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1. Informativo n.

780 - REsp 2038495 1


2. Informativo n. 774 - AINTARESP 2144537 4
3. Informativo n. 767 - AIRESP 1609931 6
4. Informativo n. 758 - REsp 1947404 8
5. Informativo n. 755 - AREsp 1640785 11
6. Informativo n. 748 - REsp 1847991 RS 13
7. Informativo n. 715 - REsp 1450667 15
8. Informativo n. 702 - REsp 1915736 18
9. Informativo n. 655 - RESP 1650730 20
10. Informativo n. 655 - RESP 1650730 21
11. Informativo n. 649 - RESP 1764873 23
1. Informativo n. 780 - REsp 2038495

Número 780 Brasília, 27 de junho de 2023.

TERCEIRA TURMA

PROCESSO REsp 2.038.495-GO, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel.


para acórdão Ministro Humberto Martins, Terceira
Turma, por maioria, julgado em 20/6/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO REGISTRAL, DIREITO AGRÁRIO

TEMA Contrato de parceria rural agrícola. Cédula de produto


rural. Registro anterior. Contrato ainda não registrado.
Ausência de efeitos perante terceiros. Publicidade.
Segurança jurídica. Boa-fé objetiva. Frustração da
confiança. Expectativa legítima.

DESTAQUE

Em contrato de parceria agrícola, o penhor sobre os frutos outorgado em benefício de


terceiro prevalece sobre o direito da parceira outorgante, uma vez que as cédulas do produto rural
foram registradas anteriormente à celebração da parceria, devendo prevalecer a boa-fé no negócio
jurídico.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia está em decidir se o penhor sobre os frutos de parceria agrícola,


constituído exclusivamente pelo parceiro outorgado em favor de terceiro, depende de
consentimento do parceiro outorgante para recair sobre a sua cota, na hipótese em que o contrato
de parceria foi firmado antes, mas registrado depois da garantia.

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O art. 56 do Decreto n. 59.566/1966 não inclui, em sua redação, a eventual negociação
jurídica anterior, devidamente registrada, referente à expedição de cédula de produto rural,
portanto não se pode partir da presunção de que tal redação legal obrigatoriamente despreza uma
entabulação como essa, pois tal proceder deixaria de respeitar princípios jurídicos de um negócio
jurídico probo, como a boa-fé, a confiança legítima depositada entre as partes e a segurança jurídica.

O dispositivo em comento em nenhum momento afirma que a ausência de consentimento


em contrato não registrado atinge anterior cédula de produto rural devidamente registrada,
situação na qual não tinha como o terceiro prejudicado saber que anterior negociação
eventualmente poderia ter sido entabulada. Então, tal possibilidade de situação fática, qual seja,
anterior registro de cédula de produto rural, não está prevista na exceção inserta no referido
dispositivo legal, não podendo haver dedução de tal conclusão jurídica desconectada dos princípios
que regem o proceder das contratações, conforme o sistema civil previsto no Código Civil.

Conforme o princípio da boa-fé objetiva, brocardo jurídico sustentáculo do desenho dos


negócios jurídicos, deve-se garantir confiança e expectativas legítimas entre as partes em todas as
fases da contratação. É relevante lembrar do teor do art. 422 do Código Civil, o qual nos ensina que
os contratantes são obrigados a guardar os princípios de probidade e boa-fé, tanto na conclusão do
contrato como em sua execução.

Assim, não se pode perquirir tão somente acerca da segurança jurídica dos contratantes
do contrato de parceria agrícola, mas também se deve levar em conta a segurança jurídica do
contratante da cédula de produto rural que, mediante conduta pautada pela boa-fé, entabulou
negócio jurídico, sem nenhuma ciência de outros terceiros que pudessem ser afetados, até por que
não tinha como sabê-lo. Se o contrato de parceria rural nem sequer havia sido registrado, era
impossível, o conhecimento por parte de terceiros. Ademais, a Lei n. 6.015/1973 prescreve que o
registro determina a prioridade do título.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código Civil (CC), art. 422

Decreto n. 59.566/1966, art. 56

Lei n. 6.015/1973

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2. Informativo n. 774 - AINTARESP 2144537

Número 774 Brasília, 16 de maio de 2023.

