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Universidade de São Paulo

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – FFCLRP/USP

Departamento de Física

Física Experimental - Mecânica

TRABALHO E ENERGIA CINÉTICA

Docentes: Prof. Marina Ribeiro Batistuti Sawazaki

Discentes: Gabriela Neves da Silva - 13696384

José Elias Morato D’Ávila Ribeiro de Souza – 13831784

2022
Resumo

Neste relatório foi descrito um experimento conduzido por alunos do curso de Física Médica
que buscavam estudar o princípio de sistemas conservativos e não conservativos. Foram
analisados princípios algébricos, a partir do trabalho e energia cinética visualizando formas de
propagar as incertezas introduzidas pelo método experimental. Ao final dos procedimentos e
análises, mesmo conseguindo estimar adequadamente as constantes elásticas das molas, não
foi possível validar adequadamente o teorema da energia cinética para sistemas conservativos,
crendo em possíveis erros de medida do comprimento da mola comprimida com massa.
Entretanto, foi possível verificar uma validade adequada considerando as dissipações de
energia, os valores realmente não deveriam ser iguais em sistemas não conservativos.

Palavras-chave: trabalho; energia cinética; sistema conservativo.


Introdução

Em geral, o trabalho de uma força conservativa é representado pela variação de uma


energia potencial e se manifesta por meio da variação da energia interna de corpos; o trabalho
realizado por uma força não conservativa não pode ser representado pela variação de uma
energia potencial. Sendo assim, uma força conservativa existe quando a relação trabalho-
energia cinética é completamente reversível.
Logo, o teorema da energia cinética, quando associar sistemas não conservativos irá
associar a integral do produto da força resultante de um sistema e o vetor direção, como mostra

a equação a seguir: . No experimento a seguir, foi utilizado um


sistema não conservativo de polia, onde a única força não conservativa a ser considera é o atrito
entre o bloco utilizado, de massa m, e a rampa.
Na representação do sistema conservativo, foi utilizado um sistema massa-mola, já que
no corpo, de massa m, agem as forças gravitacionais e elásticas, caracterizadas como forças
dissipativas (não modificam a energia mecânica do sistema). Nesse caso, o teorema da energia

cinética é representado pela equação a seguir: .


Dessa maneira, o objetivo do experimento é verificar do TEC para um sistema
conservativo e um sistema não conservativo.
Descrição experimental

O experimento citado a seguir foi realizado de acordo com procedimento estabelecido


pela apostila “Parte I - Física Experimental – Mecânica”, no capítulo 7.

MATERIAIS UTILIZADOS
- Cronômetro
- Balança
- Régua
- Duas molas
- Suporte de massa para as molas
- Massas metálicas de mola
- Rampa metálica
- Material de madeira
- Material de ferro

Tabela 1 – Incertezas dos instrumentos utilizados no experimento


Transferidor 0,5°
Cronômetro 0,001s
Balança 1g
Régua 0,05cm

1. Foi variado o plano de forma que a componente horizontal da força gravitacional ficasse na
eminência de superar a força de atrito estático, ou seja, na inclinação máxima (θC madeira = 34,5°;
θC ferro = 22,8°) não ocorre deslizamento. A medida foi feita 5 vezes para cada corpo e anotada
em tabelas.
2. Utilizamos uma inclinação ligeiramente maior que a inclinação crítica e foi completada uma
tabela medindo o tempo t que no qual o bloco percorreu a distância x, tomando cuidado para
que a contagem de tempo se iniciasse a partir do repouso do bloco, anotando o ângulo indicado
no transferidor.
3. Para obter os demais dados necessários para validar o TEC, foi escolhida a massa
conveniente Mmadeira = 0,022 kg e Mferro = 0,274 kg.
4. Verificou-se o TEC para o sistema massa-mola, encontrando o valor das constantes elásticas
K de cada uma das duas molas, colocando diferentes massas na extremidade solta da mola e
medindo a deformação causada, anotando os valores.
5. De acordo com as 5 massas obtidas, a mola foi comprimida até uma posição y1 fixa e solta.
Foi determinada com precisão a posição mais baixa y2 atingida pela mola após ser liberada, e
os valores foram devidamente anotados. No início, foi colocada uma massa pequena e
suficiente para abrir as espirais da mola, desprezando o valor durante a verificação da equação:
Resultados e Discussões

