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NTÍ

espaço regulamentação

O conselho fiscal ainda

TESE tem espaço no mercado


de capitais moderno?

Fórum ultrapassado
Não Em vista do fortalecimento dos conselhos de admi-
nistração e da evolução nas práticas de governança, o
conselho fiscal tornou-se desnecessário
Por Roberto Teixeira da Costa*

A
Lei 6.404 de 1976 tornou facultativa a instalação informações ao mercado e ao público investidor;
do conselho fiscal, de modo permanente ou não. c) pelo cumprimento das disposições legais, regu-
Quando não permanente, pode ser instalado lamentares e códigos internos da empresa;
pela assembléia geral a pedido de acionistas represen- d) pela qualidade técnica do trabalho do auditor
tando no mínimo 1/10 das ações com direito a voto ou externo e pela rigorosa observância dos preceitos re-
5% das ações sem aquele direito. Sua competência foi ferentes à sua atuação com independência, afastando
alterada posteriormente pelo PL 10.303 de 2001. a possibilidade de qualquer conflito de interesse;
Durante a vigência da Lei 2.627 (1940), o conselho e) pela efetividade do trabalho da auditoria interna,
fiscal foi utilizado, principalmente, por acionistas pela qualificação técnica de seus quadros e por sua
dissidentes ou inconformados com a gestão societária atuação independente.
para pressionar controladores e dar liquidez às suas Apesar de o comitê não ser obrigatório para as
ações. Serviu, assim, mais para criar problemas e cons- companhias abertas, várias das empresas de peso e
trangimentos do que propriamente para ser um órgão relevância já o instituíram. Nele estão representados
auxiliar no processo de gestão da sociedade. profissionais de indiscutível gabarito para o exercício
Desde 1976 tivemos sensíveis alterações no mer- dessa importante responsabilidade.
cado de capitais. A governança corporativa está ativa. A diferença básica entre o comitê de auditoria e o
A responsabilidade dos gestores foi mais bem expli- conselho fiscal é que este último representa interesses
citada, e a cobrança de resultados passou a ser feita de minoritários (em alguns casos, os majoritários
de forma sistemática pelo mercado e, em particular, também elegem membros para equilibrar as decisões),
pelos investidores institucionais. O conselho de admi- enquanto o comitê de auditoria não representa nenhu-
nistração, órgão maior na gestão corporativa, abriu ma categoria de acionistas.
espaço para conselheiros independentes, desvincula- O conselho de administração, obrigatório nas em-
dos de interesses societários de grupos controladores. presas abertas e onde os minoritários têm assento, é
Os investidores institucionais devem se habilitar para o fórum adequado para discutir todas as matérias de
o exercício dessa representação, escolhendo partici- interesse dos acionistas, que sempre podem comunicar
pantes profissionais que agreguem valor ao conselho, ao auditor independente, à CVM e a outros órgãos con-
como muitos já vêm fazendo. dutas incompatíveis com a governança que se espera
O mercado passa também a valorizar empresas com das empresas de mercado.
representação diversificada naquele colegiado. Vários A evolução das normas de contabilidade e de
comitês foram criados pelos conselhos para colaborar auditoria, principalmente a exigência de certificação
no processo de gestão. Cabe destacar o comitê de audito- técnica dos auditores independentes e a rigorosa obser-
ria, tornado obrigatório para instituições financeiras. vância dos requisitos de independência, deve assegurar
Recapitulando, as funções do comitê de auditoria a confiabilidade das demonstrações elaboradas pelas
são a de zelar: empresas. Por isso, a instituição do conselho fiscal, a
a) pela qualidade e integridade das demonstrações meu ver, é desnecessária.
financeiras e dos controles internos da instituição;
b) pela boa governança corporativa, principalmente *Roberto Teixeira da Costa é conselheiro de administração
no que concerne à transparência e à qualidade das e ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários

