meu quarto.
QUANDO EU TINHA DOZE ANOS, ajudei meu pai a fazer um novo
isolamento térmico no sótão de casa. Até hoje, foi o pior trabalho
que já fiz. Estava quente e eu ficava inquieto em espaços apertados
e desconfortáveis, e no momento em que terminamos, ele me deu
um tapinha nas costas como pagamento. Quando criança, eu não
entendia os pormenores de possuir uma casa. Como aqueles
rolinhos cor de rosa infernais que colocamos baixariam sua conta de
aquecimento e, poupariam dinheiro enquanto ele ainda pagava
pensão alimentícia para minha mãe todo mês.

—Você precisa disso, garoto. Acredite em mim, há merda


suficiente lá fora e se você não isolar o lado de fora, vai sangrar no
espaço em que você quer se sentir seguro e quente.

Eu não entendi completamente o que ele quis dizer com isso até
que comecei a sair com Ava. E depois de tantos anos, eu entendi a
camada mais profunda por baixo de sua afirmação bastante óbvia,
porque nós, absolutamente, nos isolávamos.

Hoje, alguns dias depois de eu aparecer pela primeira vez na


casa dela, ela me expulsou do escritório e entrou no meu
apartamento com a chave que eu lhe dei. Eu disse a ela que era só
para facilitar as coisas, e ela me deu um olhar surpreso.

Abri a porta e imediatamente senti cheiro de alho. Muito, muito


alho.
Sem tapar meu nariz, não havia como escapar.

—Slim? — Eu gritei quando joguei minha mochila no chão


perto da porta.

—Aqui! — Sua voz veio da cozinha.

Quando a encontrei, ela estava em pé diante da enorme ilha da


cozinha, com as mãos apoiadas nos quadris e um olhar perplexo no
rosto. Seu cabelo estava em um coque bagunçado, e em seu pequeno
corpo ligeiramente curvado, ela usava um dos meus aventais que
era seis vezes maior que ela.

Puta merda, meus olhos começaram a lacrimejar pelo cheiro.

—O que você está fazendo? — Eu parei atrás dela e envolvi


meus braços ao redor de sua cintura, dando um beijo em seu ombro,
onde o colarinho grande de sua camisa tinha escorregado.

—Eu estava tentando fazer esse prato de massa que Allie me


ensinou. — Ela se apoiou em meus braços, e juntos olhamos para o
macarrão e a frigideira com catorze dentes de alho, se eu tivesse que
contar.

—Parece... ótimo.

Por cima do ombro, ela me deu um olhar incrédulo.

—Parece terrível, — eu alterei.

—Eu sei. — Ava se virou em meus braços e envolveu suas mãos


ao redor da minha cintura, se enterrando, como ela fazia quando
queria um abraço apertado. Como sempre, fiquei feliz em obedecer.
Ela parecia tão esbelta em meus braços, perfeitamente enfiada
debaixo do meu queixo. Era onde ela dormia também, enrolada ao
meu lado, seu corpo envolto debaixo do meu braço, que
naturalmente se moldava ao o ombro dela, e sua perna pendurada
sobre a minha.

—Eu não sabia que você cozinhava, — eu disse com cuidado,


dando um beijo no topo da cabeça dela.

—Eu não cozinho, — ela disse sombriamente. Eu ri, me


afastando para poder beijar seus lábios carrancudos.

—Por que você quis tentar hoje à noite?

Ela encolheu os ombros, passando a ponta de seu dedo


mindinho ao redor do botão superior da minha camisa Henley. —
Parecia a coisa certa a fazer.

Comecei a nos levar para trás, para fora da cozinha, longe do


cheiro. —Ah é?

Ava assentiu, seus lábios finalmente começando a formar um


sorriso. —Sim.

—É a coisa certa a se fazer é me matar com alho?

Seus dedos beliscaram a lateral do meu corpo, e eu gritei,


agarrando sua mão para que eu pudesse morder a ponta dos dedos
dela. Então ela sorriu, porque eles tinham gosto de alho.

Abrimos as janelas e as portas deslizantes com vista para o meu


pátio privado, para deixar sair o fedor. Vinte minutos depois, fui
pegar a comida que foi entregue à porta, a minha com o dobro de
proteína, sem carboidratos e o dobro dos legumes do prato dela.
Me sentei em uma das espreguiçadeiras de teca e estiquei
minhas pernas, batendo no meu colo para que ela soubesse onde eu
queria que ela se sentasse.

Ela o fez, me encarando com as pernas em meu colo,


equilibrando nossos pratos na nossa frente.

—Isso é ridículo, — disse ela em torno de uma mordida do meu


frango.

—A galinha?

Ava revirou os olhos, passando o lado da boca. —Isto. Eu


poderia sentar na minha própria cadeira.

—Você poderia.

Ela não se mexeu e eu não a fiz se mexer. Entre mordidas de


comida, nós conversamos sobre nosso dia no trabalho.

—Aww, você fez um amigo, — ela brincou quando eu disse a


ela que Luke me convidou para ir à casa deles no fim de semana
seguinte.

Eu balancei a cabeça. —Ele está apenas sendo um bom capitão.


Mas tem sido mais difícil do que eu pensava, conhecer o resto dos
caras. Talvez o campo de treinamento ajude. Realmente entrar em
nosso cronograma de treinamento normal.

Ela assentiu com a cabeça, plenamente consciente de que o


período fora de temporada ainda incluía horas de treinamento,
levantamento de peso e corrida. Era apenas, normalmente, cada
cara fazendo suas próprias coisas.
—Eu amo o treinamento de campo, — disse ela com um sorriso
tímido. —Quase mais que a temporada regular.

Eu me acomodei na cadeira depois de colocar meu prato vazio


no chão. Minhas mãos encontraram seus quadris, deslizando
vagarosamente ao longo das coxas. —Ah é? Por quê?

Ava deu mais uma mordida e também colocou seu prato no


chão, enroscando seus dedos nos meus e me deixando direcionar os
movimentos de nossas mãos. —Eu amo os fãs que vêm e assistem
os treinos e como os jogadores podem interagir com eles. Jogadores
aposentados voltam e ajudam os novatos, e é como se fosse uma
estranha reunião. Há um nível diferente de empolgação no campo
de treinamento, sabe? Antes do estresse da temporada realmente
entrar em ação.

Eu sabia exatamente do que ela estava falando. Observando seu


rosto enquanto ela explicava isso, me deu vislumbres da garota que
eu conheci. Aquela que me perguntava sobre jogos, que queria ir
para os treinos.

Isso... Isso era novo para mim. Alguém que amava o jogo quase
tanto quanto eu.

—O quê? — Ela perguntou quando eu não falei nada. Eu ainda


estava olhando para ela. Minha expressão deve ter entregado alguns
dos meus pensamentos, porque ela corou e desviou o olhar.

Usei o polegar e o indicador para voltar seu queixo para mim.


—Eu nunca estive com alguém que gostasse disso.
E porque era Ava, não precisei elaborar o que isso significava.
Ela se inclinou para frente e me deu um beijo firme. —Nem mesmo
a sua ex?

Nós contornamos o assunto de sua irmã, mas esta não foi a


primeira vez que ela me perguntou sobre Lexi.

Eu balancei a cabeça. —Ela gostava de todas as vantagens que


vinham do futebol, mas não do estilo de vida cotidiano.

—Isso torna as coisas difíceis. Porque o dia a dia é o que faz da


carreira um sucesso.

—Exatamente. E eu não sou o bicho-papão, o louco por festas


ou tapetes vermelhos. Aquele que aluga um enorme iate na semana
para dar uma festa.

Ela adotou uma expressão grave. —Fiz uma má escolha porque


é totalmente meu estilo.

Era assim com a gente, eu estava aprendendo rapidamente. E


encaixava. A felicidade se encaixou em mim com a mesma facilidade
com que parecia se encaixar nela, e não estávamos com pressa de
romper o que nos isolava de toda a besteira do lado de fora.

Depois de três dias e noites quase perfeitas, fazendo (tentando


fazer) comida, desistindo e pedindo comida para viagem, assistindo
filmes, falando de futebol e fazendo sexo praticamente em todos os
lugares em ambos os nossos apartamentos, eu senti que não podia
ser assim o tempo todo.

Isso era bom demais para ser verdade.


—Por que não? — Ela perguntou quando eu fiz a pergunta para
ela enquanto ela estava me ajudando a malhar.

Me ajudando - montando na parte superior das minhas costas


enquanto fazia flexões. Eu parei com meus braços estendidos,
gemendo quando ela se mexeu.

—Bem, — eu disse, apenas um pouco sem fôlego. Eu seria


amaldiçoado se uma mulher que não pesasse nada conseguisse me
fazer ofegar depois de apenas cem flexões. —Isso é normal para
você? Isso é tão fácil?

—Quem você chamou de fácil, idiota? — Ela me beliscou.

Eu rosnei para ela por cima do ombro, tendo um vislumbre de


seu largo sorriso.

Ela colocou as mãos com segurança em meus ombros enquanto


eu fazia mais algumas flexões. —Não, isso não é normal para mim,
— disse ela depois de alguns minutos.

Não foi a primeira vez que nos metemos em algum tópico de


seu histórico de relacionamentos. Mas quando eu perguntei no bar,
eu só recebi uma resposta parcial, e eu senti que havia muito mais
por baixo, talvez até mais do que ela percebesse. Então eu peguei
leve antes de enchê-la de perguntas, mesmo que isso fosse o que eu
queria fazer.

—O que é diferente? — Eu perguntei quando abaixei nossos


corpos para o chão.

Ela suspirou pesadamente. —Bem, o último cara com quem


namorei poderia fazer duzentas flexões comigo nas costas, então...
Ava gritou quando eu parei, a jogando no chão quando fiz isso.
Eu a rondava enquanto ela se esparramava rindo no chão. Sua
punição começou com sua saia dobrada em torno de sua cintura,
minha cabeça abaixada por baixo, e língua, lábios e dentes em todos
os lugares, menos onde ela realmente me queria. Nos cinco minutos
seguintes, ouvi uma linguagem que faria os ouvidos de um homem
estourar, mas me recusei a dar o que ela queria até que ela estivesse
implorando e arranhando minhas costas.

Eu levantei minha cabeça entre suas pernas e ela beliscou


minha orelha.

—Ow, — eu disse, em seguida, mordi a parte interna da sua


coxa.

—Você é o pior tipo de provocação, Matthew Hawkins, — ela


gemeu. —Vá, volte ao trabalho.

—Sim, senhora. — Eu encostei dois dedos contra a minha


têmpora e a cumprimentei, o que me rendeu um sorriso.

Ela riu quando fiz cócegas no interior de seu joelho, em seguida,


seus sons mudaram para gemidos suaves enquanto eu me
banqueteava nela.

Quando o corpo de Ava estava mole do alívio, eu a peguei e


carreguei, algo que descobri que eu amava fazer, por que ela era
pequena, e se encaixava naturalmente em meus braços. Eu caí de
volta no sofá com um uivo, e ela se aninhou no meu peito.

—Você errou sua vocação, Hawkins.

—Errei?
—Nada de futebol, você poderia fazer sexo oral para ganhar a
vida e, provavelmente, ganharia mais dinheiro.

O sofá balançou com a força da minha profunda e crescente


gargalhada. Afastei o cabelo dela do rosto para poder ver melhor. —
E para quem estou me apresentando?

Seus olhos brilharam. —Para mim.

Aquele leve ciúmes fez seus olhos num tom de verde


impossível, e eu desejei ter uma foto dela assim. Minha bochecha
descansou facilmente na sua cabeça, e eu olhei para onde minha
mão se curvava sobre a sua coxa.

—Eu vou dizer uma coisa e você não pode tirar sarro de mim.

Ava riu. —OK.

—Isso daria uma boa foto.

Ela olhou para mim. —O quê?

Eu balancei a cabeça para as pernas dela, minha mão, um


emaranhado de pele. —Isso.

—Você vai postar no seu Instagram com alguma legenda


poética? — Ela brincou, mordiscando a parte inferior do meu
queixo.

Normalmente, eu encontrava seus lábios com os meus e


terminava o que tinha começado no chão porque, embaixo dela, eu
estava pronto para terminar o que começamos.
Em vez disso, observei seu rosto cuidadosamente enquanto
respondia. —E se eu postasse?

Seu sorriso murchou, e ela brevemente segurou meu olhar


antes de olhar de volta para a minha mão em sua perna. Ava ficou
quieta por um longo momento antes de responder. —Bem, suas fãs
enlouquecerão. Você não posta fotos com uma mulher desde Lexi, e
você não tem muita presença na mídia social.

Eu sorri. Alguém acabou de admitir que estava fazendo


perseguição virtual. —Verdade.

Nenhum de nós falou, e até aquele momento de silêncio, eu não


percebi o quanto eu queria isso. Eu queria dar ao mundo uma dica
do que eu estava compartilhando com ela.

Eu prendi a respiração enquanto ela pensava, porque eu sabia


que ela estava deslizando naturalmente para o modo ‘Relações
Públicas’ do time. Pior ainda, eu praticamente a podia ver trazer as
luvas na frente do rosto para se proteger de algum agressor
desconhecido. Com sorte, ela não achou que fosse eu.

—Quantos seguidores você tem? — ela perguntou.

Não é o que eu esperava, mas tudo bem. —Uhh, uns dois


milhões, eu acho.

Ela riu baixinho. —Dois milhões, ele acha, — ela murmurou. Ela
segurou meu queixo e me beijou ferozmente. —Você tem três
milhões e meio de seguidores, Matthew. Eles vão desencadear o
inferno sagrado tentando descobrir de quem é a perna na sua mão.
Eles verão aquela sarda na minha coxa direita e começarão a
procurar até que a possam combinar com alguém. Estamos prontos
para isso? Eu não sei se estou pronta para tornar isso mais difícil do
que precisa ser, sabe?

Não havia nada além de verdade no que ela disse. Porque eu


não estava apenas em posição de destaque, também estava solteiro
há muitos anos, sempre havia especulações sobre minha vida
amorosa e até mesmo minha sexualidade, depois que Lexi se
divorciou de mim. Eu queria subir no telhado e gritar para o mundo
que havia a semente de algo incrível aqui, mas eu também sabia que
ela não estava errada.

Lentamente, Ava se moveu até que ela estivesse sentada em


minhas pernas, e ela segurou meu rosto em suas pequenas mãos.
Seus polegares roçaram meus lábios, e eu os beijei.

—Nada sobre esse relacionamento é normal para mim,


Matthew. — Seu rosto estava tão vulnerável que eu queria enterrar
ela em meus braços até que ela se sentisse melhor, parecesse mais
feliz. E isso deveria ter me assustado. Meu desejo de fazê-la feliz
deveria ter me assustado, mas isso não aconteceu. —E estou feliz
por isso. Estou tão feliz com o que estamos vivendo agora, — ela me
disse, segurando meu rosto para que eu não pudesse desviar o olhar,
mesmo que quisesse. Eu passei minhas mãos pelas costas dela.

Ava se inclinou para frente e tocou seus lábios nos meus. Um


lento deslizar de sua língua na minha boca me fez apertá-la com
força contra o meu corpo, e o modo como seus seios pressionaram
o meu peito fez meu coração disparar.

Quando ela falou em seguida, foi na pele do meu pescoço. —Não


é sobre você ou eu me questionar se isso é algo que eu ainda quero.
É apenas sobre... tudo, além de nós, me faz sentir que não estou
pronta. Complica tudo mais do que o necessário. Isso faz sentido?

Fechei os olhos e beijei sua têmpora, respirando o doce aroma


cítrico de seu xampu.

—Sim, é verdade, — eu disse a ela. Foi a primeira mentira que


contei a mim mesmo sobre Ava e, naquele momento, acreditei.
—TRÊS DIAS ATÉ O ACAMPAMENTO DE TREINAMENTO, — alguém
gritou no final da sala de musculação. —Estamos prontos?

Um coro de —inferno, sim— e —malditamente prontos, — entre


o barulho de pesos e os grunhidos e gritos da defesa suando nossas
frustrações e nossos desejos para a próxima temporada.

—Precisa de ajuda? — um dos seguranças, Christiansen,


perguntou quando ele passou por mim fazendo supino.

—Obrigado, — eu gemi. Ele pôs a mão debaixo da barra


enquanto eu rangia os dentes, saboreei a queimação em meus
músculos.

—Vamos lá, meu velho, — brincou ele. —Você consegue mais


dois.

—Ah, foda-se, — eu disse, mas nós dois sabíamos muito bem


que eu ia fazer mais três, já que ele pediu dois. Eu plantei meus pés
firmemente no chão, e mesmo que meus braços parecessem estar
sendo lambidos pelo fogo, e meu rosto estivesse suado, eu soprei ar
nas minhas bochechas e terminei meu terceiro, antes dele me ajudar
a encaixar a barra de metal no apoio.

Me sentei e me estiquei, apenas conseguindo estremecer uma


vez antes de sorrir para ele. —Obrigado.
—Você transou ou algo assim, Hawkins?

Meu corpo inteiro congelou, assim como cerca de cinco ou seis


jogadores que estavam ao alcance da voz. —O quê?

—Aww, vamos lá, cara, — Lopez perguntou da máquina de


peso à minha esquerda. —Você andou por aí sorrindo como um
idiota pela última semana.

Uma toalha de suor no chão servia como uma excelente


maneira de esconder meu rosto enquanto pensava sobre o que
dizer. Eu bati em Lopez quando ele começou a dar uma cotovelada
em Christiansen. —Um cara não pode estar de bom humor?

Alguém tossiu em desagrado, e eu olhei com a maior eficácia


possível para o pequeno público que se reunia. O estúpido
Christiansen. E não era chato porque eu não queria contar a eles. Era
porque eu não podia. Mas este foi provavelmente o lugar onde eu
entendi a hesitação de Ava.

—Se eu transar, — eu disse enquanto me levantava do banco


de levantamento de peso, —eu não diria a vocês, idiotas.

Risos responderam a essa, e os caras solteiros começaram a


contar algumas histórias de suas conquistas de fim de semana.

Eu balancei a cabeça, empurrando Christiansen enquanto


caminhávamos de volta para o vestiário.

—Idiota

Ele riu. —Desculpa. Você acabou de ficar bem quieto desde que
chegou aqui. Eu era o cara novo há dois anos quando fui negociado
no Arizona. Não é fácil o tempo todo.
—Não, não é, — eu concordei. Paramos para que ele pudesse
encher sua garrafa de água.

A porta da sala de musculação se abriu e Logan Ward entrou.

—Tarde, — disse ele, erguendo o queixo para nós dois.

—Ward, — Lopez berrou da máquina. —Você precisa começar


a fazer o que Hawkins está fazendo. Talvez você também se ilumine.

Logan olhou para mim e depois de volta para Lopez.

Lopez sacudiu a cabeça. —Ele nem vai perguntar.

—Por que eu precisaria me iluminar? — Logan perguntou,


parecendo genuinamente confuso.

A sala de musculação inteira explodiu e até consegui dar um


sorriso. Talvez ele não fosse um completo idiota, só... fosse sério. Ou
talvez ele fosse um idiota. Quem saberia.

—Você precisa transar, Ward, — disse Christiansen,


empurrando as costas de Logan. —Por que você acha que Hawkins
é todo sorrisos e olhos de coração nas últimas duas semanas?

Logan estreitou os olhos para mim, mas não disse nada.

Eu levantei minhas mãos. —Não olhe para mim. Não tenho


nada a ver com isso.

Ele suspirou, um olhar consternado em seu rosto endurecido.


Logan estava na liga de futebol há mais tempo do que qualquer um
do time, exceto Luke Pierson, então ele provavelmente se cansava
de coisas assim facilmente.
—De volta ao trabalho, pessoal. Esse tipo de merda não vai nos
ajudar a ganhar nenhum jogo.

Eu tive que levantar minhas sobrancelhas em concordância,


porque ele estava certo. Mas um pouco de camaradagem também
não machucava. Mas todos pareciam aceitar sua grosseria com
facilidade, com algumas piadas em sua direção. Eu segui
Christiansen para fora da sala de musculação e parei para pegar
minha mochila.

—Você vai tomar um banho, cara? — Ele perguntou, tirando a


camisa e jogando no chão.

—Em casa.

Ele assentiu. —Te vejo amanhã.

Eu levantei minha mão e comecei a ir para o escritório de Ava.


Eram apenas três horas, então eu sabia que ela ainda estava no
prédio em algum lugar. Naquela manhã, quando me arrastei para
fora da cama, ela murmurou alguma coisa sobre uma reunião que
duraria até as seis da tarde e para eu esperar para que pudéssemos
jantar juntos.

Todos os dias eu a via.

Todas as noites, nos últimos dez dias, dormíamos na mesma


cama, na dela ou na minha.

E toda vez que ela me beijava, envolvia seus braços em volta de


mim e enterrava o rosto no meu peito, eu me apaixonava mais. Toda
vez que assistíamos ao Pardon the Interruption, e ela argumentava
veementemente com algo que Wilbon ou Kornheiser diziam, sentia
uma pontada no coração. Toda vez que eu estava dentro dela, sabia
que nunca havia sentido nada tão bom.

E toda vez que tentava pisar na linha invisível na areia, aquela


em que conversávamos sobre o futuro ou qualquer coisa séria do
nosso passado, ela habilmente evitava o assunto.

Eu entendia sua cautela. Até certo ponto. E até certo ponto, eu


sabia por que ela era tão cautelosa. Vindo de um cara que tinha sido
traído e divorciado, eu mais do que entendia querer levar as coisas
devagar. Mas isso não facilitou. Não agora que eu finalmente
encontrei alguém em quem podia confiar, alguém que me fez querer
entrar de cabeça nesse sentimento.

Enquanto caminhava pelo corredor, senti a frustração por


manter esse sentimento incrível enterrado. Minha pele parecia
nervosa e desconfortável quando passei por alguém, dando-lhe um
sorriso educado. Eu apenas fingi que eu era outro jogador que ia
encontrar outro funcionário.

Sua porta mal estava entreaberta, mas eu podia ver o brilho


suave de sua luminária de mesa. Batendo meus dedos na porta antes
de entrar, ela levantou o dedo quando terminou um telefonema.

Ela piscou para mim quando eu fechei a porta silenciosamente.

—Sim, podemos fazer isso acontecer, — disse ela. Dando um


passo à frente, ela pegou um bloco vermelho e rabiscou algo na
primeira página. —Uh-huh. Apenas se certifique de me enviar as
perguntas primeiro. Nós não queremos surpresas, não é? — Ela riu.
—Ok. Obrigado.
O telefone dela bateu na mesa com um barulho, e ela gemeu
quando se espreguiçou na cadeira da escrivaninha.

—Dia cheio? — Eu perguntei a ela com um sorriso.

—Apenas estupidamente ocupado. — Ela se levantou da


cadeira e veio para onde eu estava encostado em um arquivo,
convenientemente fora da vista da pequena janela em sua porta.
Quando a vi naquela manhã, ela estava amarrotada e adormecida
com camiseta azul simples e shorts combinando.

Agora ela era a Ava elegante novamente, o cabelo puxado para


trás em um laço apertado e um vestido amarelo brilhante cobrindo
o corpo que eu tanto amava. Minhas mãos encontraram sua cintura
e eu a puxei para perto de mim. Seu sorriso era desobediente, e eu
gostei muito da aparência dela.

—Você está todo suado, — ela sussurrou. Mas ela inclinou o


queixo para cima, então isso não a incomodou muito.

Eu a beijei, derramando toda a minha frustração em seus lábios,


agarrando sua bunda com as mãos que poderiam sujar seu vestido,
mas ela se pressionou em mim instantaneamente. Eu chupei sua
língua, e ela choramingou antes de se afastar.

Ava revirou a testa contra o meu peito. —Levantar pesos


deixou você pronto, hein?

—Você me deixou pronto, — eu disse a ela, desejando que eu


pudesse colocar meus dedos em seus cabelos, bagunçar, enrolar e
os puxar com meu punho apertado para que eu pudesse ter um
alívio.
Pronto.

Amarrado em nós.

Ava estava desesperada para se agarrar à armadura que ela


ainda usava teimosamente, e eu não conseguia entender o porquê.
Tão ruim, eu queria arrancar ela, fazer com que ela me mostrasse
seu ponto fraco, eu sabia que estava lá, e, a irritação de não ser
capaz, dava um ritmo furioso ao meu sangue. Ava deve ter sentido
isso na flexão dos meus dedos, no tremor do meu corpo.

Ela não disse nada; apenas puxou uma respiração lenta e


irregular. Tudo o que eu precisava saber, eu ouvi naquela inalação
agitada. Ela também me queria. Ela sabia que era provavelmente
estúpido fazer isso em seu escritório, mas ela também me queria.

Ava envolveu seus punhos na gola da minha camisa e arrastou


minha boca até a dela novamente. Eu gemi, nos virando para que as
costas dela estivessem contra o arquivo, e eu pudesse levantá-la
mais alto. Suas pernas se envolveram em volta da minha cintura
enquanto eu me enterrava nela. De repente, fiquei grato por duas
coisas: seu vestido e meu short de ginástica.

Ela empurrou o último, e eu puxei o primeiro, empurrando o


vestido dela e só tendo tempo suficiente para puxar sua calcinha
para o lado com dedos impacientes.

Assim que eu estava alinhado e prestes a empurrar, ela pôs a


mão no meu peito.

—Espera.
Minha mão segurou seu peito e ela jogou a cabeça para trás. Eu
movi meus quadris para a frente apenas um pouco, o suficiente para
que nós dois parássemos de respirar, o que era uma provocação.

—Minha porta está trancada? — ela sussurrou.

Eu parei.

—Merda, — eu gemi. —Não.

Com um grunhido na parte de trás da minha garganta, eu a


ajudei a por os pés no chão enquanto eu puxava meu short para
cima.

—Paciência, meninão, — ela disse, batendo no meu peito e


andando com as pernas instáveis para pressionar o botão em sua
maçaneta que garantiria a nossa privacidade. Minhas mãos ainda
estavam segurando o arquivo quando o telefone tocou.

—Não, — ela choramingou. Eu olhei para ela por cima do meu


ombro, quase rindo do olhar em seu rosto. —Eu só... Eu tenho que
ter certeza de que não é Cameron. Estou esperando algo importante
antes de me encontrar com ele mais tarde.

Em nome do presidente da nossa equipe, abaixei a cabeça. —


Sem problemas.

Quando ela pegou o telefone e o cumprimentou, eu soltei uma


respiração profunda. Acho que não haveria diversão no escritório.
Eu me virei e lhe dei um sorriso irônico quando ela fez beicinho.

Enquanto falava com Cameron, percorri o escritório,


observando as citações emolduradas, seu diploma e uma foto dela e
Allie dos playoffs do ano anterior.
Ambas estavam bonitas com sorrisos largos e olhos excitados
depois de uma vitória, mas meu olhar permaneceu travado em Ava.
Sua bochecha estava pressionada contra Allie, seus lábios eram do
mesmo vermelho escarlate que as cores do time, e tinha um olhar de
felicidade genuína em seu rosto que eu queria esfregar no lugar
sobre o meu coração.

Quantas pessoas no mundo conseguiam fazer um trabalho que


trazia tanta felicidade?

Eu era um dos poucos e a maioria dos jogadores sentia o


mesmo. Mas olhando para o rosto dela, eu sabia que Ava estava
entre esse número. Eu não tinha o direito de fazê-lo, mas sentia
tanto orgulho olhando para aquela foto, tentando conciliá-la com a
garota que queria aprender pôquer, a garota que costumava assistir
futebol com o pai e comigo nas tardes de domingo.

Meus olhos caíram e viram algo no topo de uma pilha de papéis.

Afastei a borda de um pesado envelope creme e vi o nome


Ashley Baker-Hughes explodir como uma bomba no meu peito.
Como eu estava de costas para Ava, ela não me viu pegar o papel
com uma mão surpreendentemente firme. Nada poderia matar uma
ereção mais rápido do que ver o nome de sua ex-noiva cinco minutos
depois de você quase transar com a irmã dela.

A honra da sua presença

É necessária na confirmação dos

Votos de casamento de

Adam Hughes e Ashley Baker-Hughes


Havia mais, uma data e hora, não muito distantes e a
localização. Ilha das Orcas. Eu conhecia Adam Hughes. Muito bem,
na verdade.

—Oh merda, — Ava sussurrou do meu lado. Ela se adiantou


para pegar o convite de mim e eu deixei.

—Desculpe, é o que eu ganho por bisbilhotar.

Ela balançou a cabeça. —Você não estava bisbilhotando. Eu que


deixei aí.

Tudo parecia bagunçado e estranho no meu peito. Claro, ela


manteve isso em segredo. Nós evitamos o assunto Ashley como se
ela fosse uma praga que poderia cair sobre nossa bolha feliz.

No entanto, senti uma frustração no fato de que eu ainda não


sabia disso.

—Adam, — ela começou, então limpou a garganta, —ele é, uh...

—O cara com quem ela me traiu, — eu terminei. Eu sorri um


pouco, mesmo que tenha sido forçado, porque eu poderia sentir o
quão desconfortável ela estava. —Sim, eu sei. Eu não o conheci
pessoalmente, só sei que ele era um garoto rico que se encaixava
melhor em seus padrões.

Ava bufou. —Ele é um imbecil, isso sim. Eles são tão sufocantes
que eu poderia engasgar depois de cinco minutos ao redor deles.

Isso me fez rir baixinho. De repente, a frustração que eu sentia


ao manter isso em segredo era petulante e egoísta. Eu não era o
único que teria que lidar com Ashley ou seus pais. Ava teria. E
aparentemente, ela teria que lidar com eles em breve.
—Você vai? — Fiz um gesto para o convite, ainda apertado na
mão dela.

Ela assentiu devagar. —Sim. Me desculpe por não ter contado a


você.

Eu acenei porque entendi o porquê. Mais ou menos. —Está tudo


bem, realmente.

—Eu gostaria de poder levar você, — disse ela, com a voz baixa.
Então ela encolheu os ombros.

—Quase impossível.

—Sim.

Nós dois suspiramos. Peguei as mãos dela, jogando o convite no


chão. Eu não queria nada de sua família entre nós, literal ou
figurativamente. Ava segurou meus dedos firmemente como se eu
fosse uma tábua de salvação, e eu a puxei para um abraço. Ela soltou
um suspiro de alívio.

—Não há, literalmente, nada nesta terra que eu odeie falar mais
do que sobre a minha família.

Eu sorri no topo da cabeça dela, mas me senti forçado também.


Eu queria que ela quisesse discutir sobre sua família comigo. Mesmo
entendendo seu raciocínio, ou tentando, parecia que havia mais uma
parte dela que eu não tinha permissão para descobrir até que ela
estivesse pronta para largar a cortina.

E se eu perguntasse a ela? E se eu a convidasse para


compartilhar essas coisas comigo porque eu me importava, e ela
ainda dissesse não?
Eu engoli antes de falar. —Então não vamos falar sobre isso.

—OK. — Sua voz era baixa e eu beijei seu cabelo. —Eu só tenho
que superar isso um dia, né?

Eu balancei a cabeça e seus braços se apertaram ao meu redor.


—Sim, você precisa.

Ava exalou e inclinou o queixo para mim. —Eu posso fazer isso.

Minha mão segurou o rosto dela, e ela se aninhou na minha


mão.

—Depois que isso acabar, temos bastante tempo para dar um


jeito, ok?

Desta vez, acho que nós dois sabíamos que eu estava falando
simplesmente para nos fazer sentir melhor. Mas ela me beijou, eu a
beijei de volta e deixamos Ashley jogada no chão.
HAVIA algo em acordar nua na cama do seu homem.

Como Matthew era um homem enorme, sua cama era


proporcional. Eu poderia estrelar meu corpo, esticar meus braços e
pernas para fora, e não tocar nas bordas do colchão do rei da
Califórnia coberto por lençóis de algodão egípcio em um tom de
cinza.

Eu pressionei meu rosto no travesseiro de espuma da memória


e sorri, lutando contra o desejo de enrolar meus dedos e rir. Se eu
pensasse muito sobre o fato de que ele era o cara transando comigo
todo santo dia, eu perderia a cabeça por pura felicidade feminina.
Era quase impossível acreditar que ele fosse mesmo real. A única
falha que pude encontrar foi sua absoluta recusa em manter
qualquer forma de carboidrato processado em sua casa. Na verdade,
mesmo carboidratos brutos saudáveis não entravam lá. Nenhum
pão de dezoito grãos ou bolachas com pedaços gigantes.

Muita carne. Muita fruta. Muitos legumes. A barra de chocolate


ocasional que ele escondia para mim no armário.

Mas eu acho que eu não poderia reclamar sobre seus hábitos


alimentares também, pensei enquanto minhas pernas queimavam
em protesto quando eu estiquei meu corpo para fora. Aquele corpo.
Eu quase tive que me abanar. Ele era um daqueles homens que
trabalhou duro para conseguir o corpo que tinha, e ele sabia como
usar.

Eu me sentei e sorri. Sim ele sabia. Por duas semanas agora,


sem merda, nada, todos os dias, eu estava aprendendo o quão bem
ele sabia como usar seu corpo.

Eu me joguei de volta na cama e suspirei. Uma nota estava no


criado-mudo ao lado do meu travesseiro, e eu peguei.

A menos que você tenha feito outros planos, esteja de volta aqui
às 7, use aquele vestido vermelho que você me mostrou em seu
armário. - M

PS- Eu acho que você lesionou de novo as minhas costas ontem à


noite. Eu sou muito velho para essas posições.

Eu ri, passando meu polegar ao longo de sua escrita


perfeitamente quadrada. Quem ele estava enganando? Ele poderia
me jogar como um artista do Cirque du Soleil e não suar.

Durante o resto da manhã, praticamente deslizei. Tomei banho


e me arrumei na casa dele, então cheguei ao trabalho cedo e
cumprimentei todos por onde passei, como se eu fosse a Suzie
Sunshine, lançando verdadeiras bombas de glitter de felicidade em
todos os lugares que eu ia.

Talvez eu não fosse uma completa morta para namoros, afinal.

Honestamente, eu estava feliz antes de ele aparecer. Eu amava


meu trabalho, tinha amigos e me mantinha ocupada. Mas isso...
parecia que uma nuvem tinha se aberto e despejado um balde
inteiro de felicidade em mim. Eu estava sentada na minha mesa
pensando nisso quando meu telefone tocou.

Ashley.

—Mesmo você não pode arruinar meu humor hoje, querida


irmã, — eu disse alegremente, apertando o botão de ‘recusar’ com
uma alegria especial.