QUARTA TURMA

PROCESSO AgInt no AREsp 2.144.537-GO, Rel. Ministro Marco Buzzi,


Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 17/4/2023,
DJe 20/4/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO COMERCIAL, DIREITO PROCESSUAL CIVIL,


DIREITO AGRÁRIO

TEMA Cédula de crédito rural. Título líquido, certo e exigível.


Existência de seguro agrícola. Beneficiário. Prévio
acionamento do seguro. Desnecessidade. Inexistência de
obrigação.

DESTAQUE

A existência de cláusula/contrato de seguro relacionado à cédula de crédito rural não


retira os atributos de exequibilidade próprios do título.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Discute-se a respeito da inexigibilidade de cédula de crédito rural, tendo em vista a


necessidade de sua liquidação, uma vez que pelo menos parte do seu valor seria coberto por seguro
agrícola contratado pelo devedor, estando a pretensão "condicionada à liquidação do sinistro junto à
seguradora, mediante a apuração da ocorrência ou não do evento coberto pelas cláusulas
contratuais, quando então poderá exigir, total ou parcialmente o seu crédito".

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O entendimento pacífico desta Corte Superior é na linha de ser a cédula de crédito rural
título líquido, certo e exigível por força do art. 10 do Decreto-lei n. 167/67. O fato de existir contrato
de seguro atrelado ao título não interfere na sua exequibilidade, e decisão contrária a este
entendimento pode incorrer em error in judicando.

No caso, o credor foi apenas o estipulante do referido ajuste, sendo-lhe conferida a


faculdade - não obrigação - de empreender todos os atos relacionados à liquidação do sinistro, caso
assim lhe aprouvesse, mas não uma imposição sem a qual a cédula rural perderia suas
características de liquidez, certeza e exigibilidade.

A existência do seguro autoriza, por parte do beneficiário, a realização da denunciação da


lide (art. 125, II, do Código de Processo Civil), providência que poderia ter sido realizada pelo
recorrido, porém não existe a necessidade de prévio acionamento do seguro para posterior
liquidação da cédula rural.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Civil (CPC), art. 125, II

Decreto-Lei n. 167/1967, art. 10

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3. Informativo n. 767 - AIRESP 1609931

Número 767 Brasília, 21 de março de 2023.

QUARTA TURMA

PROCESSO AgInt no REsp 1.609.931-SC, Rel. Ministra Maria Isabel


Gallotti, Quarta Turma, julgado em 13/2/2023, DJe
17/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO BANCÁRIO, DIREITO AGRÁRIO

TEMA Imóvel rural. Cédula de crédito rural. Hipoteca.


Impenhorabilidade.

DESTAQUE

É inadmissível a penhora de bem já hipotecado por força de cédula de crédito rural, salvo:
a) em face de execução fiscal; b) após a vigência do contrato de financiamento; c) quando houver
anuência do credor; ou d) quando ausente risco de esvaziamento da garantia, tendo em vista o valor
do bem ou a preferência do crédito cedular.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Dispõe o art. 11 da LC 93/1998 que "Os beneficiários do Fundo não poderão alienar as
suas terras e as respectivas benfeitorias no prazo do financiamento, salvo para outro beneficiário
enumerado no parágrafo único do art. 1º e com a anuência do credor".

O art. 11 da LC 93/1998 não deve ser analisado de maneira isolada.

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O Decreto-Lei 167/1967, que dispõe sobre títulos de crédito rural, prevê, em seu art. 69, a
impenhorabilidade dos bens objeto de hipoteca constituídos pela cédula de crédito rural com
relação a outras dívidas: "Os bens objeto de penhor ou de hipoteca constituídos pela cédula de
crédito rural não serão penhorados, arrestados ou sequestrados por outras dívidas do emitente ou
do terceiro empenhador ou hipotecante, cumprindo ao emitente ou ao terceiro empenhador ou
hipotecante denunciar a existência da cédula às autoridades incumbidas da diligência ou a quem a
determinou, sob pena de responderem pelos prejuízos resultantes de sua omissão".

