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NOVA LEI DO AGRONEGÓCIO

PATRIMÔNIO RURAL DE AFETAÇÃO ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS


IMÓVEIS PARA ESTRANGEIROS
Oferece a possibilidade de o
proprietário de imóvel rural A Nova Lei do Agro possibilita a
dar fração do imóvel em ga- constituição de alienação fiduciária
rantia por meio da emissão de CPR ou CIR. em favor de empresas estrangeiras,
com a possibilidade de consolidação
Frações de um mesmo imóvel po- da propriedade do imóvel rural.
dem garantir diversas operações
financeiras. O credor estrangeiro, que antes da
Nova Lei do Agro apenas tinha
Confere maior segurança ao credor e acesso à garantia hipotecária, ago-
maior flexibilidade ao proprietário ra passa a poder acessar a proprie-
de imóvel rural. dade fiduciária do imóvel rural.
O patrimônio de afetação não é Como consequência, os financia-
atingido por falência, insolvência mentos devem ficar mais acessíveis
civil ou recuperação judicial, ex- e baratos ao produtor rural.
cluídas obrigações trabalhistas, previden-
ciárias e fiscais. O emitente de CPR garantida
por alienação fiduciária de imóvel
O patrimônio de afetação é impe- poderá prestar informação sobre
nhorável, não se sujeitando a qual- a essencialidade do imóvel na cé-
quer constrição judicial. dula quando da sua emissão.
O patrimônio de afetação já
dado em garantia não pode
garantir ou satisfazer qual-
quer outra obrigação assumida pelo pro-
prietário do imóvel rural.

Nas próximas páginas, explicamos


Imagens: Vecteezy

em detalhes a Nova Lei do Agronegócio.


NOVA LEI DO AGRONEGÓCIO vência civil ou recuperação judicial, ficando excluí-
das de tal regra as obrigações trabalhistas, previ-
1. INTRODUÇÃO denciárias e fiscais.

A Medida Provisória 897, de 1° de outubro de Há que se destacar que o § 4º do artigo 7º da Nova