Ela certamente tentou, no entanto. Nas duas horas seguintes,


ela ligou mais duas vezes, finalmente deixando uma mensagem de
voz na terceira tentativa. Por dez segundos, me perguntei por que
ela não me deixava em paz, mas o que quer que fosse podia esperar
vinte e quatro horas até que eu voltasse para casa depois do que
quer que Matthew tivesse planejado para nós.

Uma batida na porta do meu escritório me tirou dos meus


pensamentos. A recepcionista sorriu para mim.

—O que houve? — Eu perguntei a ela.

De trás das suas costas ela tirou um buquê perfeitamente lindo.


E não apenas algumas flores. Minhas flores favoritas.

Amarrados com uma fita branca havia uma explosão brilhante


de ranúnculus cor de rosa, laranjas, amarelos e brancos. Algumas
folhas verdes e lustrosas emolduravam o lado de fora, e eu
realmente coloquei a mão no meu peito quando me levantei para
pegá-las.

—Elas são tão lindas, — eu respirei.

Ela assentiu. —Garota, o que você fez para merecer isso,


continue fazendo.
Eu ri, sem saber o que dizer. Porque eu não tinha certeza se
sabia de quem elas eram, embora eu imaginasse.

O envelope branco quadrado enfiado na lateral das flores me


fez sorrir em antecipação. Eu nunca recebi flores antes. De ninguém.

Quando finalmente li a nota, digitada com tinta impessoal,


comecei a rir.

Após cuidadosa consideração, mudei de ideia sobre as posições.


Mesmo que isso me afastasse do time, eu arriscaria qualquer lesão por
você.

Era ridículo e doce, e eu o imaginei chamando a florista,


repetindo aquela mensagem, e meu rosto esquentou. Ugh, porque
não eram sete horas já? Eu queria ver ele, tocá-lo, beijá-lo.

Obsessão. Eu acreditava que eles chamavam essa fase de


‘obsessão do relacionamento’.

Me sentindo impulsiva, peguei meu telefone e disquei seu


número. Caiu na mensagem de voz, a voz genérica me deixando
saber que seu número não estava disponível.

Mantendo minha voz baixa, e de costas para a porta


ligeiramente aberta, deixei minha primeira mensagem sexual.

—Quando eu te ver esta noite, vou te agradecer de uma


maneira que você nem imagina, senhor. Aquele vestido vermelho
que você queria que eu usasse? Não vai ficar em mim por muito
tempo, porque se você não usar essas mãos para arrancar ele, e me
segurar nessa grande mesa, então eu não vou me sentir muito feliz.
— Eu inalei devagar, —Só de pensar em como vou usar seu corpo
hoje à noite, mmm, mal posso esperar para vê-lo.

—Você está fazendo sexo por telefone no trabalho? — Uma voz


maliciosa saiu de trás de mim.

Aquela voz. Eu apertei meus olhos quando me atrapalhei com


meu telefone, rezando para que eu terminasse a mensagem antes
que ele a ouvisse. Eu respirei fundo, agradecendo ao universo por
eu estar sexy hoje. Eu passei a mão na frente do meu vestido de
bainha verde-esmeralda. As mangas pequenas faziam meus braços
tonificados ficarem bonitos, e a pequena fita preta em volta da
minha cintura era elegante e lisonjeira. Meus sapatos eram
Louboutin, o único par que eu possuía, e sabia que ela os cobiçaria.
E então eu cerrei os dentes porque estava catalogando minha
aparência para ter certeza de que Ashley Baker-Hughes não
encontraria nenhuma falha em mim.

Droga. Isto.

Eu me virei, encostando na mesa e dando a ela um sorriso


confuso. —Ashley. Esta é uma... surpresa.

Ela bufou, andando em minha direção para dar um beijo no ar


ao lado da minha bochecha. Não há abraços entre nós. Mas mesmo
sem seus braços em volta de mim, eu peguei o menor indício de seu
perfume Chanel No. 5, e isso me fez querer sufocar.

—Não seria uma surpresa se você ouvisse suas mensagens, —


disse ela, lançando um olhar desdenhoso ao meu escritório. —
Nenhuma janela.
Eu inclinei minha cabeça. —Você tem janelas na sala de
cirurgia?

Ashley exalou. —Não seja ridícula.

Nós não poderíamos estar em um quarto juntas por noventa


segundos sem nos atacarmos. Eu esfreguei minha testa. —Desculpe,
estou surpresa em ver você aqui. Em Washington. No meu
escritório.

Ela encolheu os ombros, empurrando a pesada mecha de cabelo


dourado por cima do ombro. —Eu não estava feliz com algumas das
comunicações com o local da cerimônia, e como eu não estou de
plantão nos próximos dias, decidi voar para cá para conversar com
a coordenadora de eventos para ter certeza de que estamos na
mesma página. Adam e eu ficamos noivos lá, e eu preciso que tudo
esteja perfeito. — Ela revirou os olhos azuis cristalinos. —Você
imagina que ela entenderia a diferença entre branco e casca de ovo
para o rosa que eu quero.

—Você imaginaria.

Seus olhos se estreitaram nas flores atrás de mim. —Falando


de flores...

Merda.

Ela caminhou até a mesa e pegou a nota do suporte de plástico.

—Muito presunçoso? — Eu perguntei secamente, meu coração


batendo, embora Matthew não tivesse assinado seu nome.
Seus lábios rosados, exatamente da mesma forma que os meus,
se moveram enquanto ela lia a nota. Suas sobrancelhas levantaram.
—Bem, parece que alguém está misturando negócios com prazer.

Porque, claro, estava perfeitamente claro que um atleta havia


escrito aquela nota.

—Não tem como você saber disso, — eu disse, mas minha voz
não tinha convicção.

—Afastado do time? — Ela fungou. —Por favor. É fofo. Não é


muito original, mas é fofo. Mas eu suponho que os jogadores de
futebol não são normalmente conhecidos por seus cérebros, são?

Se eu não estivesse completamente apavorada, eu teria


respondido, mas comentários maliciosos como esse teriam que
esperar pelo momento certo.

Eu sabia que Ashley não acompanhava futebol. Depois que seu


relacionamento com Matthew, ela se recusou a assistir a um único
jogo, de faculdade ou profissional. Ela, esperançosamente -
provavelmente - não tinha ideia de que ele ainda jogava. Que ele
jogava pelo meu time. Quase chorei com as possíveis ramificações
desta pequena visita improvisada.

—Há quanto tempo você está namorando? — ela perguntou. —


Não pode ser há tanto tempo já que mamãe e papai não sabem ainda.
Embora você tenha mantido o nome do seu namorado da faculdade
em segredo por quase um ano antes de nos contar.

E se essa fosse uma daquelas vezes em que Matthew aparecia


aleatoriamente no meu escritório? E se ele recebesse minha
mensagem e quisesse me encontrar, trancar a porta e terminar o
que não fizemos alguns dias antes?

—Umm, n-não muito tempo, — gaguejei. —Ele é... nós somos...

Ela revirou os olhos. —Eu posso ver porque você o


impressionou tanto. Você é sempre tão articulada?

Só isso, senti minha coluna se endireitar com um rápido estalo,


abri minha boca para falar quando o som profundo de alguém
limpando sua garganta me fez pular. Logan Ward estava na porta do
meu escritório e quase vomitei de alívio.

—Desculpe, — ele disse rispidamente, dando a Ashley um


breve e desinteressado movimento de seus olhos, —estou
interrompendo alguma coisa? Eu posso voltar mais tarde.

—Logan, — eu respondi, agitada além do possível e o coração


palpitando com a maneira como minha irmã estava olhando para
nós com os olhos desconfiados e estreitos. —Não, está bem.

Eu andei em direção a ele, pressionando minha mão no meu


estômago instável, e ele se concentrou em minha mão. Logan nunca
tinha me visto de nenhuma outra maneira, além de serena.

—Você está bem? — Ele perguntou, parecendo preocupado.

Merdaaaaaa.

Porque ele soou como um namorado.

Ashley cantarolou nas minhas costas e pisquei meus olhos.

Exceto.
Espere.

No meu cérebro vacilante, uma ideia terrível, mas brilhante,


floresceu. Abri os olhos e dei a ele um olhar de desculpas. Por favor,
eu murmurei, e suas sobrancelhas escuras se curvaram.

Eu não fui idiota. Eu sabia que isso poderia sair pela culatra se
Logan abrisse sua boca rabugenta. Mas ele era quente. Na verdade,
Logan era um dos caras mais gostosos da equipe, especialmente
porque ele tinha aquela coisa toda rabugenta e chocante.

—Ashley, — eu disse, mantendo meus olhos treinados em


Logan. —Este é Logan Ward. Ele é... foi ele quem me enviou as flores.

Ele abriu a boca, mas eu olhei de forma eficaz o suficiente para


que ele a fechasse.

—Oh, — ela demorou. —Eu nunca conheci um dos namorados


de Ava. Não que ela tenha tido muitos, — acrescentou ela baixinho.

—Uhh, — ele murmurou, piscando rapidamente, em seguida,


entrou no meu escritório. —Prazer em conhecer você.

Ele não me tocou quando estendeu a mão para Ashley, fiquei


agradecida por isso. Eu só precisava dela fora daqui, e Logan era a
desculpa perfeita.

Ashley o avaliou lentamente enquanto segurava a mão dele e


eu sabia o que ela estava vendo. Cabelos escuros, maxilar áspero,
peito largo e musculoso e pele bronzeada. Realmente alto,
realmente bem construído e muito quente. Para um namorado
momentâneo, eu poderia ter feito bem pior.
—O prazer é meu, — ela disse a ele. E então ela sorriu para mim.
Na verdade, realmente, ela sorriu sem fingir. Então ela piscou. —
Belo trabalho, — ela disse com o canto da boca.

Puta que pariu.

Logan puxou a mão para trás e limpou a garganta.

Eu queria vomitar em todos os meus sapatos pretos brilhantes.

—Eu posso voltar mais tarde, — Logan disse novamente, me


dando um olhar estranho e prolongado.

—Não, absolutamente não, — Ashley quase balbuciou. —


Espero ver você na cerimônia, Logan. Ava nunca trouxe ninguém
para conhecer nossa família antes. E você parece um homem a quem
um smoking cairia bem.

—É black tie? — Eu perguntei incrédula. —É uma renovação de


votos, Ashley.

Ela estava irredutível, encolheu os ombros levemente enquanto


levantava uma sobrancelha. —Mas é meu, e é isso que Adam e eu
queremos.

Logan me deu uma olhada rápida e eu balancei a cabeça. —


Umm, Ava e eu não tivemos a chance de falar sobre isso ainda.

Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, Ashley se


inclinou para me abraçar e sussurrou em meu ouvido. —Ava, ele é
lindo. E o jeito que ele está olhando para você? Que inferno!
—Uh-huh, — eu disse fracamente, dando um tapinha nas costas
dela e rezando desesperadamente para eu não desmaiar. Eu
precisava dela fora deste prédio.

—É melhor eu ir, — disse Ashley. —Ava, por que você não me


encontra para uns drinks hoje às oito? Vou mandar uma mensagem
para você com o endereço do meu hotel. Assim, eu posso explicar
como você pode ajudar na cerimônia antes de eu voltar para casa
amanhã à noite.

—Uhh, — foi tudo que consegui.

Minha irmã encarou Logan, se inclinando para dar um beijo no


ar ao lado de suas bochechas. Ele não poderia parecer mais
desconfortável se ela tivesse puxado uma arma para ele.

—Logan, é tão maravilhoso conhecer você. Espero que não seja


a última vez que nos vemos.

Ele deu um sorriso tenso, e ambos ficamos estupefatos quando


ela saiu do meu escritório. Afundei na cadeira em frente à minha
mesa e deixei cair a cabeça nas mãos.

—Puta merda, — eu disse em voz baixa. Quase esqueci que


Ward estava no escritório comigo até ele falar de novo.

—Ava, — Logan resmungou curiosamente, —o que diabos está


acontecendo?
ESSA É UMA BOA PERGUNTA.

O que diabos estava acontecendo?

Eu cobri minha boca com os dedos ainda trêmulos e olhei para


Logan. Braços cruzados sobre o peito, o olhar em seu rosto estava,
como sempre, indecifrável, o cara que acabou de salvar minha vida,
Logan.

—Essa era minha irmã, Ashley.

Nenhuma parte do corpo dele se moveu, exceto uma


sobrancelha escura.

Traduzindo: Sério, Ava?

Eu me sentei e soltei um suspiro lento. Se eu contasse a história


toda a Logan, teria que contar tudo sobre Matthew e eu; algo que
não havíamos discutido. Logan não era amigável, mas os caras que
o conheciam o respeitavam muito. Claro, ele fez do meu trabalho um
inferno desde o primeiro dia, porque ele era tão fácil de treinar
quanto uma banana, e ele não estava facilitando para deixar
Matthew mais confortável, mas ele merecia pelo menos uma fatia da
verdade pelo que ele acabara de fazer.

—N-nós não temos um ótimo relacionamento. Nós nunca


tivemos. — Joguei minha cabeça para trás, e olhei para o teto por
alguns segundos. —E eu estou namorando alguém. — Eu gesticulei
fracamente para as flores. Ele deu um olhar longo e inescrutável,
mas não disse nada. —Alguém que eu não estou pronta para... contar
pra ela.

—Por que não?

O riso histérico veio subindo pela minha garganta e eu engoli


violentamente para mantê-lo dentro. Se eu tivesse que listar cem
pessoas com quem eu poderia ter tido essa conversa, Logan Ward
não teria chegado perto de fazer parte dela.

—Logan? — Eu perguntei, sustentando seu olhar com a uma


firmeza que eu jamais tive. —Você sabe como odeia falar com a
mídia e me dá trabalho a cada passo quando eu peço que você faça
a tarefa mais simples para facilitar meu trabalho?

—Uh-huh

—Bem, eu estou descontando todos as fichas imaginárias que


esses momentos me renderam ao longo dos anos. Porque esse é um
assunto que eu não sinto a menor vontade de discutir com você.

Seus olhos escuros se estreitaram um pouco no meu rosto, mas


ele não disse nada a princípio. Então ele olhou para longe, e eu tive
a sensação de que o deixei desconfortável de alguma forma.

—Eu não posso culpar você, — ele murmurou.

Desesperadamente, eu me levantei e fiz meu caminho de volta


para trás da minha mesa, dando às lindas flores um olhar demorado
enquanto me sentava. Ashley havia deixado o convite virado para
cima na minha mesa, e eu estendi a mão para pegar ele, não
querendo que Logan visse o que ele dizia.

—Eu realmente sinto muito. Eu não estou tentando ser difícil,


— eu disse a ele. —é só... você tem irmãos, Logan?

—Cinco.

—O quê?

—Eu tenho cinco irmãos.

Minha boca se escancarou. Como eu não sabia disso? —Desde


quando?

Ele revirou os olhos um pouco. —Desde, não sei, trinta e três


anos atrás, quando meu irmão nasceu, seguido mais tarde por
minhas quatro irmãs em um período de seis anos.

Eu pisquei por cerca de vinte segundos antes de poder falar, e


ele esperou em silêncio o tempo todo. Seus lábios podem até ter
ficado ligeiramente curvados se divertindo com a minha reação
chocada.

Não era atípico para mim não conhecer as histórias das famílias
ou quem os jogadores tinham na vida, porque isso raramente tinha
alguma relevância para o meu trabalho.

—Tudo bem, — eu disse devagar. —Você se dá bem com eles?

—Não com o meu irmão. — Seu tom era uniforme, mas seus
olhos eram duros. —Eu quero dar um soco na garganta dele sempre
que estamos no mesmo ambiente.
Essa era uma sensação que eu entendia bem.

—Então você entende a minha relutância a esse assunto, ou


principalmente, porque eu estou nessa posição de merda.

Ele assentiu, depois coçou a mandíbula. —De que cerimônia ela


estava falando? Eu apenas ouvi parcialmente.

—Oh, — interrompi rapidamente, —apenas esqueça que ela


disse isso. Não é nada.

—OK. — Logan se inclinou para frente e deixou cair um papel


na minha mesa. —Eu vim para deixar a coisa que você precisava
para a entrevista que eu não quero fazer.

Um sorriso relutante puxou meus lábios. —Obrigado.

Ele começou a sair do meu escritório, depois parou e olhou para


mim. —Ouça, irmãos sugam às vezes. Não conheço sua irmã e nem
conheço você tão bem. Mas se eu puder ajudar, me avise.

Meus olhos se arregalaram de surpresa. —Uhh, obrigado.

Logan assentiu e saiu do meu escritório. O ar foi sugado para


fora dos meus pulmões como se alguém tivesse ligado um vácuo na
minha boca, e eu me inclinei para frente até a minha testa encostar
na superfície da mesa.

Primeiro, eu precisava encontrar Matthew e contar a ele o que


aconteceu.

Em segundo lugar, eu precisava ter uma pequena conversa com


o pessoal da recepção sobre como irmãs aleatórias não eram
autorizadas a entrar sem aviso prévio.
O toque do meu telefone fez com que eu levantasse a cabeça,
mas meu gemido de derrota retornou quando vi que era minha mãe.
Vagamente, como névoas de neblina que eu não conseguia tocar, me
lembrei de como eu estava feliz naquela manhã. Desesperadamente,
eu queria voltar no tempo para acordar na cama de Matthew e
agarrar esse sentimento ao meu peito, agora dolorido, como se isso
fizesse tudo desaparecer.

—Oi, mãe, — eu disse ao telefone.

—Você tem um namorado? — ela começou com pressa.

Eu belisquei a ponte do meu nariz. —Eu vejo que você falou


com Ashley. A propósito, obrigada por avisar que ela me visitaria.

—Você sabe que ela gosta de chegar em grande estilo, — ela


repreendeu. —Além disso, com que frequência a sua família
surpreende você?

Aproximadamente nunca, e esse foi o primeiro motivo pelo


qual eu quis me mudar da Califórnia.

—Oh, foi uma surpresa, com certeza.

—Muito bonito, ela me disse. Alto, certo? Como vocês se


conheceram? Ah, suponho que você o conheceu através do time.

Nos últimos quinze segundos, minha mãe acabou de me fazer


mais perguntas pessoais do que nos últimos dois meses. Eu olhei
sombriamente para as flores enquanto ela tagarelava ao meu
ouvido. Conversando animadamente, mesmo. Nem uma palavra
sobre a renovação de votos. Nem uma palavra sobre Ashley, exceto
a informação que ela transmitira.
Minha garganta se apertou porque eu queria me sentir feliz
com isso. Eu queria me sentir agradavelmente sobrecarregada por
minha mãe se importar tanto com o homem da minha vida. Mas eu
não pude, porque não consegui imaginar uma única maneira de
dizer a verdade.

—Ava, — disse ela com força. —Você ainda está aí?

Eu pisquei. —Sim, me desculpe.

—Você não está me dizendo nada sobre ele.

Minha mão traçou a borda do cartão das flores, e eu fechei meus


olhos, forçando Logan e Ashley e tudo mais para fora da minha
cabeça, exceto Matthew.

—Ele é... ele é incrível, — eu disse a ela baixinho. —Gentil,


engraçado e companheiro. Estamos juntos o tempo todo fora do
trabalho, e eu não consigo nem imaginar ficar cansada dele.

Ela cantarolou, um pequeno som feliz que eu nunca ouvi da


minha mãe. Eu estava oficialmente na quinta dimensão. —E ele é um
jogador?

Eu funguei, sentindo o peso total do meu relacionamento com


Matthew em face da minha família pela primeira vez. Não foi bom.
Parecia impossível. E também parecia impossível - agora que eu
sabia como era - não ter ele em minha vida.

Algo que deveria ser divertido, bom e fácil de repente não era
nada disso. Minha firme recusa em discutir esse assunto passou da
autoproteção para uma gaiola feita por mim mesma, sem saída à
vista.
Meus olhos ardiam quentes e eu engoli as lágrimas
inesperadas.

Felizmente, minha voz saiu firme quando respondi. —Uh-huh,


ele é um jogador.

—Então ele se sai bem financeiramente.

Eu quase ri. Claro, ela listaria isso como uma característica


positiva. —Sim, ele ganha bem.

Se eu lhe dissesse que seu contrato de dois anos com


Washington valia vinte e seis milhões de dólares, para não
mencionar todos os seus endossos, ela se afastaria. Meu pai, Ashley
e Adam Hughes - o Terceiro - não chegavam nem perto de tocar o
que Matthew ganhava, mesmo que somassem seus salários.

—Eu quero conhecer ele, — disse ela.

—Não. — Estava fora da minha boca antes que eu pudesse


segurar.

—Ava Marie Baker, nunca encontramos um namorado seu, e


todos estaremos juntos para a cerimônia. Não há nenhuma razão
pela qual não possamos conhecer ele.

Eu já tinha sido emocionalmente chicoteada demais naquele


dia para, sequer, tentar filtrar o que eu dizia. Eu ri sob a minha
respiração, incapaz de acreditar que eu estava tendo essa conversa.
—Você nunca me perguntou sobre alguém que eu estivesse
namorando. Nunca. Por que você quer mesmo conhecer ele?

Felizmente, minha mãe não discutiu. Se ela tivesse, eu poderia


ter jogado meu celular contra a parede. —Porque se ele é
importante para você, então ele pode ser parte dessa família. Se ele
está te fazendo feliz, você não achou que ficaríamos curiosos sobre
ele?

Eu exalei asperamente. —Não, mãe, eu não achei que você


ficaria curiosa. Baseada no passado e tal.

Ela limpou a garganta primorosamente. —Bem, não há nada


que eu possa fazer sobre o passado. Mas se ele ainda estiver por
perto quando estivermos lá, seu pai e eu gostaríamos de conhecer
ele. Um namorado minimamente engraçado, companheiro e gentil
gostaria de ir com você para a renovação dos votos da sua irmã.
Certo?

Ter suas palavras jogadas de volta para você como armas era
superdivertido. Especialmente quando eu não podia discutir. A
frustração congelou minhas cordas vocais enquanto eu tentava me
estabilizar. A última coisa que eu faria era chorar neste telefonema
com minha mãe. Mas eu queria.

Normalmente, eu poderia estender a mão e agarrar as rédeas,


me equilibrar com facilidade. Usar uma cara alegre para qualquer
situação. Mas minhas mãos estavam escorregadias, e minhas
emoções estavam em um pingue-pongue violento, incapazes de se
ater a um único lugar onde eu pudesse prendê-las.

Essa era uma narrativa que eu não conseguia controlar e um


resultado que eu não podia prever ou influenciar de forma
nenhuma. Não enquanto eu estivesse sentada no meu escritório e
ouvindo a tagarelice feliz da minha mãe.
Foi a única razão que encontrei para explicar essa vontade de
chorar.

Eu queria chorar muito, muito mesmo, essas lágrimas


estúpidas de auto piedade, porque eu não tinha ideia do que deveria
fazer com tudo o que estava acontecendo.

Então, quando ela me perguntou se o de homem gentil e


companheiro gostaria de participar da cerimônia comigo, tudo que
eu podia fazer era responder com sinceridade.

—Certo. — Porque era verdade. Se nossa situação fosse


diferente, se nós não tivéssemos uma história antes daquele
primeiro dia em meu escritório, Matthew estaria ao meu lado em
tudo isso. Ele se recusaria a me deixar lidar com meus pais sozinha.
Eu enfiei meus lábios entre os dentes e respirei devagar. —Mãe, eu
tenho uma reunião. Eu falo com você depois.

Desconectei a ligação antes que ela pudesse dizer qualquer


outra coisa.

Todo o trabalho que eu tive para manter eu e Matthew em um


bom lugar emocionalmente - um lugar que não estava sob a sombra
da minha família - foi tudo para nada. Porque, gostando ou não, eles
arrancaram essa sombra de nós.

Uma única e teimosa lágrima escapou do meu olho antes que eu


pudesse pará-la, eu a limpei rapidamente. Como ela não tinha
escorrido muito pelo meu rosto era como se ela realmente não
tivesse existido, e como seu eu não estivesse perdendo rapidamente
o controle dessa situação.
Infelizmente, Matthew entrou no meu escritório no exato
momento em que tentei apagá-la da existência. Seu rosto passou de
sorriso feliz para preocupação óbvia em um piscar de olhos.

—O que há de errado? — ele perguntou, fechando e trancando


a porta assim que ele entrou.

Uma lágrima se tornou duas. Duas se tornaram três e, quando


ele se dirigiu à minha mesa e me tirou da cadeira, a situação não era
nada boa.

Ele me segurou em seus grandes braços enquanto eu chorava.


Ele nem sabia por que eu estava chorando, mas ele esfregou minhas
costas e beijou o topo da minha cabeça sem me pressionar. O que,
claro, me fez chorar ainda mais. Esse homem era bom demais para
mim. Ele era bom demais para ficar sobrecarregado com alguém que
não podia nem o apresentar como seu namorado. Porque eu nunca
o chamava disso.

Eu estava vendo só a diversão, a tranquilidade, e me recusando,


com uma visão teimosa, a mergulhar na merda que inevitavelmente
nos confrontava. E ele ainda estava me segurando como se pudesse
mandar tudo isso embora, mesmo que ele não soubesse o que era.

—Obrigado pelas flores, — eu disse com uma voz grossa e


sufocada pelas lágrimas.

Quando ele levantou meu queixo para cima, eu quase tive que
desviar o olhar da tristeza gravada em seu rosto. —Eu deveria ter
escolhido rosas em vez disso?

Meu sorriso estava molhado, e ele usou o polegar para limpar a


umidade das minhas bochechas.
—Você está me matando, Slim. Algo aconteceu entre a
mensagem de voz e agora, e se isso fez você chorar assim, eu meio
que quero quebrar alguma coisa se isso te ajudar a se sentir melhor.

Eu encostei minha testa contra seu peito e respirei. —Ashley


aconteceu.

Seu corpo congelou por apenas uma batida, mas depois ele
passou a mão pela minha espinha novamente. —O que ela disse?

Minha expiração foi trêmula e longa antes de eu olhar para o


rosto dele novamente. —Ela apareceu no meu escritório cerca de
vinte minutos atrás. Logo depois que eu recebi as flores.

—Ela está aqui?

Eu balancei a cabeça. —Não mais. Ela já foi. Mas Logan entrou


enquanto ela estava aqui, e então Ashley saiu, e Logan saiu, e minha
mãe ligou e disse que eu precisava levar meu namorado para a
cerimônia porque Ashley viu as flores e me ouviu deixando a
mensagem de voz...

—Hey, — ele interrompeu, se inclinando para que pudesse


manter meu olhar firme com o seu. —Respire fundo, ok?

Eu fiz. Então de novo.

—Por que as lágrimas? — ele perguntou.

Meus dedos pegaram a gola de sua camiseta branca onde um


fio estava se desfazendo. —Conversando com minha mãe, eu
apenas... foi a primeira vez em que eu realmente entendi o quão
difícil isso seria.
Matthew assentiu. Ele estudou meu rosto, que provavelmente
estava manchado com rímel e delineador. Talvez mulheres de faz-
de-conta pudessem chorar lindamente nos filmes, mas isso nunca,
jamais, acontecia na vida real.

—Soou como se ela realmente se importasse comigo, — eu


sussurrei, e seu rosto suavizou em compreensão. —Ela soava como
se importasse com esse homem na minha vida que estava me
fazendo feliz, e eu estava contando sobre você, e então eu só... tive
que desligar o telefone e chorar como uma pessoa louca porque eu
não podia pensar em uma maneira de explicar isso de uma maneira
que fizesse sentido para eles.

—Eu sinto muito, — ele murmurou.

—Somos loucos, Matthew? — Eu sussurrei, sentindo uma


pequena onda de pânico. —O que estamos fazendo? Você estava
noivo dela e estou começando a pensar que estamos loucos por
achar que podemos encontrar uma maneira de contornar essa
situação.

Seu rosto ficou determinado na velocidade de uma inspiração.


—De jeito nenhum, nem mesmo comece com isso.

As mãos nas minhas costas foram de calmas para forte,


segurando meus ombros para que eu não pudesse me afastar.

—Como não? — Eu perguntei, me sentindo positivamente


infeliz.

—Ava. — Seus olhos queimaram nos meus, e senti minhas


lágrimas lentas, meu coração acelerando com o que vi. —Eu quero
estar com você. E eu me recuso a deixar que eles atrapalhem. Me
recuso a permitir que eles tenham qualquer tipo de poder sobre esta
coisa que estamos construindo. Porque não se engane, nós estamos
construindo algo incrível, mesmo que a gente não traduza isso em
palavras.

Meu lábio vacilou com declaração dele. Tudo o que eu pude


fazer foi acenar com a cabeça, porque ele estava certo. Nós entramos
tão facilmente em nosso relacionamento, e os rótulos não tinham
nada a ver com isso. Nenhuma conversa teria mudado isso.

—Menina linda, — disse Matthew em voz baixa e suave. Ele me


puxou em seus braços novamente e falou contra o topo da minha
cabeça. —Eu gostaria de poder ir com você. Eu gostaria de poder
tornar isso mais fácil para você.

—Você está, — eu disse a ele. —Você está fazendo isso agora.

—Eu não estou fazendo nada.

—Cale a boca, — eu disse em seu peito. —Apenas me abrace,


enquanto eu finjo que não perdi a linha no trabalho.

—Combinado. — Sua voz era um murmúrio silencioso contra


os meus cabelos, mas eu senti em todos os lugares. Matthew
Hawkins tinha algum tipo de magia dentro dele, talvez em uma parte
que ele não conhecesse, que o fazia ser exatamente o que eu
precisava que ele fosse e, dizer exatamente o que eu precisava que
ele dissesse.

Eu gostaria de fazer pelo menos metade disso por ele.


—Oh merda, — eu ofeguei, me afastando e olhando para ele
com horror. —Ashley está me obrigando a me encontrar com ela.
Você planejou nosso encontro. Meu vestido vermelho.

Ele sorriu compreendendo, apesar das minhas frases gagas,


desarticuladas e gramaticalmente incorretas.

—Eu vou cancelar com ela, — eu disse com firmeza. —Ela não
me avisou que estava vindo, então ela não pode esperar que eu
largue tudo.

Matthew segurou o lado do meu rosto. —Quando ela vai


embora?

—Amanhã, eu acho. — Suspirei. —Gostaria que ela fosse antes.

Ele soltou um suspiro. —Use o vestido vermelho, a encontre


para uma bebida e depois venha me encontrar, quando terminar.

—Mas-

Minhas palavras foram cortadas quando ele gentilmente me


beijou. —Pode não parecer agora, mas vamos resolver isso. Fico
feliz que sua mãe tenha soado como se ela se importasse, porque
deveria se importar. Ela deve se preocupar com o homem que está
te fazendo feliz.

Eu sorri para ele. —Você. Você me faz feliz.

Seu sorriso era presunçoso, suas mãos possessivas enquanto


cobriam minha bunda por cima do meu vestido. —Boa.

—Uma bebida? — Eu perguntei a ele com um nariz enrugado.


—Uma bebida e você vem para mim. — Ele me beijou
novamente, lambendo levemente os meus lábios até eu os abrir para
ele. —Então eu vou fazer você esquecer tudo sobre esse dia.

Eu me aconcheguei de volta nele. —Combinado.


ENQUANTO ESPERAVA que Ava aparecesse, fiz o melhor que pude
para esquecer o que acontecera em seu escritório. Eu nunca
imaginei que Ava pudesse ficar tão quebrada por uma interação com
sua irmã e um telefonema com sua mãe.

Suas lágrimas me fizeram sentir como se alguém tivesse feito


um buraco no meu estômago e tirado todo o meu ar, me deixando
fraco e fora de controle. Aquela leve sacudida dos seus ombros
enquanto ela chorava em meus braços, porque sua mãe egoísta
tinha mostrado um pouco de interesse em sua vida, me fez sentir
uma raiva que eu estava totalmente desacostumado a sentir.

Raiva e um desejo masoquista de refletir.

Olhar em um espelho que eu não olhava há dez anos.

Eu encontrei a caixa que eu estava procurando enfiada no canto


de trás do meu closet. A maioria das minhas coisas da época da
faculdade tinha sido desempacotada. Minha camisa estava
emoldurada, e meus troféus e quadros estavam arrumados nas
prateleiras do meu escritório. Mas uma caixa eu deixei intocada por
anos. A Arrastando entre as casas, eu não estava disposto a deixar
ela com a minha mãe, mas não queria jogar ela fora também.

Apoiando minhas costas contra a parede, eu puxei a caixa entre


as minhas pernas e abri as abas de papelão. Bem no topo estava uma
foto de Ashley e eu antes de um de nossos bailes de inverno. Um dos
últimos que fomos juntos, se me lembro direito.

Olhando para nós juntos, senti quase nada. Nenhum aperto


doloroso, nenhuma rocha no meu estômago ao pensar em sua
traição. O que fiz foi fechar os olhos para tentar incluir Ava naquela
memória.

Ela sempre esteve por perto. E se eu me lembro bem, enquanto


a mãe dela tirava fotos, Ava estava olhando através do vidro da
enorme porta da frente. Ashley disse a ela para parar de se esconder
como uma aberração, e eu a repreendi por isso. Algo que eu paguei
mais tarde com seu silêncio arrogante.

O que estava claro para mim agora, era que eu não poderia
encontrar uma definição perfeita para o porquê de ter ficado com
Ashley. Ava não teve escolha. Ela nasceu naquela insensatez, mas eu
tive uma escolha. E eu escolhi errado. Escolhi errado quando
comprei uma minúscula partícula de um diamante e a coloquei no
dedo de Ashley. Eu escolhi errado dando a ela todos esses anos da
minha vida. Nenhuma das coisas poderia ser retomada agora ou ser
transformada em algo mais aceitável.

O orgulho que sentia na época por ter ela ao meu lado parecia
infantil e superficial agora.

Folheei as fotos, apenas uma pilha que havia sido unida por um
elástico, e encontrei uma que não lembrava. Deve ter sido o Dia de
Ação de Graças, e Ava e eu estávamos sentados no sofá. Ela tinha os
joelhos dobrados contra o peito e os braços ao redor das pernas, e
ela sorria para mim. Ashley estava sentada no chão, olhando para
uma revista. Eu estava sorrindo também, mas não era pra nenhuma
das irmãs.

Meu polegar roçou a imagem de uma jovem Ava. Seu cabelo era
mais claro então, seu corpo mais magro, mas seu sorriso era
exatamente o mesmo. Com muito cuidado, eu virei a foto e dobrei ao
meio, pressionando ao longo da borda com a ponta do meu polegar
até que a linha ficou nítida. Quando eu olhei de novo, era só Ava e
eu. Fechei os olhos e coloquei as fotos de volta na caixa.