A regra é a impenhorabilidade do imóvel dado em garantia em financiamento de imóvel


rural. O Superior Tribunal de Justiça, no entanto, admite a relativização do bem gravado com cédula
de crédito rural quando: a) em face de execução fiscal; b) após a vigência do contrato de
financiamento; c) quando houver anuência do credor; ou d) quando ausente risco de esvaziamento
da garantia, tendo em vista o valor do bem ou a preferência do crédito cedular.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei Complementar n. 93/1998, arts. 1º, parágrafo único, e 11

Decreto-Lei n. 167/1967, art. 69

Código de Processo Civil (CPC/1973), art. 649, I

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4. Informativo n. 758 - REsp 1947404

Número 758 Brasília, 28 de novembro de 2022.

RECURSOS REPETITIVOS

PROCESSO REsp 1.947.404-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves,


Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
23/11/2022. (Tema 1115).

RAMO DO DIREITO DIREITO PREVIDENCIÁRIO, DIREITO AGRÁRIO

TEMA Aposentadoria do trabalhador rural. Lei n. 11.718/2008.


Propriedade rural ser superior a 4 (quatro) módulos
fiscais. Requisitos legais comprovados. Condição de
segurado especial. Fato que não descaracteriza, por si só,
o regime de economia familiar. Tema 1115.

DESTAQUE

O tamanho da propriedade não descaracteriza, por si só, o regime de economia familiar,


caso estejam comprovados os demais requisitos legais para a concessão da aposentadoria por idade
rural.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia em definir se o trabalhador rural que possua área superior a 4


(quatro) módulos rurais pode ser qualificado como segurado especial da Previdência Social, após a
entrada em vigor da Lei n. 11.718, de 20 de junho de 2008.

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Até a Lei n. 11.718/2008, o que diferenciava um produtor rural segurado especial de um
produtor rural não segurado especial, pela legislação e pela normatização era a contratação de mão-
de-obra.

A principal mudança operada pela Lei n. 11.718/2008 diz respeito à limitação do tamanho
da propriedade do produtor rural que explora atividade agropecuária. Essa lei teve por origem a
Medida Provisória n. 410/2007, que apenas prorrogou o prazo do art. 143 da Lei n. 8.213/1991.
Somou-se ao texto da Medida Provisória, o Projeto de Lei n. 6.548/2002, procurando aproximar o
conceito do segurado especial ao de agricultor familiar, para fins de concessão de políticas públicas,
nos termos da Lei n. 11.326/2006.

Embora seja um critério restritivo, uma vez que até a Lei n. 11.718/2008 não se cogitava o
tamanho da terra como elemento caracterizador do segurado especial, o referido normativo teve
por propósito introduzir uma regra objetiva que viesse a ser coerente com as políticas públicas
voltadas para a agricultura familiar.

Nos termos da Lei n. 4.504/1964 (art. 4º, II e III), módulo fiscal é uma unidade de medida
expressa em hectares que indica o tamanho mínimo de uma propriedade rural capaz de garantir o
sustento de uma família que exerce atividade rural em determinado município. O tamanho do
módulo fiscal não é linear no país, tendo por limite mínimo 5 hectares e máximo 110 hectares, sendo
definido pelo INCRA (art. 50, §2º da Lei n. 4.504/1964) e, conforme dispõe o art. 50, §§ 3º e 4º da Lei
n. 4.504/1964, o número de módulos fiscais de um imóvel deve ser calculado apenas sobre a área
aproveitável total, considerada esta como a área passível de exploração agrícola, pecuária ou
florestal, excluídas as áreas ocupadas por benfeitoria, floresta ou mata de efetiva preservação
permanente, ou reflorestada com essências nativas e a área comprovadamente imprestável para
qualquer exploração agrícola, pecuária ou florestal.

Em prol do segurado especial, a jurisprudência faculta que, mesmo que a propriedade


explorada seja superior à 4 módulos fiscais, tal condição não pode ser, por si só, suficiente para
descaracterizar a qualidade de segurado especial do trabalhador rural, constituindo apenas mais um
fator a ser analisado com o restante do conjunto probatório, não óbice ao reconhecimento da
condição de segurado especial.