• Determinação dos coeficientes de atrito


Para encontrar os coeficientes de atrito estático e cinético foram coletados os dados do
ângulo crítico, ângulo mínimo no qual o movimento tende a se iniciar, foram coletados 5
ângulos e tirado a média para o θc.
Tabela 2 – Medições do ângulo crítico
Bloco θc1 θc2 θc3 θc4 θc5 θc
Madeira 34 35 35 34,5 34 34,5
Ferro 26 24 23 20 21 22,8

Para o coeficiente de atrito cinético, foram usados sensores com distância x medida e
foram coletado o tempo de queda de cada bloco quando submetido ao ângulo maior que o
ângulo crítico.
Tabela 3 – Medições para coeficiente de atrito cinético
Material x (cm) m (g) t1 (s) t2 (s) t3 (s) t4 (s) t (s) θc θ
Madeira 36,5 22 0,74 0,61 0,55 0,507 0,60175 34,5° 35,5°
Ferro 36,5 274 0,654 0,642 0,59 0,572 0,6145 22,8° 24,5°
Tabela 02 – medições para coeficiente de atrito cinético;

Com os dados coletados foram calculados os coeficientes de atrito estático e cinético


da seguinte forma:
𝜇𝑒 = tg(𝜃𝑐 ) (equação 01)

2𝑥
𝜇𝑐 = tg(θ) − (equação 02)
gt2cos(θ)

Dessa forma, substituindo os valores médio do ângulo crítico e os valores médios do


tempo de queda do bloco, temos:
Tabela 4 – valores dos coeficientes de atrito estático e cinético
Bloco θc θ t μe μc
Madeira 34,5 ° 35,5 0,602 0,69 0,56
Ferro 22,8° 24,5 0,615 0,42 0,32
Para as incertezas dos valores dos coeficientes foi usado a propagação das incertezas
da seguinte maneira (já aplicadas as derivadas parciais):

𝜎𝜇𝑒 = sec 2 (𝜃𝑐) ⋅ 𝜎𝜃 (equação 03)


2
−2𝑥− 2𝑥 2
𝜎𝜇𝑐 = √(𝑔 cos 𝜃⋅𝑇 2
⋅ (0,01)) + ([sec 2 𝜃 + 𝑔 𝑇 𝑡𝑔θ cosθ](0,5)) (equação 4)

Assim substituindo os valores das tabelas 2, 3 e 4 temos as incertezas dos coeficientes:


Tabela 5 – Valores das incertezas dos coeficientes
Incertezas para os coeficientes
Material μe μc
Madeira 0,7 0,9
Ferro 0,58 0,84

Analisando os valores dos coeficientes vemos que são coerentes em relação ao


coeficiente de atrito estático ser maior que o coeficiente de atrito cinético.
Para estimar graficamente o valor do coeficiente de atrito cinético pegamos a equação
02 e isolaremos o termo “2x”, com isso teremos:
2𝑥 = −𝑔𝑐𝑜𝑠(𝜃)𝑡 2𝜇𝑐 + 𝑔𝑡 2 cos(𝜃) 𝑡𝑔(𝜃) (equação 5)
Dessa forma é possível estimar graficamente o coeficiente de atrito cinético através de um
gráfico de deslocamento por tempo ao quadrado.

• Determinação das constantes elásticas das molas no sistema conservativo


Com as massas escolhidas para a distensão das molas, foi medido a partir do início da mola
até o ponto de equilíbrio (ye), o comprimento da mola (y0), o comprimento da mola
comprimida com a massa (y1) e o comprimento máximo que a mola alcança ao ser abandonada
do seu estado de compressão (y2). Foram medidos os termos para as duas molas M1 e M2,
conforme nas tabelas:
Tabela 6 – Dados da mola 01 (M1)
Mola 1
m (kg) ye - y0 (cm) P(N) y0 (cm) ye (cm) y1 (cm) y2 (cm)
0,029 15,5 0,2842 6,5 22 18 25
0,039 18 0,3822 6,5 24,5 18 30,5
0,057 21,5 0,5586 6,5 28 18 37,5
0,082 27 0,8036 6,5 33,5 18 48
0,094 29,5 0,9212 6,5 36 18 54