Quando eu estava colocando as fotos de volta em seu lugar, meu


telefone tocou. Eu quase deixei cair na minha pressa para ver se era
Ava, mas o nome do meu irmão piscou em seu lugar.

—Ei, Mike, — eu disse, sentando em meu lugar contra a parede


novamente.

—Puta merda, ele realmente atendeu.

Eu revirei meus olhos. Meu irmão mais novo tinha tentado me


ligar uma vez no início da semana, o dia em que normalmente nos
encontramos, mas eu estava no banho com Ava.

—Eu estava ocupado, idiota.

—Uh-huh. Qual é o nome dela?

Eu esfreguei a mão cansadamente no meu rosto. Não havia


sentido em negar isso.

—Ava, — eu disse a ele. Um sorriso se espalhou pelo meu rosto


apenas por dizer seu nome, um sinal revelador de que eu estava na
merda quando se tratava daquela mulher.
—Ooh, eu pensei que teria que trabalhar mais do que isso para
obter algo bom de você. Onde você a conheceu?

Na frente dos meus olhos, apareceu a verdadeira bifurcação na


estrada. Pegue a saída do covarde e diga que a conheceu no trabalho,
ou apresente toda a verdade confusa para ele.

Suspirei, sabendo que no segundo em que eu dissesse o nome


dela, contaria a ele a verdade confusa. Ava tinha pessoas para
conversar sobre isso, Allie e sua amiga Paige, mas eu não tinha
ninguém.

—Bem, — eu comecei lentamente, batendo minha cabeça


contra a parede apenas uma vez antes de lançar minha pequena
história. —Isso é meio complicado.

Quando terminei, encerrando o que havia acontecido em seu


escritório apenas algumas horas antes, meu irmãozinho assobiou
baixinho.

—Caramba.

Eu assenti. —Eu sei.

No fundo, ouvi o farfalhar de papéis e tentei imaginar Mike


encostado na cadeira da escrivaninha. Ele era um técnico
universitário, nunca tendo entrado nos profissionais, mas não
pronto para deixar o mundo do futebol por completo. A escola da
Divisão II tinha um sólido recorde e um campeonato nacional desde
que ele assumira. De repente, eu desejei não estar tão acorrentado à
minha agenda e ter tempo de assistir ao meu irmão treinador.

—E ela é... uhh, estou tentando descobrir como dizer isso.


—Apenas diga, Mike.

Ele sugou uma respiração audível. —Ela não é nada como a


irmã dela, certo?

—Não. De jeito nenhum. — Eu balancei a cabeça e ri com o quão


diferente sua irmã Ava era. —Ela é incrível, cara. Tão inteligente.
Linda. Engraçada como o inferno. E Mike, ela te deixaria alerta se
você falasse de futebol com ela. Ela... faz minha cabeça girar um
pouco.

—E ela está em dificuldade, estando com você.

Eu não respondi imediatamente porque nós dois sabíamos que


era verdade.

—O que ela diz sobre isso? — ele perguntou.

Me movendo desconfortavelmente contra a parede, respondi


com a maior honestidade que pude. —Hoje foi realmente o primeiro
dia em que falamos sobre isso. Ela não gosta de falar sobre sua
família.

Ele cantarolou. —Acho que não posso culpar ela, mas... é algo
que vocês terão que lidar eventualmente, certo?

Eu deixei cair minha cabeça para trás com um baque. —Sim.

—Você já tentou falar com ela sobre isso? — ele perguntou


cuidadosamente.

—Mais ou menos, — eu disse.


—Mais ou menos, — Mike repetiu lentamente, depois riu
baixinho. —E você está bem com isso?

Não, pensei imediatamente.

—Eu confio em Ava, — eu disse em vez disso, ouvindo meu tom


defensivo. —Quando ela estiver pronta para falar sobre isso, ela irá.

Mike ficou em silêncio. O tipo de silêncio carregado e pesado,


mas ele não disse mais nada por um longo momento.

—Estou feliz por você, Matty. Mesmo que seja uma situação de
merda.

Ouvindo meu apelido de quando ele tinha cerca de dois anos,


revirei os olhos novamente. —Obrigado. Isso não é muito um
conselho, entretanto.

—Eu sou o irmão mais novo. Eu não sabia que era meu trabalho
dar conselhos.

—Cale a boca, — eu disse sem calor. —Por favor! Você e Beth


estão casados desde sempre. Eu tenho uma ex-noiva e uma ex-
esposa, então claramente eu preciso de alguns conselhos quando se
trata de relacionamentos. — Agora eu parecia estar do lado amargo.
Minha voz tinha uma ponta que eu não gostava, mas deixei os
relacionamentos para trás. No segundo em que terminaram, abaixei
a cabeça e voltei a trabalhar. Voltei para o que eu sabia fazer bem.

Mike suspirou. —Eu não estou em sua posição, no entanto. Sim,


sou casado, mas Beth não é Ava. Não há muito que ela não queira
discutir comigo depois de tantos anos, mas isso levou tempo, sabe?
Eu acho que se ela não quisesse descobrir como consertar algo que
estava na nossa frente, eu provavelmente me preocuparia um
pouco. — Ele limpou a garganta e correu para acrescentar, —Mas
novamente, essa é Beth. Eu não posso dizer o mesmo sobre Ava.

—Eu sei que elas são diferentes. Eu só... Eu gostaria que ela se
abrisse um pouco sobre essas coisas. Agora, parece que estou alguns
passos à frente dela. Eu só quero que ela me alcance. — Meu irmão
era a única pessoa para quem eu admitiria essas coisas. Minha mãe
teria começado a planejar um casamento e a nomear seus futuros
netos, e meu pai tentaria me convencer de que Ava estava mentindo
sobre algo e não podia ser confiável. Eu não precisava da gangorra
emocional de seus próprios problemas sendo jogado sobre o meu
relacionamento.

—Irmão, a maioria dos relacionamentos começa com um


pequeno desequilíbrio. Isso não significa que algo está errado. E eu
não acho que você deva relacionar isso com o que está acontecendo
com a família dela.

—Eu não vou.

—Você não vai? — Ele perguntou facilmente. —A família dela


não é a característica definidora do que vocês dois têm.

—Parece que é, — eu disse a ele. Mais cedo naquele dia, ela e


eu fomos forçados a ter uma conversa honesta sobre a realidade do
que estávamos lidando por causa da visita de Ashley e do
telefonema de sua mãe. —Parece que temos que nos esconder
porque lidar com eles não será fácil. Eu odeio esse sentimento.

—Por enquanto, talvez você esteja se escondendo. Mas no final


das contas, o que ela está enfrentando é a parte difícil, não o que
você está enfrentando. Mamãe e papai têm seus problemas, mas
pelo menos temos um ao outro, sabe? Não importa o que aconteça,
não importa o quanto eles brigam ou discutam ou deixem nossos
feriados ruins, por estarem discutindo sobre quem vai chegar na
manhã de Natal. Você, eu e Tim temos uns aos outros. Ela não tem
isso.

Fechei meus olhos e deixei isso entrar.

Em todos os aspectos, ele estava certo. Ava não era vaidosa e


egoísta como sua irmã. Ela não estava tentando me transformar em
algo que eu não fosse, como Lexi. E o único lugar onde ela deveria
ter uma rede de segurança - sua família - era o único lugar em que
se sentia realmente sozinha.

—Você é realmente esperto, sabe disso?

Ele bufou. —Sim. É por isso que me pagam as quantias


enormes, superestrela. Qual foi mesmo o valor do seu contrato?

—Vá se ferrar.

Enquanto ele ria, ouvi o arranhar de uma chave na fechadura e


me aproximei. —Mike, eu tenho que ir.

—Te amo, irmão.

—Eu também.

Eu joguei meu telefone na cama e saí do meu quarto a tempo de


ver Ava fechar a porta silenciosamente atrás dela, virar a trava e
depois respirar fundo.

Ela usava o vestido vermelho.


Pareciam pequenas tiras de tecido enroladas cuidadosamente
em torno de seu corpo, mantendo tudo no lugar, até que uma
daquelas tiras se arqueou em volta de seu pescoço e segurou a coisa
toda.

Um vestido band-aid? Ela chamou aquilo de algo assim.

O que quer que fosse, minha boca ficou molhada no momento


em que a vi. Ela se virou e se encostou na porta quando me ouviu.
Havia um leve rubor em suas bochechas que me dizia que ela
provavelmente tinha bebido mais de um drink, mas ela estava
sorrindo, não chorando, então eu não poderia ficar nem um pouco
chateado.

—Você está linda, — eu disse a ela baixinho.

Ela sorriu. —Você vai tirar isso de mim?

—Sim, senhora. — Eu caminhei em sua direção rapidamente,


ansioso para tocá-la, abraçá-la, beijar qualquer coisa e todas as
coisas.

—Bom, porque eu não consigo respirar direito há três horas.

Minhas mãos congelaram pouco antes de eu agarrar seus


quadris e comecei a rir. Eu beijei sua testa e a puxei para um abraço.
—Isso é ruim?

—Não, o vestido é super apertado, — ela respondeu


seriamente. Então ela desviou o olhar, quase culpada.

—Como foi? — Eu perguntei.


Ava lambeu os lábios, me encarando como se estivesse prestes
a fazer uma grande confissão. Eu me encontrei prendendo a
respiração enquanto ela falava. —Não... não foi horrível.

Demorou um segundo para o significado penetrar, mas depois


sorri um pouco. —Isso é bom, certo?

Ela deu de ombros miseravelmente. —Eu não sei. Quero dizer,


não foi divertido nem nada..., mas não foi horrível.

Tendo em mente o que meu irmão disse, eu inalei devagar. —


Fico feliz.

—Mesmo?

Eu segurei a nuca dela e usei meu polegar para inclinar seu


pequeno queixo teimoso em direção a mim. —Mesmo.

—Apenas um dia que eu tenho que atravessar.

—Apenas um dia, — eu concordei.

—Exceto que prometi encontrar ela amanhã para ajudar com


uma coisinha, então é só um dia, — ela disse rapidamente. Eu não
pude deixar de rir. Ela parecia uma criança, admitindo a culpa.

—Faça o que você precisa fazer, ok?

Ava jogou os braços em volta do meu pescoço e eu a agarrei.


Quando seus lábios tocaram os meus, senti o familiar zumbido no
meu sangue. Algo que ela fez que parecia elementar e vital. Como se
eu precisasse disso para respirar.
O que era isso se não amor? Eu pensei aturdido, enquanto
minha língua lambia a dela.

A presença disso em sua vida, com a pessoa certa, era vital. Se


você não o tivesse, seu coração não bateria direito, seu sangue não
circularia do jeito certo em suas veias, e seus ossos ficariam frágeis.

Contra sua boca, eu senti como se eu fosse explodir se não


dissesse as palavras, mas a beijei mais forte em vez disso.

Era cedo demais.

Eu poderia amá-la depois de apenas algumas semanas?

Meu coração, minha cabeça, cada parte de mim sabia a resposta


para essa pergunta quando a levantei em meus braços.

Eu a amava. E isso colocou alguma coisa no lugar, algo que me


permitiu respirar fundo pela primeira vez em trinta e cinco anos.

—Onde estamos indo? — ela perguntou, seus lábios roçando os


meus.

—Banheira.

—Oooh, ainda não tentamos isso.

E nós experimentamos o banho.

Enquanto a água corria, meus dedos grandes e desajeitados


procuraram o gancho no zíper de seu vestido para que eu pudesse
puxá-lo para baixo. Me movendo lentamente, eu revelei uma
polegada de cada vez de sua pele lisa e bronzeada.
Eu desenhei suas costelas enquanto abria o vestido. Por baixo,
ela estava completamente nua. O vestido deslizou de seu corpo
quando ela arrancou minha camisa e empurrou meu short e cueca
boxer.

Ava se curvou para testar a temperatura da água, e eu fiquei


atrás dela, deixando minhas mãos vagarem pela pele lisa de suas
costas e bumbum. Ela segurou minha mão quando ela chegou à
borda da banheira, se acomodando entre as minhas pernas quando
me juntei a ela.

Ensaboada e escorregadia com a água, Ava definhava sobre


mim, suas mãos me deixando louco e as minhas fazendo o mesmo
com ela. Ela deslizou as pontas dos dedos sobre o meu peito e eu
contei os ossos em sua espinha. Quando eu segurei seus seios em
minhas mãos, trabalhando a espuma em sua pele impecável com
meus dedos, ela finalmente se encaixou. Quando ela montou em meu
colo, uma onda de água espirrou sobre a borda, no chão de ladrilhos,
mas nós a ignoramos.

Eu grunhi meus sentimentos contra a pele de seu ombro


enquanto ela se movia sobre mim com círculos lentos e
enlouquecedores de seus quadris estreitos, quadris que eu segurava
firmemente em minhas mãos. Não importa o quanto eu tentasse
aumentar o ritmo ou silenciar meus sentimentos crescentes com
movimentos mais ásperos, mãos mais ásperas e palavras mais
ásperas, Ava continuava doce, lenta e tortuosa.

Foi um teste de minha determinação e minha vontade de


permitir que ela continuasse nesse ritmo.

Me dê mais, eu queria gritar.


Mais.

Tudo.

Me deixe consertar o que eles quebraram.

Confie em mim.

Quando ela explodiu ao meu redor, tive que morder seu


pescoço para não gritar que a amava, que eu a queria para sempre,
que ela significava isso para mim. Eu empurrei forte uma última vez,
e ela caiu feliz contra o meu peito, seu coração martelando em seu
peito com tanta força que eu podia sentir.

Ela beijou meu queixo, em seguida, encontrou meus lábios com


os dela, e assim ficamos até que a água esfriar.

Muito mais tarde, quando ela estava deitada na minha cama,


sua respiração profunda e até mesmo contra o meu peito enquanto
ela dormia, eu disse as palavras quietamente contra a seda de seu
cabelo enquanto fazia cócegas no meu queixo.

—Eu estou apaixonado por você, Ava. Mas eu não acho que você
esteja pronto para ouvir isso ainda.

Só então eu pude relaxar o suficiente para adormecer.


HONESTAMENTE, nem sei como isso aconteceu. Entre as bebidas
um e dois na noite anterior, concordei em ajudar Ashley. Pior que
concordar em ajudar, concordei em fazer compras com Ashley.

Quando fui embora da casa de Matthew, ele me deu um sorriso


solene enquanto eu passava pela porta. Significava que eu perderia
o primeiro dia de treinamento, o que era um pé no saco, mas minha
presença não era completamente necessária, então Reggie não teve
nenhum problema por eu tirar a manhã de folga.

—Eu não sei. Este tom de creme não parece combinar com as
rosas. — Ashley deu um passo para trás e olhou para a pashmina
que estava sobre o braço dela.

—O xale que você deve usar precisa combinar com as rosas? —


Eu perguntei inocentemente.

Ela colocou de volta na prateleira e me deu uma olhada. —O


tema existe por um motivo, Ava. Caso contrário, eu poderia aparecer
vestida de jeans.

Eu quase ri do horror em sua voz, mas reprimi. A última coisa


que queríamos era Ashley pensando que eu a achava engraçada. Nós
estávamos fazendo compras há duas horas, e enquanto eu ainda
revirava os olhos a cada sete segundos, me encontrei novamente na
posição, completamente confusa, de não estar sendo horrível passar
o tempo com minha irmã mais velha.
E essa confusão me fez perguntar coisas que eu normalmente
manteria presas na minha cabeça. —Eu acho que você precisa
explicar algo para mim.

Ashley parou e se virou para mim com uma sobrancelha


levantada.

Eu comecei com cautela. —Você é tão... — Minha pausa foi


inoportuna porque ela estreitou os olhos, pensando que eu estava
prestes a insultá-la. —Arrumada. Perfeitamente arrumada, o tempo
todo. Mas você faz um trabalho em que você usa roupas cirúrgicas o
dia todo.

Sua expressão relaxou, mas sua voz era cautelosa. —Existe uma
pergunta escondida aí?

—Estou apenas tentando conciliar essa dicotomia, isso é tudo.

No começo, não achei que ela me responderia. Honestamente,


eu estava apenas orgulhosa de mim mesma por não ter dito do jeito
que eu queria dizer. Você parece uma esposa de Stepford. Seu marido
provavelmente ganha trezentos mil dólares por ano sozinho, então me
explique por que você ainda trabalha mais de sessenta horas por
semana.

Eu posso imaginar o quão bem isso teria acabado. Mas eu não


entendia. Eu nunca tinha entendido essa parte da minha irmã.
Resumindo, ela não fazia o menor sentido para mim, e depois de
vinte e tantos anos imaginando o que a fazia funcionar, suponho que
tivesse perdido a capacidade de imaginar silenciosamente.

—Há alguns dias, — disse Ashley, se encostando à mesa de


lenços, sem encontrar meu olhar curioso, —tive que fazer uma
epidural. Coisas de rotina. Eu faço quase todos os dias no trabalho.
O marido vomitou nos meus sapatos quando viu a agulha. Eu limpei
o que pude porque não tinha um par extra no meu armário, mas
quando cheguei em casa, percebi que andei com o vômito daquele
homem nas minhas meias pelas dez horas restantes do meu turno.

Blech. Não era o que eu tinha perguntado, mas fiquei quieta.

—Quando estou fora do trabalho gosto de estar o mais bonita


possível, porque, qualquer outro dia, não faço ideia se vou andar
com fluidos corporais de alguém por horas a fio. — Ela olhou para
mim. —Isso ajuda?

—Um pouco, — eu respondi honestamente. —Acho que é difícil


imaginar a Dra. Baker-Hughes. Eu nunca testemunhei isso.

Eu podia imaginar Ashley fazendo muitas coisas. Tipo, sendo


uma esposa troféu.

Seu sorriso era pequeno, mas ela estava claramente se


divertindo. —Eu cresci sabendo que faria esse trabalho. Mamãe e
papai não me deram exatamente uma escolha.

A percepção de que eu nunca pensara dessa maneira fez com


que eu me deslocasse desconfortavelmente. Ela estava certa, no
entanto. Eu me lembro de conversas sobre onde Ashley faria
faculdade, onde ela faria sua residência, onde ela seria estagiária, e
em que clínica ela trabalharia, porque era o caminho que nosso pai
havia percorrido. Ela continuaria seu legado.

A parte de mim que a queria lembrar de que pelo menos, ela


tinha a atenção deles nunca iria embora, mas eu a vi de forma
diferente enquanto ela passeava pela boutique, olhando para
brincos e experimentando pulseiras que não combinavam com o
tema.

Saímos da loja e voltamos na direção do hotel. Meu cérebro


parecia um mingau, pulverizado pela ideia de que talvez todo esse
tempo e distância da minha irmã tivesse me deixado sem a
oportunidade de a compreender melhor.

Ashley e eu nos movemos para o lado, fora do caminho de um


grande grupo de turistas tirando fotos.

—E Adam concorda com o que você faz?

—O que você quer dizer?

O que eu quis dizer é que eu não sabia praticamente nada sobre


o casamento da minha irmã. Eu conheci Adam uma vez antes deles
se casarem, e eu o odiei por princípio, porque eu era firmemente do
time Matthew. Oh, a ironia.

Agora eu sentia vontade de lhe enviar uma nota de


agradecimento.

—Bem, eu sei que Adam ganha bem, mas você deve ganhar
mais do que ele, certo? — Eu olhei para ela. Seu cabelo dourado
estava brilhando, mesmo sob o céu nublado de Seattle, e nenhum
cabelo estava fora do lugar. Sua maquiagem era impecável e, em
comparação, eu ainda me sentia como uma criança brincando de se
vestir quando eu estava perto dela. —Ele está bem com isso?

Os lábios vermelhos escarlates de Ashley se curvaram em um


sorriso. —Adam entende a pressão familiar tão bem quanto eu.
Nossas respectivas carreiras poderiam ser um estudo de caso sobre
o efeito do nepotismo. Então sim, ele está bem com isso. Nós dois
trabalhamos duro e usamos os frutos desse trabalho com a nossa
casa e com a possibilidade de viajarmos para qualquer lugar do
mundo. É por isso que escolhemos não ter filhos. Nós gostamos
dessa liberdade.

Ela disse quase defensivamente. Como se ela estivesse


esperando por mim para censurá-la por não procriar, por não
aparecer com um pequeno exército de bebês de cabelos sedosos e
olhos azuis, que teriam sido tão mimados quanto seus pais haviam
sido.

Anos atrás, minha mãe me deu um discurso sobre por que


Adam e Ashley não tinham filhos. Muito ocupados, muito dedicados,
blá, blá, blá. Durante essa conversa, meu primeiro e único
pensamento foi, bem, pelo menos meus filhos não serão
negligenciados por seus avós, porque eu serei a única fornecendo
uma outra geração a eles.

Exceto por ela nunca ter perguntado se eu queria filhos. Talvez


ela não se importasse. Ou talvez meus pais estivessem aflitos com a
mesma falta de consciência de Ashley e não soubessem que suas
ações tinham consequências inesperadas que nem sempre refletiam
bem.

—E seu novo namorado? — ela perguntou maliciosamente.

Ri desajeitadamente. —O que tem ele?

—Ele apoia seu trabalhinho?

Veja! Foram dez minutos desde a última vez em que revirei os


olhos. Meu trabalhinho.
Quer dizer, eu não injetava drogas em pessoas ou administrava
uma porcaria de dinheiro como Adam, então, naturalmente, minha
carreira era algo fofo e desnecessário.

—Mm-hmm, — eu respondi entre os dentes cerrados. Somente


quando respirei profundamente e centralizei meu Chi, consegui
destravar minha mandíbula e falar palavras. —Nossas respectivas
carreiras poderiam ser um estudo de caso sobre os efeitos de
absolutamente nenhum nepotismo.

Foi a vez de Ashley revirar os olhos. Pelo menos nós estávamos


mantendo as coisas empatadas. Essa era uma das pedras angulares
do nosso relacionamento fraterno.

—Ele com certeza é bonito, — disse ela quando chegamos ao


hotel. —Eu provavelmente deixaria mensagens safadas para Adam
também se ele se parecesse com o seu namorado.

Em seu tom de provocação, dei a ela um olhar penetrante. Era


isso... espere... a minha irmã estava demonstrando um pouquinho de
inveja por algo da minha vida?

Era garantido, ela não tinha ideia de que o homem bonito era
Matthew, mas quem se importava? Eu não. Eu lambi meu lábio
inferior e senti um sorriso sonhador curvar meus lábios enquanto
pensava em Matthew naquela banheira.

—Sim. — Suspirei. —Ele é... — Eu abanei meu rosto. —Eu sou


uma menina de sorte, com certeza.

Seu corpo, molhado e brilhante quando eu o montei, era algo


que eu nunca me acostumaria. Nem em um milhão de anos. Ele era
tão grande e tão forte, ele superou todos os sentidos que eu possuía
no momento em que ele colocou as mãos em mim. Tudo o que eu
cheirava, provava, ouvia, tocava e via era Matthew.

—Entretanto, eu nunca imaginei você gostando de um cara


rude e taciturno, — ela disse, estourando a bolha imaginária da
luxúria sobre minha cabeça.

Eu cruzei meus braços e dei a ela um olhar incrédulo. —Você já


pensou sobre qual é o meu tipo de cara?

—Não pense muito sobre isso. — Ela olhou para o relógio. —


Eu preciso ir me refrescar antes de ir para o aeroporto.

—OK.

Ashley me avaliou francamente, parecendo chegar a uma


decisão antes de falar. —Obrigado por vir comigo hoje.

—De nada. — Eu exalei devagar. —Obrigado por me convidar.

O único consolo que tive, foi que ela pareceu tão insegura
quanto eu sobre toda essa coisa.

Ela me deu um abraço rápido e desajeitado, desaparecendo nas


portas giratórias.

Quando cheguei ao trabalho e sentei na minha mesa, ainda


atordoada, repassando a estranha manhã que passei com ela, decidi
que eu era oficialmente Jon Snow. Eu não sabia nada.

Em duas semanas, ela estaria de volta com seu marido, meus


pais e um punhado de amigos e colegas, e eu teria que sentar em
uma cadeira sozinha e ver eles prometerem novamente suas vidas
um para o outro. Para pessoas tão pragmáticas, era estranhamente
romântico.

Aparentemente, meus pais e minha irmã tinham feito algum


tipo de acordo. Ashley, você a amacia e a confunde, então eu vou
entrar com uma mensagem de texto ou telefonema para realmente
derrubá-la. Porque eu mal tinha lido dois e-mails quando meu
telefone tocou.

Pai: Mal posso esperar para conhecer seu novo namorado,


garota. Talvez possamos encontrar tempo para uma partida de
golfe, nós quatro.

Porque eu nunca joguei golfe em toda a minha vida, mas eu não


poderia culpar meu pai por não saber disso. E garota? Eu nunca fui
chamada de garota. Nem uma vez.

Com um gemido, eu encostei minha cabeça na mesa. Isso foi


horrível. A proteção de ferro que eu construíra em volta da minha
família - a ideia deles, do que eles pensavam de mim e de como era
nosso relacionamento - estava desmoronando como se fosse feita de
algodão doce. Doce grudento, mas irresistível de olhar e brincar,
depois devorar.

Eu senti vontade de engolir essa mensagem de texto. Olhar para


ele até me sentir doente pelo excesso. A ideia de que eles tinham um
pouco de interesse em minha vida depois de todo esse tempo. E no
momento em que eu apareceria com Matthew? Bem, eu
praticamente podia ouvir as vigas de aço voltarem ao lugar.

—Ava?
Minha cabeça se levantou ao som da voz de Logan. Claro, ele iria
aparecer de novo quando eu estivesse no meio do colapso. Pelo
menos eu não estava chorando.

—Tudo bem? — Eu disfarcei meu rosto, mas a curva de suas


sobrancelhas me disse que eu não estava enganando ninguém.

—O que aconteceu agora? — ele perguntou.

—Agora?

Ele olhou para o corredor antes de entrar no meu escritório. —


Eu só queria ter certeza de que você não estava inconsciente ou algo
assim.

—Hã?

O olhar que ele me deu foi apenas um pouco paternal. —Você


estava com a cabeça encostada na mesa.

Eu olhei para a mesa e pisquei. —Oh, certo.

—Você está bem? — Ele perguntou como se eu estivesse lenta.

Talvez eu estivesse. Eu estava no meio de reavaliar tudo o que


eu pensava ser verdade.

Eu balancei a cabeça distraidamente. —Apenas... ainda lidando


com algumas dessas porcarias de família que você viu ontem.

—Ahh

—Sim. Meus pais estão perdendo a cabeça por quererem


conhecer você. — Pisquei meus olhos com força. —Quero dizer, o
cara que estou vendo não é você, mas eles pensam ser você.
Ele limpou a garganta e eu olhei para ele. Seu rosto era tão
difícil de ler. Sempre foi, e isso enlouquecia os entrevistadores. É por
isso que eu quase engasguei com o que ele disse em seguida.

—Eu posso ir a essa festa com você. — Ele segurou meus olhos.
—Se isso te ajudar.

Pisque.

Pisque, pisque.

—Logan, — eu disse devagar.

Mas ele levantou a mão. —Eu sei que você está namorando
alguém. Eu não estou... não estou confuso sobre o que é isso. Mas eu
vou te ajudar se você quiser.

Meu estômago se revoltou com o pensamento. Minhas mãos


estavam úmidas, e eu não pude deixar de olhar para o meu telefone,
aquela pequena e inócua mensagem causando estragos absolutos na
minha cabeça e no meu coração.

—Só uma noite que eu tenho que passar, — eu sussurrei.

—Exatamente.

Eu pisquei para ele, surpresa por ele achar que eu estava


falando com ele.

Logan suspirou, passando a mão pelo cabelo escuro. —Eu sei


que não facilitei seu trabalho. Considere esta minha oferta de paz.
— Quando não respondi, ele suspirou profundamente e desviou o
olhar. —Ou algo assim. Tanto faz. Você não precisa pensar dessa
maneira se não quiser.
Com isso, eu ri. —Oh, se você acha que vir comigo para uma
festa te absolve de anos de tortura, você é demente.

Ele balançou a cabeça, mas não fez mais que sorrir. Seus olhos,
porém, eram um pouco mais suaves; algo que eu nunca, nunca vi
nele antes. —É um começo.

Enquanto eu pensava na loucura absoluta que isso seria, Logan


viu o convite no chão do meu escritório. Ele se inclinou e pegou.

—É isso? — ele perguntou.

Eu assenti.

Antes que eu soubesse o que ele estava fazendo, ele puxou o


celular e tirou uma foto.

—Por que você fez isso?

Uma sobrancelha se arqueou. —Agora eu sei onde e quando é


essa coisa.

O pânico me deixou com o coração acelerado. Meu estômago se


agitou e se contraiu. Esta era uma má ideia.

—Parece que você vai vomitar, — ele observou secamente.

—Eu sinto como se fosse vomitar. Eu sinto que esta é uma


situação sem vitória. Eu nunca... — Eu não podia acreditar que
estava admitindo isso para Logan. Puta merda. —Eles nunca se
importaram tanto com qualquer coisa que eu fizesse. Mas levar
você, não sei se é uma boa ideia.
Seus olhos brevemente procuraram meu rosto. —Sua irmã
ficará com ciúmes?

Ela provavelmente ficaria. Eu tinha certeza de que Logan


ganharia uma maldita nota dez vestindo smoking, mas isso era
irrelevante.

Eu enfiei minha cabeça nas mãos. —Não, tudo bem. De jeito


nenhum eu faria você passar por isso. Minha família vai superar.

O rosto de Matthew brilhou na minha cabeça, o flash de seu


sorriso, o jeito que seu rosto enrugava quando ele estava feliz, o
olhar em seus olhos antes de ele me beijar, e eu tive que cerrar meus
dentes contra uma onda quente de lágrimas subindo pela minha
garganta.

Eu nunca seria capaz de explicar isso para ele de uma maneira


que fizesse sentido. Nunca.

Não se eu levasse o Logan.

Não se eu estivesse fazendo isso porque eu ansiava por essa


estranha nova atenção da minha família.

Ele não entenderia nada disso, e eu não poderia culpá-lo.

—Parece que você não tem certeza.

Porque eu não tenho, pensei instantaneamente.

De alguma forma, isso parecia um problema maior do que


qualquer outra coisa.
—Apenas... exclua a foto do seu celular, Logan. — Eu exalei
trêmula, olhando para ele, mesmo sabendo que havia lágrimas nos
meus olhos. —Eles vão superar isso. E eu também.

Ele abriu a boca como se quisesse dizer alguma coisa, mas


depois fechou de novo, finalmente me dando um lento aceno de
cabeça. Nada no rosto dele fez parecer que ele acreditava em mim.

Eu também não acreditei em mim.


—MATTHEW! Matthew, aqui! Você pode segurar meu bebê para
eu tirar uma foto?

As vozes eram altas e abundantes. O terceiro dia do


treinamento estava terminando, e a maioria dos jogadores estava se
aproximando dos limites do campo para assinar cartazes, chapéus,
placas e bolas de futebol, fazendo selfies com os fãs e conversando
uns com os outros.

A corrente de energia era contagiante, e com um grande


sorriso, eu peguei a bebê de alguém nas minhas mãos estendidas e
posei para uma foto com a menininha embalada contra o meu peito.

Eu a virei, seu sorriso torto e grandes olhos azuis eram


irresistíveis, e ela usava uma camisa dos Wolves, incrivelmente
pequena, com o meu número nela. —Você vai partir corações algum
dia, — eu disse a ela, a entregando de volta para sua mãe.

Do meu lado, Logan rabiscou sua assinatura em um boné de


criança, e ele estava sorrindo mais do que o habitual. Outros
jogadores da defesa, até mesmo alguns ex-jogadores dos Wolves,
fotografavam e conversavam com a equipe técnica.

—Bom treino hoje, — eu disse a Logan, olhando para ele para


ver como ele responderia.
—Foi mesmo. — Ele acenou para o menininho, agora
abraçando seu boné assinado como se fosse um tesouro. —Você fez
bem.

Minhas sobrancelhas levantaram em surpresa. —Obrigado.

Assim que terminamos com os fãs, nós nos voltamos para o


campo novamente, em direção ao vestiário.

—Suas costas estão incomodando?

—Estão ótimas, — respondi honestamente. —Desapontado?

Ele quase sorriu. —Não, eu prefiro ter nossos jogadores


saudáveis.

Ficamos calados quando entramos no prédio.

Eu limpei minha garganta antes de falar. —Você está de bom


humor.

—Parece que sim, — ele disse em uma voz seca.

—O treinamento tem esse efeito.

Logan cantarolou, e só então foi sua vez de olhar de lado para


mim. —Você é casado, Hawkins?

Meu sorriso foi irônico. —Ah não. Eu era, mas isso foi há anos
atrás.

Ele assentiu.

Com certeza, a conversa mais bizarra com um cara que eu


sentia como se não fosse conhecer direito mesmo que minha vida
dependesse disso. Não que você sempre fosse próximo dos colegas
de equipe. Todos os anos, o vestiário tinha uma vibração diferente.
Às vezes, você tinha colegas de equipe que sabiam tudo sobre a sua
vida - sabiam o nome de seus filhos, sabiam quando era seu
aniversário - e, em alguns anos, era apenas conversa fiada. Nada
muito pessoal e nenhuma amizade próxima. Nós trabalhamos em
uma indústria onde os rostos mudavam ano após ano; esse era um
dos dados com os quais lidávamos.

A diferença para mim era que eu só tinha sido o cara novo no


meu ano de estreia. E agora.

—E você? — Eu perguntei mesmo sabendo que ele não era


casado.

Ele balançou a cabeça.

—Os caras casados geralmente dão bons conselhos, — ele disse


enigmaticamente.

Entramos no vestiário silencioso. Todo mundo ainda estava


fora treinando.

Tirei minha camisa de treino e a joguei no chão ao lado do


banco vermelho. A dele estava um pouco mais pra baixo que a
minha, então dei a ele um rápido olhar antes de me sentar e apoiar
meus cotovelos nos meus joelhos.

—Eu sei que você é o capitão e eu sou o novato, — eu brinquei,


—mas se você, eu não sei, quiser tirar algum peso do seu peito, não
há ninguém por perto para julgar.

—Além de você?
Eu ri porque eu poderia dizer pelo seu tom seco que ele estava
brincando. —Sim, além de mim.

Ele puxou a fita do cotovelo e amassou. —Muitos caras já


pediram seu conselho antes?

Eu pensei sobre o time que eu tinha deixado, os rostos dos caras


com quem agora eu só interagia casualmente nas mídias sociais e
com mensagens de texto ocasionais. Os caras que eu conhecia desde
que eram novatos eram agora os veteranos que eu deixei para trás,
para dar este novo passo na minha carreira. —Sim, pediram.