Após a edição da referida lei, a jurisprudência do STJ continuou uníssona no mesmo


sentido de que o fato de o imóvel ser superior ao módulo rural não afasta, por si só, a qualificação de
seu proprietário como segurado especial.

Nesse contexto, apesar de a Lei n. 11.718/2008 ter fixado 4 (quatro) módulos fiscais como
limite para o enquadramento do trabalhador rural na qualidade de segurado especial, em um

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caráter objetivo, foi demonstrado que o entendimento sedimentado na jurisprudência é o de que a
circunstância de a propriedade rural ser superior a 4 (quatro) módulos rurais não exclui
isoladamente a condição de segurado especial, nem descaracteriza o regime de economia familiar,
sendo apenas mais um aspecto a ser considerado juntamente com o restante do conjunto
probatório.

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5. Informativo n. 755 - AREsp 1640785

Número 755 Brasília, 07 de novembro de 2022.

SEGUNDA TURMA

PROCESSO AREsp 1.640.785-MS, Rel. Min. Francisco Falcão, Segunda


Turma, por unanimidade, julgado em 25/10/2022, DJe
27/10/2022.

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO, DIREITO CONSTITUCIONAL,


DIREITO REGISTRAL, DIREITO AGRÁRIO

TEMA Certificação de georreferenciamento de imóvel rural.


Sobreposição a terra indígena. Processo demarcatório
não concluído. Inviabilidade.

DESTAQUE

A sobreposição da propriedade rural com área indígena, ainda que o processo de


demarcação não tenha sido concluído, inviabiliza a certificação de georreferenciamento.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia a examinar se a verificação no sistema do INCRA de que tenha


havido a sobreposição da propriedade com a área indígena inviabiliza a certificação de
georreferenciamento, ainda que o processo de demarcação de terra indígena não tenha sido
concluído.

A certificação de imóveis rurais foi criada pela Lei n. 10.267/2001, sendo exigida para os

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casos de desmembramento, parcelamento ou remembramento de imóveis rurais, bem como para
efetivação de registro, em qualquer situação de transferência de imóvel rural, nos prazos fixados no
Decreto n. 5.570/2005.

A Lei n. 10.267/2001 determina que caberá ao INCRA certificar que a poligonal objeto do
memorial descritivo não se sobreponha a qualquer outra constante de seu cadastro
georreferenciado e que o memorial atenda às exigências técnicas, conforme ato normativo próprio.

O procedimento de georreferenciamento integra o registro e dele emanam consequências,


pois a certificação do memorial descritivo do imóvel consta da matrícula. Trata-se de ato cadastral
que visa alcançar a identidade física no território.

No caso, houve pedido de certificação de georreferenciamento de imóvel mas o INCRA


constatou a ocorrência de sobreposição com área sob gestão da FUNAI e, diante de manifestação
desfavorável à certificação, o requerimento foi acertadamente indeferido. Tal constatação de
sobreposição independe do procedimento de demarcação das terras indígenas, em especial nos
casos em que estas tenham sido nitidamente invadidas.

As normas legais e infralegais são claras acerca da presunção de veracidade dos estudos e
das informações fornecidas pela FUNAI. E, na espécie, a área onde está localizado o imóvel se
sobrepõe a Terra Indígena já declarada de posse permanente de grupo indígena por Portaria do
Ministro da Justiça. Assim, o fato de tramitar procedimento demarcatório das terras indígenas não
afasta a possibilidade de que a propriedade seja da União.

As terras ocupadas pelos indígenas são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre


elas, imprescritíveis (§ 4º do art. 231 da Constituição Federal). Não pode a Administração ser
compelida a certificar situação imobiliária em descumprimento da lei e Constituição, pois são nulos
os títulos particulares sobre terras indígenas, a teor do § 6º do art. 231 da Constituição Federal.

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6. Informativo n. 748 - REsp 1847991 RS

Número 748 Brasília, 12 de setembro de 2022.

SEGUNDA TURMA

PROCESSO REsp 1.847.991-RS, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda


Turma, por unanimidade, julgado em 16/08/2022.