Tabela 7 – Dados da mola 02 (M2)


Mola 2
m (kg) ye - y0 (cm) P(N) y0 (cm) ye (cm) y1 (cm) y2 (cm)
0,029 17,5 0,2842 10 27,5 21,5 32,5
0,039 20 0,3822 10 30 21,5 38,5
0,057 24,5 0,5586 10 34,5 21,5 46,5
0,082 32 0,8036 10 42 21,5 63
0,094 36 0,9212 10 46 21,5 69

Para determinar a constante elástica da mola graficamente, deve-se obter o coeficiente


angular da reta do gráfico do peso versus a distensão da mola (ye – y0). Assim, pelos gráficos
a seguir temos que:

Gráfico 1 – Peso x distensão mola 1

Com os Gráficos 01 e 02 pode-se verificar o termo Slope, o qual corresponde ao


coeficiente angular da reta, o é numericamente igual à constante elástica da mola. Dessa forma:
Gráfico 2 – Peso x distensão mola 2

𝑘1 = 4,58 ± 0,06 N/m


𝑘2 = 3,44 ± 0,10 N/m

• Validação teorema para sistema não conservativo

Com o sistema pronto e com as massas do contrapeso determinadas, foi coletado os seguintes
dados (com m a massa do bloco e M a massa do contrapeso):

Tabela 8 – Dados para a validação do teorema da energia cinética


Plano de alumínio (θ > θC)
Bloco m (kg) M (kg) t1 (s) t2 (s) t3 (s) t4 (s) t5 (s) t (s) d (m)
Madeira 0,022 0,063 0,321 0,299 0,313 0,319 0,336 0,3176 0,365
Ferro 0,274 0,329 0,569 0,487 0,469 0,489 0,522 0,5072 0,365

Para validar o TEC, usaremos as seguintes equações:


𝑎𝑡 2
𝛥𝑑 = 𝑣0 𝑡 +
2
𝛥𝑑 2𝛥𝑑
𝑣0 = 0; 𝑎 = 2
⋅2⇒ 𝑣 =
𝑡 𝑡
Assim partindo da definição de trabalho:
𝑤 = ∫ 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟 = 𝐸𝐹 − 𝐸0 = 𝑓𝑜𝑟ç𝑎 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑥 𝑑𝑒𝑠𝑙𝑜𝑐𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜
Como E0 = 0, pois ambos partem do repouso, temos que:
1 1
𝑤 = 𝑚𝑣 2 + 𝑀𝑣 2
2 2
Substituindo os valores da velocidade, obtemos:
4𝛥𝑑²
𝑊 = 𝐹𝑅𝑥 𝑑 = (𝑚 + 𝑀)
2𝑡 2
2𝑑 2
[𝑀𝑔 − µ𝑐 𝑚𝑔 cos(Ɵ) − 𝑚𝑔𝑠𝑒𝑛(Ɵ)] ∗ 𝑑 = (𝑚 + 𝑀)
𝑡2
Simplificando:
[𝑀𝑔 − µ𝑐 𝑚𝑔 cos(Ɵ) − 𝑚𝑔𝑠𝑒𝑛(Ɵ)] ∗ 𝑡 2 = 2𝑑(𝑚 + 𝑀)

Assim, usando esta última linha e os valores da tabela, comparando os valores dos dois
lados da equação:

Tabela 9 – comparação dos valores da equação


Bloco Trabalho 1º termo da equação (j) Trabalho 2º termo da equação (j)
Madeira 0,052634518 0,06205
Ferro 0,365493078 0,44019

Como pode-se observar, os valores se aproximam muito, o que corresponde que o


movimento é um movimento não conservativo, uma vez que existe o atrito, o qual retira parte
da energia do sistema, já que não é uma força conservativa. Isso pode ser observado já que no
primeiro termo da equação é o menor já que ele possui o atrito em consideração.