Seus olhos se estreitaram em seu armário antes de se virar para


mim. —Eu não falo sobre essa merda com meus colegas, só para
você saber.

Eu levantei minhas mãos. —Eu não vou dizer uma palavra para
ninguém.

Logan soltou um suspiro pesado. —Há... alguém que eu gostaria


de conhecer melhor. Eu gosto dela mesmo que não consiga
descobrir o porquê.

Eu sorri, descendo para desamarrar minhas chuteiras. —


Parece um começo sólido para qualquer relacionamento.

Ele revirou os olhos.

—Ela está interessada também? — Era estúpido perguntar pra


esse cara grande, com trinta e poucos anos, ela também gosta de
você?
Logan se mexeu desconfortavelmente, coçando a lateral do
rosto antes de responder. —Bem, parece que... ela está namorando
outra pessoa. Não sei o quão sério é, no entanto.

—Ahh

—Sim.

Eu bati meus dedos na lateral da minha perna enquanto


considerava minhas próximas palavras com cuidado. —E ela disse
que estava namorando alguém?

Ele assentiu.

—Você a convidou para sair?

—Não exatamente, — ele disse. —Parece estranho falar sobre


isso. Deixa pra lá.

Dei de ombros. Logan empurrou o banco e andou ao redor do


grande sofá preto em forma de L no meio da enorme sala.

Eu coloquei minhas travas no fundo do meu armário e balancei


a cabeça. Ele provavelmente iria chutar a minha bunda por dizer
alguma coisa, mas eu não conseguia ficar de boca fechada também.

—Olha, Ward, eu só vou dizer uma coisa, e então eu vou calar a


boca.

Ele suspirou, mas não discutiu. —O quê?

—Eu já superei isso agora, mas eu fui o cara que foi traído, e é
uma droga, mas se você quer conhecer ela melhor, pelo menos a
respeite o suficiente para ser honesto com ela. Talvez o
relacionamento não seja sério. Talvez ela só tenha ido a um
encontro, mas você não saberá a menos que você pergunte.

Assim que eu disse as palavras, ouvi minha própria hipocrisia


nelas. Ava não tinha ideia do quão fortes eram meus sentimentos
por ela. Claro, era um risco dizer a ela que eu estava me
apaixonando, mas se eu confiava nela, realmente confiava nela com
meus sentimentos, então eu devia ser honesto com ela.

Arrisquei um rápido olhar para ele, ele estava com as mãos


apoiadas em seus quadris, e estava me encarando com os olhos e
mandíbula apertados para combinar com sua postura defensiva.

—Aproveite a chance se você tiver uma, — disse ele. —Isso é o


que você está dizendo?

Inclinei a cabeça para o lado. Não era exatamente o que eu quis


dizer, mas claramente, era o que ele queria ouvir.

—Eu- eu nunca seria o outro cara, — ele esclareceu no meu


silêncio. —Eu nunca seria o amante dela. Ou de qualquer pessoa.

Eu segurei minhas mãos novamente. —Não acho que você


seria, cara.

A porta do vestiário se abriu e Logan ergueu o queixo,


provavelmente a coisa mais próxima de um agradecimento que eu
receberia. E estava tudo bem pra mim. Voltando para o meu armário
enquanto a sala se enchia de conversa e gargalhadas grandes e
crescentes, eu deixei escapar uma respiração profunda e aliviada.
Com o início do campo de treinamento e com aquela conversa
estranha, eu me sentia mais em casa neste vestiário do que nunca.
Meu telefone tocou na prateleira de cima do meu cubículo, e eu
peguei, sorrindo quando vi o apelido de Ava.

Slim: Você já tomou banho?

Eu: Não.

Slim: Bom. Quero o meu homem sujo para eu poder limpá-


lo.

Eu mantive minha expressão uniforme, mas era quase


impossível controlar o resto do meu corpo. Respirando
profundamente, eu fechei meus olhos e recitei o Juramento à
Bandeira na minha cabeça.

Eu: Você é uma mulher muito cruel, fazendo isso comigo


enquanto eu estou em uma sala cheia de caras seminus.

Sua resposta imediata foi um emoji piscando, seguido pelo


emoji do chuveiro.

Eu: Te encontro na minha casa em uma hora?

Slim: Eu mencionei que estou prestes a entrar no seu


chuveiro agora? Eu odiaria começar sem você...

Então aquela mulher diabólica me enviou uma foto da curva em


que seu ombro e pescoço nus se encontram e apenas um vislumbre
dos seus cabelos castanhos.

Eu: Estarei aí em 20 minutos.

Eu cheguei lá em quinze.
A visita SURPRESA DE ASHLEY uma semana antes, tinha
introduzido algo que eu comecei a pensar como status de
relacionamento AVA e status de relacionamento DVA.

No status de relacionamento Antes da Visita de Ashley,


Matthew e eu vivíamos em uma bolha feliz, negando a existência da
minha família. Se não falássemos sobre eles, não teríamos que lidar
com isso.

O status Depois da Visita de Ashley era um pouco mais obscuro.


Provavelmente porque minha cabeça estava um pouco mais
sombria.

Eu não estava obscura a respeito de Matthew.

Mas eu não podia mais negar o problema no horizonte. Se


falássemos da minha família ou do seu relacionamento com Ashley,
teríamos que lidar com eles em algum momento. Claro, eu poderia
passar por isso um dia. A renovação dos votos de Ashley era em
apenas uma semana, e como eu tinha conseguido aniquilar a oferta
de ajuda de Logan, eu poderia passar por isso com uma consciência
relativamente tranquila.

Digo relativamente, porque havia a pequena possibilidade de


eu não contar a Matthew que Logan estivera, mesmo que
tangencialmente, envolvido.
Não havia motivo para preocupar ele, me disse pela milésima
vez. Não aconteceu nada; foram dois pequenos momentos em que
ele apareceu. Sua presença não havia sido planejada. Portanto, não
havia razão para fazer disso mais do que realmente era.

—Você quer continuar assistindo a isso? — Ele perguntou, o


peito retumbando embaixo da minha cabeça enquanto nos
aconchegávamos no sofá.

A tela plana gigante instalada na parede não tinha prendido


minha atenção nem um pouco, mas eu acariciei sua barriga. —O que
você quiser está bom pra mim.

Fechei meus olhos e me aconcheguei mais perto dele, meu


braço brincando com a bainha de sua camiseta, acima do cós de sua
calça de moletom. Mmm... Ela era cinza escuro e pendia super bem
em seus quadris estreitos. Ele mostrou coisas quando ele andou.
Coisas boas.

Antes que eu pudesse seguir essa trilha para outra rodada de


momentos sensuais - Senhor, nós éramos insaciáveis - eu respirei
fundo e apenas aproveitei a sensação de um domingo preguiçoso
com o meu namorado. Muito em breve, a pré-temporada começaria,
e suas semanas passariam por uma transformação completa.

Todos os dias da semana - até mesmo as terças-feiras, o dia de


folga oficial - seriam passados treinando, condicionando, revendo
filmes, restaurando o equilíbrio de seu corpo que seria destruído no
campo todos os domingos. Dias como estes seriam quase
impossíveis até chegarmos a nossa semana de folga, e isso não
aconteceria até a sexta semana da temporada.
—Você sabe o que é estranho? — ele perguntou.

—Hmm?

Matthew beijou o topo da minha cabeça. —Vou sentir falta


disso quando a temporada começar.

Eu não pude deixar de rir, mas belisquei seu corpo com força.
—E isso é estranho?

Ele pegou minha mão e a levou até a boca para que ele pudesse
morder meus dedos. —Não, é louco, é estranho que eu tenha algo na
vida que faça eu me sentir desse jeito.

Meu corpo se deslocou para o lado para que eu pudesse apoiar


meu queixo em seu peito e olhar para o rosto dele. —O que você
quer dizer?

Ele olhou duro para o meu rosto por alguns segundos. —


Porque eu nunca senti falta de nada, exceto do futebol quando não
estou jogando.

Bem, puta merda. Para algumas mulheres, elas achariam que


isso soaria insano. Para mim? Ele poderia muito bem ter proposto
casamento.

—Sério? — Eu sussurrei. —Matthew...

Seu sorriso era preguiçoso e sexy, e eu queria beijar seu rosto


bonito. —Sério.

—Nunca?
Não era como se eu estivesse esperando elogios, mas quando o
cara já tinha sido casado antes, e ele estava me dizendo que essa era
a primeira vez que ele se sentia assim, isso fazia uma garota pensar,
ok? Então sim, eu estava totalmente esperando elogios.

Ele balançou a cabeça, passando os dedos pelo meu cabelo até


que ele segurou a parte de trás da minha cabeça. —Nunca. E isso não
significa que eu esteja pronto para me aposentar. — Ele riu
baixinho. —Me aposentar de novo, eu suponho. Eu ainda amo jogar.
Eu ainda posso competir, e ainda posso ser uma contribuição valiosa
para a equipe, e isso sempre veio em primeiro lugar. E agora eu
estou deitado aqui, pensando em como posso mudar minha agenda
para que eu possa ter tempo para deitar no sofá e assistir a reprises
com minha linda garota.

Minha garganta estava cheia de emoção e me inclinei para


beijá-lo suavemente. Sob minha mão, senti seu coração pulsar com
firmeza.

Se alguém me dissesse que o músculo abaixo da pele - aquele


que bateu com precisão e consistência, que mantinha seu lindo e
forte corpo funcionando - seria capaz de abastecer uma cidade
inteira, eu teria acreditado.

Quando eu me afastei, seu rosto estava afiado e intenso, seus


olhos estavam focados nos meus olhos.

—Ava, — disse ele, —sei que não rotulamos nada,


principalmente porque tudo parece tão...

—Espontâneo, — eu disse.
Ele assentiu. —Sim. Mas quero poder dizer que você é minha.
Eu não quero que as coisas pareçam tão fáceis que eu pare de fazer
algum esforço por você todos os dias. Eu quero poder dizer que
tenho uma namorada, uma parceira que consegue as melhores
partes de mim porque eu tenho as melhores partes dela. Que nos
comprometemos com algo juntos.

Eu sorri um pouco, apenas segurando o sorriso para que eu não


parecesse um idiota. —Eu gosto disso.

Ele sorriu um pouco também. —Você gosta?

Lentamente, eu assenti. Com a ajuda de suas mãos, eu me


arrastei para cima em seu peito para que ele pudesse envolver seus
braços em volta de mim e eu pudesse enterrar minha cabeça na
curva de seu pescoço. Foi um momento perfeito.

Tudo estava feliz e brilhante, era bom.

Eu absolutamente me recusei a deixar qualquer coisa arruinar


o momento. Não há perguntas, preocupações ou conversas que
precisássemos ter.

Foi quando meu telefone tocou.

Eu gemi e Matthew riu, dando um beijo na minha testa. —Tudo


bem se você precisar atender.

—Quem ligaria durante grandes declarações de


relacionamento? — eu resmunguei, tentando me sentar
graciosamente.

Minha mãe. Ela faria isso.


Era impossível esconder a tela e, por um segundo, Matthew e
eu ficamos lá, olhando para o nome dela no visor.

—Eu não preciso atender, — eu disse. —Provavelmente não é


importante.

Mas pela primeira vez, senti uma ligeira pontada de culpa em


deixar a ligação ir para o correio de voz. Como se ele sentisse isso,
Matthew esfregou a mão nas minhas costas.

—Eles ainda estão te incomodando sobre o próximo fim de


semana?

Enquanto eu colocava o telefone de volta, eu mordi meu lábio


inferior. —O oposto, na verdade.

—O que você quer dizer?

—Ontem, ela me ligou enquanto eu estava dirigindo do


trabalho para casa. Depois que ela terminou de me atualizar sobre
algo para o próximo fim de semana, ela me perguntou uma coisa...
inesperadamente. E por cerca de cinco ou seis minutos,
conversamos sobre coisas que nem sequer eram remotamente
relacionadas a Ashley.

Matthew ficou quieto. Me observando falar, ele permitiu que eu


divagasse sobre essa confusão nebulosa na minha cabeça que era a
minha família. Mas sua testa tinha uma leve ruga, apenas uma linha
de preocupação gravada em sua pele.

—O que foi? — Eu perguntei.

—Nada, Slim. — Ele beijou meus lábios. —Apenas escutando.


Fico feliz em ouvir você falar sobre isso.
—Mentiroso.

Sua boca se levantou de um lado em um sorriso irônico. —Eu


juro, não sou. Eu não posso imaginar como é para você ver esse lado
diferente deles. É difícil o suficiente para mim, e eu só os conheci por
alguns anos.

—É diferente? Ou eu simplesmente não percebi isso? — Eu


finalmente expressei meu maior medo. Eu tinha passado anos
lutando com minha família e os pintando como os vilões em minha
vida, quando talvez eu fosse a única a criar espaço entre nós,
jogando minha guarda tão alto que eles nem teriam a chance de
continuar me machucando.

—Slim, eu estava lá, lembra? Eles não ligavam para nada além
deles mesmos e de moldar Ashley exatamente como eles queriam.

—Eu sei. — Suspirei. —Mas eu não deveria aceitar que as


pessoas podem mudar? Que talvez eles estejam tentando
compensar isso?

Matthew virou seu corpo, espelhando o meu, para criar uma


parede em forma de homem entre mim e o resto do quarto, o resto
do mundo. Ele apoiou a sua cabeça na mão e olhou para mim.

—Sim, as pessoas podem mudar, mas também acho que elas


têm que querer. Temos que olhar para os nossos relacionamentos e
saber que o que eles nos mostram é a pessoa real. Dia após dia, como
eles tratam você, como eles falam com você e o que eles esperam de
você, eles estão mostrando quem eles são. E você deveria acreditar
neles. Quando você tenta fazer alguém diferente do que eles
realmente são, é quando você fica desapontada.
As palavras podem não ter soado amargas. Seu rosto podia não
ter parecido amargo, seus olhos não eram duros ou frios e sua boca
não estava em uma linha dura. Mas meu coração doía porque,
embora ele pudesse agir como se ele não carregasse quaisquer
feridas de seus relacionamentos anteriores, eu senti hematomas
naquelas palavras.

Eu tracei seus lábios, senti a pegada de sua barba contra a ponta


do meu polegar enquanto tentava decidir se estava sendo ingênua
sobre meus pais e Ashley. Se eu estava projetando alguma fantasia
familiar em suas ações.

—Posso te perguntar uma coisa? — Eu disse baixinho.

Ele assentiu e beijou a ponta do meu dedo.

—Foi isso que você fez com Lexi?

Eu sabia que não deveria perguntar sobre Ashley. Minha visão


desse relacionamento pode não ter sido da primeira fila, apenas
vislumbres quando eles estavam em nossa casa, mas eu sabia que
Ashley tinha mostrado quem ela era, mesmo que ele não tivesse
visto.

Matthew engoliu em seco e exalou através dos lábios franzidos.

—Você realmente quer falar sobre minha ex-mulher?

—Não. — Eu sorri. —Mas, sim.

Seu sorriso de resposta espelhou o meu. —Um pouco, sim. E ela


fez o mesmo comigo. Nenhum de nós mentiu sobre quem nós
éramos, mas... Acho que nós dois assumimos que poderíamos
dobrar a outra pessoa ao molde que queríamos que fosse.
Eu assenti. —Em que molde você a queria?

Enquanto ele ponderava, eu questionei minha sanidade por um


momento. Ele foi casado por cinco anos e eu só estava com ele há
algumas semanas. Por que eu estava fazendo essas perguntas? Para
me torturar pensando na loira explosiva a quem ele se ligara
legalmente? A relação que tive na faculdade não foi tão séria e,
depois, uma seca de seis anos criada por mim mesma. Eu estava
fazendo um excelente trabalho de o lembrar de que eu ainda - para
todas as intenções e propósitos - não tinha nenhuma pista sobre
como estar em um relacionamento saudável.

—Eu pensei que ela iria se acalmar um pouco. Ela era uma
menina doce. Ela não estava atrás de mim pelo meu dinheiro,
porque ela se dava bem sozinha, mas ela achava que eu me juntaria
a ela no estilo de vida de festas, e achei que a acalmaria por sermos
felizes sendo apenas nós dois. Casar com ela ou com alguém como
ela parecia a coisa que eu deveria fazer naquela época. — Ele
balançou a cabeça. —E eu ignorei os sinais de que não estava certo
porque meu orgulho era grande demais. Eu ainda sentia que tinha
algo para provar ao mundo.

Enquanto ele falava, eu não sabia exatamente o que dizer, então


apenas mantive minhas mãos se movendo em círculos lentos e
calmantes em suas costas. Quando eu vi o nome da minha mãe no
meu celular, eu definitivamente não achei que isso nos levaria até
aqui.

Matthew suspirou pesadamente e fiquei maravilhada com a


habilidade dele de explicar tudo isso para mim. —Não houve um
grande mal nesse relacionamento, — continuou ele. —Apenas duas
pessoas que não eram compatíveis. Não fomos honestos um com o
outro, ou conosco.

Eu pisquei algumas vezes enquanto processava isso, e ele


segurou meu queixo.

—O que está acontecendo nesse seu cérebro? — ele perguntou.

Minha garganta ficou presa e tive que lutar contra aquela


sensação de desconforto que encobria meu corpo sempre que
minha família aparecia. Como se alguém pegasse um parafuso e
torcesse meus ossos em um tamanho, amarrando um espartilho
sobre minhas costelas, eu queria manter as palavras dentro, onde eu
não teria ninguém para julgar meus sentimentos ou meus
pensamentos, mesmo que racionalmente, eu soubesse que Matthew
não faria isso comigo.

—Honestamente, eu só queria que a semana que vem tivesse


acabado. Eu sinto que teria mais clareza sobre eles. Sobre como
seguir em frente, ou se apenas continua tudo igual, sabe?

Matthew passou os braços em volta de mim e eu enfiei minhas


pernas nas dele.

—Slim, se depois da próxima semana eles agirem da mesma


forma como sempre fizeram, eles é que perdem. Você sabe disso,
certo?

—Inferno, sim, eu sei disso. Eu sou incrível.

Todo o seu corpo tremeu de tanto rir, e isso me acalmou. Essa


era a única coisa na minha vida que ficou clara. Isso estava certo.
Eu o abracei com força, às vezes sentindo medo de que
chegasse a um ponto em que, genuinamente, fisicamente, não
pudesse permitir que ele se afastasse de mim. Matthew Hawkins -
meu tipo pessoal de crack, senhoras e senhores.

Quando eu inalei seu cheiro de limpeza e sabonete, eu queria


prender ele em meus pulmões para que eu pudesse sentir o cheiro
muito tempo depois que ele estivesse de volta ao trabalho. Não, eu
não estava necessariamente ansiosa para sentir falta disso quando
a temporada começasse, mas sabendo que ele sentia o mesmo,
sabendo que ele estava tão tranquilo sobre nós como eu estava,
facilitou fechar meus olhos, pressionar meus lábios contra os dele
procurando, pesquisando e esquecendo qualquer outra coisa
apenas um pouquinho.
—UAU, ELE É TÃO ALTO.

O silêncio reverente na voz da menina me fez sorrir. Eu me


agachei ao lado dela. Seus cabelos ruivos estavam trançados
precisamente, descendo de ambos os lados de sua cabeça e
amarrados nas pontas com fitas pretas. Sua camisa dos Wolves
estava recém passada, e as leggings pretas que ela usava eram
brilhantes e surpreendentes.

—Ele tem 1,95m, — eu sussurrei para ela. Matthew estava


alinhado com a defesa, vestindo a camisa de treino preta que tinha
sido escolhida para ele naquele dia de treinamento. Em frente a ele,
os jogadores ofensivos vestiam camisas vermelhas.

—Isso é tipo... 1 metro mais alto que eu. — Seus olhos


castanhos eram como pires em seu lindo rosto sardento. De pé atrás
de nós, sua mãe sorriu sentindo a emoção na voz de sua filha.

Todos os dias no campo de treinamento, algumas crianças


podiam conhecer seus jogadores favoritos. Às vezes era através de
instituições de caridade como Make A Wish ou St. Jude, mas hoje, a
pequena Charlotte estava do meu lado porque ganhou uma
competição através da fundação de Matthew, que dava aos jovens
de baixa renda e em risco, a oportunidade de se envolverem em
atividades extracurriculares como música, artes e esportes que seus
pais não poderiam pagar.
Charlotte, a empreendedora, ganhou o dobro do concorrente
mais próximo com o estande da Gatorade que montou do lado de
fora das portas de uma academia local. Sua recompensa foi conhecer
e cumprimentar Matthew e alguns dos outros jogadores no campo
de treinamento. Eu me levantei, mas mantive minha mão em seu
ombro enquanto os assistíamos arrumando a próxima jogada.

O técnico Klein apitou e os jogadores se alinharam. Os


coordenadores gritaram ordens e coisas que eles queriam ver
melhoradas nesta série. Os fãs se acalmaram, como haviam sido
treinados para fazer.

Luke Pierson ficou atrás de seu jogador de centro, olhou para a


esquerda e para a direita, depois soltou alguns jargões, o que
colocou o ‘running back’ em movimento atrás dele. Matthew
visivelmente cravou suas chuteiras, deslocando seu corpo apenas
ligeiramente para a direita. Eu estreitei meus olhos, fascinada por
poder vê-lo jogar descaradamente, tão de perto. Por baixo do
capacete, eu não conseguia ver seus olhos, apenas a linha preta de
tinta cobrindo as maçãs do rosto e a inclinação determinada em sua
cabeça.

—Preparar, começar a jogada, — gritou Luke, e Gomez passou


para ele a bola, soltando seu enorme peso para deter a onda da linha
defensiva. Luke esticou a mão, fingindo uma transferência para o
corredor, que enfiava os braços como se estivesse embalando a bola
e disparou para a esquerda. Os dois jogadores defensivos
acreditaram, mas não Matthew.

Ele girou em torno do ‘left tackle’ bem a tempo de alcançar um


braço enorme e suado, derrubar a bola das mãos de Luke e retirá-la
da grama quando Luke não a recuperou. Matthew correu com a bola
agarrada ao seu lado, um rugido de vitória ecoando no ar enquanto
os fãs aplaudiam. Luke estava olhando para ele com as mãos
apoiadas nos quadris, o capacete balançando para frente e para trás,
mas eu pude ver um sorriso no rosto dele.

Como se ele pudesse estar realmente bravo.

O que Matthew acabara de fazer era justamente o motivo


porque o Washington arrecadou milhões, aumentou nosso teto
salarial e apostou em um jogador que já havia anunciado sua
aposentadoria. Porque ele era o melhor.

Observar ele correr, girar e atacar - todas as coisas que ele


aperfeiçoou seu corpo para poder fazer - foi incrível. Mesmo que eu
nunca tivesse beijado ele, eu tinha certeza de que estaria meio
apaixonada apenas o observando jogar.

Para minha sorte, eu consegui beijá-lo, então não era motivo de


discussão. Ser paga para vê-lo jogar era apenas um super bônus na
minha vida.

Isso era o que eu tinha que lembrar no grande esquema das


coisas. O drama que me aguardava em apenas três dias era um
pontinho. Uma anomalia. Aberração. Seja qual for a palavra que meu
pequeno dicionário de sinônimos pudesse criar.

Os jogadores defensivos correram para Matthew na zona final,


batendo em seu capacete, batendo em sua bunda e gritando com
desagrado quando ele chutou a bola. Até mesmo Logan se
aproximou e bateu os nós dos dedos contra os de Matthew, o que me
fez sorrir como uma boba.

Veja! Ele está fazendo amigos! Eu queria gritar.


—É agora que eu vou conhecer ele? — Charlotte perguntou,
puxando a bainha do meu blazer de linho branco. O relógio no meu
pulso dizia que o treino estava acabando, o que significava tempo
para o encontro e cumprimentos, depois dar autógrafos para os fãs,
mas os treinadores ainda estavam com os jogadores, analisando o
que tinha acabado de acontecer no campo.

—Vamos dar a eles mais cinco minutos, ok?

Ela assentiu, pulando na ponta dos pés. Sua mãe riu e recuei
para poder conversar com ela. —Ela está tão animada com isso. Eu
mal consegui fazer com que ela fosse para a cama na noite passada.

—É uma das minhas partes favoritas do meu trabalho, —


confessei. —Os olhares em seus rostos quando eles conhecem a
pessoa que eles admiraram por tanto tempo.

Assim como o olhar no rosto de Charlotte agora. Quando


Matthew olhou para mim, fiz um sinal para a menina ao meu lado, e
ele assentiu. Seu cabelo estava emaranhado e suado agora que ele
tinha tirado o capacete, o sol batendo em nós com um calor
agradável. Antes de correr, ele pegou uma toalha de um assistente e
tentou se limpar o máximo possível.

Mmm... Eu queria que ele não tivesse feito isso. Eu gostaria de


poder levá-lo para o corredor mais próximo e lamber o suor do seu
pescoço.

—Ava? — ele perguntou com olhos brilhantes.

—Sim, certo. — Eu limpei minha garganta. —Matthew, eu


adoraria te apresentar a Charlotte Kuyper e sua mãe, Diane. Ela foi
a vencedora do concurso da sua fundação.
Ele se abaixou e estendeu a mão. De repente, Charlotte estava
tímida, se escondendo nas pernas de sua mãe com bochechas
vermelhas brilhantes.

Matthew sorriu para ela e eu queria morrer por causa da


bondade que havia naquele sorriso. —Eu ouvi sobre o seu stand de
Gatorade, Charlotte. — Ele falou, balançando a cabeça lentamente.
—Eu gostaria de ter pensado em algo assim quando tinha a sua
idade. Você é uma criança muito inteligente.

Por trás do jeans de sua mãe, seus grandes olhos castanhos


apareciam completamente. —Eu disse ao dono da academia que ele
poderia ter uma porcentagem dos ganhos se ele me deixasse ficar lá
depois das aulas mais cheias.

Matthew inclinou a cabeça para trás e a área ao redor dele


explodiu com seu riso profundo. Eu ainda estava sorrindo quando
um de nossos jornalistas se aproximou com a câmera na mão.

—Desculpe, estou atrasado, — disse ele, com o peito arfando.

—Sem problemas. Apenas se certifique de obter algumas


imagens deles juntos - espontâneas e encenadas. Pergunte a
Charlotte sobre seu concurso e tente algumas frases sobre a
fundação de Matthew. Eu já tenho fotos da mãe dela do stand fora
do ginásio. Vamos enviar tudo para A/V, e eles podem juntar algo
para a Fan Friday no Facebook e no Instagram.

—Pode deixar.

Despreocupadamente, olhei por cima do meu ombro para


Matthew, que estava ouvindo a conversa animada de Charlotte com
uma expressão dolorosamente sincera em seu belo rosto esculpido.
Brevemente, ele olhou para mim. Fiz sinal que ia sair e dei a ele uma
pequena piscada. A única indicação de que ele viu foi uma breve
aparição da covinha no lado esquerdo da boca.

Suspiros.

Os jogadores estavam reunidos a esmo nos bastidores, posando


para selfies, e eu vi um dos nossos jogadores aposentados favoritos
de alguns anos atrás dando conselhos para um ‘running back’
novato.

Eu estava tão ocupada sorrindo com a felicidade do futebol de


pré-temporada que eu quase tropecei em Logan. Ele estendeu as
mãos, firmando meus cotovelos antes que eu comesse grama.

—Caramba Ward, você faz algum barulho quando anda? — Eu


tirei meu cabelo do rosto, tentando, sem sucesso, soltar alguns fios
que tinham se enroscado nos óculos de sol que eu tinha colocado na
cabeça.

Quando eu estava em pé, ele tirou as mãos dos meus braços, um


olhar pensativo em seu rosto suado.

—O quê? — Eu disse, apenas um fio de cabelo na linha


defensiva. Veja, era isso que acontecia quando alguém que você não
conhece testemunha uma de suas mais profundas inseguranças.
Você atira neles sem motivo, quando tudo o que eles estavam
fazendo era olhar para você.

Com as pontas dos dedos sujas e cheias de esparadrapos, Logan


coçou a lateral do rosto e continuou a me estudar.
—Ohhhhhkay então, bom conversar com você. — Eu fui passar
por ele, e ele estendeu a mão como se fosse me impedir, mas suas
mãos não pousaram na minha pele.

—Você está bem? — Ele perguntou, olhando ao redor, mas


ninguém estava ao alcance da sua voz. Eu tremia só de estar ali.
Como se eu tivesse um sinal de néon piscando sobre a minha cabeça
- com efeitos sonoros - que dizia que eu tinha apresentado Logan
como meu namorado, e isso era estúpido, e eu gostaria de nunca o ter
feito, mas não há nada que eu possa fazer agora.

—Por que eu não estaria? — Eu suspirei, cruzando os braços e


movendo o quadril para o lado. Como se essa atitude fosse me ajudar
a escapar disso.

—Bem, aquela coisa... não é neste fim de semana?

Eu esvaziei. Bem, se ele ia ser legal sobre isso, eu acho que


poderia colocar o quadril de volta no lugar. —Sim. — Eu acenei uma
mão. —Está tudo bem. Vai ser uma droga, e vou querer beber para
sobreviver, o que é uma ideia horrível, porque não sou uma boa
bêbada em situações emocionais que me estressam, mas
sobreviverei. Com certeza.

Logan assentiu, seus olhos permanecendo firmes no meu rosto.


Ele piscou alguma vez? O sol estava tão brilhante que, pela primeira
vez em anos, sob o intenso escrutínio de Logan Ward ao qual eu
estava sendo submetida, percebi que seus olhos não eram castanhos
como eu sempre pensara. Eles estavam manchados de verde. Eu
pisquei quando vi Matthew se endireitar depois de tirar algumas
fotos com Charlotte. Ele terminaria em breve, e nós já tínhamos
concordado em sair ao mesmo tempo para que pudéssemos jantar
juntos em um pequeno restaurante a caminho de casa. Em algum
lugar onde ninguém o reconheceria.

—Não parece nada saudável, — disse Logan.

Se ele ao menos soubesse.

Eu ri. Então eu ri mais um pouco. Seu rosto suavizou um pouco


quando eu dei a ele um olhar divertido. —Não, nada sobre toda essa
situação é saudável, confie em mim. Beber para lidar com isso é a
menor das minhas preocupações.

Matthew se aproximou de nós e eu desviei o olhar, puxando


meu celular do bolso da jaqueta. —Logan, eu tenho que ir. Mas...
obrigada por perguntar.

Ele deve ter ouvido a sinceridade em minha voz porque ele deu
um olhar avaliador antes de concordar com a cabeça lentamente. —
De nada.

Logan se virou pouco antes de Matthew nos alcançar. Eles


acenaram um para o outro em saudação.

—Bom treino, perfeito, — eu disse a ele quando começamos a


caminhar em direção ao prédio.

—Me senti bem. — Ele apontou com o polegar por cima do


ombro. —Charlotte foi ótima, né?

Eu queria envolver meu braço em volta da cintura dele


enquanto caminhávamos e sentir o peso do braço dele em meus
ombros, mas resolvi cutucá-lo com o cotovelo. —Você é um grande
urso de pelúcia.
Matthew rosnou, se inclinando para sussurrar no meu ouvido.
—Sim? Eu vou te mostrar como isso não é verdade depois, Slim.

Sim. Tirando uma aberração, nada neste dia ou na minha vida


era uma droga. Eu me agarrei a esse pensamento como se fosse feito
de ouro maciço.
—AVA...

Ela não me ouviu. De pé na frente de seu armário


absolutamente bagunçado, minha garota estava mordendo o lábio
inferior como se fosse feito de seu vinho favorito.

—O verde, — disse a ela, arrancando algo do cabide e o


segurando na frente dela enquanto olhava para o reflexo no grande
espelho que ela tinha no canto do quarto. —Não, não o verde. Eu não
posso usar roupa íntima por baixo disso.

—Bem, ei agora... — eu murmurei, me inclinando para pegá-lo


quando ela jogou na pilha de dezessete outras roupas que foram
consideradas ruins. Todas as roupas eram de cores vivas e sólidas,
algo que eu percebi que todas as roupas que ela usava eram assim,
com exceção de algumas peças pretas ou brancas. —Eu gosto de
vestidos assim.

Mas ela não me ouviu. Ava passou as mãos trêmulas pelo cabelo
e olhou fixamente para o armário. A mala a seus pés não tinha muita
coisa porque ela já havia colocado toda a coleção de maquiagem
numa sacola separada.

—Slim, — eu disse com mais firmeza desta vez.

—Você sabe que antes de você aparecer, eu era a


imperturbável. Nada me incomodava, nunca. — Sua voz tinha uma
estranha qualidade distante, e ela manteve as mãos em seus cabelos.
—Eu estava tipo... tipo, Teflon.

Tentei não me machucar com o que ela disse, mas mesmo assim
machucou. Apenas uma pequena picada afiada, como a ponta de
uma agulha que você não esperava, embora eu pensasse nela
exatamente da mesma forma há tantas semanas. Então eu respirei
fundo e a sensação desapareceu.

—Você era? — Eu perguntei.

Talvez a picada não tivesse sumido como eu pensava, porque


uma rajada de ar deixou seu corpo, e ela se virou para mim com uma
expressão miserável em seu lindo rosto estressado. —Oh, isso soou
horrível. Me desculpe. — Ava fechou os olhos. —Quero dizer, é como
se eu me abrisse para todos esses sentimentos no momento em que
te vi de novo, e uma vez que fiz isso, tudo o que eu estava guardando
acaba de sair. — Ela imitou um movimento de vomitar e eu sorri.

—Entendi.

Ela andou onde eu estava sentado, ainda segurando o vestido


verde em minhas mãos.

—Todos os dias desta semana, eu repeti o que dissemos, sabe?


É um dia, é apenas um dia, mas agora que chegou, eu percebo o
quanto eu estava me enganando. — Ela desabou bem na minha
frente. Quando ela olhou, seus olhos estavam vidrados com lágrimas
não derramadas, e isso os fez brilhar como esmeraldas em seu rosto.
—Eu quero que eles provem que eu estava errada neste fim de
semana. Eu quero que eles voltem a ser como antes, porque isso
torna tudo muito mais fácil, e eu sei que você está preocupado
comigo. Eu sei, — disse ela, colocando a mão em seu peito.

—Venha aqui. — Eu me levantei e estendi meus braços, e ela


caminhou direto para eles, me abraçando com tanta força que eu dei
um passo para trás.

—Talvez eu, simplesmente, não vá, — ela disse no meu peito, e


eu ri.

—Você vai.

Ela choramingou e se afastou, fazendo beicinho para mim. —


Não, acho que esse é um bom plano. Vou mandar uma mensagem
para Ashley e dizer a ela que eu adoeci, H1N1 ou algo assim. Ooh, ou
o vírus do Nilo Ocidental!