RAMO DO DIREITO DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO PROCESSUAL


CIVIL, DIREITO AGRÁRIO

TEMA Ação civil pública. Defensoria pública. Legitimidade ativa.


Pequeno agricultor familiar. Registro de reserva legal no
cadastro ambiental rural. Imposição de fazer. Apoio
técnico e jurídico. Hipossuficiência. Presunção legal
expressa. Carência do assistido. Comprovação prévia.
Inexigibilidade.

DESTAQUE

A Defensoria Pública possui legitimidade ativa para propor ação civil pública com vista a
impor ao Estado o cumprimento de obrigações legais na tutela de pequenos agricultores familiares,
sendo prescindível a comprovação prévia e concreta da carência dos assistidos.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Na espécie, a Defensoria Pública ajuizou ação civil coletiva para tutelar direitos individuais
homogêneos de pequenos produtores, pretendendo dar implemento à previsão legal de necessidade
de apoio estatal, jurídico e técnico, aos pequenos agricultores de economia familiar, ou equiparados,
para registro gratuito da reserva legal no cadastro ambiental rural.

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Nesta hipótese, há presunção legal de hipossuficiência, tanto assim que claramente se
extrai da Lei n. 12.651/2012 (art. 53, parágrafo único) o objetivo de assegurar a esse segmento
produtivo, objeto de especial atenção inclusive do constituinte, não só isenção de custos como
prestação positiva de serviços de auxílio.

Seria um contrassenso admitir que a lei previsse tais benefícios com essa óbvia teleologia
e se vedasse que a instituição constitucionalmente habilitada a defender os direitos dessas parcelas
da sociedade fosse impedida de tutelá-los.

Descabe ao Judiciário desconstituir a opção política do legislador na seleção desse público


como destinatário de especial atenção normativa nos planos técnicos e jurídicos. Igualmente
descabe impor à Defensoria a reconstrução da opção política com base em dados, diante da previsão
legal expressa de considerá-los hipossuficientes, merecedores de facilidades financeiras, técnicas e
jurídicas.

A legitimidade ativa da Defensoria Pública nas ações coletivas não se verifica mediante
comprovação prévia e concreta da carência dos assistidos. Ainda que o provimento beneficie
públicos diversos daqueles necessitados, a hipótese não veda a atuação da Defensoria. Esta se
justifica pela mera presença teórica de potenciais assistidos entre os beneficiados. (ADI n. 3.943 ED,
Relator (a): Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 18/5/2018, acórdão eletrônico DJe-153
divulg. 31/7/2018 public. 1º/8/2018).

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7. Informativo n. 715 - REsp 1450667

Número 715 Brasília, 3 de novembro de 2021.

QUARTA TURMA

PROCESSO REsp 1.450.667-PR, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira,


Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
19/10/2021, DJe 26/10/2021.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL, DIREITO


EMPRESARIAL, DIREITO AGRÁRIO

TEMA Cédula de Produto Rural Financeira. Índice de preços do


resgate e instituição responsável pela apuração. Ausência
de indicação. Nulidade. Inocorrência. Presença dos
referencias para a clara identificação do preço. Art. 4º-A,
I, da Lei n. 8.929/1994. Validade.

DESTAQUE

É válida a cédula de produtor rural financeira que não contém a indicação do índice de
preços a ser utilizado no resgate do título e da instituição responsável por sua apuração ou
divulgação, se a cártula contém os referenciais necessários à clara identificação do preço.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A questão objeto da controvérsia cinge-se a saber se deve ser considerada nula a cédula de
produto rural financeira objeto da execução, por não constar do título a indicação do índice de preço
utilizado nem a instituição responsável por sua apuração ou divulgação.

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A Lei n. 8.929/1994 instituiu a Cédula de Produto Rural (CPR) representativa de promessa
de entrega de produtos rurais, com ou sem garantias cedularmente constituídas, como um novo
instrumento no sistema de crédito rural, destinado a proporcionar ao agricultor a possibilidade de
obter capital necessário para o fomento do seu negócio por meio da venda antecipada de parte ou da
totalidade da produção esperada.