• Validação teorema para sistema conservativo


Determinada uma massa específica para a validação do TEC no sistema conservativo, foi
anotado e feita uma tabela com os valores a serem usados:

Tabela 10 – valores para validação do TEC no sistema conservativo


K (N/m) y0 (cm) y1 (cm) y2 (cm) y2 (cm) y2 (cm) y (cm) massa (kg)
k1 = 4,58 6,5 18 55 54 53 54 0,094
k2 = 3,44 10 21,5 69 68,5 69,5 69 0,094

Para determinar a validade do TEC iremos partir da seguinte equação:


𝑦2
𝑊1,2 = ∫ 𝐹 ∗ 𝑑𝑟 = ∆𝐸𝑐 = 0,5𝑚(𝑣22 − 𝑣12 )
𝑦1

Considerando:
𝐹𝑦 = 𝑚𝑔 − 𝐾(𝑦 − 𝑦𝑜)
Como as velocidades em y1 e y2 são iguais a 0, temos que ΔEc = 0:
𝑦2
𝑊 = ∫ (𝑚𝑔 − 𝐾(𝑦 − 𝑦𝑜)𝑑𝑦 = ∆𝐸𝑐 = 0
𝑦1

Dessa forma, resolvendo a integral:


𝑘 𝑦1
𝑊 = 𝑚𝑔(𝑦 − 𝑦𝑜) − (𝑦 − 𝑦𝑜)2|𝑦2 = 0
2
Assim:
𝑘 𝑘
𝑚𝑔(𝑦2 − 𝑦1) − (𝑦2 − 𝑦𝑜)2 + (𝑦1 − 𝑦𝑜)2 = 0
2 2
𝑘 𝑘
𝑚𝑔(𝑦2 − 𝑦1) = (𝑦2 − 𝑦𝑜)2 − (𝑦1 − 𝑦𝑜)2
2 2

Substituindo os valores da tabela 08 e comparando os valores dos dois lados da equação, temos
que:
Tabela 11 – Valores para o sistema conservativo
Trabalho 1º termo da Trabalho 2º termo da equação Módulo da soma
Mola
equação (j) (j) (j)
M1 0,331632 0,486396 0,154764
M2 0,43757 0,575985 0,138415

Como pode-se observar, os valores não se aproximam tanto de zero como o esperado
pelo TEC. Isso sugere que há perda de energia para alguma situação dentro do sistema, como
resistência do ar, no entanto se esperava um valor do módulo da soma mais próximo de zero.
Também sugere alguma possível medição errada dentro da tabela 08, levando a acreditar na
medição errada do valor y1, uma vez que se ele fosse um pouco maior o valor do módulo da
soma se aproximaria mais de zero.
Conclusão

Após os experimentos realizados, foi possível verificar a dedução de fórmulas para


calcular os coeficientes de atrito estático e cinético, foi possível estimar uma maneira gráfica
de estimar os valores dos coeficientes de atrito estático e cinético graficamente.
Com essas medições foi possível testar de forma adequada o teorema da variação da
energia cinética para sistemas não conservativos de energia, o qual foi possível verificar uma
validade adequada considerando as dissipações de energia, os valores realmente não deveriam
ser iguais.
No entanto, mesmo conseguindo estimar adequadamente as constantes elásticas das
molas M1 e M2, não foi possível validar adequadamente o teorema da energia cinética para
sistemas conservativos, mesmo que haja sim perdas mínimas de energia durante o movimento
da mola, não era esperado um valor tão distante de zero.
Dessa forma, pode-se estimar onde poderia estar o erro na situação, o qual acreditamos
que esteja presente em uma medição feita do comprimento da mola quando ela estava
comprimida com a massa, isso pois se o seu valor fosse maior a somatória das energias se
aproximaria muito mais de zero.
Referência Bibliográfica

BATISTA, Leandro Fernandes. TRABALHO E ENERGIA: UMA NOVA ABORDAGEM SOBRE


A TRANSFORMAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE ENERGIA. 2017. Tese de Doutorado.
Universidade Federal do Rio de Janeiro.

GUIMARÃES, Osvaldo; PIQUEIRA, José Roberto; CARRON, Wilson. Física. São Paulo: Ática, v.
1, p. 2, 2016.

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