Eu olhei em seus olhos e ela suspirou.

—Eu seeeeeei.

—Você sabe por que você está indo? — Eu disse a ela. —Porque
você vai ser uma pessoa melhor. Mesmo se eles se mostrarem
horríveis, ou se não, você vai aparecer independentemente disso.
Você vai ficar bonita, não importa o que você vista, e você vai
parabenizá-los por nove anos de felicidade conjugal. — Minhas
palavras estavam pesadas com sarcasmo, e isso a fez sorrir. —Você
vai beber o champanhe no qual seus pais pagaram uma fortuna,
ouvir boas músicas, e depois voltar aqui onde estarei te esperando.

Ela assentiu. —Eu pensei sobre isso.

—Sobre o quê?
—Desde que você me beijou, será o mais distante que ficamos
um do outro. Nós trabalhamos no mesmo prédio e estamos juntos
todas as noites. E depois do treinamento amanhã, eu não vou para
casa com você. Eu preciso levar esta mala estúpida cheia de roupas,
mesmo que eu já tenha comprado um vestido para essa coisa e
depois pegar aquela balsa estúpida, e você não vai estar comigo. —
Ela passou as mãos no meu peito, e eu senti os movimentos
familiares, a deliciosa dor que sempre vinha com ela me tocando. —
Vai ser estranho estar na cama sem você. Eu não gosto de pensar
sobre isso.

—Eu sei, — eu murmurei, inclinando minha cabeça para baixo


em direção ao seu rosto enquanto minhas mãos deslizavam para
cima e para baixo em suas costas, abaixando a cada passada até que
sua bunda estivesse firmemente em minhas mãos.

Ava respirou trêmula, seus dedos cravando a minha pele até


que eu pude sentir suas unhas através da minha camisa. Ela inclinou
seu rosto para cima quando inclinei o meu para baixo, nossas bocas
se encontraram enquanto o desespero aumentava como uma maré
rápida e quente no meu sangue.

Finalmente, ela estava falando comigo sobre essas coisas.

Esta noite ela estava comigo.

Esta noite eu estaria lá.

Eu seria dela para sempre se ela deixasse.

Minhas mãos estavam tremendo com a intensidade dos meus


pensamentos enquanto eu tirava sua camisa sobre sua cabeça.
Ela me dava parte dela, mas eu queria mais. Eu queria tudo.
Tudo dela.

Enchi minhas mãos com seus seios, e ela quase subiu em mim,
com os braços em volta do meu pescoço para travar as pernas como
grampos na minha cintura.

Desajeitadamente, caí para trás, mas nós só tiramos intervalos


dos beijos profundos e intermináveis para rasgar as roupas um do
outro com mãos gananciosas. Se Ava estivesse sentindo metade do
que eu estava agora, não duraria dois minutos, quando eu estivesse
enterrado profundamente nela.

Algo se unia dentro de mim, ponto por ponto, fileira por fileira,
até que meu corpo inteiro fosse uma massa sólida de necessidade e
desejo de reivindicá-la como minha para o mundo inteiro ver.

—Depois que você voltar, — eu ofeguei contra sua boca quando


ela enfiou a mão na minha cueca boxer. Seu aperto forte me fez
silvar.

—O quê? — ela sussurrou.

—Não vamos mais nos esconder. — Eu mordi seu lábio inferior


e puxei. —Não será mais segredo.

Ela choramingou quando eu acalmei o local com a minha língua,


a provocando com um beijo que eu não dei.

Eu nos virei, me inclinando o tempo suficiente para puxar a


última peça de roupa dela. Nua diante de mim, Ava estava quase
incrivelmente linda. Seu rosto estava vermelho por causa das
minhas palavras, seu corpo tremendo com meu toque.
—Quando você voltar, — eu disse rispidamente, pressionando
seu joelho em direção ao peito e pairando sobre ela até que ela
estava arqueando o pescoço para um beijo, —todo mundo vai saber
que você é minha.

Debaixo de mim, ela estava perdida em pensamentos, isso foi


antes de eu estalar meus quadris para frente.

Instantaneamente, violentamente, com meu nome em seus


lábios, ela explodiu.

Mas eu não parei. Eu persegui a sensação de desejo furioso até


que meu corpo estivesse suado, até que minhas pernas estivessem
queimando e meus dentes estivessem cerrados, até que Ava
estivesse praticamente chorando, alívio após alívio.

Não foi o suficiente.

Mais cedo, achei que não duraria dois minutos. Mas agora, senti
a chama rugindo tão brilhante e tão quente, tão primitiva dentro de
mim, que eu queria que durasse a noite toda. Eu queria me torturar
por horas, conter meu prazer se significasse que ela simplesmente
seria minha.

Se eu me envolvesse profundamente o suficiente - agarrasse


sua pele sob minhas mãos, beijasse seus lábios, chupasse sua língua
e me assegurasse de que cada segundo disso fosse uma definição
clara o suficiente do que eu sentia por ela - então talvez eu fosse
capaz de garantir esse sentimento para sempre. Para nós dois.

Eu sabia que a amava. Ela podia sentir isso?


Ela agarrou meu pescoço, implorando por beijos que eu era
incapaz de conter, e quando ela soluçou contra meus lábios que não
aguentava mais, eu pressionei minha testa na dela, cerrei meus
dentes em um grunhido baixo enquanto finalmente permiti me
inundar de prazer.

Eu caí contra ela, indiferente ao meu peso por cima do seu


corpo esbelto. Aparentemente, ela não se importou porque ela
envolveu seus braços trêmulos nas minhas costas e me segurou
contra ela com a mesma força que eu acabara de segurá-la.

—Eu acho... — Ela engasgou, depositando um beijo de boca


aberta no meu ombro encharcado de suor. —Eu acho que estou
morta.

Rindo, eu me afastei dela, mas mantive meu braço pendurado


em sua cintura. Seu rosto estava vermelho e seus olhos começaram
a se fechar. E daí que eu não podia mover minhas pernas? Se isso
colocasse esse olhar em seu rosto, eu arriscaria ficar paralisado a
cada maldita noite. —Foi tão bom assim, é?

Ela bateu nas minhas costas. —Não pesque elogios. Não é fofo.

—OK. — Mas eu sorri sem arrependimento de qualquer


maneira.

Ava me deu um olhar de adoração e deslizou debaixo do meu


braço para que ela pudesse ir se limpar. No momento em que ela se
arrastou de volta para debaixo das cobertas, vestindo minha
camiseta enorme, eu já estava cochilando. Ela se aconchegou ao meu
lado e sussurrou boa noite. Eu beijei sua testa e fiz o mesmo.

Mas o sono não veio.


Eu a observei enquanto a respiração dela se aprofundava,
quando as mãos dela começaram a tremer levemente quando ela
começou a sonhar. Como sempre fazia, Ava se virou de costas e
depois virou para o lado. Brinquei com as pontas do cabelo dela, que
parecia preto no quarto escuro, e pensei no que ela disse. Sobre o
que ela divagou.

Memórias de quão insensíveis eles costumavam ser em relação


a ela lotaram minha cabeça, cortes e trechos de fotos do meu
relacionamento com Ashley. Como ela falou comigo no final. Como
ela falou com Ava. Os caras me falando merda por ter sido traído,
especialmente por ser trocado por um garoto de fraternidade
viscoso. Visões de Ava deitada em uma cama grande e escura
sozinha, desejando estar em algum outro lugar com pessoas que a
entendessem, que a apoiassem, e que a amassem da maneira que ela
merecia ser amada.

Do jeito que eu a amava.

O jeito que ela nem sabia ainda. Só ela saberia, não só porque
eu diria as palavras, mas porque eu mostraria.

Todas as fotos embaralhadas, algumas que realmente


aconteceram e outras imaginadas, se fundiram em uma única ideia.
Um plano olhando para ela, para ter certeza de que ela estava
dormindo, deslizei cuidadosamente para fora da cama até encontrar
seu laptop no balcão da cozinha.

Frankie nadou preguiçosamente ao redor do aquário enquanto


eu me sentava e estremecia contra a luz forte da tela.
Eu dei a ele uma olhada. —De homem pra homem, você me
diria se isso fosse uma má ideia, certo?

Em resposta, ele sacudiu suas barbatanas majestosas e virou na


direção oposta.

—Bom papo, Frankie, obrigado.

Eu respirei fundo e comecei a procurar.


A MANHÃ EM QUE eu deveria partir para a renovação dos votos
estava brilhante e clara, e eu sabia disso porque me deitei na cama
e vi a claridade do meu quarto mudar de preto para cinza suave, de
rosa pálido para brilhante ofuscante, violento e ameaçador, amarelo
da morte.

Ao meu lado, Matthew dormia pesadamente, o braço


musculoso pendurado na minha cintura e seu rosto se transformado
no travesseiro. Em algum lugar no fundo do meu peito, nas
proximidades de meus pulmões, tive um pressentimento pelas
próximas quarenta e oito horas. Eu tive que fechar meus olhos para
acabar com isso. Aquele poço desconcertante no meu estômago, em
que eu não conseguia respirar para sair, que nem toda a meditação
ou oração, hot yoga ou sacrifício de cabra iria conseguir afastar, me
fez sentir como se eu estivesse a três segundos de vomitar.

—Você precisa ir para o treinamento, garotão, — sussurrei


para Matthew. Seus longos e escuros cílios tremularam lentamente,
e seu sorriso sonolento ajudou a buraco em minha barriga a
diminuir um pouco.

Durante momentos como esse, quando eu assistia ele acordar,


eu não podia deixar de me maravilhar com a forma como eu tinha
acabado aqui.
Em um dia estávamos nos pegando em um táxi e agora estamos
vivendo juntos, não oficialmente, e nenhum de nós pareceu sequer
piscar.

Talvez fosse de onde o milagre da desgraça estivesse vindo. Da


ridícula ideia de que dois dias, de alguma forma, alterariam nosso
relacionamento. Me senti melhor ao pensar que esse era o caso, ao
invés vez da outra alternativa. A alternativa era o meu sentimento
ruim, nojento e terrível que estava vindo do tempo que eu passaria
com minha família por eles serem tão horríveis.

Matthew resmungou e me puxou mais para perto. Ele


depositou um beijo distraído em meus lábios antes de sair da cama,
de pé e se alongando com um grande rugido do fundo de seu peito.
Eu sorri e assisti ele se endireitar.

Sem precisar ver, eu sabia que ele tinha pegado uma banana da
cesta da pia na minha cozinha, e parado em seu lugar favorito para
comprar um smoothie verde cheio de proteínas no caminho para o
treinamento, da mesma maneira que ele sempre começava suas
manhãs. Quando a porta do meu quarto se fechou, eu deitei na cama
por mais tempo do que deveria.

Durante toda a manhã no escritório, eu mantive minha cabeça


baixa e foquei no meu trabalho. A porta do meu escritório ficou
visivelmente fechada, como se eu estivesse cingindo meus lombos
metafóricos para o que eu estava prestes a fazer. No treinamento
daquela tarde, eu mantive um sorriso no rosto e fiz meu trabalho,
arrastando as pessoas para onde elas precisavam ir, conduzindo
algumas entrevistas, e mantendo nossos convidados VIP felizes pelo
dia, uma banda de rock com quem nosso ‘star wide receiver’,
Johnson.
Matthew chamou minha atenção algumas vezes, me dando
sorrisos secretos e pequenas piscadelas que ninguém notaria, mas
se certificando de que eu sabia que ele estava prestando atenção em
como eu estava estressada. Quando o treinamento acabou, eu sabia
que ele precisava ir direto para uma reunião de equipe.

Eu fiquei no meu escritório o máximo que pude, mas a hora se


aproximava cada vez mais de quando eu precisaria ir até a balsa
para pegar a última viagem do dia. O dia que havia amanhecido claro
e ensolarado tinha ficado nublado, baixando a temperatura o
suficiente para que eu mantivesse minha jaqueta enquanto saía para
o meu carro.

—Slim, — a voz de Matthew gritou enquanto eu estava


destrancando a porta do lado do motorista.

Eu exalei de alívio. —Eu não achei que veria você antes de sair.

Ele correu até mim e deslizou as mãos pelos meus braços. —


Desculpe, todos os outros foram liberados, mas o treinador estava
tagarela. Eu não consegui fugir.

Eu sorri para ele. —Nenhum pedido de desculpas é necessário.

Ele olhou em volta, mas estávamos sozinhos no


estacionamento da equipe. —Você vai conseguir.

Assentindo, deixei escapar uma respiração profunda e alta.


Aquele poço estava de volta. Isso fez todo o meu corpo doer. —OK.

Matthew abriu a porta do carro para mim e esperou até eu me


instalar atrás do volante antes de se abaixar para nos dar um pouco
de privacidade. Ele se inclinou e me beijou docemente, com apenas
uma sugestão de sua língua antes de se afastar.

—Eu vou falar com você em breve, ok? — Ele disse, os olhos
preocupados com o que ele via no meu rosto.

—Sim, — eu disse a ele. —Vai ficar tudo bem.

Isso seria bom. Enquanto eu olhava nos olhos dele, quentes e


suaves e cor de chocolate, me inclinei para beijar ele novamente.
Mais longo desta vez. E nem me importei em verificar se havia
alguém por perto. Sua testa tocou a minha antes dele se afastar e se
levantar.

—Me mande uma mensagem quando a balsa chegar lá?

Eu assenti. —Pode deixar.

Matthew fechou a porta para mim e ficou no mesmo lugar


enquanto eu saía.

No momento em que peguei minha mala, passei a escova no


meu cabelo, pedi um Uber, e passei mais um pouco de batom sobre
os lábios, eu sabia que estava chegando perto. Como eu não estava
indo com meu carro, não seria muito ruim entrar na balsa,
especialmente para a viagem noturna, mas meu coração bateu
desconfortavelmente do mesmo jeito, até meu motorista ir até a
entrada.

—Obrigado, — eu gritei quando bati a porta e caminhei


rapidamente até a entrada longa e coberta. O enorme barco branco
e verde mal se movia na água agitada da baía, e eu abracei minha
jaqueta com mais força em volta do meu corpo enquanto o vento
oeste me varria em uma rajada.

Eu entreguei o meu bilhete para uma trabalhadora vestindo


uma jaqueta amarela fluorescente, e ela levantou o queixo em
reconhecimento antes de passar para a pessoa atrás de mim. O sol
estava baixo no céu enquanto eu caminhava pelo convés fechado. As
cadeiras azuis e as cabines agrupadas no chão estavam quase vazias,
eu respirei fundo, o silêncio pontuado apenas pelo som de carros
deslizando no lugar e o motor do barco se encaixando enquanto
começávamos nosso lento deslizar pelas águas.

Onde eu estaria encalhada. Com minha família.

Evitei feriados facilmente por causa do trabalho. Para mim, o


Dia de Ação de Graças e o Natal eram momentos incrivelmente
ocupados do ano, a menos que eles caíssem em uma semana sem
jogos. Mas mesmo um dia para um feriado e uma noite passada em
um hotel, não eram nada nesta pequena festa.

Quando a balsa partiu, eu estava bem e realmente presa.

Me afundei em uma cadeira no final do barco e joguei minha


bolsa ao meu lado, no chão.

Assim que meus olhos começaram a se fechar para que eu


pudesse descansar até chegarmos, alguém pigarreou.

Baixo. A voz estava baixa. E perto.

Antes de abrir os olhos, pensei por um segundo porque parecia


familiar.

Soava como alguém que não deveria estar lá.


E com certeza, quando minhas pálpebras se levantaram, eu
comecei pela parte inferior, seus grandes pés vestindo botas
marrons pesadas, suas longas pernas envoltas em jeans escuro, seu
torso coberto com uma camisa cinza básica, e vi a Logan - puta que
pariu, vou te matar - Ward.

—Logan, — eu disse baixinho. —Você está na minha frente


agora. Eu não estou imaginando isso?

Ele abaixou o queixo. —Hey.

—Hey? — Eu repeti devagar, minha confusão se transformando


em algo maior e mais alto.

Logan limpou a garganta.

—O que você está fazendo aqui? — Eu sussurrei.

Ele deve ter percebido a violência contida no meu tom, porque


ele fez uma careta antes de desviar o olhar. Sobre o ombro, havia
uma grande mochila preta e, na outra mão, uma bolsa de lavagem a
seco. Você sabe quais. Eles, geralmente, têm ternos dentro. Vestidos.
Ou smokings.

—Estou tentando descobrir se você estava mentindo quando


disse que não precisava de ajuda.

—O quê? — Eu gritei, ficando em pé, o que ainda significava que


eu estava uns 20 centímetros menor do que ele. Eu não me importei.
—Oh não, você vai levar sua bunda direto pra fora dessa balsa,
senhor.
Ele ergueu as sobrancelhas, depois olhou significativamente
para o horizonte de Seattle na distância cada vez maior. No píer, a
roda gigante se moveu devagar como se estivesse se despedindo.

Eu afundei minha cabeça em minhas mãos e respirei


profundamente, respirei devagar.

A cadeira ao meu lado estava vazia, o que eu me lamentava


agora, porque Logan baixou sua grande e estúpida estrutura nela e
suspirou.

—Ouça, — ele disse em sua voz áspera e grave, —talvez tenha


sido um pouco presunçoso aparecer.

Lentamente, oh tão devagar, eu virei minha cabeça e dei a ele


um olhar incrédulo. —Talvez?

Logan estava quieto. Provavelmente, porque ele sentiu que eu


estava prestes a cometer um assassinato.

Eu me endireitei, mantendo meu rosto para frente, olhando a


água cinza-azulada do lado de fora do barco, as ondas de ponta
branca se movendo junto com o vento forte quanto mais nos
afastávamos da costa. —Explique, por favor. Algo que faça mais
sentido do que o que você acabou de me dizer.

Logan me deu um olhar de lado que eu vi pela minha visão


periférica. —Além de só querer ajudar?

—Sim. — Eu juntei meus dedos no meu colo e os apertei com


força. —Você e eu não somos pessoas que se ajudam. Nós mal nos
conhecemos.
Ele ficou quieto por um minuto. —Isso é verdade, — ele
respondeu lentamente.

—É por isso que não faz sentido. — Eu realmente precisava


preencher os espaços em branco para ele? Eu mentalmente calculei
quantas concussões Logan sofrera desde que ele veio para
Washington. Duas? Três? Eu não conseguia lembrar. Meu cérebro
estava preocupado demais com o fato de que Logan Ward decidiu
canalizar seu ‘cavaleiro branco interior’ comigo como sua cobaia. Se
eu não estivesse tão assustada, poderia ter pensado que era doce.

Nós nos sentamos em silêncio por alguns longos momentos, e


Logan virou na minha direção, o suficiente para que eu não tivesse
escolha, a não ser desistir da minha competição com a água, e olhar
para ele. Eu tentei não olhar, honestamente, mas eu estava surtando
por ele nessa balsa comigo.

A última balsa do dia. Pista: riso histérico.

—Posso não ter os mesmos problemas familiares que você.


Quaisquer que sejam seus problemas com sua irmã. Mas— - ele
coçou a mandíbula e parecia incrivelmente desconfortável - —às
vezes seria bom não ter que encarar suas merdas sozinha, sabe?

Minha raiva fugiu. Poof. Como mágica.

O poço na minha barriga de repente tinha um nome, um rótulo,


um interruptor de luz brilhante e repentino de claridade brilhando
sobre ele.

Eu não queria fazer isso sozinha. O tempo todo em que eu


estava surtando, era porque eu não queria entrar nessa provação
inteira sem ninguém para ser minha rede de segurança. Não alguém
para lutar minhas batalhas por mim ou falar em meu lugar, mas eu
queria, desesperadamente, ser capaz de ter Matthew comigo para
que eu soubesse que não estava sozinha.

—Eu entendo isso, confie em mim. — Eu escorreguei e apoiei a


parte de trás da minha cabeça na cadeira. —Mas Logan... você tem
que admitir que é um pouco insano estar aqui agora.

—Você me odeia? — Sem olhar, eu pude ouvir um leve sorriso


em sua voz.

—Eu não te odeio. — Abrindo meus olhos, dei a ele um breve


olhar. —Mas você vindo complica as coisas para mim.
Especialmente, se eu não puder contrabandear você de volta nesta
mesma balsa sem que a minha família veja você.

Seu sorriso foi rápido. Estava lá e se foi. Mas ele não olhava para
mim.

Ficamos sentados em silêncio por um tempo. Nem uma vez ele


olhou para o celular, o que me pareceu estranho. Eu queria pegar o
meu e mexer sem pensar, mas por alguma razão, eu senti como se
estivesse tomando minha sugestão dele.

—Então esse cara que você está namorando...

Meu coração se apoderou do meu peito. Eu deveria apenas


dizer a ele - dizer a ele que o cara era Matthew e contar a ele sobre
a história de Matthew com minha família - mas as palavras se
arrastaram até parar, quando ouvi uma risada familiar atrás de nós.

Se eu pensasse que meu coração estava preso no meu peito


antes? Agora ele tinha acabado de sair do meu corpo!
—Ava? É você?

—Oh querido menino Jesus, seja uma cerca, — eu sussurrei sob


a minha respiração. Então eu me virei. —Oi, mamãe, — eu disse
fracamente.

O rosto de Logan virou rapidamente para mim, seus olhos se


arregalando de horror.

Como não tive escolha, me levantei e dei a ela um abraço


indiferente.

Eu estava ferrada. E não de um jeito bom.

Logo atrás dela estava meu pai, vestindo um terno escuro e


camisa branca perfeitamente engomada. Seu cabelo estava um
pouco mais cinzento do que na última vez que o vi, assim como as
linhas em volta de seus olhos verdes estavam um pouco mais
profundas.

—Eu pensei que vocês tivessem ido para a ilha ontem.

Meu pai deu um tapinha nas minhas costas distraidamente. —


Tive que cancelar nosso vôo, garota. Fui chamado para um bypass
quádruplo de emergência, já que o médico de plantão já estava em
cirurgia.

Logan se levantou devagar, passando as mãos pelas coxas. O


olhar em seu rosto era estoico, mas eu podia sentir o desconforto
em sua estrutura rígida.

Eu me senti mal por ele? Com certeza não. Isso é o que você
consegue, Ward, quando você aparece em balsas que você não deveria
estar, pensei amargamente.
Foi quando vi a transformação no rosto perfeitamente sem
rugas e perfeitamente maquiado de minha mãe. Seus lábios rosados,
o mesmo ‘Elizabeth Arden Blushing Pink’ que ela usava desde que
eu aprendi a andar, se curvaram devagar, devagar, devagar. Seus
olhos se estreitaram, como só faziam quando ela estava realmente
feliz com alguma coisa.

E então, ela empurrou o cabelo cor de caramelo com sua


elegante franja atrás de sua orelha e inclinou o queixo para mostrar
seu melhor perfil. —Bem, você deve ser o namorado de Ava.

Me.

Mate.

Agora.

Logan me deu um breve olhar que eu traduzi para: o que diabos


eu deveria fazer? Eu pisquei algumas vezes porque não sabia. Talvez
eu pudesse dizer que ele era um estranho com quem eu estava
conversando.

Talvez eu pudesse dizer... Eu não sabia! Eu não sabia o que eu


poderia dizer, porque o universo tinha acabado de entalar meu
corpo entorpecido entre o Monte Rainier e outra grande montanha,
tornando impossível que eu me movesse, falasse e pensasse,
aparentemente.

Ele estendeu a mão para ela. —É um prazer conhecer você. Eu


sou Logan.
Minha mãe pegou a mão dele, mas então virou a mão dela para
que os nós dos dedos estivessem voltados para cima. Oh meu doce
Senhor, ela queria que ele beijasse sua mão?

—Mãe, — eu disse, balançando a cabeça.

Ela deu de ombros como, você não pode me culpar por tentar. —
Logan, que nome maravilhosamente forte. Por favor, me chame de
Abigail.

Meu pai deu um passo à frente e segurou a mão de Logan com


firmeza. —Alan Baker. — Ele se afastou um pouco e deu a Logan um
olhar de avaliação, da cabeça aos pés, como se ele fosse um cavalo
prestes a subir no leilão. —Ward? Esse é seu sobrenome?

—Sim, senhor.

Oh Deus, meu falso namorado era educado.

—Alguma família que eu conheça na área do norte da


Califórnia?

Logan olhou para mim, limpando a garganta antes de


responder. —Não que eu saiba.

—E você Joga? Na equipe da Ava?

Eu mordi os lábios e considerei a possibilidade de


sobrevivência se eu me jogasse ao mar e voltasse para Seattle.

Naquela pergunta, Logan realmente agraciou meus pais com


um pequeno sorriso. —Eu poderia argumentar que é o meu time
mais do que de Ava, já que eu estou lá cerca de cinco anos a mais.
Embora ela mantenha todos nós na linha com punhos de ferro.
Meu pai riu muito, e minha mãe riu como se ele tivesse acabado
de dizer que ela era a mulher mais linda do mundo. Eu zombei dele,
mesmo que ele estivesse completamente certo.

—Certo, certo, — meu pai disse, batendo nas costas dele. —Isso
parece mesmo com a nossa Ava.

—Agora parece? — Eu murmurei.

—Podemos nos sentar com vocês? — Minha mãe perguntou,


colocando sua mala nas cadeiras em frente à nossa e se sentando
antes que alguém dissesse mais do que uma sílaba. Tanto quanto
qualquer um podia, minha mãe parecia régia sentada naquela
cadeira de plástico azul, o terninho bege perfeitamente ajustado e
as pernas finas cruzadas para que pudéssemos ver os sapatos de
salto alto nude e as solas vermelhas brilhantes.

Logan e eu nos sentamos, e ele se inclinou para sussurrar em


meu ouvido enquanto meus pais olhavam para algo no telefone do
meu pai. —Alan, Abigail, Ashley e Ava?

Eu exalei em silêncio, então respondi baixinho. —E meu


cunhado é Adam. Sim, nossos nomes combinam. Mantenha seu
julgamento longe de mim, por favor. Não é como se eu pudesse ter
escolhido alguma coisa sobre esse assunto.

Ele sorriu de novo, então se acomodou em sua cadeira antes de


cruzar os braços sobre o peito. —Eles não parecem tão ruins.

—Morda sua língua, Ward. Você os conhece há trinta e dois


segundos.
Ele realmente riu baixinho, e eu considerei o que poderia
acontecer se eu lhe desse um soco no saco. Talvez não fosse justo,
mas Logan era um bode expiatório de raiva muito conveniente em
toda essa situação de merda. Enquanto meus pais continuavam
conversando em particular, e Logan ficava quieto de novo, eu lutei
contra o desejo de entrar em pânico enquanto considerava minhas
opções.

1- Eu me desculpo e ligo para o Matthew. Digo a ele o que


aconteceu e espero que a ideia de que eu estava desfilando com um
de seus companheiros de equipe como o meu encontro não o
estresse muito. Foi sem querer, mas mesmo assim.

2- Eu esclareço tudo com meus pais agora enquanto estamos


presos neste barco, por mais ou menos quarenta minutos.

E depois havia a última opção. Eu respirei fundo e senti aquele


buraco no meu estômago novamente. Só que desta vez, foi
acompanhado por um peso de cem quilos no meu peito.

3- Eu deixo o fim de semana terminar. Faço Logan ir embora


amanhã de manhã, fingindo uma doença ou algo assim. Meus pais
acham que eles conheceram meu namorado, mas ele não comparece
à cerimônia no lugar de Matthew. Quando eu chego em casa no
domingo, eu esclareço tudo com o Matthew, assim ele não estará
estressado todo o final de semana.

Clandestinamente, observei meus pais. Minha mãe deve ter


sentido meus olhos nela, porque ela olhou para cima. Então ela
piscou, me dando um olhar de olhos arregalados quando ela inclinou
a cabeça na direção de Logan. Bom trabalho, ela murmurou. E assim,
parou de prestar atenção em mim, voltando ao telefone do meu pai
e o que quer que fosse tão fascinante para eles.

Por um momento, eu a odiei. Eu me odiava. Porque, com aquele


pequeno aceno de aprovação, parecia que ela tinha me dado meu
peso em ouro. Eu nunca os ouvira ter orgulho do meu trabalho ou
do que fiz profissionalmente. Eu nunca os ouvi elogiar nada sobre
mim. A coisa mais próxima que eu já tinha chegado era o que meu
pai havia dito para Logan.

No fundo da minha garganta, senti as lágrimas de vergonha.


Porque eu sabia que escolheria a opção três. Mesmo que fosse por
doze horas, eu não podia negar o fato de que queria que minha
família olhasse para mim e ficasse impressionada. Para manter seu
interesse, apenas por algum período de tempo.

Era assim a vida da Ashley? Eu me perguntei. Um interesse


instantâneo e garantido em todas as facetas da minha vida?

Aprovação.

Orgulho de quem eu era e do que eu havia realizado.

Era tão estranho que parecia que alguém me deixara em outro


país onde não falavam a mesma língua, e eu fiquei sem tradutor.

Mas não era sobre mim. Na verdade, não.

Era realmente baseado na pessoa sentada ao meu lado. Seu


interesse se originou e floresceu a partir do conhecimento de que eu
tinha, em suas mentes, um parceiro de sucesso, e não que eu fosse
bem-sucedida por mérito próprio. Eu não tinha certeza de como me
sentia sobre isso, exceto que, mesmo por um momento, eu queria
sentir isso. Não importava quão breve fosse ou quão rasa pudesse
parecer.

—Seu cérebro está prestes a começar a soltar fumaça, — Logan


murmurou.

Eu olhei rapidamente para ele. —Como você...?

Ele me deu um longo olhar, o que não foi pouca coisa,


considerando que ele não virou o rosto para mim. —Eu trabalhei
com você por quantos anos? Seis? As pessoas esquecem que o cara
quieto no canto é geralmente quieto, para que ele possa entender
todo mundo.

Eu não pude evitar meu sorriso. —Isso soa tão assustador.

Suas sobrancelhas se inclinaram sobre os olhos. —Sim. Eu


imagino que sim.

Clique.

Logan e eu olhamos para minha mãe, que tinha acabado de tirar


uma foto de nós com seu telefone. Ela sorriu timidamente. Um
‘timidamente’ falso, mas pelo menos ela estava tentando parecer
arrependida.

—Desculpe crianças, vocês parecem tão adoráveis juntos. Todo


aquele cabelo escuro. — Ela cantarolou, olhando para a tela,
presumivelmente para uma foto dela.

De repente, eu estava na escola primária novamente,


segurando minha mochila roxa brilhante em minhas mãos, no
primeiro dia de aula e vendo minha mãe tirar foto após foto de
Ashley na frente da árvore em nosso quintal da frente. O ônibus
parou, e eu sorri, dando um passo à frente para que ela pudesse tirar
uma de mim também.

—Vamos, Ava, — Ashley estalou. —Você vai fazer todo mundo


se atrasar.

Minha mãe deu um tapinha no meu ombro distraidamente. —


Ela está certa, querida. Vá.

Eu me lembro de subir no ônibus, dizendo a mim mesma que


ela tiraria uma quando eu chegasse em casa, porque as mães sempre
tiravam fotos do primeiro dia da escola, certo? Ela não fez. Pelo
menos, não naquele ano. Não de mim.

Só desta vez, prometi a mim mesmo, embora tenha ouvido o fio


escuro dos meus pensamentos. Era egoísta. Era desonesto. E era
superficial.

Ainda assim, apesar de tudo isso, eu me vi estendendo a mão e


querendo ver como ela me via. Só uma vez.

—Posso ver? — Eu perguntei a minha mãe.

Com um sorriso, ela entregou o telefone. Na tela grande e


cristalina, Logan e eu tínhamos nossas cabeças inclinadas uma na
direção da outra. Eu estava sorrindo, e ele estava me dando um olhar
que só poderia ser descrito como suave e doce. Seu cabelo era mais
escuro que o meu, quase preto diante da luz do barco.

As lágrimas que estavam no fundo da minha garganta mais


cedo se espalharam, uma passando por meus cílios e pela minha
bochecha. Minha mão limpou antes que ela visse, mas senti Logan
me encarando.
Eu não queria que essa fosse a foto no celular da minha mãe.

Eu queria que fosse Matthew e eu. Mas no segundo que


soubessem, no segundo que descobrissem, eu seria empurrada para
o lado novamente. Pior, na verdade. Eles ergueriam uma cerca entre
eles e eu. Uma barreira protetora para manter o desagrado longe de
suas vidas perfeitas.

—É uma boa foto, — eu disse a ela com voz grossa e devolvi o


telefone com a mão trêmula.

—Sua pele está maravilhosa, querida, — minha mãe disse. Ela


enfiou o celular de volta na bolsa Louis Vuitton. —Você está
brilhando.

Meu pai assentiu, finalmente arrancando os olhos da tela e me


dando um momento de atenção. —De fato, de fato. Mais bonita do
que nunca, garota.

Suas palavras eram como derramar um vinagre açucarado com


mel sobre uma esponja seca que havia sido deixada no sol por muito
tempo. Minha alma estava ressecada por palavras como essas, uma
casca que eu ignorara por anos por necessidade, mas mesmo que o
momento inicial em que elas chegassem fosse doce, o sabor era
amargo.

Porque eu me senti esgotada.

Eu me senti como uma prostituta.

No entanto, repeti o que eles disseram, repetidamente, até que


não pude esquecer esses pequenos instantes do tempo.
Durante o resto do passeio de barco, fiquei quieta, porque, se
eu abrisse a boca, poderia ter gritado. Tão alto e tão longamente que
teria arrebentado as janelas do barco.

Se eu soubesse o que estava esperando por nós na ilha quando


o barco atracou, eu provavelmente teria feito, apenas para ser capaz
de impedir.
—BONITO HOTEL , — disse Logan enquanto caminhávamos
pelo saguão.

Minha mãe rapidamente disse. —É o melhor da ilha, claro. Seu


espaço para eventos ao ar livre é o melhor, e é por isso que Ashley
está realizando sua cerimônia aqui.

—A menos que chova, — meu pai entrou na conversa. Houve


um estranho silêncio depois de sua declaração bastante óbvia. Eu
olhei para minha mãe, que suspirou.

—Sim, Alan, a menos que chova. — Sua voz era uniforme, mas
eu quase ri de como ela soava paternalista.

O tapete de pelúcia sob nossos pés fez nossa caminhada ser em


silêncio. Isso me fez sentir como se tudo pudesse ser um sonho.
Pesadelo. Tanto faz. Se um grupo de pessoas passasse pelo saguão
de um hotel e não fizesse nenhum som, eles ainda estavam lá?

Apenas para ter certeza, eu belisquei o meu braço. Não. Não


estava dormindo.