60 Capital Aberto Janeiro 2008


espaço regulamentação

Na estréia de Antítese, abrimos espaço para a apresentação de


duas idéias radicalmente opostas sobre o papel do conselho fiscal
nos dias atuais. Veja o que pensam Roberto Teixeira da Costa e
Renato Chaves sobre o tema

Fiscalização eficaz
Diante do conflito de interesses insuperável a que Sim
está sujeito o comitê de auditoria, o conselho fiscal
é a melhor forma de monitorar a gestão
Por Renato Chaves*

Q
uando as companhias brasileiras com ações inúmeras situações, o conselheiro eleito pelos mino-
listadas em Nova York tiveram de se adaptar ritários apresenta sua discordância no momento da
à Lei Sarbanes-Oxley, a discussão sobre a elaboração do parecer sobre as demonstrações finan-
importância do conselho fiscal ganhou força. Na ceiras, voto que será de conhecimento dos demais
época, defendi que essas empresas deveriam agregar acionistas e, em inúmeros casos, chega a fundamentar
ao conselho fiscal as atribuições do comitê de audito- pedidos de correção das irregularidades cometidas
ria requerido pela lei norte-americana, por entender por administradores ou acionistas controladores
que existe um conflito de interesses insuperável no perante a CVM. Não é raro nos depararmos com de-
“comitê de auditoria puro”, pois este é composto cisões do órgão regulador originadas por denúncias
por conselheiros de administração, cuja gestão deve desse tipo, que passam a servir de referência para
ser fiscalizada. todo o mercado.
Afinal, quantas apurações feitas por comitês de au- Não resta dúvida sobre a utilidade do comitê como
ditoria “puros” chegaram aos ouvidos dos acionistas de órgão de assessoramento do conselho de adminis-
uma S.A., via assembléia geral? Pelo acompanhamento tração. O conselho fiscal, porém, foi concebido ori-
que faço de assembléias de mais de uma centena de ginalmente para atuar como fiscalizador dos atos de
empresas, chego a uma resposta: nenhuma. E quantas gestão da administração da companhia, e não como
apurações foram levadas, no limite, ao conhecimento assessor de qualquer outro órgão. Por causa dessa
do órgão regulador? Nenhuma. Ou seja, o comitê de atribuição, de tamanha responsabilidade e abran-
auditoria nasce no conselho de administração, uma gência, é que a legislação delegou poderes individuais
vez que é formado por conselheiros, tem o seu escopo aos conselheiros fiscais, diluindo a possibilidade de
de trabalho definido pelo mesmo conselho, e termina o controlador limitar a fiscalização, com prejuízos
no próprio conselho, sem que qualquer acionista mi- aos acionistas que não participam da gestão. Dessa
noritário tome conhecimento de sua atuação e, mais forma, a ampla independência garante que a atuação
grave, das análises e eventuais apurações feitas. Nunca se dará em benefício da companhia, sem ser filtrada
é demais lembrar que boa parte dos escândalos corpo- pelos agentes fiscalizados.
rativos modernos teve origem na falha de fiscalização Faço votos para que a evolução da governança
dos atos dos executivos e no “estreito” relacionamento corporativa em nosso país, pelo menos nas empresas
entre conselheiros e administradores. que se sujeitam a listar suas ações nos segmentos
Recentemente, o maior acionista minoritário de especiais de listagem, alcance o reconhecimento da
uma importante S.A. brasileira, na tentativa de se necessidade de um órgão de fiscalização independente,
certificar da eficácia da atuação do comitê de audito- de caráter permanente, em um status superior àquele
ria da companhia na qual inexistia o conselho fiscal, determinado pela legislação.
teve negado o acesso às atas do referido comitê sob a
alegação de que tais documentos tratam de matérias
“estratégicas e confidenciais”. Será que é esse modelo *Renato Chaves é diretor de Participações da Caixa de
de governança corporativa que queremos? Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ).
Por outro lado, não faltam exemplos para com- Atualmente participa dos conselhos de administração
provar a eficácia dos conselhos fiscais no Brasil. Em das empresas do Grupo Neoenergia

Janeiro 2008 Capital Aberto 61

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