Com a emissão da cédula de produto rural, o emitente se a obriga a entregar o produto


rural indicado conforme as especificações de quantidade e qualidade avençadas, recebendo
antecipadamente parte do valor que pretende obter com a venda desse produto.

Conforme destaca a doutrina, "A nova legislação criou, assim, um interessante tipo de
ativo financeiro, negociável nos mercados de bolsa e de balcão, cujo pagamento não está atrelado à
moeda, mas à entrega de produtos rurais de qualquer espécie. Essa negociabilidade ampla deve
servir como estímulo à difusão da CPR como título de financiamento de atividades rurais".

A Medida Provisória n. 2.017/2000, posteriormente convertida na Lei n. 10.200/2000,


alterou a norma mencionada, criando uma nova modalidade de cédula de produto rural, a Cédula de
Produto Rural Financeira. Essa nova variante, prevista no art. 4º-A, que foi acrescido ao texto da Lei
n. 8.929/1994, trouxe como principal inovação a possibilidade de liquidação do título com o
pagamento em dinheiro do valor correspondente ao produto, nos termos previstos na cártula, ao
invés da entrega in natura do produto rural nela indicado.

Não há dúvidas de que a cédula de produtor rural financeira somente constitui título
executivo, nos termos no art. 4º-A da Lei n. 8.929/1994, se nela estiverem contidos os requisitos ali
exigidos, entre eles a clara identificação do preço ou as especificações que propiciem a apuração do
valor do produto na data avençada para o resgate.

Assim, entre os requisitos de validade da cédula de produtor rural financeira estão os


referenciais (i) necessários à clara identificação do preço (primeira parte do inciso I do art. 4º-A da
Lei n. 8.929/1994) ou (ii) do índice de preços a ser utilizado no resgate do título (segunda parte do
mesmo dispositivo), sendo que, nessa última hipótese, é imprescindível a identificação da instituição
responsável por sua apuração ou divulgação, a praça ou o mercado de formação do preço e o nome
do índice.

A necessidade de indicação, no corpo da cédula, do índice de preços e da instituição


responsável por sua apuração ou divulgação tem a finalidade de evitar a potestatividade da cláusula
de apuração do preço. A ausência dessas informações implica a nulidade do título pois deixa a
apuração dos valores ao arbítrio exclusivo do credor.

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No entanto, se o próprio título contém os referenciais necessários à clara identificação do
preço, conforme prevê a primeira parte do inciso I do art. 4º-A da Lei n. 8.929/1994, o devedor fica
ciente, desde o momento da contratação, do valor que pagará ao final, tornando desnecessárias as
referidas informações complementares.

Portanto, não é nula a cédula de produtor rural financeira que não contém a indicação do
índice de preços a ser utilizado no resgate do título e da instituição responsável por sua apuração ou
divulgação, se a cártula prevê sua futura liquidação, na data de vencimento pactuada, por valor
certo, obtido a partir da multiplicação da quantidade de produto nela previsto e do preço unitário do
produto nela indicado, conforme o padrão e a safra a que se refere, pois o título contém os
referenciais necessários à clara identificação do preço, conforme exige a primeira parte do inciso I
do art. 4º-A da Lei n. 8.929/1994.

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8. Informativo n. 702 - REsp 1915736

Número 702 Brasília, 28 de junho de 2021.

TERCEIRA TURMA

PROCESSO REsp 1.915.736-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira


Turma, por unanimidade, julgado em 22/06/2021.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL, DIREITO AGRÁRIO

TEMA Execução. Cédula de Produto Rural Financeira. Natureza


cambial. Circularidade. Apresentação do original do título
executivo. Formato cartular. Necessidade.

DESTAQUE

Na execução de cédula de produto rural em formato cartular é necessária a juntada do


original do título de crédito, salvo se comprovado que o título não circulou.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Nos termos do art. 798, I, do CPC/2015, ao propor a execução, incumbe ao exequente


instruir a petição inicial com, dentre outros documentos, o título executivo extrajudicial.