Nossos quartos ficavam em andares diferentes, graças a Deus,


porque havia menos risco de eles verem Logan sair de manhã e
perceberem que ele estava bastante saudável, apesar de qualquer
história que eu inventasse.
Por um breve momento, enquanto meus pais foram para baixo
do convés para dirigir seu carro alugado para fora da balsa, eu e
Logan fomos capazes de desenvolver um plano de jogo. Com isso,
quero dizer que eu disse a ele exatamente o que iria acontecer.

Ele conheceria Ashley assim que ela terminasse de jantar com


Adam e seus pais. Ela podia ooh! e aah! e ficar verde de ciúmes, e
então ele e eu nos retiraríamos, alegando exaustão depois de longo
dia de trabalho. De manhã, ele sairia do hotel cedo e aguardaria a
balsa da manhã. Eu diria à minha família que ele ficou doente
durante a noite e teve que voltar, por preocupação que eu pegasse o
que ele tinha.

Como meus pais não eram estúpidos, ele ia esperar no meu


quarto até que fosse tarde, depois entraria sorrateiramente no
quarto que tinha reservado para si quando inventou essa desculpa
equivocada de cavalheirismo.

Olhando rapidamente para o seu perfil estoico, eu tive que


admitir que se eu não estivesse tão amarrada em como esse fim de
semana iria se decorrer; como o futuro iria se desenrolar - contanto
que Matthew estivesse nele - eu poderia ter ficado tocada pelo que
ele estava disposto a fazer por mim.

Mas infelizmente para Logan, o gesto foi em vão. Eu só queria


que ele fosse embora. Eu queria que ele fosse embora, em um barco
para Seattle para que eu pudesse respirar profundamente
novamente. Até mesmo andar ao lado dele parecia algum tipo de
traição, embora eu não o tivesse convidado.

Esse era o ponto crucial, não era?


Ele não me tocou, nem de maneira casual. Ele não fez nada
inapropriado. Ele não precisava. Eu permitindo ele estar aqui, era
errado. Quanto mais nos aproximávamos do meu quarto, mais
verdadeiro ficava, até que se transformasse em uma entidade escura
e volumosa, rastejando na parte de trás da minha cabeça,
assombrando todos os outros pensamentos que tentavam
ultrapassá-la.

Errado.

Errado.

Errado.

—Ava, — minha mãe disse, e percebi que ela deve ter chamado
meu nome mais de uma vez.

—Desculpe, o quê?

—Sua irmã disse que ela estaria pronta em cerca de vinte


minutos. Vocês dois querem se refrescar e nos encontrar no bar?

Mentirosa.

Traidora.

Falsa.

Eu devo ter acenado com a cabeça ou algo assim porque ela


sorriu. —Excelente. — Para meu horror vergonhoso, ela se inclinou
para beijar minha bochecha, sussurrando em meu ouvido. —Não
demore muito, você sabe o que quero dizer.
—Nós não vamos demorar, — eu prometi a ela do fundo da
minha alma. Foi a coisa mais fácil que eu já disse a minha mãe.

Eles se viraram pelo corredor do andar térreo, as malas


correspondentes rolando silenciosamente. Logan exalou e eu me
inclinei para frente para apertar o botão no elevador.

—Eu já pedi desculpas? — Ele perguntou, gesticulando para eu


entrar antes dele.

—Eu não acredito que você tenha pedido, — eu respondi o mais


educadamente que pude. Nestas circunstâncias, eu estava orgulhosa
de mim mesma. Sim, no meu trabalho, eu tinha que ser capaz de
enfrentar um vulcão em erupção de má publicidade e manter a
calma, manter minha mensagem correta e entregá-la com
autoridade. Mas essas coisas nunca foram pessoais.

Isso era tão pessoal quanto possível.

O elevador deu uma guinada e nos encaramos de lados opostos


do espaço fechado. Ele esfregou a mão na nuca e, pela primeira vez,
notei o quanto ele parecia cansado.

—Eu peço desculpas, Ava. — Logan sacudiu a cabeça. —Não


tenho certeza do que estava pensando.

Depois de um tempo de consideração, levantei minha mão e


estendi para ele. —Perdoado.

Ele pegou minha mão com um sorriso, a deixando cair depois


de um aperto firme. —Eu estou supondo que você vai me fazer pagar
por isso com entrevistas, certo?

—Você nem sabe o quão ruim vai ser para você.


Nós dois estávamos rindo quando as portas do elevador se
abriram no quarto andar, e ele pegou minha mala para mim
enquanto eu pegava a chave do quarto do envelope de papel.

—Essa noite precisa acabar rápido, — eu disse enquanto


colocava o cartão na pequena fenda preta. A luz vermelha ficou
verde e eu girei a maçaneta, abrindo a porta com um puxão
desajeitado.

—Eu vou tentar não ficar ofendido, — Logan respondeu


secamente.

Quando entrei no quarto, vi luzes acesas, e dei um gritinho de


susto quando vi as pontas dos sapatos de alguém. Tênis brancos de
alguém. Assim como na balsa, eu segui olhando para cima, para
cima. Jeans escuros nas pernas compridas e grossas, uma camiseta
de cor sólida sobre um peito largo e um rosto que parecia ter sido
esculpido em granito.

—Matthew, — eu respirei, um sorriso iluminando meu rosto


antes de ver a dureza gelada em seus olhos normalmente quentes.

—Hawkins? — Logan perguntou. —O que você está...? — Então


ele parou como se alguém tivesse puxado o plugue de suas cordas
vocais. —Oh, — ele demorou.

Eu dei um passo em direção a Matthew. —Oh meu Deus, estou


tão feliz por você estar aqui. Isso é uma loucura. Logan estava
tentando me ajudar e...

—E você se esqueceu de me dizer? — ele perguntou, a voz


implacável. Então seus olhos cortaram para Logan. Eu engoli
nervosamente, vendo esta raiva fervilhante zumbindo sob a
superfície de sua pele. Onde estava meu sorridente Matthew? O
Matthew que iria me envolver em seus braços e me dizer que tudo
ficaria bem?

—Matthew, espere, — Logan começou. —Eu juro para você,


isso não é o que parece.

—Você espera que eu acredite nisso? Porque, acredite em mim,


eu ouvi uma variação disso antes na minha vida, — ele disse
baixinho. Então ele riu um som baixo e sem graça. —Essa é ela.
Certo?

Eu olhei para os dois homens gigantescos atualmente sugando


todo o oxigênio na sala. Foi a única explicação para o porquê de eu
não conseguir respirar. —Do que você está falando?

O rosto de Logan endureceu. —Eu lhe disse isso em segredo, e


eu não tinha ideia de que você era o cara. Como eu poderia saber?

—Disser o que em segredo?

Eles me ignoraram.

Matthew deu um passo, e senti o ar ao meu redor pulsar como


uma onda desregrada, fria e gelada e desconfortável. —Saia, Ward.
Agora.

Logan hesitou, me dando um olhar questionador. Mas eu não


reagi. Não foi possível reagir. Meus olhos voltaram para Matthew e
eu queria chorar. Isso parecia ruim. Parecia tão ruim quanto
qualquer coisa poderia parecer. Minhas mãos pressionaram meu
estômago. Se eu pensava que tinha um buraco antes, não era nada
comparado ao que estava acontecendo dentro de mim. O tempo
todo que eu o senti, o presságio, o sentimento nojento, foi apenas
um aquecimento para esse momento.

—Sinto muito, — disse ele, depois abriu a boca para dizer mais,
mas sabiamente fechou a mandíbula quando Matthew estreitou os
olhos perigosamente.

Ele saiu do quarto, a porta se fechou com um estalo agudo, e eu


senti um fluxo de pânico deslizar pelo meu corpo quando percebi
que não tinha ideia do que fazer com Matthew. Nós nunca chegamos
perto de ficar irritados um com o outro, muito menos raiva real e
justificada.

—Como você entrou aqui? — Eu perguntei baixinho.

—Sério, essa é a primeira coisa que você quer saber agora? —


ele perguntou. —Vamos começar com quanto tempo você está
mentindo para mim? Eu gosto mais dessa pergunta.

Minha garganta se fechou com a vergonha, meu nariz formigou


quando eu procurei por palavras.

—Um pouco mais rápido, Ava, — ele disse, com o rosto


vermelho, —porque vai me fazer pensar que você não tem uma boa
história pensada.

Eu o encarei e me forcei a não chorar. —Eu fui pega de surpresa


mais de uma vez hoje à noite, e eu realmente estou farta desse papo
de macho presunçoso batendo no peito e tomando decisões por
mim. Você tem o direito de ficar chateado agora, mas não seja um
idiota.
Matthew cruzou os braços sobre o peito e me observou
impassível. Se não fosse pelo aperto em sua mandíbula dura e o leve
reflexo em suas narinas, eu teria pensado que ele não se importava.

—Tudo bem, — ele disse com firmeza. —Mas, por favor, me


ajude a entender por que minha namorada acabou de entrar em um
quarto de hotel com outro homem, porque eu não estou me sentindo
tão caridoso agora.

Senti um aperto no estômago sobre o quão horrível tudo


parecia, mas eu mantive meu queixo erguido e o encarei. —Eu não
sabia que Logan estaria na balsa. Eu juro para você, eu não sabia. E
eu teria feito ele se virar e voltar se meus pais não tivessem lá
também. Eles queriam conhecer meu namorado, — eu disse
impotente.

Ele exalou com força pelo nariz, um forte aceno de cabeça


erguendo o queixo. —E por que eles pensariam que era Logan?

Matthew

ELA PARECIA INFELIZ. Torturada. No fio da navalha de lágrimas.


Mas eu me preparei, bloqueando cada emoção apertada e as
trancando atrás de uma parede grossa de ferro, porque a sensação
de ver ela passar pela porta com Logan logo atrás dela e ouvir um
sorriso em sua voz, quando a última vez que a vi ela não estava nem
perto de sorrir, me fez sentir como se alguém tivesse atingido minha
garganta e arrancado meu coração em um piscar de olhos.

Sujo e brutal, mas é verdade.


Parecia uma traição. Tinha o cheiro, a sensação, o gosto
metálico de traição, o resíduo pegajoso ao redor de mim, fraude.

—Porque ele veio ao meu escritório no dia em que Ashley


apareceu. O dia em que você me enviou flores.

O dia em seu escritório, ela estava um desastre, mas isso foi há


semanas. Semanas. —E?

Ava uniu as mãos, mas eu ainda podia ver elas vibrando, mesmo
quando os nós dos seus dedos ficaram brancos. —E eu entrei em
pânico porque Ashley sabia que eu estava namorando um jogador.
Logan, — ela tropeçou um pouco sobre o nome dele, e eu tive que
lutar contra o desejo de rasgar alguma coisa apenas para liberar um
pouco da emoção e do fogo dentro de mim, —Logan entrou na
minha sala, e eu entrei em pânico. Eu o apresentei como meu
namorado para que ela desistisse. A última coisa que eu queria era
que ela tivesse um súbito interesse. Eu não estava pronta. Nós não
estávamos prontos.

Eu não conseguia olhar para ela.

Eu não podia olhar para ela sem querer gritar e gritar, exigir
que ela se explicasse de uma forma que não soasse como se ela
tivesse escolhido mentir para mim por semanas. As melhores
semanas da minha vida. As mais felizes. Com ela no centro,
ancorando toda aquela felicidade no lugar.

—Por que você não me disse na época? — Eu apontei um dedo


no ar e ela se encolheu. —Essa é a parte que está faltando.

—Porque eu pensei que seria só isso! — ela explodiu. —Fim da


história, não era grande coisa. Eu nunca tive qualquer intenção de
trazer Logan para cá porque não podia suportar a ideia de estar aqui
com outra pessoa se não pudesse estar aqui com você. Mesmo que
de repente meus pais estivessem se esforçando para descobrir mais
sobre ele.

Eu inclinei minha cabeça para trás e lutei contra a sensação


crescente, a raiva em sua declaração. Porque eu sabia, eu sabia que
seus pais estavam no coração dessa insanidade. Eles tinham sido
desde o primeiro dia. Quando eu olhei de volta para ela, aqueles
olhos verdes estavam brilhando com lágrimas, e isso me fez lutar
uma batalha diferente, resistir a um desejo diferente. Para abraçá-
la. Dizer a ela que ficaria tudo bem. Porque isso não aconteceria.

Ela foi a primeira pessoa que pensei que nunca mentiria para
mim. Não sobre algo assim. Não importava se era só isso. Ou se ela
pensou que esse seria o fim da história. Não foi.

Ela não tinha me contado.

—Então o quê? — Eu perguntei baixinho, mantendo meus


braços firmemente sobre o peito.

—Logan se ofereceu para vir comigo, eu disse a ele que estava


namorando alguém, e que era complicado, mas que não conseguiria
trazer ele comigo. — Ava deu um passo mais perto, e sua coluna se
endireitou, seus olhos claros. —Eu não ia trazê-lo, Matthew. Ele
apareceu por conta própria, pensando que ia me ajudar, não sei,
alguma ideia errada de cavaleiro branco porque ele tem problemas
familiares. Eu não sei, — disse ela, visivelmente frustrada. —Eu não
posso ler a mente de Logan, mas eu não sabia que ele estava vindo.
Pergunte a ele da próxima vez que você o vir. Eu não fazia ideia de
que meus pais estariam na mesma balsa conosco. M-meu pai fez uma
cirurgia de última hora, e eles tiveram que cancelar o voo. Pergunte
a ele! Como ele estava aqui, decidi que o mandaria para o seu
próprio quarto mais tarde, e ele pegaria a balsa amanhã de manhã.
Eu diria a minha família que ele ficou doente, e eu e você poderíamos
lidar com nossas próprias coisas no futuro.

Eu balancei a cabeça lentamente, mas por dentro, a raiva se


transformou em algo completamente diferente. Eu sabia por que
Logan tinha aparecido. Ele me disse. Ela era a mulher pela qual ele
tinha sentimentos, a mulher que ele conhecia e estava namorando
outra pessoa, e ele se recusou a deixar passar a chance.

O que ele disse a ela?

Como ele a tratou?

Tocou nela?

Flertou com ela?

Ela tinha deixado?

—Matthew, por favor, diga alguma coisa, — ela implorou,


dando um passo hesitante em minha direção. —Você está ouvindo
o que estou dizendo? Sim, foi estúpido não contar a você, e me
desculpe, mas pareceu tão, tão pouco importante na época.

Meu rosto era de pedra. Meu estômago estava ácido. Minha pele
estava em chamas.

Essa era a única coisa que ninguém te contava sobre ser


enganado, sobre as pequenas coisas, as coisas que se somam, que se
tornaram bolas de neve, que crescem e crescem até que aquela
mentira branca se torne uma gigantesca parede de gelo. Deve ser
gelado. Me sinto gelado.

Mas o orgulho cortante era quente e ardente, uma trilha de


magma laranja brilhante que queimava lentamente e que você não
pode parar, e deixa um rastro de cinzas para trás, que você sente em
sua boca por muito mais tempo do que você gostaria.

Me inclinei em direção a Ava e senti uma pequena e egoísta


pontada de satisfação por que ela ter se afastado do que viu no meu
rosto. —Não teria sido sem importância para mim. Isso é o que você
está esquecendo. Isto não é apenas sobre você, o que você sente, o
que você quer e o que você sente que eu estou pronto para saber.

Ava mordeu os lábios e me observou, seu peito arfando em


respirações curtas. De alguma forma, ela manteve as lágrimas em
seus olhos, mas elas estavam lá, ameaçando transbordar em suas
bochechas. Era como se ela soubesse que, se eu a visse chorar,
suavizaria, estenderia a mão para ela, e agora, estava muito
chateado e me sentindo traído demais para deixar isso acontecer.

—Você falou com Logan sobre isso depois daquela primeira


vez?

Quando ela não respondeu, quando seus olhos verde-jade se


desviaram de mim, perdi o fôlego. Porque essa foi a minha resposta.

—Quantas vezes? — Eu perguntei.

Ela engoliu em seco. —Duas vezes. Depois daquela primeira


vez.
Eu balancei a cabeça, olhando para a minha mochila. A que eu
tinha preparado achando que poderíamos nos esconder no quarto
quando ela não precisasse estar com sua família. Foi estúpido.
Fretar um avião para encontrar ela aqui, foi estúpido. Subornar a
pessoa da recepção com bilhetes para que eu pudesse surpreender
a minha namorada em seu quarto, foi estúpido. Vir aqui para dizer a
ela que eu estava apaixonado por ela era a ideia mais idiota de todas.

Porque eu pensei que poderia prever tudo o que ela faria, e


como ela reagiria. Ela deveria voar para os meus braços, com uma
chuva de beijos no meu rosto e me agradecer por estar aqui com ela.
Mesmo que eu não pudesse ir à cerimônia, ela diria que me amava
também.

Em vez disso, ela entrou no quarto com outro homem.

—Eu vou embora, — eu disse baixinho. —Eu não posso fazer


isso agora. Aqui não.

—Matthew, por favor, — ela implorou, finalmente ocupando a


lacuna entre nós, colocando as mãos em meus braços. —Eu entendo
porque você está furioso, eu entendo. Mas vamos lá, você poderia
ter falado comigo sobre querer vir pra cá.

—Falado com você? — Eu disse incrédulo. —Falar com você.

Ela piscou com o tom áspero da minha voz.

—Com isso eu presumiria que você estaria realmente disposta


a falar sobre sua família comigo. Você tem alguma ideia de como
estou frustrado, Ava? Eu quis falar sobre essas coisas com você por
semanas, e você evitou isso o tempo todo.
Ava não discutiu, mas eu podia ver a crescente frustração nos
seus ombros e na sua mandíbula.

—Você pode me culpar por não querer ter essa conversa? —


ela perguntou, gesticulando entre nós.

—Não, — eu disse honestamente, e ela recuou com óbvia


surpresa. —Eu entendo. Eu entendo que existem coisas na vida que
são um saco e que são difíceis de discutir, difíceis de resolver. Eu
entendo porque você não queria falar sobre isso. Mas achei que
tínhamos algo entre nós que tornava suportável passar por essas
coisas. Que nós tínhamos o tipo de relacionamento onde você me
deixaria carregar um pouco desse fardo para você, Ava.

—Nós temos isso, — disse ela em uma corrida, vindo em minha


direção novamente. —Matthew, nós temos, eu apenas...

Eu levantei minha mão e ela parou. Talvez não tenha sido justo.
Talvez tenha sido cruel. Mas naquele momento, eu não conseguia
lidar com verdades mais convenientes ou explicações razoáveis
para o motivo de me sentir tão enganado por ela.

—Eu não posso fazer isso agora, Ava, — eu disse baixinho,


então me inclinei para pegar minha bolsa e me afastei dela.

Eu abri a porta e parei brevemente.

Com a mão levantada no ar estava a mãe de Ava e não muito


atrás dela, seu pai olhando para o telefone com uma expressão
entediada no rosto.

Nós dois congelamos, seus olhos se arregalaram em seu rosto


quando ela percebeu quem eu era.
—M-Matthew Hawkins? — ela assobiou. —Ava, o que diabos
está acontecendo?

Meu coração congelou no meu peito. Antes que alguém pudesse


reagir, a mãe de Ava me empurrou de volta para o quarto e deu a
seu marido um comando sussurrado para entrar no quarto e fechar
a porta.

—Hey, — eu disse indignado, meio chocado que ela fosse capaz


de me empurrar para trás.

—Mãe, papai, — Ava gaguejou. —O que vocês estão fazendo


aqui?

O Dr. Baker olhou para trás e para frente entre a filha e eu, com
o rosto vermelho. Sua esposa estava de boca aberta para mim, a boca
aberta como a de um peixe.

—Você não apareceu para beber, então nós viemos para buscar
você e... — Sua voz sumiu quando ele percebeu a expressão
poderosa no meu rosto. Ele limpou a garganta.

—O que ele está fazendo aqui? — A mãe de Ava disse.

—Eu tenho um nome, — eu a lembrei friamente.

Seus olhos se voltaram para mim, depois de volta para sua filha.
Eu tinha sido dispensado. Eu coloquei minha língua sobre os dentes
e segurei a alça da minha mochila com mais força.

—Mãe, — começou Ava, —houve um enorme mal-entendido.

—Isso é uma piada doentia? — ela interrompeu.


Ava balançou a cabeça devagar. —O que você quer dizer?

—Isso é sobre arruinar o dia da sua irmã? — ela acusou,


apertando a mão em seu peito. —Ava Marie, se você trouxe ele aqui
para causar problemas...

—O quê? — Ava engasgou.

—Você está brincando comigo? — Eu gritei, incapaz de assistir


mais isso. —Você realmente acredita que ela é capaz de algo assim?
Você não sabe nada sobre ela.

O rosto de Ava suavizou instantaneamente, mas eu ainda mal


conseguia olhar para ela. Só porque eu estava chateado como o
inferno não significava que eu deixaria eles fazerem isso na minha
frente.

O Dr. Baker levantou as mãos. —Agora, vamos apenas nos


acalmar. Matthew, esta é uma questão familiar.

—Não me fale sobre o que eu acredito, ou o que eu sei, —


interpôs a esposa. —Ela é minha filha, e o que diabos te faz acreditar
que você pertence a essa conversa?

Eu esfreguei minha testa cansadamente. —Você é


inacreditável. Nem tudo é sobre Ashley, você sabe.

O Dr. Baker resmungou alguma coisa em voz baixa, e sua esposa


deu a ele um olhar reprimido.

Ela virou seus olhos frios de volta para mim. —Você precisa sair
deste quarto, Matthew, agora mesmo.
Eu cruzei meus braços e dei a ela o olhar que eu só usava nos
dias do jogo. Eu não era o garoto que ela conhecera há dez anos, e
gostaria de ver ela tentando me empurrar para fora do corredor
agora.

—Abigail, — disse o Dr. Baker em voz baixa.

—Você acha que eu não chamaria a segurança? — ela estalou


para mim.

—Mãe, — disse Ava. —Por favor, pare de gritar com ele. Ele é...
ele é...

—Ele é o que? — ela sussurrou perigosamente.

Ava inalou lentamente, exalou uma respiração pesada. —Mãe,


é só... não é o que você pensa.

O ar saiu dos meus pulmões, duro e pesado. Demorou um


segundo para Ava perceber como isso soava. Que durante um
momento Ava poderia ter agarrado minha mão e contado sobre o
nosso relacionamento, ela usou a mesma linha que foi pronunciada
quando a encontrei com Logan.

Um erro. Um mal-entendido. Isso não foi nada. Ela ofegou e se


aproximou de mim.

—Matthew, — ela sussurrou freneticamente.

Qualquer coisa quente ficou gelada. Senti os portões baterem


quando a geada subiu em teias de aranha.

Virei a cabeça por cima do ombro e dei a ela uma última olhada.
—Ela está certa, Sra. Baker. Não é o que você pensa. — Eu passei por
eles sem outras palavras, ignorando qualquer comoção que
aconteceu no meu caminho. —Não o que eu pensei, aparentemente.
E U CORRI ATRÁS DELE , ignorando a tentativa da minha mãe de
pegar meu braço e o protesto do meu pai... Eu nem sabia.

—Matthew, espere. Por favor, espere um segundo— - gritei


pouco antes dele virar o corredor. Sua estrutura era rígida, mas ele
parou.

Eu me aproximei dele cautelosamente com as mãos levantadas.

—Isso soou tão horrível, — eu sussurrei, desesperadamente


querendo colocar minhas mãos em suas costas largas. —Eu sinto
muito que tenha soado tão horrível. Você sabe que eu não quis dizer
isso.

Finalmente, ele se virou. Era lento e constante, sem pressa para


encontrar meus olhos ou ver qualquer que fosse o olhar congelado
no meu rosto.

—Eu sei? — ele disse.

Minha respiração estava tremendo. Meu corpo estava


tremendo. Ele estava bem na minha frente, mas eu podia ver ele se
esvaindo. —Me diga o que fazer para consertar isso.

Seus olhos procuraram meu rosto quando perdi a batalha com


minhas lágrimas. Sua mandíbula apertou quando cada uma deslizou
silenciosamente pelas minhas bochechas.
Matthew falou em voz baixa e deliberadamente. —Agora, você
não pode. Não enquanto estivermos no corredor com eles
esperando por você. Agora preciso de tempo. Porque mesmo que eu
entenda como todas essas peças de dominó caíram - incluindo
aquelas sobre as quais você não teve controle - isso não muda o fato
de que eu fretei um avião até aqui para que eu pudesse olhar nos
seus olhos quando eu dissesse que eu me apaixonei por você. E em
vez disso, eu te encontrei em um quarto com outro homem, e então
fui tratado como um segredo sujo na frente de seus pais, que são a
única razão de você ser tão retraída e eu não conseguir que você
falasse comigo em primeiro lugar.

Um soluço escapou dos meus lábios, e eu pressionei a mão na


minha boca para que eu pudesse manter todos os outros dentro, os
que sufocavam minha garganta e enchiam meu coração.

—Matthew, — eu disse em uma voz miserável, cheia de


lágrimas. Eu queria dizer a ele que eu tinha me apaixonado por ele
também, que eu não podia imaginar meu futuro sem ele, mas eu
tinha fodido tudo, tanto que tudo que eu podia fazer era ficar na
frente dele e chorar.

Ele levantou a mão e usou a ponta de um polegar para enxugar


as lágrimas do meu rosto. Meus dedos pressionaram mais forte os
meus lábios para que eu não agarrasse sua mão e me recusasse a
soltá-la.

Eu não podia deixar ele sair sem dizer alguma coisa, de alguma
forma, o deixando saber o incrível espaço que ele ocupada dentro
do meu coração.

Ele baixou a mão e pegou a mochila.


—Matthew, por favor, estou me...

—Pare, — ele disse instantaneamente, duramente, sua testa


enrugada e curvada com desconforto. —Não assim, Ava, por favor.

Eu funguei ruidosamente, e minha cabeça balançou em um


aceno de trêmulo. Quando ele se virou e foi embora, fiquei congelada
no lugar até ouvir o barulho do elevador.

Meus pais estavam conversando um com o outro quando eu


voltei para o meu quarto, mas não consegui ouvir uma palavra. Meu
cérebro foi abafado com algodão, todas as suas sílabas e irritação e
confusão sangrando juntas em um som longo e dissonante.

Todas as palavras que saíram, pintaram uma imagem tão


superficial que eu pude ver através dela. Certamente não me
ajudaram a me firmar em nada.

Era frágil. Sem substância.

Quando eu fechei meus olhos e imaginei seu rosto, meu coração


apertou tão dolorosamente, eu me preocupei por um momento que
eu desmaiasse.

—Ava Marie, você está ouvindo? — minha mãe assobiou,


agarrando meu braço e me puxando de volta para o meu quarto. Me
soltei do aperto de seus dedos ossudos e ela colocou a mão em seu
peito, em choque. —É melhor você começar a falar, mocinha.

—Isso é loucura, — meu pai resmungou.

—Apenas parem de falar, — eu sussurrei. —Só por um segundo


enquanto tento respirar.
A tagarelice deles havia secado minhas lágrimas, mas todo o
meu corpo tremia. Me sentei na beira da cama king-size, apoiei meus
cotovelos nos joelhos e passei os dedos pelos cabelos. Durante um
segundo da minha respiração profunda, percebi que eles tinham me
escutado.

Quando levantei a cabeça, meus pais me olhavam com uma


estranha mistura de aborrecimento, raiva e incredulidade em seus
rostos.

—Bem, — meu pai disse, acenando com a mão em direção à


porta. —Se importa de explicar por que o namorado da sua irmã da
época da faculdade estava no seu quarto de hotel? E onde diabos o
seu namorado está?

Eu olhei para ele, tentando formar palavras que fizessem


sentido. E eu não pude fazer isso. Por onde eu começava? Eles nem
se importariam com a verdade.

Os olhos estreitos de minha mãe me observaram com cuidado,


analisando o que ela tinha visto e o que ela tinha ouvido. Depois de
apenas alguns segundos, a observei encaixar todas as peças sem que
eu precisasse dizer alguma coisa. Seu rosto se suavizou e ela exalou
devagar.

—Me deixe lidar com isso, Alan.

Surpreendentemente, ele fez. Ele franziu os lábios e sacudiu a


cabeça.

—Honestamente, Ava, os detalhes não importam. — Ela passou


as mãos pela frente do seu terninho, efetivamente se livrando do que
havia acontecido. —Eu não sei o que aquele homem estava fazendo
aqui, mas é óbvio, em retrospecto, que—

—Aquele homem? — Eu repeti em voz baixa, olhando para ela.


—Aquele homem? Vocês amavam o Matthew. Ela o traiu quando eles
deveriam se casar, e agora você está se referindo a ele como aquele
homem?

Minha mãe riu baixinho, levantando a mão quando meu pai


começou a falar.

—Ava— - ela balançou a cabeça lentamente - —se você tiver


filhos algum dia, você vai entender como é, ok? A realidade é um
pouco diferente para nós do que para você. Claramente. — Seu tom
sarcástico arrepiou os pelos dos meus braços e meus dedos se
fecharam em punhos. —Seu relacionamento pobre com Ashley
nunca foi um segredo, mas eu juro para você agora que, se você
estragar este fim de semana para ela por causa do que quer que você
esteja fazendo com ele, seja qual for a razão pela qual ele esteve aqui,
eu nunca vou te perdoar.

Ah sim, minhas lágrimas já tinham secado. No lugar delas havia


uma estranha dormência. Eu não conseguia nem encontrar a força
para me irritar, qualquer fragmento de indignação ou de encontrar
uma defesa para mim. A apatia parecia um cobertor pesado naquele
momento. O tipo que você se enterra quando não consegue dormir
e espera que isso o deixe com uma falsa sensação de segurança.

—Você nunca vai me perdoar, — repeti em uma voz oca.

—Nem uma palavra para ela sobre isso, Ava, — continuou ela.
—Você me entende?
Meu pai estava olhando para o chão, os braços cruzados sobre
o peito. O rosto da minha mãe estava corado, só um pouquinho, e
inclinei a cabeça para estudá-la. Eu não me parecia em nada com ela.
Não tinha o cabelo dela, ou os olhos, ou o jeito que o nariz dela fazia
uma revirada fofa na ponta.

Todas as ilusões que tive sobre este final de semana foram


cortadas. Como balões liberados no grande céu vazio com um corte
preciso de tesouras afiadas.

Corte.

Corte.

Corte.

—Eu te entendo perfeitamente, — eu disse calmamente. O


duplo sentido das minhas palavras foi perdido para ela.

Ela se endireitou com mau humor. —Bom. Agora estamos


atrasados para as bebidas. É por isso que viemos ao seu quarto em
primeiro lugar. — Ela me deu um olhar superficial. —Agora, limpe
seu rosto e endireite sua camisa. E belisque suas bochechas para
ficar com um pouco de cor. Você irá.

Eu ri, e o som fez meu pai virar a cabeça pela primeira vez em
minutos. —Eu não vou descer para bebidas.

—Oh sim, você vai.

—Abigail, — meu pai disse baixinho, mas com firmeza.

Eu me levantei da cama e respirei fundo. —Não, mãe, eu não


vou. Eu estarei na cerimônia. Vou manter um sorriso no rosto
porque não sou como Ashley. Eu vou engolir tudo isso e não vou
fazer uma cena como ela teria feito se os papéis fossem invertidos.
Do tipo que você toleraria se fosse ela. O tipo que você justificaria se
fosse ela.

A boca da minha mãe se abriu como se fosse um peixe preso em


um gancho, e meu pai fez uma careta.

—Mas esta noite, — eu continuei: —Pedirei, pelo menos, uma


garrafa de vinho obscenamente valioso do serviço de quarto, e,
provavelmente um bolo de chocolate, para que eu possa chorar
porque me fodi muito hoje à noite com alguém muito importante
para mim, eu vou colocar tudo isso na conta deste quarto que você
está pagando, e você não vai brigar comigo nem um pouquinho.

Havia um ditado que dizia que um soldado inteligente sabia


quando recuar. E meus pais não eram idiotas. Um olhar prolongado
para o meu rosto, que provavelmente se assemelhava a um
guaxinim manchado de rímel, e eles começaram a sair do meu
quarto.

Meu pai se virou antes de sair e abriu a boca para dizer alguma
coisa, mas eu levantei a mão. —Não hoje à noite, papai. Apenas... não
esta noite.

Meu pai, eu me parecia com ele. Eu tinha o mesmo nariz reto


como lâmina. Os mesmos olhos. O mesmo sorriso, quando ele o
usava. Olhando para ele na porta, eu não tinha certeza se poderia
identificar o que eu vi em seu rosto, mas eu me recusava a chamar
de algo parecido com pena, porque eu perderia o tênue aperto nas
minhas estranhas emoções.
Vergonha.

Embaraço.

Desespero.

Dor.

Amor.

Desapontamento.

Raiva.

E nada. Nada.

Eu mal podia processar todas as coisas que eu tinha sentido na


última hora, na semana passada, ou no mês, muito menos tentar
nomeá-las e ser mentalmente saudável sobre isso.

Daí o bolo de chocolate e o vinho.

Eu coloquei meu pijama para esperar meu pedido. Eu assinei a


conta com um sorriso falso. Eu me arrastei para a minha grande
cama vazia, bebi direto da garrafa, e comi o bolo com as mãos como
apenas os de coração partido fazem.

Depois de uma garrafa, olhei para as minhas mensagens de


texto com Matthew e tentei não chorar feias e gordas lágrimas. No
meu estado de embriaguez, imaginei que minhas lágrimas fossem
belas trilhas brilhantes descendo pelo meu rosto. Eu disse a mim
mesma que ligar para ele era uma péssima ideia. Eu nem sabia se ele
tinha conseguido sair da ilha. Ele poderia ter caminhado cinco
minutos e encontrado um hotel diferente para ficar. Ele poderia ter
fretado um avião ou um helicóptero para levá-lo de volta a Seattle
(Oh, as alegrias de ser obscenamente rico).

Eu rolei de costas, telefone acima de mim e me acomodei para


mandar uma mensagem. Apenas uma. Apenas um pequeno texto
para ele acordar.

Foi quando eu quase o perdi. Porque se ele tivesse voltado para


Seattle, eu sabia que ele estaria em sua cama. Eu sabia como ele
estava deitado - de costas com as mãos cruzadas sobre o estômago,
porque isso era o melhor para suas costas - e eu sabia a que horas
ele deitava a cabeça naqueles fantásticos e caros travesseiros. E todo
o meu corpo latejava com a falta dele. Com a realidade do que
aconteceu em apenas uma curta noite da minha vida.