2019, também conhecida como MP do Agro, agora Lei do Agro, além de ter inovado ao dispor que o
convertida na Lei nº 13.986/2020, de 07 de abril de patrimônio de afetação sobre o imóvel rural não se
2020 (Nova Lei do Agro), trouxe novidades para sujeita aos efeitos da decretação de falência, insol-
o agronegócio, para fomentar o crédito privado ao vência civil ou pedido de recuperação judicial do pro-
setor, por meio da criação de novos títulos de cré- prietário do imóvel rural, também inovou ao dispor
dito e garantias mais robustas, tudo para conferir expressamente pela primeira vez no ordenamento
maior segurança ao credor, de modo a tornar o cré- jurídico pátrio que um tipo de patrimônio de afeta-
dito mais acessível. ção não se sujeita aos efeitos da recuperação judicial.
Ressalte-se que a Lei nº 11.101/2005, atual lei de
O objetivo do presente estudo é destacar as prin- recuperação de empresas e falências (LRF), e a Lei
cipais novidades apresentadas pela Nova Lei do nº 4.591/1964, que instituiu o patrimônio de afeta-
Agro com relação ao patrimônio rural de afetação e ção para fins de incorporação imobiliária, já previam
à alienação fiduciária de bens imóveis para estran- expressamente a exclusão do patrimônio de afeta-
geiros, assim como abordar questões que poderão ção nos processos de falência. A Lei nº 4.591/1964
ser discutidas nas esferas judicial e arbitral. também já previa que o patrimônio de afetação seria
preservado no cenário de insolvência civil do incor-
2. PATRIMÔNIO RURAL DE AFETAÇÃO porador. Contudo, a LRF e a Lei nº 4.591/1964 são
silentes acerca dos efeitos da recuperação judicial
O Patrimônio Rural de Afetação é uma inovação sobre o patrimônio de afetação.
apresentada pela Nova Lei do Agro, que possibilita
que o proprietário de imóvel rural, pessoa natural ou O Projeto de Lei (PL) nº 6.229/2005, atualmente
jurídica, submeta sua propriedade (ou fração dela) ao em trâmite na Câmara dos Deputados em regime
regime de afetação, destinando-o a prestar garantias de urgência, é igualmente silente sobre os efeitos
por meio da emissão de Cédula de Produto Rural da recuperação judicial sobre o patrimônio de afe-
(CPR) ou de Cédula Imobiliária Rural (CIR). tação. A despeito de algumas decisões do Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo já terem reco-
Tal instituto permite ao proprietário de imóvel ru- nhecido que o patrimônio de afetação não se su-
ral a segregação de fração de sua propriedade, sem jeita aos efeitos da recuperação judicial (como nos
que o patrimônio em afetação se comunique com casos da recuperação judicial da Viver e da PDG1),
os demais bens, direitos e obrigações de seu patri- a questão ainda é controversa em alguns tribunais
mônio ou de outros patrimônios rurais em afetação pátrios2. Nesse cenário, a Nova Lei do Agro, para
constituídos por ele. fins de patrimônio de afetação sobre imóvel rural, é
pioneira ao tratar do tema de forma expressa, con-
Assim, um mesmo imóvel ou suas acessões e benfei- ferindo maior segurança jurídica ao instituto da re-
torias, excetuando-se as lavouras, os bens móveis e os cuperação judicial.
semoventes, podem garantir diversas operações finan-
ceiras operacionalizadas por meio de CIR ou CPR. Na mesma linha, o patrimônio de afetação é impe-
nhorável, não se sujeitando a qualquer constrição
Anteriormente, as garantias eram criadas sobre a judicial. Não podendo, também, ser utilizado para
totalidade do imóvel rural – o que nem sempre era garantir ou satisfazer qualquer outra obrigação as-
interessante aos proprietários, pois geralmente o sumida pelo proprietário do imóvel rural.
valor do imóvel era superior ao valor do crédito
garantido. Ainda, o proprietário de imóvel rural O Patrimônio Rural de Afetação não poderá ser
também já poderia conceder a hipoteca do imóvel constituído sobre imóveis que já estejam gravados
em diferentes graus. No entanto, tal solução confe- por outro ônus real, sobre a pequena propriedade
ria menor segurança ao credor, na medida em que rural, sobre parte do terreno inferior a fração mí-
a hipoteca se sujeita aos efeitos da recuperação ju- nima de divisão das glebas rurais daquela área, ou
dicial e o bem hipotecado é arrecadado no processo então sobre a sede da moradia integrante do terre-
de falência. Além disso, poderia tornar mais dificul- no, quando se tratar de bem de família, nos termos
tosa a execução de hipoteca em garantia aos credo- da Lei nº 8.009/1990.
res que sobreviessem ao credor com a hipoteca de
primeiro grau. Importante ressaltar, também, que o imóvel rural,
quando sujeito ao regime de afetação, não poderá
Como o bem afetado fica segregado do patrimônio ser objeto de compra e venda, parcelamento ou
do proprietário do imóvel rural, tal garantia não qualquer outro ato translativo de propriedade por
é atingida pelos efeitos de eventual falência, insol- iniciativa do proprietário do imóvel.
1 TJSP. Agravo de Instrumento 2007654-14.2017.8.26.0000; Rel. Des. Fabio Tabosa; Órgão Julgador: 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro Central Cível - 2ª Vara de Falências e Recuperações
Judiciais, j. 12/06/2017; Data de Registro: 20/06/2017.
2 TJSC. Agravo de Instrumento 4007901-15.2017.8.24.0000, de Joinville, Rel. Des. Rosane Portella Wolff, Primeira Câmara de Direito Civil, j. 12/09/2019 – Recuperação Judicial da Construtora Criciúma.
3. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS IMÓVEIS recuperação judicial (excetuadas hipóteses em que
PARA ESTRANGEIROS o imóvel objeto da garantia é considerado essencial
para recuperação da empresa ou em caso de dívidas
A Nova Lei do Agro também promoveu importante trabalhista, fiscal ou previdenciária).
alteração nas Leis Federais nº 5.709/1971 (Aquisição
de Imóvel Rural por Estrangeiro) e nº 6.634/1979 4. CONCLUSÃO
(Faixa de Fronteira), possibilitando a constituição
de garantias reais (como, por exemplo, a alienação As inovações trazidas pela Nova Lei do Agro certa-
fiduciária tratada acima), em favor de empresas es- mente trarão um incremento ao crédito privado ao
trangeiras ou empresas nacionais controladas por agronegócio brasileiro seja por credores nacionais
estrangeiros, incluindo a possibilidade de consolida- ou estrangeiros.
ção da propriedade do imóvel rural, uma vez percor-
rido o trâmite aplicável à excussão da garantia. É provável também que tais inovações sejam testa-
das ao longo do tempo em disputas judiciais e arbi-
Essa alteração é especialmente relevante, tendo em trais, devendo prevalecer a intenção do legislador de
vista que a legislação brasileira impõe diversas res- tornar as operações de crédito privado mais seguras
trições à aquisição de propriedade rural por pessoa e previsíveis, a fim de fomentar o financiamento de
jurídica estrangeira, já tendo enfrentado controvér- agronegócios no Brasil.
sias nos tribunais pátrios3.
A Nova Lei do Agro passou a produzir os seus
A Nova Lei do Agro também prevê que eventual in- efeitos a partir de 07 de abril de 2020.
formação prestada pelo emitente da CPR sobre a es-
sencialidade dos bens oferecidos em garantia fiduciária, Este material foi redigido por André Barabi-
como por exemplo imóveis, deverá constar na cédula, no e Liv Machado, sócios que integram o time de
caracterizando como estelionato declarações inexatas Agronegócios de TozziniFreire Advogados.
acerca de sua natureza jurídica ou qualificação, bem
como dos bens oferecidos em garantia da CPR.
TIME DE AGRONEGÓCIOS TOZZINIFREIRE
O § 3º do artigo 49 da LRF prevê que durante o Por ser uma atividade extremamente complexa, o agrone-
prazo de 180 (cento e oitenta) dias previsto no artigo gócio demanda um acompanhamento jurídico multidisci-
6º (o chamado stay period), a venda ou a retirada plinar, eclético e especializado.
do estabelecimento do devedor dos bens de capital Nosso grupo de Agronegócios reúne profissionais experientes
essenciais a sua atividade empresarial é vedada. A LRF e capacitados a entender cada etapa da cadeia produtiva em
que se relacionam a indústria de insumos, produtores rurais,
e o PL nº 6.229/2005, no entanto, são silentes acerca montadoras de equipamentos agrícolas, bancos, transporta-
dos critérios para o reconhecimento da essencialidade dores, empresas de logística e de distribuição, consumidores
e sobre o ônus da prova da essencialidade. Já a Lei nº e comércio exterior.
13.986/2020, de forma pioneira, prevê a declaração Respaldados na experiência acumulada e na formação diver-
acerca da essencialidade do bem pelo próprio devedor, sificada de nossos profissionais dedicados às questões relati-
já quando da emissão da CPR. vas ao agronegócio, buscamos apresentar soluções jurídicas
efetivas voltadas especificamente às necessidades de cada
um de nossos clientes.
Isso é extremamente relevante para assegurar que
credores de CPR tenham a possibilidade de acessar TozziniFreire é reconhecido nos principais rankings e publi-
cações jurídicas nacionais e internacionais, como Chambers
a garantia fiduciária em um cenário de insolvência Global, Chambers Latin America, Latin Lawyer 250, The
do devedor da CPR. Legal 500, IFLR 1000, Euromoney Expert Guides, LACCA e
Análise Advocacia 500. Em 2009, fomos vencedores do
Com estas alterações introduzidas pela Nova Lei do Latin Lawyer Deal of the Year para M&A pela operação de
Agro deve ocorrer um notável incremento nas ope- fusão Votorantim - Aracruz. Fomos premiados com o Deal of
the Quarter 01/2017, organizado pela TTR (Transactional
rações financeiras com os títulos do agronegócio, na Tracking Record), pela atuação na aquisição da Vallée pela
medida em que diversos entraves jurídicos foram su- Merck. Além disso, atuamos em algumas das maiores ope-
perados, com maior participação do credor privado, rações do mercado brasileiro, como a fusão da Fibria com a
seja ele local ou estrangeiro. Suzano, líderes mundiais na produção de celulose, em 2018.
Tem dúvidas?
O financiador/credor estrangeiro, que antes da pro- Fale conosco pelo e-mail ou QR Code:
mulgação da Nova Lei do Agro apenas tinha acesso
à garantia hipotecária, agora passa a contar com a
possibilidade de acessar a propriedade fiduciária do
proprietário de imóvel rural, até então disponível
apenas para credores brasileiros. Assim, a tendência
é que os financiamentos fiquem mais acessíveis, na
medida em que o risco do credor é reduzido pelas
vantagens dessa modalidade de garantia, especial- agronegocios_LD@tozzinifreire.com.br
mente por não estar exposto a eventual falência ou
3 TJSP. Agravo Regimental Cível 2078905-92.2017.8.26.0000; Rel. Des. Hamid Bdine; Órgão Julgador: 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro Central Cível - 2ª Vara de Falências e Recuperações
Judiciais; j. 04/10/2017; Data de Registro: 05/10/2017.

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