A juntada da via original do título executivo extrajudicial é, em princípio, requisito


essencial à formação válida do processo de execução, visando a assegurar a autenticidade da cártula
apresentada e a afastar a hipótese de ter o título circulado, sendo, em regra, nula a execução fundada
em cópias dos títulos.

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A execução pode, excepcionalmente, ser instruída por cópia reprográfica do título
extrajudicial em que fundamentada, prescindindo da apresentação do documento original,
principalmente quando não há dúvida quanto à existência do título e do débito e quando
comprovado que o mesmo não circulou.

Contudo, por ser a cédula de produto rural título dotado de natureza cambial, tendo como
um dos seus atributos a circularidade, mediante endosso, conforme previsão do art. 10, I, da Lei n.
8.929/1994, a apresentação do documento original faz-se necessário ao aparelhamento da
execução, se não comprovado pelas instâncias ordinárias que o título não circulou.

Vale lembrar que não se descura que os documentos juntados ao processo eletrônico são
considerados originais para todos os efeitos legais, consoante previsão contida nos arts. 11 da Lei n.
11.419/2006 e 425 do CPC/2015.

Ocorre que essa regra deve ser mitigada quando se trata de título executivo extrajudicial,
tendo em vista a possibilidade de determinação de depósito do documento original em cartório ou
secretaria, conforme preconiza o art. 425, § 2º, do CPC/2015: "Tratando-se de cópia digital de título
executivo extrajudicial ou de documento relevante à instrução do processo, o juiz poderá
determinar seu depósito em cartório ou secretaria."

Desse modo, mostra-se prudente, na espécie, por se tratar de um título de crédito passível
de circularidade, a exigência do original da cédula para evitar o ajuizamento de múltiplas execuções
fundadas em cópias distintas do título.

Ressalva-se, após sugestão do Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, que o referido
entendimento é aplicável às hipóteses de emissão das CPRs em data anterior à vigência da Lei n.
13.986/2020, tendo em vista que a referida legislação modificou substancialmente a forma de
emissão destas cédulas, passando a admitir que a mesma se dê de forma cartular ou escritural
(eletrônica). A partir de sua vigência, a apresentação da CPR original faz-se necessária ao
aparelhamento da execução somente se o título exequendo for apresentado no formato cartular.

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9. Informativo n. 655 - RESP 1650730

Número 655 Brasília, 27 de setembro de 2019.

SEGUNDA TURMA

PROCESSO REsp 1.650.730-MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,


Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
20/08/2019, DJe 27/08/2019

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO, DIREITO PROCESSUAL


CIVIL, DIREITO AGRÁRIO

TEMA Fazenda ocupada por indígenas. Esbulho configurado.


Ação de reintegração de posse. Discussão sobre as áreas
tradicionalmente ocupadas. Inviabilidade.

DESTAQUE

É inadequada a discussão acerca da tradicionalidade da ocupação indígena em ação possessória


ajuizada por proprietário de fazenda antes de completado o procedimento demarcatório.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cuida-se de ação de reintegração de posse ajuizada por particular em face de cacique de


comunidade indígena, da Fundação Nacional do Índio - FUNAI e da União, em razão da ocupação de
indígenas em propriedade rural. A FUNAI, a União e o MPF, apontam violação a dispositivos do
Estatuto do Índio, postulam a reforma do acórdão recorrido defendendo, essencialmente, o direito
de posse dos indígenas sobre as áreas por eles tradicionalmente ocupadas. Nessa quadra, mostra-se
inadequada a discussão acerca da tradicionalidade da ocupação indígena, sob pena de admitir a
possibilidade de justiça de mão própria pelos indígenas, tornando legal a ocupação prematura e

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voluntariosa de uma determinada área, antes mesmo de completado o procedimento de
demarcatório. Enquanto não configurado o momento apropriado para a ocupação de terra indígena
tradicionalmente ocupada - o que pressupõe regular procedimento demarcatório -, não há justo
título para a ocupação perpetrada, daí a configuração do esbulho. Não é demais ressaltar que o
reconhecimento do direito do autor à posse da área por ele ocupada concreto não exclui eventual
reconhecimento da tradicionalidade da ocupação da terra indígena e os efeitos dela decorrentes,
mas em sede de regular procedimento demarcatório, nos termos da legislação própria.