Eu: Sinto sua falta. Eu sinto muito. Eu sou horrível, e eu


odeio tudo isso, e sim, talvez eu esteja bêbada, mas ainda assim
tudo isso é verdade.

Eu: Eu odeio estar neste lugar sem você. Em qualquer lugar


sem você, realmente.

Eu: Merda. Eu disse a mim mesma que só enviaria uma


mensagem e agora estou na número 3, e pareço uma cadela
egoísta. Irônico, né? Eu entendo se você precisar ficar com raiva
de mim por um tempo. Mas não terminamos, Matthew.
Ninguém sente o que sentimos um pelo outro e termina assim.
Não desse jeito.

Eu: Eu mencionei que sou horrível e sinto muito? E que


estou bêbada? E que eu sinto sua falta?
—Bem, — eu murmurei, jogando meu telefone no lado vazio da
cama. —Isso se intensificou rapidamente.

Por um momento, eu olhei para a segunda garrafa de vinho,


aquela que custou aos meus pais alguma coisa na faixa dos sessenta
dólares, e decidi ficar com pena de mim no futuro, então me levantei
e tomei um pouco de água, depois caí de costas na cama.

Os lençóis estavam frios. Meu travesseiro também estava. Mas


com um suspiro pesado, consegui me enrolar e adormecer.

N A MANHÃ SEGUINTE , fiz uma excelente imitação de um robô-


Ava. Eu acompanhei minha irmã enquanto ela voava de um lugar
para o outro, escapando com sucesso, antes que ela pudesse me
envolver em uma conversa. Ajudei o coordenador do evento a
amarrar fitas de marfim ao redor das cadeiras brancas e brilhantes
na grama verde-esmeralda, com vista para a água de safira da baía,
apoiada pelo cinza, marrom e branco das montanhas.

A vista era perfeita.

Eu era um desastre.

Meu telefone permaneceu em silêncio.

Um sorriso ficou estampado no meu rosto.

No interior, meu coração e estômago estavam em volta um do


outro.
Minha cabeça estava nas nuvens, pensando em Matthew.

Quando o local estava pronto, eu fiquei no saguão até minha


mãe me dar um olhar de aviso, e então eu caminhei serenamente
para o meu quarto para ficar apresentável.

Quando eu puxei o vestido azul marinho de chiffon, estilo grego


com um ombro só do cabide, eu suspirei. Enquanto eu me esforçava
para fechar a lateral, apertei o cinto preto em volta da minha cintura,
e calcei meus sapatos nude, percebi que este fim de semana era uma
farsa gigante.

Quando habilmente arrumei meus cabelos bagunçados, eu


sabia que qualquer estresse que eu tive sobre essa minúscula
quantidade de horas não significava nada. O pressentimento que eu
tive era um cavalo de Tróia.

A verdadeira questão - enfiada dentro e esperando para atacar,


arrasar minha cidade até o chão - estava fora da cerimônia, fora dos
meus pais, fora de Ashley.

E tudo centrado nos meus problemas.

Eu fechei partes grandes e importantes de mim para um


homem que me amava porque eu nunca aprendi a ser amada da
maneira certa. A maneira saudável, que perdoa e aceita. Na minha
frente, eu tinha alguém que era todas essas coisas, e engoli verdade
após verdade, em vez de arriscar ter conversas desconfortáveis com
ele, onde talvez eu não soubesse a resposta.

Saí do meu quarto, com a clutch preta na mão e a cabeça reta, e


fiz meu caminho. O tempo estava como se minha irmã tivesse
encomendado - leve brisa, sol forte e temperatura perto dos 21
graus. Foi uma reunião pequena, não mais que vinte e cinco pessoas,
e eu só reconheci a terrível irmã de minha mãe, Ellen, que não falava
com Ashley ou comigo desde que eu usava fraldas.

Talvez ela estivesse sob as mesmas ordens que eu. Apareça,


coloque um sorriso no rosto e não incomode Ashley. Eu sentei na
minha cadeira enquanto meus pais tomavam seus lugares ao meu
lado, na primeira fila. Eu assisti Adam tomar seu lugar na frente, sob
um arco de madeira simples coberto com rosas marfim e brancas.

Ashley usava um vestido branco e deslizava pelo corredor


como se ele fosse feito de ouro e glitter, forrado com a aprovação do
mundo.

Mas ela parecia feliz.

Eu tive que morder meus molares para não chorar.

Quando ela se aproximou de Adam, que tinha o mesmo cabelo


dourado e brilhante que ela, ela estava radiante.

Era quase demais. Meu pai colocou a mão nas minhas costas
como se soubesse que eu estava pensando em me jogar e me deu um
leve sacudir de sua cabeça.

—Agora não, Ava, — ele sussurrou. —Só um pouquinho mais.

Mordi o lábio e aguentei seus votos floridos, passei pelo beijo


surpreendentemente apaixonado e pela saída triunfante pelo
corredor, onde o jantar de quatro pratos nos esperava, no interior
do hotel.

Antes de sairmos atrás deles, meu pai passou o braço em volta


das costas da minha cadeira e inclinou a cabeça na direção da minha.
—Garota, eu não sei o que aconteceu ontem, e você não precisa
me dizer se não quiser. Mas eu estou orgulhoso de você por ter
batido o pé.

Eu levantei meus olhos para os dele. O atendente fez sinal para


que deixássemos nossos assentos, e eu o fiz, minha mente correndo.
Chegamos ao final do corredor onde Ashley e Adam estavam
posando para algumas fotos. Minha mãe não olhou para mim nem
uma vez.

Eu me virei para o meu pai e dei a ele um olhar questionador.


Ele esfregou a nuca, claramente desconfortável.

—Eu gostava de Matthew, — ele disse baixinho. —Mas ele não


era o cara certo para a sua irmã.

Eu bufei. Então eu suspirei cansadamente. —Por que você está


me dizendo isso agora, pai?

—Sua irmã... sua irmã sempre foi exatamente como eu. Gostava
das mesmas coisas. Nunca nos surpreendeu. — Ele me deu um breve
olhar, em seguida, seus olhos se afastaram novamente. —Você era o
oposto, desde o momento em que soubemos que você estava vindo.
E eu nem sempre soube - ele fez uma pausa e limpou a garganta -
como lidar bem com isso. Os médicos geralmente não sabem. Nós
gostamos de estar certos, de ter certeza.

Eu soltei uma respiração lenta e olhei para as montanhas. Eu fiz


isso o dia todo sem chorar e não queria começar agora. —Onde isso
me deixa? O que devo dizer sobre isso?

Ele ergueu o queixo em saudação quando alguém chamou seu


nome.
—Nada, se você não quiser. Eu só queria dizer isso. Porque do
jeito que você lidou com tudo hoje, você não herdou isso da sua mãe
ou de mim. Isso é tudo você, o que você é. E isso é uma coisa boa.
Significa que não estragamos essas partes surpreendentes de você.

Eu abri minha boca para responder quando Ashley se


aproximou e me segurou em um abraço apertado.

—Você está linda, — ela disse, então se virou quando eu não


respondi. —Bem? Eu acho que eu também.

Eu não pude deixar de sorrir para sua caçada por elogios sem
vergonha. —Você está bonita. E feliz, — acrescentei depois de uma
pequena pausa.

Ashley inclinou a cabeça. —Claro que estou feliz.

—Fico contente.

Minha mãe se aproximou de nós, me observando atentamente.

—Ei, cadê o Logan? — Ashley perguntou, olhando em volta.

Eu abri minha boca, mas não havia palavras lá.

—Eu disse a Adam que ele poderia finalmente encontrar


alguém para jogar golfe quando vocês viessem para casa no Natal,
— ela falou, completamente alheia à minha falta de resposta. Seus
olhos percorreram o grupo de pessoas. —Sério, porém, para onde
ele foi? Vocês já perderam as bebidas ontem à noite.

Minha mãe se aproximou de nós, seus olhos se estreitaram em


minha direção. Não se atreva. Eu ouvi isso tão claramente como se
ela tivesse dito em voz alta.
No meu peito, meu coração tamborilou rapidamente. Chega de
mentiras. Eu me recusava a mentir mais. Não foi algum senso de
honra ou desejo de reconstruir um relacionamento com Ashley que
me fez decidir pela honestidade. Foi por causa de Matthew. Ele
merecia minha honestidade. Ele merecia muito mais do que o jeito
como eu lidara com essa situação.

—Ashley, — eu comecei.

Minha mãe correu para frente, segurando meu braço com força
contundente. —Ashley, precisamos de fotos de família enquanto a
luz está boa. — Com o lado de sua boca, ela sussurrou para mim, —
Não agora, Ava.

Ashley olhou para nós com curiosidade, depois revirou os


olhos. —Tanto faz. O Logan vai estar nas fotos conosco? Quero dizer,
ele com certeza parecia sério sobre você. Tudo bem para mim incluir
ele nas fotos, desde que tiremos algumas fotos sem ele, você sabe,
só por precaução.

Eu ri, depois ri ainda mais, o que fez minha mãe parecer que
estava a um passo da histeria. Ashley me deu um olhar estranho.

Usando meus dedos para esfregar minhas têmporas, respirei


fundo. —Não, Ashley, Logan não estará nas fotos da família. E agora,
eu também não estarei. —

—O quê? — eles estalaram em uníssono.

Eu exalei, sentindo um peso enorme sair dos meus ombros. —


Eu preciso ir.

—Agora? — Ashley zombou. —Isso é deselegante.


—Você pode estar certa. — Eu a beijei na bochecha e dei a
minha mãe um sorriso apertado. —Mamãe pode explicar onde está
Logan. Certo, mamãe?

Sua boca estava aberta e alguns ruídos estranhos saíram. Dei a


ela um beijo no ar também, dei um tapinha no ombro do meu pai e
marchei de volta para o meu quarto.

Eu tinha uma balsa para pegar.


HAVIA lados positivos em ter seu coração partido pela última
pessoa que você imaginava. Eu era o primeiro a chegar na sala de
musculação. O último a sair. Nos últimos dois dias, os caras pareciam
sentir que algo dentro de mim estava morrendo de vontade de ser
desencadeado porque mantiveram uma boa distância.

Talvez fosse porque eu usava fones de ouvido constantemente


enquanto treinava, exceto quando nós jogávamos, mas também
poderia ser pelo olhar no meu rosto que era assassino.

As mensagens de texto de Ava bêbada não ajudaram.

Elas pioraram, o que tenho certeza, foi o oposto de sua intenção.


Vendo suas palavras em preto e branco, me lembrando de quantas
oportunidades ela teve para me dizer a verdade e quantas vezes ela
as ignorou. Me lembrando da maneira como tudo se desenrolou em
seu quarto de hotel, tive que lutar para não jogar meu telefone
contra a parede.

A mesma coisa quando ela tentou me ligar no domingo. Duas


vezes. Ambas as vezes, eu a mandei direto para o correio de voz
porque eu só... Eu não estava pronto.

Na segunda-feira seguinte à nossa briga, o primeiro dia de


trabalho oficial em que eu poderia encontrá-la, deixei meu
apartamento de madrugada para poder suar minhas frustrações
quando ela aparecesse. O corredor para a sala de musculação não
era escuro, mas era silencioso, silencioso como caminhar por uma
igreja.

Eu estava escolhendo músicas no meu celular, pronto para


deslizar meus fones de ouvido do pescoço para as orelhas e ouvi o
som de saltos batendo nervosamente no chão. A próxima música era
zangada e alta, era a música perfeita para levantar pesos pesados,
para dar socos e aumentar minha frequência cardíaca. Não tão
perfeita para conversar.

Eu olhei para cima, e ela estava encostada na parede do outro


lado da sala de musculação, segurando uma xícara de café em suas
mãos. Como eu estava andando em silêncio, sem querer perturbar o
silêncio, ela ainda não tinha me visto. Seu pé, cruzado por cima do
outro, bateu ritmadamente contra o chão brilhante.

O fato dela parecer normal, linda, polida e arrumada me irritou.


Onde estavam os círculos escuros sob os olhos dela? Como os que
estavam debaixo dos meus, os que escureciam a cada noite agitada
em que eu me virava e olhava para o teto, embora eu tivesse
exercitado meu corpo à beira da exaustão por três dias seguidos.

Eu exalei pesadamente e sua cabeça se levantou.

—Matthew, — ela disse nervosamente, lambendo os lábios.

—Não aqui, Ava, — eu disse a ela. Eu comecei a ir para a sala de


musculação. Apenas estar tão perto dela enquanto eu ainda estava
chateado fazia meu coração pular no meu peito.

—Por favor, você pode me dar apenas cinco minutos? — Ela se


moveu para que eu não tivesse escolha a não ser parar. Eu poderia
passar em torno dela ou tirá-la do meu caminho, e ela sabia que eu
também não faria isso.

Meus olhos se fecharam enquanto eu lutava para manter minha


raiva sob controle. Manter minha mágoa em cheque.

Suas mensagens me diziam que estava tudo bem se eu estivesse


bravo com ela, como se eu precisasse da sua permissão para ficar
chateado com o fato de que minha namorada mentiu para mim
sobre outro homem. Como se eu precisasse da sua permissão para
ficar realmente chateado com o fato de que minha namorada agiu
como se tivesse sido pega pelos pais dela, quando eu era quem
sempre a apoiava.

Quando abri os olhos, dei a ela um olhar de advertência. —


Agora não. Eu preciso começar a trabalhar.

—São seis da manhã, Matthew, e somos os únicos aqui. — Seus


olhos eram grandes e suplicantes, e agora que eu estava mais perto,
pude ver além de seu rosto habilmente maquiado. Havia bolsas sob
os olhos dela que eu não estava acostumado a ver. Porque ela tinha
chorado, eu tinha certeza.

Porque ela foi pega? Porque ela estava realmente arrependida?

Se eu estivesse disposto a desenterrar toda a merda que eu


estava sentindo no corredor tranquilo, eu poderia ter lhe dado dez
minutos. Eu poderia ter voltado para o escritório dela e fechado a
porta. Cavando sob isso, eu sabia que a minha versão sensata odiaria
que ela chorasse. Odiava que ela estivesse sofrendo.

Mas eu ainda estava realmente com raiva do que ela fez. E eu


não estava pronto para deixar isso de lado ainda, ou ser o cara que
só levava as coisas no ritmo dela ou discutia as coisas que ela queria,
quando ela queria. Eu já tinha feito isso e olha onde isso tinha nos
levado.

—Eu não me importo se somos os únicos aqui, — eu disse a ela.


Ela recuou, com o gelo no meu tom de voz. —Eu não vou dizer de
novo, Ava. Agora não. Eu não estou pronto para fazer isso, ok?

Quando ela não se moveu, seus pés firmemente plantados no


corredor e seu queixo levantado por teimosia, eu me movi para o
lado e passei ao lado dela.

Sua mão agarrou meu braço e eu girei.

—Droga, Ava, — eu gritei. A sensação de sua pele na minha


acendeu o fusível de espera, como gasolina, acendendo
instantaneamente. —Eu tenho uma palavra a dizer sobre isso
também. Você não consegue forçar sua linha do tempo em mim. Não
agora.

Ela soltou a mão e recuou, o rosto branco. Todo o meu corpo


estava tremendo daquela explosão de emoção, e se eu não ficasse
bem longe dela, eu iria perder completamente a cabeça e dizer algo
de que me arrependeria antes de estar pronto para dizer qualquer
coisa.

Mãos raivosas empurraram meus fones de ouvido sobre a


minha cabeça, e eu invadi a sala de musculação vazia. Acendi as
luzes, aumentei minha música e comecei a malhar. Companheiros
de equipe entraram, a atividade aumentou e fiquei concentrado no
que estava fazendo.

Levantar, abaixar, respirar.


Levantar, abaixar, respirar.

Pare e limpe o suor do rosto. Estique os braços. Alongue o


pescoço. Mude a música.

Levantar, abaixar, respirar.

Era a única maneira de evitar que a sensação de explosão se


espalhasse. Minha pele estava desconfortável. Christiansen entrou e
me deu um olhar questionador, já que ele havia se tornado meu
parceiro de levantamento de peso não oficial. Eu balancei a cabeça
e continuei me movendo. Mantive tudo trancado, e trouxe as
correntes mais apertadas ao redor do pulso quente de raiva,
enquanto meu sangue bombeava mais e mais rápido com cada
repetição. Enquanto o suor se acumulava nas minhas costas e
braços, escorrendo pelos lados do meu rosto, eu sabia que não era
suficiente para manter o fogo baixo.

Ava acendeu o pavio, e eu ainda não tinha efetivamente


apagado. Em vez de ser desligado como tinha sido antes, antes de
ouvir ela limpar a garganta e me implorar para perdoá-la, eu estava
simplesmente esperando ferver. O calor estava lá, baixo e discreto,
até que alguém deu a volta para o alto e jogou as chamas de volta
para o meu lado.

Esse alguém acabou por ser Logan.

Ele entrou na sala de musculação e imediatamente seus olhos


me procuraram. Eu estava balançando a cabeça antes que ele
começasse a andar na minha direção. Ele me ignorou, parando na
minha frente enquanto eu terminava minha décima elevação. Eu
mantive minha respiração firme e meus músculos tensos até que eu
pudesse derrubar com segurança a barra no chão, ela saltou aos
meus pés.

Eu lhe dei um olhar morto e me movi ao seu redor. A música


estava rugindo em meus ouvidos, alto o suficiente para que eu
tivesse certeza de que alguém ao meu lado pudesse ouvir.

Ele estendeu a mão e agarrou meu braço. Foi a segunda vez -


duas vezes a mais - que alguém achou que me dar espaço não era
importante. O direito deles desabafarem era uma prioridade maior
do que o meu direito de processar as coisas no meu próprio tempo.

Essa era a única razão que eu poderia dar para eu


imediatamente me virar e empurrar sua mão sem remover meus
fones de ouvido. Seu rosto foi de irritado para bravo.

Lentamente, e só porque ele era um dos capitães da equipe, eu


tirei meus fones de ouvido, mas deixei a música funcionando.

—Eu preciso de um minuto, — ele disse.

—Não, obrigado. — Eu me afastei. —E nunca encoste em mim


de novo, Ward.

Olhos viraram em nossa direção, alguns cautelosos, alguns


curiosos e alguns preocupados. Christiansen se levantou do banco e
nos observou atentamente.

—Ei, — ele disse com firmeza. —Eu disse que preciso de um


minuto. Você pode me poupar disso.

Fechei os olhos e contei até cinco, porque até dez era


impossível. Se ele mantivesse sua boca fechada por aqueles cinco
segundos, eu poderia ir embora. Eu poderia impedir que isso se
transformasse em uma cena.

Exceto por aqueles cinco segundos, eu vi seu rosto quando ele


entrou no quarto de hotel atrás da minha namorada - a mulher que
eu tinha tocado, beijado, que eu tinha dormido por semanas, - com
a intenção de se insinuar em sua vida. De repente, ele se tornou a
razão pela qual toda essa merda tinha acontecido. Ele era a razão
pela qual eu estava com muita raiva. Por que eu estava vindo aqui
ao amanhecer para evitar Ava, porque eu não estava pronto para
ouvir suas desculpas ainda.

—Hawkins, — ele gritou. Minhas mãos se fecharam em punhos.


—Não seja teimoso. Vamos lá fora no corredor.

Meus olhos se abriram e minhas mãos se estenderam para


empurrar ele de volta. Ele tropeçou, não preparado para isso.

—Calma, — alguém disse atrás de nós. —Calma, pessoal.

Logan ficou de pé e andou os passos restantes entre nós. Eu era


mais alto do que ele por alguns centímetros, e eu pesava mais do que
ele, mas quando ficávamos cara a cara, eu tive que tentar não
pestanejar de surpresa. Quando ele falou, sua voz estava baixa. —Eu
vou te dar uma chance. Apenas uma. — Sua boca afinou. —Eu não
sabia que era você, ok? Você acha que eu teria ido se eu soubesse?

—Eu não quero falar sobre isso aqui, — eu disse.

Seus braços se abriram. —Onde você quer falar sobre isso?


Fora, no campo de treinamento? Nos chuveiros? Me dê um minuto,
Hawkins.
Eu o cutuquei no peito e alguém assobiou. —Eu não lhe devo
merda nenhuma porquê da maneira que eu vejo, nada disso teria
acontecido se você tivesse se mantido fora do meu negócio. Se você
tivesse ficado longe dela, nada disso teria acontecido.

Ele riu baixinho. —Você não acha que eu me arrependo de ir?


Eu gostaria de nunca ter pisado naquela maldita balsa. Mas você está
delirando se acha que isso é tudo culpa minha.

Eu comecei a ir embora. Eu tentei.

—Você já a perdoou?

Eu me virei, o fogo subindo pela minha garganta ao som de sua


voz perguntando sobre Ava. —Não é da sua conta, Ward.

Algo sobre a minha voz, o tom com um toque de violência fez a


sala inteira ficar quieta. O resto da equipe estava atento e alerta, mas
não pronto para interferir. Ainda não.

Ele abriu as pernas e me encarou sem medo, levantou o queixo


e disse: —E se eu decidir fazer o que quero? Você sabe como me
sinto sobre ela.

Com um rugido, eu agarrei sua camisa com as duas mãos e o


joguei contra a parede. Ele dirigiu seu cotovelo para o lado sensível
do meu antebraço e dirigiu seu punho para o meu lado me forçando
a soltá-lo.

—Fique longe dela, — eu gritei na cara dele.

Mãos caíram em meus braços e ombros, me puxando para trás


quando mais corpos ficaram na frente de Ward e o seguraram pelo
peito.
—E você acha que você a merece agora? — ele gritou de volta.
—Olhe para si mesmo, Hawkins. Pisando por aqui, olhando para
qualquer coisa que se mexa. Você é como uma criança que não
conseguiu o que queria.

Eu lutei contra as mãos me segurando, mas elas me seguraram.


—Você não sabe nada sobre mim, Ward. Você gosta de ser
enganado? Você gosta da sensação de ver o que vi na sexta-feira?
Você não sabe nada sobre mim. Ou sobre ela.

Ele estava respirando com dificuldade, mas ele acenou para os


caras segurando seu peito. Ambos recuaram. Logan deu apenas um
passo em minha direção.

—Não aja como se você fosse a única pessoa que está na merda,
ok? Sua história não é pior do que a de qualquer outro neste
vestiário. Inferno, em todo este edifício. — Ele estreitou os olhos e
balançou a cabeça como se tivesse nojo de mim. —Porque adivinha
o quê? Você também não me conhece.

A tensão se filtrou dos meus músculos, uma palavra atrás da


outra, até que as mãos nos meus ombros, braços e peito afrouxaram
o aperto.

—Você está certo. — Eu levantei minhas mãos e as deixei cair.


—Nós concordamos com isso. Eu não te conheço e você não me
conhece. Então, por que você está tentando me dizer o que fazer?

Ele bufou uma risada incrédula. —Você não ganha pontos


extras por quanto tempo você mantém a sensação de ser
injustiçado. Se você não é homem o suficiente para deixar de lado
sua raiva e apenas ouvir - a ela, ou a mim - então você realmente não
a merece.

—Nossa, quem é a garota? — Alguém sussurrou, e eu fechei


meus olhos para não dar uma resposta irritada que não ajudaria em
nada.

Eu engoli em seco, olhando para os rostos dos meus


companheiros de equipe. Brigas aconteciam no vestiário. No campo.
Era impossível ter um grupo de rapazes deste tamanho, com tanta
energia, e pedir a eles para jogar com violência mal controlada, e não
ter que brigar nos espaços fora do jogo. Mas foi a primeira vez que
eu pus as mãos em alguém com quem compartilhei uma camisa.

Assim, toda a luta me deixou e eu estava cansado. Exausto até


os ossos que sustentam meu corpo.

Você não ganha pontos extras por quanto tempo você mantém a
sensação de ser injustiçado.

Eu não consegui responder Logan. Não naquela hora, com toda


a equipe olhando para nós. Eu exalei devagar.

—Desculpe pela comoção, pessoal, — eu disse.

Todos, exceto Christiansen, se dispersaram, lentamente,


voltando para as máquinas, e um murmúrio baixo de conversa
encheu a sala novamente. Ele baixou as sobrancelhas em
questionamento e eu balancei a cabeça.

Eu dei a Logan um longo olhar. —Isso não vai acontecer de


novo, eu juro. Eu não sou o cara que começa as brigas.

Ele assentiu devagar. —Eu sei que você não é.


—Mas, — eu disse a ele, —mesmo se você estando certo, não
me diga como lidar com o meu relacionamento, ok? Não depois de
ver você com ela assim. Porque você pode estar dizendo cada coisa
que eu preciso ouvir para fazer isso dar certo entre ela e eu, mas eu
não vou ouvir uma palavra. Não sabendo qual era a sua intenção
quando você apareceu na balsa.

—Justo, — ele admitiu.

Saí da sala sentindo que pesava o dobro do que tinha quando


entrei. Desta vez, eu estava sobrecarregado por suas palavras, pelas
dela e pela pesada expectativa emocional de precisar passar por
tudo o que havia acontecido.

Parecia que alguém estava me pedindo para desenterrar um


corpo, seis pés abaixo da terra molhada, com minhas próprias mãos.
Mas antes que eu pudesse fazer uma única cavidade, eu tinha que
colocar minha cabeça no lugar e saber o que eu estava disposto a
deixar pra lá e o que eu não estava.

Eu só não sabia o que aquelas coisas eram ainda.


TENTAR manter o foco no escritório foi infrutífero, então desisti
depois de algumas horas. Toda vez que eu virava o corredor,
imaginava se veria o rosto de Matthew. Se eu veria aquela expressão
irritada e desconhecida em seu rosto novamente.

Arrumar meus arquivos, ir para casa na chuva ridiculamente


apropriada, e trabalhar da minha cama, vestindo uma das camisetas
que ele deixara na minha casa pareciam o melhor plano.

Não pela minha sanidade mental, é claro, porque entre e-mails


e telefonemas eu pararia para puxar o tecido até o nariz para uma
respiração profunda e masoquista.

Então eu seria lembrada de novo do acidente de trem do fim de


semana.

A única pessoa que eu nunca quis ferir, eu machuquei além de


qualquer coisa que eu poderia imaginar.

Controle a narrativa, pensei sombriamente. Sim, isso funcionou


bem para mim. O único resultado que eu teria conseguido
influenciar seria se eu estivesse mirando na direção de ‘como fazer
Ava parecer uma cadela sem sentimentos’. Nisso, eu tinha sido um
sucesso estrondoso.

Ashley tentou me ligar duas vezes. Duas vezes ela foi enviada
para o correio de voz. Minha mãe, previsivelmente, manteve o
silêncio. Se os planos de viagem deles permanecessem os mesmos,
todos ainda estavam em Orcas, curtindo alguns raros dias juntos.

E lá estava eu, enterrada sob as cobertas enquanto o sol se


punha no oeste, vestindo um suéter cinza escuro de Stanford que ia
até os joelhos, tentando quebrar minha mente pensando sobre como
eu deveria provar para Matthew que o amava enquanto dava ele o
espaço que ele, claramente, precisava.

Saí da cama para aquecer uma sopa na caneca da USC, depois


me arrastei para a cama para comer. Enquanto eu levava uma colher
fumegante à minha boca, meu telefone tocou na mesa de cabeceira.

Quando vi o nome de Matthew, quase derrubei a sopa no meu


colo.

—Oi, — eu disse exalando assim que atendi a ligação. Com as


mãos trêmulas, coloquei a sopa na minha mesa de cabeceira.

—Hey, — ele respondeu, em seguida, limpou a garganta.

O som de sua voz me fez afundar na cama e me virar de lado. Se


fechasse os olhos, poderia fingir que ele estava lá comigo.

—Eu parei no seu escritório quando terminei o treino.

Isso me fez sentar de novo. —Você parou?

Bem, merda.

—Sim. — Ele parou por um segundo, e eu fisicamente mordi


minha língua para permitir que ele pensasse naquele segundo. —Eu
só precisava dizer algumas coisas antes do trabalho de amanhã,
apenas no caso de nos encontrarmos.
Então deitei de novo. Eu não gostei dessa frase. Meu trabalho
era ler como as coisas eram expressas, e esse não era o tipo de
subtexto que eu estava procurando.

—Tudo bem, — eu disse baixinho.

—Eu sei que você sente muito pelo que aconteceu. Eu não
preciso que você se desculpe novamente porque eu não sou
inocente nisto. Eu não deveria ter aparecido em seu quarto de hotel
daquele jeito, — ele começou. —Na minha cabeça, era romântico, e
eu não sei, provava algo grande, algo importante sobre como eu
estava me sentindo. Então, sinto muito por isso.

Eu balancei a cabeça, embora ele não pudesse me ver. Eu queria


discutir, eu queria dizer que se Logan não estivesse comigo, eu
provavelmente teria pensado que era romântico também. Não
aconselhável, talvez, considerando que eu poderia ter entrado no
meu quarto com Ashley a reboque, mas eu teria achado que era
romântico.

—Não há nada para se desculpar, Matthew, — eu disse a ele. —


Mas vou aceitar porque significa muito que você esteja disposto a
falar comigo agora mesmo.

—Esse é o ponto, Ava. Eu queria falar sobre essas coisas com


você. Sobre o seu passado, sobre o meu, sobre a merda que vamos
enfrentar porque estamos juntos. Eu preciso disso de você. Eu
preciso saber que você não vai fugir das coisas difíceis que vêm com
esse relacionamento.

—Eu não vou, Matthew. — Eu me inclinei para frente e apertei


meus olhos. —Eu gostaria de poder ver você agora.
Ele suspirou. —Eu acho que... Acho que talvez seja bom termos
essa conversa pelo telefone. Eu odeio ver você chateada, você sabe
disso. Me matou não poder te abraçar naquele hotel, mas não posso
sacrificar o que preciso de um relacionamento o tempo todo, porque
o meu instinto é sempre facilitar as coisas para você. E foi isso o que
eu fiz.

Eles disseram que a retrospectiva era vinte e vinte. Foi uma


declaração frustrantemente precisa quando me deitei na cama e
escutei as coisas que ele estava me contando. Eu pude ver isso claro
como um maldito sino.

—Me diga o que você precisa, Matthew, — implorei baixinho.


—Eu sei que posso sentar aqui até ficar com o rosto azul e dizer que
você pode confiar em mim, que nunca mais farei algo assim
novamente, mas sei que não é suficiente. E você merece mais do que
palavras.

Ele estava quieto do outro lado do telefone. Tentei imaginar


onde ele estava, como estava seu rosto e como ele poderia estar
sentado. Um milhão de milhas poderiam estar entre nós de tão longe
que eu me sentia dele.

—Eu não estou pedindo para você destruir sua família por mim
Ava, você sabe disso. Eu preciso saber que você vai confiar em mim
para não ser como eles e confiar que você não precisa se proteger
de mim do jeito que você teve que se proteger deles. Eu preciso
saber que você vai estar do meu lado do jeito que eu sempre estarei
do seu. Eu estarei com você todo Natal, todos os feriados
estressantes e desconfortáveis, desde que eu saiba que você está
bem ali comigo, não diminuindo o que temos para tornar isso mais
fácil para todos os outros. Sim, minhas fãs podem surtar por um
minuto, mas eu não me importo. Deixe elas pra lá. Elas não fazem
parte disso; você e eu somos os únicos que fazem. E eu preciso que
você confie nisso tanto quanto eu.

Minhas narinas queimavam enquanto eu ouvia


silenciosamente. —Você precisa que eu fique bem com as realidades
feias e não tente transformá-las em falsidades.

—Sim, — ele disse lentamente. —Sim, é disso que eu preciso.

—Ok, — eu respondi em voz baixa. —Eu entendi.

—Eu sei, na minha cabeça e no meu coração que você nunca


faria comigo o que sua irmã fez. O que Lexi e eu fizemos um ao outro.
Eu sei disso, Ava. Mas até esta manhã, acho que não tinha percebido
o quanto ainda carrego desses relacionamentos.

Pensei no que carregava, o que inconscientemente trouxe do


meu relacionamento com minha família para o meu relacionamento
com Matthew. Distância não intencional causada por feridas
invisíveis. Todos nós carregamos isso, até certo ponto, não
importando de onde veio o dano. —Às vezes, acho que saber é
metade da batalha para superar.

—Acredito que sim. — Ele suspirou no silêncio. —Eu sinto sua


falta, Slim.

Eu me virei de lado e trouxe o colarinho do moletom até o nariz


para poder respirar profundamente. —Também sinto sua falta.

Nós desejamos uma boa noite um ao outro, e ele desligou a


ligação enquanto eu mantinha meu telefone pressionado no meu
ouvido. Antes de desligar, ele não disse que me amava e eu também
não disse isso a ele. Este não era o momento para isso. Quando eu
finalmente tivesse a chance de dizer isso, eu estaria olhando
diretamente nos olhos dele.

Quando terminei minha sopa fria, alimentei Frankie, lavei meu


rosto e escovei os dentes, meu cérebro repetiu o que ele disse várias
vezes. Quando me arrastei de volta entre as cobertas da minha cama,
eu cuidadosamente peguei meu telefone e respirei fundo antes de
fazer um único telefonema. Tocou algumas vezes, depois o correio
de voz clicou, pelo que fiquei grata.

—Sou eu, — eu disse. —Eu... Preciso que você faça uma coisa
amanhã se tiver tempo e estiver disposta a me ouvir. É importante.
Caso contrário, eu não pediria.

Depois que terminei minha mensagem, respirei fundo e


desliguei meu telefone. Talvez fosse o suficiente. Talvez não fosse.
De qualquer maneira, eu tinha que tentar.
—VOCÊ DISSE, a sala de conferências em frente ao seu escritório?
— o coordenador defensivo gritou no meu telefone. No fundo, eu
podia ouvir os gritos dos jogadores e o zumbido da atividade que eu
tanto amava. Tão ruim, eu queria estar lá assistindo, especialmente
já que era o último dia de treinamento antes do nosso primeiro jogo
de pré-temporada.

Mas coisas mais importantes estavam em andamento.

—Sim, essa mesma.

—Todo mundo está assinando autógrafos agora. Acabamos de


fazer jogadas. — Ele limpou a garganta. —Mas eu não tenho que
realmente fazer uma reunião, certo?

Eu revirei meus olhos um pouco. —Não, Gary, eu vou cuidar


disso. Apenas mantenha isso entre nós, ok?

—Ok, Baker. Vou fazer do seu jeito. Mãe, a notícia

Depois que eu desliguei, bati minhas unhas na minha mesa e


observei o ponteiro do relógio se aproximando do TGDA (Scheduled
Dramatic Gesture Time) Tempo do gesto dramático agendado.