10. Informativo n. 655 - RESP 1650730

PROCESSO REsp 1.650.730-MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,


Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
20/08/2019, DJe 27/08/2019

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO, DIREITO PROCESSUAL


CIVIL, DIREITO AGRÁRIO

TEMA Ação de reintegração de posse. Fazenda ocupada por


indígenas. Esbulho configurado. Produção de laudo
antropológico. Não cabimento.

DESTAQUE

Não cabe produção de laudo antropológico em ação possessória ajuizada por proprietário de
fazenda ocupada por grupo indígena.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cuida-se de ação de reintegração de posse ajuizada por particular em face de cacique de


comunidade indígena, da Fundação Nacional do Índio - FUNAI e da União, em razão da ocupação de
indígenas em propriedade rural. O Tribunal de origem manteve a procedência do pedido de
reintegração de posse, pois, "[n]a ausência de procedimento demarcatório, deve prevalecer a
situação fática em vigor"; e, "[c]omo o autor está na posse da fazenda desde 1977 e os índios
invadiram a propriedade por conta própria, ou seja, sem elementos administrativos que mostrem
uma ocupação contemporânea a outubro de 1988 ou neutralizada historicamente por esbulho
renitente (STF, Pet 3388, Relator Carlos Britto, Tribunal Pleno, DJ 19/03/2009), a reintegração é a

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única solução possível". Em recurso, a FUNAI e o MPF, em linhas gerais, apontam nulidade por
cerceamento de defesa, pois o juízo de origem não poderia ter proferido sentença sem a produção
de laudo antropológico destinado a demonstrar a existência ou não de ocupação tradicional
indígena sobre a área. Sem razão a FUNAI e o MPF nesse ponto, pois a demanda é de natureza
possessória e foi ajuizada por proprietário de fazenda ocupada por indivíduos de grupo indígena,
que agiram por sua própria conta. Admitida a produção de laudo antropológico, abrir-se-ia a
possibilidade de reconhecimento da legalidade da invasão perpetrada em sede de ação possessória
proposta por não índio, melhor dizendo, da possibilidade de aceitação da prática de justiça de mão
própria pelos indígenas, o que afrontaria o ordenamento jurídico sob diversos ângulos.

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11. Informativo n. 649 - RESP 1764873

Número 649 Brasília, 21 de junho de 2019.

TERCEIRA TURMA

PROCESSO REsp 1.764.873-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso


Sanseverino, Terceira Turma, por unanimidade, julgado
em 14/05/2019, DJe 21/05/2019

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO AGRÁRIO

TEMA Arrendamento rural. Consentimento do cônjuge.


Desnecessidade. Inteligência do art. 1.642, II e VI, do
Código Civil combinado com art. 95 do Estatuto da Terra.

DESTAQUE

A outorga uxória é desnecessária nos pactos de arrendamento rural.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Nos termos do Decreto n. 59.566/1966, o arrendamento rural é o contrato mediante o qual uma
pessoa se obriga a ceder a outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural,
mediante retribuição. Apesar da forte intervenção estatal (dirigismo contratual) a limitar o poder
negocial das partes nos negócios jurídicos agrários, como as disposições do art. 95 do Estatuto da
Terra, não se estabeleceu a exigência de forma especial mesmo nos contratos celebrados com prazo
igual ou superior a dez anos. Na ausência de previsão legal expressa no microssistema normativo
agrário, deve-se retornar ao Código Civil, que estabelece a exigência da outorga uxória para algumas
hipóteses. Anote-se, porém, que as disposições dos artigos 1.642 e 1.643 do Código Civil, ao
regularem os atos que podem ser praticados por qualquer um dos cônjuges sem autorização do

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outro, não importando o regime de bens, incluem a administração dos bens próprios e a prática de
todos os atos que não lhes forem vedados expressamente (artigo 1.642, II e VI, do CC/2002). Dessa
forma, considerando ser o contrato de arrendamento rural um pacto não solene, desprovido de
formalismo legal para sua existência, foi dispensada pelo legislador a exigência da outorga uxória do
cônjuge.

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