As duas maiores partes móveis incluíam meus convidados, se


decidissem aceitar minha oferta, e nosso coordenador de defesa que
disse a Matthew que ele era esperado para uma breve reunião na
sala de conferências do outro lado do corredor do meu escritório.

Desculpe, eu não colocaria ele, minha irmã, minha mãe, meu pai
e eu em meu escritório, que só tinha uma rota de fuga. Nós
precisávamos de espaço. Todos precisariam de oxigênio suficiente
para respirar.

Meu telefone tocou de novo, e eu peguei rapidamente, fazendo


uma pequena oração para que fosse da recepção.

—Ava, — eu disse.

—Ava, você tem três convidados aqui para ver você. Devo
mandá-los subir?

Fechei meus olhos e meus ombros caíram em alívio. —Sim, por


favor. Obrigado por avisar, Miriam.

Miriam e eu tivemos uma pequena conversa sobre enviar os


convidados sem aviso prévio. Era um alívio enorme saber que
Ashley não estaria colocando a cabeça no corredor a qualquer
momento.

Eu me levantei da minha mesa e passei as mãos na frente da


minha calça preta boca de sino. Não haveria cartões ou PowerPoint
para esta pequena reunião que eu tinha programado, mas eu seria
amaldiçoada se não fosse realizada no meu território.

Meu pai entrou no meu escritório primeiro, dando uma rápida


olhada, depois me deu um pequeno sorriso. Eu o abracei
brevemente, olhando por cima do ombro enquanto o rosto
comprimido da minha mãe aparecia. A expressão facial de Ashley
não dizia nada, e eu não tinha ideia do quanto minha mãe lhe contara
quando eu fugira de Orcas.

—O que é isso, Ava? — minha mãe começou, segurando a alça


da bolsa como se precisasse ser usada como arma.

Meu pai apontou para os dois lugares em frente à minha mesa.


Mamãe sentou em um e Ashley hesitou visivelmente antes de sentar
no segundo. Me sentei na minha cadeira e cruzei as mãos no meu
colo.

—Quero começar pedindo desculpas a você, Ashley. Tenho


certeza de que você não está feliz comigo por deixar sua festa como
eu fiz.

Ela levantou uma sobrancelha lentamente. —Obrigou mamãe e


eu a mentir para o resto de nossos convidados quando eles
perguntaram sobre você, então não, eu não estou muito empolgada.
Mas eu vou aceitar seu pedido de desculpas porque você não me fez
exigi-las, — disse ela magnanimamente.

Voltei minha atenção para minha mãe. —Quanto você explicou


para ela?

—Eu disse a ela que o seu... namorado teve que voltar para
Seattle cedo, e você foi ver como ele estava.

Não é mentira, mas também não é exatamente a verdade.


Talvez eu tenha minhas habilidades de relações públicas do meu
lado materno.

—Isso é verdade, — eu disse, olhando para o relógio.


—O que eu gostaria de saber é por que eu tive que fazer meu
marido esperar no hotel por isso, — disse Ashley antes que eu
pudesse dizer outra palavra.

Uma pergunta justa e, felizmente, uma que eu esperava. —É o


suficiente - apenas por agora - dizer que fará sentido quando tudo
isso terminar?

Ela revirou os olhos um pouco, mas assentiu. Minha mãe


parecia a um segundo de distância do choque apoplético.

—Na verdade, vocês se importam se atravessarmos o


corredor? Dessa forma, você pode se sentar, se quiser, pai.

—Está tudo bem, — disse ele. —Eu aguento.

—Por favor? — Eu disse, em seguida, passei o braço para a


porta. Ninguém se mexeu.

Com um suspiro, levantei e comecei a atravessar o corredor,


esperando que eles me seguissem. Um dos funcionários da recepção
passou, sorrindo para mim. Depois que ela passou por mim, olhei
para o corredor em direção ao vestiário. Nenhum jogador estava se
aproximando, o que significava que Matthew provavelmente ainda
estava tomando banho.

Fila única, com meu pai mais uma vez na frente, eles entraram
na grande sala. O logotipo dos Wolves estava pintado na parede, e
as cadeiras estofadas de vermelho e preto estavam de frente para
uma enorme tela de projeção. Era uma das maiores salas de reunião
que tínhamos, grande o suficiente para acomodar todo o time e a
equipe técnica.
—O que é isso, Ava? — Minha mãe disse mais uma vez, se
sentando na primeira fila e me olhando com um olhar perigoso.

—Você sabe do que se trata, — eu disse a ela baixinho.

Imediatamente, ela se levantou e foi para a porta. —Vamos,


Alan, Ashley, — ela disse por cima do ombro. —Isto é ridículo.

Eu bloqueei o caminho dela até a porta e apoiei minhas mãos


nos quadris. —Sente-se.

—Mandona? — Ashley murmurou, mas me observou com


interesse não dissimulado.

Minha mãe me encarou, manteve o queixo erguido e sussurrou


baixinho. —Você vai destruir ela contando isso.

—Altamente improvável, — eu disse de volta. —Ela está feliz.


Não há razão para ela ser destruída por qualquer coisa que eu tenha
a dizer.

A mandíbula da minha mãe se apertou e fiquei chocada por não


ter ouvido o estalar de seus dentes, mas depois de um segundo ela
se virou e se sentou novamente.

Atrás de mim, ouvi os passos que vinham pelo corredor e


respirei lentamente pelo nariz, deixando o ar sair pelos meus lábios.
Minhas sobrancelhas se inclinaram quando um baixo zumbido de
vozes cresceu.

Muitas vozes.

Enfiei a cabeça no corredor e vi perto de duas dúzias de


jogadores da defesa caminhando pelo corredor. A cabeça de
Matthew balançou em algum lugar no meio do bando, conversando
com alguém ao lado dele. Gary estava na frente e levantou os
polegares quando me viu boquiaberta.

Eu me virei para minha família. —Um segundo.

Gary parou e sorriu quando eu corri para o corredor e fechei a


porta atrás de mim. —Entregue, como prometido.

Meus olhos absorveram quase toda a defesa -toda a defesa-


então pousaram brevemente em Matthew, que acabara de me notar.
Seus olhos encararam os meus e eu tive que lamber meus lábios
repentinamente secos. Eu não conseguia ler nada naqueles olhos,
mas ele ainda estava me observando atentamente.

Eu pisquei, olhando para longe.

—Gary, — eu disse baixinho, me inclinando para que só ele


pudesse me ouvir. —Eu não preciso de todos eles. Eu disse para
mandar Hawkins.

—Ohhhhhh, — ele disse timidamente. Ele coçou o lado do


rosto. —Ah, tinha muito barulho lá fora, então eu não pude ouvir
tudo o que você disse.

—E você é surdo, meu velho, — Carter disse, e todos os outros


riram. Exceto por Matthew. Seu rosto assumiu um brilho
especulativo quando Carter voltou a falar. —O que há, Baker? Nós
estamos com problemas?

Eu pus um sorriso no meu rosto. —Sem problemas, apenas um


pequeno mal-entendido. Eu não preciso de todo mundo, só isso.
Ninguém se mexeu. Exceto por Gary. Ele viu o olhar no meu
rosto e passou por mim. —Aproveite a sua reunião!

Nota para mim mesma: não peça a Gary um favor nunca mais.

—Vocês podem ir, — eu disse a eles, mas encarei Matthew. —


Eu só preciso falar com Hawkins. Gary entendeu a mensagem
errada.

E mais uma vez, ninguém se mexeu. Eu estreitei meus olhos


quando dois back defensives trocaram um olhar completamente
carregado.

—Hawkins, hein? — Carter perguntou com um sorriso


malicioso.

—Carter, — disse Matthew em um tom de aviso, movendo em


minha direção através da multidão de jogadores.

—Ward tem alguma coisa a ver com isso?

Meu rosto empalideceu e tentei manter minha voz mesmo


quando respondi. —N-não, por quê?

Graças a Deus, Logan não estava no grupo de jogadores.

Houve um coro de ‘ooooohs’ com minha resposta. Eu quase bati


meu pé. —Vão embora, todos vocês.

Matthew se aproximou de mim devagar. Alguns caras se


afastaram, mas uns seis ou sete ficaram para trás, nos observando
com alegria.

—O que está acontecendo? — Eu sussurrei para ele.


Ele fez uma careta. —Bem, Logan e eu quase chegamos a ter
entrado em uma briga na sala de musculação ontem, e eles nos
ouviram falando sobre uma mulher, então... — Sua voz sumiu. —Eu
acho que eles estão juntando algumas peças de quebra-cabeça.

Eu passei minha língua sobre meus dentes e assenti. —


Hmmm... Impressionante, ok, bem eu estava tentando fazer isso em
particular, mas que inferno!

—Fazer o que em particular? — Matthew perguntou. Ele se


inclinou mais para perto, e eu tive que fechar meus olhos contra o
cheiro dele. Ele estava limpo depois do banho, vestindo jeans
escuros e uma camisa dos Wolves, que moldava seu corpo de uma
maneira que era positivamente pecaminosa.

Eu apontei um polegar por cima do meu ombro. —Eu vou me


desculpar preventivamente pelas coisas naquela sala que eu não
posso controlar, ok? Mas, por favor, apenas me dê cinco minutos
depois que o inevitável surto acabar.

Matthew procurou meu rosto, mas não respondeu


imediatamente.

—Por favor, — repeti. —Por favor, confie em mim agora.

Finalmente, ele assentiu. —OK.

Antes de voltar para a sala de conferências, olhei para Carter e


os outros jogadores que começaram a nos seguir. —Nem pensem
em entrar naquela sala, ou vocês estarão na coleta de lixo para cada
evento comunitário a partir de agora até o final dos tempos.

Carter sorriu e me cumprimentou.


—Você parece nervosa, — disse Matthew pouco antes de
chegarmos à porta fechada da sala de conferências.

—Isso é porque eu estou nervosa, — eu admiti. Meus dedos


seguraram a maçaneta, e eu respirei fundo antes de abrir e entrar.

Minha mãe zombou do meu reaparecimento, Ashley estreitou


os olhos e meu pai suspirou de alívio.

Todas as reações que eu esperava quando me viram.

Então... então eles viram Matthew.

Minha mãe apertou os olhos. Meu pai esfregou a ponte do nariz.

E Ashley, Ashley ficou branca como um lençol. —O que diabos


é isso? — ela sussurrou.

— Ohhhhhkay então, — disse Matthew atrás de mim.

—O que diabos está acontecendo, Ava? — Ashley disse,


levantando lentamente de sua cadeira e apontando o dedo para
mim. —É melhor você começar a falar agora.

Eu levantei minha mão e tomei uma posição na frente da sala


para que eu pudesse ver todos os quatro. Matthew tinha as mãos
enfiadas nos bolsos da calça jeans, maçãs do rosto coradas, mas ele
estava mantendo sua atenção somente em mim.

—Eu vou tentar fazer isso tão rápido e doce quanto possível, —
eu disse à minha família. —O que tenho a dizer não é para debate ou
discussão. Esta é uma conversa de cortesia para que vocês saibam o
que esperar e seguir em frente.
Meu pai cruzou os braços sobre o peito e olhou para o chão. O
pé de Ashley balançava furiosamente agora que ela estava sentada
de novo, e minha mãe parecia que estava prestes a passar o inferno
fora.

—É ele, — eu disse, apontando para Matthew. Rapidamente, eu


olhei para ele, o coração apertando com a intensidade dos seus
olhos.

—O quê? — Ashley estava sem chão, o rosto apertado e os olhos


se estreitando em mim.

—Tudo isso. As flores que você encontrou, a mensagem que eu


estava deixando, o homem que me fez tão feliz, é ele. Qualquer outra
coisa que você achava que era a verdade era simplesmente um mal-
entendido conduzido por um desejo ridículo de ser relevante para
vocês três.

—Porra, isso é uma merda, — ouvi alguém murmurar


animadamente no corredor. Matthew fechou os olhos e fechou a
porta com uma mão.

—Isso é um circo, — minha mãe assobiou e foi se levantar.

—Você pode ficar de pé se quiser, mamãe, mas eu não terminei,


— eu disse a ela.

—Abigail, ela ganhou o direito de ser ouvida, — meu pai disse


implacavelmente quando parecia que minha mãe ia se apressar para
a tempestade, não importa o que eu dissesse.

Eu dei um pequeno sorriso e continuei. —Eu me arrependo de


mentir sobre Matthew. Eu lamento que eu tenha deixado meu medo
de sua reação influenciar minhas ações mais do que qualquer um de
vocês pode imaginar, porque eu estou apaixonada por ele. — Eu
olhei para Matthew enquanto minha voz vacilava no final. Sua
mandíbula estava apertada, os braços agora cruzados sobre o peito,
a testa franzida com as minhas palavras. —Eu estou apaixonada por
você, Matthew Hawkins, e vou arriscar qualquer recurso, qualquer
complicação, e qualquer precipitação para você acreditar nisso mais
do que você jamais acreditou em qualquer coisa. — Eu pressionei
minhas mãos no meu peito e encontrei seu olhar. —Eu quero que
isso entre nós, seja a coisa mais verdadeira e constante que você já
conheceu, porque é o que é para mim. E eu sei que você estava com
raiva de mim. Você tem todo o direito de ficar furioso com o que
aconteceu, mas eu vou ganhar o seu perdão por pura força de
vontade se eu tiver que fazer isso.

Ele bufou uma respiração que poderia ter sido uma risada, ou
poderia ter sido descrença. Mas em seus olhos, vi o primeiro
lampejo de esperança de que isso poderia estar funcionando. Havia
um calor lá que eu não tinha visto desde que ele tinha se ajoelhado
ao lado do meu carro no estacionamento, pouco antes de eu sair
para pegar a balsa.

—Isso é loucura, — Ashley disse baixinho, os olhos arregalados


e frenéticos quando olhei para ela. —Eu estava noiva dele, Ava. Você
não acha que é um pouco... — Seus braços se agitaram quando ela
não conseguiu encontrar as palavras. —Eu não sei, incestuoso, ou
algo assim?

Eu ri. —Não, Ashley, não acho isso. Eu acho que há uma razão
pela qual ele acabou aqui, e pela qual nossos passados se
desdobraram do jeito que fizeram, é porque ele é o cara certo para
mim. — Eu olhei de volta para ele. —Você é o cara certo pra mim. —

—Ava Marie, — minha mãe disse em voz baixa, —se você acha
que-

—Pare de falar, Abigail, — meu pai interrompeu.

Minha boca se abriu. Minha mãe piscou e Ashley olhou para o


meu pai como se ele tivesse perdido a cabeça.

—Desculpe? — ela sussurrou.

Ele suspirou. —Eu disse para parar de falar. Isso não é sobre
você. Ou eu. Se Matthew foi capaz de seguir em frente, e passou por
cima do que Ashley e Adam fizeram para ele, então por que diabos
nós não podemos? — Ele arrumou a frente do paletó e deu a
Matthew um olhar avaliador, depois olhou de volta para mim. —
Mais alguma coisa que você precisa dizer, Ava?

—Uhh— - meu olhar indo da minha mãe para o meu pai - —


não. Isso foi tudo.

Ele assentiu, depois estendeu a mão para minha mãe, que ainda
estava fervendo. —Vamos lá. Ashley, se você precisar ficar, vamos
esperar por você no estacionamento.

Minha mãe agia como se não fosse sair da sala, mas Ashley deu
a ela um olhar. —Mãe, eu tenho trinta e três anos. Eu dificilmente
preciso de você para lutar minhas batalhas. Por favor, vá.

Antes de meus pais saírem da sala de reuniões, meu pai parou


na frente de Matthew e estendeu a mão. Cautelosamente, Matthew
deu um aperto forte. Meu pai acenou para mim e então eles se foram.
E então, havia três, pensei com uma pequena bolha de pânico
deslizando pela minha espinha. Assim que meus pais se foram, ele e
Ashley se olharam com cautela.

O que ele deve estar pensando? E se essa coisa toda fosse um


erro gigante? Eu bati meus dedos ao longo da minha coxa.

—O que devemos fazer agora, Ava? — Ashley perguntou. Não


havia nada sarcástico ou escondido em sua voz, mas suas mãos
estavam bem unidas, e o diamante em seu anel brilhava com as luzes
do teto. Seus dedos estavam brancos; era assim que ela se mantinha
sob controle.

—Só estou deixando você saber que ele está na minha vida se
ele ainda me quiser. — Eu mantive meus olhos longe do rosto de
Matthew. —Eu não espero nada além de que você aceite isso,
mesmo que você não fique confortável com isso.

Seus olhos azuis olharam de volta para o homem em pé ao lado


da porta. O que ela estava pensando?

—Tudo bem, — ela disse, se levantando devagar.

—Eu sei que isso é estranho, Ashley, — eu disse a ela.

Seus olhos se fecharam. —Estou livre para ir agora?

Eu respirei fundo, sem saber como sua reação estoica fazia eu


me sentir. Mas me lembrei do que Matthew me dissera apenas
alguns dias antes. Não era sempre sobre mim, ou quando eu queria
falar sobre as coisas, ou como eu queria processá-las. Se eu quisesse
que Ashley respeitasse isso, então eu não deveria forçá-la. Eu
assenti. —Sim. Obrigado por me ouvir.
Ashley acenou de volta e cerrou o queixo.

Ela deu a Matthew um olhar rápido. —Estou feliz que vocês


dois estejam felizes, — ela disse. Uma mão trêmula varreu sua testa.
—Mas agora, eu só quero... eu preciso falar com meu marido sobre
tudo isso. Ava, eu vou falar com você... mais tarde.

Então ela calmamente saiu da sala.

A porta fechou com um clique silencioso e eu soltei um suspiro


pesado.

Matthew ainda não tinha dito nada.

Então ele deu um passo em minha direção, descruzando os


braços. Seu olhar perfurando meus olhos.

—Diga de novo, — disse ele.

Minha respiração aumentou, rápida e errática enquanto eu


recuava para a parede atrás de mim. —D-dizer o quê?

Ele parou a uma curta distância do meu corpo. —Diga de novo,


Ava. Agora que não há audiência, nem olhares indiscretos, e
ninguém para me impedir de te beijar quando as palavras saírem.

Meu rosto ficou vermelho de alívio e eu sorri um pouco. —


Estou apaixonada por você, Matthew Hawkins.

Matthew apoiou as mãos na parede, efetivamente me


prendendo. Sua testa descansou contra a minha e ele exalou. —De
novo.
Eu passei minhas mãos em seu peito e agarrei seu pescoço com
força. —Eu estou apaixonada por você.

Ele beijou minha têmpora, depois minha bochecha, a ponta do


meu nariz, de cada lado da minha boca, apenas se encostando a
meus lábios que procuravam os seus. Ele riu.

—Mais uma vez, — ele sussurrou sobre meus lábios.

—Estou tão apaixonada por—

Ele interrompeu minhas palavras com sua boca, usando sua


língua com autoridade e precisão, tirando um gemido dos meus
pulmões. Eu o abracei, meus braços entrelaçados ao redor de seu
pescoço, enquanto sua boca estava colada na minha. Suas mãos
agarraram minhas costas descendo em direção ao meu traseiro, e
lentamente ele transformou o beijo em algo lento e sensual,
movendo seu corpo contra o meu de um jeito que me fez desejar que
não estivéssemos em uma iluminada sala de conferências em frente
ao meu escritório.

Assim que o pensamento passou pelo meu cérebro, um som


rompeu a névoa dos tempos sensuais imaginados.

Eram aplausos. Gritos desagradáveis.

Matthew se afastou quando percebeu que eu parei de beijá-lo.


Nós dois viramos nossas cabeças em direção ao som, e através da
pequena janela na porta, vimos cerca de quatro rostos pressionados
contra o vidro. Carter levantou o telefone, capturando a coisa toda
com um largo sorriso no rosto.

—Awwww, sim, baby, termine isso, Hawk, — ele gritou.


O corpo de Matthew estremeceu de rir quando seus rostos se
afastaram do vidro para nos dar privacidade, e eu enterrei meu
rosto em seu peito largo. Ele beijou o topo da minha cabeça e me
envolveu com força em seus braços.

Nada, nada era melhor que isso. E nunca seria, eu tinha certeza.

—Você já me ouviu o suficiente agora? — Eu disse, levantando


o queixo para que eu pudesse olhar para o rosto dele.

Ele riu, abaixando para outro beijo, em busca dos meus lábios
que já o esperavam. Quando ele se afastou, estávamos ambos
respirando com dificuldade.

—Eu nunca terei ouvido o suficiente, — ele sussurrou. —Eu


também te amo, Ava.

Minha boca se esticou em um sorriso feliz.

—Podemos sair daqui agora? — Eu perguntei.

Seu sorriso era desonesto e eu estreitei meus olhos.

—Que cara é essa?

—Nada, — ele disse levemente.

Mas então ele soltou o braço, o passando por baixo dos meus
joelhos enquanto eu gritava de rir. —Matthew, não se atreva! Eles
nunca vão me deixar viver depois disso.

Ele deu um beijo nos meus lábios. —Estou planejando isso,


linda garota.
Carter teve a gentileza de abrir a porta para nós e, quando
saímos da sala de reuniões, havia uma dúzia de jogadores à nossa
espera. Eles gritaram em aprovação quando ele entrou no meu
escritório para que eu pudesse pegar minha bolsa, então nos
seguiram pelo corredor como se fosse nosso cortejo pessoal, até as
portas da frente.

—Sua casa ou a minha, Slim? — ele perguntou quando nos


aproximamos de seu carro.

Eu suspirei, apertando seu pescoço. —Em qualquer lugar, — eu


disse a ele, honestamente. —Eu vou a qualquer lugar, desde que
esteja com você.
QUATRO MESES DEPOIS

—EU NÃO ACHO QUE eu possa assistir, — eu disse por trás das
minhas mãos, que cobriam meus olhos. Allie os puxou para longe do
meu rosto sem piedade.

—Se eu tenho que assistir, então você também tem. — Ela


acenou com as mãos na frente do rosto. —Eu não consigo respirar.

Normalmente, estaríamos no camarote dos donos do time, mas


no início da quarta parte do jogo, descemos para as linhas laterais,
porque era um momento em que ambas precisávamos estar o mais
perto possível do campo.

O estádio Robert Sutton – recém renomeado durante o período


pré-temporada, depois que Allie despejou milhões de dólares em
reformas e melhorias - estava lotado, com setenta e dois mil,
quatrocentos e cinquenta e seis torcedores. Eles estavam em pé,
batendo os pés, gritando e batendo as mãos contra os assentos na
frente deles, porque estávamos sete pontos na frente, faltando um
minuto e trinta segundos para o campeonato da NFC. Se
resistíssemos ao Green Bay, estaríamos no Super Bowl.

Meu telefone tocou com raiva no meu bolso de trás, onde eu o


guardei quando a segurança nos levou para o campo. Assim que eu
tive tempo, eu o peguei e sorri para a mensagem de texto do meu
pai.
Pai: Matthew tem o controle disso, garota. Não fique tão
nervosa.

Meu pai tinha assistido a quase todos os jogos da temporada -


uma demonstração de apoio que significava o mundo para mim e
para Matthew - e mesmo que ele perdesse um jogo ou dois, porque
estava em cirurgia, ele sempre me mandava uma mensagem quando
assistia aos melhores momentos. Normalmente, ele nunca me via
nas câmeras. Hoje fazia sentido, já que eu estava em pé ao lado da
dona do time, que recentemente ficara noiva do quarterback.

O quarterback atualmente sentado no banco foi incapaz de


ajudar sua equipe mais do que ele já tinha feito. A cabeça de Luke
estava curvada, as mãos entrelaçadas entre os joelhos, uma pose
enganosamente casual para um homem que eu sabia que
provavelmente estava vibrando pela necessidade de estar fazendo
alguma coisa. Qualquer coisa.

Enquanto o intervalo comercial acabava, e nossa defesa se


alinhava na grama, o nível de ruído aumentava, e ficou mais alto
novamente quando Matthew se virou e levantou os braços, pedindo
mais e mais das pessoas que usavam preto e vermelho.

De onde eu estava, eu podia ouvir seu rugido pedindo que os


fãs lhe dessem o que ele queria. Os músculos de seus braços estavam
cobertos de suor, terra e grama quando ele se agachou na posição.
O ataque se alinhava, o quarterback apontando e gritando, tentando
ser ouvido sobre os sons ensurdecedores de nossos fãs.

Eles estavam famintos por isso. Mortos de fome e vorazes por


uma vitória que significaria o mundo para uma cidade que havia
apoiado esses jogadores por anos. Normalmente, eu teria tirado um
segundo para olhar ao redor, nas arquibancadas, para absorver tudo
e ver o aproveitamento de todo o nosso trabalho duro nestes
momentos antes do resultado ser conhecido.

Cada evento, cada tweet, imagem, autógrafo, treino e momento


que nossos jogadores dedicaram para os fãs levaram a isso.

Mas meus olhos ficaram colados em Matthew.

Eu nunca soube que eu poderia desejar tanto alguma coisa para


outra pessoa. Na minha boca havia um gosto acobreado de sangue,
porque acidentalmente mordi meu lábio quando Matthew derrubou
o quarterback no terceiro quarto do jogo, parando um caminho de
pontuação do time adversário. Minhas mãos estavam ásperas de
tanto esfregá-las, e minha garganta estava com uma sensação de
areia grossa e granulada por todos os gritos que eu tinha dado nas
últimas três horas.

A bola bateu com força nas mãos do quarterback, e a defesa


empurrou para frente, puxada como um cordão em ação. Os
receptores correram para baixo do campo, na esperança de pegar
qualquer bomba que ele estivesse planejando lançar sobre nós.

Matthew recuou de repente, ao invés de rolar para tentar


agarrar o quarterback e eu estreitei meus olhos. A bola rolou para
frente e ele se lançou para o lado, com os braços estendidos, as mãos
abertas que se estendiam em um comprimento quase inumano.

Do meio do ar, ele agarrou a bola e a abraçou em seu peito,


então ele escorregou para a grama enquanto seus companheiros de
equipe se empilharam em cima dele em comemoração à sua
interceptação final.
Tudo ao nosso redor entrou em erupção. Os jogadores no
banco.

Os fãs nas arquibancadas.

Allie e eu gritamos, abraçando uma à outra com força. Ela


estava enxugando lágrimas de felicidade, e eu lutei para respirar
através da violenta explosão de adrenalina correndo pelo meu
corpo.

Luke estava em pé no banco, a mão levantada no ar e um sorriso


enorme em seu rosto. Tudo o que ele tinha a fazer era entrar em
campo e se ajoelhar com a bola, e iríamos para o Super Bowl.

Matthew finalmente se levantou do chão, e a multidão de


alguma forma gritou ainda mais alto. O estádio inteiro tremeu com
a força da energia pulsando em cada centímetro quadrado. Ele jogou
a bola para o árbitro e correu para fora do campo para que o ataque
pudesse terminar o que ele tinha acabado de iniciar.

Brevemente, ele chamou minha atenção, e eu peguei um flash


de dentes brancos por atrás de seu capacete, debaixo da areia e
sujeira que cobria seu rosto.

Então seu treinador o agarrou para um abraço, e ele foi


inundado por todos os jogadores no banco por abraços e tapas nas
costas e ridículas danças de vitória, que terminariam em um gif em
algum lugar.

Allie suspirou e colocou o braço em volta dos meus ombros. —


Puta merda.

Eu comecei a rir. —Sim.


—Eles vão estar tão exaustos hoje à noite, não vão?

Eu assisti Matthew jogar para trás um pouco de Gatorade,


admirando a maneira como sua garganta engolia. —Sim.

Ele jogou a garrafa amassada de lado, e seus olhos se


concentraram em mim. Luke se ajoelhou uma vez. Ele só precisaria
fazer mais uma vez, e o jogo estaria terminado. Os jogadores iriam
invadir o campo, apertar as mãos, dar os parabéns e Matthew
começaria o ritual pós-jogo que o manteria ocupado pelas próximas
duas horas.

Quando ele começou a andar em minha direção, o fogo ardia em


seus olhos e desejei que estivéssemos sozinhos em nosso
apartamento. Costumava ser dele, mas Frankie e eu decidimos que
queríamos fazer uma viagem mais curta para o trabalho, então nos
mudamos para lá durante a semana de folga.

Matthew abriu caminho entre os jogadores e, assim que chegou


perto, eu pulei em seus braços, o abraçando com tanta força quanto
pude.

—Você conseguiu, — eu disse em seu ouvido, beijando a linha


suada de sua mandíbula. —Estou tão orgulhosa de você.

Ele afastou o rosto e sorriu alegremente. —Acha que pode


aguentar mais duas massagens pós-jogo, Slim?

Era o nosso ritual quando ele chegava em casa, apesar de já ter


passado pelo massagista da equipe. Naturalmente, nossa massagem
acontecia com ele pelado na enorme banheira de imersão no
banheiro, enquanto eu trabalhava em seus ombros e costas.
Eu o beijei com força, e os fãs nas arquibancadas logo atrás de
nós gritaram.

—Eu vou fazer um milhão de massagens pós-jogo, — eu disse a


ele ferozmente quando me afastei. —Você as merece hoje, grandão.

Ele baixou a testa e encostou na minha. —Amo você, Slim.

Eu sorri quando ele me beijou novamente. —Amo você


também.

Ele me colocou no chão assim que o jogo terminou e segurou a


parte de trás do meu pescoço com a mão. —Você sabe, um dia desses
eu vou pedir para você se casar comigo, certo?

Meu sorriso aumentou porque estávamos jogando esse jogo


por cerca de quatro semanas.

—É hoje?

Seu sorriso de resposta foi delicioso. —Eu não sei. Hoje ainda
não acabou, né?

Eu o observei com olhos estreitos e desconfiados, porque essa


era uma resposta nova. Então, ele correu para comemorar, e eu
inclinei a cabeça para respirar tudo que estava sentindo. Confetes
choveram no meu rosto e eu peguei um pedaço vermelho brilhante
na minha mão.

Enquanto eu o esfregava entre meus dedos, sorrindo com todas


as comemorações que me cercavam, vi Matthew voltando. Ele
enxugou o rosto, que estava coberto com um sorriso de agitar o
coração.
Com as duas mãos, ele agarrou meu rosto antes de me beijar,
antes de enrolar a língua na minha enquanto eu cedia contra ele.

Sua voz era baixa quando ele falou contra meus lábios. —Sim,
vai ser hoje. Eu ia tentar ser paciente para podermos ficar sozinhos,
mas depois que vi você parada aí, tão bonita, perfeita e minha, e mal
pude esperar. — Ele me encarou quando comecei a chorar. —Eu não
posso esperar mais um minuto, um segundo, porque não posso
imaginar nenhum momento melhor do que este.

—Matthew, — eu sussurrei entrecortada.

Ele se ajoelhou, e todos ao nosso redor começaram a tagarelar


animadamente. Minha mão estava tremendo quando ele a segurou.

—Slim, quero que você seja minha esposa. Eu quero acordar


todos os dias sabendo que você está lá, que eu posso estar lá por
você, e que eu posso amar você durante qualquer coisa que
possamos enfrentar, porque eu sei que você fará o mesmo por mim.
— Seus olhos brilhavam intensamente sob as luzes do estádio, eu
podia ver através do brilho das minhas próprias lágrimas. —Você
quer se casar comigo?

Eu caí de joelhos e passei meus braços ao redor de seu pescoço.

—Sim, sim, sim, — eu sussurrei através de beijos. Ele enterrou


a cabeça no meu pescoço e suspirou pesadamente de alívio. Eu
comecei a rir. —Você realmente ia fazer isso mais tarde?

Ele sorriu quando levantou a cabeça. —Sim.

—Meu homem louco, — eu disse, segurando o seu rosto. —Isso


foi perfeito.
—Há um anel em casa para você, eu juro.

Eu o beijei suavemente, e seus braços se apertaram nas minhas


costas enquanto ele me segurava. —Eu nem me importo com o anel,
— eu disse a ele.

Seus olhos procuraram os meus, o rosto cheio de tanta ternura


que meu coração deu cambalhotas. —Então eu posso devolvê-lo?

Eu bati em seu peito, e sua risada respondendo era tudo que eu


precisava.

!
Fato divertido sobre mim: Se eu acordasse amanhã e 1 fosse um
homem e 2 tivesse talento para jogar futebol profissional, eu jogaria
na defesa. Há algo INCRIVELMENTE atraente para mim em ser
aquele que precisa derrubar o quarterback de bunda, aquele que
arrasta a bola para fora do ar para uma interceptação, aquele que
pode forçar um fumble e virar o jogo de cabeça para baixo. Escrever
um personagem como Matthew - cuja carreira é inspirada no
incomparável JJ Watts - foi muito divertido para mim por causa
disso. Além de Peyton Manning, alguns dos meus jogadores
favoritos de todos os tempos jogaram na defesa. Então, para
jogadores como Von Miller, Bob Sanders, Charles Woodson e Dwight
Freeney, agradeço.

Eu sempre luto quando me sento para escrever


agradecimentos, porque geralmente espero até o último minuto, e
quero escrever parágrafos efusivos para agradecer a cada pessoa
que me ajudou a moldar este livro na melhor versão possível da
história. Ocasionalmente, eu consigo tempo suficiente para que isso
aconteça, mas esse não é um desses momentos.

Para minha família, por apoio inabalável.

Para Fiona Cole (a outra metade integrante da #dreamteam) e


Staci Hart por colocar aqueles primeiros olhos cruciais e críticos
sobre isso, e não me deixar balançar no canto quando eu queria
desesperadamente.
A Kathryn Andrews, a Kandi Steiner, a Caitlin Terpstra e a
Michelle Clay por me darem honestidade e apoio e sugestões que
dão o último polimento à história de Ava e Matthew.

Para Najla Qamber por outra bela capa.

Para Jenny Sims na Editing4Indies e Amanda Yeakel para


revisão.

Para Enticing Journey para toda a sua ajuda promocional


excepcionalmente organizada.

Para o meu grupo leitor, blogueiros e bookstagrammers para


amar e acreditar em meus livros.

Para meu Deus, meu senhor e salvador.


Karla Sorensen tem sido uma ávida leitora durante toda a sua
vida, preferindo histórias final feliz. E considerando que ela tem um
item de linha inteiro em seu orçamento para livros, ela percebeu que
talvez fosse mais barato escrever suas próprias histórias. Ela ainda
mantém os dedos no mundo do marketing de saúde, onde ela fez a
vida pré-bebês. Agora ela fica em casa, escrevendo e sendo mamãe
em tempo integral (isso se traduz em quase todos os dias sendo 'dia
do pijama' na casa dos Sorensen... não julgue). Ela mora em West
Michigan com o marido, dois filhos excepcionalmente adoráveis e
um cão de resgate grande e desgrenhado.

Crédito da foto: Perrywinkle Photography

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